A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível escrita por Félix de Souza


Capítulo 7
Uma jogada perigosa


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Se você está lendo isso, vamos conversar um pouco.

Primeiramente devo pedir desculpas.
Quando comecei essa historia, não era minha intenção fazer disso nada muito complexo.
Não estou dizendo que é, só quero dizer que pretendia fazer algo mais simples e devo estar enchendo isso de detalhes que podem deixar alguns perdidos.
É, já aconteceu antes.
Então á partir de agora, no final dos capitulos, vou fazer algumas explanações sobre o cenário, criaturas que aparecem ou as ideias desenvolvidas.

Espero que seja útil e que ajude vocês a curtirem a historia, absorvendo melhor.
É claro que é totalmente opcional. Pretendo mostrar ao invés de contar, sendo assim, vou começar por coisas básicas lá do inicio, nas notas finais.

Recado dado, boa leitura, prezado cliente.

— A Diretoria.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801640/chapter/7

Inconsciente do gesto coçava a orelha deformada enquanto pensava.

Era um habito comum quando imerso em meditação, que algumas pessoas já o apontaram.

Sua orelha esquerda era deformada por uma cicatriz. Resultado de ter sobrevivido a um golpe das garras de um urso-coruja, na infância, ao qual acabou atingido de raspão.

Pensava estar tudo indo razoavelmente bem, fora alguns imprevistos intrigantes, porém nada que atrapalhasse o curso dos acontecimentos. Tinha por mania revisar seus passos de modo a encontrar falhas. Era metódico, acreditava que não teria vivido tanto se não fosse.

Já estava longe de sua maravilhosa loja por tempo demais. Era hora de retomar os negócios e relaxar um pouco. Certamente O Legado de Safira cumpriria a sua missão. Havia muito em jogo, para todos eles.

Na sua carruagem encantada, com o seu servo mágico conduzindo e com os cavalos que ele mesmo conjurou. Argoluli que é um criador, se deu ao luxo de relaxar.

É muito fácil olhar para aquele homenzinho e subestima-lo, mas como diria o Sábio Andarilho, O poder de criar, não é sempre mais impressionante que o de destruir?

Enfim chegou a sua loja tão exclusiva, estava ansioso em recuperar seu anel de invisibilidade suprema, e contemplar sua nova múmia no salão de vendas.

Tentava lembrar o nome do miserável ali aprisionado. Algo que lhe lembrava “Rato”.

É fácil de imaginar o quanto ele ficou surpreso ao notar que nada do que esperava no retorno ao lar, se concretizara.

Tinha algo de errado com o pentagrama. Improvável, mas, tudo bem. Poderia o ladino ter sobrevivido mais tempo que seus antecessores á penitencia da armadilha arcana. Era jovem e forte e também, oras, estava sob efeito da invisibilidade suprema.

— Haja luz! _ Declarou, e pequenos cristais incrustrados nas paredes emanaram com o brilho mais forte e claro do que de lamparinas á óleo.

Então pode ver o quadro por inteiro.

Havia uma poça vermelha desalinhando o seu pentagrama tão bem traçado, algumas manchas de sangue maculavam suas impecáveis paredes brancas, criando um caos de sangue seco nas proximidades do pentagrama e, no centro de tudo, algo que custou a acreditar. Ajustou seu monóculo para enxergar melhor.

Era um dedo, mais especificamente, um anelar. As extremidades do corte estavam esgarçadas, como se tivesse amputado á dentadas, talvez mais de uma. Nenhum sinal do anel.

Involuntariamente pegou-se aplaudindo.

— Bravo! Bravo, Razarthan! Muito bem! Bravo! _ Até se lembrou do nome. Não esqueceria mais daquele momento em diante. Imaginou a dor, o sofrimento. Uma demonstração assombrosa de força de vontade.

— O maldito levou o anel. _ Constatou para si mesmo. — Será que vai ter coragem de, usa-lo de novo? _ Riu-se imaginando.

Seu sorriso não durou muito, quando uma escuridão suplantou a luz de sua loja.

Escuridão, silêncio e nada.

O suor de Argoluli era algo raro. Sentia-o escorrer pelas costas, e era grato por estar só para que ninguém o testemunhasse.

Quer dizer, não exatamente só.

— Mestre? _ Tinha medo de olhar para trás.

Não era uma escuridão comum, sua magia não fora anulada. Ele fora arrebatado.

Era um dos segredos de sua loja, algo que ocasionalmente acontecia.

Ouvia a respiração ofegante, o riso ensandecido e entrecortado e á seguir, o grito histérico.

Não conseguia resistir, viu aquela cena centenas de vezes e ainda assim se virava pronto para se defender ou fugir irracionalmente.

Do Báratro. Aquele lugar que a maioria conhece como O Inferno.

Era lá que seu mestre estava, e através dele que sua loja e ele mesmo retiravam poder, esse era seu segredo. Ainda assim tinha um efeito colateral que nunca conseguiu contornar.

O Báratro não podia ser conquistado, não pelo seu poder, nem mesmo somado ao do seu mestre, nem mesmo expandido por sua Maravilhosa Loja.

Um dia, o Báratro cobraria seu preço. Poderia muito bem ser naquela tarde.

Toda vez jurava que seria a última se escapasse, e repetidamente quebrava essa promessa. Era a única que não podia manter, e era a pior, pois era a si mesmo que traia.

Por hora, precisava daquele poder, dizia a si mesmo.

A alma do seu mestre era o elo com aquela energia caótica, sua loja o foco do poder e enquanto não saísse dos domínios de Doomlore, ele era um deus.

Ou pelo menos assim sentia-se. Não era verdade, é claro.

Nunca teve que enfrentar uma divindade de verdade para por a prova, todavia se tudo desse errado, talvez tivesse a oportunidade. Estava fazendo uma jogada perigosa, bem sabia.

E lá estava seu mestre.

Nu e sozinho. Prostrado em posição fetal, na escuridão, alheio a presença do seu pupilo, enlouquecido pela solidão suprema. Esse é o Báratro.

Assustador demais em sua simplicidade. Nada de fogo e enxofre, ou a companhia sádica de demônios, não. Solidão eterna e consciente. Escuridão, silêncio e nada. Nada para fazer, nada para sentir, nada para ver, nada para pensar, nada. Até que o universo se conflagre, ou seja, por toda eternidade, seja lá quanto tempo for isso.

De tanto visitar aquele lugar, Argoluli adquiriu certa fobia por lugares escuros. Pensava que com o tempo se acostumaria, entretanto, ficava cada vez pior. Estar ali, também é saber por intuição como o lugar funciona.

É um instinto primitivo enraizado na alma dos mortais. No fundo, todo mundo sabe, e criou-se a ilusão do inferno de fogo para fazê-lo parecer mais reconfortante.

Não é á toa que nenhum demônio quer permanecer no inferno.

Apesar de estar ali, sabia ser impossível que seu mestre o notasse. Isso romperia a solidão, mesmo por um ínfimo segundo.

— Eu vou tira-lo daqui, mestre. _ Disse-lhe apesar de tudo. — Estou quase lá. Empreste seu poder só por mais um tempo.

Retirou o monóculo, e apalpou as vestes em busca de sua agulha especial. Por um segundo quase entrou em pânico ao não encontra-la e ao imaginar que finalmente a deixaria cair, ou esquecera para trás. Sentiu alivio quando a encontrou e quase imediatamente voltou a tremer, imaginando o que teria que fazer a seguir.

Era como se estivesse num sonho forçado, pesado e só conhecia uma maneira de sair de lá. Causando-se uma dor excruciante.

A mão já não era o bastante, já perderá a sensibilidade de parte das pontas dos dedos, não podia sacrificar mais, a testa não fazia mais efeito.

A agulha era adornada de pequenas marcas arcanas, e a introduziu no olho esquerdo, o do monóculo, sem se dar tempo de pensar sobre isso.

Era a dor de tamanho necessário, um micro inferno de agonia que permitia que tivesse força de vontade o suficiente por alguns segundos para querer sair dali.

Ah! Sim. Como disse uma vez no Báratro, você para de sentir tudo, até a vontade de ir embora e só então, vem a loucura completa. O único refúgio na escuridão.

O martírio auto imposto trouxe-o de volta a sua maravilhosa loja, que custou a reconhecer, sempre era assim. Suas memórias falhavam um pouco, ele retornava atordoado, esquecia a metade do que aconteceu, e ultimamente retornava chorando sangue. Ainda podia se dar o luxo de usar a agulha apenas nos cantos dos olhos, todavia sabia que o efeito não duraria por muito tempo. O Báratro sempre exige mais.

Estava começando a falhar na visão daquele olho e o monóculo compensava um pouco. Como quase tudo que Argoluli carregava aquele monóculo também não era um objeto mundano. Restaurava sua visão, curava parte dos ferimentos e ainda servia para esconder as deformidades que começavam a aparentar nos olhos.

Três coisas sobre sair do Báratro.

É preciso ainda estar vivo, para ter ligação com o plano físico.

É preciso se infligir uma grande dor para sair de lá e por último, nenhum ferimento causado lá, pode ser totalmente recuperado. Sempre há sequelas.

Recolocou o monóculo, com as mãos ensanguentadas e tremendo, ainda gemendo de dor. Guardou a agulha, respirou fundo e contemplou sua loja novamente. Acariciou as paredes como se fosse um ser querido, algo de sua estima. Não sabia o que era acariciar uma amante. Conhecia o sexo, por dinheiro, nunca por amor.

A coisa mais próxima do amor que conhecia, por mais incrível que pareça, era seu mestre.

— Estou perto mestre. _ Sussurrou sozinho na loja. — O Al-Shawkian está ao nosso alcance.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Doomlore

Este é o território onde Argoluli costuma interagir.
Na verdade é um reino pequeno, rodeado de caos por todos os lados.
Doomlore está localizado no lado Oeste das Terras Escarlates, no continente de Thronus, além do Berço dos Colossos, um conjunto de montanhas e formações rochosas que trazem à lembrança a imagem de seres colossais. É uma fronteira "natural".
O grande problema de Doomlore, é que por décadas ela vem sendo assediada pelo Circulo Feérico, também conhecido como, O Consulado Encantado.
Um matriarcado governado por bruxas, esse é O Consulado Encantado, a terra dos renegados. Um lar de seres odiados pela civilização e que os odeiam mutuamente. Bruxas, fadas e outros seres mágicos, alguns de fato nefastos têm lugar comum aqui. O último refugio de seres rejeitados pelo resto do continente. Um ambiente de magia selvagem e maliciosa, que vê a humanidade com o mesmo desprezo que é vista, por vezes, até mesmo como presas.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.