A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível escrita por Félix de Souza


Capítulo 5
Um "duende"




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Parecia um "duende".

Pequenino, franzino, orelhas grande e gago.

Alvo perfeito para valentões.

— Luliiii. — Assim Ortelis chamava-o.

— Nomezinho afeminado.

— E-esse não é me-me-meu nome, dedetesto is-sso. — Um soco na boca segui-se a essas palavras e logo após um tombo de quem falou.

— Faça-me parar. — Esbravejou Ortelis. Os garotos ao redor riram. Ortelis líder dos valentões pegou a bolsa que caiu aos seus pés. Pertencia ao pequeno duende.

— Trouxe meu almoço?_ Disse sarcástico. — Perdoarei sua insolência por hoje.

Outro dia o pequenino trabalharia no campo faminto. Era assim, a não ser quando conseguia passar despercebido pelos valentões. Parecia que o farejavam independente que trocasse de caminho.

Sonhava antagonizar Ortelis, mas tinha medo. O feioso era maior e mais pesado. O pequeno duende era franzino, não burro. Sabia bem onde sua mão alcançava.

Porém, um dia tudo isso mudou.

A caverna do eremita, uma entre milhares, era uma lenda local. Dizia-se que um feiticeiro vivia lá, rejeitado, sozinho, meio louco, lidava com coisas que não deveria saber. Todos o temiam.

Desafiar a entrada do eremita era uma espécie de ritual de passagem para a vida adulta.

O garoto só tinha doze anos.

— Vá, e pegue o medalhão para mim. — Ordenou Ortelis.

— Poooor-que eu fa-faria… Ai! — Recebeu um cascudo.

— Quer um prêmio? Traga-o, e vamos o considerar como adulto e deixa-lo em paz para sempre.

— Para sempre? — O pequenino nem mesmo gaguejou nesse momento. O valentão assentiu dedos cruzados nas costas.

Entretanto, livrar-se da perseguição, poderia custar caro.

Um urso-coruja guardava o local.

Ortelis e sua gangue acompanharam-no até o acesso da caverna. Queriam vê-lo entrando.

Se o urso-coruja aparecesse, seria ao menos divertido no ponto de vista deles. Crianças as vezes podem ser bem cruéis, não é mesmo?

No que lhe concernia o duende não sabia o que temer mais.

A gangue, o monstro, ou o feiticeiro.

— O-Olá! Tem al-algui-em aí?

Para o garoto um breu. Para olhos de coruja, claro como o dia. Quando deu por conta do perigo, a bufada da criatura já estava no seu pescoço.

Moveu-se instintivamente, mergulhando no chão quando as garras passaram raspando sua orelha. Deixariam cicatrizes para o resto da vida.

Para sua sorte era um alvo difícil justamente por ser pequeno demais.

Correu na escuridão a esmo, retornar era impensável.

“Pai desconhecido, abandono materno, criado em orfanato, perseguido pelas crianças”.

Ouviu e soube que não era em seus ouvidos, mas em sua mente.

“Porque resistir, pequenino”?

Sua curta e sofrida vida passava diante dos olhos, foi quando avistou uma luz.

Uma saída.

Foi até ela. Encontrou um velho esquelético, vestido num manto entreaberto e, nu por baixo, de longa cabeleira branca de fios ralos e esparsos. A luz que vira antes, vinha do medalhão no seu peito. O monstro parou de persegui-lo a um gesto do feiticeiro.

— Quero viver. — Disse-lhe meio sem folego. — Provar meu valor, mostrar que cometeram um erro terrível! — Exclamou pleno de ódio acumulado. Punhos cerrados para enfatizar suas palavras, olhos cheios de lágrimas de rancor.

O velho fitou-o com seus olhos leitosos. Sorriu uma boca de dentes falhos e amarelados.

— É seu grande dia, garoto.

Enquanto isso lá fora aguardavam-no.

— Onde está? — Indagou Ortelis.

— Comigo.

— Passe para cá, Luli.

— Não.

— Como?! _ Disse um Ortelis surpreso, punho erguido, pronto para agredir.

— Você só receberá o que merece Ortelis.

— Seu verme insolente! — Um dos valentões que estava ao lado interrompeu-os.

— Ele não gaguejou?

O medalhão brilhava no peito do menino franzino, apesar da penumbra da caverna, uma luz própria. Enquanto isso distraía os valentões fascinados pelo estranho fenômeno, sem perceber estavam cercados por um casal de ursos-corujas.

— Meu nome… Meu nome é…

— Mestre?!

Ouviu a voz do cocheiro ao despertar.

— Chegamos.

Olhou sonolento pela janela da carruagem.

O destino era um forte isolado em uma floresta. Um covil, refúgio de mercenários, ladrões e foragidos da lei que ao avistar a carruagem em seu território, cercou a condução. Um homem mais velho que aos demais e melhor armado, aproximou-se e saudou aquele que descia dela com tranquilidade.

— Bem-vindo mestre Argoluli. Ao que devo a honra?


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