A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível escrita por Félix de Souza


Capítulo 20
Um mímico


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao 20º capitulo ( ok, um deles não é exatamente um capitulo, mas um desabafo) de A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível.
Algumas vezes eu pensei em desistir, encarei algumas crises no caminho e algumas inseguranças, mas decidi continuar isso por mim e muito pelo apoio que recebo de vocês que retornam com um feedback.
Eu sinto que se parar estou abandonando vocês.
Então a Loja continua aberta.
Estamos quase no fim do 2º livro, prestes a entrar na Torre Sem Sombra e começar o 3º livro.
Então continuem essa viagem comigo, meu amigos.
Como se o mundo estivesse prestes a acabar.

Atenciosamente
A gerencia.



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https://www.youtube.com/watch?v=wbFt28Ri7ps 

 

— Mestre! Creio que o senhor vai querer ver isso.

Argoluli se ergueu retirando os pés de cima do baú que estava à frente do seu assento para atender o chamado do servo, e Léia teve certeza.

O baú se mexeu por conta própria, como um gato se acomodando.

— Isso está vivo? — apesar da convicção não pode evitar a indagação.

Argoluli a olhou de soslaio e fez um aceno como se afugentasse uma mosca.

— Notou somente agora? Depois confabulamos sobre o tema. — respondeu girando o indicador direito para o alto.

Agora Léia olhava o baú com outra perspectiva, como se estivesse diante de uma serpente. Virou-se para o homem ao seu lado.

— Está vivo! — disse-lhe.

— Eu sei. — respondeu Altman placidamente.

— É o que estou pensando? — ela Indagou incrédula. Sabia muito bem o que era.

— É provável. — diferente de Argoluli, Altman gostava de economizar palavras.

Enquanto isso Argoluli estava voltando da janela frontal. — Vamos ter que pousar.

A dor de cabeça de Léia retornou.

— O que está havendo? — perguntou a barda ou talvez o caçador. Argoluli considerou.

— Uma tempestade de areia se aproxima; Ortelis. — respondeu à Léia, que retribuiu com um olhar irritado.

— Pare de me chamar assim.

Argoluli a observava intrigado, espantado e preocupado.

“Já conheci um Ortelis antes” — pensou o mago. "É a roda do destino girando"

"Em qual direção ela vem"?

E na sequência desse pensamento, outro mais sombrio.

"Quem ela vai esmagar"?

Ortelis era outra personalidade de Léia. Um caçador de monstros, rastreador e patrulheiro, segundo ele mesmo.

Foi a personalidade que rastreou e leu o campo de batalha, se manifestando em Léia.

"Ele" aparentemente não os conhecia. Argoluli tinha lá suas dúvidas, porém depois que Ortelis se foi, havia mais coisas interessantes a descobrir.

Léia subitamente recobrou o controle e iniciou um debate dela, com ela mesma diante deles.

Além de Ortelis, havia outra personalidade que ela chamava "mãe".

Eles debateram o que parecia uma discussão antiga sobre ocupar o corpo sem permissão, onde aparentemente, Ortelis era o mais invasivo.

"A roda do destino. A maldita Miridin está zombando de nós".

— Não há como contornar? Voar acima dela? — indagou Altman.

— Talvez, mas temo que ao fazer isso percamos o rastro dos nossos amigos. Pior; precisamos saber se eles não foram pegos pela tempestade. — o mago parecia irritado. — Estávamos tão perto, eu sei. Esperar a tempestade passar sobrevoando ela também não é uma opção; minha energia para manter isso voando tem limites. — disse o mago contrariado.

— Afinal de contas, você é humano. — Arrematou Altman. Argoluli ignorou esse comentário. Estava mesmo ficando cansado.

Argoluli não tinha ninguém em conta como amigos realmente, mas tinha certo interesse por Ester.

Eu sei o que você está pensando, mas estou falando da espada Oito Olhos.

Seria uma pena perde-la.

Por fim, a carruagem pousou e Argoluli ordenou que seu servo entrasse antes que a tempestade mortal os alcançasse.

Eles observavam a nuvem monstruosa de areia e pó de cristal aproximando-se. Era toda avermelhada graças ao farelo de vidro vermelho espalhado pelo território.

Um pensamento mórbido se passou na mente de todos.

— Na tempestade de areia vermelha, você morre chorando ou rindo? — pensou em voz alta, a barda, gerando carrancas simultâneas tanto em Argoluli quanto em Altman.

Quando a tempestade os atingiu, a carruagem apesar do seu peso foi sacudida, mas dava sinais que resistiria.

Lá fora Os cavalos relinchavam de dar dó.

— Será que você pode acabar com o sofrimento deles? — irrompeu a barda irritada.

Argoluli que estava meditativo e de volta ao seu assento, ergueu os olhos para Léia — Você exige demais sem oferecer nada em troca.

— Talvez o senhor não tenha percebido, mas estamos aqui nessa situação, graças a você. — retrucou Léia.

— Ah! Você se engana senhorita, ou devo chamar de... De quê? Pessoas? Vocês?

Léia moveu a boca para falar, mas não teve tempo. Argoluli ainda não havia acabado.

— Percebi que vocês estão aqui, agora, vivos, graças a mim.

Imediatamente a mão de Altman foi ao punho da espada.

— Poupe seus esforços, fantasma. Se eu quisesse realmente seu mal, não haveria tempo para isso. Nem eu sou um vilão de carochinhas que avisaria meu intento.

— O que você quer com essa cena toda? — interrogou-lhe, Léia.

— Um pouco de gratidão para começar. Estou salvando suas vidas nesse exato momento. Não é saudável morder a mão que lhes protege.

— Isso mais parece uma ameaça. — retrucou a barda.

— Se você não entendeu, é mais tola do que imaginei. Eu não faço ameaças. — respondeu Argoluli com frieza. Um contraste as emoções de Léia. — Faço acordos.

— Já chega! — interrompeu Altman por fim. — Isso não vai nos levar a lugar algum.

O relinchar dos cavalos intensificou-se.

— Você disse que os criou. — comentou Altman apontando com o queixo para fora.

— Convenhamos que isso seja muito enervante.

Argoluli mirou o agente por algum tempo. Um fantasma vivo. Indefectível para a magia e quase que imune a ela. Uma entre muitas anomalias surgidas desde a queda da lua.

— É assim que se protesta barda. — sem retirar os olhos de Altman, com um estalar de dedos, os cavalos desapareceram e o silêncio enfim veio.

Assim permaneceu, até que o baú se moveu sozinho, de novo.

Léia não se conteve. — O que é isso? — exigiu saber o que já sabia.

— Não é "isso". Assim você o magoa. — rebateu Argoluli.

— O que é! Isso?! — insistiu Léia.

— Você está impossível hoje, mocinha. Esse é o Travis. — o mago deu uma tapinha afetuosa no tampo do baú. — Diga olá, Travis.

O que parecia a tranca do baú se abriu como um olho. O tampo se abriu revelando uma fileira de dentes pontiagudos e se distorceu como uma boca em um sorriso canino enquanto uma língua que chegava até o chão desenrolou-se.

— Um mímico! — Léia estava sobressaltada. — Altman, faça algo.

Altman impassível, apenas encarava o mago.

— Não há necessidade de alarde. _ Disse Argoluli apaziguador. — Travis é meu familiar. — A voz dele tinha um toque carinhoso, como quem se refere a um animal de estimação.

— Você tem um mímico como familiar? — Léia estava sobressaltada. — Não podia ter um sapo, um gato, uma coruja como qualquer mago decente? — Quando ia avisar para gente?

— Primeiramente, eu não sou um mago decente. Em segundo lugar, se Travis é meu familiar, vocês nunca correram perigo. Ele só faria algo se vocês me ameaçassem ou se eu fosse uma ameaça para vocês. Travis é a prova de que estamos do mesmo lado. Por fim, Travis é infinitamente mais útil do que os familiares supracitados.

— O que ele faz? — dessa vez foi Altman que interveio. — Além de se fingir de objetos e abocanhar o calcanhar de outros, é claro.

Argoluli observou Altman e ficou imaginando o quanto ele sabia. Achou por bem que esse era um segredo desnecessário aquela altura dos fatos.

— Travis guarda coisas importantes para mim, que podem ser útil para nós nessa jornada.

— E o que mais? — insistiu Altman.

Ele sabia, Argoluli concluiu. Altman acabou indicando o que ele desconfiava. A Armada Fantasma já estava de olho nele há algum tempo. O quanto Altman estava preparado para aquela missão? Há quanto tempo? Não havia o que esconder.

Argoluli olhou o homenzarrão de alto a baixo.

— Ele pode trazer também coisas que não estão aqui, direto da minha loja.

— Cacete! — Léia exclamou. — Isso significa...

— Significa que por Travis eu tiro energia da minha maravilhosa loja, ferramentas e o poder para manter essa carruagem voando. O que faz dessa carruagem, uma extensão da minha loja.

— Isso é... Insano. _ Disse Léia.

Argoluli riu-se um tanto orgulhoso.

— Não senhorita. Para nós no momento, julgo que a palavra que você procura é "maravilhoso".

Levantou-se do assento e fez uma vênia exagerada e então declarou.

— Bem vindos, a maravilhosa loja de Argoluli.

Altman suspirou fundo e afundou-se no seu assento.

— Terrível. _ O fantasma concluiu.


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Notas finais do capítulo

° Miridin
Deusa da fortuna. Sorte, azar e caos são seus domínios.
Ninguém, nem os deuses, sabem de que lado essa deusa volátil vai estar.
Antes uma das Moiras que guardavam a Roda do Destino, ascendeu a divindade após manipular o destino dos próprios deuses.

° Mimico
Uma monstruosidade metamórfica com capacidade de se fazer passar por objetos inanimados, como portas e até armas, mas sua forma mais famosa com certeza é a de baú.

° Familiar
Familiares são animais ou criaturas que possuem algum vínculo mágico com seus donos. Essa ligação mística que faz com que sejam considerados quase como uma única criatura. Familiares são mais espertos que outros animais de mesma espécie, conseguindo sempre sentir as intenções de seu dono em relação a eles.

Se o dono de um Familiar for um Místico, Rituais que o Mago, Sacerdote ou Bruxo só pode conjurar sobre si mesmo também podem ser conjurados em seu Familiar.
Por vezes, os familiares tem aparências sobrenaturais evidentes. Fadas, dragonetes, homúnculos entre outros.




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