A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível escrita por Félix de Souza


Capítulo 18
Uma feiticeira


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos de volta, A Maravilhosa Loja de Argoluli - O Terrível

Tive um pequeno contratempo nos últimos dias por causa da internet aqui no bairro, mas agora e por enquanto tudo já foi normalizado.
Desculpem a demora em responder algum feedback e se ocorrer de novo, já sabem. ^.^"

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Fora o incentivo.

Façam isso não só por mim, mas para os escritores que vocês gostarem. Tenho certeza que vão amar e fortalece a amizade, aí. ^.^
Sem mais demoras, mais um capítulo para vocês.



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No silêncio da caverna em que se recolheu ela meditava e recuperava suas forças.

Recitou o juramento ancestral, para as chamas da fogueira e para sombras projetadas do teto de estalactites acima de sua cabeça.

— Pelo sangue derramado, pela lagrima escorrida, verei minha casa reerguida nessa ou em outra vida.

Com isso retornaram as lembranças de sua incomum infância.

Ainda quando criança ela teve uma visão. Uma revelação.

Vislumbrou em sonhos a Lástima Final.

Você que lê estas palavras, talvez já tenha sonhado com o fim do mundo e de todas as coisas a sua maneira. Uma criança impressionável quando houve profecias do fim dos tempos, com frequência tem sonhos sobre o tema.

Então como afirmar que essa criança em particular, de fato teve uma visão verdadeira?

No caso de nossa criança, isso durou dias e noites de desespero em que ela acordava gritando e desmaiava sem forças para no final de sete dias, acordar com uma singela mexa de cabelo branco, em contraste com seu cabelo de seda negra.

Essa transfiguração física era toda prova que os profetas precisavam.

“A criança foi tocada pela verdade” — eles disseram. “Somente alguém com uma visão verdadeira seria transformado assim”

Ela constatou que o lago de lágrimas dos deuses ardia em uma chama azul, a cor da loucura e a agonia eram tão alarmantes que transbordavam para tudo consumir.

O ódio e luxuria cobriam o mundo, fome era a filha da ganância, o mal se esparramando sobre o mundo em sádica e irrefreável indolência avassaladora, despejando toda inveja na força de criação e vida, pleno de orgulho sem sentido.

Um orgulho na autodestruição mutua.

Um mundo de flagelo, mutilação e prazer na dor. 

O Malafith, as chaves do caos, imperando sobre o mundo devastado. O inicio do inferno e o fim do mundo como conhecemos.

É difícil pôr em palavras a morte da esperança e a criança teve muita dificuldade em treinar, para deixar essas lembranças enterradas no fundo de sua memória para só acessar em momentos chaves de sua vida.

Enquanto remoía essas dolorosas, porém necessárias lembranças, a mulher que deixou de ser criança há alguns anos, acendia seu narguilé e dava uma tragada profunda para se acalmar.

Todavia graças a isso ela conheceu seu vaticínio e sabia ser chegada a hora que a princesa deveria incumbir sua vida de um proposito maior que ela mesma.

Por esse motivo seu mestre a batizou de Zaya. Seu nome significa “destino”.

Como todo feiticeiro ela nasceu marcada com o estigma de sua linhagem arcana, a marca dos djinns e no seu caso, também uma linhagem real.

Ela era descendente do grande rei-feiticeiro Shaofaw. Rei e fundador da antiga e poderosa Giactutru.

Seu dever sagrado como herdeira dessa linhagem era deter o maior infiel de todos os tempos, o perturbador do império, destruidor da prosperidade.

— Madal Najima! — ao simples sussurrar do seu nome, um vento frio ameaçou apagar sua fogueira, apesar de ter vedado a entrada da caverna com galhos improvisados para dificultar sua localização através da luz. — Maldito seja, traidor. — não fosse por Madal, ainda existiria uma Giactutru onde Zaya seria uma princesa de fato. 

Ela sabia que os leigos em seu conhecimento superficial alegavam que o arauto da lástima era apenas o sórdido Madal, ela, no entanto, como "filha do soberano" sabia mais.

O traidor era um, mas pouco poderia fazer sem as outras seis chaves que o orbitam.

O sem coração, a de oito olhos, o fantasma que respira e o desejo da chama. A portadora de segredos e o pior de todos. O terrível.

Juntos a Madal eles eram as sete chaves do caos, o Malafith.

Após tantos anos, sua visão retornou mais forte que nunca, nem todo seu treinamento para suprimir a lembrança, conseguiu detê-la, nem todo o narguilé do mundo, e assim revelou cada rosto encarnado das chaves que libertam o arauto condenado.

Então ela partiu em sua jornada, impulsionada pelo seu destino caótico e inexorável, acreditando que assim como aqueles que vieram antes dela, lograria êxito.

Falhou, miseravelmente. Nem sequer chegou perto do objetivo.

Primeiro fez a árdua tarefa de dialogar com os nômades vermelhos.

Não nutria especial afeição por aqueles pobres miseráveis, mas nessa vida eles fariam parte da roda do destino. Suas existências condenadas teriam enfim um propósito. Maktub.

Usou de sua magia intrínseca para acalma-los, para trazer os homens e mulheres que já foram de volta à tona e facilitar a confabulação. Mostrou-se amigável.

“Nômades vermelhos, filhos da Terra Escarlate, venho em paz! Porém ouçam-me com atenção, pois disso dependem suas vidas”. — ela recordava.

Após convencê-los que não era sua inimiga, os alertou que seu território seria invadido.

Que os manipulou para acreditarem que os que vinham após eram seus inimigos, era uma meia verdade necessária.

No final, quando as chaves e seus lacaios vieram nem cogitaram dialogar com os nômades de qualquer forma.

— Selvagens todos eles. — esbravejou para as sombras, os efeitos do narguilé lhe entorpecendo. — Aquela meretriz de cabelos de fogo me alvejou com um dardo.

Ester havia a acertado com uma flecha de raspão. Nada que o deserto não pudesse recuperar. Ela tiraria força da terra que protegia e ao se tornar um com o deserto, tudo ficaria bem.

Voltou a repassar suas memórias de modo a encontrar seu erro.

Antes de tudo, ela deu orientação aos nômades vermelhos e ofereceu sua magia.

Seria o general deles. Escolheu três dos mais aptos para uma emboscada e deixou os outros á vistas simulando e fortalecendo o preconceito que era o estigma de todo viciado em vidro vermelho. O de bestas selvagens e irracionais.

Os observou ao longe a fim de localizar, reconhecer o inimigo e coordenar o ataque. Seria os olhos deles.

Três das sete chaves estavam reunidas, ela reconheceu, porém, traziam muitos lacaios infiéis.

Conseguiu encurrala-los em um trecho no Grande Tabuleiro a caminho da Torre Sem Sombra.

Porém, não foi o bastante.

Catorze nômades não foram páreos para vinte lacaios e três chaves. Era quase o dobro deles. Estavam em superioridade numérica e tática. Os infiéis eram treinados na carnificina.

Ao menos os nômades conseguiram ceifar a vida de dois deles. Infelizmente meros lacaios.

Para os demais nômades só restou o merecido descanso final. Para a feiticeira, nada de descanso. Haveria muito a ser feito.

Nada poderia a deter em sua missão, do seu sucesso dependia céu e terra.

A lembrança de que seu mestre não estaria com ela, doía nessa hora, pois partiu para além do véu cedo demais.

Seus irmãos fieis pereceram ao longo da jornada e outros tantos perderam a fé depois que o mestre faleceu.

Talvez nunca tivessem a fé verdadeira.

Não sobrou quase ninguém além dela e não havia tempo para buscar ajuda. Entretanto, ela precisava, bem sabia.

Era descendente da realeza afinal, do último ramo da linhagem Shaofaw, o rei feiticeiro. Filho dos djinns. Era a princesa Zaya abn Shaofaw.

— Dar cabo de três das chaves se provou uma tarefa mais árdua do que eu esperava. — questionou com as chamas. — Preciso por fim a isso antes que eles se reúnam, aí sim! O futuro estará garantido e minha missão de vida cumprida, e só assim darei ao mundo mais mil anos de paz e terei meu nome escrito ao lado dos meus ancestrais com honra.

Eles não eram as primeiras chaves a se reunir e nem seriam as últimas, acreditava, mas era a sua responsabilidade nessa encarnação.

A meditação trouxe frutos e logo a feiticeira, com a mente mais esclarecida e apaziguada tinha um esboço de plano em mente.

Para concluir sua missão, era obvio que ela precisaria de algo melhor que os nômades.

Algo maior.


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Notas finais do capítulo

Hoje, como me chamaram atenção, vamos nos aprofundar um pouco mais na enigmática Armada Fantasma.

º A Armada Fantasma.
Armada Fantasma é um grupo de espiões e caçadores de magos, patrocinados pelo distante reino de Grã Hall - para levar democracia e liberdade para outras nações - ok, brincadeiras á parte, eles não são fantasmas de verdade.
É uma menção ao fato de passarem despercebidos de várias formas e dos talentos que os ajudam nisso.
A Armada Fantasma é uma organização de caçadores de magos e espiões de outro reino chamado Grã Hall.
São seres vivos e humanoides no geral, não são fantasma de verdade.
Um membro da Armada Fantasma é comumente chamado de "fantasma" como um menbro de uma organização secreta poderia ser chamado de agente.
Os "fantasmas" nesse caso, são uma mutação - entre tantas - mágica no cenário.
Indivíduos quase que imunes a magia e indetectáveis a poderes divinatórios, ou seja, adivinhações.
Eles são perfeitos para serem espiões, porque um mago não pode simplesmente descobri o passado ou o presente deles, ou mesmo prever seu futuro a fim de saber onde vão surgir, usando magia ou premonições. É como se eles não existissem para a magia.
As armadilhas arcanas que não forem de ataque direto não vão funcionar, ilusão, paralisia, controle mental, dificilmente os afetam, também, mas adivinhações são totalmente inúteis.
Por isso eles tem a reputação de aparecerem do nada, quando estão caçando magos.
Como fantasmas.



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