A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível escrita por Félix de Souza


Capítulo 16
Uma deusa


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos de volta.
Hoje eu não tenho muito o que dizer a não ser as palavras de costumes que já viraram jargão entre os escritores independentes de plataformas assim.

Comentem, divulguem, compartilhem, apoiem ou até mesmo critiquem, uma crítica construtiva, educada, também ajuda não somente eu mas qualquer escritor que vocês gostarem em qualquer oportunidade.
Essa é nossa moeda nessas plataformas, meus amigos.
Incentivo.
Boa leitura.



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Rápido e com força. Essas foram as palavras de Ester de Safira.

A batalha que se seguiu foi assim, brutal e de uma velocidade estonteante.

A mente metódica de Razarthan nunca se adaptou bem ao caos que é um campo de batalha. Nem mesmo uma escaramuça como essa, mas para Ester é o que chamava lar.

A comandante do Legado de Safira tinha outra visão sobre o embate a sua frente. A superioridade numérica dos Safiras indicava que seria uma vitória garantida. Era uma batalha de dois por um e além de tudo contra oponentes destreinados e alucinados.

Ela mesmo fez ecoar a trombeta na Mesa Escarlate para ser ouvida a quilômetros de distância e a única coisa que se passava na mente do ladino nesse instante, era qual a real necessidade daquilo.

Atrair mais inimigos, talvez?

Certamente era dar uma oportunidade aos adversários para se defenderem.

Sim, era isso mesmo, e isso o deixava inconformado, ao contrário de Ester, que ria como se aquilo tudo fosse apenas um jogo.

Razarthan odiava os cavaleiros. Já os considerava estúpidos e ali bem diante dele estava a prova cabal do motivo.

— Mulher insana. _ Resmungou o ladino longe dos ouvidos dela, e tratou de procurar cobertura para si, antes que os cavaleiros se iniciassem a peleja.

Meio a contra vontade, ele sabia ter que cooperar, mas faria aquilo da sua maneira.

Era tudo brilhante demais, com o sol refletindo nos cristais ao redor, nos elmos dos cavaleiros que eles não abriam mão, nas pontas de lança que o ladino desconfiava que fossem inúteis.

Afinal, nômades escarlates têm os corpos quase todo cobertos de cristal.

Entretanto, aquele brilho todo serviria para desviar o foco do único combatente que entraria na peleja por fora, ou seja, ele mesmo, isso se tivesse oportunidade. Sem compromisso.

Os cascos dos cavalos partiam os cristais frágeis como o sal misturado ao solo levantando uma cortina de pó e areia, que Razarthan usaria ao seu favor para se infiltrar na batalha.

As criaturas que já foram humanos, chamadas bestas carmesins, tinham cristais saindo pela extensão da pele como se estivessem transpassadas por pedaços de vidro vermelho.

Era algo asqueroso de se contemplar, já que mais pareciam feridas de sangue cristalizado e seres vestindo farrapos de pele humana, em algumas partes, a pele parecia prestes a cair.

Os cavalos foram atiçados a arremeter contra aquele pequeno e feroz grupo de bestas humanas e enfim houve o momento do choque entre os cavaleiros e os nômades. As lanças contra as mãos nuas e transfiguradas em garras de vidro. A técnica contra a selvageria.

No primeiro impulso parecia que seria uma vitória garantida e que Razarthan não ia nem precisar se mover, mas era um embuste e Razarthan observou para seu terror, que havia uma mente por trás daqueles seres decrépitos.

Três deles se enterraram de proposito em um trecho por onde os cavalos passariam, se camuflando na areia escaldante que levaria diretamente ao grupo de onze nômades.

Pareciam presas erguidas do chão que abocanharam os cavaleiros que passaram por perto interrompendo por um segundo o ímpeto da carga dos safiras.

Tempo suficiente para se instalar o caos.

Desses três, um deles surgiu do chão como um raio e rasgou o ventre do cavalo e os tendões da perna de seu cavaleiro. Parecia furioso, insultando o cavaleiro enquanto o derrubava, chamando-o bastardo e verme a cada golpe.

Razarthan tinha certeza de que este nômade estava sofrendo uma alucinação bem ali, e constatando no rosto do cavaleiro algum desafeto.

A alternativa era eles se conhecerem de verdade, o que era improvável.

Razarthan nunca saberia a resposta e nem tinha tempo para pensar nisso.

O segundo saltou tão alto que abraçou um dos cavaleiros em cima da sela, o derrubou e o chamava-o “mamãe” enquanto o esmagava rapidamente até a morte e questionava aos soluços porque havia sido rejeitado, suas feições tristes e lacrimosas. Certeza que esse tinha problemas de abandono familiar.

Devido à perspectiva de vir ao deserto, os cavaleiros renunciaram a suas armaduras metálicas por corseletes de couro. Este cavaleiro abraçado pagou o preço por isso e morreu rápido. A besta carmesim demonstrou ter uma força absurda no seu abraço mortal. Foi possível ouvir os ossos se partindo antes de um esguicho de sangue jorrar pela boca do cavaleiro.

O terceiro que saiu do chão não encontrou ninguém, mas foi o que assustou a maioria dos cavalos, dando oportunidade dos outros nômades reagirem. Os safiras foram surpreendidos, porém, acostumados a esses embates, logo se recuperaram. Eram mesmo os melhores cavaleiros que Ester tinha.

O que era uma pena.

Ester de Safira liderou a reação como se fosse uma deusa da batalha inabalável. Dois golpes e duas cabeças voaram de seus pescoços duros de bestas carmesins assim que ela investiu e diante dela a resistência dos nômades parecia débil e se abriu para seus cavaleiros começarem a carnificina.

Ela bradava como outra alucinada.

— Venham comigo! _ E eles a seguiram e Razarthan só conseguia imaginar que aquela era uma oponente que ele não gostaria de ter. Ela sentia prazer naquilo.

Na sua mão reluzia a lendário Oito Olhos. Uma espada cravejada de oito joias do guarda mão á lamina espalhadas em forma de octógono. Uma espada tão cobiçada quanto temida, que dizem ter consciência própria tal como um destino sombrio para seu portador.

Ester de Safira percebeu em poucos segundos que o ponto fraco das bestas carmesins era na base do pescoço e nas juntas do corpo. Já que eles se moviam embora com certa lentidão, esses locais teriam que ser isento de cristais ou ao menos enfraquecido.

Ela começou a gritar ordens sobre isso na batalha e todos absorveram a informação rapidamente.

— O pescoço deles! Arranquem os malditos pescoços deles. _ Berrava Ester e parecia dançar em cima do cavalo girando de um lado para o outro. Os cavaleiros gritavam uns aos outros as ordens. Mais nada precisava ser dito.

Era uma cena que dava certa comichão em algum lugar na alma do ladino. Talvez algo como um coração acelerado, se ele acreditasse ter um.

Laucel se atirou logo atrás de sua senhora, mas algum nômade tomado por um desespero cego foi feliz em atacar o cavalo do velho guerreiro, mesmo que atropelado no processo, derrubou-o dolorosamente no chão. Laucel estava desmontado e caíra por cima do ombro esquerdo com um baque estrondoso, e um estalo.

Razarthan deu um jeito de se infiltrar no meio do alvoroço e terminou o serviço de sir Laucel com uma apunhalada certeira no pescoço da criatura derrubada pelo cavalo, como Ester instruiu, antes que se recuperasse do tombo. Menos três de catorze.

O ladino olhou ao redor, procurando se posicionar ainda sem se comprometer, tentando por na sua mente ordem no meio daquele caos, observando o fluxo da batalha como uma maré. Usando a luz e a poeira como um manto para surgir e desaparecer.

Notou que os cavaleiros deram cabo de mais outros três nômades. Já eram seis nômades abatidos, entretanto o mesmo tanto de cavaleiros estavam feridos.

Ele viu uma cena em que um cavaleiro transpassava um nômade esparramando suas tripas pelo chão, enquanto o alucinado mordia seu ombro com presas cristalizadas e deformadas no mesmo instante em que perdia sua vida. Aquilo tudo era uma loucura e esse nômade morreu gritando por comida.

Um cavaleiro estava morto e o ladino quase tropeçou nele e outro mais próximo parecia ter um ferimento grave na perna livre e estava com uma perna boa presa debaixo do próprio cavalo com as vísceras aberta e com o nômade furioso e grande sobre ele.

A única coisa que se passou na mente do ladino, é que aquele cavaleiro já estava morto, e estava. Ninguém chegou a tempo de resgata-lo e o nômade furioso aos grunhidos de fúria e comemoração deu fim a vida do cavaleiro caído. Agora parecia aglutinar as bestas sobreviventes à investida ao seu redor, para retomar o ataque. Erguia um elmo partido como se fosse um troféu ou um estandarte.

“Maravilha” pensou Razarthan. “Eles têm a porra de um líder agora”.

Ou será que tiveram sempre?

Desde o princípio o ladino acreditou que eles estavam agindo de um jeito muito peculiar para seres com reputação de alucinados e furiosos, e a cada segundo aquilo parecia mais surreal.

Torcia para não ser o único a ter percebido isso. Foi quando seus temores se concretizaram.

Graças aos seus sentidos apurados e trabalhados no exercício de seu ofício irregular, que exigia sempre atenção apurada, ele primeiro ouviu acima do clamor da batalha o que parecia um cântico monótono e constante.

Então identificou a direção do som, olhou para além da peleja e ele viu, ou pensou ter visto um vulto contra o sol, em uma duna próxima. Não soube se era homem ou mulher, mas soube que não era uma besta, pois o sol não refletia nela. Era um feiticeiro, ou mago, ou algo que o valha. Um maldito conjurador de magia.

O ladino deu o alerta para Ester que estava mais próxima da figura.

— Ester! Ao norte! _ O ladino chamou sua atenção e apontou a direção.

Ester que estava mais apta a observar a pessoa ou a criatura, subitamente achou por bem sacar seu arco e flecha e dar um disparo na direção do vulto.

Nesse instante de distração, Razarthan foi atingido da pior maneira que um ladino pode ser atingido. Pelas costas.

Atingir pelas costas era a função dele. Agora ele sabia como era a sensação.

Surpreso, assustado, impotente, furioso por abandonar sua cobertura.

Para sua sorte foi um trabalho de amador, ou melhor, de uma besta alucinada.

Embora tenha pegado de raspão, o ladino levaria uns dias para cicatrizar aquele ferimento e quando ele tombou ao chão com o impacto, ele teve certeza que se o golpe tivesse sido certeiro, ele teria sido partido ao meio.

No chão, e notando que uma sombra o encobriu logo a seguir, ele percebeu que a criatura que se assomou sobre ele teria outra boa oportunidade de finalizar o ataque.

Assim fez a criatura e Razarthan que ainda não recuperara o equilíbrio estava vulnerável, quando Sir Laucel interceptou o ataque se interpondo entre ela e o ladino indefeso e caído.

Laucel foi atingido pelo golpe destinado ao ladino em simultâneo, em que transpassou o nômade. Ambos caíram cada qual para um lado. Laucel quase caindo por cima do ladino.

Em meio a toda aquela balburdia, Razarthan ainda perguntou. — Por quê?

Ao que o cavaleiro respondeu. — Não me faça perguntas estupidas. Erga-se!

A própria Ester arrancou a cabeça do Furioso líder das bestas com um ataque certeiro. O nômade que interceptou os cavalos no começo da batalha foi morto por um jovem talento que Razarthan sempre constatava na companhia de Ester e um após outro os nômades caíram, restando um ileso e outro ferido no final, que ao que parece, tiveram um momento de lucidez antes da morte e decidiram fugir.

Era tarde demais para eles. Ao virar as costas foram perseguidos e eliminados rapidamente.

Quando o último nômade tombou, o vulto no horizonte que havia sido alvejado por Ester, não estava mais lá.

Havia dois cavaleiros mortos, vários feridos e as bestas abatidas espalhadas pelo solo.

A primeira partida no Grande Tabuleiro estava encerrada.


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Notas finais do capítulo

Acho que hoje não tem rodapé, mas se eu estiver esquecendo de alguma coisa nesse ou de outro capitulo deixem nos comentários que na próxima eu coloco aqui.
Grande abraço, até a próxima e voltem sempre.



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