A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível escrita por Félix de Souza


Capítulo 15
Um elmo partido


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos, clientes.

Primeiramente eu gostaria de pedir desculpas.
Nesse capitulo será citado os monges Guudah. Não se preocupem, esse pequeno spoiler não vai comprometer a leitura, mas digo isso e peço desculpas, pois retirei o livro que ia se aprofundar neles, da plataforma.
A Fênix e o Dragão ainda não saiu como idealizei, mas também não desisti do projeto, um dia ela volta, mas eu só consigo me concentrar em um livro de cada vez. Então engavetei A Fênix e o Dragão por enquanto.
Tudo faz parte do mesmo mundo.

Agora, boa leitura e espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801640/chapter/15

Na verdade, era alto demais para ser chamado gnomo, mas com certeza sofria de nanismo.

Não possuía mais de um metro e meio, talvez menos. Tinha um nariz adunco, maçãs do rosto salientes, os cabelos ainda pretos começaram a clarear aqui e ali. Tinha um ar ranzinza mesmo que não dissesse nada, trejeitos antiquados até no modo que segurava a bengala, com as mãos sobrepostas, num gesto tão natural que ele mesmo nem se dava conta.

“O que isso me diz sobre ele”? _ Se indagou Léia enquanto observava Argoluli de soslaio. Aparentemente ele cochilava na carruagem voadora.

Carruagem assustadoramente grande e voadora.

Poderia ser facilmente chamada casa sobre rodas. Possuía três janelas de cada lado e uma janela a frente que dava uma visão de para onde a carruagem seguia. Toda feita em madeira reforçada. Com certeza não seria transpassada por flechas. Arrebitada nas junções com aço e pior, parecia maior por dentro do que por fora. Só aquela carruagem devia valer uma fortuna se estivesse á venda. Uma versão menor da loja?

E tinha o baú.

Tinha um baú estranho que Léia não pode deixar de notar.

Hora ficava embaixo do assento de Argoluli, hora estava diante dele. Tinha todo aspecto de ser pesado, mas quando eles se distraiam, parecia que Argoluli, aquele homem tão pequeno, o movia com facilidade. Sem contar que... O baú às vezes parecia oscilar num ritmo diferente da carruagem.

Era como se...

“Foco, Léia” _ Dizia-lhe uma voz interior que ela conhecia bem. Por vezes lhe trazia bons conselhos, por outras, era uma chateação. “Você precisa compreender esse homem, caso ele se volte contra vocês. Se ele tem um ponto fraco, está nele mesmo”.

Léia voltou a se concentrar nos maneirismos do homem cochilando diante dela, e prosseguiu juntando as pistas.

“O que isso lhe diz sobre ele”? _ Insistiu a voz.

“Isso me diz que ele é um velho inconformado com a perda da juventude, tentando de tudo para manter-se jovem”. Todavia o espirito de uma Era envelhece diante da novidade.

“Não, Léia, não cometa esse erro”. Ela estava o subestimando. Ele tinha toda a aparência de ser desprezável, sabia e tirava proveito disso. Usava isso como arma, ela apostava.

“Ele é obstinado”. Léia deduziu. “Ele tem um proposito maior e não tem medo de arriscar ou de errar, é aquela pessoa que vai desafiar o inferno até conseguir”.

O que ele queria de verdade, era a questão.

O que importava a Argoluli? Se algo importasse, seria bom saber. Ele se cobria debaixo de vários véus de personalidade de faixada, ela percebeu. Era boa em reconhecer isso.

Ela nem mesmo acreditava que ele estava dormindo.

Ele ousou manipular um membro da Casa Gnoses, que era ela mesma, ciente do que estava fazendo. Entrou em contato com pessoas como O Legado de Safira, não parece estar particularmente preocupado que um membro da Armada Fantasma esteja perto dele.

“O que você está tramando, duende maldito”?

Então ela se lembrou da conversa que teve antes de chegar a esse ponto com Altman.

“Arrancamos as informações desse porco maldito e incendiamos a maravilhosa loja dele depois”? _ Sugeriu alegremente a barda ao fim do interrogatório.

“Não é tão simples assim”. _ Respondeu Altman.

“Como assim? Está falando sério, ele vai sair dessa impune”?

“Pouquíssimas pessoas sabem quem Argoluli realmente é, mas as pessoas que importam sabem” _ Altman sentou-se de frente para a barda para fita-la nos olhos. “Ele tem favores á cobrar, pactos a exigir, pessoas poderosas que o apoiam e acobertam, incluindo governantes da própria Doomlore”. Parou para respirar profundamente antes de continuar. “Ele é cercado de barreiras, mágicas e políticas. É assim que ele trabalha”.

“O que isso quer dizer”? _ Indagou uma Léia aturdida e indignada, porém negando á si mesma a realidade. Ela sabia muito bem.

“Atacar Argoluli, mesmo logrando êxito, é declarar guerra a pessoas poderosas e nós nem temos noção exatamente de quem”.

“Então o que você sugere? O que vamos fazer”?

“No momento ele é mais útil vivo. Vamos convencê-lo de que se ele não ajudar a limpar sua bagunça será pior e vamos torcer para ele acreditar”.

“Você quer blefar com um mercador”? _ Léia estava chocada.

“Aceito sugestões”. _ Disse Altman a dar de ombros.

Lá estava ela, e via a situação da seguinte forma.

Argoluli tinha um plano.

Altman tinha um plano.

E ninguém estava sendo honesto naquele jogo de cartas, estavam todos blefando.

Ou ela estava ficando paranoica. Normal ela nunca foi mesmo.

“Eu mesma não sou completamente sã, todos da Gnosis são afetados pelo preço da verdade”.

Ela disse para Altman, da Armada Fantasma, dias atrás.

No último mês, parece que Léia entrou num inferno astral, e agora descobrira correr contra o tempo. Enviou pombos correios a casa Gnoses de modo a deixa-los á par da situação, assim como Altman, para a sua Armada Fantasma. Não saberia dizer qual das duas casas estaria menos atolada em conflitos para estender a mão em auxílio. Estavam por conta própria por enquanto.

Voltou seu olhar pelo lado da janela que estava próxima de si. Distraiu-se por um momento observando que um falcão voava pelo lado de fora da janela os acompanhando.

— Olha o poder desse filho de uma meretriz. _ Disse ela tomando ciência que a carruagem que ele os fornecera, foi feito por aquele homem minúsculo.

— Vou tomar isso como um elogio. _ Resmungou um Argoluli em tom sonolento.

— Está acordado, afinal. _ Léia afirmou.

— Pensou que eu estava dormindo? _ Disse lhe abrindo o olho que não era coberto pelo estranho monóculo. Rebuscado demais para o gosto dela. — Não, senhorita Léia, não. Estava apenas meditando.

Léia não conseguiu conter-se e bufou diante disso.

— Como um maldito monge Guudah?

— Sim. Exatamente como um maldito monge Guudah. _ Retorquiu o mago. Não parecia estar brincando.

— Porque uma carruagem? _ Perguntou a barda de repente.

Argoluli cofiou o queixo pensativo.

— Oras uma conversa civilizada. Essa é a coisa mais estranha do dia, isso sim.

— Vai responder ou posso voltar a te vilipendiar? _ Disse uma Léia aborrecida. — Toda conversa para vocês é um jogo de gato e rato? Se não quiser não responda.

Argoluli suspirou fundo. Independente do que ele tivesse que fazer, uma trégua cairia bem.

— Entendo. _ Disse afinal. — Poderia ser uma esfera reforçada de metal, que nos protegeria melhor, ou tapetes voadores caso quisesse a esconder. Como isso acontece? Um chamaria muito atenção e o outro não me inspira confiança para viagens longas se é que me entende. _ Olhou-o e arqueou uma sobrancelha, os braços cruzados. — Eu não desço nas cidades assim. Desço quilômetros antes na estrada, em algum momento conveniente, me escondendo entre as nuvens, e entro como numa carruagem normal. Uma esfera me obrigaria a sempre encontrar um lugar para escondê-la e correr o risco de ainda assim ser roubado por um azarado qualquer.

— Você quis dizer, sortudo? _ Ela retorquiu com um dedo em riste.

— Não. Léia Língua de Prata, eu quis dizer o que disse. Existe um ladino sem o dedo anelar por aí que poderia confirmar que não é uma boa ideia tentar me roubar.

Léia percebeu, mas ignorou a bravata. Não sabia que ele estava falando de qualquer maneira.

— Mas... _ ela fez uma pausa dramática. — Você usa inclusive cavalos. _ Salientou a barda.

— Cavalos enlouquecem após ficarem suspensos alguns minutos do solo.

— Os meus não. Fui eu mesmo que os fiz. _ Respondeu Argoluli no seu melhor tom trivial. Como se dissesse “Oi! Fiz biscoitos. Você quer”? — O cocheiro também fui eu que criei.

Léia ficou aturdida por um tempo, absorvendo até onde ia todo aquele absurdo.

— Mesmo assim você deve ter razão. _ Disse Argoluli se recostando no seu lado do assento.

— Pensando bem, por vezes tenho problemas com os cavalos. O que você me sugere? Seria melhor usar renas?

Do seu lado esquerdo Altman parecia dormir com convicção, do lado de fora, o aclamado cocheiro chamou pelo seu mestre.

— Mestre! _ Ouviu-se a voz indiferente do cocheiro após três batidas no tampo da carruagem. — Acredito que o senhor vai querer ver isso.

— Ele pensa por conta própria? Pensei tratar-se de um constructo. _ Disse Léia horrorizada.

— Ele é. Só não sabe disse. _ Deu-lhe uma piscadela. — Quem sabe você também não é?

Nesse instante Argoluli olhou pela janela e seu sorriso desapareceu imediatamente.

— Desça, imediatamente. _ Ordenou.

Haviam alcançado A Mesa carmesim. O Grande Tabuleiro.

O cheiro de sangue pairava no ar, haviam corpos espalhados. De relance ele calculou mais de uma dúzia deles.

A cena era de um massacre violento, brutal.

Enquanto caminhavam, os pés de Léia sem querer esbarraram em um elmo partido, caído no chão, que ela sem querer chutou para longe.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

º Monges Guudah.

Vindos da parte Oriental do continente de Thronus, das exóticas planícies de Guudah, surgem os monges.
Mais especificamente, os Monges da Casa da Meia Lua.
Comumente conhecidos como Guudah, o nome que na verdade é apenas o de sua pátria mãe.
Os Monges Guudah ou apenas Guudah, tem sua sede no reino de mesmo nome, mas são facilmente encontrados por toda a extensão do continente de Thronus.
Não se trata de nômades, como é o caso dos Bac Jauhs, mas sim de peregrinos.
Uma tradição antiga e incentivada pelo monastério.
Em certa parte do seu treinamento, os Yck, como são chamados os discípulos, iniciam a tradição da peregrinação, em busca de ir o mais longe possível por um período de no mínimo um ano, podendo ser mais, em busca de aprimoramento de sua arte marcial, assim como experiência prática.
O diferencial de um Guudah para um guerreiro é meramente filosófico.
Os Guudah são orgulhosos da cultura, educação e sabedoria do seu povo.
É um senso comum entre os Guudah, que a Era da Magia acabou, e que é hora de uma nova ordem assumir o controle.
A Era do Chi tem se tornado uma idéia poderosa, que vem ganhando força entre os mais jovens, e sobre tudo os monges, acreditam que o poder do chi, e consequentemente eles, estejam aptos a preencher o vácuo de poder deixado pelos zenitheres e pelos magos em geral.

º Zenitheres.
Antigo império magocrata e secular que dominou o continente de Thronus e exerceu grande influência sobre as raças e culturas.
A superioridades deles em relação ao resto do mundo é inquestionável, mas tudo teve um fim no advento conhecido como A Grande Tragédia.
Mas isso é uma outra história, para outro dia.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.