A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível escrita por Félix de Souza


Capítulo 14
Uma peça no tabuleiro


Notas iniciais do capítulo

Olá meus caros clientes dessa loja maravilhosa.

Essa semana acabei descobrindo que muitos de vocês fazem parte da Armada Fantasma.
Vem aqui, leem, não comentam e vão embora sem jamais serem notados.
Ai, esses fantasmas.
Estão em toda parte. Por vezes até como leitores e como fantasmas, indetectáveis.

É isso, mas apareçam.
Deixe seu feedback, sua crítica, sua ajuda pode melhorar a historia e me mostrar um caminho.
Fora o incentivo.
Sem mais delongas, mais um capítulo para vocês.



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O cristal carmesim não é especialmente resistente, nem propício a acumular energia, como algumas joias usadas por magos para canalizar magia.

Então o que faria desse minério, valioso? Quais as propriedades do Cristal carmesim?

Ele é mais parecido com pedras de sal, é frágil demais, porém consumível.

Veja bem. Ele é consumível, porém não propício ao consumo.

Isso porque o cristal carmesim é geralmente usado como uma droga altamente viciante.

Por conta disso, ninguém sabe exatamente onde fica o “ponto de retorno”, ou até onde você pode consumir cristal sem consequências definitivas, mas conhecemos o ponto final.

— Pobres miseráveis. _ Resmungava Sir Laucel, enquanto observava os nômades carmesins através de sua luneta, ou melhor, dizendo, as criaturas que eles se tornaram, conhecidos como bestas carmesins.

Razarthan nunca vira uma de perto e nem queria, pela fama que os precedia. Observavam eles por trás de uma formação protuberante do próprio cristal espalhado ao redor. Não havia muito onde se esconder.

— Posso ver? _ O ladino estendeu a mão para o cavaleiro na direção da luneta.

— Não. _ Respondeu simplesmente o velho cavaleiro. Virou as costas ao ladino frustrado e se voltou para sua senhora.

Se não era obvio, naquele momento ele não deixou margem de dúvidas de que não confiava em Razarthan nem para emprestar uma luneta.

Ao chegar próximo da líder da caravana, Ester de Safira, o velho se pronunciou antes que ela fizesse a pergunta. — Nômades vermelhos, senhora. _ Expressou uma face de profundo desgosto. — Bestas.

— Quantas? _ Indagou a ruiva do alto da sua sela.

— Uma dúzia deles. _ Eram onze, na verdade.

— Podemos evita-los? _ Ela já mandava sinais para os cavaleiros, por puro instinto, que vinham atrás para ficarem atentos.

— Estão bem no nosso caminho, senhora. _ Respondeu o cavaleiro de meia-idade, rosto curtido do sol, com fios de cabelos já acinzentados nas têmporas.

— Metade de nosso contingente. _ Eram vinte e dois ao todo e ela estava mais certa que Laucel na contagem. Também não contava com Razarthan para isso. — Isso pode ser um problema.

— São resistentes senhoras. _ Acenou Laucel em concordância. — Mas somos treinados. _ Disse com convicção. De fato, alguns eram experimentados em combate, outros jovens talentos. Cada um deles irrecuperáveis. Cada cavaleiro que o Legado perdia, diminuía a força da tropa de um modo dramático. O sacrífico que aqueles homens estavam dispostos a fazer por sua líder, era de fato digno de um cavaleiro.

— Alinhe os homens então, Sir Laucel. _ Disse a destemida líder. Quando ele se moveu para dar as ordens, ela o deteve um instante pelo braço. Um aperto firme, olho no olho e disse.

— Rápido e com força. Vamos dar descanso a essas almas atormentadas.

— Como desejar, minha senhora.

Era assim. O último estágio do vício, o ponto final do cristal carmesim, transformava o usuário numa besta, uma fera transmutada sem hipótese ou desejo de diálogo.

É o que dizem e o mais fácil de aceitar.

Minto. Na verdade, esse é o penúltimo estágio e é o que importa nessa narrativa. O ponto final definitivo era mais triste e raro por que dificilmente um usuário vivia para tanto. Havia motivos razoáveis para se abater um nômade vermelho.

As bestas diante deles já foram homens. Naquele momento eram imagens distorcidas do que já foram antes.

Primeiro vem os impulsos violentos, que impedem o convívio com a sociedade e turvam o discernimento e a noção do perigo.

Depois vinham as mutações aparentes.

É perceptível o aumento da força física do usuário, de início temporária, mas cada vez mais permanente conforme o consumo assíduo. Daí você entende o porquê de consumir uma droga que vai acabar te transformando num monstro.

Se você é fraco e inculto, ou se pensa que não tem nada a perder, ou ainda se é arrogante o bastante para pensar que não vai acontecer com você. O fato é que o vidro vermelho dá uma falsa sensação de poder. Aquilo que move os de mentes ou coração vazio.

Acredite. Muitos cometem esse erro.

Então no começo tudo são maravilhas. Você fica alto, forte, ágil e viril.

Daí com o tempo, com alguns mais rápido que com outros, acontecem as mudanças mais grotescas e significativas. As que vão definir o usuário como uma besta.

A pele enrijece, criam-se calombos que mais tarde vai irromper a pele e substitui-la. O cristal começa a se acumular ali e uma hora ou outra a rompe como uma bolha.

O próximo passo é o cristal subir para o cérebro, e tornar o raciocínio mais lento. A dor de cabeça constante tornar o comportamento agressivo de antes, algo mais justificável agora.

Logo depois do cristal subir a cabeça, a armadilha se fecha.

As alucinações começam a se tornar constantes e nenhum usuário sabe mais distinguir o que é fantasia e o que é realidade.

A coordenação motora é afetada, a loucura se torna irremediável, e cedo ou tarde o usuário vai fazer algo sem retorno. A partir daí, os que têm sorte enxergam o que fizeram e fogem para o deserto, quando não são abatidos no mesmo lugar que viveram às vezes a vida toda.

Por um impulso instintivo, acaba indo parar lá, na Mesa Carmesim.

Mais uma peça no tabuleiro.

Isso é para você entender, a parte do jogo que se dá.

Mesmo enquanto os cavaleiros se preparavam para atacar, as próprias bestas atacavam umas, as outras.

Ocorreu a Razarthan que observava tantos os cavaleiros quanto as bestas, que era um tanto estranho que criaturas violentas assim, para dizer o mínimo, estivessem reunidas.

Não parecia natural.

Com os cavaleiros alinhados. Safira deu o comando de ataque. Montados nos seus cavalos, o Legado de Safira se atira para pura e simples carnificina.

Não era uma tática muito elaborada, não queriam perder tempo. Era só massacre e atropelamento. Fizeram um bloco, de quatro paredes de cinco cavaleiros cada. Na primeira parede liderava a própria Ester, ladeada de Laucel á direita e um jovem pajem bem-afeiçoado á esquerda que sempre a atendia. Parecia um pouco mais jovem que Ester e Razarthan até então não gravara o nome na memória.

Os cavaleiros não acreditavam estarem diante de um oponente digno de cautela, mas algo incomodava Razarthan.

Aquelas criaturas violentas reunidas no mesmo lugar, se engalfinhando, mas não se matando. Ocupando o mesmo território.

Tigres não convivem entre si, a menos que em época de acasalamento, quando buscavam procriar e um pouco depois apenas a progenitora e seus filhotes.

Bestas carmesim, não procriam, se transformam.

Já foram homens e não agem de um jeito natural. Nem sequer vivem muito tempo.

O estágio final, caso durem tanto, transformam eles em estátuas de cristal de tanto que eles acumulam vidro vermelho no organismo, isso acaba fazendo parte do seu corpo mais que a própria carne e sangue. Haviam formações grotescas espelhadas aqui e ali da altura e formato de homens e mulheres o bastante para atestar isso.

Esculturas bizarras de cristal e ossos.

“Então por que”? _ Antes que Razarthan chegasse a qualquer conclusão, a ordem para atacar foi dada.

Assim teve início a matança.


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Notas finais do capítulo

No capitulo de hoje nós aprendemos que:
Não use drogas. Você pode ficar besta.

Por hoje é só, pessoal.



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