She Used To Love Me a Lot escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 3
I sat down beside her and she smiled




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ATO VI

Três semanas, foi o tempo que ela demorou para ter coragem de abordá-lo. A garota grifinória que vencera a Guerra, mas apenas o observava de maneira esporádica quando pensava não estar olhando.

Contudo, Draco estava sempre à par dos olhos castanhos acompanhando-o pelas costas. De repente, estava mais consciente da presença de Granger em Hogwarts, uma vez que era uma das poucas em sua classe, composta pelo ‘famigerado e especial oitavo ano’, para alunos em idade escolar que perderam o sétimo ano em razão da excepcionalidade da Guerra.

Tinha autorização especial para permanecer no país apenas porquê podia terminar a escola e assim escolhera. Então, ignorara os olhares dos valorosos sobreviventes de Guerra, inclusive os professores que lutaram ao lado da Ordem da Fênix, e continuara em Hogwarts enquanto seus pais se mudavam provisoriamente para a França. Para esperá-lo.

Hermione Granger, curiosamente, não estava no grupo de colegas que solenemente o evitava, pois simplesmente não se importava com ele. Conseguia entender por quê a garota não se aproximara antes para perguntar o que queria, provavelmente ocupada processando o que ele fizera – a sua escolha. Ela parecia cansada demais para alimentar a hostilidade pós-guerra dentre os muros daquele lugar, como era na comunidade fora dele.

Mais tarde, enquanto pensava sobre esse dia específico, não soube se ela chegou a uma conclusão sobre sua atitude, mas que havia tomado uma decisão.

Reformada, a biblioteca agora continha compartimentos pequenos de estudos, acarpetados e com bancos acolchoados, que tornavam a experiência menos sujeita a interrupções. Não havia portas, mas podia contar com alguma privacidade.

Terminava um longo trabalho de Runas Antigas quando sentiu a presença, antes de realmente vê-la. Era uma tarde de sexta-feira, os demais estudantes estariam em qualquer outro lugar possível, que não a biblioteca, porém, Draco não tinha para onde ir e Granger escolhera ficar ali.

Além disso, havia algo sobre o perfume dela, que sempre se fazia presente quando próxima. A primeira vez que notara fora durante a Guerra, quando tivera os cabelos dela, ainda que sujos e repletos de fuligem, próximos o suficiente para não conseguir ignorar – e marcar – o aroma de coco emanando dos fios. Ali, no espaço pequeno malmente ocupado por eles, não era diferente.  

— Você não é muito discreta, Granger.

Comentou antes de levantar os olhos. Bastava olhá-la para saber que estava melhor após o fim de tudo. Não havia mais olheiras de exaustão ao redor dos olhos, a pele brilhava, os cabelos caíam em ondas displicentes pelas costas, e o uniforme novo estava perfeitamente ajustado ao corpo, que abraçava um livro grosso contra o peito enquanto examinava a postura dele, testando-o.

— Estamos quites, Malfoy? – Draco soltou a pena e arqueou uma sobrancelha na direção da garota. – O depoimento no seu julgamento pelo que fez por mim, naquela noite na Batalha, com Greyback...

— Proteger garotas grifinórias não está na minha rotina. Sei a que se refere, não se preocupe.

 Assegurou em tom baixo em meio a um suspiro enfadonho, se recostando contra a cadeira. Ela franziu o cenho por um instante e quase quis rir por, sem querer, tirá-la dos eixos. 

— Quero ter certeza de que não me cobrará favores no futuro. 

Ela insistiu e Draco desviou o olhar, perdendo-o no tampo de madeira reluzente da mesa por um instante, pensando se um dia precisaria de algum favor de Granger, afinal ela teria como mexer pauzinhos agora. No entanto, no cenário atual, só tinha um objetivo: terminar a escola. Era cedo demais para pensar em favores incertos para o futuro.

— Estamos quites, Granger.

A viu evidentemente relaxar contra o portal do compartimento de estudos e Draco quase revirou os olhos. O que poderia fazer contra ela? Agora, ambos tinham a resposta para a perguntara que martelara entre eles por meses até estourar naquele encontro na Batalha: não seria capaz de matá-la, não porque se tratava de Hermione Granger, uma garota que crescera ao seu lado, mas por que este não era ele. Não queria Guerra, não desejava escolher um lado, mas ainda assim precisara constantemente fazer as escolhas que o levaram a mergulhar mais e mais fundo naquela realidade de merda.

Ignorando-a, voltou a se encontrar no trabalho de forma desgostosa. Então, Granger, a qual surpreendentemente ainda não havia se afastado, colocou sobre a mesa o livro que antes segurava, como que oferecendo-o num aceno de paz.

— Não vai conseguir terminar o trabalho sem este.

A garota saiu antes que pudesse elaborar uma pergunta, por mais que não soubesse qual, ao passo que Draco somente encarava o exemplar do livro de Runas.

ATO VII

— Sinto muito sobre sua mãe.

Ela resolveu dizer quando uma xícara idêntica a dela pousou na mesa à sua frente com o pedido, que não demorou muito. Abaixou os olhos para a bebida, a espuma colorida por canela distraindo-o por um momento até que resolvesse tomar um grande gole. Nunca gostara de canela, mas ela adorava.

Sabia que Hermione estava sendo sincera nas condolências, mas também tinha certeza que não sentia muito. Não realmente. Narcissa fora importante para salvar Potter, mas isso não fora o bastante para abrandar a pena deles, pois ter abrigado Voldemort e os Comensais da Morte na Mansão Malfoy soara decisivo ao Júri.

Anos atrás, após a morte de Lucius, definhado em loucura, a aceitaram de volta no Reino Unido com a condição de usar sua influência e conhecimento histórico para transformar o lugar num Museu da Segunda Guerra. Draco não pisara lá depois de tudo, mas sua mãe contara que todo o tipo de símbolo, relatos, trechos de cartas, objetos mágicos, planos e mapas estava abrigado nos diversos salões da Mansão. Para marcar o horror, para evitá-lo.  

Do lado de fora, aproveitando o lago de águas calmas e o jardim bem cuidado que o rodeava, ainda habitado por raros pavões albinos, um memorial de mármore branco fora construído contendo o nome de Ninfadora Tonks logo no centro. Nem por isso a irmã a perdoara; ‘não denovo’, Andrômeda havia dito, pois dessa vez perdera a todos que amava, restando apenas o neto.

Sua mãe não era boa, mas tinha consciência do erro que cometeram. Granger não tinha ideia disso e nem queria que tivesse. Não fazia mais sentido que precisasse de algo do tipo vindo dela. A fase da compreensão silenciosa ficara no passado, recordou a si mesmo.

— Você não sente. – Murmurou, a sinceridade claramente a incomodando. – Seria injusto que exigisse isso logo de você.   

Seus olhos recaíram no exato lugar em que a cicatriz feita por sua tia fora feita.

Daquela noite, não tinha apenas meros vislumbres. Tudo ainda era claro como cristal em sua mente, ainda que tentasse esquecer os gritos e a maneira como a presenciara chorar em desespero e dor pela primeira vez.

Não havia como comparar o que fazia na escola com o que Bellatrix infligira a ela, mas nunca imaginara que, um dia, veria Hermione Granger sucumbir daquela forma. Empertigada, ela cobriu o local com a mão, por cima da blusa de linha que usava, como se a menção a lembrasse e fizesse queimar.

— Mas sei que a amava. – Granger insistiu em seu próprio ponto, evitando adentrar um tópico mais delicada. – Deve ter sido complicado.

Narcissa falecera no dia 13 de setembro. Se encontrava na Alemanha, em um Congresso de Pocionistas, quando recebeu a coruja. Ainda precisou conseguir uma autorização para voltar ao Reino Unido e ficou com a mãe por cinco dias. Rápido demais para que pensasse em começar qualquer estudo sobre a condição. A fina ironia? Uma doença trouxa em estágio avançado.

— Sim.

Não havia o que se alongar. Nunca gostara de falar sobre o que o machucava. Hermione apertou as mãos contra a xícara e respirou fundo sem deixar de olhá-lo, claramente tentando decifrá-lo. Agora que estava ali, depois de tanto tempo, tudo parecia... Distante demais. Do infantil antagonismo declarado até a Guerra e o que sentiam um pelo outro, era como se tivesse acontecido a pessoas muito diferentes de quem eram agora.

— Pretende ficar no país até quando?

— Estarei aqui na sua Posse, Ministra.

Como se não estivesse acostumada à própria grandeza, ela abaixou os olhos e sorriu para si mesma, levando-o a sorrir também. 


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Notas finais do capítulo

Terceiro capítulo e acho que aqui dá pra ter uma ideia de como eles estão em suas vidas e como foi esse comecinho de interação em Hogwarts!

Me deixe saber se gostou ♥



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