She Used To Love Me a Lot escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 2
She was sittin' in the Silver Spoon Cafe




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801599/chapter/2

ATO IV

Voldemort havia convocado todos os Comensais para a Floresta Proibida, após avisar que queria Potter. Agora não era mais necessário evitar dizer o nome dele.

Apesar disso, as batalhas não simplesmente cessaram. Os aliados da Ordem da Fênix, especialmente os membros antigos, jamais deixariam os Comensais simplesmente fugirem com vida para debaixo das asas do Lorde sem saber o que viria a seguir, afinal ninguém queria entregar Potter.

Àquela altura, ninguém se importava mais com os Sonserinos, mas a hostilidade trocada num olhar enquanto passavam por um corredor cheio de destroços era mais tensa do que nunca. Então, decidiu evitar se colocar entre as varinhas adversárias e se recolheu sozinho em uma sala vazia próxima à sala do diretor, onde a batalha não se fizera tão presente.  

Além disso, não queria ter que fazer escolhas ou se ver responsável por alguém. Horas antes, Goyle havia sido violentamente morto por seu próprio feitiço na Sala Precisa e, por mais que tenha encarado fixamente a forma como foi engolido pelo Fogo Maldito, seu primeiro instinto foi proteger a si mesmo. Não se importava nem minimamente com o Sonserino, nem mesmo com Crabbe, que orgulhosamente se colocara ao lado do pai no primeiro duelo que viu.

Draco, por outro lado, até aquele momento não sabia onde Lucius se encontrava. Ouvindo e sentindo a convocação, ainda encarou a Marca Negra fantasmagórica sob a parca iluminação da sala, se perguntando se deveria se dirigir até seus pais. Conhecia Potter, sabia que ele se entregaria para evitar que mais pessoas morressem e seja qual fosse o cenário que se desenrolasse, eles dariam um jeito, desde que estivessem juntos. Sempre davam.

Enquanto se esgueirava pelos corredores da escola, conseguiu notar que membros da Ordem da Fênix e Weasleys choravam pela morte dos seus. Não conseguiu identificar qual ruivo, mas mesmo o grandalhão Ronald tinha fartas lágrimas escorrendo pelo rosto. Então, tentando evitar o tremor nervoso, fechou as mãos em punho e se levantou.

‘Não era tomar lado’, disse a si mesmo, ‘mas se levantar por sua família. O lado dos Malfoy nunca havia sido o mesmo de Voldemort’, repetiu como um mantra puxando a capa sobre a cabeça enquanto avançava pelos corredores, varinha em mãos e a postura mais alerta possível.

Porém, a cena se desenrolou mais rápido do que previu. Sob uma janela completamente destruída, o Lobo Greyback se inclinava sobre o corpo de alguém. Na verdade, talvez nem fosse capaz de reconhecer qualquer um sob todo o sangue que se espalhava por rosto, cabelo e peito. Ele destroçara a mulher, como bem sabia ser capaz.

Já se sentia mentalmente exausto pela violência que o rodeava. Há um ano, Voldemort fizera de sua casa um Quartel General, há um ano tudo com que lidava era tortura e morte. Mas jamais imaginava que um cenário de Guerra fosse daquela forma. O castelo estava quase que completamente destruído, mas também as pessoas. E havia rostos conhecidos demais entre essas pessoas.

Repentinamente, viu a criatura levantar o pescoço, farejando de forma aguçada ao seu redor, o que o fez se esconder rapidamente atrás de uma pilastra. Contudo, Greyback se voltou ao corredor oposto, colocando-se de pé imediatamente, como o predador que era.

— Você continua se colocando no meu caminho. – A voz era suave, em contraste com as feições lupinas, cheias de pelo. – É uma sorte que eu goste de garotinhas jovens assim.

Não houve resposta, mas um ataque imediatamente repelido com habilidade pelo lobo. Os feitiços voaram pelo corredor com rapidez, até que a pessoa que Greyback atacava se colocou mais próxima, em seu campo de visão, pois, de certa forma, era como se ele a estivesse encurralando justamente no corredor onde Draco estava.

Primeiro reconheceu os cabelos castanhos, presos em uma trança, depois a forma como realmente duelava bem, silenciosa e rápida, apesar de ofegante. Tinha o rosto cheio de fuligem e cansado, mas ainda assim parecia determinada a derrubar Greyback ali. A resistência do Lobo, por sua vez, era debochada e, pela forma como atacava e defendia, não dava sinais de que cederia tão rápido.

Merda’, pensou ao sair de seu esconderijo junto a uma gárgula de pedra e levantar a varinha, abaixando o capuz. Greyback o viu primeiro, um sorriso de fera repuxando no canto de sua boca ao notar que mirava Hermione Granger. Percebendo a mudança de postura do inimigo, ela se virou totalmente alerta, mas parou, ofegando surpresa ao perceber de quem se tratava.

Por um mísero segundo, tudo o que viu foi a varinha da grifinória tão em riste quanto à sua, agora apontada para ele. Meses atrás, Granger havia perguntado se a mataria. E, por mais que na Sala Precisa houvesse apenas o desarmado, sem maiores complicações, talvez agora, em meio a urgência do campo de batalha e a necessidade de sobrevivência, a varinha dela fizesse mais do que isso. Agora, era Draco quem se fazia a mesma pergunta.

— Varinha no chão, Granger. – Inclinou a cabeça e molhou os lábios, forçando seu tom mais frio sem muita dificuldade.

— Ela é minha, Malfoy.

Greyback lembrou, a varinha contra ela, os olhos estreitos na direção de Draco. Granger, de repente, pareceu se lembrar do Lobo, os olhos incertos tentando decidir de quem se defenderia primeiro.

— Ela é motivo suficiente para que Potter corra diretamente para os braços do Lorde na Floresta. Eu vou levá-la. – Explicou em tom baixo, voltando a olhá-la de maneira insistente. – Varinha no chão, Granger, agora.

— Então... Se há alguém que terá a honra junto ao Mestre, será eu. – Greyback insistiu, a voz rouca e nojenta. – E de quebra, farei o que quiser no caminho com essa putinha metida a heroína.

Granger decidiu de quem se defenderia primeiro, voltando a atacar o Lobo com tudo o que tinha. Ela tinha muito, mas ele era bem mais experiente e num truque rápido de duelo, conseguiu amarrar os pés da garota com uma corda conjurada, fazendo-a se desequilibrar e cair, a varinha se perdendo embaixo de um escombro qualquer.

Revirando os olhos pela decisão da qual, provavelmente, se arrependeria mais tarde, se voltou ao Lobo e, com um feitiço aprendido com Bellatrix, fizera da ponta da própria varinha um chicote, que se prendera imediatamente ao redor da garganta do lobo. O colocou de joelhos quando forçou a ponta e se aproximou num tom baixo.  

— Eu disse... Que eu vou levá-la, Greyback. – Puxou denovo observando o feitiço magicamente sufocar sem precisar de muito. – O lobisomem obedece aos seus superiores.

— Vá se fuder, Malfoy.

Draco sorriu, conjurando a varinha de Greyback com a mão direita, notando sem remorso que ele ficava mais e mais pálido e que o chicote em torno de seu pescoço começava a marcar a pele. Como ele havia marcado, sem volta, a desconhecida a poucos metros de onde estavam.

— Vou levar sua varinha, só por garantia.

Se aproximou de Granger e, ainda com um olho no homem-lobo, a segurou pelo braço e a obrigou a ficar de pé. A castanha ainda tentou lutar contra, dificultando todo o seu trabalho ali.

— Me solta, Malfoy!

Mesmo com os pés juntos por causa do feitiço de Greyback, ela lutou para empurrá-lo pelo peito e, por isso, a virou de costas, firmando-a com um braço apertado em torno do pescoço enquanto a varinha pressionava a garganta comprida.

— Cala a boca, Granger.

Soltou os pés dela e a conduziu pelo corredor um pouco mais facilmente, apesar de ela insistir em colocar todo o seu peso sobre ele. Foi só quando notou o baque de Greyback caindo sufocado contra o chão, que conseguiu relaxar e a soltou com brusquidão, sem se importar que tropeçasse para se afastar dele e encará-lo, sem entender, ainda buscando a própria respiração.

— O que está fazendo?!

— Salvando você. – Com um feitiço ‘accio’ invocou a varinha da grifinória, jogando-a de qualquer jeito na direção dela antes de quebrar a de Greyback. A viu franzir o cenho e empinou o nariz, ajeitando a própria capa antes de dar as costas. – Espero que se lembre disso.

ATO V

Ela se lembrou. É claro que se lembraria, a justa grifinória de espírito nobre. Meses mais tarde, a castanha foi responsável pelo depoimento que o livraria de Azkaban.

Granger pediu segredo de justiça para não se comprometer ao associar seu vangloriado nome ao da família Malfoy, a qual, embora rica, fora praticamente escorraçada do Reino Unido. Ou eles saíam ou seriam presos. O mundo bruxo já não se curvaria mais aos desígnios de um nome que sempre manipulou e prejudicou a comunidade como os Malfoy.

— Estive aqui e ali. – Deu de ombros. – A maior parte do tempo na Europa Oriental, Praga.

— Ouvi dizer que a comunidade bruxa em Praga tem diversos nomes de tradição no ramo das poções.

A viu se inclinar em sua direção, interessada. Era da personalidade dela sempre querer saber mais sobre todo e qualquer assunto possível. Concordou, praticamente lendo as perguntas que nunca seriam feitas nos olhos castanhos o analisando como um reflexo.

— Sim, me especializei em um bom instituto.

Reparou que não havia surpresa no modo como ela meneou a cabeça. Se perguntou se, de alguma forma, ela sabia o que se passava em sua vida, mesmo à distância, mas isso seria impossível. Tomaram existências e rumos completamente distintos, depois de tudo, ponderou enquanto retirava as próprias luvas devido ao ambiente magicamente aquecido do pub.

Repentinamente, os dedos finos pareceram mais tensos ao redor da xícara de café, pois não havia mais para onde ir depois dali. Era quase como se pudesse ler os pensamentos da mulher nesse sentido, pois estes também eram os seus. Agora a consequência do não-pensar num motivo plausível para abordá-la floreava entre os lados opostos da mesa estreita demais, tão súbita fora a sua decisão. Não pode deixar de assinalar também quão fácil havia sido, como se a presença o empurrasse a um efeito quase etéreo.

— Não vai pedir nada?

Imaginou o que poderia haver por trás da pergunta simples e, talvez, apenas talvez, não fosse tão capaz de lê-la como costumava ser. Abaixou os olhos para a xícara e a alcançou, os dedos roçando nos dela quando a pegou. 

— O que está bebendo?

— Café Irlandês.

Draco sorriu irônico enquanto provava, primeiro sentindo o sabor forte do uísque trouxa depois o café e, por fim, a predominância da baunilha por todo o seu paladar. Não gostava muito, ela adorava. Com um sinal ao atendente, pediu o mesmo e voltou a encará-la.

Os cabelos castanhos caíam compridos em torno de todo o rosto, num volume que, atualmente, se harmonizava perfeitamente ao formato do rosto. Tinha um mero vislumbre da menina dentuça que um dia havia sido e, graças a uma peça dele, deixara de ser. Felizmente, pensou abaixando os olhos para os lábios bem preenchidos com batom vermelho e o retrato simétrico que faziam junto ao desenho da mandíbula. Olhando para tudo o que ela se tornara, agora se perguntava como havia sido capaz de dizer adeus. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mais um meio-slow burn! Me deixem saber o que estão achando! Como eles saíram daquilo em Hogwarts pra toda essa tranquilidade?

Até breve ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "She Used To Love Me a Lot" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.