She Used To Love Me a Lot escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 4
She was glad to see me, I could almost read her thoughts




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ATO VIII

Esfregou os olhos e coçou as peras pintadas num quadro específico daquele corredor para que a passagem para as cozinhas de Hogwarts se abrisse. O grande cômodo com quatro mesas paralelas em réplica às do Grande Salão estava completamente vazio e silencioso, sem qualquer elfo doméstico à vista àquela hora.

Era tarde demais para arrumarem a possível bagunça do jantar e muito cedo para começar a preparar o café-da-manhã, ou seja, o silêncio percorria o ambiente e todo o castelo de pedra de ponta a ponta e parecia apenas semi-iluminado. Com um suspiro enfadado, começou a abrir alguns armários em busca de alguma comida.

Não saberia cozinhar qualquer coisa, então contava com a sorte que os elfos deixavam alguns pratos preparados. Funcionara em todos outros anos, não haveria porquê não funcionar agora que, realmente, queria algo para comer, pois não conseguia dormir. Mais uma vez, os pesadelos sobre a guerra o atormentavam até que acordasse suado e ofegante, precisando de um banho ou de esquecer tudo aquilo com um Obliviate.

Conseguia ouvir os sons com vividez e sentir todas as sensações que sentira naquela época, do medo ao remorso e até a angústia. Desde que seu pai fora preso, sua vida vinha sendo um inferno e sua cabeça apenas refletia isso, como se não fosse capaz de constatar por si só quando andava pelos corredores.

Finalmente, encontrou um armário enfeitiçado para se manter gelado, onde uma quantidade absurda de tortas doces era guardada. Se abaixou, rodeando algumas com uma careta para tentar identificar os sabores até que enfiou o dedo no chantilly totalmente branco de uma delas e levou a boca, percebendo a predominância de limão. A acidez o agradava completamente.

Pegou a torta toda e invocou um prato e os talheres, cortando uma boa fatia do doce e tranquilamente se sentando a um dos bancos para comer. Antes que pudesse chegar na metade, contudo, ouviu o ruído da passagem ser aberta novamente e quase soltou um xingamento, já se preparando para uma boa desculpa e boa detenção, se fosse de um professor declaradamente anti-Malfoy.  

Não precisou de nada disso, no entanto, quando notou a figura esguia de Granger aparecer em seu campo de visão, parecendo tão surpresa quanto Draco por encontrá-lo ali. Usava um conjunto azul de pijama, calça e blusa de botões aparentemente de seda, e nos pés uma pantufa de aparência macia. Ele mastigou lentamente o pedaço que tinha na boca e Granger respirou fundo, encaminhando-se a um dos armários, como se conhecesse o lugar muito bem.

— Não sabia que a cozinha tinha se tornado território comum entre os estudantes.

A ouviu comentar, após não aguentar muito tempo em silêncio, certamente sentindo seu olhar insistente queimando a nuca livre pelos cabelos presos num coque alto. Tudo o que buscava era silêncio e uma forma de amenizar a ansiedade que o percorria cada vez mais frequentemente, agora, a pior pessoa possível estava ali justamente para recordá-lo o que tentava evitar.

Granger não tinha ideia – e nunca iria – que os gritos que Draco mais ouvia quando fechava os olhos eram os dela. Ela pedia ‘por favor’, pedia que parasse, pedia ajuda e chorava, tudo junto, alto e desesperadamente, enquanto Bellatrix continuava a torturando. Sempre dissera a si mesmo que não havia o que fazer, mas o demônio em sua cabeça sempre vencia o recordando a própria inércia.

— Gosto de pensar que o Oitavo Ano tem seus privilégios. – A grifinória riu baixo, como se não quisesse quebrar a calmaria da madrugada ao redor deles. Granger continuava de costas, então não pode ver exatamente, mas a viu balançar a cabeça em negação, como um pensamento qualquer a divertisse em particular. Quando continuou a conjurar coisas, calmamente preparando algo, não soube porquê, mas chegou à conclusão de que queria ter visto e a pergunta saiu antes que pudesse evitar. – O que está fazendo?

— Ah... – Ela se voltou a Draco incerta por um momento, estreitando os olhos, como se surpresa que puxasse assunto. – É Café Irlandês.

Granger terminou o preparo, como se termina uma poção, embora mais rápido e despejou tudo numa garrafa. Não soube o quanto daquilo era saudável, considerando a dose de uísque irlandês dentro, mas não questionou e ela, simplesmente, se encostou à comprida bancada atrás de si para tomar a bebida, tortuosamente perante Draco, que cortara mais um pedaço de torta sob o olhar penetrante e potencialmente crítico da castanha. 

— Vai ficar olhando sem pedir até quando, Granger?

— Odeio torta de limão. – De braços cruzados enquanto segurava o próprio copo, Granger informou sem cerimônias em meio a uma careta, deixando-o quase ultrajado, como se houvesse atacado seu gosto pessoal. – Você quer?

Percebeu que ela se referia ao café irlandês e até cogitou dizer que não gostava – pois baunilha demais era um inferno para ele e canela grudava em sua boca de maneira insistente. Além disso, preferia chá a qualquer tipo de café. Contudo, soava como uma oferta de paz, como o livro de Runas havia sido, meses antes. Por isso, decidiu não dizer nada e anuir, vendo-a encher uma caneca grande e colocar a frente dele.

Ela hesitou, em silêncio, talvez com tanto e nada a dizer quanto Draco, depois de tudo que acontecera. Por fim, deixou os ombros caírem pesadamente e se encaminhou para a saída, deixando a cozinha num estranhamente baixo e aparentemente resignado adeus:

— Boa noite, Malfoy.

ATO IX

— Então... Como é? – Ela levantou os olhos, sem entender, no que Draco revirou os olhos e se inclinou para ela. – Ser a mulher mais importante do mundo bruxo. Qual é o sentimento? 

Hermione repuxou um sorriso e, por fim, riu visivelmente relaxando contra a cadeira. Talvez, ainda parecesse estranha a realidade de ser a Ministra da Magia, mas Draco vinha acompanhando pela mídia o suficiente para se acostumar a figura dela no cargo mais alto do mundo bruxo. Especialmente, porquê sabia que ela faria grandes coisas.

Por mais que jamais questionasse a ambição, algo tão natural à personalidade dele, Hermione Granger não buscava o poder unicamente por ambição. Ela acreditava que podia fazer diferença quando ocupava os espaços de destaque na comunidade, a conhecia o suficiente para saber disso.

— Sabe... – Ela brincou com a asa da caneca, repentinamente pensativa e distraída. – É quase como se não fosse comigo. Tudo aconteceu muito rápido...

— Pelo que fiquei sabendo, Kingsley a tem como pupila há bastante tempo. – Sugeriu levantando uma sobrancelha, mas a castanha o dispensou com um aceno de mão.

— Não é isso, é... – A viu suspirar e repensar as palavras. – Assim que a cadeira de Ministro ficou vaga, todos cogitaram meu nome e eu, simplesmente, deixei as coisas acontecerem. Parece ter sido natural, mas ainda assim... Soa abstrato demais. Entende?

Hermione mordeu os lábios ao perguntar, os olhos duas redomas castanhas em busca de compreensão, nada parecida com a mulher que se posicionava sobre assuntos, que impactariam a vida de todos ao seu redor. E, mesmo se sentindo fora de lugar, era toda elegante, da forma que parava pra pensar e se expressar da melhor forma até a postura mascarando a própria tensão. A garota que ela fora não passava nem perto da mulher que se tornara, ponderou com o que contraste do que se lembrava da jovem desajeitada.

— Entendo.

Anuiu em concordância, fabricando um sorriso que esperava ser de compreensão ao que ela vivia. Com o passar do tempo, vivenciaram coisas que nunca imaginariam e a incerteza para justificar a insegurança relatada pela castanha soava suficiente – ao menos para o momento. Ela pareceu aliviada e viu os ombros visivelmente relaxarem.

Seus olhos recaíram novamente nas mãos juntas em torno da xícara de Café Irlandês. No dedo anelar esquerdo havia um sinal e apenas isso. Na sua, já não havia mais qualquer indício de que, um dia, uma aliança havia passado por ali. A falta da dela não era uma novidade, mas fazia algo incerto e quase infantil estremecer dentro de Draco.

— Soube do divórcio.


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Notas finais do capítulo

Mais um passo dessa lenta lenta evolução entre os dois. Deixe um comentário pra fazer a autora feliz e me deixar saber se gostou!



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