Dear Mr. Nemesis escrita por Nekoclair


Capítulo 6
Capítulo 6




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Senseless Maddening Anticipation Called Karma



Terça-feira. Uma tarde tranquila na Torre de São Petersburgo, logo após o almoço.

Pássaros assobiavam do lado de fora do prédio, mas seu canto era praticamente inaudível para as duas pessoas que se distraiam em meio a uma conversa descontraída no último andar. As rajadas de vento que sopravam contra a janela eram, de longe, uma companhia muito mais perceptível, quase mais do que o homem sentado em silêncio em seu assento.

Apoiando o peso da cabeça em uma das mãos e ocupando a outra com uma xícara de chá, um homem olhava em silêncio para a pessoa sentada à sua frente, que, apesar de estar falando há bastante tempo, ainda não mostrava sinais de que pretendia parar tão cedo. Como sua garganta não havia secado depois de falar tanto, ele não tinha ideia.

O homem tomou um gole de seu chá, saboreando a maneira como o amargo e o doce se misturavam tão harmoniosamente. Durante a brevidade de alguns poucos segundos, ele observou suas mãos e a bebida diante dele; somente tornou a olhar para o homem à sua frente quando este começou a falar com as mãos além da boca. 

O outro estava a falar sem parar já há algum tempo, mas o homem silencioso não via isso como um problema, porque gostava da voz do outro e de como seu tom subia e descia conforme suas emoções inundavam sua fala. Era agradável aos ouvidos, como uma peça musical bem ensaiada, na qual era impossível prever quando as notas ficariam mais altas ou mais suaves.

No entanto, mais do que qualquer outra coisa, o homem se encontrava confuso. Ele não conseguia parar de pensar em como a conversa deles tinha se desviado completamente. Olhando para trás, ele se deu conta de que eles estavam conversando sobre negócios nem mesmo cinco minutos atrás. No entanto, agora, o outro estava falando descontraidamente sobre algo completamente irrelevante, e agindo como se fosse sobre isso que eles realmente deveriam estar conversando a respeito.

Ele não tinha ideia de como — ou quando — isso aconteceu. Ele também não se importava.

Estava mais do que satisfeito com a maneira como as coisas estavam atualmente.

 

—--

 

— Não, mas sério. Você não tem ideia de como eu quero ir em outro encontro com o Yuuri! — o Treinador disse, arrastando suas palavras e pontuando sua frase com um suspiro. Era a terceira vez que o vilão dizia isso nos últimos cinco minutos, e sim, Katsudon estava contando. 

O Treinador estava olhando pela janela, em direção ao vasto céu azul, seus olhos suaves e sonhadores. Ele estava de costas para seu arqui-inimigo, o qual se encontrava imobilizado, e o vilão se mostrava completamente despreocupado. Era um dia claro e quente e as nuvens eram tão fofas e brancas quanto o casaco que ele estava vestindo. 

Quem quer que fosse o responsável por suas roupas havia, novamente, mostrado todo seu potencial ao combinar um suéter bufante, um largo cinto preto e um jeans slim azul que caia muito bem com as pernas compridas de Victor — não que Katsudon as tenha ficado encarando, óbvio que não. É só que... A maneira como você podia ver claramente o contorno dos músculos de suas pernas e as curvas de seus quadris era um pouco distrativa; só um pouquinho.

O agente se esforçava para se manter focado, mas sua situação atual não estava ajudando a manter sua concentração estável. 

Sentia sua cabeça pesada, mas pelo menos a gravata não estava mais batendo em seu rosto, esfregando seu nariz e fazendo-o coçar. Não, ela se encontrava nas mãos do Treinador, sendo esfolada, cortada em tiras finas por uma faca que, a este ponto, parecia estar se movendo por conta própria, visto que o Treinador não estava nem mais se dando ao trabalho de olhar para a pobre vítima que tinha em mãos.

O Treinador se virou, seus olhos grandes e brilhantes como normalmente eram. Ele estava franzindo, seus lábios curvados ligeiramente para o lado, e foram aquelas expressões que fizeram Katsudon perceber que ele estava esperando por algum tipo de resposta. Aparentemente, por alguma razão, ele havia sido promovido de nêmesis a guru do amor. Talvez se não tivesse se deixado envolver tanto, ele não se veria agora em uma situação tão complicada. 

No fim, parte da culpa era dele mesmo.

Ele realmente devia parar de se envolver no romance entre Victor e ele mesmo — bem, seu outro "eu" no caso. 

Katsudon honestamente não sabia o que o Treinador esperava que ele dissesse, então ele apenas falou a primeira coisa que veio à mente.

— É só chamar ele pra outro encontro. Tenho certeza absoluta que ele não se importaria.

O Treinador coçou a nuca e, após se mostrar pensativo por alguns segundos, balançou a cabeça levemente. Havia incerteza nas expressões que ele carregava em seu rosto.

— Não sei — ele disse, dando voz a dita incerteza. 

O Treinador caminhou até sua mesa e se sentou, jogando os restos do que foi um dia a gravata de Katsudon na lixeira e cruzando as pernas depois de devolver a faca ao cinto. Ele suspirou alto e descansou a cabeça na mão de maneira descontraída. Ele estava olhando diretamente para Katsudon agora, olho no olho.

— Talvez seja melhor ficar no aguardo por enquanto. Sabe, esperar que ele dê o próximo passo, ver se ele está realmente interessado. — Ele gesticulava com sua mão livre conforme as palavras saiam de sua boca, como se isso de alguma forma fortalecesse sua fraca lógica.

Katsudon franziu as sobrancelhas.

— Qual é o ponto disso? Além de que, você sequer consegue sentar e esperar que as coisas aconteçam? Nunca te vi como esse tipo de pessoa.

— Bem, é… — Uma pausa, longa e silenciosa, em grande parte desconfortável.  — Okay, você tem razão — ele finalmente admitiu e descruzou as pernas, levantando-se novamente e caminhando em direção a Katsudon. — Esperar é tão... Urgh. Por que eu sequer sugeri uma coisa dessas? — O Treinador continuava gesticulando a cada palavra, aparentemente ainda incapaz de manter as mãos quietas.

— Não tenho ideia — Katsudon respondeu, pura e simplesmente.

Por um instante, o ambiente se aquietou, ou ao menos era o que parecia. 

Dentro do peito de Katsudon ecoava o som de mil tambores — a batida era alta e forte, e o ritmo frenético. Era nessas horas que Katsudon deveria ser aplaudido em pé por suas habilidades de atuação de alto nível. Ninguém jamais imaginaria que por trás da máscara de indiferença e de seus seus olhos entediados poderia existir um homem resistindo firmemente a um deslizamento avassalador de emoções.

Seu coração gritava e exigia para que ele convencesse Victor a levá-lo — a levar o Yuuri — em outro encontro. Sua mente, porém, sabia muito bem que não devia misturar suas duas identidades. Mesmo que ele tenha se divertido, mesmo que o encontro tenha sido mais agradável do que ele jamais poderia imaginar ser possível e o tenha deixado querendo uma repetição daquele dia, ele não podia — ele não devia — arrastar suas emoções para dentro do seu local de trabalho.

Se seu coração fosse tão racional quanto seu cérebro, então ele não estaria em tal situação neste momento. Lamentavelmente, esse não era o caso.

Manter suas expressões sob controle estava se mostrando ser uma tarefa bastante complicada, especialmente porque seu coração teimava em tentar levá-lo a uma viagem por suas memórias, insistindo que ele se relembrasse do encontro e que revisitasse todos os sentimentos bons e doces que este trouxera. 

Ele definitivamente não precisava pensar sobre isso agora, ou sobre o quão grandes e quentes as mãos de Victor eram, ou como ele não havia pensado duas vezes antes de compartilhar com Yuuri um pedaço de sua alma, de seu passado. Ele especialmente não desejava pensar em quão bonito Victor estava quando o pôr do sol atingiu seu rosto, todas as cores se unindo para dar vida à mais bela pintura.

Felizmente, antes que seu coração pudesse levar Katsudon até águas ainda mais profundas dentro de seu subconsciente, o Treinador voltou a falar, arrastando o agente de volta para terra firme e salvando-o de um afogamento.

— Ainda tem muitos lugares onde quero levá-lo, e muitas coisas sobre as quais quero falar... Acho que falei demais da última vez, então talvez eu deva ficar mais como ouvinte no nosso próximo encontro; supondo que haja um próximo encontro, claro.

Katsudon quase permitiu que um sorriso transparecesse em sua máscara, mas ele rapidamente recuperou o controle sobre si mesmo, as palavras "eu poderia ouvir você falar por cem eternidades e ainda assim não me cansaria" morrendo dentro de seus lábios.

— E beijar... Quero beijar ele. 

O Treinador levou um dedo aos lábios, contemplando qual seria a sensação de ter os de Yuuri pressionando contra os dele. Havia uma faísca em seus olhos e desejo em sua voz. Os pensamentos do vilão eram altos e claros, estando basicamente pintados em seu rosto, e isso tornava tudo muito embaraçoso para Katsudon. 

Katsudon ficou em silêncio e desviou o olhar — qualquer lugar bastava, desde que fosse longe do Victor. O agente pressionou os lábios com força, unindo-os, sentindo a garganta seca e enferrujada. Ele engoliu em seco e sua saliva arranhou enquanto fazia sua descida, fazendo-o se sentir ainda mais desconfortável. 

Ao som de passos, Katsudon olhou para cima e encontrou seu nêmesis olhando diretamente para ele, seus olhos cheios de algo que ele só conseguia interpretar como preocupação. O Treinador caminhou em sua direção e segurou Katsudou pela lateral de seu corpo para que ele parasse de balançar, um gesto que fez o agente prender a respiração inconscientemente. Suas mãos eram gentis, posicionadas logo acima de sua cintura, e o lugar que ele estava tocando se encontrava agora quente.

— Devo te descer? — o Treinador perguntou, e havia certa urgência em sua voz. Preocupação. — Eu deixei você pendurado aí por tanto tempo que seu rosto ficou completamente vermelho...

Katsudon abriu a boca uma, duas vezes, mas nenhum som saiu. Ele tentou desviar o olhar mais uma vez, mas era difícil se esconder quando o Treinador estava bem diante de seu rosto, poucos passos à sua frente. 

Katsudon percebeu tarde demais o que havia acontecido. Ele falhou, permitiu que sua máscara escorregasse de seu rosto e agora se sentia extremamente frustrado por causa disso. 

O Treinador continuou olhando fixamente para seu rosto, observando e procurando, tentando descobrir o quão ruim era o estado de seu nêmesis pelas expressões em seu rosto; expressões que Katsudon nem tinha certeza de que ainda estavam sob seu controle. Era desesperador. Katsudon sabia que seu nêmesis tinha todas as melhores intenções, mas honestamente? Ele não estava ajudando em nada; muito pelo contrário, estava apenas fazendo com que ele se sentisse ainda mais paranóico sobre o rubor espalhado em seu rosto. 

Katsudon fez o possível para desviar o olhar, para manter o rosto fora da vista do outro, não se importando nem um pouco neste momento se estava agindo de forma anormal ou transparecendo que o estava evitando. Ele não era mais capaz de se importar, não quando suas emoções estremeciam dentro de seu peito de uma maneira tão urgente.

Seu coração nunca soou tão alto em seus ouvidos, nem tão irritante. 

— Sim! Sim, me desce! Não aguento mais! — Katsudon implorou, finalmente, soando desesperado até mesmo para seus próprios ouvidos.

Katsudon torceu para que o Treinador não percebesse que ele não estava falando simplesmente sobre ser desamarrado e colocado de volta no chão. Sua cabeça estava girando, mas ele ter ficado de cabeça para baixo por mais de quinze minutos não tinha nada a ver com isso.

 

—--

 

Yurio caminhava pelo longo corredor com passos pesados ​​e irritados. O som dele batendo os pés no chão certamente podia ser ouvido lá em cima, mas ele não se importava nem um pouco. Victor poderia repreendê-lo o quanto quisesse, até que ficasse com a boca cansada, e Yurio ainda assim não daria a mínima. 

Em uma das mãos, o garoto carregava uma pilha de papéis: anotações sobre as atividades realizadas no dia de hoje, também conhecidas como "o novo grande fracasso do Treinador como supervilão"; na outra, uma vassoura. No canto de sua testa, uma veia latejava, as contrações incessantes e incômodas, talvez um sinal de que uma dor de cabeça se aproximava. 

— Por que caralhos eu que tenho que arrumar tudo? — o jovem murmurou para si mesmo, frustrado. 

Se ao menos Victor permitisse que ele participasse com mais frequência de seus planos, ele nem se importaria em fazer esse tipo de coisa. Mas, honestamente, desde que chegou há um ano, ele sentia que vinha sendo tratado mais como uma criança que vivia a suas despesas do que como um aluno sob seus cuidados. 

O Treinador sequer pensava nele como um aprendiz? Yurio tinha suas dúvidas.

Depois de jogar a vassoura de lado ao chegar ao final do corredor, ele subiu as escadas dois degraus de cada vez. Imediatamente o ambiente clareou, o ruído de uma conversa alcançando seus ouvidos assim que ele adentrou a sala de estar. A cena que o saudou foi o suficiente para fazer aquela veia em sua testa voltar a latejar fortemente, seu sangue fervendo de forma ainda mais ardente.

— Oh, Yurio, já terminou? Que rápido!

Victor estava sentado à mesa da cozinha, sorrindo à toa enquanto bebia uma xícara de café. Sentado à sua frente estava Katsudon, tomando um gole silencioso de sua própria xícara, sua aparência mais acabada do que o normal já que desta vez ele havia levado a pior durante o enfrentamento dos dois; ainda assim, as mechas de seu cabelo se encontravam tão arrumadas quanto normalmente, nem um pouco afetadas pelas ocorrências daquele dia.

O agente sorriu levemente quando seus olhos encontraram os de Yurio, mas ele manteve suas palavras para si mesmo. Yurio ficou grato, porque preferia não ter de falar com ele se possível.

Ele ainda não conseguia aceitar esse tipo de situação. 

Como eles conseguiam agir de forma tão amigável quando deveriam ser inimigos, odiando um ao outro e todas essas coisas? Como eles eram capazes de agir como se não tivessem estado agarrados à garganta um do outro nem mesmo uma hora atrás? Jovem como ele era, suas perguntas imediatamente transparecem em seu rosto. 

Victor gesticulou para que ele se juntasse a eles e, quando seus olhos se encontraram, Yurio percebeu que desta vez não era um convite. Ele diligentemente se sentou ao lado de seu mentor.

— O que foi? O que tem em mente? — Victor perguntou quando Yurio finalmente se sentou.

Yurio franziu os lábios e desviou o rosto. Ele odiava receber esse tipo de tratamento, especialmente porque as pessoas geralmente o tratavam como criança em tais situações. Além disso, havia sequer sentido em discutir esse tipo de coisa com eles? Era inútil, sem dúvidas, e Yurio tinha certeza de que eles não o levariam a sério de qualquer maneira.

"Bem, que seja", o garoto se viu pensando nem um segundo depois. 

Victor não se calaria até que tivesse o que queria, que, neste caso, era saber sobre o que estava deixando seu aprendiz tão pensativo. Se ele quisesse desfrutar de um pouco de paz e sossego, teria de abrir a boca e falar o que pensava.

Para a surpresa de todos, Yurio se virou para Katsudon.

— Por que você não odeia ele? Você não devia odiá-lo? Quero dizer, ele é um vilão e faz coisas ruins. Supostamente, pelo menos — Yurio perguntou, cerrando os dentes e cruzando os braços. 

Katsudon pareceu considerar suas palavras por um momento, ignorando propositalmente a última parte do que Yurio havia dito já que não achava que valia a pena colocar lenha naquela fogueira. O agente cruzou as pernas e tomou outro gole de sua xícara antes de pousá-la de volta na mesa. A maneira como o agente se portava era suave, seus movimentos rápidos, mas graciosos; sua xícara nem mesmo tilintou ao entrar em contato com o pires.

— Bem, eu gostaria que ele parasse de estragar minhas gravatas — Katsudon disse, casualmente, arrastando a mão sobre a camisa e sentindo falta do pedaço de tecido que deveria estar ali. Sentia seu peito nú mesmo com a camisa abotoada até o pescoço.

— Então você deveria começar a ter um gosto melhor — Victor respondeu, com naturalidade, tomando um gole de sua própria xícara.

Yurio queria dar um tapa nos dois.

— Ou vocês são nêmesis ou amigos, ser ambas as coisas ao mesmo tempo quer dizer que não estão sendo nenhuma delas direito.

A convicção presente em sua voz era tamanha que ninguém acreditaria que foi um jovem de quinze anos que havia dito aquelas palavras. Ele tinha tanta certeza do que estava dizendo, embora não tivesse experiência alguma para sustentar suas palavras, que os dois adultos não puderam deixar de achar tudo um tanto engraçado. Victor chegou a rir em voz alta, rapidamente encobrindo seu erro com uma tosse seca e enganosa.

Mas era tarde demais.

Yurio estava prestes a saltar sobre a mesa para enfiar sua opinião no meio da cara de seu mentor quando uma mão pousou no topo de sua cabeça. Seu corpo ficou rígido quando ele sentiu a presença de dedos percorrendo seu couro cabeludo, o toque tão suave que parecia sequer estar lá, a sensação um tanto quanto fantasmagórica. A mão era gentil e pertencia a Katsudon.

Os olhos de Yurio se arregalaram amplamente e ele ficou sem palavras. Ele nem mesmo foi capaz de gritar na cara do agente por... seja lá o que ele pensava que estava fazendo... porque quando voltou a si, Katsudon já havia recuado sua mão.

— Não se preocupe, Yurio, um dia você vai entender — falou Victor, honestidade preenchendo cada uma de suas palavras.

Quando Yurio olhou para seu mentor, encontrou olhos gentis virados em direção a ele. Ele se sentia estranho e se sentiu ainda mais quando seu estômago se revirou por completo, algo formigando bem no fundo de suas entranhas.

Yurio queria replicar, lutar em prol de suas opiniões e convencer Victor e Katsudon de que eles estavam errados por agir daquela forma. Queria chamar o relacionamento deles de uma desgraça e colocar algum sentido na cabeça de ambos. Queria mostrar àqueles dois que ele que estava certo. No entanto, Yurio se viu sem palavras. Seus pensamentos haviam se emaranhado no interior de sua garganta, transformado-se em um grande e bagunçado nó que ele não tinha ideia de como desfazer — não agora, pelo menos, quando sua cabeça ainda estava fumegando de tão ocupada.

Os segundos passavam um após o outro, mas ele ainda assim se viu incapaz de dar qualquer tipo de resposta, o que fez seu rosto esquentar. Como um pequeno animal que havia acabado de ser apanhado em um momento de fragilidade, Yurio sentiu vontade de correr. E foi o que ele fez.

Yurio, entretanto, não era um pequeno animal indefeso.

O jovem se levantou, batendo as mãos com força na mesa antes de se levantar por completo e arrastando ruidosamente a cadeira para trás. Seus pulmões pesavam em seu peito, como se estivessem cheios de água.

— Cala a boca! O que você sabe? — Yurio explodiu, sua cabeça baixa e suas expressões escondidas atrás de uma cortina de cabelos loiros.

Ele se encaminhou em direção ao seu quarto, ignorando seja lá o que os dois homens estivessem a dizer, suas vozes morrendo junto ao ruído de fundo. Seus ouvidos zumbiam e seus olhos ardiam de uma maneira que ele se recusava a reconhecer. Sua mente ainda permanecia tumultuada e ele desejava desesperadamente que ela se acalmasse; dentro dela estava barulhento e isso o estava deixando louco.

Yurio sabia que estava agindo de forma imatura e que não era certo tratar os outros desse jeito, especialmente seu mentor, a fonte de sua admiração. Porém, mesmo sabendo que deveria dar ouvidos ao Victor e escutar o que quer que ele estivesse dizendo enquanto Yurio teimosamente fugia de cena, o garoto ainda assim se viu permitindo que suas palavras entrassem por um ouvido e saíssem pelo outro sem se importar. 

Ele não estava com humor para ser submetido a um sermão. 

Ele só queria ficar sozinho.

Houve o som abafado de uma cadeira sendo arrastada pelo chão e, logo em seguida, Yurio ouviu passos vindo em sua direção. Ele começou a andar mais rápido, seus instintos lhe dizendo para correr e escapar. Yurio havia acabado de alcançar a porta do quarto, a sensação de alívio já florescendo em seu peito, quando uma mão o segurou pelo ombro, forçando-o a parar. 

Yurio parou, mas não se virou.

— Você não pode ser assim! Ser rude não tem nada a ver com ser um vilão! — Victor o repreendeu e isso só deixou Yurio mais irritado. Ouvir aquelas palavras logo da pessoa que estava supostamente o ensinando a ser um vilão, mas que não estava realmente fazendo nada para ensiná-lo, somente serviu para adicionar combustível a uma ira que já estava em completa e fervente combustão.

Yurio se virou e pisou no pé de Victor, fazendo o mais velho sobressaltar e recuar alguns passos. Os olhos azuis do vilão se arregalaram e agora se mostravam claramente surpresos, o que era de se esperar após sofrer uma agressão tão gratuita. Katsudon observava tudo da mesa da cozinha, mantendo sua distância, mas observando tudo atentamente.

— Para alguém com uma testa tão enorme e brilhante, você não é assim tão esperto! Além disso, espero que ela atrapalhe a porra do seu beijo idiota!

Yurio bateu a porta do quarto, pondo um ponto final naquela conversa.

Embora soubesse que isso o traria ainda mais problemas, ele pôs o volume de sua música o mais alto que foi possível, alto o suficiente para que ele fosse incapaz de escutar mesmo os mais barulhentos de seus pensamentos. As paredes pareciam vibrar por causa dos estrondos sônicos, e nenhum som de fora do isolamento de seu quarto era capaz de alcançar seus ouvidos. 

Yurio só conseguiu se acalmar horas depois, que foi quando ele foi capaz de começar a se preocupar com as consequências de seus atos. 

Merda

Ele esperava que Victor não o mandasse embora por causa daquilo.

 

—--

 

— Então, a próxima sexta dá pra você? — perguntou uma voz familiar.

— Sim, claro — Yuuri respondeu e acenou com a cabeça. Mesmo sabendo que Victor não conseguia vê-lo pelo telefone, era difícil de se livrar de velhos hábitos.

Yuuri estava sentado na cama, suas pernas cruzadas sobre o colchão e sua mão desenhando círculos na coxa. Havia uma tigela de salgadinhos logo à sua esquerda, bem ao lado de Phichit, que estava abertamente ouvindo o seu telefonema enquanto sorria de orelha a orelha. Yuuri optou por ignorá-lo, fazendo todo o possível para fingir que ele não estava ali e, ao invés disso, olhando para fora da janela. Estava nublado, mas o Sol ainda assim podia ser visto por trás das nuvens fofas e acinzentadas.

No entanto, como se sob a influência de um poder maior, Yuuri viu seus olhos desviarem para o lado, sendo imediatamente atraídos pelos de Phichit, cujo sorriso se tornou ainda mais amplo — quem diria que isso era sequer possível. Um arrepio percorreu a coluna de Yuuri e ele rapidamente fugiu daquele olhar, voltando-se novamente para a janela.

Ele realmente tinha a pior sorte.

Quando Victor disse que levaria a sério o seu conselho — do Katsudon, na verdade — e que ligaria para o Yuuri o mais rápido possível a fim de convidá-lo para outro encontro, Yuuri não esperava que seu nêmesis estivesse falando tão literalmente.

Yuuri — ou talvez devesse dizer Katsudon — havia acabado de sair do elevador, ainda na Torre de São Petersburgo, quando recebeu o dito telefonema. Nem dois minutos haviam se passado desde que saiu da casa de Victor e, mesmo assim, seu telefone já estava vibrando dentro de seu bolso, impaciente e exigente por atenção. Yuuri queria se sentir incomodado pelo desespero de Victor, mesmo que somente um pouco, mas ele logo aceitou que já era tarde demais para se preocupar com tais coisas.

"Pelo menos ele é verdadeiramente um homem de palavras", pensou Yuuri afetuosamente enquanto encarava o nome piscando na tela. 

No fim, decidiu ignorar a ligação. Mesmo que ele se sentisse mal por ignorar Victor quando ele estava sendo tão ousado e corajoso, aquele não era o melhor momento nem lugar para eles terem esse tipo de conversa. Yuuri preferia atender a ligação em casa, onde poderia ficar tão vermelho quanto quisesse sem ter de se preocupar com olhares curiosos.

E assim ele voltou para casa, seus passos rápidos. No entanto, apesar de seus esforços para manter o coração calmo e sob controle, ele não estava tendo muito sucesso. Não era fácil manter qualquer tipo de compostura quando seu celular vibrava a cada dois minutos em seu bolso. 

Victor estava tão desesperado assim para falar com ele?

Mas Yuuri não era do tipo que mudava de ideia. Ele já havia decidido que atenderia a ligação em casa e em nenhum outro lugar, e não tinha planos de voltar atrás em sua decisão. Mesmo que seus olhos viajassem para a esquerda e para a direita sem parar, considerando cada discreto e pequeno canto onde alguém poderia facilmente se esconder e ter um pouco de privacidade, ele continuou andando, suas pernas movendo-se cada vez mais rápido, sempre em sincronia com a batida acelerada de seu coração.

Quando finalmente chegou a Yu-topia, uma surpresa o esperava na porta da frente. 

Phichit estava encarando o celular, focado demais no aparelho para perceber qualquer outra coisa — nem mesmo a chegada de seu amigo, que ele certamente estava aguardando. Afinal, por que mais ele teria ido até Yu-topia e esperado do lado de fora se não para se encontrar com Yuuri?

Enquanto Phichit digitava algo em seu celular, Yuuri se aproximou, seus passos silenciosos por uma questão de hábito. Quando Phichit levou o dispositivo aos ouvidos, o de Yuuri começou a vibrar em seu bolso e, de repente, tudo fazia muito mais sentido.

Yuuri suspirou profundamente quando a realidade o atingiu em cheio. 

Ele levou uma mão à cara e esfregou o embaraço para longe de seu rosto ao ver seu mal-entendido anterior sendo expulso pela verdade irrefutável que havia sido apresentada a ele.

— Devia ter adivinhado que era você me ligando todas essas vezes. 

Agora que Yuuri havia se acalmado, ele percebia que não tinha como Victor ter sido o culpado por trás de todas aquelas ligações. Como ele pôde pensar que o homem seria capaz disso? Só havia uma pessoa que poderia ser tão inescrupulosa.

— Sim, foi mal — falou seu amigo, esfregando a nuca sem jeito. 

Phichit, no entanto, não estava realmente arrependido e Yuuri tinha plena ciência disso — não havia sequer um pingo de arrependimento ou de vergonha em seus olhos, ou no sorriso que permanecia firme em seus lábios. De qualquer forma, a amizade deles já havia ultrapassado o ponto em que eles se importavam em ser um incômodo um pro outro.

— Estava tentando te dizer que ia passar por aqui. Achei que você já estava em casa — ele explicou.

— Oh, hm... Victor e eu... Quero dizer, o Treinador fez um pouco de café com uns grãos que ele comprou no centro e, bem...

— Okay, não precisa dizer mais nada. Eu entendo. Estou em segundo lugar no seu coração agora — Phichit disse, dramaticamente, levantando a mão e posicionando-a entre eles enquanto olhava para longe, fingindo tristeza. Pelas expressões melancólicas em seu rosto, alguém poderia pensar que o haviam esfaqueado bem no meio do peito.

Yuuri revirou os olhos, ignorando a clara armadilha de seu amigo. Ele sabia muito bem quais eram as intenções de Phichit e não estava com humor para entretê-lo neste momento.

— Eu nem sabia que você estava vindo — Yuuri falou em sua própria defesa.

Passando por seu amigo, ele caminhou em direção à porta e a abriu. Sua mãe recitou a saudação costumeira reservada aos clientes assim que ele entrou, mas então seus ombros relaxaram ao perceber quem se encontrava na entrada.

— Bem-vindo de volta, Yuuri! Já terminou seu trabalho de meio período?

— Sim. Tudo bem por aqui?

— Hmm! Tudo bem. — A mulher acenou com a cabeça, sua voz suave e quase tão doce quanto seu sorriso. 

Enquanto a observava, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. Só depois que Hiroko voltou a fazer o que estava fazendo é que Yuuri se voltou ao amigo.

— Você vem? — perguntou Yuuri. Phichit sorriu e foi atrás de seu amigo, que já estava subindo as escadas.

Eles rapidamente se acomodaram no quarto de Yuuri, e os lanches que foram trazidos mais tarde apenas colaboraram para fazer o tempo voar ainda mais rápido. 

Depois de jogar conversa fora por algum tempo, como era usual entre eles, Phichit finalmente desembuchou sobre o motivo de estar tão desesperado para entrar em contato com Yuuri. Depois de ser estimulado pela curiosidade de Yuuri, Phichit falou tudo sobre seus novos experimentos no Setor de Desenvolvimento e Manutenção e de como Celestino vinha pensando em atribuí-lo uma posição mais alta na hierarquia do laboratório.

— Ele falou que tenho trazido ótimos resultados e que uma promoção pode em breve ser mais do que apenas um sonho. Tudo que tenho que fazer é apresentar mais outra boa invenção e terei minha própria equipe. 

Phichit tinha o maior sorriso no rosto e Yuuri nunca o viu brilhando tanto.

Yuuri não podia estar mais orgulhoso.

— Isso é incrível! — Yuuri estendeu a mão e agarrou as de seu amigo, sacudindo-as alegremente. — Por que não me contou antes? Deuses! Isso... Isso é realmente incrível!

— Eu tentei, mas você não atendia o maldito telefone! — Phichit respondeu enquanto ria. Sua voz mostrava-se alegre, mesmo que suas palavras soassem como uma reclamação. Okay, talvez elas fossem na verdade uma reclamação, em parte, mas pelo menos Phichit não parecia realmente se importar com o que tinha acontecido. 

Ambos riram alto. 

Havia felicidade no ar, que tornou o silêncio que se seguiu uma presença acolhedora. Eles apoiaram as costas na parede, ambos sentados na cama de Yuuri e sentindo-se confortáveis sobre o colchão. Eles permitiram que o silêncio se estabelecesse, pois sabiam que ambos precisavam disso agora. Precisavam de paz e tranquilidade para permitir que a informação fosse plenamente compreendida, para absorver a situação e para entender de forma adequada o significado e o peso por trás das notícias de Phichit.

— Sério, Phichit... Parabéns. Estou feliz demais por você. — Yuuri disse depois de um tempo, virando nada além da cabeça em direção ao amigo. Phichit fez o mesmo e eles sorriram um para o outro, ambos os corpos ainda virados para a frente.

— Obrigado, cara. — Seus olhos ainda estavam brilhando, repletos de vida. — Espero que dê tudo certo. Ainda sou jovem, afinal.

— É por você ser jovem que tudo isso é tão incrível — Yuuri disse, falando nada além da mais pura e irrefutável verdade. — Bem, sua idade à parte, você é competente e leva seu trabalho super a sério. Tenho certeza de que terá sucesso.

— Obrigado.

Não houve então tempo para o silêncio se estabelecer novamente, pois o celular do Yuuri logo começou a vibrar dentro de seu bolso, exigindo atenção. O aparelho era persistente, gritando silenciosamente com ele de uma forma que tornava impossível ignorá-lo, e Yuuri estendeu a mão em direção a ele com o peito já transbordando de antecipação. O nome piscando na tela não o surpreendeu, pois já havia imaginado que seria o caso.

Mas por que logo agora?

E ai Deus, ele havia se esquecido completamente do telefonema do Victor de mais cedo...

Okay, talvez ele estivesse começando a surtar um pouco.

Phichit olhou para ele com uma sobrancelha erguida, observando Yuuri de perto com aqueles olhos por demais atentos. Então, ele perguntou: 

— Não vai atender?

— Hm, bem...

Yuuri agarrou o celular com ambas as mãos, segurando-o como se fosse o tesouro mais frágil da Terra e também a chave que levaria ao fim do mundo. O aparelho ainda estava vibrando, mas quem sabe por quanto tempo mais. Ele não podia deixar cair no correio de voz novamente, não podia fazer isso com Victor, mas atender esta ligação na frente de Phichit...

— Eu vou... hum... atender essa ligação lá fora.

A sobrancelha de Phichit se ergueu ainda mais alto e, quando um vislumbre de compreensão finalmente surgiu em seu rosto, um sorriso malicioso brotou em seus lábios. Yuuri já estava se levantando e se preparando para se desculpar quando foi interrompido pelas palavras do amigo.

— O quê? Achei que não havia segredos entre nós — disse Phichit, inocentemente. Ele estava franzindo os lábios, uma ação cujo único propósito era fazer Yuuri se sentir culpado. 

Yuuri engoliu em seco e praguejou internamente. Phichit sempre sabia a coisa exata a se dizer para desarmá-lo por completo...

Se soubesse que as coisas terminariam desse jeito, teria atendido a primeira vez que Victor ligou. Teria sido mil vezes melhor ser submetido aos olhares curiosos de estranhos do que ser encarado de forma descarada por Phichit, que comia as batatinhas da tigela como se a melhor das novelas estivesse prestes a deslanchar bem diante de seus olhos. 

Ele não poderia pelo menos fingir que não pretendia espiar a conversa deles e se divertir às suas custas?

Yuuri franziu os lábios, mas reconheceu que havia perdido a guerra. Ele se virou de lado, a fim de escapar ao menos um pouco do olhar curioso que Phichit estava lançando em sua direção, e finalmente aceitou a chamada. 

— Oi, Yuuri? Tudo bem? Pode falar? — A voz que veio do outro lado da linha era familiar e preencheu seu peito com ternura e agitação. 

Realmente já era tarde demais pra ele, hum. Os dias em que Victor não era nada mais que seu nêmesis e alguém que almoçava em Yu-topia aos sábados já faziam parte de um passado muito distante, um cenário deixado para trás. 

Um sorriso se acomodou nos lábios de Yuuri. Ele não se importaria em se afogar no calor que preenchia seu peito nesse momento. 

— Yuuri? — a voz chamou uma vez mais, soando ligeiramente confusa. 

Percebendo que havia se distraído tempo demais com seus próprios pensamentos, Yuuri balançou a cabeça e tentou recuperar o foco. 

— Hm, s-sim! Desculpa. Posso sim — ele respondeu e foi imediatamente tomado pelo desejo de pular dentro de um buraco e se enterrar vivo. Seu nervosismo estava tão aparente no tremor de sua voz que era impossível fingir que não tinha acontecido. 

Yuuri bateu de leve a cabeça contra a parede — não a fim de se machucar, apenas uma resposta à sua frustração —, certificando-se de que Victor não conseguiria ouvir o barulho através do telefone. Phichit riu baixinho, seus ombros balançando enquanto ele continha sua voz. Yuuri encarou seu amigo e então se afastou um pouco mais dele, deixando-o com nada além de uma visão de suas costas. Phichit simplesmente jogou as mãos para o alto, em sinal de rendição, um sorriso ainda repousando em seus lábios. 

— Desculpa demorar tanto pra atender. Ah, e desculpe não atender sua última ligação. Eu estava fora de casa naquela hora. — Yuuri se esforçou para manter a voz mais firme desta vez.

— Sem problemas — Victor respondeu, gentilmente. Então, uma pausa, a qual pareceu durar uma eternidade. — Hm... Escuta, eu queria saber se você gostaria de sair comigo de novo.

Yuuri sequer precisava olhar para o rosto de Victor para saber que ele estava coçando a nuca naquele momento, daquela forma que ele sempre o fazia quando estava nervoso ou quando tinha algo que desejava dizer.

"Fofo", ele se viu pensando sem nem perceber.

Yuuri sorriu.

— Então, que tal outro encontro? — Victor adicionou só pra se certificar que suas intenções estavam claras, o coração de Yuuri imediatamente estremecendo dentro de seu peito. Ele sabia que a pergunta estava vindo, mas aparentemente seu coração ainda assim não foi capaz de se preparar a tempo.

Yuuri pôde sentir seu rosto esquentar. Ele estava prestes a responder — sua resposta já se encontrava em espera, aguardando na ponta de sua língua desde que conversaram sobre isso na Torre de São Petersburgo — quando Victor decidiu que ainda não havia terminado.

— Espero não estar parecendo desesperado demais, ou algo do tipo. Eu cogitei talvez esperar um pouco mais, mas meu arqui-inimigo me disse para acabar logo com isso, então... 

Yuuri riu brevemente, incapaz de se conter.

— Você realmente escuta ele, hum?

Havia afeto em sua voz, mas passou batido por Victor. No momento, o vilão se encontrava animado demais que a oportunidade de se gabar de Katsudon finalmente havia aparecido para se importar com qualquer outra coisa. Não havia espaço para mais nada na sua mente.

— Claro! Não há ninguém em quem eu confie mais do que ele! — Victor falou, sua voz tomada por sinceridade.

Pelos próximos dez minutos, Yuuri passou pela estranha experiência de ouvir Victor tagarelar sobre Katsudon — isto é, sobre ele mesmo —, a vivacidade em sua voz fazendo Yuuri pensar em uma mãe orgulhosa que adorava se gabar de seu filho. Surpreendentemente, a experiência não o deixou tão desconfortável quanto ele esperava que o deixasse. Havia algo um tanto que agradável em escutar os pensamentos e opiniões de Victor sobre Katsudon, e a chance de ouvir em primeira mão o ponto de vista de outras pessoas sobre certas situações certamente era impagável. Além disso, Yuuri não conseguia parar de pensar que a situação em si era meio engraçada, já que normalmente era o contrário; afinal o habitual era Victor falar com Katsudon sobre Yuuri. Realmente tinha sido uma baita reviravolta. Ele se perguntava se isso era um sinal de que havia confiança brotando também neste lado do relacionamento dos dois.

— E então Katsudon veio com tudo e quebrou a janela do meu laboratório com os pés — Victor bateu as mãos, tentando adicionar algum tipo de efeito sonoro que ilustrasse melhor como a situação havia se desenrolado. — Ele ficou tão preocupado! As expressões que ele tinha na cara eram impagáveis! E ele ficou todo tipo... Eu vou pagar por isso — Victor fez a pior personificação que Yuuri já ouviu e começou a rir alto, tornando impossível para Yuuri conter sua própria risada.

Todo o corpo de Yuuri estava tremendo, o chacoalhar de seus ombros incontrolável. Ele ficou tão nervoso naquele dia, pensando que tinha fodido tudo de uma forma espetacular... Quem poderia imaginar que ele estaria rindo tão abertamente sobre isso agora. Não fazia nem tanto tempo assim, pelo amor de Deus!

Ao lado dele, Phichit observava tudo com um sorriso satisfeito nos lábios, seus olhos ainda colados no amigo que parecia ter se esquecido completamente de sua existência.

— E o que você fez? — Yuuri perguntou. Mesmo já sabendo a resposta, ele se viu com vontade de entreter Victor um pouco, já que ele parecia tão feliz compartilhando todas aquelas histórias.

— Eu não deixei ele pagar, é claro! Que tipo de nêmesis eu seria se deixasse?

Yuuri riu um pouco mais. Então, ele perguntou: 

— E como foram as coisas hoje? Vocês se viram, né?

— Ah, sim, nos vimos. Foi tudo okay, conversamos bastante e tomamos uma xícara de café depois que terminamos, e então o Yurio… — Victor de repente ficou quieto, interrompendo subitamente suas próprias palavras entre um segundo e o outro.

Ao que a ligação se tornou silenciosa, Yuuri se moveu no colchão, jogando seu peso de um lado para o outro e acomodando-se mais confortavelmente na cama. Ele esperou, mas nada veio, o silêncio se tornando mais e mais desconfortável a cada segundo que passava.

Percebendo que algo estava errado, Phichit perguntou baixinho se estava tudo bem. Em resposta, Yuuri deu de ombros. Ele estava, no entanto, bastante preocupado, porque aquele silêncio veio do nada e ele não conseguia encontrar uma razão para ele.

Teria realmente acontecido alguma coisa?

Quando Yuuri começou a batucar os dedos na coxa, um sinal claro de que sua ansiedade havia começado a florescer, Phichit se preparou para se aproximar de seu amigo, pretendendo oferecer sua proximidade como forma de conforto. Mas, no final, ele desistiu da ideia e permaneceu onde estava. Em vez disso, sinalizou para que Yuuri dissesse algo ele mesmo.

— Hm, Victor? — Yuuri fez o que seu amigo sugeriu, mas seu nervosismo se mostrou evidente em sua voz trêmula e na incerteza presente em sua pergunta. Felizmente, foi o suficiente para trazer Victor de volta, pondo fim ao silêncio sufocante que havia se estendido por tempo demais.

— Ah, desculpa. — Victor não soou muito como ele mesmo, sua voz parecendo de certa forma estranha, mas Yuuri decidiu não o questionar a respeito. — Eu... Eu só acabei de perceber que fiquei falando um bom tempo sobre ele, sobre o Katsudon.

— Hm, sim, você ficou. Mas tudo bem, eu não me importo. — Yuuri fez questão de dizer, imaginando se era isso que estava preocupando Victor.

Esta manhã, Victor confessou a ele — ao Katsudon — sobre sua preocupação em relação ao seu velho hábito de falar demais, de tomar as rédeas da conversa e não deixar espaço para os demais — no caso, Yuuri — falarem também o que pensam. Yuuri não tinha ideia de como Victor podia se preocupar com tal coisa, ou como ele podia sequer pensar que Yuuri seria capaz de cansar de ouvi-lo falar, especialmente quando ele parecia tão radiante ao fazê-lo. Victor era como uma estrela que tinha o céu noturno só para si, e Yuuri não teria problemas em ouvi-lo falar por uma eternidade, o calor de suas palavras uma companhia confortável.

— É só que, bem... Eu só queria dizer... deixar claro que as coisas entre Katsudon e eu são completamente platônicas — Victor falou e suas palavras foram como um soco no estômago, imediatamente trazendo Yuuri de volta à realidade.

Um sonoro "quê?" ecoou na mente de Yuuri, mas ele foi rápido o bastante para contê-lo antes que a pergunta pudesse escapar de sua boca.

— Ah. — Sinceramente, Yuuri não tinha ideia de que tipo de resposta seria apropriada. Ele sabia, no entanto, que tinha que dizer alguma coisa para apaziguar as preocupações infundadas de Victor, ou então ele continuaria insistindo nesse assunto sabia-se lá por quanto tempo. — Hum, certo — foi a sua brilhante resposta.

Yuuri olhou em direção ao seu amigo sem nem mesmo pensar no que estava fazendo, e Phichit o encarou de volta com sobrancelhas franzidas e expressões confusas que refletiam muito as dele. Aparentemente, Phichit não tinha mais ideia do que eles estavam conversando sobre, tendo perdido o rumo da conversa quando Victor começou a falar mais baixo, sua voz abafada por sua inquietação, o que o deixou com apenas as curtas respostas de Yuuri para tentar entender o que exatamente estava acontecendo desta vez. Devido às expressões estupefatas que Yuuri carregava no rosto, entretanto, ele tinha certeza que havia acontecido alguma coisa.

A resposta de Yuuri, como esperado, estava longe de ser suficiente para livrar Victor de suas preocupações.

— Não quero que nenhum mal-entendido exista entre nós. E quero que saiba que você é por quem estou apaixonado.

A velocidade com que o rosto de Yuuri esquentou foi veloz o suficiente para quebrar um recorde, e ele tinha certeza de que estava vermelho até as orelhas. Ele imediatamente trouxe as pernas para mais perto de si e virou o rosto de volta em direção à janela.

— Eu sei, Victor. Esse pensamento nunca sequer passou pela minha cabeça. — Ele desejava que houvesse pelo menos uma sombra de sarcasmo em sua própria voz, mas a verdade é que não havia.

Honestamente, isso era algo que vinha preocupando Yuuri há algum tempo. Por quanto tempo mais ele seria capaz de manter essa mentira, e o que aconteceria quando a verdade enfim viesse à tona? Seria Victor capaz de amar também Katsudon?

Yuuri olhou pela janela por alguns segundos, esperando seu coração se acalmar. Ele não queria pensar sobre esse assunto neste instante, então se esforçou para impedir seus pensamentos de ficarem demais a ermo. Ele aguardou o tempo que deu, mas já que seu coração não mostrava sinais de se acalmar tão cedo, Yuuri voltou a falar antes que Victor decidisse o fazer.

— Então, o que você estava dizendo sobre o Yurio?

Não havia palavras para descrever o quão feliz Yuuri ficou quando Victor finalmente decidiu deixar o assunto morrer, deixando o passado para trás e, por hora, se concentrando em responder a pergunta de Yuuri.

— Eu acho que ele está passando por uma fase rebelde, ou algo assim. Ele estava agindo de forma muito rude hoje.

— Sério? O que ele fez? — Yuuri perguntou, como se ele mesmo não estivesse lá, como se ele próprio não tivesse sido alvo de parte da fúria do garoto.

— Ele estava sendo barulhento, como sempre. Ele gosta de falar o que pensa, o que é no fundo uma coisa boa, mas ele tem o hábito de agir como um sabe-tudo e é difícil argumentar contra alguém assim.

— Mas todos os adolescentes são assim, não?

Victor ficou quieto. Yuuri começava a se preocupar que ele se calaria como da última vez, estressando-se por causa de alguma idiotice, quando Victor rompeu o silêncio ele mesmo.

— Se eu fui tão ruim quanto um terço disso, então devo ao Yakov um grande e atrasado pedido de desculpas.

Yuuri riu brevemente. Apesar deles terem se conhecido somente dois anos atrás, Yuuri podia muito bem imaginar o tipo de adolescente que Victor costumava ser e o tipo de problemas que ele costumava causar.

— Mas tenho certeza que você, por outro lado, era um anjo quando pequeno — Victor acrescentou logo em seguida, sua voz suave cortando os pensamentos de Yuuri e dando fim aos seus devaneios.

As expressões de Victor estavam adornadas com um sorriso e Yuuri não precisava ver seu rosto para saber disso, sendo capaz de dizer mesmo quando eles se encontravam tão distantes, conectados por nada além de um telefonema. A ideia de Victor segurando o celular perto do rosto, os olhos brilhando mais do que as estrelas no céu noturno, trouxe um sorriso aos lábios de Yuuri.

— Eu? Nem perto disso. Eu costumava desaparecer o tempo todo, sem falar uma palavra sobre que horas voltaria. Eu costumava deixar meus pais loucos.

— Desaparecer? Por quê? — Victor pareceu intrigado com a revelação, achando muito difícil de acreditar.

— Não ria, mas... Eu costumava fazer balé quando era mais jovem — Yuuri disse, timidamente. Não era uma parte de si da qual se envergonhava, mas era algo que ele há muito parou de compartilhar com os outros ainda assim, já que as crianças sempre zombavam dele. Era estranho falar sobre isso depois de tanto tempo.

— Por que eu zombaria de você? Isso é realmente incrível! — Victor disse, a animação que sua voz carregava mais do que suficiente para fazer o sorriso de Yuuri crescer ainda mais. — Então você desaparecia porque ia dançar?

— Sim. Minha instrutora era uma velha amiga de minha mãe, então ela me deixava usar o estúdio sempre que eu queria. Eu gostava de ir lá quando queria um pouco de paz e sossego, ou um tempo sozinho para colocar os pensamentos em ordem.

— Você ainda dança? — Victor perguntou e Yuuri percebeu que seu interesse era real, sua pergunta sendo mais do que apenas palavras doces.

— Muito raramente.

— Nunca pensou em virar profissional?

— Não, na verdade não. Era mais algo que eu fazia para me livrar do estresse. — Era isso ou comida e, com sua predisposição para ganhar peso, ele tentava não exagerar.

Algo que Yuuri nunca disse a ninguém e tampouco planejava compartilhar com Victor, pelo menos não por enquanto, era que ele poderia ter se tornado um profissional se quisesse — a própria Minako havia dito isso a ele, e ela não era qualquer um. Os troféus que Minako tinha em sua casa não eram poucos, ocupando toda a extensão da ampla prateleira que se encontrava pendurada logo acima da caixa onde ela guardava todas as medalhas e prêmios que levavam seu nome. Se Yuuri tivesse estado interessado em trabalhar um pouquinho mais duro, se tivesse aceitado ficar com os pés um pouco mais doloridos, provavelmente teria conseguido. Ele tinha a flexibilidade necessária e seu corpo era mais forte do que aparentava. Ele era magro, mas os músculos estavam todos nos lugares certos. Era só... Bem, ele nunca foi capaz de pensar na dança como uma carreira. Estava por demais ligada ao seu psicológico para ser associada a algo além de um hobby que ele praticava para passar o tempo e relaxar.

— Uma pena. Eu teria adorado te ver dançar. 

Yuuri sentiu seu corpo todo esquentar, e torcia para que Phichit não pudesse ver seu reflexo na janela. Ele não tinha ideia de como seu rosto estava agora, mas se o zumbido em seus ouvidos — causado pelas batidas aceleradas de seu coração — era um sinal a se considerar, então provavelmente era algo que ele preferiria não compartilhar com outras pessoas, nem mesmo com seu melhor amigo.

Yuuri uniu os lábios antes que uma promessa escapasse, uma promessa que ele não sabia se seria capaz de cumprir mesmo que ele fosse o tipo de pessoa que geralmente cumpria com suas palavras.

Dançar na frente de Victor, ou com Victor... O mero pensamento já era demais para ele, fazendo seu estômago revirar. A agitação que sentiu em suas entranhas não era algo que ele era capaz de simplesmente ignorar, não depois dela ter roubado tão facilmente o ar de seus pulmões. O pensamento sozinho provavelmente já o havia tirado alguns segundos de vida.

Victor interpretou o silêncio de Yuuri como um sinal para retornar ao tópico anterior.

— Bem, espero que Yurio perceba logo que existe uma diferença entre ser franco e simplesmente rude.

Yuuri murmurou em concordância e se permitiu descansar contra a parede gelada, seu corpo imediatamente relaxando ao que eles voltavam às águas mais calmas daquela maré traiçoeira de uma conversa.

— Tenho certeza de que ele vai. Ele é um garoto inteligente e tem você como modelo.

Victor fez um barulho indecifrável do outro lado, do tipo de quando alguém era forçado a ouvir algo tão doce que ficava sem palavras e com puré no lugar do cérebro. Yuuri se sentiu um pouco envergonhado, mas poderia ter sido bem pior — ele podia ter dito aquilo conscientemente.

Do outro lado da chamada, ele ouviu Victor resmungar sobre anjos e raios de sol, mas o que ele conseguiu ouvir era esparso demais para Yuuri ser capaz de compreender exatamente sobre o que ele estava tagarelando. Ele sabia, porém, que era algo embaraçoso. Ele simplesmente sabia; no fundo de seus ossos, ele podia sentir.

Então ele ficou quieto. Yuuri se viu erguer uma sobrancelha enquanto esperava pelo que quer que estivesse por vir desta vez.

— Yuuri… — Victor havia soado um pouco tenso e Yuuri se viu tensionar também em resposta. Então, com a voz séria e transbordando de preocupação, Victor perguntou: — Você acha a minha testa grande?

Yuuri não teve vontade de rir, mas um sorriso ainda assim encontrou o caminho até seus lábios. Victor estar preocupado com isso até agora e ser incapaz de apenas ignorar a provocação de Yurio — as palavras maldosas de uma criança — era algo tão ele que, mesmo que sua preocupação fosse ridícula e injustificada, Yuuri ainda assim não se viu capaz de duvidar dos próprios ouvidos.

O maior problema era que ele não tinha ideia de como responder.

— Acho que tem o tamanho perfeito — respondeu, soando um pouco mais alegre do que pretendia, mas que seja.

Victor riu e perguntou: 

— O que isso sequer quer dizer?

Eles conversaram um pouco mais, mas não muito. Quando Victor percebeu quanto do tempo de Yuuri ele havia tomado, ele voltou ao tópico que havia sido o motivo pelo qual ele havia ligado em primeiro lugar.

— Então, a próxima sexta-feira serve para você? — perguntou, sem precisar dizer explicitamente ao que se referia, pois era óbvio para ambos.

— Sim, totalmente — Yuuri respondeu, assentindo sem perceber.

— Legal — havia alegria presente em sua voz e, certamente, também havia um sorriso em seu rosto. — Então eu entro em contato com você mais tarde para vermos os detalhes.

— Parece perfeito — Yuuri murmurou ao telefone, sua voz não muito mais alta do que um sussurro.

Victor o desejou uma boa noite e Yuuri retornou o sentimento. Então, Victor disse que esperava que ele dormisse bem, que ele merecia depois de trabalhar duro o dia todo, e Yuuri disse que ele merecia tanto quanto.

— Espero que tenha bons sonhos esta noite — Yuuri acrescentou, por algum motivo. Talvez ele simplesmente não quisesse encerrar a ligação. O calor em seu peito era, afinal, por demais agradável, e ele ainda não estava pronto para se separar dele.

Não querendo perder, como se fosse algum tipo unusual de competição, Victor perguntou:

— Você fará uma visita aos meus sonhos, então?

Yuuri corou e disse a ele para ir dormir logo, o "Katsudon" dentro dele falando mais alto enquanto "Yuuri" se refugiava nas profundidades de sua consciência, constrangido demais para lidar com o mundo neste momento.

Uma risada ecoou do outro lado da ligação, seguida por mais um boa noite.

A chamada se silenciou. Finalmente. Mesmo assim, Yuuri permaneceu com o celular colado ao ouvido. Um segundo se passou, depois dois, três... Por fim, houve um bip, e só então Yuuri retornou o telefone ao bolso e realmente conseguiu abrir mão dele.

Ele ainda estava saboreando as sensações agradáveis que borbulhavam dentro dele, ainda perdido no êxtase causado por sua conversa com Victor, quando se virou e deu de cara com Phichit, que estava sorrindo largamente. Como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre sua cabeça, todo o calor desapareceu de seu corpo, seu peito ficando mais frio ao passar de um batimento cardíaco.

— Nossa, dá pra parar de me olhar desse jeito? — Yuuri reclamou, envergonhado mesmo que a pessoa em questão fosse Phichit.

Phichit cantarolou alegremente e se arrastou pelo colchão até que seus ombros colidissem. Então, ele descansou a cabeça contra a de Yuuri; era um pouco pesada, mas ele não se importou. Yuuri esperou pelo que certamente viria, mas o tempo passou em maior parte silencioso, a única exceção sendo a música que Phichit não parava de cantarolar.

Yuuri levou quase um minuto inteiro para perceber que era "Love Story", de Taylor Swift. Sentiu vontade de reclamar com o amigo sobre seu mau gosto musical, mas decidiu recuar. Provavelmente era mais uma de suas armadilhas, de qualquer forma. Por que ele deveria se jogar aos lobos? Melhor esperar que eles próprios viessem até ele, se ia ser devorado de qualquer maneira.

E vieram; felizmente, porque ele estava cansado de ouvi-lo cantarolar aquela canção velha e sem graça.

— Outro encontro, hmm — Phichit disse, e não era realmente uma pergunta. O tom provocador em sua voz era manso, mas, mesmo assim, não era algo que Yuuri pudesse ignorar mesmo que quisesse.

Phichit ficou em silêncio, o que era inesperado. Esquisito.

Yuuri se perguntou se devia olhar furtivamente em direção a ele, desejando ver as expressões em seu rosto. Phichit provavelmente estava sorrindo, seu sorriso largo e mostrando os dentes. Ou talvez ele tivesse uma mão diante da boca, a ponta dos dedos tocando levemente seus lábios e parcialmente escondendo uma expressão provocativa. Certamente ele estava se divertindo com a situação de Yuuri. Porém, quando sua curiosidade finalmente o conquistou, o que Yuuri encontrou foi bem diferente do que o que ele esperava. Sim, Phichit estava sorrindo, mas era um sorriso doce, feliz e orgulhoso.

Phichit relaxou mais contra ele e Yuuri fez o seu melhor para se manter estável mesmo com o peso adicional de seu amigo. Quando ele finalmente olhou em sua direção, seus olhos se encontrando no meio do caminho, Phichit inclinou a cabeça e disse: 

— Eu disse que tudo daria certo no final.

Em sua voz encontrava-se honestidade e apoio, e isso fez Yuuri se sentir muito feliz, além de grato.

Eles ficaram lá sabe-se lá quanto tempo, encostados um no outro, o silêncio fazendo-lhes companhia. Quando Phichit foi embora, já estava escuro do lado de fora.

 

—--

 

Quarta-feira. Uma tarde repleta de expectativas na Torre de São Petersburgo.

Um homem estava descansando no sofá da sala quando seu celular começou a tocar, assustando a cadela que até então se encontrava deitada ao lado dele. Ele observou seu animal de estimação correr em direção à almofada no canto da sala e, sentindo-se mal por seu telefone tê-la assustado, o homem murmurou um sutil, mas sincero, pedido de desculpas enquanto observava a cadela se acomodar uma vez mais.

Normalmente, ele mantinha o aparelho no silencioso — como qualquer ser humano normal —, no entanto, desta vez, ele havia propositalmente deixado o volume elevado. Havia um motivo por trás do gesto: durante toda a tarde, ele esteve à espera da chegada de uma mensagem, uma resposta à que ele próprio havia enviado logo após o almoço, e esperava vê-la assim que chegasse em sua caixa de entrada. Por isso, por hoje e hoje apenas, ele permitiu que seu celular fosse tão barulhento quanto as configurações permitissem.

Depois de desbloquear o telefone, o homem rapidamente acessou o Whatsapp, sequer tendo de pensar antes de mover os dedos pela tela. Um sorriso se desenhou em seus lábios quando viu que um pequeno ponto verde adornava o espaço ao lado do nome de uma pessoa em particular.

Finalmente.

Essa certa pessoa, por quem o homem estava perdidamente apaixonado, iniciou sua mensagem se desculpando pelo atraso de sua resposta, suas palavras cheias de tamanho arrependimento que alguém poderia pensar que ele tinha acabado de cometer o pior e mais imperdoável dos crimes — e para ele talvez tenha sido, realmente. Enquanto isso, o restante de sua mensagem possuía um tom mais descontraído, indo direto ao ponto.

"Tudo bem por mim. Tem certeza que não quer se encontrar no restaurante? Já que ele é mais perto da sua casa do que da minha", diziam as últimas frases.

O homem sorriu. Já que não precisou nem de um segundo para decidir o que diria em retorno, ele logo foi pego digitando sua resposta.

 

—--

        

Yuuri corou e quase deixou o celular cair, suas mãos fraquejando ao que seus olhos corriam pelas mensagens que Victor acabara de enviar. A verdade é que ele devia ter esperado por isso. Não importava se ele estava falando sério sobre sua sugestão de fazer do restaurante o ponto de encontro, Victor jamais deixaria passar batida a oportunidade de flertar, sempre aparecendo com as respostas mais inesperadas e ridículas possíveis.

Mesmo assim... Era doce e adorável. Seu coração batia em um ritmo tão acelerado que parecia imitar a explosão de fogos de artifício na noite de ano novo — ensurdecedor, forte e memorável.

A resposta o deixou tímido, claro, mas Yuuri também se sentia bastante alegre devido a ela, um sorriso tendo se acomodado em seus lábios e não mostrando sinais de partir tão cedo. Mas como ele — ou qualquer pessoa, na verdade — podia não ficar feliz ao ser presenteado com palavras tão amorosas?

“A maneira mais fácil não é necessariamente a certa. O único caminho para mim é aquele em que caminhamos lado a lado."

Yuuri se viu desejando imprimir a mensagem, para então emoldurá-la e pregá-la na parede para que pudesse vê-la diariamente, o tempo todo.

Obviamente ele pretendia conter seus tolos impulsos. Não importava o quanto seus sentimentos estavam crescendo ou o que Victor estava se tornando para ele, ir tão longe assim ainda era demais. Yuuri simplesmente marcou a mensagem com uma estrela e a adicionou aos seus favoritos, onde poderia encontrá-la facilmente sempre que tivesse vontade de se lembrar de sua existência e onde ela estaria a salvo de olhares indiscretos.

 

—--

        

Quinta-feira passou rápido demais, monótona e chata, sem nada digno de se destacar. Quando Yuuri percebeu já era sexta e, como a sorte nunca estava do seu lado, essa data em específico decidiu se arrastar; ou talvez o coração inquieto de Yuuri fosse o culpado pela lentidão do tempo, que não parecia passar como normalmente.

Poucos minutos pareciam se estender por horas e o tique-taque discreto do relógio era tão angustiante quanto o som de água gotejando na pia do banheiro na calada da noite. O silêncio era quase insuportável, deixando Yuuri ansioso e o fazendo questionar se seria aquela a calmaria antes da tempestade.

Deveria se preocupar? Já era hora de começar a listar todas as coisas que poderiam dar errado?

Yuuri não conseguia nem entender o porquê de estar tão nervoso; não era sequer o primeiro encontro deles! Pedia demais ao desejar que seu coração se acalmasse logo e lhe desse um pouco de paz? Era difícil colocar seus pensamentos em ordem quando não conseguia ouvi-los por trás das batidas barulhentas de seu coração.

Ele havia de alguma forma sobrevivido à parte da manhã ao se manter tão ocupado quanto era humanamente possível, dando uma mão à sua mãe mesmo quando não havia nada que ele pudesse realmente fazer para ajudar. Todavia, depois do almoço, Hiroko se cansou de ter o filho a seguindo em todos os lugares que ia, como uma sombra do meio-dia grudada aos seus pés, e decidiu fugir e fazer uma visita a Minako nesta tarde ensolarada, deixando Yuuri sem uma rota de fuga. Logo seus nervos já estavam se fechando em sua direção, encurralando-o e deixando o pobre homem sem opção a não ser lidar com eles.

Sentindo seu estômago revirar, Yuuri caminhou em direção ao seu quarto, perguntando-se se seria capaz de encontrar uma forma de distrair sua mente e livrá-la da crescente inquietação. Yuuri deitou em sua cama e fez o que todo mundo fazia hoje em dia quando desejava fugir dos problemas da vida real: logou nas redes sociais. Felizmente funcionou.

O tempo passou a caminhar muito mais rápido, e Yuuri foi enfim capaz de se acalmar um pouco.

Deitado na cama, Yuuri manteve um olho no que quer que as pessoas estivessem discutindo desta vez no Twitter e outro na hora, vigiando de perto o relógio no canto superior esquerdo da tela. Já era pouco depois das cinco e, em breve, ele era suposto de começar a se preparar para o encontro. Eles iam a um restaurante no centro da cidade esta noite, então devia se esforçar na escolha da vestimenta; Victor certamente iria se vestir para impressionar e Yuuri não desejava parecer deslocado ao seu lado.

Yuuri se virou, descansando as costas no colchão e deixando o celular de lado por um segundo enquanto olhava para o teto. Um suspiro profundo escapou de sua boca. Ele podia sentir seus nervos voltando para assombrá-lo, sua coluna esfriando e suas palmas ficando suadas. Forçou-se a engolir o nervosismo e respirou fundo.

Enfim, ele se levantou e foi em direção ao guarda-roupa.

Roupas boas. Ele precisava de roupas boas e medianamente formais.

Com esse pensamento martelando em sua mente, Yuuri vasculhou dentro do guarda-roupa, analisando peça por peça. No entanto, ele logo percebeu que tinha um problema em mãos; ele não tinha sequer uma variedade muito grande de roupas, quem dirá qualquer traje formal. Por uma fração de segundo, ele olhou para o terno preto pendurado no canto — o termo do Katsudon — mas se livrou da ideia logo a seguir. Mesmo a constante maré de sorte que o tem acompanhado até agora não seria capaz de salvá-lo se dependesse demais dela. Não devia correr riscos desnecessários.

Ele começava a fumegar pelos ouvidos, estressando-se com o que faria, quando ouviu uma batida na porta. Não reagiu a princípio, assumindo ter sido apenas sua imaginação, mas então veio uma segunda batida e ele se viu sem mais dúvidas e tampouco opções além de ver quem poderia ser. Yuuri ficou surpreso ao encontrar sua irmã esperando do outro lado da porta, e ficou ainda mais surpreso quando ela perguntou o que o estava preocupando desta vez. Não tinha ideia de como ela havia adivinhado que algo o estava incomodando.

— Você está resmungando e choramingando faz, tipo, cinco minutos já. Eu conseguia te ouvir do quarto ao lado — Mari respondeu quando questionada. — O que está acontecendo?

Yuuri olhou para os pés, sentindo-se um pouco encabulado. Ele murmurou sua resposta, mas Mari apenas ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços na frente do peito.

— Não consigo te ouvir — ela reclamou e deu um passo para dentro, na direção do seu irmão mais novo.

Yuuri fechou os olhos com força e suspirou profundamente. Ele podia sentir o calor em seu rosto, espalhando-se e ficando cada vez mais forte.

— Eu tenho um encontro.

Oh. — Mari descruzou imediatamente os braços, movendo-os para os quadris. Ela tinha um sorriso nos lábios e parecia bastante satisfeita com as novidades. — Com o Victor, hum? Sempre soube que você gostava de caras ruins.

— Ele não é um cara ruim.

— Ele é ruim em tudo — Mari falou e Yuuri não soube como retrucar, então apenas se calou. Agora não era a hora de lutar em prol da honra de Victor como supervilão. Ele tinha um assunto mais urgente para resolver.

— Pode me ajudar a escolher minhas roupas? — Yuuri perguntou enquanto gesticulava em direção ao guarda-roupa, cujas portas estavam abertas, permitindo que se espiasse dentro mesmo de longe.

Os olhos de Mari se arregalaram.

— Claro! — A vivacidade em sua voz era quase palpável. Ela adentrou o quarto sem esperar por um convite e começou imediatamente a remexer nas roupas, estudando-as.  — Aonde vocês vão?

— Sabe aquele restaurante no centro? Na segunda esquina logo depois da rua principal?

As mãos de Mari pararam de se mover e ela se virou. Seus lábios se encontravam unidos, suavemente inclinados. Ela parecia surpresa ao assentir levemente.

— Agora sim isso está parecendo um encontro — ela falou e havia admiração em sua voz. — Esse lugar é muito bom. Ouvi dizer que você precisa de uma reserva para garantir uma mesa e tudo mais.

Aparentemente, sua opinião sobre Victor havia melhorado um pouco. Yuuri não pôde evitar de se sentir feliz com isso.

Mais rapidamente do que jamais seria possível se ele próprio tivesse feito isso, Mari estudou todas as combinações possíveis que poderiam ser feitas com as roupas dispostas no armário e selecionou uma dentre as várias opções.

— O conjunto é mais importante do que a peça em si — explicou ela. — Se você usar isso aqui junto com isso, vai dar tudo certo e você não vai se sentir deslocado.

Yuuri agradeceu e, após acompanhá-la até a porta, vestiu a calça preta que ela havia escolhido para ele, junto com uma camisa de duas camadas. Depois de ajeitar um grosso casaco sobre os ombros e ajustar os óculos e o cabelo no espelho, se viu pronto para ir.

Ele saiu do quarto assim que se certificou de que havia pegado tudo que precisava, como o celular e a carteira, e desceu as escadas para se deparar com uma cena inesperada. Victor se encontrava sentado em uma mesa dentro de Yu-topia, bebendo uma xícara de café e conversando despreocupadamente com Hiroko e Toshiya, sem mostrar qualquer indicação de estar nervoso perto de seus pais. Ele estava deslumbrante, como de costume, vestido em um longo casaco escuro que se ajustava bem ao seu torso.

Yuuri fechou a boca, rezando para que ninguém tivesse notado que estava aberta enquanto ele olhava Victor de cima a baixo, e se aproximou do grupo com passos tímidos e furtivos. Observando o caminho por onde seus pés o estavam levando, Yuuri perguntou a si mesmo se ele realmente estava bem do jeito que estava agora. Victor era um homem extremamente bonito; ele, por outro lado, era... okay, nada de especial. Bastante comum.

Ainda assim, ele de alguma forma havia sido capaz de roubar o coração daquele homem.

Seu coração disparou, pulsando tão rápido quanto o bater das asas de um beija-flor; ele podia até mesmo ouvir o zumbido em seus ouvidos, alto e claro, um sinal inconfundível da fraqueza de seus nervos e de seu coração ansioso.

Quando Yuuri enfim os alcançou, Victor imediatamente olhou para cima e suas expressões despreocupadas se iluminaram, um sorriso radiante surgindo em seu rosto. Yuuri quase desviou o olhar; as pessoas diziam, afinal, que não era saudável olhar diretamente para o Sol.

— Yuuri!

Victor se levantou e o abraçou sem dar qualquer aviso prévio, deixando Yuuri sem fala e um pouco incerto sobre onde colocar as mãos. Seus óculos também foram pressionados contra seu rosto, inclinando-se e certamente marcando sua bochecha, mas ele se viu incapaz de se importar. O calor que Victor emanava era tão reconfortante quanto a sensação do coração de Victor batendo contra seu peito.

Quando Yuuri percebeu, seus braços já haviam cercado Victor.

Após anunciar que estariam de saída, o casal se despediu dos pais de Yuuri e mergulhou no mar de gente que caminhava do lado de fora. A tarde estava chegando ao seu fim, a noite tendo acabado de dar seus primeiros sinais — um céu escuro e infinito respingado com pequenas e discretas estrelas.

— Vamos pegar um táxi? — Victor perguntou quando eles alcançaram a esquina.

Antes de dar qualquer resposta, Yuuri ergueu os olhos. A noite estava bela e eles estavam bem aquecidos em suas roupas. Além disso, uma caminhada entre sua casa e o restaurante não seria nada insuportável, já que a distância não era tão grande assim — uma caminhada de trinta minutos, mais ou menos. E eles tinham tempo, então não havia motivo para pressa.

— Eu não me importaria de ir caminhando até lá, se estiver tudo bem por você.

Victor sorriu, anuiu e depois caiu em silêncio. Yuuri podia ver em seu rosto que Victor estava tentando decidir sobre o que eles deveriam conversar, provavelmente em busca do melhor assunto já que qualquer coisa além disso seria insatisfatório. Ninguém tinha expectativas mais elevadas a respeito do Victor do que ele próprio.

Yuuri buscou por sua mão e Victor sobressaltou ao sentir os dedos deles se entrelaçando, unindo-se e se conectando tão perfeitamente — bem como as metades de um quebra-cabeça de duas peças. Quando seus olhos se encontraram, Yuuri o lançou um sorriso tímido. Ele provavelmente estava corando, mas pelo menos não era o único; Yuuri podia ver as pontas das orelhas de Victor ficando ligeiramente vermelhas.

Pelo menos essa troca deixou o ambiente mais leve, permitindo que uma conversa fosse enfim iniciada.

Eles chegaram ao restaurante bem no horário que Yuuri havia previsto, alguns minutos antes das oito horas. O que nenhum dos dois previu, porém, foi a massa de corpos aglomerados na porta. Yuuri não achou que seria tão ruim. Claro, ele tinha ouvido falar que o lugar era bastante popular, sua irmã mesmo havia dito isso hoje, mas a diferença entre suas expectativas e a realidade era bastante grande.

No entanto, ainda assim isso não era um problema. Yuuri permaneceu calmo, já que se certificou de estar preparado para tal situação.

Victor provavelmente estava pirando, no entanto.

Yuuri se virou, pronto para chamar pelo nome de Victor, mas suas palavras foram prontamente engolidas, descendo garganta abaixo. Victor possuía expressões serenas no rosto, aparentemente não tendo se abalado com a quantidade de pessoas que haviam compartilhado de sua ideia de comer fora no mesmo lugar que eles. Isso era inesperado.

Percebendo que estava sendo observado, Victor olhou na direção de Yuuri. Notando as expressões confusas em seu rosto, o homem abriu um largo sorriso, já adivinhando o motivo.

— Sem problemas. Vim preparado. — Victor anunciou, cheio de confiança, e enfiou a mão no bolso.

Yuuri se limitou a observá-lo, curioso sobre o que ele queria dizer com "vir preparado". Suas sobrancelhas se encontravam devidamente erguidas e ele manteve a boca fechada enquanto Victor procurava o que quer que estivesse dentro dos bolsos fundos de seu longo casaco, objeto que aparentemente resolveria o problema deles.

Quando Victor finalmente conseguiu apanhá-lo e o recuperar das profundezas de seu bolso, ele se voltou totalmente para Yuuri, a quem mostrou suas mãos e a coisa em sua palma.

Era uma máquina.

Yuuri franziu as sobrancelhas enquanto olhava para o objeto. O dispositivo era pequeno e mecânico, de tamanho um pouco inferior a palma de uma mão, e se parecia com uma lanterna de bolso. Yuuri, entretanto, tinha certeza de que não era uma lanterna, porque... bem... isso não ajudaria em nada agora.

Yuuri se limitou a encarar o Victor, esperando que ele começasse algum tipo de explicação. Felizmente, o homem logo percebeu que aquela era a sua deixa.

— É uma versão de bolso da máquina que usei no Capítulo 2!

Yuuri franziu ainda mais as sobrancelhas, fazendo com que as linhas de sua testa parecessem ravinas.

— O que você quer dizer com Capítulo 2? — Yuuri perguntou, desconfiado.

Teria Victor batido a cabeça sem ele perceber? Seria isso alguma piada elaborada? Será que "Capítulo" era algum tipo novo de gíria que ele nunca ouviu falar? Embora ele tivesse gostado de qualquer tipo de explicação, ele ficou foi sem qualquer resposta, pois Victor apenas balançou uma de suas mãos no ar de forma despreocupada e retornou ao assunto.

— Sabe, aquela que fazia as pessoas voltarem para casa. Mas este funciona em uma escala menor.

Victor segurou o dispositivo firmemente e apontou-o para dentro do restaurante, em direção a uma mesa onde um casal estava tendo um primeiro encontro não muito bom, ambos parecendo desconfortáveis ​​com a companhia um do outro. Victor fechou um dos olhos, mirando, mas não atirou. Ele apenas endireitou as costas novamente e retornou sua atenção para Yuuri.

— A carga me permite até cinco tiros, com certeza o suficiente para nos levar para dentro se eu mirar nas mesas maiores e mais cheias — explicou, parecendo muito orgulhoso de si mesmo naquele momento.

Yuuri queria muito levar uma mão ao rosto e esfregá-lo por inteiro enquanto dava o maior e mais longo dos suspiros. Ele se conteve, entretanto.

Ele devia ter adivinhado que a solução de Victor seria alguma maluquice desse tipo. Apresentar soluções por demais exageradas para problemas banais era a maneira como ele trabalhava, afinal de contas; qualquer ato de menor escala seria incompatível com ele.

Antes que Victor pudesse começar a disparar com seu pequeno dispositivo em direção às pessoas que, alegres, comemoravam aniversários e coisas do tipo, Yuuri pousou uma de suas mãos em seu ombro. Victor prontamente olhou para ele e Yuuri ofereceu um sorriso despreocupado ao seu complicado e excêntrico par.

— Está tudo bem. Fiz uma reserva.

Yuuri sequer cogitou esperar até que Victor esboçasse uma reação adequada. Ele simplesmente pegou sua mão e o guiou em direção à entrada.

 

—--

 

O jantar foi agradável, e a maneira como eles se davam tão bem deixou o coração de Victor em um frenesi.

Eles conversaram sobre a comida — que concordaram ser ótima, mas nada suficientemente especial para explicar porque o restaurante estava sempre tão lotado — e compartilharam algumas histórias engraçadas que haviam experienciado ao longo da semana, as quais englobavam tanto colegas quanto estranhos. Victor também mostrou algumas fotos de Makkachin a pedido de Yuuri, e eles prontamente começaram a discutir o amor mútuo que eles tinham por cães.

Realmente estava indo muito bem esse encontro.

Mesmo as incômodas borboletas que ocupavam seu estômago, que foram um dia um grande problema para ele, agora pareciam ser uma companhia não tão ruim assim. Elas simplesmente estavam lá, deixando um sentimento estranho em suas entranhas, mas ao mesmo tempo assegurando a realidade da situação e firmando seus pés no chão. Isso não era um sonho. Ele não tinha que temer acordar e perder tudo, perder a companhia de Yuuri e o relacionamento que eles vinham tecendo juntamente. Essa era a realidade, e ela era perfeita e o fazia muito, muito feliz.

Ele estava verdadeiramente apaixonado pelo Yuuri, por esse jovem tímido e adorável que possuía um sorriso tão delicado, e que parecia irradiar boas vibrações somente. Com este homem que amava cachorros tanto quanto ele, e cuja companhia parecia tão certa. Yuuri podia ser um pouco inseguro de vez em quando, mas Victor apenas pensava nisso como um ponto charmoso de sua personalidade, e também um bom contraste com a maneira como ele parecia tão confiante em raras ocasiões, seus olhos às vezes parecendo tão ferozes e fortes por trás das molduras grossas de seus óculos.

Quando se conheceram, Yuuri roubou seu coração em um piscar de olhos; ele estava sorrindo e olhando para Makkachin como se a cadela fosse a melhor coisa do mundo, e Victor foi incapaz de desviar os olhos. Quando finalmente lhe deu alguma atenção, o olhar do homem foi inundado por visível timidez e uma quantidade considerável de desespero. Ele ficou um bom tempo acenando, balançando as mãos incansavelmente, além de fazendo de tudo para evitar de olhá-lo nos olhos, tentando se esconder tanto de Victor quanto de seu próprio constrangimento. Estava tão nervoso que suas mãos não paravam de tremer enquanto explicava o quanto gostava de cachorros.

Eles realmente haviam percorrido um longo caminho desde então.

Demorou um pouco, mas o relacionamento dos dois finalmente parecia certo e confortável, o constrangimento inicial tendo desaparecido quase que completamente em suas interações mais recentes. Eles trocavam mensagens praticamente todo dia, e até mesmo ligações têm ocorrido em uma frequência cada vez maior. Ele até arriscaria dizer que Yuuri estava começando a responder aos seus sentimentos, ao menos à sua maneira.

Yuuri era fofo, tímido e tão belo quanto a Lua em uma noite límpida de inverno. Ele era a pessoa mais doce que Victor já conheceu, um tesouro precioso que temia que o mundo pudesse um dia macular. Que tal pessoa estivesse ao lado de Victor, um conhecido vilão e uma fonte constante de problemas, era uma benção.

Ainda assim, de vez em quando, o adorável e amável Yuuri — bom demais para este mundo, precioso demais — relaxava tanto ao seu lado que quase se tornava outra pessoa. Quando encarado por olhos afiados, Victor imediatamente se via engolir em seco, claramente afetado pela força daquele olhar, o calor tomando conta de seu peito e deixando sua mente turva. Até então não foi capaz de desviar o olhar.

A sensação que ele tinha ao ser submetido àquele olhar lhe era familiar, como um velho conhecido que não conseguia associar nome ao rosto, mas que ainda assim se via olhando com atenção sempre que cruzavam caminho.

 

—--

 

Quando eles deixaram o restaurante mais tarde naquela noite, o número de pessoas que esperavam na fila havia diminuído bastante. Havia esfriado, mas não ao ponto de se tornar um problema; seus grossos casacos os protegiam bem das brisas gélidas que corriam a esmo do lado de fora.

A noite estava linda e a luz refletida no asfalto era colorida e vívida. Yuuri se sentia parte de um filme meloso, do tipo que incluía todos os clichês que o diretor havia sido capaz de pensar. Porém, considerando que ele estava atualmente em um encontro com um supervilão e que ele próprio era um agente secreto, o qual, ainda por cima, atuava diretamente como o nêmesis de seu par, talvez a história deles realmente merecesse um lugar nas telonas; tal enredo era algo que se esperaria de um livro ou de uma série de TV, não da vida real.

A vida real não era suposta de ser tediosa e majoritariamente monótona? Como que pôde algo assim acontecer logo com ele?

Yuuri não era alguém especial, que teve uma criação incomum ou que possuía circunstâncias surpreendentes circundando seu dia a dia. Ele costumava ser o mais normal que um cara podia ser, trabalhando com seus pais e desejando nada além de uma vida digna e plena, até que alguém — Celestino — viu nele um potencial, uma faísca esperando para ser acesa, que ele nunca teria percebido por conta própria se tivesse sido deixado sozinho.

Claro, Yuuri nunca pediu por nada disso; não pediu por um emprego de meio período tão repleto de ação, nem pela adrenalina que sempre corria rapidamente por suas veias quando se via pendurado de cabeça para baixo, jogando-se por janelas como se isso não fosse nada fora do comum.

Entretanto, uma vez que tudo isso o levou ao Victor, talvez — certamente — não foi de todo ruim.

Se tivessem se conhecido apenas em Yu-topia, como cliente e atendente, ele não tinha certeza de que eles teriam se aproximado da maneira que o fizeram; provavelmente não. Yuuri duvidava de que conseguiria aceitar Victor como o aceitava agora se não tivesse conhecido o Treinador pessoalmente, já que foi o contato direto com todas as suas peculiaridades e esquisitices que fez Yuuri perceber que Victor era mais do que um criador de problemas maluco.

Muito provavelmente Yuuri não teria se apaixonado por Victor se não tivesse trabalhado junto ao Treinador.

— Yuuri — Victor chamou e Yuuri se virou imediatamente em sua direção.

Quando encontrou olhos azuis olhando diretamente para ele, Yuuri se viu prendendo a respiração por alguns segundos, inconscientemente. Seus olhos estavam realmente bonitos sob a luz fraca que vinha da iluminação esparsa presente ao redor deles, uma pincelada de amarelo caindo em sua íris e se fundindo àquelas piscinas claras.

— O que quer fazer agora? — Victor perguntou. Ele soara gentil, mas também cheio de expectativas.

Só então Yuuri percebeu que fazia um tempo que eles estavam parados do lado de fora do restaurante, ambos completamente quietos, Victor procurando pelas palavras certas enquanto Yuuri se perdia por completo em meio aos seus pensamentos.

Por alguns segundos, Yuuri considerou suas opções.

— Quer dar mais uma volta? Tenho que ir para casa logo, mas não tão logo assim.

— Eu adoraria — disse Victor, sorrindo, suas bochechas irradiando um suave vermelho e seus olhos brilhando de alegria.

Suas mãos se juntaram como se estivessem destinadas a existir como um conjunto, atraídas uma pela outra. Victor e Yuuri caminhavam lado a lado, as estrelas brilhando belamente sobre suas cabeças e o eco da batida de seus sapatos contra a calçada adicionando uma melodia compassada ao zumbido suave dos veículos que passavam por eles. Eles se encaminhavam a Yu-topia, lentamente, nenhum sinal de pressa presente em seus pés. Ao se aproximarem da residência de Yuuri, eles se desviaram do caminho e rumaram em direção ao parque localizado nas proximidades, aquele no qual Victor geralmente levava Makkachin para um passeio e que certamente lhes daria um pouco de privacidade a essa hora do dia.

Ambos estavam cientes de que podia ser perigoso ficar a esmo em lugares desertos à noite, mas nenhum dos dois parecia se importar. Victor estava mais que pronto para lutar e proteger Yuuri se algo viesse a acontecer; enquanto isso, Yuuri tinha certeza de que ninguém seria louco o bastante para fazer algo contra um famoso supervilão.

Eles caminharam um pouco pelo parque, suas mãos ainda unidas e balançando suavemente entre os seus corpos. Inicialmente, eles mantiveram a conversa indo, mas depois de falar tanto durante o jantar, não havia muito mais a se dizer. Logo eles caíram em um silêncio confortável.

Eles deram três voltas no parque, parando algumas poucas vezes aqui e acolá para admirar mais de perto as flores, antes de Yuuri perceber que estava sendo observado um pouco que demais. Tirando vantagem da moldura grossa de seus óculos e do ambiente pouco iluminado, Yuuri lançou um olhar furtivo em direção ao Victor, percebendo que ele estava de fato olhando para ele, atentamente observando cada movimento seu e parecendo bastante nervoso. Yuuri pôde sentir sua mão começar a suar, mas ainda assim não o largou. Eles caminharam por mais alguns minutos, mas Victor permaneceu em silêncio, evidentemente se segurando.

Yuuri tinha uma ideia do que estava acontecendo, do que se tratava tudo isso, porque ele não era estúpido.

Yuuri firmou os pés no chão e ambos pararam. Victor pareceu confuso e estava prestes a perguntar o que havia de errado quando se calou, as palavras descendo novamente por sua garganta quando viu o rubor que cobria o rosto de Yuuri, estendendo-se até suas orelhas e também ao seu pescoço. Mesmo seus óculos embaçados não eram suficientes para esconder o quão envergonhado ele estava se sentindo agora.

— Tem alguma coisa que deseja de mim? — Yuuri perguntou, achando os seus pés de repente muito interessantes.

Houve um momento de silêncio, uma densa e desconfortável tensão permeando o ar ao redor deles. Então, Yuuri viu os sapatos de Victor dando um passo à frente, diminuindo a distância entre eles. Ele olhou para cima e seu coração se apertou dentro do peito. Victor também estava corando, seus olhos levemente brilhantes, o azul neles parecendo um tom ou dois mais escuro quando sombreado por seus longos cílios claros.

Uma mão encontrou sua bochecha. Ela era quente e Yuuri se viu buscar por mais daquele calor sem nem mesmo pensar.

Victor deu mais um passo adiante.

— Posso te beijar?

Yuuri estava com medo de que seu coração parasse de bater depois de tanto se exercitar. Ele se sentia estranho, quente. Ele engoliu em seco e acenou, o movimento suave e silencioso de sua cabeça representando o consentimento que Victor tanto ansiava.

Victor também engoliu em seco e deu então mais um passo à frente. Ele se inclinou e Yuuri imediatamente fechou as mãos em um punho, esperando que isso as impedisse de tremer. Yuuri fechou os olhos com força e esperou, cada segundo que passava parecendo uma eternidade, e quando enfim sentiu a respiração de Victor colidir com seus lábios, seus óculos foram empurrados contra seu nariz. Quando Yuuri abriu os olhos, confuso com o aumento repentino da distância entre eles, encontrou Victor esfregando a testa e parecendo bastante alarmado.

Yuuri piscou duas vezes. Havia uma pergunta descansando na ponta de sua língua, mas não havia realmente necessidade de verbalizá-la, já que a visão do Victor resmungando sozinho enquanto esfregava a testa irritado deixava bem evidente o que tinha acontecido.

Yuuri colocou os óculos de volta no lugar e permaneceu em silêncio. Quem diria que as palavras de Yurio se tornariam realidade, voltando para atormentar Victor assim como o garoto disse que aconteceria. Talvez o adolescente fosse secretamente um bruxo, ou um oráculo.

Mais importante, agora Yuuri tinha que acalmar Victor, antes que ele se atirasse em um abismo de dúvida e insegurança. Além disso, seus lábios estavam se sentindo bastante solitários, e Yuuri estaria mentindo se dissesse que não estava levemente frustrado com a situação.

A condição em que ficou Victor e a turbulência de seus pensamentos era tamanha que ele sequer percebeu quando Yuuri se aproximou, e quando Yuuri estendeu a mão e a repousou em seu ombro, tentando trazer sua atenção de volta para si, Victor sobressaltou como um gato que acabara de ter seu rabo pisoteado.

— Desculpa. Eu estava um pouco nervoso — Yuuri falou e ele não estava mentindo.

Na hora, ele se sentiu nervoso e esse sentimento permanecia. Isso contribuiu para o desastre que acabara de ocorrer? Talvez. Foi inteiramente culpa dele, assim como ele tentava fazer com que fosse? Certamente que não, mas se ele queria que Victor o beijasse aqui e agora, ele precisava que o homem se acalmasse de uma vez.

— Por que não... tentamos de novo? — Yuuri fez o possível para não desviar o olhar desta vez.

O rosto de Victor ficou vermelho, de uma forma que Yuuri jamais havia visto antes.

O homem abriu um sorriso torto, claramente embaraçado, mas ainda assim muito feliz com a situação como um todo. Em seguida, caminhou em direção ao seu par, seu corpo se movendo de forma rígida e desajeitada, os braços duros ao lado do torso. Enquanto isso, Yuuri sentiu um sorriso nascer em seus lábios, seu corpo relaxando de uma forma que ele não achava possível.

— Certo, certo — Victor murmurou, suas expressões ainda parecendo engraçadas em seu rosto e sua voz soando um pouco mais grave do que o normal.

Ele esfregou as mãos nas calças e então as estendeu em direção ao rosto de Yuuri, aconchegando-o entre seus dedos e acariciando as suas bochechas com um toque tão gentil que um arrepio correu pelas costas de Yuuri.

Por um tempo, eles se limitaram a trocar olhares, seus olhos se encontrando na metade da breve distância entre eles. Yuuri também se viu buscar pelo Victor, cobrindo uma de suas mãos — a que ainda estava em seu rosto — com a sua. Depois de considerar suas opções por longos e intermináveis ​​segundos, Victor finalmente encontrou uma maneira de evitar que o mesmo desastre ocorresse uma segunda vez.

— Com licença… — Victor disse e tirou os óculos de Yuuri. No início, seu nariz se sentiu solitário, mas logo seus lábios estavam tão quentes que isso não importava mais.

O beijo de Victor foi doce e gentil.

O coração de Yuuri batia forte no peito, tão barulhento que provavelmente estava se preparando para alçar voo. Ele podia se sentir derretendo contra o Victor, o seu corpo fechando no dele em busca de mais daquele calor, de mais daquele toque delicado e viciante, de mais de tudo aquilo. Logo, as mãos de Victor soltaram seu rosto, encontrando um lugar melhor para descansar na base de suas costas. Yuuri interpretou isso como um incentivo, jogando seus braços ao redor do pescoço de Victor e puxando-o para mais perto.

Seus olhos se fecharam e o parque nunca esteve mais silencioso. Era como se todos os seus sentidos tivessem saído de  férias, exceto aquele que estava saboreando aqueles lábios doces e macios e tendo o melhor dia de sua vida.

Quando Victor finalmente se afastou, Yuuri permaneceu com os olhos fechados, esperando por mais. Eles ainda estavam abraçados um ao outro, então era de se esperar que houvesse mais por vir... Certo?

Então porque Victor não estava voltando pra ele?

Yuuri entreabriu os olhos, lentamente, e espiou por entre os cílios. Victor estava olhando para ele com uma cara engraçada, mas uma cara engraçada que era diferente da anterior. Isso foi o bastante para tirar Yuuri das nuvens e firmar seus pés mais uma vez no solo.

Yuuri se afastou completamente, mas Victor continuou a segurá-lo em seus braços.

— O que foi? — Yuuri perguntou, quase tão confuso quanto Victor.

Só então Victor percebeu o que estava fazendo.

Ele o soltou, mas Yuuri meio que desejou que ele não tivesse. O conforto de seus braços foi algo que ele conhecera apenas brevemente, mas ainda assim foi tempo o suficiente para fazê-lo sentir que agora algo estava faltando.

— Ah, desculpa — Victor disse, sua voz ainda um pouco estranha.

Victor olhou para os óculos que ainda estavam em sua mão. Seus olhos pareciam um pouco contemplativos, meio distantes. Yuuri se perguntou qual seria o problema. Antes que pudesse dar voz à pergunta, a explicação veio.

— Meu corpo simplesmente parou quando olhei para você. Acho que você me lembra alguém, mas não sei quem. 

Yuuri imediatamente percebeu a merda que tinha feito.

Ele não perdeu tempo pensando em seu próximo movimento, seu corpo sabendo melhor o que fazer agora do que sua mente saberia nos próximos minutos.

Yuuri agarrou a gola do casaco de Victor e o puxou com toda sua força, suas bocas colidindo tão rapidamente quanto as batidas de seu coração acelerado. Ele podia sentir o gosto da surpresa nos lábios de Victor, sobretudo quando empurrou sua língua para dentro.

Victor deu um passo para trás, — não fugindo, apenas se endireitando — e logo suas mãos estavam de volta em Yuuri, agarradas aos seus quadris enquanto permitia que sua boca fosse explorada.

Sentia-se quente, confuso e embaraçado, mas ao mesmo tempo tão bem que Yuuri não tinha certeza de como suas pernas ainda estavam eretas. Quando Victor finalmente entrou no clima, sua surpresa inicial desaparecendo completamente em meio a enxurrada de emoções e sensações que aquele beijo trouxera, Yuuri aproveitou sua distração e recuperou seus óculos. Eles continuaram indo, tocando e provando um ao outro até ficarem sem fôlego. E quando se separaram, a primeira coisa que Yuuri fez foi colocar os óculos de volta no rosto.

Victor ficou parado por um tempo. Sua cabeça aparentemente ainda não havia descido das nuvens, e ele olhava para Yuuri com lábios rosados ​​ainda ligeiramente entreabertos. Seu cabelo também estava uma bagunça, apesar de Yuuri não se lembrar de ter corrido os dedos por ele.

Antes que Victor pudesse perguntar o que havia sido tudo aquilo, Yuuri deu um passo à frente e descansou um dedo contra seu peito, deslizando-o para cima e para baixo. Ele inclinou a cabeça e fez bico.

— Você não devia estar pensando em outras pessoas agora — Yuuri disse em uma voz doce e propositalmente fofa.

Victor engoliu em seco, seu rosto tão vermelho quanto o céu da manhã, quando o Sol aparecia pela primeira vez no horizonte e tornava tudo radiante e belo. Eles se encaravam intensamente, ambos quase se afogando nas emoções que enchiam seus olhos. Seus rostos se aproximaram mais uma vez e, quando seus lábios se uniram, foi mais suave desta vez. Mais gentil.

Yuuri se permitiu perder um pouco mais naqueles sentimentos, já triste por ter que se separar deles tão cedo. Mais importante, fez uma anotação em um canto de sua mente para nunca mais cometer o mesmo erro novamente.

Aquela foi por muito pouco.

 


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Notas finais do capítulo

Oi, gente. Mais um mês, mais um capítulo! Tenho mil coisas pra fazer hoje então vou só me limitar a dizer: obrigada por ler, espero que esteja gostando e comente se possível! Qual sua parte favorita da história/do capítulo até agora? E estou sempre aberta a críticas também :)
É isso, até mês que vem!



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