Academia de Poderes Inúteis escrita por Creeper


Capítulo 38
Não é o Mestre Splinter


Notas iniciais do capítulo

Oie! Primeiramente, eu queria muito agradecer a todos vocês que acompanharam a história durante esse ano, comentaram e favoritaram, vocês me motivaram demais e fizeram do meu ano mais feliz, valeuzão ♥! E agora queria agradecer a Isah Doll por ter recomendado a história, eu amei demais, obrigada de coração ♥!

Agora, sem mais delongas, o último capítulo do ano. Boa leitura!
(Perdoem se tiver algum errinho, revisei rápido pra poder postar hoje)



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Diante de tudo aquilo, me senti como um fantasma que apenas presenciava a cena. Amanda não queria soltar Victor mesmo quando um inspetor o chamou para a diretoria e a enfermeira foi socorrer a boca sangrenta de Felipe. 

Eu e Milena ficamos estáticos quando Eduardo se colocou em nossa frente de braços cruzados. Ele parecia ter tantas coisas para despejar em cima de nós, mas apenas contentou-se em suspirar, apoiar o peso da cabeça na mão e dizer para não ouvirmos conversas alheias e que caso ouvíssemos, deveríamos contar quem mais ouviu.

Se o peso da culpa sobre meus ombros já não era o suficiente, ele ficou maior com essa bronca. Pensar que eu e Milena talvez pudéssemos ter impedido aquilo fez meu corpo afogar-se em arrependimento.

O vice-líder tratou de abraçar Amanda e consolá-la, levando-a para tomar um ar no pátio. Quanto a mim e a pequena, ficamos ao pé da escada, pasmos demais para tomar uma atitude.

Mais tarde, quando enfim tivemos coragem de pegar em nossos celulares, vimos o stories de Bianca no Babados da API.

— Quanto a última postagem, eu só queria dizer que não é verdade! Sinto muito por ter deixado algo assim ser postado, mas não percam a fé na nossa credibilidade, okay?— ela se mostrou nervosa.

 

>>> 

 

Uma semana se passou, a qual eu chamei carinhosamente de “inferno”. Não houve reuniões no esconderijo, pois Victor sempre estava ausente, já que vivia na diretoria por ter batido em quem ousasse o chamar de “bicha”. Não consegui falar com Yara porque nossas aulas nunca eram as mesmas. E por falar em aulas, estava simplesmente impossível acompanhá-las com todo aquele estresse borbulhando em minha cabeça. Quanto a Milena...

 

Stef: Não entendi o que você quis dizer com “o que você faria se tivesse uma irmã mais nova?”. [12:31]

Stef: Se isso for um código para “sobrinha”, você está ferrado. [12:32]

 

Talvez ainda não fosse o momento certo para aquilo, apesar de que contar para mais alguém me ajudaria a digerir melhor o fato. Quero dizer, eu nem sabia se era mesmo um fato.

 

Eu: Esquece. [12:34]

Eu: Nada daquela mulher? [12:34]

Stef: Não, mas eu fui ao mercado que Marília disse tê-la visto. É mal localizado e quase não tem movimento. [12:36]

 

“Perfeito para alguém que forjou a própria morte.”, ponderei.

Decidi encerrar o assunto por ali, agradecendo pelas informações e pedindo que me enviasse qualquer novidade sobre o caso. Stefanie me mandou algumas fotos de meus animais que aparentavam estar enfim se acostumando à vida sem mim. Confesso que cortei a foto em que mamãe aparecia com Siri em seu colo e Fábio surgia no canto segurando uma garrafa de refrigerante.

Suspirei pesadamente ao responder as perguntas de mamãe sobre meu bem-estar. Eu não podia contar absolutamente nada do que estava acontecendo (isso se o namorado dela não tivesse soltado sem querer), então me contentei em dizer que estava “tudo okay”. Ela acreditou e começou a contar sobre seu trabalho novo ou foi o que eu pensei.

 

Mãe: Preciso ir, meu horário de almoço acabou. [12:40]

Mãe: Só tenho de te dizer algo antes. [12:40]

Mãe: Saiba que as coisas podem estar difíceis por aí, mas vão melhorar. Palavra de mãe. [12:41]

 

Dei uma risada abafada e enviei um emoji de coração. Me senti um pouco melhor com a esperança de me ver longe daquela bolha de estresse, o que me motivou a pegar meu caderno e rever o conteúdo da aula enquanto almoçava.

Eu não esperava ter companhia para o almoço, por isso me sentei na primeira mesa vazia que encontrei e revezei entre ler minhas anotações e beliscar a comida com o garfo. Imerso no que estava fazendo, sequer notei as duas figuras que se aproximaram e sentaram-se, uma na minha frente e outra na ponta da mesa.

— Dá para acreditar? – Victor cerrou os dentes enquanto agitava sua garrafinha de suco. Fazia tanto tempo que eu não o via direito que até me assustei um pouco.

Ele olhava para trás por cima do ombro, então segui seu olhar por um segundo, encontrando Eduardo de braços cruzados apoiado em uma das paredes e conversando com Kaíque.

Dei de ombros e abri minha latinha de refrigerante.

— Por que gay só sofre? – Victor reclamou voltando-se para a mesa.

Engoli o refrigerante tão rápido que me engasguei, resultando em uma tosse escandalosa.

— Você tem que parar de ficar se torturando com isso. – Breno desembalou seu sanduíche. 

— Vem cá, eu estou ouvindo tudo, sabiam? – limpei a boca com o antebraço.

— E daí? O que você vai fazer? – Victor arqueou uma sobrancelha. – Todo mundo já sabe que eu sou gay. – resmungou desviando o olhar.

— Você é tapado, por isso confio em você. – Breno apoiou o rosto na mão e sorriu.

Fechei meu caderno discretamente e pensei em deixar a mesa, porém, Breno ficou pálido e avisou:

— Não olhem agora, mas o Eduardo está vindo para cá.

Automaticamente, virei a cabeça para a direção que o vice estava antes, concluindo que ele realmente aproximava-se de nossa mesa de modo despreocupado. Em contrapartida, Kaíque deixava o refeitório com as mãos nos bolsos.

— Quê?! Por que ele está vindo para cá? – Victor cobriu a cabeça com os braços, tentando se esconder.

— Talvez porque tenha três membros do grupo dele aqui. – foi minha vez de arquear a sobrancelha.

— Tudo bem. – o gêmeo respirou fundo e ajeitou sua postura. – Eu não ligo, sabe por quê? Porque eu definitivamente desisti.

Simultaneamente, eu e Breno arregalamos os olhos ao ver Eduardo atrás de Victor, sorrindo com as mãos na cintura. Cheguei até mesmo a prender a respiração, já que Eduardo havia se tornado uma pessoa diferente do que eu enxergava.

— Desistiu de quê? – o vice debruçou-se sobre a mesa, fitando o gêmeo de um jeito travesso.

Victor soltou um muxoxo e levantou-se levando consigo sua garrafinha de suco, ignorando a pergunta de Eduardo. Era estranho o jeito como ambos começaram a se tratar desde toda a confusão, o vice dava sorrisos mais gentis para o garoto mesmo que ele fizesse o favor de evitá-lo. Antes de afastar-se o suficiente de nossa mesa, o gêmeo anunciou:

— Breno, é bom você saber que eu vou tocar Legião Urbana.

— Eu mereço. – Breno revirou os olhos. – Norte, posso dormir no seu quarto hoje? – me fitou com um ar de cachorrinho pidão.

— Não. – ergui-me pegando meu prato parcialmente vazio.

— Eduardo? – o garoto juntou as mãos, quase implorando.

— Você ainda tem que comer muito arroz e feijão para dormir no meu quarto, garoto. – Eduardo riu, acenou e dirigiu-se até a saída.

É, acho que as coisas podiam ficar bem aos poucos.

 

>>> 

 

De madrugada, sob um sono leve, acordei ao escutar uma notificação de mensagem. Tateei a cabeceira, agarrei meu celular e semicerrei os olhos para conseguir ler o que estava na tela brilhante.

 

Milena: Vem me buscar no terceiro andar? [03:41]

Milena: Vim beber água, mas escutei um barulho. [03:41]

Milena: Estou com medo de voltar sozinha. [03:42]

 

Fiz uma careta e esfreguei os olhos pensando na possibilidade de considerar aquilo um sonho e simplesmente voltar a dormir. Mas imaginei que se fizesse isso Milena passaria a noite no bebedouro.

Deixei o celular carregando em minha cabeceira do jeito que estava, bocejei e andei vagarosamente até a porta. O clima noturno era fresco, entretanto, não precisava colocar uma jaqueta para ir buscar uma irmã mais nova com medo de barulhos noturnos.

Dei uma risada ao pensar no termo “irmã mais nova”, eu definitivamente estava delirando de sono. 

Cheguei ao terceiro andar após descer os degraus da maneira mais preguiçosa possível, encontrando uma garotinha sentada ao lado do bebedouro segurando firmemente seu celular. Assim que me viu, ela arregalou os olhos e levantou-se subitamente. 

— Pronto, vam…

Minha frase foi interrompida por um ruído. Parecia o som de alguma coisa batendo. Eu e Milena paralisamos no lugar, movendo apenas os olhos na esperança de encontrar a fonte daquilo.

— Você ouviu? – ela perguntou baixinho.

— Sim. – uma voz respondeu no meu lugar.

Foi impossível segurar nossos gritinhos de susto. No pé da escada, Kaíque amarrava seus cabelos em um rabo-de-cavalo, totalmente sonolento.

— O que está fazendo aqui? – sussurrei entredentes sentindo o coração voltar para o lugar.

— Vi você saindo do quarto e decidi te seguir. – Kaíque deu de ombros. – E então, que barulho foi esse? – olhou ao redor.

— Um rato, talvez? – chutei.

— Ah, claro, só pode ser o Mestre Splinter. – ele revirou os olhos e foi para o próximo lance de escadas.

— Ei, aonde você vai? – franzi as sobrancelhas.

— Ver de onde vem o som, ué. – Kaíque respondeu em um tom zombeteiro.

Deixei um muxoxo escapar e assim que pensei em terminar o que havia ido fazer, avistei Milena fechando o zíper de seu moletom e descendo as escadas atrás do garoto. 

— O que pensa que está fazendo? – tentei falar baixo, mas minha voz saiu mais alta do que deveria.

— Eu também quero saber de onde vem o som. – ela disse inocentemente e continuou seu caminho. – Você vem comigo, né? – ligou a lanterna de seu celular.

Senti o cansaço em meu corpo me dizer que eu deveria voltar para a cama, entretanto, sabia que a curiosidade de uma pré-adolescente falava mais alto que qualquer coisa e não confiava em deixá-la com o Kaíque. Suspirei derrotado e esfreguei os braços para aquecê-los.

Os ruídos ficaram mais altos à medida que descemos as escadas e uma sensação estranha cresceu na boca de meu estômago.

Aparentemente, o som vinha do primeiro andar do prédio que era iluminado apenas por uma única fresta de luz que escapava de uma porta entreaberta no corredor. Arregalei os olhos ao reconhecer aquele lugar, avisando para os outros dois em um cochicho:

— É a diretoria.

O alvoroço de folhas de papéis sendo manuseadas era acompanhado por um “clique”, além de coisas batendo, como escutamos no terceiro andar do dormitório. Engoli em seco, mantendo as mãos nos ombros de Milena enquanto ela caminhava lentamente em minha frente. 

— O velho bronzeado não veio para a academia hoje, né? – Kaíque nos guiava, seus passos eram cautelosos e sua voz exalava desconfiança.

Era verdade, Heitor não ia para a academia às sextas-feiras. O que apenas piorou o que eu sentia no estômago. 

Nossos passos nos levaram até a tal porta e Kaíque fez um sinal para que nos encostássemos na parede. Observei o garoto agachar-se no chão, esticar o pescoço na direção da fresta e um segundo depois virar-se para nós com os olhos arregalados. 

— Eu nunca vi essa mulher na vida. – ele balbuciou em choque.

— Que mulh… – Milena começou, todavia, cobri sua boca. 

Movido pela minha própria curiosidade, repeti a ação do garoto, abaixando-me e deixando Milena atrás de mim. Com todo o cuidado do mundo, olhei para dentro da fresta, encontrando uma mulher alta, vestida completamente de preto e usando uma câmera pendurada no pescoço.

A sala estava um caos: papéis espalhados por toda a parte, gavetas reviradas que cuspiam pastas e mais pastas, mesa e cadeiras fora do lugar e a janela escancarada. A mulher bateu uma ficha sobre a mesa e a fotografou rapidamente, refazendo esse processo mais algumas vezes.

Meu estômago embrulhou-se de vez e até mesmo respirar tornou-se difícil. Algo estava muito, muito errado.

— Precisamos chamar os inspe... – voltei-me para Kaíque e Milena, contudo, eles não estavam sós. 

Atrás de nós, um homem alto e musculoso que usava um sobretudo e gorro encarava-nos de cima. Seus olhos fundos e sérios fuzilaram-nos e seus punhos gigantes cerraram-se ao lado do corpo de uma maneira assustadora.

— Olívia! – ele chamou.

— Sérgio, ainda não terminei. – a voz feminina era carregada de sotaque. – Continue a vigiar… – a fresta da porta ficou maior, revelando a cabeça da mulher.

Sua expressão passou de séria para incrédula. Automaticamente, ela fez um aceno com a cabeça, o que instigou o homem a agarrar Kaíque e Milena em seus braços e apenas murmúrios escaparam pelas mãos enluvadas que cobriram as bocas dos dois. O celular da garota caiu no chão em um estalo e sua tela partiu-se toda.

Quando meu cérebro ordenou a minha boca que eu gritasse, uma mão enluvada também a cobriu e um braço passou por minha barriga, pressionando-me. 

Comecei a me debater, movendo os ombros e tentando chutar as pernas da mulher, além de berrar, por mais que minha voz se transformasse em um resmungo abafado. Em minha frente, Milena arranhava o braço do homem e balançava as pernas suspensas. Kaíque se ocupava em dar cotoveladas em seu peito e menear a cabeça desesperadamente.

Obriguei meus pulmões a trabalharem quando gritei o mais alto que pude contra a mão da mulher, desejando que ao menos alguém em todos aqueles andares escutassem.

— É melhor pararem ou eu quebro os braços de vocês. – o homem apertou-os ainda mais. 

Milena e Kaíque congelaram e seus olhos faltaram saltar dos rostos.

— E isso vale para você também. – a mulher sussurrou em meu ouvido. 

Os adultos se entreolharam e agitaram as cabeças, o que pareceu ser um sinal para nos empurrarem bruscamente para dentro da diretoria. A mulher usou uma das mãos para trancar a porta e a outra permaneceu em minha boca sob a ameaça:

— Se tentar se soltar, aqueles dois já eram.

O pânico estava estampado nos olhos castanhos e marejados de Milena, o que fez minhas pernas fraquejarem e esquecerem qualquer ideia de fuga. Kaíque permanecia estático enquanto suas irises verdes tremiam apavoradas. 

Olívia enfiou a mão dentro de uma bolsa preta jogada sobre a mesa do diretor e retirou de lá um rolo de fita prateada, a qual ela puxou um pedaço com os dentes e cortou. Em seguida, espalmou o pedaço de fita em minha boca. Outro pedaço foi cortado, dessa vez maior e eu entendi o porquê ao vê-la passá-lo por meus pulsos.

A mulher também fez isso com os outros dois, fechou sua bolsa e jogou-a no ombro, dizendo a Sérgio que era hora de partir. O homem concordou e agarrou Milena e Kaíque outra vez, que rosnaram e tentaram se debater, todavia, foi inútil, já que em um piscar de olhos, os três passaram pela janela.

Olívia segurou um de meus braços e me impulsou para que eu também pulasse a janela, por mais que eu travasse minhas pernas no lugar e continuasse a tentar gritar. Meu coração estava acelerado e o peito subia e descia descontroladamente. 

Aquilo era surreal, não podia estar acontecendo. Não tinha como estar acontecendo. A academia era um lugar seguro, não é? Então… Por quê?

Atravessamos a área gramada a mando dos adultos que olhavam de um lado para o outro, em guarda. Não havia estrelas no céu e a lua escondia-se atrás da neblina.

Aos tropeços, chegamos ao pequeno portão dos fundos que raramente era usado. Tive um choque ao visualizar a corrente que costumava fechá-lo caída no chão juntamente ao seu cadeado e ao guarda noturno desmaiado. Passamos por ali, alcançando o lado de fora da academia. Não tinha nada além da estrada, árvores e uma van com um logotipo de sabão na lataria vermelha.

Olívia pegou um molho de chaves de dentro do seu bolso, girou-o na porta de correr da van e jogou-me diretamente no piso duro, gélido e sujo do veículo. Sérgio largou Milena e Kaíque ao meu lado e fechou a porta em um baque.

Automaticamente, ajoelhei-me e tentei ver algo pelas janelas fumê, enxergando somente os muros brancos da academia. E eu estava fora deles. 

“Não, não, não.”, o sangue bombeou em meus ouvidos e minha respiração foi cortada. 

As portas da frente bateram-se, o ronco do motor ecoou por todo o interior da van e logo as rodas começaram a se mover, agitando-nos e fazendo-nos bradar e debater-nos mais do que nunca. Kaíque chutava as janelas, Milena batia com o ombro na porta e eu… Não conseguia fazer mais nada.

Meu corpo curvou-se para frente e um líquido quente subiu por minha garganta e acumulou-se na boca, sendo obrigado a voltar por causa da fita. Era difícil de respirar. Era impossível respirar. Senti a ardência em meus olhos e a vista embaçou-se com as lágrimas. 

Pânico. E apenas isso.

 


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Notas finais do capítulo

E eles estão em apuros. Ai, ai, ai, que apreensão!

Bem, pessoal, é isso, espero que tenham um feliz ano novo ♥ e nos vemos semana que vem!

Beijos.
—Creeper.



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