Academia de Poderes Inúteis escrita por Creeper


Capítulo 39
Café com leite e incêndio humano


Notas iniciais do capítulo

Olá! Feliz 2022 a todos, espero que tenham passado bem e que esse seja um ano de vitórias e oportunidades para todos ♥

Tenham uma boa leitura.



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Não sei por quanto tempo aquela van andou, somente sei que paramos ao chegar em uma construção de tinta desbotada, poucas janelas e uma única porta, localizada na beira da estrada e rodeada por uma cerca de arame e grama alta.

Assim que os adultos nos tiraram da van, eu mal consegui me manter de pé, minhas pernas estavam completamente fracas e meu estômago revirava-se a cada passo. Ao passarmos por cima da cerca, pude avistar um logotipo de sabão na parede da construção, igual ao que havia na van.

Adentramos o lugar e o cheiro forte de mofo rapidamente nos envolveu ao sermos guiados por um corredor estreito repleto de latas de alumínio, bitucas de cigarro, embalagens vazias e ratos que caminhavam pelas sombras. Uma porta manchada pela infiltração nos esperava no final de tudo aquilo.

Ao ser aberta, avistamos o que ela guardava: uma pequena sala cheia de bagunça. Cortinas e estandartes rodeavam as paredes e caixas eram cobertas por lençóis encardidos no fundo. Havia também quatro cadeiras dobráveis de ferro e uma mesa de bar.

Três das cadeiras foram colocadas em linha reta e fomos obrigados a nos sentar tendo nossos pés amarrados às pernas de ferro por cordas que estavam jogadas pelo chão empoeirado. Devidamente presos e longe de qualquer sinal de civilização, as fitas de nossas bocas foram arrancadas grosseiramente, causando ardência em nossa pele e arrancando-nos gritos de dor.

— É bom terem entendido a situação de vocês. – Olívia segurou sua câmera e olhou para o visor.

Debaixo da lâmpada amarelada, reparei em seus cabelos ondulados e as pintas espalhadas pelo rosto. Ela aparentava estar na faixa dos 40 anos.

— O que vão fazer com a gente? – Milena inclinou-se para frente, a voz falha e embargada.

O celular de Sérgio havia começado a tocar, o que o fez sair da sala com uma expressão fechada e impaciente. Olívia observou a ação do homem com os olhos semicerrados, depois voltou-se para nós.

— Cruzar a fronteira, levá-los ao Paraguai e vendê-los. – ela puxou um cigarro do bolso de sua blusa, levou-a à boca e o acendeu. – Vocês não têm ideia de quanto crianças com poderes estão valendo. – soprou a fumaça.

Rangi os dentes e engoli em seco. As lágrimas em meus olhos haviam secado, mas o nó na garganta continuava ali. Aquilo era um pesadelo, só podia ser um.

Sérgio voltou um minuto depois e anunciou com sua voz grave:

— Nossa carona para o Paraná sai às sete da manhã. 

Olívia assentiu e encarou-nos atentamente soltando mais um pouco de fumaça e segurando o cigarro entre o indicador e o médio.

— Agora, me digam os nomes e poderes de cada um. – ordenou.

Pressionei os lábios e franzi as sobrancelhas, negando-me a dizer qualquer coisa.

— Kaíque. Transformar líquidos em pó. – o garoto ao lado de Milena falou em um tom sério.

Pisquei os olhos lentamente, incapaz de acreditar que ele havia feito o que ela mandou, justo o Kaíque, que apenas olhou-me de soslaio e fez um aceno discreto. 

Respirei fundo e procurei deixar a mente em branco. Eu estava na pior das condições mentais, não conseguiria pensar em nada melhor nem se quisesse, por isso decidi seguir o líder do Deslocados.

— Norte. Espirrar fogo. – minha voz quase não saiu.

Olívia conferiu o visor de sua câmera novamente e concordou satisfeita. Ela ergueu a cabeça e inclinou o queixo na direção de Milena, perguntando:

— E você?

Senti como se um martelo batesse em minha cabeça. Eu não havia entendido muito bem como seu poder funcionava, mas devia ser algo grandioso. Se aqueles dois soubessem, ela podia ser a mais afetada. Ou a que valeria mais.

Em silêncio, a pequena ficou cabisbaixa e uma gota de suor escorreu por meu rosto ao ver Sérgio aproximar-se a passos pesados.

— Qual o seu poder, garotinha? – agarrou uma das pernas de Milena e deu um sorriso torto.

A garota puxou o ar e arregalou os olhos apavorada. O sangue ferveu dentro de mim e automaticamente berrei enojado:

— Tira a mão dela, agora!

Atrás da cadeira, movi meus braços na tentativa falha de libertar meus pulsos da fita. O homem franziu as sobrancelhas e apertou a pele de Milena, obrigando-a a chiar de desconforto.

— Para com isso! – Kaíque pediu em um grito esganiçado. – O nome dela é Nathalia. Ela pode reviver insetos. – falou dolorosamente.

Minha expressão de raiva tornou-se confusa, assim como a de Milena. Olívia analisou o visor de sua câmera, chegou perto da garota e tocou suas madeixas rosas.

— Na foto da sua ficha, seus cabelos são castanhos. – disse desconfiada.

— E-Eu sei. – Milena balbuciou amedrontada. – Eu pintei depois de entrar na academia. – encolheu-se.

Olívia acreditou, afastou Sérgio de Milena e dirigiu-se até a porta. 

— Dos três, o loiro é o mais útil. – falou rispidamente. – Ainda assim, cuide de todos. Dinheiro é dinheiro. – e deixou a sala.

Sérgio sentou-se em uma das cadeiras restantes e ficou diante da mesa, fitando-nos feito um animal que avaliava sua presa. Isso durou por pelo menos vinte minutos, fazendo com que minha ânsia de vômito voltasse e eu tivesse de engoli-la.

Durante a próxima uma hora, o homem cruzou os braços e recostou-se na parede, fechando os olhos e ressonando. Nós três olhamos apreensivos para a porta que provavelmente estava trancada, já que Sérgio segurava o molho de chaves.

Não podíamos fazer nada além de inclinar as cabeças para cima e deixar o suor cair enquanto contávamos quantas moscas rodeavam a lâmpada.

— Ei… – Kaíque resmungou, o que acordou Sérgio de seu sono leve. – Eu quero fazer xixi.

Imaginei que o mormaço estivesse o fazendo delirar, então apenas o encarei sem muitas expectativas.

— Faça nas calças. – Sérgio respondeu de mau humor.

— Aí essa sala vai feder mais do que já fede. – o garoto rebateu. – E você não vai querer atravessar um garoto de dezesseis anos mijado pela fronteira.

Sérgio debruçou-se sobre a mesa e arqueou uma sobrancelha. Após alguns segundos, levantou-se voltando a ser a parede de carne que era, agarrou um balde jogado no canto e colocou-o grosseiramente na frente de Kaíque.

— Vai.

— Minhas mãos estão para trás. – o líder disse contido. – Eu preciso segurar o meu… Negócio.

O homem bufou, arrancou o pedaço de fita que prendia os pulsos de Kaíque, puxou as mãos dele para frente e amarrou-as de volta.

O garoto abaixou os braços e fez menção de descer seu samba-canção vermelho, todavia, parou por um instante e falou:

— Não posso fazer isso na frente de uma garota.

Milena que apenas olhava sem vida para o teto, abaixou a cabeça e ruborizou. Eu ficava cada vez mais intrigado com as atitudes de Kaíque.

— Você pode me dar água? – ele pediu.

— Achei que quisesse mijar. – o homem chutou o balde de modo raivoso, assustando a nós três com o tilintar que ecoou pela sala.

— B-Bem, sim. Mas eu também quero água. – o líder encolheu os ombros.

— Não. Agora pare de encher o saco. – Sérgio deu as costas. 

— Por favor. – Kaíque choramingou. – Não vai querer que sua mercadoria chegue com problemas, não é?

Sérgio respirou fundo, olhou para trás por cima do ombro e indagou:

— Se eu te der a porcaria da água, você cala a boca?

Kaíque afirmou rapidamente. O homem lançou um olhar ameaçador para nós e a única coisa que fizemos foi ficar estáticos em nossas cadeiras. Ele destrancou a porta, saiu e trancou-a novamente por fora.

— O que você está fazendo?! – sussurrei incrédulo.

— Pedindo água, ué. – o garoto deu de ombros.

Precisava perguntar mais algumas coisas, porém, Sérgio voltou carregando a água de Kaíque em um copo de vidro totalmente engordurado que aumentou totalmente minhas náuseas.

— Beba. – Sérgio colocou o copo nas mãos de Kaíque.

O líder ergueu as mãos até a boca, entretanto, a água se transformou em um pó esbranquiçado e o copo escapou de seus dedos, caindo no chão e estilhaçando-se em vários pedaços. 

— Como eu sou desastrado... – Kaíque comentou constrangido. – Você me descul…

A frase do garoto foi cortada. Sérgio havia agarrado seus cabelos, puxando sua cabeça para o lado brutalmente e forçando-o a cerrar os dentes. Me enchi de pavor, imaginando que o pescoço do garoto seria quebrado.

— Se continuar a me irritar, te jogo da ponte direto para o rio Paraná, seu inútil! – ameaçou entredentes. 

— Desculpa, senhor, desculpa, desculpa. – ele repetiu agonizado.

Sérgio largou seus cabelos em um empurrão e marchou de volta para a porta.

— É melhor eu sair antes que te mate. – o homem rosnou. – E é bom se comportarem, volto em quinze minutos. – e bateu a porta, trancando-a outra vez.

Assim que seus passos deixaram de ser ouvidos, me virei para Kaíque, questionando:

— Você ficou maluco?! Esse cara não é um dos nossos colegas da academ…

Engoli minhas palavras assim que vi Kaíque puxar a fita de seus pulsos com os dentes, pouco preocupando-se em machucar a gengiva. 

— Eu consegui tirá-lo da sala. – cuspiu uma mistura de sangue e saliva no chão. – O resto é com vocês. 

Eu e Milena nos entreolhamos horrorizados e um pouco fascinados. Ela respirou fundo, ponderou por um instante e sussurrou:

— Se conseguirmos sair daqui, não vamos para muito longe correndo porque eles têm uma van. Então… Vamos correr o máximo que pudermos e quando não der mais pra fugir, usamos meu poder.

— Tem certeza disso? – indaguei preocupado.

— Sim. Nunca tive tanta certeza. – ela assentiu determinada. – Só não posso usar aqui dentro, pois acabaríamos voltando para cá.

— E como saímos daqui? – Kaíque empenhava-se em arrancar a fita.

Olhei ao redor procurando por uma alternativa que não fosse a porta trancada. As janelas da sala eram vedadas por tábuas grossas de madeira pontilhadas por pregos enferrujados e parcialmente cobertas pelas cortinas e estandartes. De repente, tudo ficou claro em minha cabeça e a ideia veio feito um tapa, juntamente ao sonho que tive no final do Sarau.

— Eu já sei. Mas é perigoso. – falei pausadamente, sequer acreditando no que ia dizer. – E corremos o risco de nos ferrarmos. Muito.

— Mais do que já estamos? – Milena indagou ansiosa.

— Mais. – afirmei hesitante.

— Garoto espirro, eu aceito qualquer coisa. – Kaíque livrou-se da fita por completo, moveu suas mãos livremente e apertou os dedos.

— Vou causar um incêndio com o meu poder. – anunciei e recebi seus olhares de incredulidade. – Isso vai distrair os dois, aí poderemos fugir.

O silêncio se instalou na sala e eu mordi o lábio inferior, aflito.

— Ah, ótimo, minha vida depende do poder misterioso da café com leite e do incêndio humano. Eu sempre soube que morreria cedo, só não esperava que fosse tão cedo. – Kaíque agarrou um dos cacos do copo e começou a esfregá-lo nas cordas de seus tornozelos. – Bem, é melhor do que ser vendido no Paraguai.

Franzi as sobrancelhas e visualizei meu plano mentalmente. Bastava eu aspirar um pouco de poeira (e naquela sala tinha muita) e espirrar na cortina próxima a mim. Assim que Sérgio voltasse, sua reação instantânea seria apagar o fogo e nos aproveitaríamos para fugir.

Conferi o progresso de Kaíque em cortar suas cordas, reparando nas linhas de sangue que corriam pela palma de sua mão. Ele praguejou baixinho e torceu o nariz ao terminar de desfazer os fios. 

Finalmente livre, o garoto levantou-se e se espreguiçou.

— Como conseguiu pensar nisso? – perguntei vendo-o retirar a fita dos pulsos de Milena.

— Garoto espirro, com o tanto de gente que me odeia, o mínimo que eu tenho que saber é como me salvar de um sequestro. – ele fez menção de começar a cortar as cordas dos tornozelos de Milena.

— Não, suas mãos já estão machucadas. – ela negou com a cabeça e pegou um dos cacos de vidro do chão. – Vai soltar o Norte.

Kaíque a fitou por um instante, limpou o sangue de suas mãos no samba-canção e se colocou atrás de mim para puxar a fita que formigava em minha pele. Massageei os pulsos e girei um pouco as mãos para recuperar o movimento.

— Quantos minutos até ele voltar? – estendi a palma para que Milena me entregasse um caco. 

— Talvez dez… – Kaíque mordeu o lábio inferior e conferiu a porta.

— Seis. – Milena exclamou.

Me empenhei em esfregar o vidro contra as cordas, sentindo-o adentrar minha pele. Ignorei a dor e fechei a cara, não pararia até conseguir cortar tudo, minha vida não podia acabar ali, eu precisava voltar para a academia com aqueles dois. Estava exausto, mas as palpitações em meu peito me deixavam alerta.

— Certo, deixem suas mãos para trás e os pés encostados nas pernas das cadeiras. Temos que fingir que ainda estamos amarrados. – o garoto voltou para sua cadeira e diferente de nós, colocou as mãos para frente como havia sido deixado. – Garoto espirro, é o seu momento.

Coloquei-me na posição de antes, fechei os olhos e respirei fundo. Torci para que tudo desse certo e que se fosse para dar errado, que fosse o mínimo possível.

“Muito bem.”, pensei em um tom de determinação ao abrir os olhos.

Estiquei a cabeça na direção da cortina ao meu lado de modo que meu rosto tocasse o tecido e expirei profundamente três vezes. A ponta de meu nariz formigou e as narinas queimaram, era chegada a hora.

Em questão de segundos, meus olhos semicerraram acompanhados de algumas lágrimas e o ar quente escapou de minha boca em forma de uma chama alaranjada, unindo-se ao tecido bege da cortina e devorando-o aos poucos. 

Entre mim e Kaíque, Milena abaixou a cabeça, fechou os olhos fortemente e começou a rezar baixinho. Engoli em seco sabendo que não havia mais volta.

Uma fumaça cinza claro passou a impregnar-se no teto e eu rangi os dentes desejando que Sérgio voltasse logo. Meu coração batia feito louco e a visão desestabilizava-se facilmente, sentia que podia desmaiar antes mesmo do oxigênio começar a faltar na sala.

Milena começou a arfar desesperada e Kaíque remexeu-se inquieto. 

— Se a gente morrer… – o garoto disse com o maxilar tenso. – Eu queria que vocês soubessem de duas coisas. Primeira, eu…

Escutamos o som característico das chaves entrando na fechadura e observamos atentamente a maçaneta sendo girada. Assim que a porta se abriu, Sérgio arregalou os olhos e soltou um palavrão.

— Olívia! Pega o extintor, já! – ele bradou adentrando o local e cobrindo o nariz e a boca. – Isso é obra sua, não é, estúpido? – fuzilou-me com o olhar.

Não pude responder, pois ele usou sua outra mão para puxar minha franja e bater minha nuca nas costas da cadeira. Depois, ele foi até o fundo da sala e derrubou as caixas para tirá-las do percurso do fogo que se alastrava pelos tecidos, ficando de costas para nós.

A porta foi deixada aberta. Era a nossa chance de ouro. Nos entreolhamos e em uma perfeita sincronia impulsionamos nossos pés e largamos as cadeiras para trás em um ruído, correndo para fora o mais rápido que pudemos.

Levou menos de um segundo para que Sérgio desse por nossa falta. Ele berrou para pararmos e chamou por Olívia até estourar suas cordas vocais. Ordenando para que minhas pernas continuassem em frente e meus pulmões não me decepcionassem, lembrei-me que não pensamos no que fazer com Olívia.

A mulher surgiu no final do corredor segurando um pequeno extintor de incêndio que ela derrubou no chão ao nos ver. Olívia cerrou os dentes e veio em nossa direção apressadamente, apesar de termos travado no lugar.

— E agora? – balbuciei e olhei para trás vendo a fumaça se espalhar.

Voltei a olhar para frente quando escutei um gemido de dor. Olívia estava curvada e apoiada na parede com o extintor rolando próximo aos seus pés. Por cima de seus ombros, pude ver que Milena continuava a correr e gesticulava para que fizéssemos o mesmo.

Kaíque agarrou minha mão e juntos passamos pela mulher como se ela tivesse a maldição do líder e não conferimos mais o que estava atrás de nós, somente seguimos em frente com a adrenalina e o sangue bombeando em nossos ouvidos.

A porta pela qual entramos estava aberta e o cheiro de cigarro pairava no ar por causa da bituca ainda acesa jogada na entrada. Ignorando a brisa gélida e a escuridão da madrugada, pulamos a cerca de arame, ganhando arranhões e listras de sangue nas pernas e braços, porém, isso pouco importava.

Corremos pela estrada, corremos e corremos. Os membros indo dolorosamente para frente e para trás, o vento cortando nossos rostos e o peito queimando sem ar. 

Se a vida não passa pelos seus olhos, é porque ainda não chegou a hora de morrer. A única coisa que vi foi a lua cheia surgindo em meio a neblina, grande e brilhante. Eu queria vê-la novamente em outro lugar. 

— Já estão… A-Atrás da gente. – Milena avisou entre arfadas. Por suas pernas serem curtas, ela estava mais para trás.

Tive de conferir com os meus próprios olhos. A alguns metros de nós, um par de faróis iluminava a estrada e o motor berrava à medida que a van se aproximava de nós.

— Está na hora. – a garota parou e estendeu as duas mãos. – Apertem!

Sem questionamentos, interrompemos nossa corrida subitamente e tudo dentro de meu corpo pareceu desmoronar. Usei minha mão suada e manchada de sangue seco para apertar a de Milena ao mesmo tempo que Kaíque.

Não havia o barulho da van. Nem a luz dos faróis. Muito menos a escuridão da madrugada ou o vento. Tudo era branco e salpicado por diversas formas que flutuavam acima de nossas cabeças e portas de formatos únicos.

— O-Onde estamos? – Kaíque ofegou.

— Dentro do meu poder. – Milena caiu de joelhos. – O corredor. Não soltem minhas mãos por nada.

— É por isso que ninguém conhece seu poder. – ele balançou a cabeça. – O que são essas coisas? – sentou-se pesadamente.

— As metades úteis dos poderes. – ela respondeu cansada. 

Encarei Milena, esperando que todas minhas dúvidas fossem respondidas só por olhar para a fonte delas, todavia, minha cabeça zunia tanto que eu decidi deixar aquilo de lado e me deitar na superfície branca.

— Vão pensar que meu poder é teletransporte e desistir de nos procurarem. – Milena ponderou. – Mas só vamos sair quando amanhecer.

— E como vai saber quando amanheceu? – Kaíque limpou seu rosto.

— Eu passo mais tempo aqui do que vocês imaginam. – ela franziu as sobrancelhas. – Consigo sentir as horas passarem.

Ficamos em um absoluto silêncio, apenas observando os objetos que pairavam pela imensidão daquele lugar. Avistei uma foto polaroid, recordando-me de que Eduardo havia feito uma desaparecer. 

Enfim recuperamos nossas respirações e batidas do coração. O suor secou e as lágrimas também.

— Por que disse que meu nome era Nathalia? – Milena perguntou, havia se deitado também. – Sei que foi para proteger meu poder, mas por que logo esse?

— Nathalia é a mais próxima de mim do Deslocados. – Kaíque explicou. – Ela contou que mandou uma foto dela criança para colocarem na ficha. E ela se parece com você.

— E Olívia não podia ter fotografado minha ficha porque ela ainda está no R.C.E… – Milena contou. – Espera, sabia disso? 

— Não, foi só um chute. – Kaíque deu de ombros. – Um chute perigoso.

Lembrei-me da aparência da garota que reviveu insetos no acampamento e que namorava com o garoto da dessaturação. Ela costumava amarrar o cabelo mediano em marias-chiquinhas.

— E quanto a cor do cabelo? Como adivinhou que o meu é castanho? – Milena olhou para o garoto.

— A cor das suas sobrancelhas, café com leite. – ele indicou preguiçosamente. – E da raiz do incêndio humano.

Tive um estalo na cabeça e subitamente ergui o torso. Milena repetiu minha ação, sem palavras.

— O que tem a ver? – questionei nervoso. 

— Vocês são irmãos, não são? – Kaíque sorriu de canto.

 


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Notas finais do capítulo

E eles conseguiram fugir! E Kaíque sabe do segredo deles, mas como?

Até semana que vem.
Beijos.
—Creeper.



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