Academia de Poderes Inúteis escrita por Creeper


Capítulo 26
Nossa teoria vai por água abaixo


Notas iniciais do capítulo

Oie! Tenham uma boa leitura e um ótimo domingo!



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Aquele codinome. Sabia e não sabia de quem se tratava, mas de uma coisa eu tinha certeza: foi ele quem nos dedurou para o Felipe.

— Por que a pergunta? – Eduardo indagou cauteloso.

— Conhecem ou não? – Kaíque questionou firmemente.

— Acho que temos o direito de saber o porquê da sua pergunta. – Ienaga deu de ombros, indiferente.

— Porque alguém chamado Informante tem me enviado mensagens. – o garoto entregou o celular na mão da nossa líder. – Achei que era coisa de algum de vocês. – mostrou a língua.

Eu e Érica inclinamos nossas cabeças para espiar a sequência de três mensagens de um número desconhecido e que sequer possuía foto de perfil. Todos os balões tinham de uma a duas linhas de texto e terminavam em “-Informante”.

— É, também recebi mensagens assim. Esse não é meu número e nem de nenhum dos meus membros. – Ienaga balançou a cabeça negativamente e devolveu o celular. 

— Me empreste. – Felipe sacou seu próprio aparelho em uma mão e estendeu a outra. Kaíque o entregou com certa desconfiança.

O líder do Nova Era olhou de sua tela para a do garoto, parecendo comparar alguma coisa. Respirou fundo e revelou desviando o olhar:

— Esse mesmo número tem me enviado mensagens. 

E mostrou o seu celular para os presentes, comprovando o que havia dito.

— Não é o da Ana Carolina. – o baixinho acrescentou. – O que nos faz pensar que… – fitou Bianca de soslaio.

— O quê? Está desconfiando de mim? – a garota espalmou o peito de maneira dramática. – Foi mal, mas também tem alguém misterioso me mandando mensagens! – desbloqueou seu celular e praticamente o empurrou no rosto de Felipe.

O garoto fez uma careta, agarrou o aparelho de Bianca e contraiu os lábios ao perceber que era verdade. 

— Quer dizer que todos os líderes têm recebido essas mensagens assinadas como Informante. – Kaíque assentiu lentamente. 

— Logo… Não pode ser ninguém daqui. – Ana Carolina segurou seu queixo, pensativa. 

Os membros dos outros grupos iniciaram um burburinho agitado e olhares de soslaio se espalharam pelos bancos. Discretamente, observei que Ienaga e Eduardo se mantinham calmos até demais e tinham feições neutras. Como eles conseguiam se manter impassíveis daquele jeito quando alguém os traiu? 

— Se isso não se transformar em um problema para mim, eu não ligo. – Kaíque deu de ombros. – Algum de vocês recebeu uma grande informação? – esboçou um sorriso malicioso e ergueu as sobrancelhas.

— Não. – Felipe e Bianca responderam prontamente, quase afobados.

Semicerrei os olhos, notando que suas expressões de nervosismo denunciavam claramente que estavam mentindo. Aquilo ainda ia nos meter em apuros.

— Deve ser só alguém querendo brincar conosco. – o baixinho pigarreou e varreu o chão com os olhos.

— É, deve ser. – o líder do Deslocados bocejou. – Então, se acabamos aqui, tchau tchau.

 

>>>

 

Não havia dormido direito por causa do nó no estômago e do medo do primeiro dia de aula. Mas ali diante de meu caderno aberto e das canetas espalhadas pela mesa, reparei que poucas coisas haviam mudado. 

Estava tudo bem, não é?

Um cutucão em meu braço me trouxe de volta a realidade, fazendo-me levantar a cabeça rapidamente de modo assustado. Vinte pares de olhos me encaravam e um em especial parecia bem irritado comigo.

— Henrique, sei que o primeiro dia é um pouco mais leve e descontraído, mas isso não te dá o direito de dormir na aula. – a professora repreendeu-me.

— Desculpa. – balbuciei constrangido e dei um jeito de arrumar meu cabelo amassado. Pela saliva que escorria em meu queixo e minha lentidão, eu realmente havia dormido sem me dar conta.

— Retornando ao conteúdo… – a mulher revirou os olhos e voltou a escrever na lousa.

— Psiu.

Pisquei os olhos pausadamente até entender de qual direção vinha o som. Virei a cabeça para o lado, vendo que Érica se escondia atrás de seu livro.

— Você está bem? – sussurrou preocupada.

— Acho que sim. – respondi em um murmúrio. Na verdade, minha cabeça doía.

As aulas da manhã passaram em um sopro, dando início ao horário do almoço. O refeitório estava diferente do que vimos durante nossa reunião: flores de cartolina e cartazes de boas-vindas foram espalhados pelos pilares e paredes. Eu duvidava muito que aquilo fosse ideia do Heitor, apostava mais no Miguel ou até mesmo no Fábio.

— Acolhedor, não acham?

Desviei o olhar do meu prato para o garoto de pé atrás de Érica, o qual agitava uma garrafinha de suco enquanto analisava a decoração.

— Querem que nos sintamos à vontade. – Eduardo revirou os olhos. – Mas a única coisa que eu sinto é o cheiro da falsidade. – resmungou.

— Poxa, eu gostei. – Érica fez um biquinho.

Algo em sua frase me incomodou e quando vi as palavras já haviam saído de minha boca:

— Falando em falsidade… O que foi aquilo sobre o Informante?

Eduardo piscou os olhos lentamente, deu um sorriso esquisito e debruçou-se sobre a mesa subitamente, assutando a garota de cabelos azuis que tentava terminar sua refeição.

— O que acha que teria acontecido se não tivéssemos nos feito de sonsos? – sussurrou em meu ouvido. 

Contive o arrepio que se espalhou pela minha espinha e afastei-me sentindo as bochechas queimarem de constrangimento. Eduardo conseguia ser bem assustador às vezes.

— Desculpa, não sei o que deu em mim. – murmurei. 

— Tente ficar menos tenso ou suas juntas vão começar a ranger. – ele ergueu-se e afagou meus cabelos em uma mistura de carinho e repreensão.

Érica engoliu em seco, encolheu os ombros e ocupou-se em conferir seu celular, arregalando os olhos e ficando boquiaberta. Ela só devia ter terminado de engolir a comida antes.

— A Bianca acabou de criar o jornal! – anunciou animada e nos mostrou a conta do Babados da API. 

A foto do perfil tratava-se do desenho de uma boca rosa em um fundo preto acima da biografia: “Todos os babados da academia em tempo real!”. Havia uma única imagem no feed, sendo a frente do prédio da API.

— Tenham cuidado, ela vai precisar de fofocas. – Eduardo aconselhou. – Bom, eu e a Laura vamos tentar encontrar um esconderijo novo. Até mais, bebês. – piscou um olho e nos deu as costas.

 

>>>

 

Ao final das aulas, joguei a mochila no meio do quarto, tirei os tênis com os calcanhares e desabei o corpo no colchão afundando o rosto no travesseiro. Inconscientemente, apertei a fronha e aspirei o cheiro do meu condicionador impregnado ali. Então, eu gritei. Um grito de pura frustração que foi abafado pelo pano. 

— Eu, hein, ô esquisito. 

Um pequeno peso fez-se presente em minhas costas e eu me virei automaticamente ao perceber que não estava sozinho. Parado de pé e com a mão estendida em minha direção, Kaíque observava-me com uma expressão de incredulidade.

— Não te vi quando entrei. – murmurei sentindo o calor se alastrar por minhas bochechas.

— É, não duvido. Você entrou igual um raio.  – ele deu de ombros e sentou-se na beirada da cama. – E aí imitou uma dessas protagonistas de filmes adolescentes.

Cerrei os dentes e pressionei o travesseiro em meu rosto, escondendo-me de vergonha. 

— Vai dizer que nunca fica frustrado? – perguntei.

— Dificilmente.  – o escutei rir.  

Revirei os olhos, enfim reparando com quem estava conversando. 

— Então vai contar para o seu colega de quarto o que aconteceu? – ele deu alguns tapinhas na minha perna.

Meu estômago embrulhou-se e eu apenas continuei a apertar o travesseiro contra meu rosto como se aquilo fosse ajudar a resolver o problema. A verdade é que não se tratava apenas de frustração. Era também decepção e outras coisas confusas que passavam por minha cabeça.

Eu não conseguia colocar em palavras. Eu não queria.

Fechei os olhos fortemente, virei-me para a parede e encolhi as pernas. Lembrei-me do Eduardo falando sobre o novo esconderijo, o que me fez pensar no antigo e na lousa branca cheia de anotações que levavam a pseudo morta da Hanna Sato. 

Minha cabeça latejou diante da tortura desse pensamento e tive a sensação de ter mil alfinetes cravados na nuca quando refleti que apesar de ter a União Rebelde ao meu lado, eu me sentia assustado. 

— Mas que droga! – atirei o travesseiro para longe em um movimento brusco. 

Ignorando o garoto ainda sentado em minha cama, calcei meus tênis de qualquer jeito e me dirigi até a porta a passos pesados, abrindo-a e anunciando:

— Eu preciso dar uma volta!

E a fechei em um baque surdo. Marchando pelo corredor, puxei o celular do bolso da calça, rolei o dedo pela tela de conversas e cliquei em uma no final da lista. A nossa última mensagem marcava 27 de janeiro. 

Concentrado em meu aparelho e não me importando com a rapidez em que descia os lances de escada, saltei do último degrau para o piso do hall de entrada, todavia, meu caminho foi interrompido por alguma coisa, na qual eu trombei e derrubei. 

Instintivamente, tentei recuar alguns passos e acabei batendo os calcanhares no degrau. Arregalei os olhos e procurei pelo que quer que eu tivesse batido, encontrando uma pequena garota no chão.  

Pisquei lentamente, tentando compreender de onde ela tinha vindo. Meu raciocínio foi interrompido por seu grunhido de dor e o jeito como massageou os curtos cabelos tingidos de rosa pastel.

Hesitei em tocá-la, então apenas indaguei:

— Você se machucou?

Ao ouvir minha voz, ela levantou a cabeça revelando seus grandes olhos castanhos e bochechas rechonchudas.

— O que uma criança está fazendo aqui? – sussurrei preocupado por ter atingido uma garotinha. Olhei ao redor, temendo que seus pais estivessem por perto para brigar comigo.

— Eu não sou uma criança. – ela rebateu ofendida.  – Eu estudo aqui.  – agarrou uma pasta vermelha cheia de adesivos que havia deslizado pelo chão.

Intrigado, agachei-me para ficar à sua altura. Se ela disse que estudava ali, devia ser uma das alunas que chegou depois do almoço e que eu nunca reparei no ano passado. A cor do cabelo fazia sentido, devia ser do Super Gatinhas, embora não usasse um gloss brilhante ou algum acessório de gato.

Ao pensar em fazer mais perguntas, um par preto de All Star surgiu em meu campo de visão, logo atrás da garota de cabelos rosas. 

— Ah, você deve ser responsável por essa…  – fiquei de pé e meu coração falhou uma batida ao constatar a quem pertenciam aqueles sapatos.

Segurando uma mala de rodinhas e uma mochila pendendo nos ombros, a garota me avaliou com as sobrancelhas arqueadas. Seus costumeiros coques laterais estavam perfeitos como sempre e a franja um pouco maior do que eu me lembrava.

— Devo perguntar? – Yara perguntou indicando a garota no chão.

— É, oi para você também. – inflei as bochechas.

Yara revirou os olhos e estendeu a mão para a pequenina que agitou a cabeça em negação, levantou-se sozinha e disparou em direção à secretária depois de balbuciar alguma coisa.

— Eu trombei nela. – pigarreei sem jeito.

— É o que você costuma fazer como boas-vindas. – ela deu uma olhada ao redor.

— Já tá cheia de graça, né. – bufei. De repente, notei que o medo que eu sentia em meu quarto dissipou-se. 

Respirei fundo enquanto fitava a calça clara de Yara, não tendo coragem de focar em seus olhos, mas também achando errado olhar tanto para as suas pernas. Tomei uma decisão melhor e me distraí com meus próprios tênis.

— Bom te ver de novo. – revelei baixinho. – Achei que… Ah, esquece.  – ergui a cabeça para conferir sua expressão.

Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Não é como se ela estivesse chorando naquele momento, porém, parecia ter chorado antes.

— Ei, por que essa cara? – questionei preocupado.

— Não reclame, é a mesma de sempre. – Yara coçou o nariz e desviou o olhar.  

— Não é a mesma. – franzi as sobrancelhas. – Em geral, você tem cara de quem pode socar alguém a qualquer momento.

— Cuidado, você pode ser o alguém e esse pode ser o momento.  – ela começou a subir a escada.  – Bem, eu preciso guardar minhas malas… 

Indignado, agarrei sua mão vazia e a puxei, impedindo que continuasse seu percurso. Pelo modo como suas sobrancelhas se levantaram e a boca se abriu, eu a surpreendi mais do que o esperado.

— E então? – indaguei em um tom sério.

Yara suspirou, abaixou o olhar e encolheu os ombros, coisa que fez meu coração se apertar dentro do peito. 

— Terraço. Quinze minutos.  – ela balbuciou.

Entendendo seu recado, soltei lentamente seus dedos e deixei o braço cair ao lado do corpo. A garota não me olhou após sua fala, somente continuou a subir as escadas com a mala estalando a cada passo.

Expirei, sentei-me no último degrau e inclinei a cabeça para cima enquanto sustentava o peso do torso nas mãos. Um sorriso involuntário surgiu em meu rosto.

Divagando, observei um vulto com o canto dos olhos e virei a cabeça para conferir do que se tratava. Era a mesma garota de antes, dessa vez carregando o uniforme da API dobrado nos braços e acompanhada de Fábio que arrastava duas malas de rodinhas. Pelas suas expressões, aparentavam estar conversando animadamente.

O homem fixou os olhos em mim com uma cara de quem ia me pedir alguma coisa, contudo, assim que fez menção de me chamar, a garota balançou a cabeça negativamente. Fiz uma careta, não querendo nem imaginar o que aquilo significava.

Fiquei de pé prontamente e subi as escadas de dois em dois degraus, não queria estar ali quando ela reclamasse de mim ou quando Fábio resolvesse realmente me pedir alguma coisa.

Ela não parecia mesmo ter 15 anos, entretanto, não tinha o direito de julgá-la, afinal, eu continuava 1cm menor que Yara.

 

>>>

 

Segurei o alambrado e deixei que o vento jogasse meus cabelos para trás. Havia estado ali apenas três vezes, todavia, era um dos meus lugares favoritos da API. Conferi a hora em meu celular, percebendo que os quinze minutos passaram voando. 

Eu estava esperando-a. E estava feliz por isso. O nosso “até mais” foi mesmo um “até mais”. 

Antes que eu pudesse sorrir feito um bobo, a porta do terraço abriu-se em um rangido e uma silhueta caminhou até mim sem cerimônias, colocando-se ao meu lado.

Optei por deixá-la respirar fundo e falar quando se sentisse bem, então continuei aproveitando a brisa em meu rosto e a vista do gramado por mais algum tempo. 

— Eu… – ela enroscou seus dedos nos buracos do alambrado. – Fui ao cemitério. Por isso cheguei atrasada. – contou.

A fitei de soslaio, surpreendendo-me ao ver sua expressão dolorosa e o semblante perdido. Naquele momento, me lembrei da conversa que tivemos na sala de culinária.

— Foi difícil. – Yara engoliu em seco. – Eu não tinha ido ao túmulo dela desde o enterro. Mas depois que eu conheci a Érica e toquei no assunto contigo, eu senti que precisava ir. E é terrível da minha parte tê-la deixado esperando tanto tempo, não é?

Eu nunca havia escutado um tom como aquele vindo de Yara. Carregado de culpa e sofrimento.

— Você foi no momento em que tinha de ir. 

Ela abaixou a cabeça e apertou o alambrado fortemente. Eu não tinha ideia de como era estar no lugar dela, quanto era o peso em seus ombros ou quanto o nó em sua garganta devia estar doendo.

— Hoje é aniversário dela. – Yara fungou. – Cinco de fevereiro. Fico pensando qual seria o poder inútil dela. Se é algo que realmente foi injetado em nós, já havia um dentro dela… Ela só não chegou a ativá-lo. Ah, esquece. – curvou-se um pouco.

Cerrei os dentes ao sentir meu estômago se revirar. Prendi o ar e em um movimento simples, cobri uma de suas mãos com a minha. 

— Tudo bem, pode continuar. Eu vou ouvir. – falei suavemente.

Ela pressionou os lábios e semicerrou os olhos.

— Eu sinto falta dela. E parece traição sentir falta dela ao mesmo tempo em que não fui visitá-la nesses dois anos. Ou ao mesmo tempo em que estou me divertindo com você, a Érica e a União. – sua voz saiu feito um fio. 

Respirei fundo, puxei sua mão para longe do alambrado e entrelacei nossos dedos. De algum modo, consegui fazê-la virar-se para mim e estando frente a frente, exclamei:

— Não sou a melhor pessoa para falar disso, mas… Infelizmente ou felizmente, não sei, a vida continua. Você não precisa se sentir mal por estar feliz sem alguém que gostou muito. Você foi feliz com essa pessoa e pode continuar sendo feliz sem ela, isso não é traição.

Yara piscou os olhos pausadamente, parecia estudar minha expressão conforme eu falava. Ela usou a mão livre para enxugar os olhos cujo as lágrimas ameaçavam cair e então pontuou:

— Até que você fala um pouco bonito às vezes, bobão.

— Está se sentindo um pouco melhor, bobona?

— Talvez. Acho que amanhã vou estar bem. – ela fungou. 

Antes que eu respondesse qualquer coisa, nossos celulares apitaram. Eu teria ignorado se eles não continuassem tocando e vibrando. Bufei e peguei o aparelho no bolso, conferindo a notificação que vinha do grupo da União Rebelde.

 

Ienaga: Vejam o perfil do Babados da API. [16:56]

Ienaga: AGORA! [16:56]

 

Tocado pelas letras em caps lock, acessei o Instagram e procurei pela conta do jornal que agora possuía uma nova foto no feed onde Bianca abraçava a garota de cabelos rosas que eu derrubei no hall de entrada. Abaixo da imagem, a legenda era o que mais chamava a atenção: “Temos uma nova aluna na API!”.

Outra mensagem de Ienaga brotou na tela, ainda mais urgente.

 

Ienaga: Todos no auditório, o diretor vai apresentá-la! [16:58]

 

— Acho que precisamos ir. – resmunguei confuso e reparei no olhar sério de Yara.

— Apenas não conte a ninguém… O que eu te contei. – ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Principalmente para a Érica. – acrescentou em um sussurro.

— Não vou. – afirmei sincero. 

Guardei o celular no bolso com a mão esquerda, preparando-me para ir até a porta, contudo, percebi que minha mão direita segurava alguma coisa, acumulando calor e suor. 

Era a mão de Yara.

— Desculpe. – soltei-a automaticamente.

— É melhor irmos. – ela passou o antebraço pelo nariz e dirigiu-se à porta do terraço.

— É. – olhei um tempinho para a palma da minha mão e cerrei os dedos em seguida, correndo para alcançar a garota.

Após os diversos lances de escada, chegamos ao auditório que mantinha-se de portas abertas, deixando o trabalho do ar-condicionado e as vozes dos outros alunos escaparem. A maioria estava de pé pelos corredores das fileiras ou encostados nas paredes mexendo em seus celulares e falando de maneira absurdamente alta.

No palco, Heitor abanava-se com uma folha de papel e olhava impacientemente para o seu relógio. No vão entre as cortinas atrás do pedestal, duas silhuetas conversavam, uma do tamanho de um adulto e outra do tamanho de uma criança.

— Ah, isso vai ser divertido. – alguém ao meu lado comentou.

Eu teria ignorado caso não reconhecesse a voz e o bocejo que se seguiu.

— Uau, a gracinha apareceu. – ele inclinou a cabeça para vislumbrar a garota.

— Kaíque, por que você não vai caçar o caminhão de onde você caiu? – Yara deu as costas e prosseguiu sem mim até o palco.

— Ela é díficil. – Kaíque riu.

Acho que o difícil era ter de conviver com ele. Fui atrás da garota, olhando ao redor na tentativa de encontrar os membros da União.

— Chega de enrolações. – a voz de Heitor ecoou pelo microfone. – Tenho um recado importante para dar, então prestem atenção.

As vozes foram cessando aos poucos, sobrando apenas um pigarro ou uma tosse. Alcançamos o limite de onde podíamos nos aproximar do palco, já que pelo menos outros trinta alunos tiveram a mesma ideia e bloqueavam a passagem.

— Vou ser simples e direto. – o diretor bufou. – Temos uma aluna nova. O nome dela é Milena Lopes. 

Detrás das cortinas, a pequena figura de cabelos rosados foi gentilmente empurrada por Fábio. Ela arregalou os olhos e sua cor desapareceu, provavelmente nervosa pela quantidade de alunos no auditório.

As vozes voltaram a se erguer, ainda mais altas e empolgadas. Cabeças viraram-se para todos os lados, amigos sussurraram com amigos, teclas de celulares foram apertadas sem parar e murmúrios e julgamentos prévios explodiram.

Não me movi, apenas continuei a encarar a garota que me disse que estudava ali. Ela podia ao menos ter me contado que era uma aluna nova.

— Oh, céus, calem a boca. Eu não terminei de falar. – Heitor cerrou os dentes. – Diferente de vocês, ela não tem quinze anos. Ela tem doze. Veio do Paraná para estudar aqui. – estendeu a folha que usava para se abanar. – Então, vamos todos colaborar para que ela se adapte bem ao nosso ambiente escolar e blá blá blá... 

Eu não escutei nada depois do “veio do Paraná” e tenho certeza de que os outros alunos também não, já que todos os presentes dispararam perguntas e berros de surpresa. Não sei o que os demais estavam pensando sobre aquilo, porém, eu tinha certeza do que se passava na cabeça da União.

Afinal, aquela única garota quebrava toda a nossa teoria.

 


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Notas finais do capítulo

E a garota do cabelo rosa aparece! Por que ela diferente? O que a União vai fazer agora?

Até o próximo capítulo: "Aluna nova = mau sinal"
Beijos.
Creeper.



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