Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 9
O Cemitério de Armaduras


Notas iniciais do capítulo

Após a terrível luta entre Seiya e Shiryu no Torneio, suas Armaduras estão destruídas e Shiryu terá um preço alto para consertá-las.



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Ao sul da grande cidade à beira do rio Yangtze, está um complexo natural de montanhas por onde descem rios vigorosos. No coração alto desses montes, levantam-se Cinco Picos Antigos, a quem os mais velhos diziam se parecer com sábios anciãos sentados no horizonte. A paisagem é belíssima e o lugar ainda comporta um complexo de cachoeiras poderosas pelos vários rios que cortam os montes.

Um homem já muito velhinho está sentado diante de uma enorme cachoeira à sua frente, a maior daqueles picos; ao seu lado uma pequena bengala, na cabeça um chapéu de bambu. O rosto todo enrugado e uma barba branca até o peito. Os olhos quase fechados.

— Mestre… Shunrei disse que gostaria de falar comigo.

— Sente-se, Shiryu. — disse a voz rouca do velho.

Ela nada disse e apenas obedeceu seu Mestre. Sentou-se ao seu lado olhando para a poderosa cachoeira que despencava à frente deles.

A água batendo com força nas pedras do rio lá embaixo sem nunca parar era o som de sua infância. De seu treinamento. De seus dias alegres. De seus dias tristes. Era o som de seus dias todos. Desde que havia sido encontrada ainda muito criança próximo aos rios e trazida para viver com o Mestre naqueles Cinco Picos.

— Você não está doente, não é, Mestre? É por isso que Shunrei está tão brava… — o Mestre deixou escapar uma risada rouca e baixa.

— Vou ter que fazer a comida preferida dela por alguns dias até que ela venha a me perdoar.

— Ora, Mestre… Mas porque brincar com algo assim? Eu fico muito feliz que esteja bem, mas...

— Shiryu… — começou o velho. — Você ainda é um Dragão muito jovem. Não. Você ainda é uma peixinha que nada contra a correnteza do rio para um dia se tornar a Dragão que tanto deseja. 

— Mestre?

— Seu coração ainda é muito imaturo, minha jovem.

— Foi um teste, não foi, Mestre Ancião?

— Sim, minha jovem. — e o Mestre olhou para ela com doçura. — Um teste que custou a sua Armadura e quase lhe tirou a vida.

Shiryu ficou calada absorvendo a dureza daqueles olhos antigos, ouvindo apenas o som da cachoeira. Ela olhou de seu Mestre para a água implacável daquela queda.

— Devo esquecer de meus sentimentos durante uma batalha?

— Não. — corrigiu o velho rapidamente, sorrindo. — É preciso deixar que seu coração lhe dê forças e abra seus olhos, lhe faça ver com ainda mais clareza. Use seus sentimentos ao seu favor e não deixe que eles se tornem uma fraqueza sua, tirando seu foco, tornando-a incapaz de enxergar o que precisa ser visto.

Ao ouvir as palavras de sua Mestre, Shiryu lembrou-se que naquela Arena de batalha ela não era a única com um coração cheio. Seiya também estava ali por outros motivos muito fortes, mas ao contrário dela usou a força para acabar com o Punho e o Escudo do Dragão, tirar-lhe a vida e ainda salvá-la da morte. 

Muito longe daquele dia e daquele lugar, Shiryu quase parecia não acreditar em tudo que havia acontecido agora que estava em sua casa, ouvindo a sua cachoeira.

— Mestre… Eu ainda não entendo porque disse que meu lugar era lá. As regras não permitem que Cavaleiros lutem por objetivos próprios.

— Regras, regras… — comentou o Mestre, dando risada. — Ora, Shiryu, e onde é que está escrito que a água da cachoeira deve sempre despencar do alto do rio?

Shiryu olhou novamente para a cachoeira e abriu um sorriso. Lembrou-se do dia em que foi honrada com a Armadura de Dragão. Seu teste final foi inverter o fluxo da água da cachoeira. E certo dia, depois de muitos anos de tentativas frustradas, ela saltou com seu cosmo quente para atingir a cachoeira e levantá-la com uma voadora no céu; a água que despencava da cachoeira paralisou seu fluxo e reverteu, furiosa, pela primeira vez, como se um Dragão nascesse do fundo do rio e ascendesse aos céus.

— Sei que tem muitas dúvidas, jovem Shiryu. Mas vejo também que já tem algumas certezas. — disse o Mestre olhando para as Armaduras empilhadas que ela havia trazido.

— Vou até Jamiel, Mestre. Para que as Armaduras sejam restauradas.

— Jamiel… — ponderou o Mestre. — O caminho de Jamiel é terrível. Mesmo Cavaleiros experientes teriam enorme dificuldade para chegar até Mu. Uma Cavaleira inexperiente como você pode morrer no Cemitério das Armaduras.

— Um Cemitério? Mas a batalha contra os Cavaleiros Negros está próxima… e eu prometi que traria as Armaduras de volta. — disse Shiryu, levantando-se.

O Mestre Ancião olhou para ela com um sorriso no rosto.

Era disso que ele estava falando.

 

—/-

 

Três dias se passaram desde então; Shiryu chegou a Jamiel, uma região do Himalaia perto da fronteira da China com a Índia, mais de seis mil metros acima do nível do mar; o ar é tão rarefeito que mesmo os tibetanos montanheses da região tinham dificuldades com a escalada. Quando o ar já começou a faltar no peito da jovem Shiryu, a trilha finalmente a levou para um vale coberto de névoa das montanhas.

Ela afastou o ar com seus punhos e viu se abrir adiante um cenário grotesco. Corpos espalhados por todos os lados, decompostos e reduzidos a seus ossos, mas ainda guardando no corpo suas Armaduras totalmente quebradas e sem vida, sem cor. Era uma cena de guerra. Mas uma guerra muito antiga.

Shiryu engoliu em seco e seguiu adiante desviando de braços soltos, caveiras e restos de Armadura espalhados pelo chão. Havia um clima de morte, uma sensação fúnebre que lhe causava arrepios. O vale foi se estreitando e, conforme fechava, foi tornando-se mais escuro e tenebroso. Shiryu sentiu como se estivesse, talvez, no próprio Inferno por um instante.

Uma voz ecoou no vale, ameaçadora.

— Onde pensa que vai, criança?

Shiryu não fazia ideia de onde vinha.

— Essas são as Terras de Jamiel. — disse novamente a voz de todos os lados.

— Eu vim para ver Mu e restaurar as Armaduras de Bronze.

— Ahhh, você é uma Cavaleira? — disse a voz com certo prazer. — Que raridade. Já faz anos que não aparece um Cavaleiro aqui.

— Eu sou Shiryu, a Cavaleira de Dragão.

As vozes deram risada e se abafaram logo depois. Shiryu continuou seu caminho quando começou a escutar alguns sons no vale que ela logo adivinhou, com assombro, se tratarem de alguns esqueletos levantando-se; o som dos ossos estalando e as Armaduras mortas rangendo.

— O palácio de Mu fica adiante e a única forma de chegar é atravessando nosso Cemitério. — disse novamente a voz.

— Mas não deixaremos. Terá de provar que é digna de vestir a Armadura de Bronze e que vale a pena restaurá-la. — disse então uma segunda voz.

— Do contrário, não terá o direito de se encontrar com Mu e descansará eternamente ao nosso lado!

A Cavaleira de Dragão surpreendeu-se com o ataque rápido daqueles esqueletos trajando Armaduras mortas; viu-se encurralada dos dois lados por eles. Shiryu então usou o vale a seu favor e, saltando de lá para cá, conseguiu com facilidade evitar os ataques e ainda derrubar todos aqueles que se colocaram no seu caminho.

Mas quanto mais ela derrubava aqueles esqueletos morto-vivos, outros mais se erguiam para atacá-la, de tal maneira que o caminho adiante estava bloqueado por essas figuras fantasmagóricas e antigas.

— Tem alguém esperando ansiosamente pelo meu retorno, não posso perder tempo com vocês! — disse ela. — Dragão Nascente!

Sua voz ecoou nas paredes do vale e seu corpo, envolto por uma energia quente, avançou em um vôo rasante seguindo o caminho de seu punho para destruir todas aquelas fileiras de inimigos que se levantavam e colocavam-se entre ela e a saída do vale.

Shiryu finalmente chegou ao fim da linha e viu-se diante de uma ponte natural de pedra que ligava o final daquele vale a um rochedo em que era possível ver um templo no horizonte. No fundo da vala, ela ainda pôde distinguir diversos corpos e Armaduras mortas de antigos Cavaleiros que haviam perecido ali naquela ponte.

 

—/-

 

O templo oriental no horizonte era todo de pedra branca, embora já manchado e rachado pelo tempo. Shiryu não viu qualquer sinal de porta de entrada e podia apenas espiar por algumas janelas nos andares de cima. Confusa, percebeu ao seu redor uma energia movimentar pedras próximas a ela. As pedras flutuaram e então foram todas em direção de Shiryu, soterrando-a.

Com facilidade, ela explodiu as pedras para todos os lados, se livrando daquele truque.

— Quem está aí? — perguntou Shiryu ao se livrar das pedras e observando, finalmente, que havia alguém no último andar da torre. — É assim que são recebidos os visitantes por aqui?

— Cale a boca! — disse a voz infantil no topo da torre. A criança levantou o braço e Shiryu percebeu ao seu lado levitar uma pedra sozinha no ar, que prontamente foi destruída por seu cosmo.

— Isso é telecinese, não é? — comentou Shiryu. — Pois eu vim de muito longe, estou muito cansada para ser recebida com uma chuva de pedras. Percorri todo esse caminho para consertar as Armaduras Sagradas, você não poderia descer um momento?

— Porque é que você não sobe, amiga? — debochou a criança. — Se conseguir chegar até aqui, talvez eu torne seu desejo realidade.

Shiryu deixou as Armaduras no chão.

— Mas vai ver uma coisa… — disse ela, baixo, amaldiçoando aquele moleque.

E deu um soco potente no primeiro andar daquele templo, que não tinha janela, nem porta, só as paredes. O suficiente para chacoalhar a estrutura inteira e, pego desprevenido, tombar o moleque desequilibrado do quinto andar até onde ela estava. O garoto caiu no colo dela, e ela o deixou cair no chão, para muita reclamação do menino.

— Quero que conserte essas duas Armaduras Sagradas. Eu não tenho muito tempo.

— Mas eu não posso fazer isso. — disse o garoto, que era muito mais novo do que ela; tinha no braço um bracelete de ouro e na testa duas pintas claras. — Eu não sou a mestre Mu!

— Não é Mu? Então… onde ela está? — perguntou Shiryu.

— Como onde? Está do seu lado. Você não percebeu? Ela esteve aí esse tempo todo! — respondeu o garoto.

Shiryu ficou confuso, pois não havia ninguém ao seu lado. Olhou de um lado, depois de outro, e quando voltou a olhar para sua esquerda percebeu que havia mesmo uma pessoa ali. Ela caminhou até o garoto estabacado no chão e encarou Shiryu, que estava em choque, pois não havia dado por sua presença até então.

— Eu sou Mu. O que você quer de mim? — disse ela e sua voz era calma.

Era uma mulher de cabelos longos, mas presos no final do comprimento e, assim como a criança, com duas pintas claras na testa. Shiryu descansou a mão na Urna de sua Armadura.

— Só tem um motivo para a vinda de uma Cavaleira até aqui. Eu trouxe comigo as Armaduras de Dragão e de Pégaso. Será que poderia consertá-las?

A mulher olhou para as Urnas e com um movimento de mão, simplesmente fez com que elas se abrissem e revelassem os totens de Pégaso e Dragão, formados pelas diversas partes das Armaduras. Shiryu ficou surpresa com aquele poder e Mu impressionada com a profundidade da destruição e das rachaduras nas duas Armaduras.

— Por favor, eu preciso muito delas. — pediu Shiryu.

Ela olhou as Armaduras de onde estava e virou-se para o templo ligeiramente inclinado.

— Sinto muito, não posso lhe ajudar.

— Mas como não pode? — implorou Shiryu.

Mu então ergueu seu braço e o templo tremeu diante de seu poder e voltou a se endireitar. Shiryu sentiu uma cosmo energia como nunca havia sentido antes e impressionou-se com ela. 

Ao retornar para as Armaduras, ela explicou.

— Essas Armaduras estão mortas.

— Mortas? — confundiu-se Shiryu.

— Sim. As Armaduras também têm vida e uma vez que elas morrem, nem mesmo eu consigo revivê-las.

— Mas… precisamos enfrentar os Cavaleiros Negros e não poderemos enfrentá-los sem nossas Armaduras.

— Eu realmente sinto muito. — finalizou ela, muito calmamente, voltando-se para o templo.

Shiryu correu até ela e implorou.

— Por favor, espere, Mu, você é a única pessoa do Mundo que pode consertar uma Armadura Sagrada. Se recusar o meu pedido, eu não terei a quem recorrer. — implorou ela. — Por favor, pelo menos tente!

Mu olhou com calma, mas sem se abalar para a jovem garota à sua frente implorando sua ajuda. Segurou em sua mão e Shiryu sentiu como ela tinha o toque quente; tudo sobre aquela mulher, por algum motivo, lhe evocava uma calma que mesmo diante de seu desespero era de certo modo reconfortante.

— Existe somente uma única maneira de reviver uma Armadura Sagrada. — começou ela.

— Qualquer coisa. — disse ela e Mu a encarou seriamente.

— Preciso de sua vida.

Shiryu ficou calada sem compreender exatamente o que aquilo significava.

— Você precisa arriscar a sua vida e as chances de não resistir são muito altas. Então pense muito bem, Cavaleira, sobre o que você quer fazer.

— Minha vida… — refletiu Shiryu.

Pois sua vida havia sido salva por Seiya. Ela já havia morrido uma vez e graças ao carinho de Shunrei, a força de Seiya, os cuidados de Shun e de todos, estava viva. E agora ela era a única esperança de que Seiya pudesse ter alguma chance naquela batalha que era tão importante para ele. E para ela também. Desde o momento que havia prometido à Shun voltar com as Armaduras, ela já havia tomado sua decisão.

— Eu quero fazer, Mu. Vou arriscar a minha vida.

Mu concordou.

E o risco era mesmo um sacrifício enorme que poderia custar a vida de Shiryu; uma vida que ela já havia quase perdido e que agora, sem pensar, aceitou dar para que Seiya pudesse ter uma chance. E morreu nas mãos de Mu; seu corpo foi engolido por uma dimensão infinita em queda eterna para o Mundo dos Mortos. Seu grito ecoando pelas paredes do Cemitério das Armaduras, juntando-se ao exército de esqueletos sentinelas que nunca descansavam.

— Seiya! Acorde Seiya!

O garoto acordou chacoalhado pelo amigo que dormia na cama ao lado no meio da noite. Era véspera da batalha, e há semanas o jovem Seiya sonhava que Shiryu partia.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Exatamente como os eventos do Mangá. Não se muda o que é perfeito. =)

PRÓXIMO CAPÍTULO: A SILHUETA NA NÉVOA

Chega finalmente o dia da batalha contra os Cavaleiros Negros!



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