Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 8
Jovens de Sangue Quente


Notas iniciais do capítulo

Seiya e Shun retornam ao orfanato após a batalha no píer para se recuperarem. O misterioso Cavaleiro de Gelo ataca novamente e os amigos ainda recebem a visita de uma garota muito famosa: Saori Kido.



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Os olhos se abrem lentamente, pois a luz do fim da tarde escapava das cortinas de seu quarto de hospital e iluminava seu rosto. Embora em franca recuperação, Seiya havia escapado muito antes de receber alta e novamente expôs seu corpo de garoto a uma situação extrema de batalha. Naturalmente, acabou desmaiado no píer e somente veio a acordar no dia seguinte. No hospital outra vez.

Não era verdade que somente o sol o havia acordado, pois a televisão de seu quarto também estava ligada e Saori Kido estava fazendo um pronunciamento para a imprensa.

— Desliga isso. — pediu ele e a TV prontamente desligou.

— Está acordado, Seiya? — perguntou a voz de Shun.

— Acho que sim. — respondeu ele.

— Os médicos disseram que é só sono. Hoje você já vai poder ter alta.

A voz de Shun fez voltar a Seiya alguns pesadelos que tivera na noite anterior, mas que conforme a sua mente despertava, mais e mais ele sabia que não eram frutos de um delírio.

— Conseguimos recuperar a Armadura de Ouro?

— Algumas partes apenas. — respondeu Shun e Seiya lembrou-se das lutas no píer.

Lembrou-se com amargura de não ter conseguido fazer a sua parte. 

— E como você está, Shun? — perguntou ele, finalmente lembrando que a dor maior ali naquele quarto na verdade era aquela no coração do amigo.

— Não sei. — começou ele. — É tão bom saber que minha irmã está viva, mas…

— Vamos dar um jeito, Shun. — prometeu Seiya.

Shun ficou calado e trouxe até Seiya uma muda de roupa.

— Vou te acompanhar até o orfanato, Miho está te esperando com as crianças.

— Talvez elas me matem dessa vez, Shun. — disse Seiya, já imaginando Makoto no seu pescoço.

O trajeto foi feito em um carro da Fundação; os dois em silêncio vendo a paisagem rolar pela janela. O carro deixou os jovens na porta do Orfanato das Estrelas, onde Miho já os esperava.

— Seiya! — veio ela ao perceber o carro chegar.

— Olá, Miho. Muito obrigado por ter pedido ao padre para nos deixar ficar alguns dias. — agradeceu Shun. — Consegue ajudar o pobre coitado até a casa?

— Também não é assim, Shun. Eu já estou bem. — protestou Seiya. — Onde você vai?

— Eu preciso visitar um lugar que é muito importante pra mim.

— Eu vou com você. — ofereceu ele.

— Desculpa, Seiya, mas eu gostaria de ir sozinho até lá. Eu logo estarei de volta.

— Shun… — começou Seiya. — Não se culpe por sua irmã.

Shun não respondeu e apenas sorriu de volta, sem jeito, antes de deixar o amigo com Miho. Seiya entrou, as crianças estavam em outro cômodo tomando aulas de matemática e ele teve algumas horas de paz com Miho. Ela lhe disse que ainda não havia notícias de Seika, mas só se falava na Guerra Galática e que o anúncio dela ter sido encerrada foi um choque para todos.

 

—/-

 

Sozinho, Shun decidiu ir até um trecho de muitas árvores na cidade, próximo ao litoral. Era um lugar um pouco distante dentro de um parque, mas muito importante para ele. Em uma clareira, uma grande árvore se destacava e nela Shun encontrou aquilo que havia ido buscar: diversas marcas de punho e lascas ao lado do tronco. Era ali onde sua irmã treinava seus golpes quando era criança. Era onde ela também lhe ensinava a se defender.

Shun colocou a mão sobre as marcas e experimentou lembrar-se de sua infância com ela. Sobre como ela teve de cuidar de Shun desde o dia que sua mãe morreu, sobre como foi ela quem praticamente obrigou a Fundação a adotá-los juntos e também foi ela quem protestou com a mesma Fundação a fim de que mudasse o destino de Shun e fosse em seu lugar. Sofrendo um treinamento infernal, junto às piores pessoas e condições.

— Ela dizia que a única chance que a gente tinha era ter os punhos fortes para conseguir algo. — disse Shun consigo mesmo, lembrando-se das palavras de sua irmã. — E hoje, tantos anos depois, ela usa seus punhos para destruir e ferir. Por que tanto ódio? O que aconteceu ontem parece ter sido um pesadelo.

A sua tristeza era enorme e o que Shun mais queria era pedir perdão à sua irmã. Limpou as lágrimas, decidido, e deixou a árvore com um propósito: ir sozinho até onde ela estava para encarar seus pecados.

Mas Shun foi surpreendido por uma mudança brusca naquele bosque. Uma névoa invadiu o espaço das árvores e se espalhou por todas as direções, a temperatura caiu bruscamente e então do céu branco uma neve estranha começou a cair. Fora de época.

O céu tornou-se claro e a neve se precipitou ainda mais forte, cobrindo a grama de uma camada fina de gelo. Uma neve impossível, pois ela era negra. Shun logo adivinhou que não era algo normal. Lembrou-se do ataque a Ichi. E colocou-se em guarda.

— Apareça, Cavaleiro do Gelo!

A sua resposta foi uma risada de escárnio seguida de um estrondo nas costas de Shun: a árvore tão especial para ele havia sido estraçalhada, trazendo abaixo sua copa e tronco. Shun precisou saltar para não ser atingido.

Ao longe percebeu uma silhueta escura entre a neve se aproximando. A neve era mesmo um espetáculo impossível, pois ela vinha do céu negra em flocos e cristais escuros, para se diluir e cobrir a grama com a neve branca a qual Shun estava mais acostumado.

Antes que pudesse discernir quem era o Cavaleiro do Gelo, foi atingido por seu punho ainda duas vezes, sendo arremessado contra uma outra árvore. Sem a sua Armadura, Shun era uma presa fácil para um oponente como aquele.

Seu algoz o segurou pelo queixo e Shun pôde ver claramente que seu elmo era um majestoso Cisne. Mais não viu, pois viu-se preso pelas mãos e pernas em um enorme Cristal de Gelo negro.

Sentiu que talvez morreria ali, vitimado por seus pecados de ter usado sua Armadura para encontrar sua irmã, enfrentado Cavaleiros em um Torneio, quebrado seu juramento de Guerreiro e em último caso ser a causa da loucura de sua irmã. 

Desmaiou congelado, apenas para acordar horas depois, novamente sob uma relva verde e livre, como se despertasse de um pesadelo. Nenhum sinal do Cavaleiro de Gelo. Nenhum sinal de neve.

A árvore destruída atrás de si, no entanto, lhe deu a certeza de que não tinha tido uma alucinação. Ficou então com uma pergunta na cabeça: quem havia lhe salvado?

 

—/-

 

Em um quarto coletivo no Orfanato das Estrelas, Miho entra trazendo um chá quente de ervas. Shun está na cama, sentado, coberto com uma manta, com Seiya na sua frente.

— Obrigado, Miho. — agradeceu Shun.

— Vou cuidar das crianças para que deixem vocês um pouco em paz. — disse ela ao sair.

— Está melhor mesmo, Shun? — perguntou Seiya preocupado.

— Sim, é só o frio no corpo, mas logo passa.

— Então o Cavaleiro de Gelo é mesmo o Cavaleiro de Cisne. — ponderou Seiya. — Você não devia ter ido sozinho, Shun. De agora em diante, vamos ficar juntos.

Shun ficou calado e tomou um gole daquele chá revigorante. Após chegar ao orfanato muito sujo e molhado, Shun foi obrigado por Seiya a tomar um banho quente e se esquentar, para lhe contar tudo que havia acontecido. Mas Shun não contou tudo que havia acontecido naquele dia.

Tirou do bolso de sua jaqueta um bilhete muito surrado e úmido.

— Esse é um bilhete da minha irmã. Ela deixou na Mansão ontem à noite.

Seiya ficou surpreso e leu o bilhete em silêncio; Fênix desafiou a Fundação a levar o restante da Armadura de Ouro ao Vale da Morte em uma semana. Um desafio e uma ameaça. Devolveu o bilhete para Shun olhando para ele.

— Você quer estar lá, não é? — concluiu Seiya, mas Shun não respondeu. Voltou a tomar um gole do chá. — Pois eu também vou!

Shun olhou para ele, sorrindo.

— O que foi?

— A Shiryu tinha razão.

— Razão de quê?

— De que você iria querer ir pra essa armadilha também.

— Estamos nessa juntos, Shun. — disse Seiya. — E além do mais, Shiryu praticamente morreu faz poucos dias. Ela tem de se cuidar e ficar com o Mestre dela. Não vou te deixar sozinho.

— Está enganado se acha que ela vai pra China descansar.

— Como assim?

— Como eu disse. Ela sabia que você ia querer lutar, mas a sua Armadura está toda destruída.

— Eu não dou a mínima!

— Exatamente. E por esse motivo, Shiryu levou sua Armadura para ser restaurada.

— Restaurada? — surpreendeu-se Seiya. — Isso é possível?

— Sim. Ela partiu com a Armadura de Dragão e de Pégaso. Falou que estará aqui de volta para o dia da batalha. — Seiya sentou, surpreso.

— Shiryu…

 

—/-

 

Os dias foram passando. Se iam se hospedar no Orfanato, Shun e Seiya, por serem mais velhos que as crianças, teriam de ajudar Miho com os afazeres do complexo, principalmente porque estavam com uma pessoa a menos trabalhando.

Seiya varria, passava aspirador, dava bronca em Makoto, enquanto Shun cuidava da cozinha, tirava pó, colocava roupa pra bater, estendia. E os dois ainda precisavam dar um jeito nas crianças: Shun ensinava alguma coisa de defesa pessoal e também cuidava quando um deles se machucava; já Seiya foi flagrado por Shun ensinando os segredos do Cosmo em uma sessão em que Makoto já estava socando pedrinhas a torto e a direito.

— Seiya! Não dá pra ensinar eles a usar o Cosmo assim sem supervisão, você tá maluco?!

— Ah, Shun, essas crianças não vão sair soltando Meteoro do nada, né...

Os dias eram agradáveis, pois deram aos dois a oportunidade de viver uma vida simples, muito atarefada, mas muito próxima também a de uma pessoa normal. Como Miho, que se desdobrava para fazer tudo praticamente sozinha. Havia sempre em Shun uma tristeza quando caía a noite; Seiya passou a perceber isso no amigo. Ele sabia que, no fundo, Shun contava os dias.

Pois certo dia um carro muito imponente estacionou na frente do Orfanato e imediatamente atraiu a atenção das crianças — e até mesmo de Seiya e Shun, que brincavam com elas no jardim da frente. Saiu do carro Saori Kido com toda sua elegância.

Ela foi recebida com festa pela criançada, principalmente pelas meninas, que adoravam vê-la na TV; era realmente um acontecimento ter uma personalidade tão famosa entre eles. Até Seiya não deixou de achar graça ao ver que Saori perdia um pouco de sua compostura ao ter de lidar com aquela turminha da pesada.

Ela os cumprimentou muito educada e entrou para falar com o padre responsável pelo Orfanato.

— O que será que ela quer aqui? — perguntou-se Seiya.

— Ela disse que gostaria de conversar com vocês a sós. Eu vou entrar com as crianças. — disse Miho, botando todo mundo pra dentro.

Seiya e Shun ficaram sentados no balanço quando viram Saori sair do escritório e caminhar até eles. Não se levantaram e, para surpresa dos dois, ela também sentou no terceiro balanço vago, ao lado de Seiya, e o garoto sentiu que havia algo estranho com ela.

— Fico feliz que esteja melhor, Seiya. — começou ela.

— Como estão Jabu e Alice? — perguntou Shun e ela olhou para frente com um semblante fechado.

— Vão ficar bem. — disse ela, engolindo em seco, e Shun percebeu que havia algo errado.

— O que veio realmente fazer aqui, senhorita? — perguntou Seiya.

— Vim para ver como vocês estavam. — disse ela.

— Não me diga que a Rainha da Fundação veio até esse Orfanato simples só pra ver se a gente tava bem?!

Ela não respondeu.

— Está tudo bem com você, senhorita? — perguntou Shun, e ela desviou o assunto.

— Sim, eu apenas espero que a Shiryu consiga restaurar as Armaduras a tempo.

Seiya levantou-se, revoltado.

— Ela sabe disso? — perguntou Seiya a Shun, mas o amigo não respondeu. — E você só se importa com a restauração das Armaduras? — perguntou Seiya a Saori. — Não está preocupada com ela, já que faz poucos dias que seu coração parou? E ainda assim ela se dispôs a ir até a China para nos dar uma chance?

— É claro que estou preocupada com ela, mas acima de tudo eu estou preocupada com você, Seiya.

E finalmente ele foi pego desprevenido, pois não esperava aqueles olhos preocupados da garota.

— Comigo? Preocupada comigo?

— Sim. Eu sei que se Shiryu não voltar a tempo, você vai querer estar ao lado de Shun e lutar contra os Cavaleiros Negros mesmo sem sua Armadura. E isso seria loucura!

— Eu não me importo de lutar sem a minha Armadura. Eu estarei ao lado do Shun custe o que custar!

— E é por isso que estou preocupada.

Embora todo o desgosto de Seiya com aquela garota e com tudo que ela representava, havia nos olhos dela uma dor que não esperava ter encontrado; e a preocupação da qual ele duvidava, não teve dúvidas que era de coração. Por mais que ele não quisesse acreditar, Saori estava mesmo preocupada com ele.

Ela então se levantou e se despediu dos dois, mas Seiya percebeu que algo caiu de sua roupa sem que ela notasse. Um pingente. Ele o recuperou do chão e percebeu que já tinha visto aquele Pégaso antes. Já tinha recuperado ele antes.

— Senhorita… — começou ele.

— Seiya, eu gostaria que me chamasse de Saori daqui em diante. — pediu ela.

— Ah… Saori. Você deixou cair. 

Seiya percebeu que Saori deixou escapar um pouco de sua dor ao ver aquele pingente; ele mesmo sentiu um calafrio imenso no corpo.

— Obrigada, Seiya. Isso era de alguém que foi muito importante pra mim.

Ela o tomou e entrou no carro para partir.

Pela primeira vez, ao ver Saori ali naquele balanço com Shun e sua dor com aquele pingente, Seiya pensou que talvez ela não fosse assim tão diferente deles.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Esse é um capítulo de passagem, como eu chamo. Um momento depois de uma grande batalha que os protagonistas refletem sobre si. Eu adorei fazer Seiya e Shun mais próximos e capítulos como esse em que os dois moram juntos no Orfanato das Estrelas servem para criar essa conexão maior. Procurei manter o mistério do Cavaleiro do Gelo que ataca Shun, tentando manter no ar sua identidade. E a cena final com a Saori é para mostrar para Seiya e Shun que embora eles sejam protagonistas, há histórias acontecendo que eles não fazem ideia. E a ideia foi começar a humanizar um pouco mais a princesa do torneio.

PRÓXIMO CAPÍTULO: O CEMITÉRIO DAS ARMADURAS

O que será preciso para Shiryu consertar as Armaduras de Dragão e Pégaso?



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