Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 49
A Cólera do Dragão


Notas iniciais do capítulo

O ataque à Palaestra que matou Xiaoling e a união de corações entre duas amigas na boca do Inferno.



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Palaestra era um pequeno monte que erguia-se em uma ilha rochosa na foz de um rio perdido e isolado no meio da Europa. Um bonito templo foi erigido para Atena no topo do monte, mas o complexo de Palaestra tinha também um centro escolar para diversas disciplinas, bem como áreas externas para o treinamento físico de aspirantes a guerreiros de Atena.

A pequena ilha rochosa conectava-se com a margem do largo rio por uma ponte de pedra branca lindamente detalhada.

Era um forte para Atena.

Ali, poucas pessoas moravam havia pelo menos uma semana, desde que sua construção havia sido finalizada em imenso segredo. Pessoas que cuidavam da limpeza e da manutenção do que era necessário para que funcionasse plenamente.

E, todos os dias, novos funcionários e pessoas diversas chegavam, todos escolhidos minuciosamente para servir o propósito de Atena por um esforço de Saori e Mayura. Xiaoling era quem as recepcionava com o maior sorriso que podia ter; lhes dava um bonito livro pequeno que era um guia de Palaestra com suas localidades, bem como de suas estritas regras.

Jabu também ajudava os novos chegantes a se assentarem em seus dormitórios, enquanto Ichi apresentava a todos as áreas externas e Jack fazia a visita guiada pelas salas temáticas dos ambientes escolares e o maravilhoso planetário.

Certo fatídico dia, Xiaoling teve a surpresa e o prazer de ver chegar entre os aliados uma garota e um garoto mais velho: eram Pégaso Negra e Cisne Negro, que haviam sido vencidos por Saori e Seiya no Vale da Morte há um tempo atrás. Eram, afinal, órfãos da Fundação Graad que haviam falhado em suas missões pela Armadura de Bronze e que se juntaram à Ikki por vingança. Ikki, no entanto, esteve junto dos dois recentemente e os convenceu a unir forças em Palaestra, conforme disseram.

Uma pena o dia terrível em que chegaram em Palaestra.

Pois aqueles dois não foram os últimos a aparecerem ao final daquela ponte branca.

Enquanto dava as boas-vindas aos dois, Xiaoling viu na outra margem da ponte branca uma silhueta dourada.

Seu estômago tombou imediatamente e, ao seu lado, tanto a garota como o garoto colocaram-se de prontidão.

— Entrem! — pediu ela, desesperada.

Ao entrar para o forte por um enorme pórtico para um pátio grande, Xiaoling olhou para cima e viu Jack no alto de um farol. O enorme Cavaleiro de Urso soprou um enorme chifre que era como uma sirene para avisar aos habitantes de Palaestra sobre o perigo que estava ao redor.

Além de funcionários, Palaestra já tinha um pequeno contingente de guerreiros e guerreiras que vieram de muitas partes do Mundo para unirem-se àquela causa. Todos colocaram-se em prontidão; haviam aqueles ex-Cavaleiros Negros, refugiados da Ilha de Andrômeda, os Cavaleiros de Bronze que haviam lutado na Guerra Galática, bem como Shinato e Mirai, os aprendizes de Mayura, e alguns outros Cavaleiros de Bronze que a Coruja de Atena havia conseguido contactar pelo Mundo e que não haviam sido seduzidos pelo Santuário.

Pois de nada adiantou.

O Cosmo de Ouro invadiu Palaestra aos poucos como uma névoa que atravessa paredes e rochas tomando conta de tudo e de todos. O céu acima do monte tornou-se escuro como a noite e Xiaoling viu, com assombro, que dezenas de fogos-fátuos eram sugados de todas as partes daquele monte para uma fenda aberta no céu.

Uma fenda que mostrava a todos em Palaestra as colinas escuras do limiar do mundo dos vivos e dos mortos. Ao lado de Xiaoling, uma jovem que cuidava das flores do jardim caiu no chão; de seu peito, a chama branca, que era seu espírito, deixou seu corpo para aquele umbral no céu.

— Meteoros Negros!

— Nevasca da Noite!

Xiaoling escutou como os Cavaleiros Negros, mesmo sem suas desajeitadas proteções, avançaram pelo pórtico para atacar Máscara da Morte, que marchava pela ponte na direção de Palaestra. Não tinham sequer ideia do que era um Cavaleiro de Ouro, e tudo que Xiaoling viu detrás da muralha de Palaestra foram os dois espíritos subirem em direção ao céu.

Escutou uma voz lhe gritar o nome e, olhando para trás, viu Jabu e Ichi aparecerem com suas Armaduras de Bronze e a Urna da Ursa Menor para que ela se preparasse para a batalha. E assim ela fez, ainda que soubesse que ali morreria lutando, pois não podia ter qualquer outro resultado. Ao menos morreria ao lado de valorosos guerreiros, pensou.

O Cavaleiro de Ouro era uma mulher maravilhosa e terrível que pisou com seu salto dourado dentro do pátio central de Palaestra e viu ao seu redor três Cavaleiros de Bronze prontos para lutar. Xiaoling viu com terror que seus olhos escuros foram diretos nela.

Strati di Spirito!

Xiaoling imaginou que o objetivo era ela própria e tomou uma decisão no último momento: acertou Jabu e Ichi de forma violenta com suas pernas de modo que os dois foram arremessados para dentro do rio enquanto ela foi sugada para dentro do corpo de Máscara da Morte.

Ao abrir os olhos, depois de sugada para dentro do peito da Cavaleira de Ouro, Xiaoling viu-se, no entanto, de volta à Rozan; as bonitas montanhas, o gramado verde, as árvores retorcidas e as quedas bonitas de água.

— Xiaoling. — chamou-lhe uma voz familiar. 

Era Shiryu que a chamava do outro lado de uma ponte pênsil de madeira.

Ela correu até sua amiga e a abraçou de saudade.

Viu que ela estava bem. Ela enxergava novamente.

— Seus olhos, Shiryu. 

Mas os olhos de Shiryu não eram estranhos apenas por ela poder enxergar, mas também por terem uma cor estranhamente carmesim e sua íris mais fina do que o normal. Havia algo estranho nos olhos de sua amiga.

— Você quer ser mais forte, Xiaoling?

— Como assim, Shiryu?

— Para vencer os odiosos Cavaleiros do Santuário?

Shiryu então abraçou-a novamente.

— Posso despertar o poder que está dentro de você.

— Shiryu, o que quer dizer com isso?

Xiaoling olhou para suas mãos nas costas de sua amiga e percebeu que sua Armadura de Bronze lentamente tingia-se de um tom escuro. Sentia dentro de si um gosto horrível e o peito encheu-se de angústia.

— Venha, Xiaoling, venha ser uma de nós. — falou sibilante a voz de Shiryu.

O pico da montanha de Rozan brilhou em ouro e explodiu em mil pedaços, revelando à sua frente a figura daquela Cavaleira de Ouro de pé sobre um rochedo cinza em uma colina fúnebre, onde muitas pequenas fogueiras brancas se espalhavam.

— Usar a aparência de um ente querido para persuadi-la. — falou sua voz grave e sedutora. — Vocês são ainda piores do que eu.

De seu dedo dourado, Xiaoling viu uma chama branca surgir.

— Agora eu peguei vocês pelo rabo, seus vermes. Eu, Máscara da Morte de Câncer, vou acabar com suas podres existências.

— O que está acontecendo? — perguntou Xiaoling.

Máscara da Morte olhava para um aglomerado de espíritos acima de suas cabeças.

— Os Remanescentes das forças de Éris.

— Éris? Éris foi selada. — disse Xiaoling para a Cavaleira de Ouro, mas ela sorriu para ela.

— Esse é o limiar entre os vivos e os mortos. Quando abatemos a Deusa Éris, seus servos perderam a força para manter um corpo físico e fugiram para cá. — falou ela, calmamente, sem tirar os olhos da nuvem de espíritos. — É o lugar perfeito para juntarem forças novamente enquanto esperam uma nova chance para reviver.

Olhou então para Xiaoling com seus olhos negros e lindos.

— E, como eu imaginei, elas encontraram raízes entre os traidores do Santuário que juntaram-se aqui neste lugar. E aqui esses vermes da Discórdia poderiam se apoderar de todos vocês feito parasitas.

A nuvem de fogos-fátuos acima de suas cabeças moveu-se com mais rapidez e uma voz cacofônica reverberou naquelas colinas.

— Maldita. Não esperávamos que uma mera humana seria capaz de compreender nosso plano.

Máscara da Morte riu.

— Um Cavaleiro normal realmente jamais suspeitaria. Mas aqui é o meu quintal, para azar de vocês.

As vozes riram lentamente.

— Uma Cavaleira de Ouro. Você fede à matança e ao sangue que nossa mãe tanto adora. Parece mais uma semelhante nossa do que um Cavaleiro de Atena.

Xiaoling viu um largo sorriso no rosto de Máscara da Morte.

— Pouparei suas vozes do convite vil. Eu jamais me dobraria à uma covardia como servir à uma Deusa que suja meu quintal dessa maneira. Portanto, voltem ao esquecimento que pertencem! Strati di Spirito!

Máscara da Morte ergueu seu braço com o dedo em riste e obliterou os espíritos ao seu redor, pois sua técnica terrível era ainda mais poderosa quando utilizada naquele umbral. Xiaoling viu como a nuvem de espíritos clareou e desapareceu completamente no céu escuro daquelas colinas.

— Está feito. — disse ela, finalmente colocando-se de costas.

— Espere. — pediu Xiaoling. — Esse era o seu verdadeiro objetivo?

— Meu verdadeiro objetivo é lutar pela paz. — respondeu ela, apenas.

— E pra isso precisou matar todo mundo em Palaestra? Era necessário sacrificar suas vidas para atrair os Remanescentes de Éris?

— Não se engane, garotinha. — falou Máscara da Morte. — Não foi uma escolha cruel. Naquela ilha estavam traidores do Santuário que deveriam ser punidos de qualquer maneira. E na verdade, como posso ver agora, você foi enviada ao limiar do submundo com seu corpo e espírito graças à semente de Éris que havia em você.

— Então não precisava ter matado todo mundo! — vociferou Xiaoling.

Xiaoling sentiu-se finalmente culpada, mas Máscara da Morte pouco deu por seus sentimentos e deixou escapar uma gargalhada.

— Você é muito nova, menina. — disse ela. — Vou lhe dar uma dica para aliviar sua dor. Vê aquela fila? Tome seu lugar nela e jogue-se no buraco.

Máscara da Morte então puxou sua capa branca para cobrir-lhe a Armadura de Ouro e Xiaoling viu que ela simplesmente desapareceu daquela terrível colina, deixando-a sozinha ali.

No lugar em que havia desaparecido, no entanto, Xiaoling viu uma efêmera chama branca da Discórdia que continuava existindo. Dentro do seu peito, um ódio imenso.

 

—/-

 

Shiryu viu que as duas à sua frente discutiam.

Ragazza Infernale. — desapontou-se Máscara da Morte ao ver Xiaoling ao seu lado. — O que faz aqui ainda? Eu já não disse que era pra você entrar na fila e cair naquele maldito buraco?

— Escute aqui, Signora Morte, você não fez o seu trabalho direito e eu tô há dias aqui lutando contra um tanto de espírito de Éris que você deixou vagando por aqui.

Máscara da Morte olhou-a, surpresa, e então pareceu ter adivinhado o que havia acontecido.

— Esse seu peito cheio de ódio continuou atraindo as forças de Éris, que inferno de garota.

— E não é só uma nuvenzinha igual aquela que você venceu, os Remanescentes de Éris agora têm corpo e forma!

— Ora, ao menos você foi útil para alguma coisa. 

— Eu não sou caça-fantasmas! — gritou Xiaoling. — E nem estou aqui pra ficar fazendo seu trabalho sujo.

— Pois nesse caso a forma mais fácil pra resolver isso é jogar você dentro do buraco onde deveria ter pulado há muito tempo.

— Ah, mas não vai mesmo, porque eu tô esperando seu retorno faz dias e agora eu vou acabar com você, sua carcamana feiosa!

Ela gargalhou à beira do abismo e viu como a pequena Xiaoling tentou atingi-la com um chute fortíssimo, que Máscara da Morte parou-o com seu braço direito protegido por um pequeno escudo de ouro que assemelhava-se à pinça de um caranguejo dourado.

Xiaoling era como uma espoleta, pulando de todos os lados e tentando atingir a Cavaleira de Ouro de qualquer forma. Shiryu já havia visto a amiga fazer aquilo, conhecia seu truque. Máscara da Morte não movia-se no centro, limitando-se a desviar ou usar seus braços para evitar os golpes da menina.

— Máscara da Morte! — chamou Shiryu quando viu que a armadilha de Xiaoling estava pronta, como se para distraí-la de alguma forma.

Ela olhou para a garota que se levantava quando todos naquela colina escutaram a voz de Xiaoling, alta e brilhante.

— Brilhem! As Sete Estrelas da Ursa Menor!

A Cavaleira de Câncer viu-se rodeada de grandes esferas brancas de energia que emitiram uma rajada cósmica na direção dela, fazendo ceder o chão rochoso em que Máscara da Morte estava de pé, cobrindo-a de um brilho enorme.

Na cratera que se formou da explosão das esferas de Xiaoling, Máscara da Morte surgiu com o rosto dobrado de raiva. Viu ainda como a garota menor puxou Shiryu do chão, colocando-a de pé.

— Vamos, Shiryu, vamos dar na cara dessa mulher!

Shiryu sorriu ao poder lutar novamente ao lado de sua amiga. Lembrou-se dos ensinamentos da Mestre Mu e fechou os olhos, ascendendo seus demais sentidos para alcançar o mais próximo que podia da Essência do Cosmo.

Quando abriu-os viu o sorriso zombeteiro no rosto de Máscara da Morte.

— Ainda se lembra, Xiao? — perguntou Shiryu para sua amiga.

— Claro que sim. — sorriu a pequena.

Lado a lado repetiram, feito uma coreografia, os mesmos movimentos dos braços para levantar seus cabelos pretos para o ar; o braço esquerdo descreveu um círculo à frente de seus rostos e, no ponto mais alto, desceu com fúria. Suas duas vozes exclamaram com força.

— Cólera do Dragão!

As duas avançaram com o peito desprotegido para poder desferir a maior potência que poderiam suas técnicas especiais. Xiaoling havia aprendido a técnica nos poucos dias em que havia ficado ao lado de Shiryu sofrendo o terrível treinamento do Mestre Ancião. Se Máscara da Morte podia deter com uma mão a técnica de Shiryu, não era verdade que precisaria apenas de suas duas mãos para parar aquela investida das garotas, pois a Cólera do Dragão aumentava exponencialmente sua potência quando combinada daquela maneira.

Máscara da Morte foi surpreendida e erguida do chão pela força dos dois Dragões.

Espatifou-se na pedra e rolou para dentro da boca do abismo, onde cairia para o esquecimento, não tivesse conseguido segurar-se em uma pedra saliente. Seus pés debatiam-se no fundo tentando encontrar qualquer reentrância que pudesse usar para subir de volta à colina. Mas aquele abismo escuro, sem cor, era como um buraco-negro, pois não somente eliminava qualquer brilho ou cor que houvesse em seu interior, como também lentamente atraía com força quem quer que estivesse próximo de seu destino final. 

Era assim que atraía para sempre os espíritos que vagavam naquelas colinas. E Máscara da Morte viu-se em pânico sendo atraída para o esquecimento eterno.

— Por favor, me ajudem! — pediu ela, com terror na voz.

Shiryu olhou para seu rosto e encontrou um assombro incompatível com a postura de antes. Surpreendeu-se ao ver, no entanto, que ao seu lado Xiaoling colocava-se de joelhos para dar a mão de forma que a Cavaleira de Câncer pudesse se apoiar e salvar-se da morte.

— O que está fazendo, Xiaoling?

— Não podemos deixar ela cair, Shiryu.

— Mas Xiaoling… essa mulher se orgulha de matar pessoas inocentes. Inclusive crianças. Ela não é digna de sequer usar essa Armadura de Ouro.

— Eu sei, Shiryu. — falou Xiaoling. — Foi ela quem matou todas as pessoas em Palaestra. Eu vi com meus próprios olhos. E por todos esses dias eu tenho sentido um ódio enorme por ela.

— Pois então… — falou Shiryu.

— Mas eu compreendi por esses dias todos que estive aqui que essa colina foi moldada ao Cosmo dessa mulher. E o Cosmo dela também foi moldado por esse lugar abandonado, triste, escuro e desesperador. Eu senti como o ódio que eu tinha por ela me fez uma pessoa ainda mais odiosa e ainda mais atraída pelos Remanescentes de Éris enquanto estive aqui.

Xiaoling olhou então nos olhos da mulher, que parecia surpresa.

— Mas vi também lugares mais profundos e antigos nessas colinas. Esse não é apenas o inferno de todos. Esse é o inferno dela.

A garota pequena tinha um cansaço enorme no rosto, como viu Shiryu; não poderia imaginar o que teriam sido os dias que passou ali sozinha lutando contra Fantasmas de Éris. 

— Eu não sinto pena dela, Shiryu. E não acho que ela seja digna de usar essa Armadura de Ouro. Mas isso é ela. — falou a pequena, decidida. — Não somos nós. Se pudermos ajudar, qualquer pessoa que seja, vamos ajudar. 

A Cavaleira de Dragão  escutou a voz de Xiaoling e convenceu-se de que era mesmo o valor dos Cavaleiros de Atena. Permitiu que a amiga ajoelhasse na beira do abismo e esticasse a mão para puxá-la

Máscara da Morte, com terror no rosto e, talvez, súplica e medo, pegou a mão de Xiaoling e subiu com dificuldades para a segurança do planalto.

Quando viu-se em segurança, no entanto, chutou a pequena Xiaoling, desequilibrando-a e empurrando a garota em seguida para dentro do buraco. Shiryu berrou seu nome na colina e jogou-se na direção da amiga a tempo de segurar sua mão, antes que fosse finalmente engolida pelo esquecimento daquele abismo.

Máscara da Morte gargalhou na parte de cima

Mas assombrou-se quando viu do enorme abismo surgir um fogo translúcido e esverdeado, como se o monte houvesse entrado em erupção. Era o enorme Cosmo de Shiryu de Dragão.

Máscara da Morte olhou ao redor e notou que as colinas pareciam metamorfosear-se sutilmente para rochedos mais claros e as chamas brancas que queimavam em milhares de pontos apagaram-se, dando lugar a algumas raízes retorcidas que erguiam-se aos poucos brotando do terreno cinza.

Olhou outra vez para o abismo e viu como dele surgiu, como se cuspida do inferno, a figura de Xiaoling, com seu olho coberto para atingi-la no rosto com força. Máscara da Morte levantou-se e colocou-se em guarda para acabar com Xiaoling, mas o brilho do vulcão atrás de si aumentou ainda mais. Ela olhou e viu surgir flutuando na boca do inferno a figura enfurecida de Shiryu de Dragão.

Seus cabelos negros esvoaçando acima dela, o brilho verde-claro ao seu redor como chamas. 

— Shiryu está próxima de tocar o Sétimo Sentido. — comentou para si Máscara da Morte ao ver que os troncos retorcidos ao redor pareciam tornar-se mais altos, conforme o cosmo de Shiryu chegava à Essência e interferia na matéria daquelas colinas. — O que acha que vai fazer, Shiryu? Acha que vai pacificar esse lugar? Não importa o que você faça, este será sempre o limiar para onde os mortos caminharão para seu descanso eterno! Não há como fugir de sua natureza.

Mas a traição de Máscara da Morte havia sido um estopim para Shiryu. Seu Cosmo finalmente tocou um ponto seu que jamais havia sentido. Uma ira que a deixou completamente fora de si. 

— Máscara da Morte! — falou com raiva Shiryu, ainda flutuando, pois seu Cosmo havia revertido a força daquele abismo. — Eu nunca odiei ninguém tanto como agora.

A Cavaleira de Ouro viu aquelas chamas esverdeadas que a boca do abismo cuspia tomarem a forma de um Dragão.

— Eu te odeio, maldita! Eu não tenho intenção de poupar você nem um pouco! Você acabou com a vida de crianças inocentes fingindo lutar contra o mal e agora menosprezou o esforço de Xiaoling, que a salvou da morte tentando compreender por um segundo a sua solidão neste lugar. E ainda assim você a traiu! O ódio que sinto por você alimenta o fogo do meu cosmo! — sua voz ecoava com ira por todos os rochedos daquela colina. — Eu vou te mandar para as profundezas do inferno, Máscara da Morte!

A Cavaleira de Câncer viu que a velocidade e a força de Shiryu aumentaram de tal forma que ela foi completamente espancada por todos os lados para onde olhava, sem conseguir fugir das garras do Dragão. 

— Neste momento, cada gota de meu sangue está fervendo só pra acabar com você! 

Batia e batia em Máscara da Morte, que já vertia sangue pela boca. A voz de Shiryu era raivosa entre seus dentes.

— Mexer com os tesouros de um Dragão é como pedir uma destruição impiedosa! Essa dor que está sentindo é a prova de como é terrível o resultado quando se enfurece o Dragão!

Shiryu encaixou, finalmente, um gancho tão poderoso, que Máscara da Morte foi arremessada tão longe no ar que foi cair só nos rochedos distantes dali. Sua capa branca completamente destruída e rasgada nas costas ela jogou para longe. Levantou-se, no entanto, sorrindo.

— Que tocante a fúria do Dragão. — falou ela, levantando-se. — Vidas vêm e vão, uma após a outra. Como vocês são fracas. Não deviam se preocupar com uma coisa tão banal.

E, ao dizer isso, apontou para as costas de Shiryu e Xiaoling, que viram mais e mais corpos jogarem-se no abismo. 

— Cale a boca, Máscara da Morte. Eu já estou cansada da sua voz! 

Shiryu novamente atacou Máscara da Morte com sua Cólera do Dragão, mas a Cavaleira de Ouro colocou os dois braços à frente de si e deteve com sua Armadura toda a potência do punho do Dragão. Foi arrastada para trás com a potência do golpe, mas reapareceu sorrindo.

Mas a ira do Dragão continuava implacável e Shiryu atacou ainda outras três vezes com seu cosmo poderoso, que Máscara da Morte refletiu para o lado com suas mãos.

— Pare com todo esse esforço inútil. Você ainda não percebeu? — perguntou ela, de modo zombeteiro. — Enquanto eu estiver usando essa Armadura de Câncer, você não conseguirá me derrotar. Não importa quantos golpes você tente.

Ela então fez seu Cosmo dourado inflamar naquelas colinas de maneira tão violenta que as árvores que cresciam lentamente com o Cosmo de Shiryu evaporaram como cinzas e as chamas brancas reapareceram por todo o lugar onde podiam ver.

E, abaixo de Shiryu, ela viu surgir na terra cinza os espectros putrefatos de corpos que a agarraram como haviam feito na Casa de Câncer. 

— Morra, Shiryu. Evocazione di spiriti!

Viu pela primeira vez como aqueles corpos colados ao seu evaporaram em uma chama branca feito fogos-fátuos para rodear seu corpo, constritando-a com violência. Como uma maestra, Máscara da Morte elevou o dedo em riste, fazendo com que os espíritos subissem violentamente com o corpo de Shiryu e então caíssem na terra com violência próximos à boca do abismo.

Máscara da Morte caminhou para dar cabo de sua vida quando viu Xiaoling acertar um chute em sua perna, sem fazer nenhum dano.

— Ora, ragazza, não seja ridícula. Seu cosmo está muito longe de alcançar o nível de Shiryu. Vai apenas se machucar.

— Eu tentei te ajudar! — gritou Xiaoling, revoltada.

— Pois deveria ter me deixado cair! — vociferou Máscara da Morte. — Agora morrerão vocês duas.

Xiaoling tentou novamente acertá-la, mas Máscara da Morte usou seu braço para evitar e a garota sentiu dor como se batesse contra uma parede. Tentou outra vez, e nada.

— Seu cosmo é muito fraco. — falou Máscara de Morte. — E eu ainda tenho uma Armadura de Ouro. Sua perdição é completa. Espero que aprenda no Submundo o preço a pagar por ser tão ingênua.

— Nem sempre você foi assim. — falou Xiaoling. — Nem sempre você quis estar aqui. Pode nos matar, mas isso não vai sumir nunca.

— Não seja ridícula. — falou a mulher.

— Há um preço por matar tanta gente inocente.

— É o resultado de toda guerra. — retornou Máscara da Morte. — O que parece errado torna-se certo quando selamos a paz.

— Não a todo custo! — acusou Xiaoling.

Máscara da Morte olhou-a nos olhos, mas sua face era intransponível. Ao seu redor levantaram-se corpos putrefatos que a Cavaleira de Ouro usaria para dar cabo daquela criança como havia feito com Shiryu.

Mas algo terrível aconteceu. Os corpos que se decompunham agarraram-se à Máscara da Morte e ela viu-se atacada pelos espectros, que cada vez mais levantavam-se daquela terra cinza.

— O que é isso? — assombrou-se ela.

— São os inocentes que matou em busca de paz.

— Sumam daqui!

A Cavaleira de Ouro vociferou e seu cosmo fez evaporar os corpos, lançando-os todos no buraco do abismo.

— Você não é digna de vestir a Armadura de Ouro. — falou Xiaoling.

— Eu sigo os desígnios do Camerlengo. — falou ela. — Os desígnios de Atena!

— Atena está agora sofrendo na Casa de Áries. — levantou-se ao fundo Shiryu. — Nada do que faz tem a ver com Atena, mas com sua própria sede de sangue.

— E agora chegou seu fim. — falou Xiaoling.

Ela cerrou os punhos, ralhou os dentes e avançou com um soco direto em Máscara da Morte, que defendeu-se outra vez com seu braço. Mas dessa vez viu seu braço quebrar na sua frente. Pois não mais usava a proteção de Ouro que assemelhava-se à uma pinça de caranguejo. Estava com o braço nu e, agora, quebrado.

— O quê aconteceu? — lamentou-se ela ao ver seu braço inchado e sangrando.

Ao seu lado, estava a pata do caranguejo dourada jogada no chão. 

Xiaoling avançou novamente com um chute rasteiro e Máscara da Morte defendeu-se com um bloqueio de sua perna. E a proteção de ouro abandonou sua perna, fazendo com que Máscara da Morte ajoelhasse ao vê-la seriamente ferida.

Estava em choque.

E sua situação ficou ainda pior, pois viu que a Armadura de Ouro brilhou dourada naquelas colinas e simplesmente todas as partes abandonaram seu corpo para formarem-se à sua frente a imagem de um maravilhoso caranguejo dourado levemente pousando na terra cinza.

— Como isso é possível? — perguntou-se Máscara da Morte em choque e ajoelhada no chão. 

Era uma mulher absolutamente maravilhosa, uma calça colada preta e uma bata branca com os braços de fora.

— Essa é a vontade da Armadura de Ouro. — afirmou Shiryu, novamente de pé ao lado de Xiaoling.

— O que quer dizer com isso?

— As Armaduras são vivas e possuem suas próprias vontades. Elas escolhem a quem proteger.

— Como a Armadura de Sagitário, que escolheu proteger a nossa amiga contra os Cavaleiros de Prata. Ajudou ela a derrotar todos e então desapareceu.

— Sagitário? — perguntou, assombrada, Máscara da Morte.

— A Armadura de Ouro aparece sempre que a humanidade está em perigo. — continuou falando Shiryu. — E a justiça nunca deixa de ser a justiça. Lembra-se disso, Máscara da Morte?

O rosto de Máscara da Morte era flagrante em sua confusão, pois dentro de seu peito havia uma enorme angústia: a de que seu maior orgulho havia sido destruído. A Armadura de Câncer não mais a queria como detentora.

— A Armadura de Ouro te abandonou, pois você não é digna de usá-la por sua mentalidade cruel! — acusou finalmente Shiryu.

E a mulher deixou-se finalmente tombar, sentada e vencida, no chão; o braço esquerdo segurando as dores do braço direito, mas os olhos devastados.

— Acabou para você. Sem sua Armadura de Ouro, seu corpo é tão frágil como o de uma pessoa qualquer. 

Shiryu colocou-se em guarda, mas novamente Xiaoling segurou seu punho; em seu íntimo, ela teve medo de que aquilo acontecesse novamente. Mas, quando olhou para a garota ao seu lado, ela percebeu que Xiaoling fazia menção para que olhasse para baixo. Shiryu viu subir por seus pés um único fogo-fátuo, mais longo, que aos poucos apagava seus pés.

Olhou então de volta para Máscara da Morte e ela tinha um único dedo em riste, por onde uma chama branca brilhava.

Xiaoling tomou as mãos de Shiryu e ela viu a pequena amiga deixar algumas lágrimas escaparem enquanto sorria.

— Xiaoling? 

— Promete pra mim, Shiryu...

— Não, Xiao. Venha junto. Volte comigo!

— Minha missão aqui não está terminada. — falou ela, pesarosa.

— Não, Xiao!

— Proteja Atena por mim, amiga.

Shiryu olhou dentro daqueles olhos e viu como ela estava em paz, estava madura, estava incrível. Pois ela não poderia estar de outro jeito. Abraçaram-se e Shiryu disse ao seu ouvido:

— Prometo, Xiao. Um dia nos veremos novamente.

Xiaoling sorriu e viu evaporar nos seus braços o corpo de sua amiga.

Sobrou ela e a tristeza de Máscara da Morte.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Xiaoling voltou! Quis trazer Palaestra do Ômega como essa fortaleza que o Kido teria feito para Saori e o ataque que Máscara da Morte fez na Academia das Saintias em Saintia Sho, mas repaginei para ser na Palaestra e coloquei Xiaoling no lugar da Erda. Funciona bem dentro da história. =) Sobre Xiaoling usar a Cólera do Dragão, eu lembrei da Paradox que aprendeu a técnica também. Foi daí minha inspiração.

PRÓXIMO CAPÍTULO: AS VOZES DA MONTANHA

Enquanto os Cavaleiros de Bronze correm para escalar as Doze Casas, Marin está procurando por segredos daquela trama, enquanto Cássius cuida de Shaina.



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