Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 48
Outra Vez Ao Covil Da Minha Solidão


Notas iniciais do capítulo

Shiryu consegue uma ajuda inesperada para retornar à Casa de Câncer, mas a temível Máscara da Morte está mesmo determinada a enviar Shiryu para o Inferno.



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Hyoga, o Cavaleiro de Cisne, caminhava aquela lenta marcha fúnebre com os olhos fixos no chão; os braços longos ao lado do corpo e as costas onduladas feito um corcunda. Uma fila infinita de almas tristes lamuriando palavras inaudíveis e andando sempre adiante, como se impelidas.

Shiryu chamou pelo nome do amigo mais de três vezes, buscando chamar sua atenção de qualquer forma; perguntava onde eles estavam e pedia sua ajuda, mas o Cavaleiro de Cisne estava catatônico e não deu qualquer atenção à ela. Shiryu então pulou do rochedo cinza em que estava para correr na direção de seu amigo naquela fila, mas uma voz familiar a chamou ao lado.

— Não vá, Shiryu.

A garota virou-se para o lado e viu Saori.

Tinha os olhos tristes e o rosto cabisbaixo, olhando para o chão de maneira perdida. Na sua mão direita, no entanto, ela ainda segurava o Báculo de Ouro, que ali parecia ter perdido seu brilho divino. Uma sombra da beleza que tinha.

— Senhorita Saori! — desesperou-se Shiryu.

A garota foi à sua ajuda e a tomou em um longo abraço; sentiu, no entanto, que seu corpo era extremamente leve, o que deixou Shiryu muito desconcertada. Suas mãos também eram estranhas ao toque e seu semblante era parecido com o de todas aquelas almas que caminhavam naquela fila infinita. Sua voz, no entanto, ainda carregava a vitalidade de antes, o que contrastava com aquela figura fraca à sua frente.

— Aquelas pessoas estão indo ao Submundo. Se você for para lá, nunca mais poderá voltar. — falou para alertar Shiryu. — Seu corpo ainda está na Casa de Câncer, mas seu espírito veio para cá, para o limiar do Mundo dos Mortos.

O limiar do Mundo dos Mortos, repetiu Shiryu dentro de sua cabeça. Aquele cheiro de morte, o Cosmo de Hyoga que estourou-se no horizonte, a flecha no peito de Atena. Compreendeu, finalmente, com assombro.

— Isso quer dizer que o golpe da Máscara da Morte é mesmo capaz de levar as pessoas para a porta do Submundo.

— Volte, Shiryu. — pediu apenas Saori ao seu lado.

Ela, mesmo com os olhos perdidos em seus pés, trouxe seu Báculo de Ouro à sua frente.

— Mas e quanto a você? E o Hyoga? — perguntou Shiryu, preocupada.

— Não pode fazer nada por nós aqui. — falou ela com firmeza, embora seu corpo fosse frágil.

Shiryu viu como o Báculo de Ouro à frente de Saori ganhou novamente seu brilho dourado e fez soar um sino distante naquele limiar do Mundo dos Mortos, iluminando seus olhos com seu enorme Cosmo.

— Volte, Shiryu. — pediu a voz firme de Saori.

 

—/-

 

A Casa de Câncer, com suas névoas e archotes azuis, tinha muitas faces espalhadas pelas paredes e piso. Um cheiro de morte e a sensação eterna de um cemitério vivo. Diante dos olhos de muitas faces presas, um fogo-fátuo flutuou suspensivamente iluminando a tudo ao seu redor até aninhar-se no peito do corpo caído de Shiryu.

— Não acredito. — falou Máscara da Morte para as faces ao seu redor, sua única plateia. — A Shiryu retornou do limiar do Mundo dos Mortos.

Com assombro, viu diante de si o corpo de Shiryu mover-se no chão, recobrando a consciência.

— Shiryu voltou à vida novamente. — balbuciou ela.

Aos poucos a garota levantou-se, com a voz afirmando.

— Eu sinto muito, Máscara da Morte. Eu já voltei da morte duas vezes. Me parece que o Submundo não gosta muito de mim. 

O Dragão estava novamente de pé.

— E agora, Câncer, é a minha vez de te mandar para o Inferno! — sua voz finalmente era firme e decidida. — Há mais duas pessoas muito importantes que também precisam de minha ajuda para voltar daquele lugar.

Shiryu levantou o braço de seu Escudo do Dragão para o alto e o trouxe violentamente para baixo, fazendo com que seu Cosmo ascendesse, poderoso, levantando seus cabelos enormes para o alto.

— E tem alguém por quem você vai sofrer a fúria de minha vingança. Meu Cosmo vai queimar até o limite! — disse ela. — A minha Cólera do Dragão vai atingir seu Cosmo, eu não sou mais aquela Shiryu que você encontrou nos Cinco Picos.

A Cavaleira de Bronze correu na direção de Máscara da Morte e lançou seu punho do dragão adiante com fúria.

— Cólera do Dragão!

Uma rajada cósmica surgiu do punho de Shiryu na figura de um Dragão chinês maravilhoso que avançou furiosamente na direção da Cavaleira de Ouro. A mulher, no entanto, apenas levantou a mão direita e deteve toda a força do Cosmo de Shiryu com a mão tremendo, fazendo com que aquela cosmo-energia evaporasse e sumisse.

— Não é possível! — assombrou-se Shiryu ao ver que sua técnica, capaz de reverter o fluxo da mais poderosa queda de água do mundo, simplesmente não fazia diferença para com aquela mulher.

Mas foi exatamente o que aconteceu. Seu Cosmo estava muito distante de fazer com que uma Cavaleira de Ouro precisasse de qualquer coisa a mais do que uma mão para deter sua técnica mais poderosa. Estava em choque e, antes que pudesse traçar qualquer outra estratégia, viu-se segurada pelos pés no chão por muitos braços ao seu redor.

— O que é isso? — perguntou Shiryu, tentando desvencilhar-se daqueles corpos que a seguravam.

— É até melhor que não possa ver, Shiryu, pois esses são aqueles que estão presos na Casa de Câncer.

— Me soltem! — pedia Dragão.

— Essas são as Faces da Morte que se levantam em busca de paz. — disse a Cavaleira de Ouro. — Suas faces descolam-se da Casa de Câncer e seus corpos putrefatos se levantam para me servir, na esperança de que eu as liberte desse purgatório.

E Shiryu escutou sua risada.

— Libertem-se, faces da morte! — gritou a voz grave da mulher para a Casa de Câncer. — Evocazione di spiriti!

Shiryu deixou de sentir aqueles muitos braços a agarrando, pois os corpos putrefatos haviam se transformado em espíritos fogos-fátuos que a rodearam, pressionando-a como a uma cobra que constrita sua presa. Ela foi então erguida pela força dos espíritos e jogada contra o teto da casa para cair novamente à frente de Máscara da Morte. Notou, com assombro, as faces que antes podia sentir com seus pés e que agora haviam desaparecido.

— Se você quiser me derrotar, vai ter que fazer brilhar seu Cosmo tão forte quanto os Cavaleiros de Ouro, mas isso é impossível!

Ela caminhou na direção de Shiryu caída.

— Agora está na hora de você ir para o Mundo dos Mortos de uma vez por todas. E desta vez, vou me certificar de que não volte nunca mais! Strati di Spirito!

Novamente Shiryu olhou para onde imaginou que aquela mulher estava e viu abrir-se o umbral para aquela colina que era o limiar do Mundo dos Mortos. Tentou segurar-se nas reentrâncias do chão, fincar os pés o mais forte que podia, mas a força da morte o sugava com violência. E o corpo de Shiryu finalmente foi puxado para dentro do corpo de Máscara da Morte e para o fundo do Inferno.

 

—/-

 

Outra vez aquele umbral do inferno, pensou Shiryu ao abrir os olhos e notar que novamente podia enxergar. A fila continuava caminhando por uma trilha infinita e, dali onde estava, Shiryu procurou, mas não encontrou Hyoga como antes. Ao seu redor não viu mais a silhueta de Saori e tudo que sua vista podia enxergar estava totalmente diferente de como vira antes. A única coisa que não havia mudado era a interminável fila de almas lamuriantes no horizonte.

Em desespero, Shiryu caiu de joelhos pensando que os Cavaleiros de Ouro eram mesmo muito fortes. Ela ali no Inferno nada poderia fazer por aqueles que marchavam, como também nada poderia fazer por Seiya, que o esperava longe dali.

Ouviu, no entanto, uma voz maravilhosa. Uma voz contralto feminina de vibratos impressionantes e operáticos, pois cantava com força os versos de uma música poderosa.

Tornerai nella cella della mia follia!

Scenderai nell'abisso che c'è in me

Dove mai via d'uscita c'è per te!

Olhou para a dona da voz e viu, com assombro, que era Máscara da Morte, interpretando com dor e um sorriso no rosto as notas poderosas daquele bonito verso. E ao final de seu espetáculo dramático, deixou escapar uma risada com os braços abertos enquanto caminhava na direção de Shiryu.

A mulher chutou-a no rosto e pisou em suas costas.

— Máscara da Morte, como pode estar aqui?

— Para que você não consiga voltar nunca mais. Para que você vá para o Submundo de uma vez por todas. 

Shiryu tentava desvencilhar-se, mas não tinha  força para tal. A risada de Máscara da Morte era baixa e zombeteira.

— Aqui é como um jardim para mim e daqui posso ir e voltar quando quiser. — falou ela com gravidade. — Mas existe um buraco de onde nem eu mesma posso voltar se vier a cair. E vou te mostrá-lo, Shiryu.

Ela chutou as costas da garota e puxou seus cabelos para colocá-la novamente de pé. Enforcou-a por trás com uma chave de braço e Shiryu percebeu que seus pés deixaram de tocar o chão. Flutuaram cada vez mais alto naquela colina dos mortos e seus olhos podiam ver a gigantesca fila perder-se no horizonte, de tão grande que era.

— Abra os olhos, Shiryu, e olhe muito bem. — pediu Máscara da Morte atrás dela. — Aquele é o Yomotsu Hirasaka. A ladeira do Mundo dos Mortos. 

Naquela enorme altura, Shiryu percebeu que na verdade eles estavam em uma eterna subida que levava a um abismo no topo de um monte; a fila que caminhava eternamente lá embaixo na verdade seguia uma trilha alta que serpenteava distâncias enormes de algum lugar que não podia ver, mas certamente até uma boca enorme do que parecia ser a entrada de um abismo.

— E para onde eles vão?

— Se essa colina é a divisa entre o Mundo dos Vivos e dos Mortos, o Yomotsu é o poço que vai dar direto para o Submundo, o Mundo dos Mortos.

Mesmo longe Shiryu podia ver que ali a fila se interrompia e acabava, pois na verdade os espectros que caminhavam sem vida  simplesmente se jogavam naquele abismo.

— Quando você cai neste lugar, jamais poderá voltar à vida.

Máscara da Morte segurou Shiryu naquela altura apenas por seus enormes cabelos e soltou o corpo da garota, que caiu daquela altura para espatifar-se contra a pedra dura e fria daquela colina.

— Vou te arrastar pessoalmente até o buraco do Submundo, Shiryu. Assim você poderá saborear por mais tempo o terror da morte. A cada passo, você estará mais próxima do fim. 

A Cavaleira de Ouro virou o corpo de Shiryu e puxou-a pelos cabelos, arrastando a garota pela terra cinzenta daquela colina terrível. 

— Shiryu, eu acho melhor você começar a rezar.

A rezar, pensou ela.

E lembrou-se de Shunrei que, com toda a certeza do Mundo, rezava por ela nos Cinco Picos Antigos. Como esteve ao seu lado quando foi encontrada, criada, quando perdeu sua visão e quando deixou aquele lugar para novamente poder lutar.

Queria perdoar-se com ela por todo o sofrimento, mas agora seu fim estava próximo. Sentiu seu corpo ser levantado pela força daquela mulher usando sua Armadura de Ouro. A brisa fria ela sentiu e, abrindo os olhos, viu diante de si a boca enorme de um abismo em que, de todos os lados, caíam inúmeras pessoas e fantasmas para finalmente encontrarem seu destino final.

Addio, Shiryu! — falou Máscara da Morte.

Morreria.

Mas não morreu.

Pois um brilho estelar iluminou as colinas atingindo Máscara da Morte, que estava desatenta, deixando o corpo de Shiryu cair para o lado muito próximo da entrada do fosso da Morte. Ela levantou os olhos procurando o que havia acontecido e viu ao lado de Máscara da Morte alguém que fez seu peito esquentar de saudade. Era Xiaoling, a Cavaleira de Ursa Menor.

Tinha o corpo coberto de curativos, o olho esquerdo debaixo de uma bandagem e a Armadura repleta de rachaduras.

— Ora, ora, veja só quem está de volta! — falou ela com deboche para a Cavaleira de Câncer. — Se não é mesmo a Signora Morte!


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Eu quis usar o Máscara da Morte cantante do filme Lenda do Santuário, mas feito de uma forma diferente. Dentro da personalidade femme fatale/Sofia Loren que usei pra fazer a minha Máscara da Morte, combinava com ela, ela debochar em forma de música. Então uni as ideias e fiz ela cantar. Mas para definir a música, eu fui além: lembrei-me de que eu adoro o Schiller de Câncer do Ômega e como a máscara de Câncer do Schiler me fazia lembrar o Fantasma da Ópera, que eu amo de paixão. Pensei se havia alguma música que combinasse e os primeiros versos da música derradeira do musical cabe perfeitamente dentro da ideia do personagem. Mas ela é italiana; eu conheço a passagem em português e no original, em inglês. Mas precisei buscar em sites subterrâneos da Itália pra saber como que o musical foi adaptado na Itália e como os versos ficaram. Adorei!

PRÓXIMO CAPÍTULO: A CÓLERA DO DRAGÃO

O ataque terrível à Palaestra e o triunfo de Xiaoling junto de sua melhor amiga.



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