Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 47
O Abandono dos Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Após vagar pela Outra Dimensão, Hyoga finalmente retorna à realidade para encarar seus sentimentos diante de alguém muito adorado.



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Hyoga de Cisne foi atingido pela distorção dimensional do Cavaleiro de Gêmeos e vagou pelo universo sem rumo. Por quanto tempo? Até onde? A sensação infinita de espaço em seu corpo era como se fizesse parte de todos os lugares, incontido. Mas então percebeu-se novamente deitado sobre um piso frio.

Seus olhos, ao se abrirem, notaram a escuridão de um templo. Colunas ao longe, poucos archotes de fogo acesos.

Levantou o tronco, procurando por Shun, mas a sensação que tinha dentro de si era de que havia vagado por muitos anos; aquela batalha já distante na sua memória, como se houvesse vagado por uma vida inteira. Tonteou ao tentar se levantar e caiu novamente, de joelhos.

Olhou novamente ao redor e pelas colunas; imaginou que estaria mesmo em um dos templos das Doze Casas do Zodíaco. Mas quando? Fechou os olhos e respirou fundo. Acalmou o peito e sem dúvidas sentiu distante em sua mente o chocar cósmico entre forças que lutavam longe dali. Havia uma familiaridade em alguns desses Cosmos.

Quando tornou a abrir os olhos, no entanto, viu próximo à uma coluna assomar-se a figura de um Cavaleiro de Ouro que o observava atentamente. Um rosto amado.

— Mestre Camus? — perguntou Hyoga para o Cavaleiro de Ouro que aproximava. — É você mesmo?

Os olhos do Cavaleiro de Ouro estavam escondidos nas sombras daquela Casa, mas Hyoga o reconheceu como o reconheceria em qualquer lugar. Era seu Mestre Camus. O mesmo que o havia treinado por tantos anos na Sibéria ao lado de sua Mestre Cristal.

— Mestre, não posso acreditar, você também é um Cavaleiro de Ouro? — perguntou Hyoga, confuso.

Mas Camus nada lhe respondeu.

Hyoga sabia que seu Mestre era da Ordem do Santuário, mas nunca imaginou que fosse um Cavaleiro de Ouro; nas noites frias da Sibéria, imaginava se ele era um estudioso ou erudito das bibliotecas, pois era um homem extremamente sábio dos segredos antigos e frequentemente retornava do Santuário para a Sibéria com muitos livros.

— O que faz aqui, Hyoga? — perguntou finalmente sua voz grave e calma, que Hyoga tão bem conhecia.

— Onde estou, Mestre, me diga? — implorou o garoto, pois realmente ainda estava muito confuso, recém escapado das dimensões de Gêmeos.

— Está invadindo o Santuário. — falou Camus com gravidade.

Então ainda lutavam, pensou Hyoga. Ele ainda estava nas Doze Casas, Shun talvez ainda lutasse contra o Cavaleiro de Gêmeos e Atena ainda precisava de sua ajuda. Levantou-se, desesperado e sem medo nenhum no peito. Afinal, diante dele estava seu Mestre da Sibéria; Hyoga lembrava-se de como ele era sábio e forte e agora que lhe havia revelado ser um Cavaleiro de Ouro, talvez sua missão não fosse tão impossível.

— Mestre, a Deusa Atena está na Casa de Áries, ferida por uma Flecha de Ouro. E somente o Camerlengo pode retirá-la. Precisamos chegar até o Templo no topo da montanha. Por favor, nos ajude, Mestre Camus!

Hyoga vomitou tudo de que se lembrava o mais rápido possível, pois reconhecia ser urgente a situação, mas encontrou do outro lado uma feição absolutamente intocada. Não o surpreendeu em nada, pois sabia que seu Mestre era extremamente calmo e contido, por vezes extremamente frio e calculista. Seus olhos estavam grudados nos de Hyoga.

— E o que pretende fazer, Hyoga? — perguntou ele, finalmente. 

Hyoga conhecia muito bem aquele tom que lhe obrigava sempre a decidir por si.

— Vamos atravessar as Doze Casas e chegar até o Camerlengo.

— Para isso terá de vencer os Cavaleiros de Ouro.

— Pois então venceremos.

Camus calou-se ao ouvir seu pupilo dizer aquilo com muita força. Seus olhos estreitaram-se, como se procurassem os segredos que Hyoga escondia.

— Diga-me, Mestre. Onde nós estamos?

— Essa é a Casa de Libra. — respondeu ele, calmamente.

Libra. Se Hyoga lembrava-se bem, ele estava muito mais adiante das Doze Casas do que seus amigos; talvez a ruptura dimensional do Cavaleiro de Gêmeos o havia ajudado a ir mais adiante. Mais do que isso, Hyoga finalmente reconheceu a constelação de seu Mestre.

— Então o senhor é o Cavaleiro de Libra.

— Errado. — cortou Camus, imediatamente. — Essa é a sétima casa, a Casa de Libra, que pertence ao Mestre dos Cinco Picos Antigos. 

— O mestre de Shiryu? — surpreendeu-se Hyoga. — Então… o que está fazendo aqui, Mestre?

— Como o Mestre dos Cinco Picos Antigos nunca deixará as cachoeiras de Rozan, esta Casa está sempre vazia.

Hyoga observava seu Mestre com a mesma admiração que tinha por todos os anos que treinou na Sibéria. Mas, dentro de si, gostaria de compreender os motivos dele estar ali, afinal de contas.

— Te trouxe aqui para te pedir algo, Hyoga.

— Qualquer coisa, Mestre Camus. — falou ele, imediatamente.

— Fuja daqui. E não volte mais.

O pedido caiu como uma montanha de gelo no estômago de Hyoga.

— O que está dizendo, Mestre? Atena precisa de nossa ajuda.

— Não deve seguir por esse caminho. É uma ordem. 

— Eu sinto muito. — gaguejou Hyoga. — Eu não posso obedecer sua Ordem, mesmo você sendo o meu Mestre. Me desculpe!

A voz de Hyoga era vacilante, pois para ele era impensável desobedecer seu Mestre.

Mas, afinal de contas, não era a primeira vez que o fazia. E aquilo o comia por dentro.

— Desculpe, Mestre Camus. — começou ele novamente. — Mas Atena, a Deusa Atena, está sofrendo na Casa de Áries. Meus amigos todos estão lutando, Mu de Áries está ao nosso lado. Tem de nos ajudar, Camus!

Camus olhou-o sem esboçar qualquer reação diante de tudo aquilo.

Então fechou os olhos, resignado.

— Nesse caso, terei de impedi-lo de prosseguir.

Hyoga abriu a boca para dizer qualquer outra coisa para tentar convencer seu Mestre, mas viu-se arremessado pela Casa de Libra por um cosmo magnífico, que tão bem conhecia.

— Mestre Camus… — pediu Hyoga, com o coração terrivelmente partido ao se levantar. — Não posso acreditar que até você quer nos impedir de atravessar as Doze Casas. 

— Hyoga, você tem duas alternativas: dar meia-volta ou me enfrentar. — falou ele, olhando para longe.

O garoto estava caído à sua frente e agarrou-se nos seus pés, pedindo que lhe escutasse, mas Camus o chutou no rosto com força e novamente o arremessou com seu cosmo congelante para mais longe contra outra coluna da Casa de Libra.

— E então, Hyoga, já decidiu voltar?

— Não. Eu não vou voltar. — balbuciou o garoto, levantando-se.

— Pois então lute, porque você não passará daqui a menos que me derrote.

Hyoga levantou-se com dificuldades e com um peso enorme no peito; aquele homem diante dele o havia cuidado desde que era muito garoto. Sempre muito severo, mas também muito justo.

— Mas eu não posso. — gaguejou Hyoga. — Você é o meu Mestre. Como é que eu posso lutar contra meu Mestre? Me diga!

O Cavaleiro de Cisne cerrava os punhos com violência e torcia os olhos para esquecer-se para sempre de que havia matado sua Mestre Cristal. Mas aquele sentimento nunca o abandonaria.

— A Mestre Cristal. — começou ele, furioso consigo mesmo, a voz trêmula de ter de rememorar todo aquele pavor. — Acho que você soube da morte da Mestre Cristal, sua discípula e minha Mestre também. Você deve ter ficado sabendo que a pessoa que a matou fui eu!

Hyoga levantou-se e, dentro de si, não sabia se pedia ajuda ou se pedia perdão para seu Mestre Camus.

— Ela escavou as profundezas da Sibéria e encontrou a Arma escondida nas minas, Mestre Camus. Enlouqueceu como se estivesse possuída por algo terrível em sua mente e, infelizmente, tivemos de lutar.

— E ela morreu. — interrompeu Camus, atraindo os olhos desesperados de Hyoga para ele.

— Não! — protestou ele. — Eu a matei.

— Ela morreu. — tornou Camus. — E é tudo que precisa ser dito.

Hyoga ficou mais confuso que o normal; ele estava acostumado com aquele tom distante de seu Mestre Camus, mas mesmo assim aquilo tudo lhe parecia absurdo.

— Você não se importa de saber que a sua pupila morreu e que eu fui o responsável por isso? — perguntou Hyoga.

— Tudo que eu estou interessado em saber agora é se você vai sair desta Casa ou se vai lutar contra mim.

— Mestre Camus! — censurou Hyoga.

— Cristal morreu porque era tudo menos uma Cavaleira de verdade.

— O quê você disse?! — revoltou-se Hyoga.

Camus calou-se diante daquela fúria.

— Você pode me insultar, mas não à Mestre Cristal. Isso eu não vou admitir nunca. Como pode falar assim? Cristal o amava como a um pai!

O Cavaleiro de Ouro virou-se para Hyoga.

— Parece que finalmente se decidiu. — concluiu Camus.

E então caminhou na direção do Cavaleiro de Cisne, que buscava naqueles olhos impassíveis qualquer sinal de que não estivesse dono de si. Mas não era o caso, pois lembrava-se dos treinamentos absolutamente terríveis que ele lhe passava sem sentir qualquer pena de sua condição ou de seu irmão.

Camus fechou seus olhos e ascendeu seu Cosmo dourado; conjurou com sua mão direita um cristal de gelo enorme flutuando na palma de sua mão graciosamente. O Cavaleiro de Ouro apertou o cristal e então, como se pintasse o ar, criou uma tela disforme e lisa de gelo.

A tela de gelo manifestou matizes e tons diferentes de acordo com o Cosmo de Camus; eram imagens, Hyoga adivinhou. Haviam bolhas e uma oscilação de cores azuladas que o vulto de animais nadando fez com que o Cavaleiro de Cisne compreendesse que via ali a profundeza de um oceano. Não, seu peito gelou, era a profundeza de um ponto muito específico do oceano.

— Eu me lembro muito bem que sua mãe dormia no barco que afundou no mar da Sibéria.

— Mestre… — balbuciou ele.

Hyoga fechou os olhos e, quando os fechava, podia lembrar-se sempre do rosto de sua mãe descansando em paz no fundo daquela fossa. Sua força era tamanha como um Cavaleiro de Bronze que ele podia visitá-la nadando nas profundezas e ver, ainda outra vez, os cabelos de sua amada mãe. 

Quando abriu novamente os olhos, viu que no cristal disforme de Camus a imagem do navio de sua mãe formou-se de modo muito nítido. Aquele pequeno quebra-gelo antigo, Hyoga reconhecia de seus sonhos e pesadelos. Seu mestre então moveu a mão esquerda de maneira lenta e Hyoga viu com clareza como o navio na imagem movia-se lentamente na fossa, arrastando o casco partido no fundo do mar na direção de um abismo, como se Camus controlasse aquela imagem.

— Já se despediu de sua mãe, Hyoga? — perguntou Camus.

— Não! — pediu ele, com medo. — Não, o que está fazendo, Mestre? Por que está fazendo isso? — implorou ele.

Hyoga sabia que se o barco afundasse naquela profundidade para dentro do abismo, ninguém nunca mais seria capaz de alcançá-lo. Ele nunca mais veria o rosto de sua mãe. 

Camus então fez com que o cristal explodisse em mil pedaços, atingindo Hyoga e levando-o novamente à uma coluna próxima. Ele imediatamente levantou-se em desespero.

— Não foi um sonho nem ilusão. — disse a voz de Camus. — Eu lhe mostrei a triste realidade.

Hyoga estava sem palavras.

— Você está ficando louco? — desesperou-se Hyoga. — Você não tem nada contra a minha mãe, e então por quê? Por que você fez isso? Me diga, por quê? Você não só insultou a Mestre Cristal, mas atacou o barco de minha mãe?

Hyoga então pisou firme adiante, seu cosmo pela primeira vez apareceu na Casa de Libra.

— Mesmo que ela esteja morta, eu ainda podia me encontrar com ela naquele ponto do oceano.

Espremeu os punhos em fúria.

— Mesmo que ela esteja morta, ela tem sido a minha única força e consolo na vida. — disse ele entre os dentes.

O Cosmo gélido de Cisne ao seu redor.

— Aquilo era tudo que eu ainda tinha. Tudo que havia sobrado!

Seu irmão, sua mestre, os olhos da garota de rabo de cavalo. Ao menos os cabelos de sua mãe estavam sempre ali para que ele pudesse visitar. E agora não mais.

Camus tinha os olhos fechados.

— Agora me diga! — vociferou Hyoga. — Por que você fez isso? Por quê? Por que você fez isso?

— Jamais em minha vida culpei as pessoas que não conseguem se esquecer do passado e que às vezes caem em prantos por causa disso. As pessoas comuns são assim, mas você não. Você é um Cavaleiro. Deveria me agradecer por tirar uma fraqueza de sua mente.

— Como pode dizer isso?! — tornou Hyoga.

— Se está zangado comigo por causa disso, você não tem outra alternativa a não ser lutar comigo.

— Já chega. Ninguém, nem mesmo os meus Mestres, têm o direito de tirar a minha mãe de mim!

O punho de Hyoga finalmente viu a luz da Casa de Libra e sua voz raivosa conjurou sua nevasca gélida.

— Pó de Diamante!

Havia fúria naquele cosmo e uma força enorme na nevasca de Hyoga; mas Camus, o Cavaleiro de Ouro, simplesmente deteve aquela fúria toda do garoto com a palma de uma mão.

— Eu sou seu Mestre, Hyoga. Não poderá me derrotar com uma técnica tão básica como o Pó de Diamante.

Seu cosmo morreu nas mãos de seu mestre.

— Seu cosmo não é páreo para mim. Já foi vencido pelo Cavaleiro de Gêmeos e é evidente que você nunca poderá derrotar os Cavaleiros de Ouro. Você pode ser vencido com apenas um movimento.

— Cale a boca! — protestou ele, fora de si. — Nossa luta ainda não está terminada. Trovão Aurora!

Àquela altura, Hyoga atacava por puro desespero, mas em seu íntimo ele gostaria ao menos de acertar um golpe em seu mestre, para que ele visse que era digno.

— Não adianta tentar. — falou Camus com calma. 

Seu Cosmo de ouro reverteu a nevasca para atingir Hyoga.

Ele foi arremessado e marcou a coluna com seu corpo antes de voltar ao chão.

— Você está cheio de sentimentos para com aqueles que já foram e cheio de ódio contra mim. — completou Camus. — Pode achar que esses sentimentos o deixam forte, mas você está muito distante de chegar próximo da Essência do Cosmo, o Cosmo máximo.

— A essência do Cosmo? — perguntou-se Hyoga.

O Cavaleiro de Cisne lembrou-se do que Mu havia dito na Casa de Áries, do tamanho do Cosmo de Seiya na Casa de Touro e do recado de Aldebarã para eles: deveriam despertar o Sétimo Sentido por conta própria. Encontrar dentro de cada um o caminho para a Essência do Cosmo. Não era uma questão de lutar com toda a vontade que dispunham: sem encontrar o Sétimo Sentido, de nada adiantaria lutar contra um Cavaleiro de Ouro. 

Hyoga olhou para seu Mestre Camus à sua frente; sua face, austera e imovível.

— Mestre Camus, você fez isso para me ajudar a alcançar o Sétimo Sentido. Era isso que você queria me ensinar, não era? Era isso? Me diga! — tentou Hyoga, levantando-se, olhando para seu Mestre.

— Se quiser enfrentar os Cavaleiros de Ouro de igual para igual, Hyoga, deve abandonar esses sentimentos que te impedem de chegar à Essência do Cosmo.

O garoto levantou-se e perguntou, triste.

— Está me dizendo para esquecer os meus sentimentos naquele abismo profundo?

E, naquele pequeno segundo, olhando para seu Mestre que também amava tanto, Hyoga lembrou-se da face de sua mãe no parapeito de um navio que naufragava, pedindo que ficasse firme enquanto se distanciava no único e pequeno bote com outras crianças e meninas jovens para a salvação. Lembrou-se da espera terrível ao lado do rio congelado por seu irmão, que nunca reapareceu. Do choro congelado de Cristal em seus braços. E, mais próximo de seu peito, dos olhos vazios da garota que gostava.

— Não. — balançou Hyoga, a cabeça incapaz de conceber aquilo. — Não, eu não posso.

Gaguejava em profunda tristeza.

— Eu não posso esquecer a única coisa que restou pra mim no mundo. Eu não posso deixar de lado as minhas lembranças. Não posso. Eu não posso, Mestre Camus! — e caiu de joelhos, chorando e balbuciando que aquilo realmente não podia.

Instalou-se um silêncio gélido na Casa de Libra enquanto Hyoga chorava ajoelhado sua triste sina de ter perdido tanta gente que amava em tão pouco tempo.

Camus o olhava de cima para baixo; seu discípulo ajoelhado, tremendo de chorar. Com saudades de amores que perdeu. Ainda tão jovem. No fundo de seu peito, Camus tinha medo de que Hyoga lhe confessasse aquilo.

O Cavaleiro de Ouro abriu as pernas e uniu as duas mãos com os dedos cruzados à sua frente; levantou então os dois braços acima da cabeça e seu Cosmo manifestou um frio tão terrível que Hyoga levantou os olhos para compreender como aquilo era possível. Viu seu Mestre Camus com os braços elevados e unidos, a boca de um jarro dourado desenhada às suas costas. E um brilho dourado derramando de dentro do jarro.

— Execução Aurora!

A voz de Camus soou pela Casa de Libra e imediatamente o templo inteiro foi invadido por um frio absoluto, derrubando a temperatura ambiente radical e rapidamente. Uma rajada de gelo arrasou Hyoga de Cisne soprando sobre seu corpo um congelamento tão violento que ele sentiu como se o tempo houvesse ficado mais lento. Muito mais lento. Não sentiu dor alguma. Apenas seus sentidos apagando-se um a um.

Ele havia perdido. Estaria tão breve ao lado de sua mãe, de seu irmão e da Mestre Cristal. E, onde quer que estivesse, velaria pela felicidade da garota de quem tinha tanta saudade. Pensou em Atena e lamentou profundamente não ter o que era necessário para encontrar a Essência do Cosmo.

Seu Cosmo rompeu como uma corda no universo e Seiya, Shun e Shiryu, que haviam prometido estarem sempre juntos ao lado dele, sentiram, onde quer que estivessem que o coração de Hyoga havia parado.

Uma névoa gelada cobria o chão da Casa de Libra e Camus, o Cavaleiro de Ouro, tinha aos seus pés o corpo inerte de seu discípulo, Hyoga de Cisne.

— O ar congelante da minha Execução Aurora parece que te levou ao sono eterno. — Camus falava naquela casa sozinho, pois Hyoga, na condição em que estava, não podia mais escutá-lo.

E talvez fosse justamente por isso que Camus falava.

— Hyoga, durma em paz. Eu não pude mudar seu coração. Meu plano não funcionou. 

O corpo inerte do Cavaleiro de Cisne o movia.

— Não foi capaz de punir aqueles que haviam descumprido o Juramento de Atena, como também não foi capaz de fazer o que era preciso para acabar com a Discórdia. Aqui, infelizmente, você teria sido derrotado de qualquer jeito, mesmo que tivesse continuado. Talvez assim tenha sido melhor porque você não morreu com dor.

Seus olhos espremeram pela primeira vez, como se dentro de Camus seus sentimentos lutassem para vir à tona.

— Eu vou enterrá-lo aqui em um esquife de gelo. É a única coisa que posso fazer por você.

Levantou seu braço direito e seu cosmo ascendeu na Casa de Libra; um gelo cristalino manifestou-se de seu braço levantado e começou a cobrir o corpo de Hyoga em raios lentamente congelantes.

— Perdoe-me, Cristal, por tirar a vida de nosso adorado pupilo. Não queria fazê-lo, mas o destino é terrível. Ele era tão sensível como era sua mãe. E tão humano como você, Cristal. Espero que um dia possa me perdoar.

E, de seus olhos, lágrimas desceram, sem que ali ninguém o pudesse ver chorar. Franziu os olhos, como se para tentar represar sua tristeza, e então desceu o braço levantado com força. O esquife de gelo que agora enterrava Hyoga levantou-se para que ficasse em pé à sua frente. 

— Hyoga, seu corpo permanecerá assim para sempre. — falou Camus a seu discípulo congelado à sua frente. — Mesmo que sua alma vá para o Céu, seu corpo ficará para sempre na Casa de Libra. Esse esquife de gelo jamais derreterá, nem mesmo os Cavaleiros de Ouro serão capazes de destruí-lo. 

Caminhou para a saída da Casa de Libra, mas antes colocou a mão no esquife.

— Adeus, Hyoga.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Não alterei nada, pois esse episódio é perfeito.

PRÓXIMO CAPÍTULO: OUTRA VEZ AO COVIL DA MINHA SOLIDÃO

Shiryu recebe uma inesperada ajuda na Colina de Yomotsu e retorna à Casa de Câncer para lutar contra Máscara da Morte. Mas ela tem uma nova cartada para vencer a Cavaleira de Dragão.



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