Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 46
Outras Dimensões


Notas iniciais do capítulo

Shun encontra um meio de contra-atacar o Cavaleiro de Gêmeos, enquanto Shiryu também é enviado à um lugar distante e terrível na Casa de Câncer.



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Com o universo convulsionando ao seu redor, Shun perdeu a noção de onde estava e também do que era cima, baixo, direita ou esquerda. Seu corpo tombava por um infinito sem gravidade até que as Correntes deixaram seus dois braços para voltarem à Casa de Gêmeos, que se distanciava, e se prenderem às duas colunas ao lado do Cavaleiro de Gêmeos.

Finalmente fixo no espaço, Shun viu com horror como Hyoga, desacordado, simplesmente continuou vagando pelo cosmo; seu corpo virando e fugindo para sempre. Shun chamou seu nome muitas vezes, mas ali ele sequer podia escutar sua voz manifestar-se. Gritou muitas vezes em desespero, ordenou que a corrente o deixasse voar até o amigo, mas ela estava em seu limite e ele não conseguia alcançar; suas mãos não chegavam nas de Hyoga. Até que sua Corrente o puxou de volta para a Casa de Gêmeos e ele viu-se novamente no chão daquele templo maldito. Sem o amigo.

Puxou o ar com desespero, pois percebeu que não podia ter puxado o ar naquela dimensão, pois lá não havia.

— A Corrente de Andrômeda é conhecida por ter o maior instinto de Defesa entre todas as Armaduras. — falou a voz ecoada do fantasma. — Não fosse por ela, teria o mesmo destino do Cavaleiro de Cisne.

— Para onde o enviou? — perguntou Shun, ofegante.

A voz fantasmagórica afirmou categoricamente.

— Para outra dimensão.

— O que significa uma outra dimensão? — perguntou Shun.

— Sua pequena mente jamais poderia compreender. — falou o fantasma. — Ele está preso para sempre e vagará sem rumo pelo vasto universo até o fim dos tempos.

Shun, em desespero, pensou em Hyoga perdido em um lugar que ele mesmo sequer compreendia o que poderia ser.

— Não se preocupe, pois você também irá fazer companhia a ele na Outra Dimensão.

Novamente o Cosmo dourado ao redor daquele sujeito terrível; os olhos de seu elmo rasgaram o tecido da realidade e ele revelou a abertura para aquela outra dimensão. Uma imensidão cósmica, galáxias, nuvens estelares e cometas distantes.

As Correntes de Shun novamente detiveram seu voo para o infinito, ainda presas e teimosas ao redor de duas colunas. Shun segurava-as com a maior força que podia, pois dessa vez seu corpo era sugado com violência para aquele infinito. Ouviu então aquela voz grave e estacada ecoar por todo o universo em que estava.

— Sua Corrente ainda tenta te ajudar. Mas não por muito tempo.

Shun pôde apenas sentir uma oscilação em seu cosmo até que seu braço direito simplesmente cedeu, como se a corrente houvesse estourado no seu comprimento. Segurou-se unicamente pela mão esquerda que o girou no universo e ele pôde ver, com horror, que o Cavaleiro de Gêmeos, já muito distante lá embaixo no templo, tinha sua corrente nas mãos, pronto para quebrá-la e finalmente dar cabo de sua vida. Ele nada podia fazer.

A Corrente de Andrômeda finalmente rachou e o desespero em seu peito rompeu em um grito que reverberou nas paredes daquela dimensão. Por Saori. Por Seiya. 

Por Ikki.

A dimensão explodiu feito um vitral e ele caiu de volta na Casa de Gêmeos.

 

—/-

 

Talvez tivesse sido a força sem igual do grito que Shun exclamou naquele infinito, traduzindo o imenso desespero que sentiu. Fosse o que fosse, estava livre daquela dimensão. 

— Ikki… — balbuciou Shun, ainda de olhos fechados.

Pois não havia dúvidas de que o Cavaleiro de Andrômeda havia sentido o cosmo de sua irmã, ainda que distante, ainda que sutil e efêmera. Abriu os olhos e viu o chão da Casa de Gêmeos.

Mas, muito mais do que isso, quando deu por si e levantou os olhos, viu com clareza a saída da Casa de Gêmeos; a figura terrível com a Armadura de Ouro havia sumido e seu rosto foi visitado por uma brisa do lado de fora, onde podia ver claramente as escadarias largas subindo adiante para o próximo templo.

Deu alguns passos adiante e então hesitou.

Hyoga.

O que, afinal, iria acontecer com ele?

Sua hesitação foi sua perdição, pois a saída da Casa de Gêmeos fechou-se com um espetáculo de quedas de colunas que amontoaram-se à sua frente, jogando novamente o templo em uma imensa escuridão. Iluminada pelo único foco de luz que era o Cosmo dourado do Cavaleiro de Gêmeos atrás de si.

Seu riso grave ecoou pela casa.

— A saída da Casa de Gêmeos voltou a se fechar. Perdeu sua chance de se livrar.

Com horror, dentro do elmo de Gêmeos, ao invés de um rosto escondido nas sombras, Shun viu como oscilava naquele rosto o infinito das galáxias, matrizes de cores diversas, como se olhasse para um caleidoscópio.

— Hyoga continua preso em outra dimensão. — falou Shun com firmeza. — Não vou embora sem ele. Quando eu sair daqui, ele estará comigo.

— Tolo. Já não há mais salvação para o Cavaleiro de Cisne. — falou a voz grave. — Mas juntos certamente ficarão.

— Em outra dimensão, imagino. — falou Shun, queimando seu cosmo ardentemente.

— Exatamente. — respondeu a voz.

O Cavaleiro de Gêmeos novamente caminhou em sua direção. 

Shun apertou forte suas Correntes e fechou os olhos, concentrando seu cosmo. O Sétimo Sentido. Ele precisava tocar o Sétimo Sentido se quisesse ter qualquer chance ali. Ele não precisava ser rápido. Ou sequer forte. Ele sabia o que precisava. Mas, para isso, seu Cosmo deveria ascender. Brilhar como Seiya havia feito contra Aldebarã. Como sua irmã havia feito sabe-se lá de onde.

— Outra Dimensão!

A voz grave anunciou sua técnica rasgando o tecido da realidade; de olhos fechados, Shun percebeu como seus pés, antes firmes no templo, simplesmente deixaram de ter qualquer sustentação para flutuarem naquele espetáculo cósmico que já havia visto antes.

Pois era exatamente o que queria. Ao redor de si Shun, contemplava precisamente a origem do Cosmo, de onde todos eles vieram e ao que todos pertenciam. Seus olhos fecharam-se e ele puxou suas Correntes para perto de si, as duas pontas rachadas graças ao cosmo terrível do Cavaleiro de Gêmeos atraíram as pontas triangulares e circulares que jaziam perdidas na Casa de Gêmeos. Uniram-se ao seu Cosmo forte que ressoava com toda aquela dimensão.

Suas Correntes estavam novamente inteiras e cobriram seu corpo com uma matriz giratória o mantendo ereto e interrompendo a vagarosa fuga para o infinito.

— De nada adiantará, Andrômeda. Eu destruirei suas Correntes quantas vezes for preciso. — falou a voz, ecoando por todo o universo em que estava.

— Não dessa vez, Gêmeos. — falou Shun. — Dessa vez estou onde preciso estar. As Correntes são como partes de mim.

As duas Correntes de Andrômeda eram diferentes entre si; na mão esquerda, Shun tinha a Corrente de ponta esférica, que tinha o instinto de proteção maior do que qualquer outra. Mas, na mão direita, Shun brandia uma Corrente com a ponta triangular, que era capaz de encontrar seu inimigo onde quer que estivesse escondido.

— Sinto-me parte de tudo graças à sua Outra Dimensão, Gêmeos! — falou Shun, e seu Cosmo não parava de crescer. — E se a Outra Dimensão é parte de tudo, ela também a tudo pode levar.

Shun brilhava no infinito. Em seu peito, sempre que lutava, uma angústia enorme se instalava, pois não gostava de ferir outras pessoas; sempre que podia, resistia ao uso de sua força. Defendia-se como podia até que seus inimigos desistissem, se possível. Mas havia vezes em que precisava lutar. E aquela era uma, pois seus amigos e Saori estavam em perigo. Ele teria de lutar.

— Se não está aqui, em algum lugar estará. Vou te encontrar onde estiver, Gêmeos! Vá! Onda Relâmpago!

A Corrente triangular foi arremessada para cima por Shun e, feito uma serpente viva, rompeu a Outra Dimensão ao atingir uma estrela próxima.

— Mesmo que se esconda a dezenas de milhares de anos-luz, graças a essa Outra Dimensão, a minha Corrente o encontrará!

A Corrente quebrava feito relâmpago por dimensões impossíveis, em que as cores e formas sequer atendiam à mesma física do mundo de Shun. Cores, formas, planetas, galáxias, números e sensações, a Corrente atravessou o caleidoscópio do universo, rasgando todas as distâncias até o infinito. 

Finalmente Shun percebeu que a Outra Dimensão cedeu e seu corpo estava novamente firme na Casa de Gêmeos. À sua frente, ainda a figura fantasmagórica do Cavaleiro de Gêmeos absolutamente parada como na primeira vez que a haviam encontrado.

Shun encarou aquele rosto escuro e vazio, que agora também refletia o universo de suas dimensões; quando finalmente o Cavaleiro de Andrômeda viu como um efêmero brilho começou a surgir daquele rosto.

A Corrente triangular irrompeu de dentro da cabeça daquele elmo para voltar à mão de Shun. E quando o Cavaleiro de Andrômeda tocou novamente sua Corrente que havia retornado de outras dimensões, aquela ilusão inteira explodiu em luz ao seu redor, limpando a escuridão e revelando novamente a saída do templo.

Nas mãos, Shun tinha preso à sua Corrente triangular um colar de contas eclesiásticas com pedras preciosas. Ele sabia que havia atingido o responsável, pois o labirinto havia desaparecido e havia agora um rosário preso à sua corrente; talvez fosse a chave para descobrir quem estava por trás do Cavaleiro de Gêmeos e ao lado daquela força terrível que havia se instalado no Santuário.

No chão, a Armadura de Ouro de Gêmeos estava jogada e suas partes espalhadas já sem corpo nenhum para vesti-la; Shun viu com clareza como um Cosmo forte manifestou-se dentro dela e, enfim, as partes uniram-se em um totem sentado e bonito com duas faces, uma de cada lado. Era a Armadura de Gêmeos.

Ele havia vencido, mas pensava em Hyoga. Teria o Cavaleiro de Cisne escapado de sua sina?

 

—/-

 

Seiya e Shiryu finalmente chegam ao próximo templo: a Casa de Câncer. O templo exala uma sensação nauseabunda e um cheiro metálico de sua entrada escurecida; a fachada branca de pedra tem colunas sustentando seu teto mais baixo que os demais templos.

— Seiya, eu cuidarei da Casa de Câncer.

— Não vou concordar com isso, Shiryu! Se essa Cavaleira for aquela que realmente...

— Você precisa seguir para a Casa de Leão. Não sabemos quanto tempo ficamos dentro da Casa de Gêmeos e a Saori precisa da nossa ajuda. — falou ela, séria.

Seiya hesitou por um instante, contrariado, mas concordou.

— Droga, Shiryu. Está bem.

Entraram portanto naquele templo que, sem dúvida alguma, era o mais sombrio; muito mais que o labirinto de Gêmeos. Viam à frente de seus passos alongarem-se suas próprias sombras, iluminadas pela luz do dia que entrava para dentro daquele templo. Muito raramente se espalhavam acesos archotes de um fogo estranho, pois eram azuis e brilhavam feito fogos-fátuos na escuridão.

Também não pareciam emitir qualquer calor e, se possível fosse, Seiya pensou no absurdo daquelas chamas azuis serem frias, na verdade. O ambiente pouco iluminado e azulado era infestado por uma névoa quase transparente, que dava ao lugar um aspecto lúgubre e desconcertante. 

 

Shiryu também podia sentir o frio da casa e a sensação de morte dentro daquele templo. Era como se estivessem em um cemitério.

Se o Cavaleiro de Gêmeos lhes dava a impressão de ser um fantasma, aquele templo era quem lhes transmitia uma sensação enorme de morte. Como nunca haviam sentido. Shiryu então parou onde estava, pois seu pé pareceu pisar algo estranhamente macio em relevo no chão.

— Seiya, espera um pouco.

— O que foi, Shiryu? — perguntou Seiya olhando para ela.

— Sinto que pisei em alguma coisa estranha.

Quando Seiya olhou para os pés de Shiryu, viu algo aterrorizante. Era uma face que emergia da pedra; não havia o resto do corpo em nenhum lugar. Apenas o rosto, como uma máscara; os olhos, a testa, o enorme nariz, a boca aberta como se paralisada no meio de um grito.

— É um rosto! — exclamou Seiya, com terror. — Uma face. Por Atena, é um rosto humano, Shiryu!

— Um rosto? O que quer dizer, Seiya?

— Tem um rosto humano no chão. E não é só um. Agora que posso ver melhor, o chão está cheio de faces  pregadas no chão! — a voz de Seiya estava quebrada e desesperada.

Seus olhos, no entanto, notaram que as faces não emergiam apenas do chão, mas das colunas, das paredes e também do teto baixo daquela casa horrorosa. E, com assombro, Seiya narrou todos os seus achados para a amiga Shiryu enquanto não parava de descobrir mais e mais rostos espalhados. 

— Estão rindo, Shiryu. As faces estão rindo! — desesperou-se Seiya ao escutar um riso dentro da Casa de Câncer.

Mas Shiryu já havia escutado aquela risada antes.

Caminhando entre a névoa, a Cavaleira de Câncer sequer manifestou seu cosmo, para que surgisse feito uma aparição da morte e não um facho de esperança na luz. 

— Ficaram surpresos? — falou ela.

— Máscara da Morte! — adivinhou Shiryu.

Seiya lembrou-se do que a amiga havia dito mais cedo: aquele era o nome responsável pela morte de Xiaoling. Pelo ataque à Palaestra e, em certo sentido, pela armadilha que haviam caído.

— Que honra te ter em minha casa, Dragão. — falou aquela voz sedutora e terrível.

— Shiryu, essa é a mulher que você disse que matou a Xiaoling? — perguntou Seiya entre os dentes.

— Sim. Ela é a Cavaleira de Ouro que atacou o Mestre Ancião e Palaestra. E não é só isso, Seiya. Ela também sabe quem está por trás desse mal instalado no Santuário e, mesmo assim, escolheu estar ao seu lado.

— Eu não estou ao lado de outra pessoa que não seja o Camerlengo Mestre Arles. — falou ela com pomposidade. — Não posso dizer sobre essa garota que me acusam de ter matado mas, como podem ver, minhas vítimas são muitas. 

— O Camerlengo está ao lado de Atena! — ralhou Seiya.

— Sem dúvidas. — concordou ela, debochada.

— Como pode você ser uma Cavaleira de Ouro? — perguntou Shiryu, enquanto a acusava. — Você mancha a reputação do Santuário!

— E vocês falam demais. — falou ela, impaciente. — Logo as faces de traidores como vocês também serão decoração nesse templo.

Ela colocou-se diante deles e as chamas azuis adotaram cores diversas iluminando as faces em vários matizes. 

— Essas faces são os rostos daqueles que morreram por minhas mãos. — falou ela, orgulhosa. — Suas almas não puderam encontrar paz após a morte e ficaram aqui presas na Casa de Câncer. Algumas faces expressam dor, outras tristeza e muitas um profundo desespero, pois mesmo após a morte ainda sofrem. 

— Que inferno. — ralharam os dois amigos.

— São as provas de minha força e as medalhas de minhas vitórias. — falou ela com a voz dura. — E é por isso que me chamam Máscara da Morte.

Seu corpo estonteante era imponente com aquela Armadura de Ouro. As chamas mudando as cores da Casa refletiam no metal de sua Armadura; seu cabelo prateado era curto, mas cheio. 

— Como pode se gabar de algo assim? — falou Shiryu.

Ouviram os dois, então, um choro baixo, e Seiya viu entre tantas faces também rostos pequenos de crianças.

— Por Atena, Shiryu. Há também crianças espalhadas nessa Casa! 

— Até crianças? — repetiu ela — Maldita seja, Máscara da Morte!

— Não sei como isso pode ter acontecido. — confessou ela, com um sorriso no rosto. — Devem ter morrido por engano enquanto eu lutava contra meus inimigos. Um pequeno sacrifício para eliminar as forças do mal que atentam contra a paz.

— Um pequeno sacrifício? — revoltou-se Seiya.

— Para alguém tomado pelo gosto da morte e lutando ao lado do mal, como pode dizer que sua luta é pela paz?

— Vejam, garotos. — começou ela, com seriedade. — Mesmo nas guerras entre os homens, é impossível impedir que bombas caiam onde há velhos ou crianças. Trata-se da mesma coisa.

— Cale a boca! — gritou Shiryu. — Os Cavaleiros deveriam lutar pela justiça!

— Vocês são muito jovens. — falou a Cavaleira de Ouro.

Máscara da Morte então pisou em uma face próxima dela, para revolta de Seiya, que armou-se imediatamente, mas foi interrompido por Shiryu.

— Espere, Seiya. — disse ela, puxando o amigo. — Máscara da Morte, você não merece usar uma Armadura de Ouro. Não, na verdade você não merece usar qualquer Armadura de Atena. E, em nome de Atena, em nome da Xiaoling, eu vou derrotá-la com toda a minha força!

— Shiryu, eu também quero cobrir essa desgraçada na porrada! — falou Seiya, ascendendo seu cosmo também.

— Seiya, nós combinamos que você seguiria em frente. Até a Casa de Leão!

— Mas Shiryu… — teimava ele.

— Depressa, Seiya! — pediu ela. — Ainda temos oito Casas para atravessar e salvar Atena. Não devemos nos esquecer de nossa missão.

Seiya respirou fundo, mas tinha nos olhos a fúria de quem queria vingar Xiaoling. No fundo, sabia que Shiryu tinha razão: se ficasse ali para lutar, Saori talvez pudesse morrer se não chegassem a tempo até o topo daquela montanha.

— Droga, Shiryu. — concordou ele, finalmente. — Eu conto com você. Trate de dar a ela o que ela merece. Eu vou te esperar lá na frente.

— Combinado, Seiya!

Máscara da Morte tirou o pé da face que havia no chão e olhou fundo nos olhos de Seiya; o garoto afastou-se dos dois, em guarda, e desatou a correr pelo corredor que prosseguia adiante. A Cavaleira de Ouro de Câncer não esboçou qualquer reação. E então sorriu.

— Mal sabe ele que vai morrer na Casa de Leão. — falou ela.

— O que disse? — perguntou Shiryu, procurando compreender direito o que havia escutado. 

— Não se preocupe com ele, Dragão. Vamos terminar a nossa luta que começou lá nos Cinco Picos. Dessa vez, a Mestre Mu de Áries não estará aqui para te salvar. 

O Cosmo de Máscara da Morte finalmente revelou-se naquele templo fúnebre e Shiryu sentiu seu cheiro nauseabundo lentamente sugando seu corpo; lembrou-se daquela terrível técnica que podia sugar as almas para a Constelação de Câncer. Seus olhos novamente vislumbraram-se ao ver na sua cegueira escura uma fenda abrir para revelar o umbral para o inferno. Lentamente revelando colinas de uma noite eterna em seu interior.

Era ótimo, pois Shiryu tinha certeza de onde sua oponente estava. Mas seu corpo foi totalmente paralisado quando a voz de Máscara da Morte soou com força na casa.

— Strati di Spirito!

Se antes era sugado lentamente contra sua vontade, aquela ativação cósmica de Máscara da Morte completamente paralisou seu corpo e a sugou com violência para dentro daquele umbral infernal.

 

—/-

 

Lentamente, Shiryu moveu as mãos e percebeu estar em um lugar pedregoso, um cheiro de morte ao redor, o frio batendo-lhe no rosto e o som de lamúrias por todos os lados. 

Então abriu os olhos.

E viu diante de si a pedra escura em que estava deitada, adiante muitas chamas brancas como fogos-fátuos, um céu escuro e indefinido. Viu a tudo isso com assombro.

Pois via novamente.

Olhou para suas mãos e novamente as enxergou.

 

Podia ver outra vez.

— Será um sonho? — perguntou-se, sem saber onde estava. 

Levantou-se, caminhou alguns passos e sentiu seu corpo um pouco mais leve. Sua vista ora embaçava, ora lhe fazia perder um pouco do equilíbrio, como se precisasse acostumar-se novamente com aquele sentido perdido. 

Viu ao longe e à sua direita, no alto da crista de uma elevação, milhares de sombras marchando. Tentou limpar os olhos para ter certeza do que via e não teve dúvidas quando se aproximou: era uma fila de sombras que caminhavam à uma distância a se perder de vista. Uma fila de espectros. De pessoas cabisbaixas que marchavam balbuciando lamúrias, mas que naquela quantidade tornavam toda aquela colina extremamente mórbida.

— O que será que é isso?

Shiryu começou a segui-las para onde quer que estivessem indo. Eram muitas figuras, das mais diversas formas: altos e baixos, gordos e magros, homens e mulheres, adultos e crianças marchavam em silêncio e em tristeza. 

— Ei! — tentou ela, gritando pela colina. — Que lugar é esse? Onde estão indo?

Mas ninguém lhe respondia. Sequer olhavam para ela.

Mais próxima, no entanto, Shiryu viu algo terrível.

Entre tantas pessoas diferentes marchando em silêncio, reconheceu alguém que caminhava em lamúrias: Hyoga, o Cavaleiro de Cisne.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Sim, a Máscara da Morte é italiana e vai falar com sotaque e suas técnicas serão em italiano. Aliás, eu procurei na internet como que nossos amigos italianos localizaram os golpes do Máscara da Morte pra usar aqui. Eu gosto. =) Sabe que eu também usei a Sofia Loren como base para a descrição da Cavaleira de Ouro. Legal, vai.

PRÓXIMO CAPÍTULO: A DOR DAS LEMBRANÇAS

Enviado para uma Outra Dimensão, após vagar por tempos incontáveis, Hyoga finalmente chega ao seu destino para reencontrar alguém muito querido.



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