Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 31
O Sacrifício do Dragão


Notas iniciais do capítulo

No Templo de Éris, Seiya, Shiryu e Xiaoling são surpreendidos por Cavaleiros de Prata e uma batalha terrível culmina com o sacrifício do Dragão.



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O trio subia com dificuldades as escarpas de uma montanha íngreme, liderados por Seiya, que melhor sabia o caminho. Não podiam tomar a estrada principal, já que ela era vigiada pelos sentinelas do Santuário e os jovens não queriam chamar atenção, uma vez que eram caçados e caminhavam perigosamente próximo do território inimigo. Ainda não era hora de enfrentar o Santuário. Ainda não.

Xiaoling tomou um gole de água que trazia de um cantil e passou para Shiryu e Seiya. Pararam por alguns instantes em uma grota para descansarem enquanto o sol se levantava no Mediterrâneo; estavam usando suas Sagradas Armaduras e Xiaoling tinha, a tiracolo, uma bolsa com alguns víveres para que tivessem tranquilidade maior na escalada.

— O Shun devia ter vindo. Seria bem mais fácil com as Correntes dele. — comentou Seiya.

— Seiya, aquele é o Santuário? — perguntou Shiryu, olhando ao longe.

Daquela altura podiam vislumbrar um curto espaço de árvores lá embaixo, mas em geral um tanto de formações rochosas marrom-claras, algumas ruínas espalhadas aqui e ali antes que a visão chegasse a um enorme monte isolado.

— Sim. — disse Seiya. — Atrás daquele monte fica o Santuário de Atena.

— Dá vontade de ir até lá e já resolver logo tudo isso. — falou Xiaoling.

— Xiao, são centenas de guerreiros, Cavaleiros de Bronze e de Prata, o Camerlengo. Você não chegaria nem na estrada direito. — falou Seiya.

— Eu ainda acho que a gente consegue. — disse ela, tomando outro gole do cantil.

Seiya olhou sorrindo para Shiryu: a pequena era valente ou louca.

Voltaram a escalar a encosta daquele monte, que era muito menor do que aquele outro muito distante dali, mas que também era um desafio até para Cavaleiros treinados como eles. De todo modo, não demoraram tanto para chegar até o topo e, lá de cima, vislumbraram um enorme Templo abandonado abaixo deles.

Mas havia mais alguém ali.

Seiya puxou os amigos para se esconderem como podiam, pois três figuras caminhavam na entrada do Templo na direção de uma estrada, deixando as ruínas.

— Conhece eles, Seiya? — murmurou Shiryu.

— Sim. — respondeu Seiya, desapontado. — Aquela é Shaina, rival da minha Mestre.

Shaina caminhava deslumbrante com uma Armadura prateada no corpo; ao seu lado, outros dois rapazes também trajados de suas Armaduras acompanhavam-na para a saída do Templo, na direção de uma trilha que cortava as rochas em um vale.

Aí pararam.

Daquela altura, o trio não podia ouvir o que diziam entre si.

Ao lado de Seiya, no entanto, uma pedra enorme moveu-se e rolou para esmagá-los aos três; com rapidez, eles jogaram-se para o lado, evitando serem atingidos pela enorme rocha.

— Quem está aí? — ouviram a voz estridente de Shaina lá de baixo.

— Droga. — disse Seiya, sozinho.

Foram descobertos.

Seiya levantou-se e sua Armadura refletiu a luz do sol, cegando por um instante os três Cavaleiros de Prata lá embaixo.

— Sou Seiya de Pégaso! — anunciou ele.

Não puderam ver, mas um sorriso abriu-se no rosto de Shaina, e ela deixou seu riso soar pelos rochedos.

— Mas que sorte a minha! — disse ela. — Não vai descer para cumprimentar sua velha amiga?

Ao lado deles, outra rocha moveu-se novamente, e Shiryu percebeu claramente que, assim como a primeira, as pedras não se moviam sozinhas, mas respondendo ao cosmo de uma das figuras ao lado de Shaina. Já não adiantava ficar naquela escarpa alta e estreita, pois eram alvos fáceis. Saltaram e pararam em frente aos Cavaleiros de Prata.

— Shaina… — comentou Seiya.

— Vejam só, Cavaleiros de Prata. A nossa sorte é tamanha que acaba de cair em nosso colo três traidores do Santuário. — disse a voz aguda de Shaina.

— Não somos traidores! — exclamou a pequena Xiaoling.

— Ah, não? — perguntou ela, debochada. — E o que fazem aqui escondidos como ratos?

— Viemos selar o Templo de Éris. — disse Shiryu, séria.

— Nós já selamos o Templo! — falou um rapaz ao lado de Shaina.

— Cale a boca, Capella! — ralhou ela com o rapaz. — Traidores não precisam saber absolutamente nada sobre nossa missão.

— Shaina, vocês estão sendo todos enganados. — começou Seiya. — Há um mal instalado no Santuário!

Ela gargalhou.

— Você é mesmo um idiota, Seiya. Jamais deveria ter se tornado um Cavaleiro. Você não é digno da Armadura de Pégaso. — disse ela, apontando para ele. — Eu disse que estaria com a minha Armadura na próxima vez que nos encontrássemos. E aqui estamos. Terei a minha vingança!

Ela imediatamente avançou na direção de Seiya, que esquivou-se; a rocha atrás de si destruída.

— Matem os traidores! — ordenou ela para seus acompanhantes antes de falar entre os dentes. — Mas deixem Pégaso comigo!

 

—/-

 

Três de cada lado engajados em um canto daquele Templo lutando francamente. Shaina com sua reluzente Armadura de Prata lutava ferozmente contra Seiya; Shiryu saltava pelas ruínas fugindo de pedras e rochas arremessadas por Capella, enquanto Xiaoling tinha à sua frente um oponente sério.

Seiya afastava-se daquela encruzilhada, pois voava pelas pilastras saltando de uma para outra, escapando sempre por muito pouco das garras afiadas de Shaina, que o perseguia. Assim, acabaram por se afastar dos demais.

— Pare com isso, Shaina! — disse ele, colocando-se diante dela, finalmente.

— Não seja covarde, Seiya!

— Não temos porquê lutar. Você precisa me escutar! — disse ele, desviando de mais um punho elétrico da garota.

Shaina olhava-o com fúria nos olhos, já ofegante de tanta energia que havia colocado naquela perseguição. Ao redor deles, haviam colunas ainda de pé; o teto que sustentavam, no entanto, já há muito desaparecido, e suas pedras recolhidas daquele lugar. No chão, mosaicos antigos e quebrados ainda mantinham uma sombra do que era o aspecto daquele grande salão em tempos imemoriais.

— Seiya, diga-me. — começou ela. — O que aconteceu com Misty e Marin?

Seiya surpreendeu-se ao vê-la perguntar de Marin.

— O que quer dizer, Shaina? — perguntou ele. — Marin não retornou ao Santuário?

A garota, pela primeira vez, pareceu surpresa, e no seu rosto furioso instalou-se um pouco a confusão de sua mente.

— Shaina, há algo muito errado acontecendo dentro do Santuário.

— Sim. — apontou ela para Seiya. — São vocês, estrangeiros. Desde que vieram para cá é que o Santuário está maculado.

— Não diga isso, Shaina, como pode dizer isso? — perguntou Seiya para ela, absurdado.

Ela ficou calada, olhando-o.

— Eu sei porque diz isso. — falou ele.

— Cale-se! 

Shaina avançou em Seiya e seu punho acertou o garoto no estômago, levando-o ao chão. De joelhos, Seiya percebeu que Shaina o trancou com os braços, enforcando-o. Ele balbuciava o nome dela, tentando chamá-la à razão.

— Vai morrer nas mãos da portadora de serpentes, Seiya.

O garoto debatia-se como podia, mas os braços de Shaina eram poderosos e o tinham preso em uma chave impossível dele se libertar. Sentia seus sentidos aos poucos vacilando com a falta de ar.

— A… tena. — conseguiu dizer, finalmente, entre a pega firme de Shaina.

Incapaz de interromper os braços fortes da garota, Seiya tirou o cilindro que guardava consigo e o deixou cair na pedra das ruínas; o cilindro rolou calmamente para um pouco longe deles. Shaina jogou Seiya para o lado e o garoto engasgou tomando o ar novamente.

A garota foi até o cilindro e o pegou nas mãos, assombrada. Tirou outro idêntico que tinha também guardado consigo. O dela, vazio. Abriu aquele que tinha nas mãos e viu o papiro encantado.

— Quem te deu isso? — perguntou ela.

Seiya olhou para ela, aliviado de finalmente ter uma chance de ser ouvido.

— Atena. — respondeu ele, ainda buscando o ar.

— Não seja ridículo! Como conseguiu isso? Quem deu a vocês o Selo de Atena?

— Eu já disse que foi Atena. — respondeu ele.

Shaina chutou-o para longe.

— Isso é a prova de que há um traidor no Santuário. — disse ela. — Somente o Camerlengo Mestre Arles pode conferir um Selo como esse. E ele jamais daria para alguém como você. Jamais! — vociferou ela, atacando-o novamente.

Seiya apanhava de todos os lados por Shaina, seu corpo já vertendo sangue e sofrimento.

— A vergonha. — começou ela, raivosa. — A Armadura de Pégaso, um tesouro da Grécia. Jurada pelo próprio Camerlengo em pessoa sendo usada em um torneio, em um espetáculo.

Seiya rastejava buscando levantar-se.

— E então fez questão de acabar com o sonho de Geist e roubar a Armadura de Ouro. — E a cada pecado seu, Seiya recebia uma bordoada no corpo. — Misty, Astério, Moisés e até sua Mestre Marin, Seiya! Todos mortos!

— Não! Marin não está morta! — protestou ele.

Shaina tentou chutá-lo novamente, mas Seiya finalmente aparou o golpe com o braço e a afastou, levantando-se.

— Não é a mim que deve atacar, Shaina. O Santuário está tomado por algo terrível. Atena está do nosso lado. — falou ele e havia compaixão em sua voz.

Do outro lado, cada vez que Seiya falava de Atena, Shaina era invadida por uma confusão enorme, como se aquelas palavras fossem absolutamente incompreensíveis, já que Atena era muito distante de todos eles, muito mais de meros Cavaleiros de Bronze. E ali Seiya falava como se Atena jantasse ao seu lado. 

E era justamente essa a realidade.

Mas para Shaina, que apenas via a silhueta distante da grande mulher que era Atena, ouvir Seiya falar com tanta intimidade era quase um pecado cometido. Algo inadmissível para ela.

— Atena está ao lado do Camerlengo Mestre Arles. — disse ela entre os dentes. — Como se atreve a falar em nome de Atena? O que aconteceu com você, Seiya? Mesmo Marin se envergonharia muito de você.

— Eu já disse que ela está viva! — disse ele, finalmente lançando seu punho para Shaina, que o bloqueou facilmente.

Então ele parou, lembrando-se de que Shaina tinha razão. Marin se envergonhava mesmo dele.

— E aparece aqui escondido dizendo essas coisas absurdas, trazendo um Selo de Atena que deve ser tão falso quanto o seu juramento de Cavaleiro. O seu destino é ser punido. E eu vou te punir, Seiya! Por Misty e por Marin!

E ela ascendeu seu cosmo prateado, que estalava eletricidade ao seu redor. Seiya viu que ela estava decidida; se, quando era menor, Seiya via nos olhos de Shaina uma birra enorme por ele, que por vezes ele confundia com a rivalidade que ela mesmo tinha com Marin e ele com Cássius, agora era um misto de fúria com um profundo descontentamento, como se Seiya houvesse maculado os ritos sagrados em que ela acreditava. Parecia absurdo, mas Seiya sentia que ela estava desapontada com ele também.

Mas ele tinha Atena ao seu lado.

Seiya queimou também seu cosmo, rivalizando com aquela imensa Cavaleira de Prata.

— Seiya de Pégaso. — começou ela. — Eu, Shaina de Ofiúco, o dispenso de sua obrigação como um Cavaleiro de Atena.

E avançou, furiosa, com suas garras eletrificadas, sua voz reverberando nas colunas.

— Garras do Trovão!

— Meteoros de Pégaso! — respondeu o garoto, indo em sua direção.

Os dois cosmos se chocaram e algumas colunas próximas foram ao chão com o impacto da energia. Ambos arremessados na direção contrária, encontraram cada qual uma coluna para interromper seus vôos. Seiya levantou-se sentindo espasmos pelo corpo inteiro e foi ao chão de dor novamente. Shaina estava de pé à sua frente.

— Seu Cosmo não é páreo para uma Cavaleira de Prata, Seiya. — disse ela, séria. — Seus Meteoros são fortes e mais poderosos do que da última vez que nos encontramos, mas enquanto eu estiver usando a minha Armadura de Prata você e os seus amiguinhos não terão chance contra nós.

— Já vencemos muitos inimigos. — disse Seiya, levantando-se. — Eu não posso perder aqui.

— Pois hoje perderá e eu tenho certeza que Argol e Capella já deram conta de suas amigas.

O Cosmo de Seiya novamente queimou e ele disparou seus Meteoros em Shaina que, sem se mover, bloqueou a todos eles.

— Desista.

Mas não era comum para Seiya desistir. Ele saltou contra o sol e novamente concentrou seu cosmo no punho, mas dessa vez não fez chover os meteoros que Shaina tão bem conhecia. Seiya concentrou todos eles em um ponto e desceu feito um Cometa até ela.

Shaina não esperava e cometeu o mesmo erro de Misty. A sua sorte, diferentemente de Lagarto, era que ela usava sua poderosa Armadura de Prata, portanto o potente punho de Seiya a arrastou até uma colunata, derrubando-a no chão. Mas ela manteve-se intacta, ainda que assombrada.

De joelhos, foi surpreendida por Seiya, que a tomou pelas costas segurando-a pelos ombros. Seu cosmo criou um turbilhão de luz que aprendera com Shun; aquela energia envolveu os dois e os lançou para o céu com força; Seiya controlava aquele turbilhão e arremessou os dois contra um paredão de pedra, em que Seiya afundou o corpo de Shaina contra a rocha.

Ele saltou em um mortal e viu como o corpo de Shaina deprendeu-se do buraco na rocha que havia formado e caiu com violência no chão à sua frente. Ela tentou se levantar, mas não pôde.

— Onde… aprendeu isso? — perguntou ela, sangrando.

— Não atingi nenhum ponto vital, Shaina. Você vai sobreviver. — disse Seiya. — Preciso que entenda que o Santuário está tomado por forças estranhas. Fique alerta. Eu não minto quando digo que Atena está do nosso lado.

E então virou-se para retornar para onde suas amigas ainda lutavam.

— Seiya… Isso não acabou. — disse Shaina atrás de si, incapaz de segui-lo.

 

—/-

 

A luta na entrada do Templo era vigorosa; Xiaoling era muito energética e, com efeito, trazia dificuldades para o Cavaleiro de Prata que a enfrentava. Suas esferas luminosas confundiam o oponente e, por diversas vezes, ele foi atingido pelo punho estelar de Xiaoling.

— Mas que diabos! — resmungou o Cavaleiro de Prata após ser atingido novamente pela garota.

— Se eu fosse você, eu desistia da batalha. — disse a garota.

— Cale a boca. — censurou ele.

Do outro lado, no entanto, Shiryu tinha imensa dificuldade enfrentando Capella, pois o uso da telecinese pelo Cavaleiro de Prata era muito mais refinado do que os ataques de pedra que havia sofrido de Kiki. Ele tinha a capacidade de controlar as rochas ao redor de Shiryu, mas também conseguia desviar todos os golpes da garota usando apenas empurrões cinéticos de sua mente.

E quando Shiryu pensou que sua situação não poderia piorar, Capella decidiu que não a atacaria mais com rochas ao seu redor, uma vez que Shiryu tinha plena capacidade de desviar ou simplesmente destruí-las com seu punho do Dragão. O Cavaleiro de Prata tirou dois discos que eram parte da sua proteção do quadril e inflamou seu cosmo.

— Desvie disso agora, Dragão. Os Discos Mortais do Cocheiro!

Shiryu viu como os dois discos foram arremessados com violência na sua direção, giravam cortando o ar e perseguiam-na de forma impossível. Logo adivinhou que a telecinesia de Capella controlava os discos de maneira a segui-la para onde fosse. A garota viu que não adiantava fugir, pois seria sempre perseguida. Fincou pé na terra e tomou toda a potência daqueles dois discos com seu Escudo poderoso, refletindo-os para longe.

Os discos retornaram para as mãos de Capella. Shiryu tentou aproveitar-se do momento para atacar, imaginando que ele estaria desatento, mas seu punho novamente foi desviado minimamente pela telecinese do Cavaleiro de Prata. Ela desequilibrou-se, passando por ele.

Quando Shiryu virou-se para encarar seu oponente, viu tarde demais que o disco zunindo avançou furioso contra sua cabeça, arrancando seu elmo e a lançando longe com sangue escorrendo de sua testa.

Longe dali, sentiram e ouviram a explosão de cosmos, para onde Seiya e Shaina haviam fugido. As duas lutas pararam, pois tentavam adivinhar o que poderia ter acontecido. Quem surgiria vencedor?

A figura de Seiya retornando só e com algumas dificuldades era um mau presságio para os Cavaleiros de Prata.

— Shaina… — falou baixo um deles. — Onde está Shaina? — perguntou o Cavaleiro de Prata que enfrentava Xiaoling.

Seiya apenas olhou-o de volta, pois não devia nada ele.

O Cavaleiro de Prata virou-se para o Templo e correu na direção da entrada até que Xiaoling parasse na sua frente, impedindo-o de prosseguir. A garota era uma pedra em seu sapato.

— Eu não tenho tempo pra você! — disse ele, saltando por cima dela e voltando a correr para dentro do Templo.

Xiaoling atacou-o com uma esfera de luz que lançou como quem arremessa uma bola na parede. E a esfera parou próximo às costas do Cavaleiro de Prata, que parou de correr. A luz da esfera se apagou e a energia se dissipou, para assombro de Xiaoling, que nunca havia visto nada igual.

— O que aconteceu? O que é aquilo? — havia algo por debaixo dos cabelos compridos do Cavaleiro de Prata, preso às costas de sua armadura.

— Quer mesmo saber, garotinha? — respondeu ele e, do outro lado, Shiryu percebeu que Capella deixou de lutar para observar o que se passava.

Xiaoling olhava atenta para as costas do Cavaleiro de Prata, ele puxou o cabelo que cobria suas costas e a garota viu dois olhos brilhantes encarando-a de volta. E mais não viu, pois Xiaoling de Ursa Menor fora transformada em uma estátua de pedra.

Seiya e Shiryu assombraram-se ao ver que Xiaoling não se movia, congelada na mesma postura atenta que estava momentos antes; a cor de sua pele e de sua Armadura desapareceram para dar lugar a um tom único de pedra cinza. Seiya e Shiryu gritaram por seu nome.

Tanto um como a outra correram até a estátua da amiga tentando compreender o que poderia ter acontecido. Não havia dúvidas de que a garota havia sido transformada em pedra. Uma estátua de Xiaoling.

— O que aconteceu? — perguntou Shiryu. — Xiaoling! — chamavam os dois.

— Ela cometeu o grave erro de olhar para isso. — disse o rapaz, tirando das costas a face cujos olhos havia petrificado Xiaoling.

Era um escudo hexagonal de Prata adornado com a imagem horrenda de uma górgona em alto relevo. Suas pálpebras fechadas, a boca entreaberta e suas presas à mostra; mas a principal característica daquela figura amaldiçoada eram as dezenas de serpentes emaranhadas que lhe serviam de cabelo.

— Esse é o Escudo da Medusa. — disse.

Seiya lembrava-se da lenda. Medusa fora uma mulher amaldiçoada a transformar-se em um monstro, cujas madeixas foram substituídas por venenosas serpentes, seus dentes trocados pelos de um javali e sua aparência grotesca era capaz de transformar a todos que a vissem em estátuas eternas de pedra.

Admirado, Seiya sucumbiu por sua curiosidade.

E foi também petrificado, pois enquanto rememorava suas lições mitológicas no berço da Grécia, lembrando-se de quem Medusa era nas histórias de Marin, os olhos brilhantes daquele escudo abriram-se novamente, dessa vez de forma fatal para Seiya.

— Ninguém resiste ao terrível olhar de Medusa. — falou o Cavaleiro de Prata, confiante, enquanto Shiryu gritava por seu amigo petrificado ao seu lado.

— Seiya!

— O que significa isso? — disse ele ao ver que Shiryu ainda vivia. — Como pode estar viva?

Shiryu olhou de volta para Argol em guarda e seu escudo à sua frente.

— O Escudo do Dragão. — disse ela, mostrando seu poderoso escudo. — Você é o Cavaleiro de Perseu, não é? Meu Mestre Ancião me contou que o Cavaleiro de Perseu usava a cabeça da Medusa em seu escudo. Se eu soubesse antes… — olhou ela para as estátuas de seus amigos.

— Já entendi. Você é discípula do Velho Mestre dos Cinco Picos Antigos, não é? A fama do Escudo do Dragão é muito conhecida e agora vejo que ele faz jus à ela. — disse o rapaz sério antes de finalmente se apresentar. — Eu sou Argol de Perseu.

Então caminhou na direção de Shiryu e também levantou o escudo da Medusa.

— Isso será interessante. Qual será o melhor escudo? O Escudo da Medusa, que a tudo transforma em pedra, — disse ele abrindo os olhos de seu escudo, forçando a garota a se esconder. — ou o Escudo do Dragão, conhecido por ser impenetrável?

Encararam-se estudando qualquer brecha que pudesse existir em suas defesas. Shiryu lembrou que Xiaoling, antes de ser petrificada, na verdade estava dando um imenso trabalho para o Cavaleiro de Prata. Imaginou que talvez o rapaz confiasse demais em seu próprio escudo e não tivesse tanto recurso além dos olhos malditos da Medusa.

— Diga-me, Perseu. Se eu vencê-lo em combate, Xiaoling e Seiya voltarão ao normal, não é verdade? — perguntou ela debaixo de seu escudo.

A resposta de Argol demorou um tanto.

— Seu Mestre é mesmo muito sábio, Shiryu. Mas escondida atrás desse seu escudo não conseguirá nada contra mim.

Ele tinha razão, e a cada momento que se passava sabia que o feitiço de pedra do Escudo tomaria mais e mais as vidas de seus amigos. Inflamou seu cosmo e, escondida, usou sua poderosa Cólera do Dragão, atingindo o Cavaleiro de Perseu, que voou; mas logo Argol estava de volta ao chão, praticamente sem sentir nenhum efeito, para seu assombro.

— Que ataque fraco. — disse Argol. — Você está tentando a todos os custos não olhar para meu escudo e isso tira completamente a potência de sua técnica, Dragão.

— Droga…
— Vamos Dragão. Mostre-me sua técnica com toda sua força!

E, ao dizer isso, Argol novamente abriu os olhos da Medusa, e outra vez Shiryu precisou esconder-se atrás de seu escudo. Surpreendida, no entanto, Shiryu viu-se imobilizada por Capella, que havia aparecido atrás dela.

— Depressa, Argol! Mostre a ela os olhos da Medusa! — disse ele, segurando Shiryu, que debatia-se desesperada ao ver-se impossibilitada de defender-se com seu escudo.

— Perfeito. — disse o Cavaleiro de Perseu.

Os olhos da Medusa abriram-se lentamente naquele Escudo terrível banhando o Templo com seu brilho amaldiçoado. Hábil, Shiryu conseguiu balançar seu corpo de modo a fazer Capella perder o equilíbrio, pois ele estava ainda mais amedrontado de olhar aqueles olhos. Seu excesso de zelo deu a chance para que Shiryu tivesse uma brecha naquela chave de braço e, com agilidade, conseguisse se livrar para deixar Capella, o Cavaleiro de Cocheiro, diante daqueles olhos terríveis.

— Desgraçada! — exclamou Argol ao ver seu parceiro petrificado.

Shiryu às suas costas.

— Agora será uma luta justa. — disse ela.

Argol imediatamente atacou-a e Shiryu teve de se defender com seu escudo dos inúmeros chutes que o Cavaleiro de Perseu desferia contra ela. Sabia, em seu íntimo, que enquanto ficasse se defendendo não teria qualquer chance de vencer seu oponente. E a vida dela não era a única ali em risco, mas Xiaoling e Seiya precisavam dela. Shiryu era a última esperança de voltarem ao normal. Ela precisava fazer algo.

Voou até uma coluna próxima à entrada do Templo, graças à força do chute do Cavaleiro de Prata. O Cavaleiro de Perseu.

Lembrou-se, então, de Perseu. E de como o mitológico herói havia vencido a terrível Medusa. Pois contava a história que, para evitar os terríveis olhos da Medusa, Perseu fez de seu escudo um espelho e assim pôde enxergar o monstro sem transformar-se em pedra, vencendo-a, finalmente, com um golpe fatal de sua espada.

Shiryu teria apenas uma chance, como tivera Perseu.

Ela se levantou e avançou na direção de Argol com o rosto coberto por seu punho direito, o Punho do Dragão, e debaixo dele Shiryu olhava atenta para o braço esquerdo estendido refletindo sem muita exatidão tudo ao seu redor. Viu claramente como se desenhou no escudo a figura humanóide de Argol e ela sabia que era sua chance.

Mas então a figura desapareceu.

Shiryu levantou os olhos e viu que não havia ninguém à sua frente, quando escutou a voz de Perseu acima de sua cabeça.

— Górgonas Demoníacas!

Abaixo de seus pés, Shiryu viu manifestar-se um sem número de serpentes que lhe subiram pelo corpo. E só tarde demais compreendeu que se tratava de uma ilusão, pois sua real preocupação era o chute voador e terrível de Argol acima dela. Por três vezes foi atingida e ao chão foi, terrivelmente ferida; o sangue vertendo de seu estômago, de suas pernas e de seu rosto.

— Não me subestime, Dragão. É óbvio que eu também conheço a história de Perseu e da Medusa. Acha mesmo que iria me vencer com isso?

Shiryu, com imensas dificuldades, começou a levantar-se; precisou limpar o sangue que lhe escorria da testa e insistia em cair-lhe nos olhos, dando um aspecto carmesim a tudo que via e ardendo-lhe a vista. Ela limpou os olhos, mas então teve uma ideia.

Argol estava impressionado com a fibra da garota. Ela apoiou-se em um joelho e rasgou o tecido que usava por debaixo da Armadura de Dragão. Com o tecido arrancado, vedou seus próprios olhos, amarrando a faixa improvisada atrás de sua cabeça. Lutaria cega, pois não podia ficar fugindo, não podia segurar seu punho. Precisava usar toda sua força.

— Ora, Dragão. Acha mesmo que pode me vencer dessa forma? — perguntou Argol em deboche.

A garota sentia que não tinha tanto tempo e jogou-se de peito aberto para finalmente atacar o Cavaleiro de Prata com todas as suas forças. Argol levantou seu escudo novamente e os olhos da Medusa se abriram outra vez. Assombrada, embora nada visse à sua frente, Shiryu claramente pôde ver, ainda que vendada, dois olhos abrindo-se na sua escuridão.

Sua venda rasgou-se e Shiryu viu-se petrificada. Não por completo, mas o lado esquerdo do seu torso havia virado pedra, junto com seu braço e seu poderoso escudo. 

Era o seu fim.

— É inútil. — falou Argol. — Os olhos da Medusa atacam diretamente a sua retina, não importa o que tenha à sua frente. É inútil vendar-se ou mesmo fechar os olhos. 

O Cavaleiro de Prata saltou e Shiryu foi atacada impiedosamente, já que desta feita ela sequer podia erguer seu escudo para se defender. E caiu no chão com seu lado esquerdo paralisado. O Cavaleiro de Prata caminhou em sua direção com a fala tranquila e decidida.

— Shiryu de Dragão. Eu, Argol de Perseu, a dispenso de sua obrigação como uma Cavaleira de Atena.

— Não… — falou Shiryu em sofrimento, recusando-se a ser dispensada.

Ainda tinha seus amigos para salvar.

Com muita dificuldade, ela novamente colocou-se de pé; Argol de fato era um Cavaleiro com um Escudo terrível, mas seus golpes não eram refinados, e Shiryu tinha razão ao adivinhar de que ele confiava demais na cabeça da Medusa. À essa altura, um Cavaleiro treinado já teria acabado com sua vida. E era por isso que Shiryu sentia que ainda tinha uma chance.

Ela só precisava de uma.

— Você não tem chance. Ainda não entendeu isso? — falou o Cavaleiro de Prata.

— Argol… — ela estava novamente de pé. — Parece que eu o subestimei. 

Shiryu acalmou o braço direito, o único que ainda tinha à disposição.

— Para vencê-lo, um grande sacrifício precisa ser feito. — disse ela. — E eu estou disposta a fazer esse sacrifício para que Seiya e Xiaoling voltem a viver.

Argol não compreendia de onde vinha tanta fibra; seu cosmo inflamado de tal maneira que o brilho do Dragão ao seu redor praticamente o ofuscava de ver qualquer outra coisa. Ela brilhava. Levantou a mão na direção do rosto e Argol sentiu um calafrio subir-lhe a espinha. O cosmo de Shiryu apagou-se e ele viu que dos olhos da garota vertia um sangue escuro, que corria por seu rosto e pingava de seu queixo jovem.

— Isso é impossível. Você… se cegou? Rasgou seus próprios olhos? Está tão desesperada que perdeu completamente a razão?

— Pelo contrário. — respondeu Shiryu. — É preciso arriscar nossas vidas para lutar. Venha, Argol! Ainda tenho meu braço direito para acabar com você!

— Vai morrer da mesma forma, Dragão! Vai juntar-se aos seus amigos! — ameaçou Argol.

O Cavaleiro de Prata avançou e, com efeito, Shiryu sem poder enxergar foi tomada pelos ataques vorazes do Cavaleiro de Prata, que não tinha mais os olhos de seu escudo ao seu favor, mas tinha a falta dos olhos de Shiryu ao lado dele. Shiryu até tentava acertá-lo, mas era fácil para Argol desviar-se.

O Cavaleiro de Prata a pegou pelo braço ainda vivo e a arremessou para a entrada do Templo. 

E outra vez Shiryu se levantou. Seu cosmo então inflamou lembrando-se de Seiya e de Xiaoling, mas sobretudo lembrando-se de tudo que havia vivido até ali. Lembrou-se também da dor de ter visto morrer o Dragão Negro, que escolheu acreditar em algo. E ali ela escolheu acreditar em seu coração também. Na escuridão de sua mente, viu brilhar e se abrir a silhueta de Argol, correndo em sua direção. Um cosmo ressoou com seu peito e ela sentiu a grandeza da Deusa Atena em seu coração. Era ela que a fazia ver a sombra de Perseu.

Levantou-se e o Dragão ascendeu aos céus quando sua voz ecoou no Templo:

— Cólera do Dragão!

Seu punho direito rasgou o ar com fúria e encontrou, desesperado, o Escudo da Medusa, que Argol levantou para se defender. Mas o Escudo da Medusa eram os olhos da górgona e sua proteção não era páreo para o cosmo imenso que Shiryu despertou e depositou em seu punho. A face do monstro rachou ao meio, o Escudo partiu-se e o punho de Shiryu afundou-se no peito do Cavaleiro de Prata.

Ela ainda forçou adiante e o levantou nos céus com a força de quem podia reverter o fluxo de uma portentosa cachoeira.

Argol caiu adiante, morto.

Shiryu caiu de joelhos, buscando o ar que lhe faltava.

O dia escuro para ela.

Tentou caminhar para onde lembrava-se estarem as estátuas de seus amigos, mas percebeu o desespero que se abateu sobre ela, pois não podia guiar-se por nada. Não sabia não ver.

— Quem está aí? — perguntou ela ao vento, pois imaginava estar sendo observada.

Caiu de joelhos tateando no chão e chamando pelo nome de Seiya e Xiaoling. Desesperada. Quando ouviu alguém claramente chegar, escutou seus passos na terra batida.

— Seiya? Xiaoling? Quem está aí?

Quem quer que fosse não respondeu. O barulho dos passos parou um pouco adiante e Shiryu tentava ouvir atentamente.

— Quem está aí? — tentava ela, mas ninguém respondia.

Levantou-se e tentou correr na direção dos passos, mas tropeçou em uma pedra saliente do chão e caiu de boca, rasgando seus lábios.

Os passos então se afastaram até que ela não escutou mais nada.

Shiryu balbuciava os nomes, quando finalmente ouviu como se areia escorresse de uma tigela e duas figuras caíssem ao chão, arfando. Ela reconheceu pois esperava por aquilo com imenso desespero. 

— Seiya! Xiaoling! — disse ela, colocando-se de pé e tentando tatear o ar para encontrar seus amigos.

— Shiryu… — chamou Seiya.

Ela foi na direção da voz de Seiya e só então ele percebeu que a amiga parecia tatear o ar, muito perdida. Chamou por ela e a segurou em suas mãos.

A garota imediatamente abraçou Seiya.

— Seiya, é você, Seiya? Você está bem?

— Shiryu… — lamentou Xiaoling, vendo atrás de Seiya que os olhos de Shiryu sangravam. — O que foi que você fez?

Seiya puxou Shiryu para poder ver seu rosto e só então viu o sangue em seus olhos.

— Shiryu, por Atena, o que você fez?! — perguntou ele.

— Não interessa, o importante é que vocês estão bem.

Xiaoling abraçava Shiryu em prantos, sem acreditar que ela teve de se cegar para salvar suas vidas, enquanto Seiya lembrava-se de que essa já era a segunda vez que a vida de Shiryu era colocada à prova, e nas duas vezes ela colocou sua vida à disposição por ele e por seus amigos.

Seiya e Xiaoling choraram abraçados com Shiryu, cega, mas então apressaram-se para sair logo dali. Tinham esperanças de que o moderno complexo hospitalar da Fundação curasse os olhos da amiga. E dali fugiram.

No coração do Templo da Éris, um papiro escrito com nome de Atena se descolava de uma maçã de pedra ritualística que ficava acima de um pedestal. Uma simples lufada de vento foi o suficiente para terminar de retirar o selo, que foi ao chão e se apagou.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Nada de Cavaleiros de Aço aqui. =) Também fiz questão de colocar Shaina e os Cavaleiros de Prata trabalharem em uma missão, novamente para dar aquela sensação de que o Mundo não está parado ao redor de Seiya e seus amigos. Coisas acontecem do outro lado também, e assim como eles, ainda que tomado pelo mal, o Santuário quer selar Éris. Tomei a liberdade de unir o Spartan do anime com o Capela de Auriga.

PRÓXIMO CAPÍTULO: A DEUSA DA DOR

O terrível ferimento de Shiryu abala Seiya e seus amigos e Saori vê-se na estranha posição de ser uma Deusa, mas todos ao seu redor se ferindo grandemente.



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