Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 30
Deuses e Crianças


Notas iniciais do capítulo

"Como é ser uma Deusa?" pergunta Seiya assim que descobre que Saori era Atena. Eles todos muito jovens, ela também, mas dentre eles uma Deusa. Além da curiosidade, precisam lidar com a ameaça de Éris, ainda inacabada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800469/chapter/30

A noite na cidade grande é de enorme movimentação nas enormes avenidas, os arranha-céus esvaziando enquanto os bares e calçadas vão se enchendo de pessoas ansiosas para viver seu final de dia de alguma forma mais lúdica do que nas horas vespertinas.

A praia já não tem mais os banhistas, mas junta um tanto de gente interessada na noite e no barulho do mar: casais, amigos, boêmios.

Não longe dali ficava a enorme construção de um Coliseu, feito ao estilo da clássica arena romana que havia atravessado eras. Pois esse moderno Coliseu também encontrava-se em ruínas, acometido por um incêndio criminoso.

Metade de sua construção derrubada.

E, acima desses escombros, onde antes lutavam guerreiros para enorme deleite de uma plateia apaixonada, estão sete jovens feridos em silêncio.

Em seus olhos jovens a vergonha, a confusão, o espanto, o medo, a ansiedade ou a dor. Em todos eles. Apenas crianças ainda.

Seiya procurava no céu as suas estrelas, mas não as encontrava. Olhou, portanto, para o lado, e viu seus amigos.

— Proteja Atena. — disse Shun.

Seiya olhou para Saori sentada com seu vestido branco. Os pés, calçados em uma curiosa sandália, cruzados à sua frente. Era só uma menina.

Ele era acostumado com a imponência e os ritos do Santuário; a marcha do Camerlengo, o sagrado das ruínas e das histórias, a figura silenciosa e altiva de uma mulher fabulosa acima do Pontífice, a rigidez de Marin. Estar naquela cidade ao lado de seus amigos, cuidando de orfanatos, lavando louças e experimentando sorrir e brincar era um outro Mundo para ele. Um Mundo onde Deuses jamais desceriam. Sequer poderiam existir.

Seiya tinha certeza que no dia anterior havia jogado uma almofada em Saori. Sem sombra de dúvidas que a amaldiçoou dezenas de vezes antes de dormir e pouco foi educado quando logo se reencontraram. E então lembrou-se de outras vezes em que quase se bateram quando eram muito menores.

Proteja Atena.

Atena era Saori.

— Como é ser uma Deusa? — perguntou Seiya, honesto.

A pergunta pegou a todos desprevenidos, pois após aquela demonstração imponente e a história de Éris sendo contada, havia um clima tenso entre todos eles. De muita dúvida e confusão. Como seguir? Como ir adiante? Eram ainda crianças. E haviam deuses.

Saori também não esperava a pergunta, já que ninguém nunca havia perguntado aquilo para ela.

— Eu… não sei. — disse ela. — Não é muito diferente, eu acho.

— Você se machuca? — tentou ele novamente.

— Sim. — respondeu ela. — Mas eu acho que eu melhoro mais rápido que o normal.

— Isso é legal. — comentou Seiya com Shun ao seu lado e o amigo concordou.

— Você também pode curar outras pessoas?

— Eu ainda não controlo meu Cosmo. — disse Saori. — Mas… já consegui fazer isso. — falou ela, olhando para Alice. — Na verdade, vocês são muito mais poderosos do que eu.

Havia um sorriso em seu rosto quando olhou para todos eles.

— Eu vi todos vocês lutando batalhas incríveis, que eu jamais seria capaz de suportar ou fazer igual. — falou ela enquanto olhava para cada um deles ali, pois ela de fato havia os visto lutar bravamente em diversas situações.

Seiya concordava com aquilo e lembrava-se dela contra os Cavaleiros Negros; não havia absolutamente nada de especial nela, nenhum preparo, nenhum conhecimento. Sequer existia um resquício daquele Cosmo enorme que ela havia manifestado.

Havia ainda algo que incomodava Seiya.

— Você já sabia que era uma Deusa quando humilhava a gente, sabe, quando éramos crianças? — perguntou ele.

— Seiya! — censurou Shun, e Alice também olhou-o atravessada.

— Ué, eu quero saber. — falou ele, e Shiryu experimentou sorrir ao seu lado.

— Não. — respondeu ela. — Eu fiquei sabendo apenas quando vocês partiram.

— Qual seu doce favorito? — perguntou Xiaoling entrando na brincadeira e todos olharam pra ela.

Saori sorriu e pensou um pouco olhando para cima.

— Pudim de leite. — respondeu ela e Xiaoling fez uma cara deliciada.

— Qual a estampa do seu pijama? — perguntou Shiryu, para choque de todo mundo.

— Estrelinhas. — responderam Seiya e Saori juntos.

Todos desabaram de dar risada e Seiya partiu atrás de Shiryu decidido a parar o coração dela novamente. Xiaoling, incapaz de ficar quieta, corria atrás dos dois rindo e incentivando a bobagem. Alice, que era sempre tão séria, também experimentou sorrir de Saori, que estava coradíssima querendo se esconder dentro daquele vestido.

Shun viu que Hyoga continuava muito sério.

Quando a brincadeira morreu e todos sentaram-se cansados nas ruínas novamente, Seiya falou para Saori por todos.

— Se você for mesmo Atena, a gente tá perdido. — falou ele, sinceramente. — Mas nós iremos protegê-la. — disse ele.

E todos levantaram-se um a um para que ela pudesse ver ali diante dela os jovens guerreiros que protegeriam Atena. Protegeriam a ela, Saori, que também via diante de si jovens que considerava seus amigos.

Ela tinha um sorriso no rosto que lentamente morreu.

Ela também levantou-se da pedra em que sentava e finalmente falou. E quem falou foi Atena.

— Teremos que lutar. — começou ela, séria. — Jabu, Ichi, Ban e Nachi estão de volta com seus Mestres e não receberam qualquer ameaça do Santuário. Isso significa que o Santuário não tem nenhum interesse em vocês por terem participado do Torneio. Eles querem a Armadura de Ouro.

Ela colocou a mão sobre a Urna Dourada que ressoou levemente ao seu toque.

— E sinto que também estejam suspeitando da Mestre Mayura. — falou ela.

— A Mestre Mayura? — perguntou Xiaoling.

— Sim, Xiao. Mayura sabe sobre quem eu realmente sou. É possível que quem quer que esteja por trás desses ataques do Santuário suspeite que ela saiba o verdadeiro paradeiro de Atena.

Seiya lembrou-se de sua Mestre Marin seguindo o caminho pelas montanhas.

— E não é só isso. — continuou ela, olhando para Hyoga. — Não acredito que a ameaça de Éris esteja acabada. Na verdade, é possível que seu ressurgimento tenha sido causado justamente por toda essa crise.

— Acha que o surgimento de Éris aconteceu por conta do atentado à vida de Atena? — perguntou Shun e Saori confirmou.

— Éris tomou o corpo de uma pessoa muito importante para mim. E não acho que isso tenha sido uma coincidência.

Olharam para ela com pesar, pois Kyoko era sua amiga.

— A batalha que temos adiante de nós pode alimentar ainda mais a Discórdia.

— Então vamos ao Santuário! — falou Seiya, confiante. — Com Atena ao nosso lado, eu tenho certeza que as pessoas vão nos apoiar.

— Saori não está pronta. — falou Alice, preocupada. — Veja o que custou para que você pudesse acreditar. Acha mesmo que aqueles Cavaleiros de Prata acreditariam? Ou todos os demais guerreiros do Santuário, que há tantos anos convivem com uma mentira? Acha que é só Saori aparecer e eles vão se ajoelhar diante dela?

Seiya olhou para Saori. Era uma garota decidida, mas ainda uma garota. Lembrou-se da figura imponente daquela mulher ao lado do Camerlengo e entendeu o que Alice quis dizer. Ele mesmo ainda mal acreditava naquela realidade.

— Também não podemos abandonar as Ruínas da Discórdia que manifestaram-se próximo daqui. Eu quero ir até lá pessoalmente. — anunciou Saori, chamando a atenção de Hyoga.

— O Templo de Éris fica na Grécia. — disse Seiya.

— Sabe onde fica? — perguntou Saori e ele confirmou.

— Você não vai pra Grécia. — falou Alice muito grave para Saori, que olhou-a contrariada.

— Mas nós podemos ir. — disse Shiryu. — Eu e Seiya podemos ir até o Templo de Éris.

— Sim. — concordou Seiya. — Se Éris ainda for uma ameaça, saberemos mais em seu Templo.

— É muito arriscado. — disse Saori.

— A vida dos Defensores de Atena é arriscada. — retornou Seiya.

Os dois se entreolharam, Saori compreendeu que não poderia discordar, pois, assim como eles, ela também sabia dos enormes riscos que envolviam estar próximo de Atena e ser a própria reencarnação da Deusa.

— Está certo. — concordou ela, resignada. — Mas antes tem um lugar que precisamos ir.

Os jovens ali ficaram enquanto a noite se alongava.

Eram guerreiros e uma Deusa. Eram jovens e uma deusa. Eram todos jovens.

Jovens cansados naquela noite sem fim.

 

—/-

 

Cedo pela manhã, subiam as intermináveis escadarias da montanha que há tanto tempo Seiya, Shiryu, Shun e Xiaoling haviam subido para visitar sua Mestre. Um tempo em que Seiya ocupava-se de ir atrás de sua irmã e de qualquer coisa que pudesse lhe dizer onde ela estava.

E, enquanto subia aqueles degraus em silêncio ao lado de seus amigos, pensou em Seika e lembrou-se de que ela também havia treinado ali. Subido aqueles degraus talvez por muitas vezes. Refletiu se ela também sabia que Saori era a Deusa Atena.

Quando chegaram ao final dos degraus desgastados, viram como já eram aguardados no platô. A pequena pagoda de um lado, a enorme pedra ao fundo ornamentada com um portal de cordas e madeira que levava à uma grota dentro da pedra.

A Mestre das Montanhas em sua cadeira de rodas, seu corpo inteiramente coberto de faixas, vestia um robe cerimonial e tinha ao seu lado um garoto e uma garota. Eram Shinato e Mirai, que Seiya havia conhecido anteriormente.

— Atena. — cumprimentou a voz séria da Mestre, seus olhos vendados.

— Mestre Mayura. — falou Saori de volta.

Atrás de Saori estavam todos os jovens que a seguiam.

— Como posso ajudá-la, Atena? — perguntou Mayura, adivinhando que estavam ali com uma missão.

— Iremos até as Ruínas da Discórdia e ao Templo de Éris. — disse Saori.

Mayura cruzou as mãos à frente de si.

— Shinato. Traga a urna de papiro. — pediu ela, adivinhando a missão, e a garota deixou seu lado para entrar na pagoda.

O silêncio imperou no platô enquanto a garota não retornava. Seiya reconheceu pela primeira vez que estava diante de uma situação ritualística, pois aqueles silêncios e a imponência das duas lembrava-o demais dos diversos momentos no Santuário.

Voltou Shinato com uma pequena urna que deu para a Mestre Mayura. Ela lentamente a abriu e tirou dois papiros pequenos, pouco maiores que a palma de sua mão. Ao lado da urna, ela deslizou um pincel pequeno antigo, molhou em uma solução dentro da caixa e escreveu nos dois papiros.

Αθηνά

Atena.

Saori então aproximou-se de Mayura e Shiryu sentiu um calafrio, pois sabia o que iria acontecer. Mayura ofereceu a urna para Saori e ela colocou sua mão direita sobre a tampa e a pressionou levemente. Foi o suficiente para que um pequeno furo se fizesse em seu dedo,  graças a uma ponta afiada da tampa.

Com o sangue que escorria de seu dedo, ela acompanhou os caracteres desenhados por Mayura, reforçando-os nos papiros.

Mirai, ao seu lado, estendeu-lhe uma estopa nova para que limpasse seu sangue, mas não demorou muito e seu ferimento já estava fechado. Ela retornou para onde estava, ao lado de seus companheiros; Shinato e Mirai também se afastaram da Mestre das Montanhas.

Mayura ascendeu seu Cosmo e, apenas para si, murmurou palavras inaudíveis enquanto os dois pequenos papiros flutuavam à sua frente, imbuídos de imenso poder.

Quando seu Cosmo amainou, os dois papiros repousaram em seu colo. Ela tirou de dentro da urna dois cilindros dourados, muito pequenos e finos. Enrolou os dois papiros de forma muito compacta e os colocou dentro dos cilindros. Chamou Alice até ela.

A garota adiantou-se até a sua Mestre. Ela lhe ofereceu um cilindro e falou com sua voz grave.

— Eis aqui o Selo de Atena. Proteja Atena. — finalizou.

Alice retornou ao lado de seus companheiros, quando a voz de Mayura soou novamente.

— Pégaso.

Seiya surpreendeu-se ao ser chamado, engoliu em seco, mas avançou até Mayura. Estendeu a mão para receber o Selo, mas percebeu que Mayura não o deu o cilindro dourado.

— Sua Mestre esteve aqui. — começou ela, e Seiya congelou na hora. — Ela não está nada feliz com você.

Seiya recolheu o braço estendido de vergonha e Mayura continuou falando.

— Sua irmã abandonou o treinamento quando ficou sabendo que o Santuário estava tomado por forças do mal. — falou ela para Seiya, que estava absolutamente em choque. — Foi atrás de você.

O tempo parou.

Sua irmã. Seika.

Ele olhou para trás, para o rosto de Saori, com medo de que ela tivesse mentido sobre isso também por todo esse tempo. Ela estava boquiaberta também.

— Seiya… eu não...

— Atena não sabia de nada. — interrompeu Mayura. — Seika fez a sua escolha e sua escolha não envolvia Atena.

Seiya não acreditava na sua falta de sorte; sua irmã deixou aquele lugar para ir atrás dele, e ele também deixou o Santuário para ir atrás dela. E no caminho perderam-se. Perderam-se de seus caminhos. Ela largou Atena por ele. Ele largou o Santuário por ela.

Olhou novamente para Saori e ali viu uma garota pesarosa. Viu uma Deusa vacilante. E Seiya não queria admitir, mas algo ainda mais importante para ele estava no rosto de Shun e de Shiryu. Os olhos de seus amigos.

Olhou de volta para Mayura com o peito renovado, pois ali ele sabia que sua irmã estava viva. Sabia que iam se reencontrar. Um dia.

Então o tempo voltou. E ele sabia quem era.

— Eu sou um Cavaleiro de Atena. — falou ele, decidido.

E ascendeu seu Cosmo, apagando as luzes das montanhas para que todos pudessem ver o infinito de seu Cosmo no universo; pintado nas estrelas, um majestoso Pégaso flamejante de luz.

— Eu sou Seiya de Pégaso. Um Cavaleiro de Atena. — repetiu ele, trazendo de volta as cores da montanha.

Mayura estendeu-lhe o cilindro de ouro.

— Eis aqui o Selo de Atena. Proteja Atena. — disse ela.

E Seiya tomou seu destino pelas mãos.

 

—/-

 

A garota marchou, decidida.

A entrada das Ruínas agora estava ainda mais invadida por raízes retorcidas, vinhas e folhas por entre os espaços da pedra que pisava. Vinha junto dela Alice, sua inseparável guarda, como também Shun e o Cavaleiro do Gelo, Hyoga. Talvez por excesso de cuidado, para marcharem ao lado da Deusa Atena estavam todos trajando suas Sagradas Armaduras de Bronze.

Hyoga notou que a torre em que havia vencido um Fantasma havia sido completamente tomada pela vegetação. Entraram todos da melhor maneira que puderam e notaram que ainda havia resquícios da presença nefasta: a mesa e a cadeira que o homem usava ainda estavam ali, levemente inclinadas pela invasão de raízes por debaixo delas, mas ainda ali. Caído no chão, o cálice seco fez com que Hyoga lembrasse de algo muito distante, mas ainda muito dolorido.

— Desapareceram. — falou a voz misteriosa de Alice. — O corpo do guerreiro que estava aqui. E também aquele com quem lutamos perto da esfera.

Seguiram adiante e, conforme avançavam, a mata fechava-se ainda mais e uma escuridão começou a tomar conta daquelas Ruínas. Antes ela tinha muitas aberturas para o céu que a iluminavam por completo, mas agora que a vegetação avançava e crescia, os detalhes que antes eram tão vivos agora passavam batidos. Era como se a natureza corresse para apagar aquelas Ruínas da Discórdia e, se aquela visita fosse dentro de alguns dias adiante, talvez nada mais encontrariam.

Shun achou um galho grosso e, usando seu cosmo, ateou fogo em sua ponta, de modo que pudessem enxergar melhor. Foi à frente do grupo e iluminou o caminho e as raízes que cruzavam a pedra, para evitar que tropeçassem no escuro.

Não demorou tanto para chegarem finalmente ao coração daquela ruína, onde antes a hospedeira da Discórdia era gestada dentro de uma Esfera de Âmbar no coração de uma enorme árvore. A árvore ainda estava lá, seu tronco enorme na base, um vazio imenso  pouco acima das raízes e os galhos retorcidos e pelados acima, que lentamente pareciam recuperar suas folhas.

Não havia nada nas Ruínas.

Sequer resquício de um cosmo maligno.

— Não há nada aqui. — comentou Alice.

Saori caminhou a só pelas escadas invadidas até o vazio dentro da árvore; o brilho das chamas de Shun iluminava bem o lugar.

— Não há nada agora. — disse Saori dentro do ventre da árvore, onde antes estavam os corpos das garotas desafortunadas. — Mii. — chamou ela.

Alice entrou no coração da árvore e tirou o cilindro dourado que a Mestre Mayura havia lhe dado. Saori estendeu sua mão tocando a madeira retorcida daquele vão, como quem procura resquícios de qualquer coisa. E, com sucesso, encontrou uma ressonância muito pequena e quase imperceptível, mas que ela sabia se tratar ainda do resquício que morria da Discórdia.

— A natureza é incrível e está mesmo apagando a Discórdia que havia aqui, mas não podemos dar nenhuma chance para Éris. — falou ela, dizendo onde Alice deveria selar.

A garota retirou o papiro de dentro do cilindro dourado e ele imediatamente se endireitou no ar. Todos sentiram um leve cosmo fluir daquele selo. Calmamente, Alice empurrou o papiro com sua mão. O papel iluminou-se de leve e então apagou-se, tornando-se apenas um papel escrito grudado no fundo do vão de uma árvore.

Saori sorriu para Alice.

Missão cumprida.

Shun, que observava a tudo isso fora do tronco ao lado de Cisne, percebeu uma estranha flutuação ao seu lado; usou sua tocha para melhor ver o que poderia ser e viu um rastro congelado na pedra que ainda deprendia um vapor gelado e impossível. Parecia muito recente. O garoto aproximou o fogo da tocha da pedra congelada e percebeu que o calor daquele fogo não alterava em nada o gelo.

Olhou atrás de si para Cisne e ele o olhava.

— O que foi, Shun? — perguntou Saori.

Shun não respondeu e foi Hyoga quem falou a todos.

— Eu estive aqui. — começou ele. — No dia da batalha. — ele olhou para Alice.

— Foi assim que soube quem eu era? — perguntou Saori, e ele confirmou com a cabeça.

— O que fazia aqui? — perguntou Alice.

Ele hesitou, pois a fundo não queria que soubessem de toda a verdade. E, com efeito, não contou a eles nada sobre a saudade que sentia da garota de rabo de cavalo. Contou a todos o que já havia contado antes para Saori. Que havia sido enviado para puní-los e, dentro dos seus planos, percebeu a movimentação dos Cavaleiros Negros, a quem passou a dedicar sua atenção.

— Encontrei Andrômeda sendo atacado por dois Cavaleiros Negros próximo daqui.

— Então era mesmo você. — lembrou-se Shun.

— E o lugar daquele ataque era próximo da entrada dessas Ruínas. E quando entrei… foi o que vi. — disse ele. 

— Foi você quem venceu o Fantasma Guardião então… — disse Alice.

— Não. — respondeu Hyoga. — Eu lutei, é verdade, mas havia mais alguém. — disse ele, misterioso.

Olhou para Saori antes de contar.

— O Cavaleiro de Ouro.

Sua voz carregava uma dura seriedade e levou a todos a um assombro.

— O Cavaleiro de Ouro esteve aqui? — perguntou Saori.

— Sim. — respondeu Hyoga. — Pude ver com meus próprios olhos o seu enorme poder. A sua armadura reluzente como o sol. E ele venceu o Fantasma Guardião em um piscar de olhos. E com apenas seu olhar pôde me paralisar por completo.

Olhavam-se todos, abobados.

— Ele apenas hesitou e parou quando sentimos um enorme Cosmo. E foi então que te vi caminhar à minha frente. Como uma projeção de outro mundo. — falou ele, olhando para Saori. — Você disse que era Atena e entrou na Esfera Âmbar ao lado de… ao lado da garota. E em pouco tempo a Esfera se desfez em pó.

— Quando acordamos, não havia ninguém mais aqui, apenas as garotas. — comentou Alice.

Hyoga limitou-se a se calar.

E Saori escolheu deixarem aquele lugar, pois viu nos olhos do garoto que havia ali uma dor que ele não gostaria de sentir novamente.

Deixaram as Ruínas da Discórdia para a luz dos bosques.

 

—/-

 

Hyoga estava sentado em frente à uma mesa encostado na parede de seu quarto. A luz estava baixa, pois já era noite e ele preparava-se para tentar descansar. Seiya e os demais haviam partido para a Grécia e ele torcia para que tudo ocorresse bem. Ao seu lado, uma cortina fechada para uma janela de mentira. Através do vidro, havia uma projeção noturna dos pinheiros siberianos de sua terra. Alguém bateu na porta e ele olhou para ela.

A porta se abriu e entrou Saori.

Hyoga olhou para baixo e um frio subiu-lhe na espinha.

Levantou-se, então, pois era a Deusa Atena que o visitava.

— Está tudo em ordem? — perguntou ela.

— Sim, sim. — limitou-se ele a dizer.

— Eu sei que é um pouco estúpido, mas os técnicos dizem que pode ajudar. — disse ela, apontando para a janela de mentira.

— Está muito bem feito. — concordou ele.

Ela então fechou a porta e aproximou-se do garoto.

— Te vi muito triste nas Ruínas, Hyoga.

Ele não quis responder, mas ela queria poder ajudá-lo.

— Elas ficarão bem. — falou finalmente Saori, e Hyoga imediatamente olhou para ela. 

No olhar de Hyoga, Saori adivinhou sobre o que se tratava. Tirou seu celular escuro de um dos bolsos e colocou em cima da mesa de Hyoga; mexeu em alguns aplicativos e colocou para tocar uma mensagem de voz. Hyoga não a reconheceu, mas ouviu com atenção.

"Ahm. Oi. Saori, né? Me sinto muito estranha mandando essa mensagem. Mas eu achei um tanto de caderno aqui em casa e você tá em todo lugar. Tem seu nome em quase tudo. Eu acho que… eu acho que éramos muito amigas. Diz aqui que você gosta muito de pudim. Hehe. Enfim. Eu também encontrei seu número secreto de celular. E achei que podia te mandar uma mensagem. O Ren… quer dizer, o meu pai… É tão estranho tudo isso. Ele disse que nos ajudou a se mudar. E eu vi aqui que você também é muito famosa. Eu realmente não sei o que pensar de tudo isso. É horrível não me lembrar de nada, mas com esse tanto de recado nos cadernos, sinto que começo a saber um pouco mais sobre quem eu sou. Aqui diz que eu gosto de gelatina verde, o Ren sempre faz. E é verdade, ela é muito gostosa. Aqui está tudo bem e… Ei. Ou entra ou sai.

Com quem você tá falando?

Tô mandando uma mensagem praquela Saori dos cadernos. Vem aqui dar um oi.

Oi, Saori!

Agora sai daqui.

O Ren disse que essa é a minha irmã. E é mesmo, tem um tanto de fotos nossas juntas. Mas ainda assim é muito esquisito não lembrar. Mas também é bom estar aqui. O Ren gosta muito da gente e cuida de tudo aqui. Sei lá, só queria dizer que aqui está tudo bem. E queria agradecer pelo que fez pela gente. Bom, é isso. Tchau."

Hyoga tinha os olhos marejados, pois havia escutado a voz de Shoko muito brevemente na mensagem. A saudade que sentia. Saori também escutou a mensagem com um sorriso no rosto e uma enorme saudade no peito.

— Elas estão bem. — falou para se confortar. — Ela mandou uma foto.

Acessou o celular e abriu uma foto para que Hyoga pudesse ver na pequena tela. Seu coração derreteu.

Não era Shoko, mas uma foto de Kyoko com um meio sorriso e cadernos no colo. Talvez Saori pensasse que o que lhe doía era justamente o destino daquela menina, tomada pelo espírito de Éris. Mas não era o caso. Era outro caso que lhe doía o peito. Hyoga sorriu emocionado, no entanto, quando encontrou atrás do sorriso de Kyoko, em uma mesa de escrivaninha, um pequeno cisne de cristal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: O capítulo continua logo após a revelação de Saori sobre ser Atena e fica subentendido que ela conta tudo sobre Éris para eles. E eu imaginei que seria importante trazer a história de volta para o clima juvenil/infantil, pois é muito fácil se deixar levar pelas divindades e a história de uma vez virar uma luta entre deuses. Então a cena deles perguntando pra Saori como é ser uma Deusa tinha essa função, de lembrar que eles ainda eram crianças.

PRÓXIMO CAPÍTULO: UM SACRIFÍCIO TERRÍVEL

Seiya, Shiryu e Xiaoling vão para a Grécia escondidos para verificar se está tudo bem no Templo de Éris, quando são surpreendidos por Cavaleiros de Prata.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.