Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 29
Sob Estrelas Malignas


Notas iniciais do capítulo

Shoko sente a presença de sua irmã próxima dali e, junto de Hyoga, os dois adentram as Ruínas da Discórdia onde Éris está sendo gestada no ventre de uma grande árvore.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800469/chapter/29

Shoko sai em disparada pela entrada do Coliseu, Hyoga atrás dela. Atravessam a Avenida fechada para o Torneio, passam por entre os transeuntes e finalmente vão até a areia da praia.

— Me espere, Shoko! Shoko! — chamava Hyoga atrás dela.

Ele alcançou a garota e parou na sua frente, abraçando-a. Ela chorava.

— Hyoga, eu posso sentir. É a minha irmã. Eu preciso ir até ela. 

— Calma. Vamos juntos.

E novamente a abraçou.

— Vamos juntos? — perguntou ele.

Ela concordou.

E correram pela praia, seguindo o coração de Shoko, que deixou a areia e correu em direção a um parque bonito com um bosque bem cuidado. Cruzaram árvores e desceram por um monte breve até uma estranha entrada em uma enorme montanha que se levantava.

Hyoga sentiu um cosmo terrível vindo daquela entrada e puxou Shoko para si.

— O que foi, Hyoga?

— Não… — falou ele. — Não podemos seguir.

— A minha irmã está lá, Hyoga. É a minha única chance.

— Me escute, Shoko. — disse ele, olhando para ela. — O que você está sentindo é um cosmo. Um universo.

Colocou a mão no pingente de Shoko.

— Todos nós somos feitos do mesmo material das estrelas. E alguns de nós conseguem canalizar essa energia interna.

— O que está dizendo, o que isso tem a ver com a minha irmã?

— Esse cosmo que está sentindo não é o da sua irmã. Esse cosmo é um cosmo maligno e muito forte.

— Eu sei que é a minha irmã, Hyoga! Você não entende! Eu preciso dela! — disse chorando.

Então o garoto a abraçou e deixou ascender seu cosmo branco e gélido, que brilhou naquela noite além de seu corpo. Uma energia calorosa que também abrangeu o corpo da garota, que viu seu rosto iluminar e seus cabelos tremeluzirem com aquela energia reconfortante.

Ele a olhou com ternura.

Seu peito se acalmou e a sensação que tinha empurrando seu coração foi aos poucos morrendo e desaparecendo.

— Eu sei. Eu entendo.

— Hyoga…

— Eu perdi pessoas que eram muito importantes para mim. Pessoas que eu precisava para tudo que significava a minha vida. Eu sei o que está sentindo.

Segurou as mãos dela. E ela deixou de sentir a angústia que a feria.

Olhou para a entrada daquele lugar, aliviada.

— Eu senti algo muito parecido no seu abraço. — falou ela.

— Esse é o Cosmo. — disse ele.

— Mas não era angustiante. Ele era… reconfortante. — disse, olhando para Hyoga.

Ele ficou aliviado.

— Eu posso manipular o universo que tenho dentro de mim. E te prometo, Shoko, — falou se aproximando dela — entrarei nesse lugar e, se sua irmã realmente estiver aí, eu voltarei com ela. Mas não hoje. Não nessa noite.

Shoko sorriu para ele.

— Eu acredito em você, Hyoga. — e tornou a olhar para a entrada daquele lugar. — Eu não sinto mais a minha irmã aqui.

E deixaram o bosque.

Voltaram em silêncio e Hyoga a acompanhou até a sua casa. Despediram-se com um longo e caloroso abraço.

— Obrigada, Hyoga. — disse ela. — Desculpa ter estragado a luta. No final a gente nem soube quem venceu, nem o que aconteceu. Que coisa estranha.

Shoko parecia acordada de um feitiço. E despediu-se, risonha.

Ele voltou sozinho com o coração apertado, pois sabia que o Cosmo que havia sentido era perigoso. Não tinha medo de enfrentar Cosmos perigosos, mas tinha medo de que Shoko estivesse em perigo.

 

—/-

 

Mal conseguiu dormir. 

E assim que amanheceu, saiu com a sua Urna de Bronze nas costas para a entrada daquela estranha grota da noite anterior.

Ao atravessar o bosque, no entanto, percebeu uma absurda precipitação do céu, pois nevava, quando há alguns instantes na praia o sol brilhava. Ficou em alerta, pois se havia mesmo um Cosmo maligno à espreita, era natural que se protegesse. Andou com cautela, quando escutou uma voz gritar.

— Apareça, Cavaleiro do Gelo!

Confuso, Hyoga apareceu.

E viu o guerreiro de Andrômeda sendo atacado por um vulto escuro duas vezes. Indo ao chão e sendo levantado por um Cavaleiro Negro com uma Armadura idêntica à sua. Uma Armadura de Cisne.

Andrômeda foi preso em um enorme Cristal de Gelo Negro, mas quando o Cavaleiro das sombras preparou-se para dar cabo da vida de Shun, Hyoga interveio e o libertou da armadilha.

— Quem é você? — perguntou o Cavaleiro Negro.

Hyoga olhou-o nos olhos e o mediu da cabeça aos pés.

— Onde conseguiu essa Armadura? — perguntou Hyoga.

O jovem notou que Hyoga trazia nas costas uma Urna.

— Vejo que também tem uma Armadura nas costas. Quer saber onde consegui a minha? Pois essa é a incrível Armadura de Cisne.

— Não seja idiota. — falou Hyoga. — Só existe uma Armadura de Cisne e eu tenho certeza de que essa cópia ridícula não é ela.

— E quem você pensa que é? Por acaso está do lado desses traidores?

Hyoga viu-se encurralado, pois não estava ao lado dos traidores. E se tivesse que escolher um lado de sua missão, provavelmente seria ao lado daquela duplicata ridícula.

Mas seu coração...

Sabia que não poderia estar ao lado daquele homem.

— Responda! — ordenou o homem.

Hyoga queimou seu cosmo e sua Sagrada Armadura revelou-se esplendorosa no bosque na forma de um lindo Cisne à sua frente; desmontou-se para tomar cada parte de seu corpo jovem, protegendo-o. O Cavaleiro Negro espantou-se ao ver diante de si o verdadeiro Cavaleiro de Cisne.

— Impossível. — falou ele, rispidamente, e exclamou. — É a Armadura de Cisne! Mas essa Armadura esteve selada para sempre. Como pode ser?

— Sim, é verdade que um antigo guerreiro renegado da Sibéria escondeu a verdadeira Armadura de Cisne, pois não era digno de vestí-la e, feito um verme, fez o que um verme faria: criou uma cópia e passou a se chamar Cavaleiro de Cisne.

A face do jovem crispou-se de ira.

— Ora, quer dizer com isso que não sou digno?

— É exatamente o que estou dizendo.

— Então sofra da minha Nevasca das Trevas!

O urro do Cavaleiro Negro fez com que a neve escura que caía se juntasse em seu punho e soprasse sobre Hyoga um vento terrivelmente gelado, congelando-o por completo.

— Pois aí está novamente o Cavaleiro Negro selando para sempre o Cavaleiro de Cisne. Parece que esse é mesmo o destino…

Mas o gelo que havia congelado Hyoga rachava aos poucos.

— O quê?

— Seu gelo é digno de uma farsa. Ele apenas congelou a superfície de minha pele. É uma piada.

— Ora, seu… — Mas o Cavaleiro Negro não podia mais se mover, pois estava preso por círculos de gelo ao seu redor.

Hyoga caminhou até ele.

— Chegou seu fim, pois eu não tenho tempo para essa piada.

Seu cosmo se ascendeu, mas vozes no bosque interromperam a concentração de Hyoga.

— O que pensa que está fazendo, Cisne Negro?

E, de algum lugar daquela névoa no bosque, Hyoga foi atacado e defendeu-se com seu escudo, sendo arrastado pela grama. O suficiente para seu cosmo vacilar e Cisne Negro se desvencilhar do Círculo de Gelo e sumir dali.

Com ele, foi-se também a neve que caía. Ficaram apenas os estilhaços de uma árvore derrubada e o corpo desacordado de Andrômeda.

Hyoga tinha outra missão. Ele teria que se virar sozinho.

 

—/-

 

Entrou pela grota profunda daquele bosque e viu como algumas ruínas apareceram ao seu redor, todas elas invadidas por vinhas e raízes. Havia um cosmo permeando todo o lugar que Hyoga reconheceu como um braço daquela enorme sensação que havia tido no dia anterior. Embrenhou-se pela mata funda e pelas ruínas abandonadas quando viu a figura escura de uma pessoa.

— Um Cavaleiro Negro… — imaginou Hyoga.

Mas quando a figura deixou a sua visão para buscar algo dentro do que parecia ser uma pequena torre, Hyoga viu com clareza que Shoko estava presa por milhares de teias, como a vítima de uma enorme aranha. Imediatamente, Hyoga desesperou-se.

Certificou-se de que aquela figura estava só e invadiu a torre sem pensar duas vezes. Surpreendeu o Cavaleiro Negro, que ocupava-se de uma taça de vinho, e o arrebentou com seu punho de gelo, quebrando taça, congelando o vinho e vencendo o inimigo sem que ele pudesse sequer ter visto de onde havia vindo.

Notou, perto de seu corpo, no entanto, que o que trajava debaixo do manto não era uma Armadura Negra, mas uma robusta proteção de detalhes belíssimos e ornamentados como se ela inteira fosse feita de vinhas e folhas. Era escura, mas ele não era um Cavaleiro Negro. Algo a mais estava em curso naquele lugar. Não importava.

— Shoko, Shoko! — falou Hyoga, rasgando as teias que ainda prendiam a garota. — Ah, Shoko, por que veio sozinha?

— Hyoga… 

— Por que fez isso, Shoko?

Ele a abraçou fortemente, como se para ter certeza de que ela estava viva e bem.

— Eu preciso encontrar a minha irmã, Hyoga.

— Não devia ter vindo sozinha.

— Nem adianta me falar para voltar que não voltarei.

Hyoga olhou para aquela garota com dor, pois ela não fazia a menor ideia de onde estava se metendo. Ele também não. Mas os olhos de Shoko o viram finalmente sobre uma luz que entrava pelas copas densas das árvores e se encheram de admiração.

— Você tem uma Armadura também. — encantou-se ela.

— Sim. — respondeu ele, sério. — Não vou deixar que nada te aconteça, Shoko.

Ouviram a risada sofrida do guerreiro que havia acabado de ser vencido.

— Eu não faria essa promessa. — falou ele e sorriu. — Não fazem ideia do que vai acontecer. 

— O quê? Diga… do que está falando?! — perguntou Hyoga.

— O renascimento de Éris, a Discórdia. — sorriu o guerreiro no chão à beira da morte.

— Éris? — espantou-se Hyoga.

Mas o homem pareceu dar seu último suspiro, deixando Hyoga com aquela enorme nuvem cinzenta na cabeça.

— O que ele quer dizer, Hyoga? — e por mais que ele não quisesse que ela corresse nenhum perigo, também não queria mais ter de esconder nada para ela.

Olhou fundo em seus olhos.

— Éris é a Discórdia. Uma Deusa alimentada pelos conflitos humanos.

— Ela… existe? — perguntou Shoko.

— Existiu. Há milhares de anos. E se o que aquele homem disse é verdade… 

— Uma Deusa? — perguntou Shoko, confusa.

— Sim. — falou Hyoga. — E é por isso que você precisa voltar. — tentou ele.

— Não. Eu sinto a minha irmã. Ela está aqui. Eu vou encontrá-la.

Os olhos de Hyoga suplicavam, mas ele sabia que não teria forma de convencê-la, afinal ela já havia entrado naquele lugar terrível sozinha. Se ela estava mesmo decidida a seguir, Hyoga faria de tudo para que nada lhe acontecesse. Estaria ao seu lado.

— Não saia do meu lado. Eu vou te proteger. — falou ele.

E, assim que saíram da pequena torre deixando o corpo daquele guerreiro para trás, escutaram passos ecoarem nas ruínas; esconderam-se do lado oposto à torre, entre as folhas de um tronco retorcido. Hyoga pediu silêncio, pois não sabiam em quem poderiam confiar.

Duas garotas entraram nas ruínas e foram ao socorro do guerreiro morto na torre; eram Golfinho e Ursa Menor, que Hyoga lembrava-se do panfleto, e Shoko também as reconheceu das lutas. Escolheram ficar em silêncio.

Da distância em que estavam, não podiam escutar o que conversavam, e não demorou para que as duas saíssem da torre para correrem adiante pelo enorme corredor que tinham à frente.

Com muita cautela, Hyoga decidiu que seguiriam pelas árvores, ao invés de tomarem o caminho das ruínas. E assim fizeram, sempre em muito silêncio. Sempre com muita cautela.

As ruínas não eram tão grandes, então pouco tempo se passou até que os dois simplesmente parassem novamente, pois os barulhos de uma batalha terrível ecoavam pelas pedras das ruínas. Aproveitando-se do barulho, Hyoga e Shoko avançaram com mais rapidez entre as folhas.

E, quando chegaram em uma grande câmara aberta do coração daquele bosque, viram como as duas garotas lutavam ferozmente contra um único guerreiro que protegia, a todo custo, um enorme tronco de árvore sem folhas, onde em seu coração ficava uma Esfera de Âmbar enorme.

A luta era poderosa, mas terminou com as duas garotas vencidas e desacordadas no chão.

O guerreiro que protegia aquela esfera de âmbar também estava bastante cansado e, cambaleante, subiu alguns lances de escada larga até a Esfera de Âmbar. Hyoga e Shoko aproximaram-se, o coração disparado da garota a fazia sofrer.

E não teve dúvidas, pois quem pulsava dentro daquela Esfera de Âmbar era mesmo a sua irmã.

 

—/-

 

— Kyoko!

A garota saiu dali e foi correndo até o tronco. Hyoga atrás dela se adiantou com uma velocidade enorme e surpreendeu o guerreiro que protegia a esfera.

 

Seus punhos trancaram-se um contra o outro, mas Hyoga não queria necessariamente vencê-lo naquele instante, apenas tirá-lo do caminho de Shoko. Arremessou-o para longe da Esfera, adivinhando que a garota ia direto até o  corpo de sua irmã.

E colocou-se entre o guardião e Shoko que, atrás de si, esmurrava como podia a esfera de âmbar, sem fazer muito efeito. Gritava pelo nome de sua irmã, chorava, tentava de tudo.

— Não adianta. — falou o guerreiro. — O processo está quase finalizado e em breve Éris estará entre nós.

— Quem é você? — perguntou Hyoga.

— Sou Rigel, o Fantasma que protege a Discórdia.

— Ande, fale como podemos salvar a garota! — falou Hyoga.

— Não há mais salvação. — disse Rigel.

Shoko continuava a esmurrar e a chorar por sua irmã, mas sem fazer qualquer diferença, pois ela não passava de uma humana normal. Seus dedos muito machucados não faziam qualquer diferença naquela esfera maciça de âmbar. O corpo de sua irmã flutuando lá dentro, desacordada.

Ela queria tanto ter o poder de Hyoga. Queria tanto que seus punhos fossem fortes como os de Seiya para poder quebrar aquela esfera e resgatar a sua irmã.

 

E chorou. 

E, ao chorar, colocou a mão em súplica na esfera de âmbar, dizendo seu nome.

A Esfera reagiu às suas lágrimas e Shoko percebeu que sua mão empurrou o âmbar para dentro e uma onda se espalhou por toda a esfera. Sua irmã pareceu reagir.

— Irmã. Kyoko! Kyoko! — tornou ela a gritar e a esmurrar.

Rigel percebeu que algo havia acontecido e tentou se adiantar para impedir qualquer perturbação à sua protegida.

— Não vai a lugar nenhum! — disse Hyoga, colocando-se à sua frente.

— Saia!

Mas Hyoga novamente segurou Rigel e o arremessou para longe do altar. Desceu as escadas e sabia que teria que lutar. Assim que o Fantasma se levantou, Hyoga o prendeu com seu Círculo de Gelo, mantendo-o debatendo-se por alguns momentos.

Mas o cosmo púrpura do Fantasma encheu seus olhos de fogo e sua própria proteção de folhas inflamou-se de chamas azuis e derreteu o círculo de gelo de Hyoga.

— Ignis Fatuus! — anunciou sua voz poderosa nas ruínas.

O punho do Fantasma conjurou chamas ao redor de Hyoga para incendiá-lo por completo; tudo que Hyoga pôde fazer para se defender foi inflamar seu próprio cosmo gélido e usar seu Círculo de Gelo em seu próprio corpo, de modo que anulasse as chamas de Rigel.

Com muito custo livrou-se, mas também ficaram marcas breves em seu corpo do golpe terrível do Fantasma. Mais atento, Hyoga viu que ele tinha uma certa dificuldade para usar seu braço direito e, talvez por isso, ainda estivesse vivo. Certamente era resultado de sua batalha anterior e isso dava uma certa vantagem a Hyoga.

Assim que apagou as chamas de Rigel, Hyoga mirou certeiro em seu braço com uma rajada concentrada e poderosa de sua técnica Pó de Diamante. O Fantasma não conseguiu se esquivar, como imaginava Hyoga, e foi atingido pelo cosmo congelante.

Empatados e novamente de pé, os dois sentiram como o cosmo maligno novamente tremeu, pois outra vez o coração de Shoko parecia fazer vacilar aquela enorme Esfera de Âmbar.

— Não. — ralhou os dentes Rigel, mas Hyoga colocou-se na sua frente.

— Não irá a lugar algum!

Encarando-se com seus cosmos inflamados, os dois foram interrompidos por um milagre.

Um brilho dourado engoliu as ruínas, cegando os dois guerreiros; transbordou pelo altar um cosmo quente e violento.

À frente deles, quando a luz se arrefeceu, estava um maravilhoso Cavaleiro de Ouro.

 

—/-

 

Um guerreiro fabuloso, cuja Armadura reluzia como se tivesse luz própria, protegendo-o dos pés à cabeça com o brilho magnífico do sol dourado. Em suas costas uma capa branca.

— O… Cavaleiro de Ouro. — surpreendeu-se Hyoga.

Quando a humanidade estivesse em perigo, lá estaria o Cavaleiro de Ouro.

Prestes a renascer a Discórdia, ali estava um Cavaleiro de Ouro.

Ele tinha os olhos fixos na esfera de âmbar, onde Shoko continuava a tentar alcançar a sua irmã com seu coração.

Hyoga temeu pela vida dela e colocou-se diante do Cavaleiro de Ouro, que sequer olhou para ele, mas o garoto sentiu seu corpo inteiro enregelar-se por dentro de um profundo medo paralisador que o deixou completamente imóvel e apavorado. O Cavaleiro de Ouro passou por ele sem fazer qualquer coisa além disso.

— O que pensa que vai fazer? — perguntou Rigel, colocando-se também à frente do Cavaleiro de Ouro.

O Fantasma então caiu ajoelhado, sentindo uma dor intensa e concentrada em seu ombro. Uma dor lancinante, irradiando pelo braço, pelo peito. Uma queimação e um latejamento enorme. Rigel viu que sua proteção tinha um minúsculo buraco no local atingido. 

Os passos do Cavaleiro de Ouro ecoavam pelo templo inteiro. Passos que pareciam chacoalhar o planeta, tal a imponência daquela figura dourada.

Rigel experimentou levantar-se, ainda que tomado de dor. Hyoga, ainda paralisado às costas daquele inimigo, viu como Rigel ascendeu seu cosmo com o que tinha sobrado de sua vida. Ele sabia que o Cavaleiro de Ouro estava ali para destruir Éris.

O cosmo púrpura não foi suficiente para parar a marcha do Cavaleiro de Ouro, e Rigel uniu tudo que tinha em um enorme grito de desespero.

— Ignis Fatuus Saltare!!!

Hyoga assistiu, indefeso, como o cosmo de Rigel despedaçou-se em muitas chamas violentas, que consumiram o corpo do Cavaleiro de Ouro apenas para revelar, com assombro, que apenas sua capa branca havia sido incendiada.

O Cavaleiro de Ouro finalmente parou sua marcha.

— Que ridículo. — comentou sua voz jovem e ameaçadora. — Como se atreve a me atacar? Eu o poupei da primeira vez, mas sinto que a punição mais adequada para uma criatura ridícula como você seja mesmo a morte.

O Cavaleiro de Ouro virou-se para Rigel e Hyoga viu em seus olhos, pois ainda estava paralisado, como esses olhos eram ameaçadores.

Não pôde ver o que estava para acontecer; também não viu absolutamente nada enquanto aconteceu. Sentiu apenas por um instante como se o próprio espaço daquele templo se distorcesse de maneira impossível silenciando todos os sons e esticando todas as luzes.

O Cavaleiro de Ouro desapareceu e reapareceu a poucos centímetros do rosto de Hyoga, que sentiu a morte invadir seu corpo inteiro. Ele tinha um sorriso no canto da boca e os olhos enormes invadindo os medos do garoto, olhando-o de cima para baixo.

Era claramente uma ameaça para que não o desafiasse como havia feito Rigel.

E quando o Cavaleiro de Ouro virou-se para voltar a caminhar até a Esfera, Hyoga viu o corpo vencido de Rigel no chão. Morto.

 

—/-

 

Era o fim.

Ele estava paralisado.

Shoko ainda chorava a vida de sua irmã.

E o Cavaleiro de Ouro iria matá-los a todos.

Shoko virou-se para o Cavaleiro de Ouro que marchava e suplicou.

— Pare, por favor. — disse ela. — É a minha irmã. Não mate a minha irmã! — pediu ela.

Os olhos do Cavaleiro de Ouro estavam sobre ela.

— Eu posso sentir a minha irmã. Seja lá o que for que esteja tomando seu corpo, eu sei que ela está resistindo. Me dê uma chance! — pediu ela.

— Eu já dei a vocês uma chance quando eram crianças. — falou ele. — Dessa vez não haverá dúvidas. É a paz da humanidade ou a vida de sua irmã. A escolha já está feita.

— Não, eu sei que posso trazer minha irmã de volta, por favor, não a mate! — suplicava ela.

O Cavaleiro de Ouro viu como a Esfera de Âmbar parecia mais e mais líquida.

— Não há mais tempo. — falou ele.

— Há tempo. — falou outra pessoa atrás do Cavaleiro de Ouro.

Hyoga sabia quem era.

Era Saori Kido.

Ela usava um lindo vestido branco.

 

O Cavaleiro de Ouro virou-se para encarar o dono de um cosmo incomum. Era uma garota. Mais uma. Decidiu usar novamente seus olhos ameaçadores para paralisar sua presa onde estivesse. 

Mas Saori caminhou como se aquilo não fizesse qualquer diferença para ela.

— Qu… Quem é você? — perguntou o Cavaleiro de Ouro, assombrado que seu poder era inútil.

E a garota, muito menor que ele, passou pelo Cavaleiro de Ouro e tomou a mão de Shoko. Sua figura era um pouco translúcida e brilhante.

— Eu sou a Deusa Atena. — disse ela, olhando nos olhos de Shoko. — Vamos resgatar a sua irmã.

O Cavaleiro de Ouro ficou em choque. Hyoga, libertado de sua paralisia graças àquela presença divina, viu como Shoko, de mãos dadas com Saori, simplesmente entrou na Esfera de Âmbar caminhando.

Lembre-se, Hyoga, você é um Cavaleiro de Atena.

Dizia a carta.

 

—/-

 

Uma imensa escuridão.

Shoko estava de mãos dadas com alguém.

Era sua irmã.

Kyoko.

— Kyoko.

Sua irmã sorriu de volta; ela usava um uniforme escolar igual ao seu, igual ao de muitas meninas. E então viu-se com ela em um orfanato. As crianças brincando com a bola e ela cuidando da faxina. Um dos dias que Shoko sentia tanta falta de ir ajudar sua irmã mais velha em seu trabalho.

Sentadas em uma mureta olhando para o mar e para as estrelas.

— Sabe, Shoko. — disse Kyoko. — A gente tem tanta sorte.

— Por que diz isso, Kyoko?

— Vejo no orfanato todos os dias as crianças que por algum motivo foram abandonadas. Outras que chegam de tempos em tempos. Crianças que um dia são adotadas e separadas de seus irmãos e amigos. E nós duas temos uma à outra. Temos nosso pai.

— Eu nunca tinha pensado nisso. — falou Shoko.

— Tudo bem. — falou Kyoko. — Mas eu fico pensando que há pessoas que nascem sob estrelas ruins, de má sorte.

— Acha mesmo isso? — perguntou Shoko.

— Sim. — respondeu ela. — Temos muita sorte de termos nascido sob estrelas tão boas, não é?

Shoko sorriu.

Na escuridão de mãos dadas.

Com Atena.

— Eu sinto muito, Shoko. — disse Saori. 

— Você me conhece?

— Sim. A sua irmã falava muito de você.

— Conheceu a minha irmã?

Saori assentiu com a cabeça.

— Ela foi uma grande amiga. — falou Saori, com a voz vacilante. — E eu lamento muito que isso tenha acontecido.

— O que eu posso fazer? — perguntou Shoko.

— Confie no seu coração. — falou Atena. — Vamos buscar sua irmã.

Mergulharam na escuridão tensa que tremia, embora nada pudessem ver. Seus próprios corpos tremiam.

Afundada em desespero, um corpo jovem revelou-se no fundo da escuridão.

— Kyoko! — gritou Shoko na escuridão. — Kyoko!

E os olhos daquela jovem aninhada no vazio se abriram.

— Shoko. É você?

Era. E seus olhos se reencontraram.

— Saori. — reconheceu Kyoko ao lado de sua irmã.

— Vamos, irmã. Volte com a gente.

Kyoko sorriu, mas viram que, na escuridão, outro corpo entrelaçou-se naquela irmã perdida. Uma cobra alada subiu pelos pés de Kyoko para enrodilhar-se em seu pescoço.

Era a Discórdia.

— Ora, ora, Atena... — falou sibilante a voz de Éris. — Quanta coragem para visitar este plano em que é tão vulnerável. Me parece que sem a sua presença a Discórdia na Terra será ainda mais saborosa.

— Não deixarei que tome a Terra, Éris. — falou Atena. — Não deixarei que tome Kyoko. — falou Saori.

A cobra sibilou forte, regozijando-se.

— Tarde demais, Deusa pequena. Enquanto houver conflito em seu Mundo, eu estarei esgueirando seus calcanhares.

Mas Kyoko então passou a esganar a cobra com suas próprias mãos nuas, trazendo imensa dor àquela alma desgraçada.

— Kyoko! — gritou Shoko por desespero.

— Atena. — falou Kyoko, para surpresa de Saori. — Você é a Deusa Atena. A Deusa Atena que Éris tanto teme em seus mais profundos sonhos. Posso sentir seu medo diante de você. Atena… — Kyoko esforçava-se para conter a cobra alada. — Não. Saori!

Kyoko suplicava.

— Saori. Destrua Éris!

— Não, Kyoko! — pediu Shoko.

— Destrua Éris!

— Pare com isso, Kyoko! — pediu Saori.

— Destrua Éris junto comigo. É a única chance, Saori!

Ela pedia e Saori negava, ela pedia e Saori negava. Shoko decidiu mergulhar ainda mais profundamente naquele vazio e soltou a mão de Atena para abraçar sua irmã. Juntas, passaram a enforcar aquele mau agouro.

— Shoko, o que está fazendo?

— Não vou te abandonar, Kyoko. — disse Shoko. — Não quero mais ficar sozinha.

— Shoko…

— Eu te amo, Kyoko. Eu te amo, irmã.

As duas uniram-se e juntas levantaram a alma de Éris sibilante com as duas mãos; a cobra debatia-se, sofrendo uma dor horrível, como se atacada da pior das sensações: a paz. Pois sua alma era alimentada da discórdia, do sangue e do conflito. Cega de poder e traiçoeira, a Discórdia tomou o corpo de quem poderia trazer ruína ao coração de Atena, mas percebeu tarde demais que viu-se vulnerável pelo amor que habitava o corpo de sua hospedeira. Pois para a discórdia não havia veneno pior do que o amor.

Shoko amava sua irmã. Kyoko amava sua irmã.

Éris foi finalmente expulsa daquele elo amaldiçoado e arremessada para o vazio do esquecimento. Mas as presas daquela cobra alada ainda deram um último bote terrível. E desapareceu deixando uma última e terrível maldição.

— A Discórdia sempre existirá! E vocês jamais se amarão novamente!

 

—/-

 

A Esfera de Âmbar explodiu e seus estilhaços evaporaram no ar em um espetáculo dourado.

No coração da árvore, que ainda estava de pé, estavam dois corpos deitados.

Hyoga correu em socorro das meninas, passando pelo Cavaleiro de Ouro, que já não sentia mais a presença maligna de Éris.

Shoko estava desacordada e Hyoga a abraçou, em prantos. Ela estava viva. Ela estava bem. Ele cumpriu a promessa. E, ao seu lado, sua irmã Kyoko, que ele reconheceu de sua prisão no âmbar, também parecia dar sinais de vida.

— Shoko. Shoko. Você está bem. — disse ele, emocionado ao ver que ela lentamente recobrava seus sentidos.

Ela sentou-se um pouco zonza e olhou para Hyoga, confusa. Ele tinha um sorriso no rosto que raramente deixava escapar.

— Quem é você? — perguntou ela.

Hyoga, o Cavaleiro de Cisne do Gelo Eterno, nunca sentiu tanto frio quanto naquele instante. Seu corpo inteiro paralisou e sua boca não pôde dizer nenhuma outra palavra. Os olhos de Shoko eram perdidos e, se fosse possível, vazios. Não havia nada ali.

Não, ele se enganava.

Ela vivia.

Era ele que não existia mais naqueles olhos.

Caminhou para trás, com medo. E viu como ela olhou para os lados e viu sua irmã. Elas se olharam e não se reconheceram; Hyoga adivinhou imediatamente. E seu coração se despedaçou.

A maldição de Éris era terrível. O profundo esquecimento. Nada era tão forte quanto o amor entre as duas irmãs, e a cobra da discórdia fez com que vivessem, mas vivessem sem lembrar que se amavam.

Hyoga limpou as lágrimas e as trancou na garganta.

Olhou para trás e viu, além da figura do Cavaleiro de Ouro, como Golfinho e Ursa Menor também acordavam. E então voltou a olhar para as irmãs que não se reconheciam. Viu Shoko ajoelhada com a cabeça escondida afundada no peito. Ele queria demais estar ali. Mas ele não estava mais.

Lembre-se, Hyoga, você é um Cavaleiro de Atena.

Olhou para suas mãos e viu a Armadura de Cisne. Ele era um Cavaleiro de Atena.

Com o peito morto, virou as costas e marchou para a saída do templo.

— Espero que isso tenha lhe servido de lição. — falou a voz do Cavaleiro de Ouro para Hyoga às suas costas.

Hyoga chorava.

Então não serviu de nada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Trazer o primeiro arco de Saintia Sho sobre a Shoko, Kyoko e Saori encaixou perfeitamente com o que Hyoga precisava fazer e os motivos pelos quais ele reconhecia Saori como Atena. Gosto que também mantive o Cavaleiro de Ouro aparecendo para poder usar mais tarde.

PRÓXIMO CAPÍTULO: DEUSES E CRIANÇAS

Seiya e seus amigos descobrem que Saori é Atena e que além do Santuário, também existe a ameaça de Éris à sua frente.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.