Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 108
Contos de Asgard


Notas iniciais do capítulo

June entra no Corredor de Antigamente em busca da Relíquia do Mar. Na superfície, os Dragões Siegfried e Shiryu enfrentam-se em um combate incrível.



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O fundo do abismo do Colosso de Odin era tão deserto e suas paredes tão enormes que até mesmo uma distante goteira de uma rocha saliente um pouco mais longe ecoava quase por toda extensão daquele vale onde agora deitavam-se vencidos os Cavaleiros de Atena. Vencidos por Hilda de Polaris, que àquela altura já estava longe dali. Talvez a meio caminho de chegar à superfície onde lutavam outros Cavaleiros de Atena contra Siegfried de Dubhe, o último Guerreiro Deus.

Pois no fundo daquele abismo, June abriu os olhos aos poucos, ainda muito ferida do enorme poder do Anel de Nibelungos, que havia atingido a ela e a todos. Mas como entre todos ali ela era a que estava em melhores condições, afinal de contas não havia lutado batalha alguma em Asgard, era natural que fosse a primeira a voltar à si.

E a primeira coisa que conseguiu distinguir ao abrir os olhos, tamanha escuridão em que estavam, era o brilho tênue do cilindro de ouro partido ao meio à frente deles. June rastejou pela pedra até o cilindro e o tomou nas mãos; das duas partes, ela tirou o que havia sobrado do papiro que estava dentro do cilindro. O papel não tinha mais nem mesmo as letras gregas do nome de Atena, que havia desaparecido junto do feitiço que o tornava tão precioso. Agora era só um papiro comum, reconheceu ela.

June respirou fundo e finalmente tentou se colocar de pé.

Seus olhos aos poucos se acostumavam à pouca luz do distante céu branco de Asgard, bem como das pedras preciosas do Corredor de Antigamente, que chegava naquela profundidade. E foi assim que notou atrás dela os outros três corpos que haviam também sido vencidos pela representante daquela terra e seu maldito Anel de Ouro.

— Shun!

Exclamou ela ao ver o corpo do amigo e, ao lado dele, também os corpos de Hyoga e Shaina. Tanto Andrômeda como Cisne, ainda muito ferido na perna, pareciam mesmo desmaiados depois de tantas batalhas terríveis, mas Shaina pareceu responder aos chamados de June, ainda que fosse apenas para abrir os olhos, confusa de onde estava. A Mestre-de-Armas do Santuário não havia lutado menos até então, mas Shaina era mesmo conhecida como a Cavaleira do Santuário mais briosa e obstinada, não só entre as mulheres; sua fome pelo dever que agora a acorrentava às funções do Santuário eram tais pois, no fundo, ela reconhecia que havia uma enorme mancha que ela ainda precisava apagar de seu histórico. E por isso abriu os olhos e colocou-se sentada com a ajuda de June.

— Estamos no Corredor de Antigamente. Hilda nos atingiu e parece que nos deixou para morrer.

— Camaleão. — pediu Shaina com dificuldades. — Vá para a Caverna. Encontre a Relíquia e a sele.

— O Selo de Atena está destruído. — respondeu June, pesarosa.

Shaina deixou os ombros caírem, desanimada, enquanto ainda buscava respirar com dificuldades.

— Ainda assim vá, June. Ao menos encontre a Relíquia.

Ela assentiu e, respirando fundo, deixou que Shaina descansasse escorada contra o paredão de pedra onde começava aquela imensa escadaria que a senhora de Asgard havia tomado já há um bom tempo. Shaina a empurrou levemente, para que seguisse sua missão.

A garota virou-se para os corpos espalhados no chão de Shun e Hyoga e olhou adiante deles, para o Corredor de Antigamente, onde lembrava-se ter visto surgir com muito esplendor a figura da valquíria Hilda que os colocou naquele estado. Pois se antes a Caverna tinha um brilho indescritível refletindo a força daquela valquíria, agora as pedras preciosas que ornamentavam o Corredor tinham apenas um tênue brilho, incapaz de iluminar aquele abismo como havia feito anteriormente.

Ainda assim, June sabia que o caminho para a Relíquia era naquela profunda Caverna de Surtr, onde guardavam-se todos os tesouros e preciosidades de Asgard, bem como aquelas que seus antigos governantes haviam pilhado pelo Mundo. Ela caminhou escorando-se na parede irregular daquele Corredor, onde muitas pedras preciosas pulsavam mui sutilmente brilhos de cores diferentes pelas paredes e também pelo teto, algumas incrustadas e outras penduradas por filigranas de prata ou de ouro.

A Cavaleira de Camaleão, oficial-médica do Esperança de Atena, caminhava determinada a encontrar a Relíquia dos Mares e ao menos pavimentar o caminho para que Seiya e os demais, que lutavam na superfície, pudessem completar a missão por eles. E por seu Capitão Meko Kaire. Era isso que lhe batia no peito, o dever para com Atena, mas principalmente para com seu Capitão caído.

Quando June viu-se já a alguns passos adiante naquele Corredor, ela escutou um ronco profundo e distante que a fez se deter por um minuto. Ao final do que pareceu ser um bocejo da caverna, ela voltou a caminhar com a mão no coração. E as pedras preciosas, que antes brilhavam apenas muito sutilmente uma luz que mais parecia morrer do que iluminar, finalmente se acenderam uma a uma enquanto ela caminhava, como se a luz a acompanhasse pelo Corredor de Antigamente.

Iluminado de suas pedras, o Corredor de Antigamente revelou-se não apenas um caminho irregular e aparentemente intocado pelos artífices de Asgard, mas também um recorte da própria história daquela Terra do Norte. June observou e notou, com curiosidade, como a história de Asgard parecia ser contada pelas luzes e pelos tantos murais, vitrais, obras de arte e artefatos espalhados pelas margens do Corredor. Aprofundar-se naquele Corredor de Antigamente era percorrer a história de Asgard.

Muitas quilhas e bandeiras de antigos navios logo deram lugar a raízes podres e escurecidas que brotavam da pedra; June precisou caminhar sobre elas para chegar ao final daquele Corredor. E o final daquele lugar era uma caverna assombrosa de ampla.

O brilho das pedras preciosas que haviam iluminado seu caminho até ali refletiam no brilho cintilante de alguns tesouros que estavam mais próximos à ela. Ao seu lado direito, na parede, havia uma tocha de fogo azul que parecia nunca se apagar. Ela a tomou e percebeu que havia uma calha na parede logo abaixo do suporte, da qual ela logo adivinhou o propósito. Encostou o fogo da tocha na calha e, daquele ponto, correu um fogo azul maravilhoso iluminando de ponta-a-ponta a Caverna de Surtr.

Tal eram os mecanismos antigos de Valhalla que o fogo não só iluminou toda a caverna, como também acionou qualquer dispositivo escondido daquele lugar que rugiu feito pedra se arrastando e June viu, com assombro, como duas cascatas de magma surgiram naquela caverna trazendo ainda mais luz e calor para o lugar.

E o que as luzes revelaram deixou-a de boca aberta.

Havia um mundo de tesouros, espadas, armaduras, itens, esferas, cubos de energia, jóias antigas, pratarias e mil outros penduricalhos desconhecidos que cintilavam naquela Caverna.

— Por Atena. — surpreendeu-se a garota.

Entre os amontoados de tesouros, atravessavam alguns caminhos demarcados no chão por bonitos mosaicos de pedra, os quais June seguia curiosa buscando aquilo que era sua missão desde que havia partido pelos Sete Mares à bordo do Esperança de Atena.

A Relíquia do Mar.

E ela caminhou pela trilha mais à direita, lembrando-se das palavras de Hyoga enquanto desciam pela montanha; e enquanto passava por corredores cheios de tesouros, lembrou-se de Geist e de seus companheiros piratas do Caribe que teriam febre ao saber de um lugar como aquele. A garota inspecionava cada estante ou mesa posta de prataria antiga para ter certeza de que não perderia detalhe algum e deixasse passar a Relíquia dos Mares.

As pedras preciosas que cintilavam ali e à distância aos poucos deram à ela a má impressão de que estava sendo observada, pois dois pontos iluminados ao longe realmente pareciam, por vezes, pares de olhos, apenas para revelarem-se duas gemas preciosas quando ela chegava mais perto. Ainda assim, não lhe sumia a impressão de que não estava só naquela caverna. Além da história de Asgard, ela tinha a sensação de que também havia alguém lhe vigiando.

Seguiu, de todo modo, pois nada a demoveria de seu dever. O fogo azul de sua tocha iluminou ainda um tanto de corredores por onde percorreu tapeçarias e antigas cimitarras, até que o caminho à sua frente não parecia dar a volta naquela câmara recheada de preciosidades, mas afundou-se mais adiante na caverna por um caminho estreito e margeado por tochas de chamas alaranjadas e baixas.

O caminho levava à uma pequena grota iluminada pelas reflexões de um lago de luz; ou ao menos assim parecia, pois sua água cristalina e rasa deixava ver ao fundo do lago a terra iluminada que brilhava impossivelmente por entre frestas e pontos de luz no fundo do lago. E exatamente no meio desse lago, em cima de uma pequena formação rochosa, estava um lindo bracelete de ouro. Aquela câmara era bem pequena, de modo, que ao fundo da grota, June pôde ver muito bem como havia um mosaico em que se adivinhava o inconfundível tridente do Senhor dos Mares.

Ali estava a Relíquia.

Faltava à ela o Selo de Atena.

De todo modo, June respirou fundo e entrou no lago para ver, mais proximamente, os detalhes daquele artefato que era o fim de sua missão.

— Droga, Capitão. — disse ela, tão perto, mas tão longe de completar sua missão. — Será que levo a Relíquia até a superfície?

June perguntou-se e estendeu a mão para tocar o bracelete, quando escutou claramente algo metálico espatifar-se na grande câmara da Caverna de Surtr. Ela definitivamente não estava sozinha e recolheu seu braço; de todo modo, não parecia certo retirar a Relíquia do Mar de seu pedestal, uma vez que ela e o Esperança de Atena haviam selado todas as Relíquias em seus próprios lugares. Não poderia ser diferente.

Ela voltou para a grande câmara, atenta para qualquer um que estivesse ali, mas não encontrou ninguém pois, quem quer que fosse, havia se escondido muito bem. O que ela encontrou desenhou um sorriso inesperado em seu rosto, pois o clangor de metal que havia espatifado-se em um dos corredores revelou finalmente uma urna de Bronze maravilhosa, que ela reconheceu imediatamente em uma das estantes: a Urna da Armadura de Camaleão.

— Ela retornou à sua forma original. — refletiu June ao vê-la ali em seu esplendor.

June puxou a corrente da Urna, causando um espetáculo de luzes e sons impressionante naquela Caverna de Surtr, de maneira que a garota não se furtou de vestir-se de sua Armadura de Bronze, não importasse quem estivesse nas sombras. Era mesmo um alerta e seu chicote estalou furiosamente naquele corredor de pedra. E assim, brilhante, ela finalmente deixou a câmara-principal para fora da Caverna de Surtr com sua tocha de fogo azul e para dentro do Corredor de Antigamente, para outra vez verificar os corpos dos amigos que precisavam de ajuda. Agora ela já sabia onde estava a Relíquia, mas sem o Selo só lhe restava torcer para que Seiya e os outros conseguissem descer até ali.

Próximo à saída do Corredor de Antigamente, June notou algo que havia fugido de sua atenção quando havia entrado, pois então não havia luz qualquer para que pudesse ver, mas havia um grande anel desenhado em uma tapeçaria encostada quase ao final do Corredor. Se aquele Corredor contava a história de Asgard de seus primórdios para sempre, aquilo só poderia ser indicação de uma coisa.

— O Anel de Nibelungos.

O futuro de Asgard em um anel de ouro.

 

—/-

 

Ikki de Fênix havia sido atingida de maneira determinante e, ao tentar colocar-se novamente de pé, viu-se forçada a cair de joelhos, deixando pingar sobre o chão o sangue que lhe escorria da boca. Ainda assim, ela segurou a dor dentro de si e colocou-se de pé, mas então havia outra pessoa perto dela.

— Agora é a minha vez, Ikki. — falou Shiryu à sua frente.

— Acha que eu não tenho condições de seguir lutando? Não me subestime, Shiryu.

— Jamais, Ikki. Mas está na hora do Dragão do Norte enfrentar o Dragão de Rozan.

Ainda que Fênix fizesse aquele teatro, ela sabia que só se machucaria ainda mais naquele estado se seguisse lutando. Ao ponto que caiu de joelhos outra vez, mas alertou a amiga que partia para a batalha.

— Tome cuidado, Shiryu. Ele é incrível.

— Sim. — concordou a garota, séria. — Diferente dos outros inimigos que enfrentamos, ele não parece nos subestimar.

— Me escute, Shiryu. — puxou Ikki a amiga uma última vez. — O Vendaval do Dragão, a técnica máxima de Siegfried, se parece muito com a sua. Tome muito cuidado com o punho de Siegfried.

— O Punho de Siegfried? — perguntou-se Shiryu, confusa.

— Sim. — concordou ela apagando-se.

Shiryu finalmente deixou Ikki com suas dores e caminhou alguns lances de escada adiante para colocar-se diante de Siegfried de Dubhe, o Último Guerreiro Deus.

— Serei sua adversária. — anunciou ela.

— Shiryu, a Cavaleira de Bronze de Dragão.

— Vejo que já me conhece.

— Sei que foi você quem venceu todos os guardas palacianos de Asgard abrindo caminho para que seus amigos pudessem chegar até Valhalla sem serem importunados.

— Eles não teriam sido adversários à altura de nenhum de meus amigos, eu os fiz um favor.

— Quanta confiança, Dragão.

— Não tanto quanto a sua, Guerreiro Deus.

— O que quer dizer com isso?

— Eu ouvi dizer que você é um guerreiro imortal.

Siegfried deixou escapar um sorriso debochado, mas não respondeu à ela.

— Eu quero ver que tipo de guerreiro imortal você é.

Seu Cosmo de esmeralda iluminou seu corpo inteiro e fez seus cabelos esvoaçarem à força daquela energia que lhe precipitava da pele. O Dragão de Rozan havia mesmo reencarnado no corpo e na pele de Shiryu, a Cavaleira de Bronze de Dragão. Ela era a única guerreira de Atena que ainda tinha sua Armadura completamente ilesa das batalhas, pois havia enfrentado Hyoga sob o feitiço da Safira já há muitas horas e, desde então, dedicou-se pelas entranhas de Asgard até salvar o próprio Cavaleiro de Cisne das artimanhas de Alberich. De modo que ela estava ali com sua Armadura plena e brilhante; a portentosa Armadura de Bronze de Dragão com seu impenetrável Escudo e debaixo do diadema que simulava os bigodes elegantes do dragão chinês caíam seus longos cabelos negros. Seus olhos cegos sempre vendados por uma faixa rosa escura, que era presente de Shunrei para que ela nunca se esquecesse dela, mesmo em batalha.

De outro lado, também havia outro Dragão. O Dragão de Asgard, o Dragão do Norte, na figura alta, forte e imponente de Siegfried de Dubhe, o protegido pela Estrela Alfa da constelação da Ursa-Maior, que guiava e abençoava os habitantes daquela terra sofrida. Um homem amaldiçoado pela tristeza de Asgard e atormentado pelos pecados de seu irmão e a morte de tantos amigos naquele dia fatídico. 

O pátio externo do Palácio Valhalla era testemunha do choque mitológico entre aquelas duas figuras antigas.

E quando a batalha iniciou-se, ela deu-se no chão, pois ao contrário de Ikki, Shiryu escolheu enraizar aquele combate ao invés de travá-lo nos céus; dessa forma seguiu-se uma troca de ataques entre ambos os lados à última potência, como se procurassem compreender cada um o corpo do outro. Enfrentavam-se com valentia. A batalha era absolutamente parelha entre ambos; duas forças imensuráveis de lados opostos.

— Você é muito mais forte do que eu imaginava. — comentou ele para ela.

— O que quer dizer com isso, Siegfried? Acha que alguém como eu, que não é capaz de enxergar, não poderia lhe fazer frente? É isso que quer dizer?

— Não, de modo algum. Pouco me importa qual sentido lhe falta, Shiryu. O que eu quero dizer é que você está muito além e mais preparada do que seus amigos que vieram até aqui para lutar.

— Não os subestime, Siegfried. Não vou deixar que fale assim de meus amigos que sacrificaram suas próprias vidas para que eu mesma pudesse ter uma chance de viver. E por todo esse tempo foram capazes de realizar milagres os quais você sequer pode imaginar.

— Não o faço para depreciar seus amigos, Shiryu, mas para reconhecer sua enorme força. Ora, será que você não consegue admitir que é mais forte que todos eles, Dragão? — perguntou Siegfried, colocando-se em guarda. — Não há vergonha alguma em ser o mais forte.

— Eu suponho que você acredite ser o mais forte dentre os Guerreiros Deuses.

— É o que sou. — confirmou Siegfried. — É o que decidi ser há muito tempo.

Siegfried avançou na direção da garota, mas ela defendia-se habilmente com seu poderoso escudo. O estado de igualdade entre ambos parecia mesmo absoluto. Shiryu lembrou-se das palavras de Ikki e buscou testar algo contra aquele oponente: ergueu seu Cosmo de esmeralda, seus cabelos abriram-se para o vento gélido e sua voz despejou toda sua energia na ponta de seu punho na forma de um lindo dragão.

— Cólera do Dragão!

A rajada cósmica rasgou o ar trincando o chão por cima de onde passava, mas Siegfried experimentou deter aquela força com apenas uma mão, apenas para concluir que havia se enganado terrivelmente e precisou esquivar-se do golpe, não sem antes ver que seu braço estava muito ferido pela vã tentativa. Não teve tempo de rever seus passos, pois percebeu quase tarde demais que uma fenda foi aberta à sua lateral e ele só não foi fatiado no ar pois reagiu rápido, pulando para longe dali; alguns fios de seu cabelo passaram por seus olhos, fatiados por uma força descomunal.

Levantou-se, possesso e chocado, olhando para Shiryu em guarda.

— O que foi isso? — perguntou Siegfried. — O que foi que você fez?

Shiryu permaneceu em silêncio enquanto o Guerreiro Deus tinha plena convicção que, o que quer que fosse que Shiryu havia tentado e quase fatiado sua cabeça para fora do corpo, ele não havia visto. O Guerreiro Deus escolheu avançar para evitar que Shiryu atacasse, mas a Dragão de Rozan saltou no ar e abriu uma fenda entre os dois, obrigando Siegfried a deter sua corrida; pois agora ele era uma presa fácil para Shiryu, que gritou sua Cólera do Dragão pelos ares e caiu feito uma estrela cadente para acertar uma voadora poderosa no rosto do Guerreiro Deus.

O imortal Siegfried foi finalmente atingido.

Seu elmo na forma de um crânio de dragão rolou pelo pátio externo e seu corpo arrastou a pedra, abrindo um caminho quase até a boca do abismo abaixo do Colosso de Odin.

Shiryu aterrissou em guarda novamente.

Distante por alguns passos daquela batalha, estendiam-se os corpos de Seiya e Geist, que se levantavam com a ajuda de Ikki.

— Está bem, Ikki? — perguntou Geist aproximando-se.

— Estou melhor que vocês. — respondeu ela, ao ver que Seiya parecia um indigente com aquelas roupas.

— Shiryu é incrível. — falou o garoto, olhando para ela logo após acertar Siegfried pela primeira vez.

— O que ela tem naquele braço direito? — perguntou Ikki para ambos.

— Eu não sei, mas é algo inacreditável. — respondeu Seiya. — Quando eu estava preso na Couraça Ametista de Alberich eu também a vi usar contra aquele Guerreiro Deus. Eu só pude ver um lampejo de luz e no instante seguinte algo acontece que não podemos ver.

— É a Velocidade da Luz.

— A Velocidade da Luz? — perguntou Seiya para Geist.

— Sim. É um golpe na Velocidade da Luz. — confirmou ela.

— Então isso significa que Shiryu pode controlar o Sétimo Sentido. — observou Ikki, assombrada.

— O Sétimo Sentido, a essência do Cosmo. — repetiu Seiya, refletindo sobre lições distantes de sua memória. — Nós precisamos realizar milagres e rezar pra conseguirmos alcançar o Sétimo Sentido por um instante e aqui parece que Shiryu é capaz de controlar o como ela quiser. Ela é incrível.

— Isso deve ser o resultado de seu treinamento com Aioria, o Cavaleiro de Leão.

— É verdade, agora eu me lembro que vocês foram todos treinados nas Doze Casas enquanto eu e Geist partimos para os Sete Mares.

— Shun também adquiriu um controle de seu Cosmo muito além de suas capacidades. — observou Ikki sobre o irmão, que agora estava estirado no fundo do abismo de Asgard.

— E quanto a você, Fênix? — perguntou Geist.

Não houve tempo para que ela respondesse, pois diante deles a batalha recomeçou com Siegfried partindo para o ataque, mas parando no Escudo do Dragão, que Shiryu habilmente usava para escapar dos chutes, socos e técnicas daquele exímio Guerreiro Deus.

— Você é brilhante, Shiryu. — comentou o Guerreiro Deus. — É digna de uma guerreira que desafia o Dragão do Norte.

— Não deve se esquecer de que eu também represento um Dragão furioso que vive nos rios de Rozan.

— É verdade. O destino quis que, debaixo deste céu branco de Asgard, dois Dragões se enfrentassem às últimas consequências.

— Ainda é tempo de me entregar a sua Safira de Odin. — falou Shiryu.

— Não, esse tempo já não existe. Defenda-se, Shiryu de Dragão!

O Dragão do Norte fez arder o seu seidr ao redor de si e seus braços estendidos ao lado do corpo pareciam convergir toda a energia de Asgard, estalando eletricidade e carregando o punho de sua fúria. Seus dois punhos finalmente rasgaram o ar junto de sua poderosa voz:

— Vendaval do Dragão!

Shiryu não contra-atacou, pelo contrário, apoiou o Escudo do Dragão à sua frente e suportou aquela força imensurável de Siegfried, pressionando sua técnica contra o Escudo de Shiryu, que parecia uma parede de concreto contra o qual aquela energia púrpura se detinha, mas tentava romper.

Até que rompeu.

O Escudo do Dragão trincou e então quebrou-se por inteiro, arremessando Shiryu decisivamente contra uma pilastra que se quebrou em dois antes que ela caísse no chão do pátio externo.

— Shiryu!

Ikki correu até ela e viu, com assombro, que o Escudo do Dragão em seu braço esquerdo estava despedaçado. 

— Que tolice, Shiryu, Siegfried é tão forte quanto um Cavaleiro de Ouro, não deveria ter confiado apenas em seu Escudo se podia desviar daquela técnica!

— Você tem razão, Ikki. — falou ela, levantando-se com dificuldade. 

— O que está fazendo?

— Observem bem! — chamou Shiryu. — Já que eu não posso enxergar, vocês serão meus olhos em meu próximo ataque.

Shiryu levantou-se, Siegfried se aproximou. 

— Agora já não tem o seu escudo para se proteger, Shiryu.

— Mas tenho algo ainda mais importante, Siegfried.

— O que quer dizer com isso?

— Graças aos meus ensinamentos com meu mestre nos Cinco Picos Antigos, agora eu tenho uma pequena chance de vencer você, guerreiro imortal.

— Uma pequena chance? — confundiu-se Siegfried.

Ambos arderam a energia que queimava dentro deles, encarando-se em batalha. A Dragão de Rozan apoiou o punho próximo ao peito e seus cabelos esvoaçaram ao comando de seu Cosmo, enquanto do outro lado o Dragão do Norte estendeu os braços, convergindo a energia atemporal de Asgard para usar novamente sua técnica. 

Tanto Ikki como Seiya gritaram seu nome, desesperados de que Shiryu poderia fazer algo estúpido. Outra vez suas vozes se confundiram no ar.

— Cólera…

— Vendaval…

— Do Dragão! — bradaram juntos.

Os dois Dragões surgiram para se chocarem no céu de Asgard, enquanto no pátio Shiryu acertou o peito de Siegfried com seu punho incandescido e Siegfried acertou o peito de Shiryu com seu punho gélido. Ambos foram arremessados para longe, muito feridos, com Shiryu caindo próxima aos seus amigos. Seiya correu até ela enquanto Ikki observou como Siegfried não havia se levantado imediatamente como sempre fazia ao ser atingido. Ele também estava ajoelhado, com sangue escorrendo de sua boca. Shiryu o havia acertado de maneira decisiva.

— Droga, Shiryu! — exclamou Seiya ao ver a amiga em condições lastimáveis, pois ele sabia melhor do que ninguém que Siegfried a havia acertado em seu ponto fraco.

Na garra do Dragão. A proteção de seu torso estava estraçalhada.

— Escute bem, Seiya. — começou ela a falar, estendida no chão. — Você se lembra de quando lutou comigo pela primeira vez?

— O quê?

— Escute, Seiya. Naquela ocasião, você descobriu o meu ponto fraco, o ponto fraco da Cólera do Dragão. 

— Eu me lembro, Shiryu. Você irá morrer se não receber o mesmo golpe…

— Não, Seiya. Me escute. — interrompeu Shiryu, com dificuldades. — Apenas me escute. Acontece que o ponto fraco de Siegfried…

— O que tem, Shiryu!? — tentou Seiya, antes dela desmaiar.

— Ikki tem razão. — falou ela, com muitas dificuldades. — A técnica de Siegfried é mesmo muito parecida com a minha. Isso significa que…

— Ah, droga, eu já entendi, Shiryu! — finalmente compreendeu Seiya, olhando para Geist.

— O ponto fraco… — balbuciou ela.

— O ponto fraco de Siegfried também é a garra do dragão. É o seu coração. — concluiu finalmente Seiya ao lembrar-se de sua batalha contra a amiga já há tanto tempo no infame torneio da Guerra Galática. — Siegfried tem o mesmo ponto fraco que Shiryu.

Geist levantou-se, olhando para o corpo de Siegfried que aos poucos também se recuperava, mas que sem dúvidas havia sido atingido de maneira terrível. Eles jamais poderiam imaginar ser possível aquele homem sofrer tanto.

— Eu não posso acreditar que não me dei conta disso antes. — falou Geist para eles, colocando-se ao lado de Shiryu para ajudá-la. — Tudo faz sentido. Siegfried representa o Dragão do Norte, também conhecido como Fafnir. Diz a lenda que um herói, chamado Sigurd, foi aquele capaz de vencer Fafnir em batalha; e após fazer isso banhou-se no sangue da besta, tornando-se assim imortal.

— Sigurd? — perguntou-se Seiya.

— Sim. — confirmou Geist. — Conta-se em Asgard que foi Sigurd aquele que venceu Fafnir. Mas assim como se dá com todas as lendas, ela pode ser contada diferente. E entre os povos germânicos, dão a esse herói outro nome.

— Siegfried. — adivinhou Ikki entre eles.

— Exatamente.

— Então Siegfried é mesmo imortal. — concluiu Seiya.

— Não, Seiya. E a Cólera do Dragão foi a resposta para isso. — continuou Geist. — Assim como na lenda de Sigurd, conta-se que o herói tornou-se imortal e incapaz de ser ferido por ter se banhado completamente no sangue do Dragão Fafnir. Seu corpo inteiro era protegido, com exceção de um único ponto no corpo. Um ponto exato em suas costas, que é onde fica o coração, mas do lado oposto. No momento em que Sigurd se banhou com o sangue que expeliu do pescoço do Dragão, uma folha se despegou de uma bétula próxima e colou-se à sua pele, impedindo que aquele ponto fosse banhado pelo sangue da besta.

— Um único ponto?

— Tempos mais tarde, Sigurd foi pego por guerreiros que invejavam sua fama e, embora tenha vencido muitos deles, o herói imortal caiu ao ser atingido por uma lança no exato ponto em que a folha havia se colado anos antes. E assim o imortal herói morreu. Pois não era imortal.

— O ponto fraco do herói lendário ficou em Siegfried, o Guerreiro Deus de Dubhe, protegido pela Estrela Alfa e representante do Dragão Fafnir. — falou Seiya.

— Como um karma. — balbuciou Ikki.

— Assim como acontece quando eu uso a minha Cólera do Dragão, ele também deixa seu coração perigosamente desprotegido por ínfimos instantes para que sua técnica possa ser usada em sua máxima potência. O lado oposto da folha de bétula.

— É alí que precisamos acertá-lo. — concluiu Seiya.

— Vença-o, Seiya. — pediu a amiga Shiryu.

E então seu corpo finalmente desmaiou, pois seu coração havia sido atingido em seu ponto fraco por um punho terrível; Seiya desesperou-se, a princípio amedrontado que ela havia sido morta, como havia acontecido na Guerra Galática. Mas seu pulso ainda estava firme, embora tênue. Ela não morreria. Claro que não, pensou o garoto. Shiryu era incrível.

Ele finalmente se levantou e olhou para sua amiga descansando naquele chão, e então mirou os olhos duros de Ikki, como os olhos sábios de Geist. A Cavaleira de Dragão havia deixado os três com uma missão a cumprir: derrotar o imortal Siegfried.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: A cena inicial foi para dar alguma importância para June que estava afastada até então; fazê-la se sentir parte ainda da missão do Capitão Meko Kaire. A inspiração para a caverna tem a ver com todos os filmes e histórias sobre cavernas de tesouros. A batalha entre Shiryu e Siegfried é bem parecida com a do Anime, mas colocando um pouco mais de potência e mistério em Shiryu com seu braço direito misterioso. Eu adoro que Siegfried tem o mesmo ponto fraco de Shiryu, é uma sacada genial do Anime.

PRÓXIMO CAPÍTULO: ESPERANÇA E IMORTALIDADE

O clímax da batalha entre os Cavaleiros de Atena e o Último Guerreiro Deus, Siegfried de Dubhe.



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