Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 107
O Dragão do Norte


Notas iniciais do capítulo

O Último Guerreiro Deus é Siegfried de Dubhe, um guerreiro dito imortal que a Ave Fênix Ikki terá de enfrentar se quiser conquistar a última Safira de Odin.



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O Palácio Valhalla aquela noite estava enfeitado de suas melhores tapeçarias no salão comunal; havia até mesmo alguns bardos tocando seus banjos e harpas solenemente enquanto a alta aristocracia de Asgard, que normalmente escondia-se do frio nas suas casas suntuosas na parte alta da cidade, juntava-se em seus trajes mais elegantes e quentes para uma recepção muito importante dentro do Palácio.

Entre os adultos, que esbaldavam-se no hidromel, corriam três garotos ao redor de uma mesa posta enquanto davam risadas.

— Siegfried, Siegfried!

Um dos meninos parou ao escutar seu irmão mais velho lhe chamar a atenção em público, fazendo com que os outros dois também parassem de brincar.

— Comportem-se vocês três! — falou Sigmund de maneira ríspida para seu irmão mais novo e também para os demais. — Não vêem que estão em uma recepção importante? Parem de correr e vão se sentar.

— Eu estou com fome. — protestou Siegfried com uma careta.

— Não vai se servir se continuar correndo por aí. — falou Sigmund com seus olhos pregados no irmão mais novo. — E isso vale pra vocês dois também.

 

Fez-se silêncio entre os meninos que entreolharam-se entristecidos, quando o grupo foi interrompido por um dos nobres convidados com um sorriso no rosto e um adorno dourado nos cabelos negros.

— Ora, Sigmund, esses meninos têm muita energia. Deixe-os gastar um pouco e verá que terá uma noite tranquila mais tarde em casa.

— Mestre Andreas. — surpreendeu-se Sigmund com a figura que havia aparecido, afinal de contas ele era o curandeiro-mestre de Valhalla e não raro precisou ser acionado para atender aos ferimentos daqueles garotos arteiros. — Eu entendo, mas hoje estaremos diante da Representante e da Princesa de Asgard, eles deveriam mostrar alguma compostura.

— Toda essa pompa é para nós que somos adultos e já não sonhamos tanto. — falou o curandeiro com certa doçura e virou-se para os garotos.

Sigmund olhou para aquele homem atravessando sua autoridade com as crianças, quando percebeu sobre seus ombros, que um dos maiores guerreiros daquela terra aproximou-se deles. Vestia uma roupa cerimonial e tinha um enorme bigode grosso no rosto.

— Sigmund, precisamos de você na ante-sala. — falou com certa urgência.

Ele respirou fundo e respondeu com outra pergunta, aborrecido.

— É sobre Thor?

— Vamos à ante-sala. — contemporizou o estranho.

— Sabe o que penso sobre isso, Folker, e não faço questão de esconder minha opinião. Thor deveria estar aqui tanto quanto nós.

— Por favor, Sigmund, me acompanhe. — tornou Folker, um tanto contrariado.

Sigmund respirou fundo e olhou de volta para Siegfried, que ainda parecia esperar por qualquer desfecho daquela conversa entre adultos; o enorme guerreiro ajoelhou-se diante de Siegfried e colocou suas mãos em seu ombro.

— Vão para fora, mas voltem para o jantar. E eu não quero ver uma sujeira nesse seu casaco, Siegfried. — falou ele, limpando já uma lã fora de lugar.

E assim Sigmund saiu ao lado de Folker para uma ante-sala onde juntavam-se as mentes militares daquela Asgard de muitos anos atrás para decidir sobre a junta de guerreiros que faria parte da proteção daquela que seria apresentada à alta corte de Valhalla. Andreas deixou um sorriso traiçoeiro para os meninos e também voltou à convivência dos adultos no que parecia ser uma festa contida.

— Vamos. — falou Siegfried para os dois, escondendo-se dos olhares do salão.

Os garotos seguiram o pequeno Siegfried que, na verdade, era o maior e mais velho entre os três; na saída, notaram o olhar de um garotinho sentado e muito comportado ao lado de sua irmã mais nova contra a parede da sala de jantar.

— Não quer vir junto, Alberich? — perguntou Siegfried ao notar o pequeno. — Traga sua irmã, vamos para a sacada olhar a neve.

— Não podemos ir lá fora. — respondeu ele muito sério.

— Então tá bom. — deu de ombros o rapaz, e junto dele os outros dois saíram.

O céu sempre branco de Asgard ao menos os poupava da nevasca forte que por vezes caía, mas deixava flutuar alguns flocos bonitos de neve; um dos garotos subiu no parapeito bancando o corajoso, enquanto Siegfried encostou-se  olhando para os adultos que ainda estavam lá dentro e aquelas duas crianças sentadas e comportadas ao lado da lareira.

— Alberich sempre banca o comportado. — reclamou ele, contrariado.

— Deixa ele, Siegfried, ele está cuidando da irmã. — comentou o garoto ao seu lado, de cabelo cortado muito rente e a pele pálida.

— Se você cair daí, meu irmão vai me matar, Hagen. — falou Siegfried para o garoto que equilibava-se no parapeito.

O menino sorriu de volta e pulou para dentro da sacada para junto dos dois.

— Quem será que são essas princesas? — perguntou Hagen ao lado deles.

— Eu aposto que são mulheres cheias de brincos. — falou o garoto de corte rente.

— Tem razão, Sid. — concordou Siegfried, com um sorriso. — De qualquer jeito, essa festa é muito chata e nem pense nisso, Hagen, se a gente fugir daqui, meu irmão vai me matar.

— Ele acha que você vai crescer pra ser o melhor guerreiro de Asgard, Siegfried.

— E é o que vai acontecer.

— Eu acho que não. — discordou Hagen. — Eu serei o mais forte, você vai ver.

— Até parece, Hagen. — debochou o garoto.

— Você não aguenta dez minutos nas Cavernas do Sul. — contou vantagem Hagen.

— E você não aguenta dez minutos comigo na arena.

— É o que vamos ver! — sorriu o amigo desafiando Siegfried, mas Sid interrompeu os dois.

— Parem com isso, olha ali em cima!

Os meninos levantaram os olhos e viram que no segundo andar daquela sacada, um pouco mais à distância, uma janela se abria e uma jovem criança saía para o parapeito de seu andar, que era muito rente para se equilibrar. Usava um vestido amarelo e tinha os cabelos cacheados esvoaçando com a ventania. Ao lado dela surgiu outra menina, apenas um pouco mais velha, de cabelo liso e vestido azul claro.

Os meninos correram até o final da sacada.

— O que estão fazendo? — perguntou Sid, preocupado, para cima.

— Saiam daqui, vocês vão chamar atenção! — falou uma das meninas, surpresa com aqueles idiotas mais abaixo.

— Vão cair daí, suas loucas. — comentou Hagen ao lado.

— A gente faz isso sempre, fica quieto, menino. — respondeu a mesma garota pela irmã.

E juntas elas se equilibraram pelo parapeito daquele segundo andar até onde ele terminava para unir-se à uma pilastra comprida que descia até a altura em que os garotos estavam na sacada externa. Devagar e pacientemente, as duas  agarraram-se à pilastra circular, por onde cresciam algumas vinhas, e desceram, limpando seus vestidinhos.

— Vocês fiquem quietos! — pediu uma delas com o dedo em riste.

— O que estão fazendo? — perguntou Sid com a voz baixa, par que não fosse ouvido.

— Quem são vocês? — perguntou Siegfried, sem deixar que elas respondessem.

— Eu sou a Hilda. E essa é a minha irmã Freia. — respondeu a de vestido azul-claro.

— Vieram pra recepção das Princesas também? — perguntou Hagen.

— Nos trancaram no nosso quarto. — argumentou Freia, a de vestido amarelo.

— Vocês moram aqui no Palácio?

— Sim. — respondeu Hilda.

Os meninos entreolharam-se confusos.

— Eu não estava aguentando mais ficar lá e decidimos ir até o nosso esconderijo secreto. Um lugar que a gente sempre vai quando estamos entediadas. — respondeu Freia contente.

— Um esconderijo? — perguntou Sid, muito curioso.

— O que tem nesse esconderijo? — adiantou-se Siegfried.

— Um monte de tesouro! — falou Hilda com os olhos brilhantes.

— É o Corredor de Antigamente! — adivinhou Sid, com Hagen ao seu lado.

— Sabem chegar até lá? — perguntou o garoto das cavernas.

— Sim, daqui até lá não dá um quarto de hora. Venham! — convidou Freia chamando os meninos com as mãos.

Mas quando viraram-se todos para seguir aquela dupla de meninas, viram que da porta dupla de vidro que dava para dentro da festa um olho verde os espiava fazendo planos e, ao ser descoberto, disparou para dentro da festa.

— Droga, Alberich. — reclamou Freia. — Ele vai nos dedurar.

— Temos que voltar, Freia. — falou Hilda, puxando-a pelo vestido.

— Moleque chato. — reclamou Siegfried.

As duas meninas correram de volta ao pilar circular, enquanto Sid percebeu já certa comoção agitar-se dentro da festa. Siegfried e Hagen ajudaram as duas crianças a subirem pela pilastra de volta ao parapeito do segundo andar, por onde finalmente elas entraram de volta para o quarto pela janela.

Exatamente a tempo de Sid ver que Folker e Sigmund irromperam na sacada olhando preocupado para os garotos. Ambos olharam para todos os lados e não viram ninguém mais além daqueles três moleques que não sabiam se comportar.

— Vamos, para dentro, Siegfried. Vocês também! — ordenou Sigmund.

E contrariados eles entraram de volta ao calor da parte interna fazendo caretas e maldizendo o menino de franja no olho que havia dedurado o grupo. A festa seguiu entediante até que se fez um silêncio enorme entre todos os convidados para o grande momento; Siegfried e as crianças adiantaram-se sobre os mais velhos para estarem à frente da grande revelação.

Sigmund e Folker abriram o pórtico duplo de madeira do salão que dava ao saguão dos fundos do Palácio, por onde uma linda escadaria subia. E por ela, desceu respeitosamente a Voz de Odin na figura de Durval, um enorme homem de manto escuro com um capuz adornado de ouro cobrindo-lhe os cabelos brancos. Dos dois lados dele vinham duas crianças muito jovens e suas aparições fizeram com que todos os adultos daquele salão ajoelhassem. Menos aqueles garotos.

— Esta é Hilda, a Representante de Odin, e sua irmã, a Princesa Freia.

Siegfried estava maravilhado e surpreso.

 

—/-

 

Aquele pequeno Siegfried cresceu para se tornar mesmo o maior dos Guerreiros Deuses e naquele terrível dia, em que muitos de seus amigos haviam caído em batalha, ele era também o último Guerreiro Deus de Valhalla. Alto como os homens do norte que descendiam dos gigantes da região, conhecidos como Jotun em tempos passados. Não era colossal como Aldebarã ou o Capitão Kaire, que tinham uma ascendência mais próxima aos Gigantes do Mundo, ou até mesmo como Thor, vencido pela fome, mas entre aqueles que ali estavam no pátio externo do Palácio Valhalla sem dúvidas Siegfried os olhava todos de cima. Sua Robe Divina era escura, embora brilhante.

Tinha na cabeça um elmo no formato do crânio de um dragão, onde dois olhos de esmeralda davam a certeza da figura que sua Robe Divina representava.

Sua postura era austera e ameaçadora.

— Eu não esperava que nenhum Cavaleiro de Atena fosse capaz de chegar até aqui. Muito menos que fossem capazes de derrubar Guerreiros Deuses valorosos como aqueles que caíram em seu caminho. E por isso reconheço o valor de cada um de vocês que agora estão diante de mim.

A educação surpreendeu a todos, menos Seiya, que logo respondeu pisando adiante:

— Isso quer dizer que não vai se opor à nossa missão? — perguntou ele colocando-se mais adiante de todos. — Vai nos deixar passar para selar a Relíquia dos Mares e sair daqui em paz?

— Ou ao menos nos dará a sua Safira de Odin de bom grado para que possamos libertar Hilda de seu feitiço? — adicionou Ikki ao lado do garoto.

— Um feitiço? — perguntou Siegfried, o rosto torcido de confusão.

— É exatamente o que ouviu. — tornou Ikki. — Aquela que chamam de Hilda está sendo controlada por um feitiço.

— Não trata-se de um feitiço, senão o natural efeito da força de Odin sobre ela. Não deveriam falar sobre o que não compreendem.

— Acreditamos que Hilda possa estar sendo manipulada por alguém. — falou Geist atrás dos dois.

— Como ousam acusar Odin de manipulação?

— Não falamos de Odin. — tornou Geist. — Mas o presente do Anel de Nibelungos talvez tenha sido dado por outra parte muito interessada em nos colocar uns contra os outros.

Seiya e os demais olharam para Geist, que àquela altura já parecia adivinhar certas motivações de quem quer que tivesse tramado aquele jogo.

— Quem nos colocou uns contra os outros foi a violência de vocês, Cavaleiros de Atena, que vitimaram os Guerreiros Deuses em Asgard e negaram-se a retornar para seu Santuário em paz. Não houve qualquer necessidade de algo ou alguém de tramar para que estivéssemos agora em lados opostos. — comentou Siegfried, com gravidade. — Vocês fizeram por onde e eu não perdoarei ou terei qualquer misericórdia por vocês. Ainda que reconheça seus valores, não os pouparei da minha força, por mais feridos que estejam.

E da ponta de seu dedo acusador, na direção daquele grupo, um raio branco desenhou um círculo ao redor deles no chão; uma energia que não foi direcionada para eles, como se os poupasse por um instante, mas circulasse os quatro na pedra do chão como para evidenciar os pecadores que eram para o Colosso de Odin, que velava aquele pátio.

— Eis aí os invasores de Asgard. — falou Siegfried. — Gram!

Ao gritar o nome daquela espada sagrada de antigamente, o círculo onde os quatro Cavaleiros de Atena estavam em pé simplesmente explodiu em uma coluna de luz que os jogou para o alto, mantendo-os presos àquela luz circular. Ikki usou suas asas para livrar-se daquela técnica, mas Shiryu, Seiya e Geist subiram alto e então caíram, sem controle de seus corpos; o chão em que antes pisavam explodiu em centenas de lascas afiadas que subiram por aquela coluna de luz feito navalhas para fatiar seus corpos.

Seiya e Geist caíram muito feridos de um lado e Shiryu aterrissou com o Escudo do Dragão à sua frente de outro; ela estava ilesa, mas ao ouvir a voz lamuriosa de Seiya, foi até ele para ver se o garoto e Geist estavam bem. Estavam vivos, era tudo que podia ser dito sobre eles.

— Shiryu, cuide de Seiya e de Geist. — gritou Ikki ao longe, mas a garota virou para ela em protesto.

— Eu disse que lutaria, Ikki! 

Em vão, pois a Fênix já havia voado para cima daquele Dragão do Norte.

 

—/-

 

Os clangores do metal se chocando no pátio externo do Palácio Valhalla já podiam ser ouvidos no profundo abismo em que Hilda subia pelas longas escadarias que conectavam o fundo daquele vale e a superfície. As escadas foram esculpidas na face interna e externa da fenda abissal, ligando o Colosso de Odin ao Corredor de Antigamente. Hilda, a valquíria do Norte, protegida pela estrela Polaris e legítima representante de Odin na Terra, trajando sua Robe Divina, portando sua lança de ébano e adornada pelo terrível Anel de Nibelungos.

Hilda era uma luz que caminhava na escuridão.

Naquele ponto em que estava, a escadaria se embrenhava por dentro da montanha por alguns lances, apenas para reaparecer do lado de fora para subir ao próximo nível, pois aquela antiga escada ziguezagueava por dentro e por fora da montanha. E quando Hilda tomou novamente o caminho pelo coração da montanha, deteve-se por um instante ao sentir próximo de si uma presença inesperada.

— Quem está aí!? — perguntou ela para a escuridão.

Poucos archotes azulados iluminavam seu caminho, de modo que, embora pudesse ver os degraus pelos quais subia, ela não podia ver mais nada em absoluto no pretume daquela montanha. E no entanto ela tinha plena certeza de que alguém a vigiava.

Ela levantou a mão adornada pelo anel de ouro e o fez luzir como um candeeiro na noite, expandindo sua luz dourada por quase toda a caverna. Sua luz finalmente tocou e iluminou o dono de sua desconfiança; ao longe, de pé sobre uma rocha saliente da caverna, a luz iluminou algo fantasmagórico. Uma figura protegida por uma Armadura furta-cor que oscilava entre um forte tom alaranjado, ora dourado, mas por vezes também acobreado. O rosto escondido debaixo de um elmo que lhe jogava sombras no rosto e uma capa às costas.

— Quem é você? — perguntou Hilda.

— Um mensageiro. — respondeu a voz profunda que não parecia sair daquela figura parada na rocha, mas na verdade do fundo do abismo que os separava.

A voz era de tal maneira desconcertante que Hilda desviou os olhos da figura para olhar ao fundo do abismo, que era quem realmente parecia lhe falar.

— Mensageiro de onde?

— Do Profundo. — falou novamente a voz que arrastava-se na rocha.

Hilda sabia de onde, pois não poderia ser de qualquer outro lugar.

— Não é bem-vindo aqui, mensageiro. Diga ao seu mestre que não há motivos para enviar seus lacaios para a Terra de Odin. A Relíquia do Mar está guardada e longe de perigo. Volte para o abismo de onde surgiu.

O brilho do anel vacilou por um instante e no segundo seguinte Hilda notou que a figura não estava mais na rocha. Apenas uma voz lhe respondeu, novamente como se fosse o gutural da montanha.

— Não esqueça de sua missão, Hilda de Polaris.

Ela não esqueceria jamais e caminhou duramente pelas escadas para levar seu povo à terra do Sol.

 

—/-

 

Siegfried esquivou-se da investida furiosa da Fênix e ambos protagonizaram uma batalha de proporções épicas naquele pátio externo do Palácio Valhalla. Se antes Ikki havia lutado contra Hagen em uma caverna enclausurada e então contra Bud nos limites do salão interno daquele Palácio, o fato de que agora lutavam ao ar livre dava à ela uma especial vantagem para usar sua velocidade com as asas para literalmente voar pela arena buscando encontrar uma brecha na defesa do Guerreiro Deus.

Mas se Fênix tinha suas asas à sua disposição, aquele Dragão do Norte tinha uma imensa fortitude, de modo que as investidas furiosas de Ikki, não importasse de onde vinham, pareciam bater contra uma parede do mármore mais antigo do mundo. A Ave Fênix bradou sua técnica máxima fazendo voar pelo céu branco de Asgard, mas nada parecia abalar a postura de Siegfried.

Pois Ikki cansava-se à toa e quando Siegfried decidiu caçar a ave Fênix naquele pátio, a garota feroz viu-se em apuros; se Fênix acreditou que a velocidade estava apenas ao seu lado, viu-se redondamente enganada, pois Siegfried era tão veloz quanto ela. E àquela altura da batalha até mais, pois enquanto Ikki sofreu o diabo nas cavernas do sul e nas garras de uma tigresa branca, Siegfried apenas aguardava seu momento de lutar em uma batalha que ele sequer imaginava ser capaz de chegar até ele.

Mas chegou.

E Siegfried fazia jus à proteção de sua Robe Divina que simbolizava um antigo e amaldiçoado Dragão de Asgard, conhecido por sua ferocidade ao proteger os tesouros que lhe eram sagrados; era tempo da Ave Fênix ser atacada pelo pátio do Palácio Valhalla.

— Agora é a minha vez! — anunciou Siegfried ardendo seu seidr ao redor de seu corpo.

O rastro de destruição que os dois deixavam para trás era impressionante, pois Siegfried avançava e Ikki esquivava-se; saltava no alto de colunas que, no segundo seguinte, colapsavam com a força de Siegfried às suas costas. A Fênix voava saltando por cúpulas do alto do Palácio Valhalla, ao redor de colunas, por debaixo de passadiços, mas sempre caçada pelo indomável Dragão.

E o cansaço pareceu alcançar as penas de Ikki, de modo que ela finalmente não foi capaz de esquivar-se das investidas terríveis de Siegfried. Suas costas foram atingidas pelo punho do homem e ela chocou-se contra o paredão externo de uma torre que levantava-se ao final de uma ponte de pedra na lateral do pátio.

E Siegfried não parou, pois sabia que Ikki não era uma oponente qualquer para se deixar levantar, afinal de contas ela havia sido capaz de vencer Hagen, seu velho amigo em batalha e até mesmo fazer frente à Sombra de Sid, a quem diziam ser ainda mais poderosa que o Guerreiro Deus de Mizar. A voadora de Siegfried, no entanto, não encontrou a Fênix, pois ela esquivou-se no chão, enquanto a ponte destruiu-se com a força de Siegfried; cada um ficou de um lado da ponte com um abismo entre eles.

Havia no olhar deles o enorme respeito pela habilidade do outro; aquela não era mesmo uma batalha comum.

Porém, enquanto Siegfried mantinha sua postura altiva com sua Robe Divina intacta, Ikki parecia esbaforida de tantas batalhas, embora também mantivesse a guarda alta; ela não era uma Cavaleira que se daria por vencida. Sabia, dentro de si, que ela não teria qualquer chance se não alcançasse o Sétimo Sentido, pois Siegfried era um oponente exatamente à altura dos temíveis Cavaleiros de Ouro. Mas se nas Doze Casas os Cavaleiros de Ouro haviam subestimado suas capacidades deixando aberta a possibilidade de milagres quando eles tocassem a Essência do Cosmo, aquele Guerreiro Deus em nada parecia duvidar de suas forças. De modo que apenas um lampejo do Sétimo Sentido talvez não fosse suficiente.

Ela queimou seu Cosmo, ardendo o fogo que havia dentro dos limites do universo que queimava dentro dela. Do outro lado, no entanto, Siegfried mudou sua postura, apertando ambos os punhos e os trazendo próximos à cintura e ao coração; seu seidr brilhou e sua voz reverberou pelo céu branco junto à de Ikki.

— Ave Fênix!

— Vendaval do Dragão!

O enorme Dragão do Norte cruzou o céu contra a maravilhosa Ave Fênix, em um choque mitológico e poderoso. O impacto foi sentido até mesmo por Shiryu, Seiya e Geist, que estavam no solo observando com assombro aquele duelo no céu. Siegfried foi o primeiro a deixar as nuvens e aterrissou elegantemente frente a eles, enquanto Ikki espatifou-se contra a rocha do piso do Palácio, abrindo uma cratera.

 

—/-

 

À boca de um vulcão em atividade, uma garota levantou-se sobressaltada, apertando na mão uma pena vermelha que havia ganhado de presente. Seus olhos trêmulos fitavam o topo da montanha, onde uma fumaça escura era expelida da boca do vulcão.

— Vamos, menininha! — chamou alguém às suas costas.

Ela não deu atenção até se ver pega pelo braço por um jovem.

— Vamos voltar à aldeia. É perigoso aqui. — falou ele.

A menina deixou-se levar, ainda um pouco confusa, de volta para o vilarejo em que morava; foi recebida por seu avô à porta de sua casa no centro do vilarejo. Ele muito preocupado, ela ainda muito perdida em pensamentos distantes.

— Obrigado, Cavaleiros. — agradeceu ele à dupla que havia trazido a garotinha de volta.

— Fiquem abrigados dentro de suas casas até os tremores passarem. — pediu aquele que parecia ser o mais responsável dos dois.

— Está certo. — falou o avô, mas logo teve a atenção desperta pela menina.

— Vovô, eu acho que a menina de Fênix está em perigo. — disse ela.

— Não se preocupe com isso, Helena. — falou o avô.

— Fênix? — intrometeu-se um dos Cavaleiros de Bronze. — Ei, Jabu! Venha ouvir o que essa garotinha tem a dizer.

O garoto, que já se distanciava, retornou ao ver o chamado do amigo.

— O que quer dizer sobre a menina de Fênix? — perguntou o rapaz de Armadura de Bronze para ela.

— Ela esteve aqui há um tempo, para se curar. — respondeu ela.

— Antes da luta nas Doze Casas, agora eu me lembro. — comentou Jabu ao ouvir o relato.

— E deixou comigo essa pena de presente. — mostrou ela para os Cavaleiros de Bronze a pena vermelha que pulsava um brilho tênue. — Desde então eu sinto como se pudesse estar junto dela em suas aventuras. Mas hoje quando o vulcão começou a cuspir fogo, eu senti como se a pena estivesse vacilando, ficando cada vez mais fraca.

Os Cavaleiros de Bronze entreolharam-se, preocupados, mas antes que o amigo pudesse dizer qualquer asneira, Jabu ajoelhou-se perto da pequena Helena e fechou suas mãos sobre a pena de Fênix.

— Escute, Helena. É esse o seu nome, não é? — perguntou ele. — A menina de Fênix que você conheceu na verdade se chama Ikki e é uma das Cavaleiras mais poderosas e corajosas do Santuário de Atena. É verdade que ela pode estar travando uma batalha incrível agora, mas eu posso te garantir que ela vai ficar bem. Ela sempre pode voltar das cinzas igual a Fênix dessa pena. E enquanto ela pulsar dessa forma, isso significa que a Ikki está lutando com todas as suas forças.

O avô também depositou a mão sobre os ombros da menina.

— Lembra quando achou que ela havia desaparecido no vulcão e ela retornou para nos ver, Helena? — a menina sorriu ao dizer que sim.

— Confie em Ikki. — pediu Jabu para ela. — Eu confio.

Ela pareceu mais aliviada e, junto com seu avô, entrou em casa, deixando Jabu e o estranho amigo do lado de fora, certificando-se de que mais ninguém estava do lado de fora daquela pequena praça.

— Asgard. — comentou Jabu, pensando alto.

— A última Relíquia. — adicionou o outro. — Aqueles idiotas estão demorando muito, eu aposto que esses tremores são coisa de Poseidon.

— Tem razão, Ichi, assim como as ilhas do Caribe, os mares ao redor daqui também estão mais agitados que o normal.

— Seiya e os outros devem estar em perigo em Asgard e nós estamos aqui escoltando essa gente para longe do vulcão.

— Ora, Ichi, se até mesmo Ikki está tendo problemas em Asgard, o que te faz crer que poderia ser de qualquer ajuda?

— O que quer dizer com isso, Jabu? — protestou o garoto.

— Exatamente o que você ouviu. — tornou Jabu. — Eu jamais admitiria na frente daqueles idiotas, mas nós não estamos em condições de ajudá-los nessas batalhas entre a vida e a morte. Ainda precisamos treinar muito.

— Droga. — protestou Ichi, chutando uma pedra para longe. — Como será que Ban e os outros estão no Santuário?

— Estarão bem quando voltarmos. Shaina os deixou a cargo da proteção da entrada do Santuário na ausência dela. Logo estaremos de volta também.

Um rugido mais alto do alto da montanha chamou a atenção dos dois, pois era como se o vulcão houvesse engasgado e se tornado mais animoso por um instante.

— Será que Poseidon realmente acordará, Jabu?

— Espero que não, Ichi. — respondeu Jabu, olhando ao longe. — Droga, Seiya, sele essa Relíquia de uma vez.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Começa a batalha contra Siegfried e a primeira a encarar o Dragão é Ikki. A luta dos dois no Anime é maravilhosa e eu tentei dar essa ideia fantástica dos dois se enfrentando até os limites. E também pra dar uma dimensão de quão forte é Siegfried, que já começou derrubando a Fênix. As cenas fora da batalha são para começar conectar algumas situações; como o Jabu na Ilha Canon resolvendo onde eles estavam até então. A cena de Hilda voltando sozinha e sendo interpelada por aquele que, já todos sabemos, é o causador de tudo isso. Mas a cena que eu mais gosto e, às vezes, sinto que deveria ser maior é o flashback do início mostrando os guerreiros deuses crianças no dia que Hilda e Freia são apresentadas; eu adoraria poder expandir mais na política dos guerreiros do passado, com Sigmund, Folker e Thor. Também gostei de adicionar o detalhe de Alberich sentado ao lado da sua irmã, pra mostrar como ele realmente gostava dela. =)

PRÓXIMO CAPÍTULO: O CORREDOR DE ANTIGAMENTE

June segue caminho para a Caverna de Surtr enquanto os Dragões de Rozan e do Norte batalham diante da Estátua de Odin.



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