Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 106
No Coração de Asgard


Notas iniciais do capítulo

Shaina e os outros finalmente alcançam o Corredor de Antigamente, mas experimentam a força terrível de Hilda de Polaris. No Santuário, Mayura precisa encarar a terrível verdade do desaparecimento de Nicol de Taça.



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No dia de uma noite interminável, a mulher subiu alguns degraus diante de uma enorme estátua de pedra tomada pela neve. Seus olhos derramavam lágrimas que o vento uivante do frio soprava para longe.

— Por que, meu Deus? O que acontece que esta terra piora e a noite parece se tornar mais e mais eterna? Mais e mais fria! Mas que pecado será esse que cometemos para termos de resistir a uma provação tão terrível? Que destino cruel é esse o de governar sem ter o que poder fazer por seu povo que morre de fome, de frio e de tristeza?

Ela cai de joelhos em uma pequena plataforma imediatamente abaixo do Colosso de Odin. Entre ela e a estátua de pedra abre-se um abismo enorme cuja escuridão perde-se no fundo do fosso.

— Diga-me, ó Deus, o que há neste futuro? Dê-nos uma chance de ver outra vez a luz do sol. Salva teu povo, Odin!

Ninguém lhe responde, como nunca haviam respondido desde que havia nascido abençoada com a função que lhe cabia. E ajoelhada, como fazia  todos os dias, orou por Odin e seu Cosmo iluminou a Estátua de Pedra.

Quando, pela primeira vez na sua vida, sua oração foi interrompida por um ronco profundo que parecia crescer, como se algo se levantasse do fundo do abismo. Uma voz finalmente lhe respondeu.

— Hilda.

A voz gutural ecoada pelas montanhas chamou a atenção da mulher, que levantou-se diante daquela enorme estátua que lhe chamava. E repetiu seu nome:

— Hilda.

— Fala-me, Odin, Senhor dos Aesir! — suplicou ela.

— Leva meu povo ao Sol!

— Ao Sol, Senhor?

— Ao Sol.

— Mas Pai Odin, seu povo de Asgard perdura nesta Terra-Sua há milênios em seu nome, padecendo da maior provação de todas que é viver longe do calor e do Sol. 

A voz não lhe repetiu, como se fosse incapaz de formular frases mais complexas. E então Hilda viu-se cega por um brilho intenso de luz que a fez fechar os olhos por um instante. E quando os abriu novamente, a voz profunda do fundo da terra lhe falou novamente.

— Leva meu povo ao Sol! Hilda! — e repetiu antes de desaparecer. — Ao Sol!

Hilda adiantou-se sobre o parapeito daquele pedestal como se quisesse chamar e clamar pelo Todo-Poderoso, quando percebeu um brilho tênue em cima do parapeito. Era um Anel de Ouro. O Anel dos Nibelungos, ela bem reconhecia entre os Tesouros de Asgard.

— Odin. — chamou ela à Estátua. — Não existem palavras na Terra para agradecer seu imenso presente. Levarei nosso Povo ao Sol dessa Terra e usarei seu presente para que nunca mais eu duvide de sua força. Um Anel de Ouro. Um pedaço do Sol. Eu compreendi a nossa missão. É tempo de libertar Asgard.

A sacerdotisa olhou para aquele anel que, por si só, emanava certo frio e presença nefasta, mas que ela sabia ser imperdoável apartar-se de um presente de Odin. Ela o tomou entre os dedos e sentiu ressoar a força que emanava do objeto. Era tempo de despertar. 

Colocou o Anel dos Nibelungos no dedo anelar e sentiu como se toda a história preenchesse seu peito, e o seu seidr, outrora tão pleno e belo encheu-se de força e vibração.

— Não faça isso! — gritou alguém às suas costas, fazendo com que Hilda imediatamente olhasse naquela direção.

Um homem correu pelo pátio externo do Palácio Valhalla até aproximar-se dela; com o devido respeito, o homem ajoelhou-se, mas gritou.

— Por favor, Senhorita Hilda, não coloque o Anel!

— O que está dizendo, Sigmund?

— Este Anel de Ouro é o terrível Anel dos Nibelungos, que só deve ser usado por Odin no Fim-dos-Tempos. Não é o momento de usá-lo.

— Mas este é um presente de Odin! — retrucou Hilda.

— Não é verdade! — levantou-se Sigmund. — Havia mais alguém aqui, eu não pude ver quem era, mas não foi Odin. Você está sendo enganada, Hilda!

— Estava me espiando, Sigmund?

— Não é sobre isso, Hilda, por favor, você precisa me ouvir!

Mas Sigmund, mais perto, percebeu que a tragédia já estava feita, pois viu o brilho no dedo de Hilda no formato daquele Anel de Ouro, bem como o brilho púrpura que se apoderou de seus olhos bondosos; Sigmund subiu as breves escadas daquela plataforma e tentou tirar o anel de sua senhora à força, mas Hilda debateu-se e seu seidr manifestou-se com violência, rachando a pedra no chão e lançando um relâmpago negro que afastou Sigmund para longe dela.

— Guardas! — chamou ela.

— Não faça isso, Hilda! — clamou Sigmund, com a mão no olho direito.

— Guardas! — tornou ela. — Prendam Sigmund!

A ordem pegou a todos os guardas de surpresa, pois Sigmund era o maior herói de Asgard, mas ainda maior do que ele era Hilda, que não era outra senão a própria encarnação de Odin na Terra.

— Não faça isso, Hilda. — pediu ele, com o sangue escorrendo de seu rosto.

— Não me ouviram? — tornou ela. — Sigmund me atacou. Traiu Asgard, traiu Odin e a si mesmo! Levem-no daqui!

A acusação de Hilda era tão pesada que mesmo Sigmund, sabendo exatamente o que havia visto, não deixou de sentir-se em pecado ao duvidar de alguém como ela. Alguns guardas palacianos finalmente se aproximaram, divididos entre o choque e o dever, pois Sigmund não parecia contestar aquela acusação e o sangue em seu rosto parecia mesmo ter sido sinal de algum tipo de entrevero entre ambos, o que por si só já era suficiente para trancá-lo na prisão.

Instalou-se um silêncio entre todos quando Sigmund levantou-se e acenou ao capitão da guarda de que não haveria necessidade de violência no pátio de Odin. Em silêncio e pacificamente ele acompanhou seus algozes até os calabouços subterrâneos de Valhalla, em desgraça.

 

—/-

 

Debaixo da abóbada celeste, luziam as centenas de estrelas do céu da Grécia em uma madrugada limpa de nuvens, desde que Atena havia dado um recado claro para o Deus dos Mares sobre quem comandava o plano terreno. Mestre Mayura estava no mezanino da parte externa do Templo de Atena sentada em sua cadeira-de-rodas pensando em muitas pessoas diferentes. Duas delas finalmente se apresentaram às suas costas, ajoelhando-se.

— Mestre Mayura, Aioria de Leão. — apresentou-se ele, trajando sua Armadura de Ouro.

— E Miro de Escorpião.

— O que me trazem, Cavaleiros de Ouro?

— Eu acabo de retornar da Colina das Estrelas. — falou Aioria.

— E então?

— Lamento lhe dizer que o Templo estava vazio. Nicol de Taça não estava lá.

Um momento de silêncio antes que Mayura respirasse fundo.

— E quanto ao Templo de Poseidon, Miro?

— Asgard ainda não foi selada. Apenas seis das Relíquias estão apagadas no totem de Poseidon em seu Templo. A última delas continua brilhando intermitente.

Mayura calou-se, engolindo a seco.

— Para onde você foi, meu amigo? — perguntou ela às estrelas muito baixo, quase apenas para si.

— Mestre, há algo mais. — continuou Aioria entre eles. — A Armadura de Prata de Taça, no entanto, estava montada dentro do Templo.

— A Armadura de Taça? — perguntou Mayura, e mesmo Miro surpreendeu-se.

— Sim. — confirmou Aioria.

— O que será que isso significa? — perguntou Miro por ela.

— Onde quer que Nicol tenha ido, ele partiu sem a sua Armadura. — respondeu Aioria, mas aquilo não convenceu a Mestre, que virou sua cadeira para ambos.

A visão da Camerlenga vendada era sempre muito desconcertante para todos, pois ela passava uma imponência, mistério e força, mesmo se limitando à sua cadeira-de-rodas.

— Tenho um mau pressentimento, Cavaleiros de Ouro.

— Mestre? — adiantou-se Miro.

— Diga-me, Aioria, por acaso os Cavaleiros de Bronze retornaram de sua missão?

— Ban e os outros já estão no Santuário.

— Shinato e Mirai ainda não voltaram. — completou Miro. — Jabu e Ichi também não.

— Certo. Peçam que os Cavaleiros de Bronze fiquem em alerta em seus postos dia e noite, revezando-se para garantir que o Santuário esteja protegido.

— Mestre Mayura, acredita que seremos invadidos? — perguntou Miro.

— Asgard já nos atacou uma vez. Poseidon ainda não foi totalmente selado. Hades pode despertar a qualquer momento. — falou ela, enumerando suas desconfianças. — E Nicol não sumiria sem sua Armadura à toa.

— Onde será que ele pode ter ido?

— Não pode ter ido muito longe. — respondeu Mayura. — Eu o vi desaparecer com o Pingente da Coruja para a Colina das Estrelas e meu velho amigo não poderia ter feito a descida sozinho. Muito menos sem sua Armadura. 

— A Mestre tem razão. Com muito custo eu cheguei até o topo da Colina. Mesmo para um Cavaleiro de Ouro, a escalada não é tão simples, me admira muito que Marin tenha conseguido chegar até lá e eu tenho certeza de que Nicol não seria capaz mesmo de descer.

— Não com vida. — falou Miro de maneira agourenta, atraindo o olhar atravessado de Aioria para ele.

— Não, eu tenho certeza que não. Nada foi ouvido entre as Vozes da Montanha na Estrada Antiga ou mesmo entre aqueles que guardam a escalada da colina. Eles teriam me falado se Nicol houvesse despencado lá de cima.

— Mas então…

— Aioria, Miro. — interrompeu Mayura. — Façam valer as ordens aos Cavaleiros de Bronze e por favor convoquem Shaka e Mu ao Templo de Atena. Eu as estarei esperando.

— Shaka e Mu? — perguntou Miro, sentindo-se deixado de lado, mas Aioria puxou sua capa levemente para que se portasse.

— Aioria, peço que guarde a Casa de Áries na ausência de Mu. Miro, retorne à Casa de Escorpião.

— Certo, Mestre Mayura.

Fizeram uma mesura e retiraram-se do recinto. Uma angústia enorme calava fundo no peito de Mestre Mayura sobre o sumiço repentino e curioso de Nicol em meio àquela crise. O Cavaleiro de Taça havia se ausentado já há algumas semanas para estudar os escritos atlantes que havia descoberto, bem como os registros do antigo Papa Sião recuperados por Mu, isolando-se na Colina das Estrelas. Era comum que ele se ausentasse por um bom tempo antes que retornasse com seus achados, mas ele sempre retornava ao Templo de Atena pelo Portal de Coruja, dividindo com Mayura suas descobertas, fossem grandes ou pequenas.

Com o passar dos dias, a ausência de Nicol passou a ser mais uma preocupação de Mayura, uma vez que, sem o seu pingente, ela não poderia ir por si mesma visitá-lo em seus estudos. Aioria estranhou o pedido, à princípio, mas era seu dever obedecer à Camerlenga e, uma vez que notou o Templo das Estrelas deserto e abandonado, compreendeu a importância de sua missão. Pois agora aquele era mesmo mais um sinal de um mistério a ser desvendado no meio de tanta crise divina rondando o Santuário de Atena.

Pedir que Aioria ou mesmo os Cavaleiros de Bronze ficassem subindo e descendo a Colina das Estrelas para lhe reportar suas descobertas não seria eficiente ou mesmo preciso, de modo que Mayura precisava estar ela mesma no topo daquela colina. Sem seu pingente, desaparecido junto de Nicol, ao que tudo constava, ela até poderia fazer a escalada junto dos Cavaleiros de Ouro, mas ela também sabia que era necessária uma forma mais rápida de chegar e sair de lá. Principalmente porque ela sabia que havia um jeito.

Apenas exigiria dela revisitar antigos fantasmas que tocariam muito profundamente suas memórias e sentimentos. Mas, na posição de Camerlenga, ela fez o impensável e conseguiu, enfim, os demais Pingentes de Coruja no cemitério do Santuário, onde eram enterrados todos os heróis e comuns de Rodório. Era ali onde as antigas Corujas de Atena, assassinadas por Saga, haviam sido enterradas.

Ainda que houvesse sido obra do Camerlengo impostor, contou-se a história mentirosa por anos de que todas elas eram vítimas de Aioros, e por isso tiveram um enterro digno. Ao lado de suas covas espalhavam-se homens e mulheres mortos por todos esses anos e, mais recentemente, estavam também as covas dos conhecidos Cavaleiros de Ouro, a quem Mayura também prestou breve homenagem, parando por um instante para respeitar suas memórias.

Uma tarefa tão incompatível com sua função, mas os tesouros das Saintias eram sempre enterrados com suas portadoras, pois eram presentes dados pela própria Deusa e deviam se misturar à Terra quando elas viessem a perecer. Esse teria sido o destino daquele Pingente de Coruja que ela havia emprestado à Nicol e que agora talvez não tivesse a oportunidade de ser enterrada com ele quando sua hora chegasse.

— Perdoe-me, Sofia. — falou ela para a cova antes de fechar a tumba de sua velha amiga, sentindo-se suja por dessacralizar algo tão importante.

Mas era por Atena. Sempre por Atena.

E de volta ao Templo de Atena, ela encontrou Mu de Áries e Shaka de Virgem à sua espera. Anunciou que iriam à Colina das Estrelas e juntas atravessaram o Portal da Colina para que, tanto Mu como Shaka, pudessem averiguar o recinto com seus Cosmos, e Mayura pudesse também procurar algum vestígio sobre o paradeiro de seu velho amigo Nicol.

Ele realmente não se encontrava ali. Sua Armadura, no entanto, permanecia incólume no centro do Templo, com sua água escura parada; nenhum sinal ou vestígio de batalha. Mu observou que os registros de Sião, que ela havia trazido, continuavam em cima da mesa de escritório que Nicol parecia ter improvisado no fundo do Templo.

— O Tomo Atlante desapareceu. — anunciou Mu, depois de verificar todos os livros que haviam naquele lugar. — Certamente Nicol deve tê-lo levado.

— Não acho que seja o caso. — discordou Shaka.

— O que quer dizer, Shaka?

— Mestre Mayura não nos trouxe aqui por nossos olhos, Mu de Áries.

Mu olhou para Mayura, encostada ao lado da Taça de Prata.

— Shaka tem razão. — falou ela. — Desconfio que Nicol possa ter sido atacado.

— Atacado? Mas ninguém poderia chegar até aqui sem o Pingente, e certamente se alguém houvesse escalado as Vozes da Montanha saberiam. — falou Mu.

— Talvez tenha sido alguém com um poder capaz de atravessar dimensões. — falou Shaka.

— Dimensões? — assustou-se Mu. — Não acham que… Saga foi morto. Nós o enterramos!

— Asgard tem um Guerreiro Deus capaz de manipular o gelo tão bem quanto Camus de Aquário fazia. — falou Mayura. — Não é loucura desconfiar que exista alguém fiel à Odin que também possa dobrar Dimensões como Saga.

Mu e Shaka ficaram caladas, mas então compreenderam para que fim foram convocadas para estar ali. Mu de Áries colocou a mão delicadamente sobre o bojo da Taça de Prata e fez seu Sétimo Sentido espalhar-se pelo pequeno Templo, enquanto Shaka de Virgem sentou-se feito uma lótus suspensa na entrada do Templo, também espalhando seu Cosmo por toda a região.

Mayura pacientemente sentou-se na cadeira em que antes Nicol parecia ter usado para seus estudos e folheou o que parecia ter sido o último diário de Sião que o Cavaleiro de Taça havia estudado. Não era possível precisar quanto tempo se passou, pois aquela investigação minuciosa dos Cavaleiros de Ouro parecia mesmo acontecer em planos diferentes, aos quais somente Shaka ou Mu pareciam ter acesso. 

A Mestre sentiu quando o Cosmo de Mu se amainou e ela tirou a mão da Taça de Prata; do fundo do Templo, Shaka também caminhou até elas quando Mu pareceu dar o veredito terrível.

— Você tem razão, Mestre Mayura. Nicol de Taça foi atacado aqui.

— E morto. — confirmou Shaka.

A Coruja de Atena sentiu um pomo de gelo afundar-se no seu estômago, mas seus olhos vendados e sua postura calma não transpareceram a enorme tristeza em escutar que seu velho amigo, à quem ela já havia imaginado morto, mas que voltara livre e vivo da prisão do Cabo Sunion, agora realmente parecia ter encontrado seu destino final.

Era tempo de voltarem ao Santuário, erguer as forças de defesa e reportar à Deusa Atena que mais um de seus fiéis defensores havia caído naquela misteriosa batalha.

 

—/-

 

No mais profundo valão de Asgard, o grupo liderado por Shaina parecia ter finalmente chegado ao final da trilha que parecia sem-fim ou sem-fundo. Desceram um último degrau natural e o resto da trilha eles perceberam que se aplainou dentro da caverna, até que finalmente saíram de dentro dela para o que sem dúvidas era um vale escuro ao ar livre.

Acima de suas cabeças erguia-se a face da montanha extremamente uniforme, como se a montanha houvesse sido repartida por um único golpe de espada. A luz do céu branco de Asgard não chegava àquela profundidade do vale e dele via-se apenas uma nesga muito distante, como uma tripa branca muito longe, acima de suas cabeças.

— Será esse o Corredor de Antigamente? — perguntou-se Shun enquanto caminhavam pelo vale escuro.

Conforme seguiam, Hyoga olhou para o alto, a falta de luz era remediada com a tocha que Shaina ainda trazia e, tateando a pedra da montanha à direita, caminharam trôpegos pelo vale. Em certo ponto, a Mestre-de-Armas notou que a pedra crua que margeava o vale sombrio deu lugar a um cuidadoso trabalho de pedras talhadas em um bonito mural. A tocha revelou alguns mosaicos muito antigos. 

— Olhem. Para cima. — Hyoga orientou os amigos.

Aquele mural de pedra era a base de uma longa e quase infinita escadaria que ziguezagueava pela face da montanha daquela profundidade até perder-se de vista, conectando o topo com o fundo daquele abismo.

— Shaina! — chamou Shun.

Ela virou o corpo e iluminou às costas de todos, pois na outra margem do vale finalmente abriu-se um fabuloso túnel escuro onde muitas pedras preciosas estavam suspensas no teto e as paredes do corredor tinham um tanto de artefatos e quinquilharias que a tocha de Shaina iluminou brevemente. Não havia qualquer inscrição ou cerimônia, mas todos tiveram a mais absoluta certeza de que estavam diante do Corredor de Antigamente.

— Que maravilhoso. — comentou Shun ao ver como o fogo refletia contra aquelas pedras preciosas.

O fascínio de todos foi interrompido por um espetáculo de luzes completo que pareceu acender o Corredor de Antigamente do fundo da Caverna até a entrada, como se um interruptor houvesse sido aceso, mas na verdade era mesmo o brilho natural das pedras que se intensificou, criando um efeito caleidoscópico hipnotizante. E mais fabuloso que o Corredor tomando luz foi a aparição de uma valquíria incrível.

— Quem está aí? — perguntou Shaina, colocando-se à frente de todos.

Os passos foram ouvidos de dentro do Corredor de Antigamente até que, iluminada pelas luzes de mil-cores das pedras preciosas do túnel, surgiu uma mulher com sua Armadura Negra de Valquíria; uma proteção no torso muito justa e brilhante, o vestido púrpura arrastando contra o chão e um elmo alado na cabeça. Na mão direita, uma lança de ébano e na mão esquerda um anel de ouro. Fabulosa.

— Hilda. — adivinhou Hyoga, engolindo em seco.

Shaina olhou a mulher e ela tinha um sorriso desenhado no rosto.

— Cavaleiros de Atena. — começou ela com a voz forte, aguda e ameaçadora. — Estão muito além de onde deveriam estar. Pisaram muito mais fundo do que a gentileza de Asgard lhes permitiu.

— Não irá mais nos enganar, Hilda de Polaris!

— Ora, ora, se não é o traidor de Asgard. — começou ela, reconhecendo Hyoga. — Dei-lhe a Robe Divina de Phecda para que protegesse Asgard e aqui você está trazendo esses estrangeiros para saquear nossa terra. Esse é o valor que você dá às promessas de seu Mestre?

— Não deixarei que mais ninguém use meu Mestre para me enganar! — bradou Hyoga de volta.

— Não há honra alguma entre os Cavaleiros de Atena.

— Saia de nossa frente. — ameaçou Shaina.

— Você tem fibra. — comentou ela de volta. — Mas não sabe o perigo de enfrentar Odin.

Seu seidr estalou em pequenos relâmpagos ao redor de seu corpo, que fizeram as pedras preciosas daquele Corredor também incendiarem-se de luz.

— Espere, Shaina! — pediu Shun. — Me escute, Hilda. Tudo que queremos é selar a Relíquia dos Mares que está no fundo dessa caverna. 

Ele mostrou o Selo de Atena como quem demonstra sua real intenção.

— Querem amaldiçoar nossa proteção. — falou ela. — Mais do que isso. Vocês, Cavaleiros de Atena, foram os responsáveis pela morte de valorosos Guerreiros dessa terra. O tempo de harmonia acabou no momento em que mataram o primeiro Guerreiro filho de Asgard.

— Eu sinto muito…

— Basta! — bradou Hilda.

E Shun foi arremessado contra o paredão de pedra atrás deles, aparentemente apenas pela força da voz daquela Valquíria. June chamou por seu nome e correu até o garoto, enquanto Shaina e Hyoga colocaram-se diante de Hilda.

— Não teremos chance contra ela, Shaina. — falou Hyoga, que conhecia as histórias daquela mulher.

— É o que veremos!

Shaina saltou adiante, mas suas violentas garras de trovão foram detidas a poucos centímetros do rosto de Hilda, e quando Shaina olhou para baixo notou que a lança de ébano havia trespassado seu baço. Hilda estendeu a mão e tocou o rosto já trêmulo de Shaina antes de lhe dizer colada ao ouvido.

— Seu cadáver será mais um tesouro de Odin nessas Cavernas.

Retirou a lança do corpo de Shaina e usou o Anel de Nibelungos para gerar feixes de luzes terríveis que lançaram Shaina para fora do Corredor, ao lado de Shun. June percebeu que ambos estavam em condições lamentáveis, mesmo diante de um ataque que parecia muito simples.

— Aquele anel é terrível. — falou Shun entre os dentes, com enorme dificuldade.

— Não teremos chance alguma contra Hilda enquanto ela estiver usando o Anel de Nibelungos. — falou Hyoga. — Só mesmo a Espada Balmung será capaz de fazer frente a ela.

— A Espada Balmung? — surpreendeu-se Hilda, deixando soar uma enorme gargalhada depois de ouvir aquele nome. — Não me digam que pretendem despertar a Espada Balmung para me vencer?!

— É exatamente o que vamos fazer. — falou June, colocando-se ao lado de Hyoga para lutar, se fosse preciso. — Enquanto falamos aqui, eu tenho certeza de que o último Guerreiro Deus será derrotado e então poderemos juntar as Sete Safiras de Odin para tirar esse anel de seu dedo e selar a última Relíquia do Mar.

Novamente uma gargalhada de Hilda.

— Cavaleiros de Atena, vocês são tolos demais. Siegfried jamais morrerá e seus amigos cairão um a um diante do Dragão do Norte. E ainda que um milagre colocasse todas as Safiras de Odin em suas mãos, também jamais poderiam despertar a Espada Balmung. A Espada Balmung, assim como o Anel de Nibelungos, Mjölnir e todo e qualquer presente de nosso Pai Odin, somente pode ser usada por um filho de Asgard que jurou lealdade ao Todo-Poderoso. 

Outra vez a estridente gargalhada da governanta daquela terra.

— A sua esperança é vã, tolos Cavaleiros de Atena.

O seidr de Hilda iluminou-a por completo e, como se não houvesse mais paciência em seu corpo, decidiu dar cabo de todos ali mesmo. Seu punho avançou no ar disparando as luzes terríveis e poderosas do Anel de Nibelungos, atravessando Hyoga, June e os colocando à nocaute junto de Shaina e Shun.

Com a lança de ébano, Hilda caminhou na direção deles e, na frente de todos, esmagou o cilindro de ouro que guardava o Selo de Atena, pisando-o com seu salto dourado. O cilindro, ao ser destruído, deixou soar e escapar o Cosmo que antes imbuía o papiro de sua magia ancestral. Antes de desmaiar, Shaina sentiu como se sua missão estivesse falhado.

E Hilda os abandonou naquele vale escuro, subindo os degraus daquela enorme escalada ao pátio externo de Valhalla, onde já ouvia os clangores de uma terrível batalha sendo travada entre o maior dos Guerreiros Deuses e os Cavaleiros de Atena.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: As ideias ao redor de Hilda e sua possessão são usadas da série clássica, onde Alberich é quem a vê sendo tomada, enquanto em Soul of Gold, é dito que Sigmund realmente foi quem a viu e tentou interferir, sendo assim preso logo depois.; quis honrar essa inspiração. No Santuário, finalmente vemos os Cavaleiros de Ouro fazendo alguma coisa à mando de Mayura no mistério de Nicol. Fazer Shaina e os outros enfrentarem Hilda era algo que eu precisava fazer para demonstrar ao leitor a força da valquíria. E ela é forte, hein. =)

PRÓXIMO CAPÍTULO: O DRAGÃO DO NORTE

Os Cavaleiros de Atena finalmente enfrentam o maior dos Guerreiros Deuses.



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