Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 101
Cartas do Norte


Notas iniciais do capítulo

A chegada de Hyoga à Asgard o faz encarar um antigo conhecido de seu Mestre Camus, abrindo feridas e sentimentos antigos.



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As celas de Asgard remontavam, talvez, aos seus períodos áureos, mas como tudo o mais, estavam também paradas no tempo; as pedras cheias de limo, as goteiras eternas erodiam o chão aos poucos, as trancas de celas todas enferrujadas, o teto muito alto e escuro, pois a cela redonda ficava em uma torre com aberturas muito acima das cabeças de seus prisioneiros, por onde a chuva congelante encharcava o local em dias de intempéries. 

A porta da cela abriu-se com um enorme clangor e o conselheiro de Hilda caminhou para dentro daquele lúgubre lugar onde o prisioneiro estava atado pelas mãos em algemas preciosas, mas presas às paredes opostas e muito altas, de forma que ele parecia pendurado pelos braços abertos.

Aquele prisioneiro era um Cavaleiro de Atena.

A visita trancou a porta atrás de si e o garoto levantou os olhos inchados para ver diante de si um rapaz que tinha uma franja ruiva sobre um dos olhos; uma roupa que parecia remontar a qualquer tipo de nobreza, um brinco na orelha e um elmo na mão.

— Qual seu nome e o que veio fazer aqui? — perguntou a voz do rapaz em língua-comum.

— Onde está Jamian? — tornou o Cavaleiro de Atena de seu lado.

— Jamian? — perguntou Alberich.

— O Cavaleiro de Corvo!

— Seu amigo está muito bem cuidado, preso como você em algumas das muitas celas de Valhalla.

Ele debateu-se nas algemas de ametista, mas então nada podia fazer contra o feitiço que lhe prendia as mãos.

— Estão vivos, que é o máximo que podemos fazer por invasores como vocês. — continuou Alberich. — Pois se não cooperarem, receio que os Guerreiros Deuses de Asgard o deixarão aqui até que seus corpos desçam ao Helheim. Compreende o que digo? Até que finalmente morram.

— Droga…

O Cavaleiro de Atena não podia acreditar que ele e Jamian estavam presos em um lugar como aquele, em que seus Cosmos de nada valiam; odiou-se, pois a princípio foram recebidos de braços abertos apenas para serem rendidos e afastados de suas Armaduras em uma batalha sangrenta que havia terminado com ambos os corpos sendo levados aos calabouços de Valhalla.

— Por que fazem isso?!? — tornou a perguntar o Cavaleiro.

— Vocês invadiram nossas terras. É o que acontece aos invasores de Asgard.

— Viemos em paz! — gritou o garoto.

O guarda não lhe respondeu.

— Qual é o seu nome? — tornou Alberich, mas o garoto não lhe respondeu.

O rapaz na escuridão aproximou-se do menino com um candeeiro que iluminou o rosto ferido do garoto: seus olhos claros, seus cabelos manchados de sangue, mas carregando ainda a cor do sol do norte, o sotaque carregado. Alberich mostrou para ele o elmo que trazia na mão, um brilhante, embora muito rachado, elmo de bronze branco e azul na forma de uma linda ave de asas abertas. Sua voz era quase sussurrada tão próximo do Cavaleiro.

— лебедь.

Os olhos do garoto abriram-se surpresos e ele encarou o único olho de Alberich, verde-claríssimo.

— É o Cavaleiro de Cisne, não é verdade? — perguntou Alberich em russo, surpreendendo Hyoga.

Ainda que estivesse curioso, Hyoga manteve-se calado, quando foi finalmente surpreendido uma última vez pela astúcia de Alberich.

— Você é Hyoga de Cisne, o Cavaleiro do Santuário.

Os olhos de Hyoga acusaram e finalmente deram a certeza que Alberich precisava e o rapaz levantou-se, colocando-se de costas para Hyoga e deixando o candeeiro em uma mesa próxima. Ele respirou fundo e retornou para perto de Hyoga.

— Então você é o discípulo de Camus. — os olhos do menino alargaram-se uma vez mais.

— O quê? Você conhece meu Mestre Camus?

— Sim. — respondeu Alberich; enquanto Hyoga procurava as palavras, o rapaz tirou debaixo da túnica que usava um pingente em ponta-de-flecha que Hyoga imediatamente reconheceu como o amuleto de Aioros, que era usado para marcar os traidores do Santuário, mas que passou a ser usado com orgulho por aqueles que acreditavam no Herói de Sagitário. — Camus deu-me de presente há muito tempo. Sou Alberich.

Os olhos de Hyoga eram suplicantes.

— Alberich. — começou ele, com a voz de quem implora. — Eu fui enviado para te encontrar. Se tinha qualquer apreço por meu Mestre Camus, eu lhe imploro que me escute. Tudo o que queremos é selar a Relíquia do Mar para que Poseidon durma nos Oceanos. Nada mais.

— Poseidon. — repetiu Alberich, como se ecoasse um nome profundo e distante.

— Você precisa nos ajudar, Alberich. Eu fui enviado pelo Santuário exatamente porque Camus conhecia alguém em Valhalla e nós precisamos da ajuda de Asgard.

O Guerreiro Deus, no entanto, fechou os olhos e respirou fundo em frente de Hyoga. Seus olhos carregavam uma curiosa expressão de confusão.

— Fala de meu amigo Camus no passado. — observou ele.

Hyoga não se atreveu a dizer mais nada e seus olhos fecharam-se em profunda tristeza.

— Não pode ser. — adivinhou imediatamente Alberich. — Camus está morto?

Talvez fosse a dor de ter sido vítima dos Guerreiros Deuses junto à fraqueza que aquelas algemas lentamente lhe impunham ao sugar sua energia, mas Hyoga deixou escapar um soluço de lágrima. Alberich ajoelhou-se diante dele, como se procurasse dar força ao prisioneiro, que abriu os olhos e não pôde deixar de contar aquela memória triste em seu coração.

— Houve uma batalha sangrenta no Santuário. Camus escolheu usar essa guerra para me passar os últimos ensinamentos que tinha.

— Camus foi vencido.

— Por mim.

Alberich então levantou-se, sobressaltado.

— Você matou seu mestre Camus.

— Matei. — concordou Hyoga, dolorido.

Ele caminhou até a mesa pisando duro e deixou escapar, dentro da sua elegância, um soco na madeira deixando cair um frasco de tinta que se espalhou pelo chão; estava revoltado ao saber que um amigo tão antigo havia sido morto. E por seu próprio discípulo. Agora prisioneiro seu. Ainda de costas para Hyoga, falou com a voz mais grave e irascível.

— O assassino de Camus diante de mim. Eu deveria deixá-lo apodrecer nesta cela, Hyoga de Cisne.

— Eu, eu não queria! — gaguejou Hyoga. — Foi uma tragédia sem precedentes. Meu próprio mestre parece ter escolhido aquele destino. Se eu pudesse voltar atrás, eu jamais o teria atacado daquela maneira. Eu juraria por todas as coisas do Mundo que ele me atacaria de volta, mas… Mas ele escolheu não atacar. E então…

— Um discípulo que mata o próprio mestre. Talvez o melhor seja você trilhar o caminho do Inferno e então pedir perdão ao seu Mestre onde quer que ele esteja.

— Alberich, por favor, não. Tem que acreditar em mim.

— Você teve sorte uma vez, Hyoga. — falou ele. — Era para ter sido morto pelos Guerreiros Deuses. E então deu sorte uma segunda vez, pois eu sou a voz das legiões estrangeiras em Asgard. E fui ordenado a vir aqui para falar com os prisioneiros. Um amigo de seu próprio mestre. Mas aqui diante de mim, apresenta-se não só como o discípulo de Camus, bem como seu próprio assassino.

Hyoga queria rasgar o peito e dar-lhe o coração à prova do quanto aquilo o machucava. Mas Alberich não podia ler seus pensamentos, portanto simplesmente o abandonou ali à sua própria sorte e Hyoga imaginou que seus pecados finalmente estavam sendo cobrados; e se antes tinha esperança, agora lhe restava somente o tempo para esperar a morte.

 

—/-

 

Dias se passaram, Hyoga não saberia dizer quantos deles. Suas algemas alçadas no ar foram presas à parede, de modo que ele passou aqueles dias seguintes deitado, incapaz de usar seu Cosmo graças ao poder da Ametista que prendia seus pés e mãos. Era um corpo jogado no fundo de uma solitária sentindo-se mesmo muito sozinho. Sentindo-se culpado ainda pela morte de seu Mestre Camus, que ele amava tanto. Mas também agora sentia-se culpado pela desconhecida sina de Jamian, com quem atravessou o Caminho do Norte e de quem deu algumas inesperadas risadas na travessia até serem vítimas daqueles valorosos e poderosos Guerreiros Deuses do Norte. 

Sobretudo, pensava em Seiya navegando os Sete Mares, que não teria sua ajuda quando chegasse àquela armadilha que era Asgard. E então pensou no Mundo e em Saori, Atena, que além de Hades e Poseidon, provavelmente teria de lidar com aqueles Guerreiros Deuses. O peso do Mundo sobre suas costas. Cheio de culpa e raiva por si mesmo, Hyoga negava a comida que lhe davam.

Mas então a fome e a sede realmente começaram a tomar conta de seu corpo, assim como assaltavam a todos os miseráveis de Asgard; e então ele já não negava mais a parca alimentação que deixavam no chão para que ele comesse feito um cachorro. Seu corpo doía em cada centímetro. Perdido na sua consciência, como geralmente acontecia, Hyoga apenas abriu os olhos certa noite quando a porta da cela outra vez se abriu.

E ao invés do pão duro e do copo metálico de água suja que bebia todos os miseráveis dias, dessa vez lhe jogaram no banco de madeira, em que por vezes se sentava, um envelope fechado. Ele achou curioso, embora inexplicável, e então mirou o guarda para ver o que aquilo poderia significar. E então viu que não era um simples guarda e sim Alberich, novamente de volta.

— Leia. — ordenou ele, de cara fechada.

Hyoga aprumou-se o melhor que podia e então tomou o envelope com as mãos trêmulas e abriu um selo já rompido, que o fez gelar o coração: era a insígnia de Atena, a forma circular do Báculo de Ouro que Saori empunhava. Ele abriu e leu:

"Cara Hilda de Polaris, Representante de Odin e Senhora de Asgard,

Confirmo que recebemos a carta pelos Corvos do Cavaleiro Jamian e alegro-me de saber que ele já está à caminho do Santuário. Lamento o mal-entendido e compreendo e aceito seus pedidos de desculpa. Os tempos são mesmo de tormentas, mas confio que assim que a Relíquia de Asgard for selada, todas as intempéries serão resolvidas.

Agradeço a reconsideração sobre a prisão do Cavaleiro de Cisne e espero que ele seja bem cuidado. Ele é discípulo de Camus, que sabemos agora ser muito bem quisto entre vós. 

Desejo que Asgard e o Santuário possam estar juntos em breve em dias menos tempestuosos.

Sinceramente,

Mayura,

Camerlenga do Santuário"

 

Ao terminar de ler, Hyoga leu novamente o conteúdo para certificar-se de que não estava enlouquecendo.

— Estou há dias apodrecendo nesta prisão… — ponderou ele.

— Deve compreender que as cartas trocadas entre aqueles acima nós por vezes escondem esqueletos por detrás de palavras bonitas.

— Onde está Jamian realmente? — perguntou Hyoga, juntando forças.

— A caminho do Santuário. — confirmou Alberich de modo ríspido, ajoelhando-se diante de Hyoga para tirar-lhe as algemas dos pés. — Ele corroborou sua história sobre a Relíquia do Mar e Poseidon. Foi liberto há alguns dias, enviou uma carta para o Santuário e partiu para sua terra. O que acaba de ler é a resposta de sua excelentíssima Camerlenga para nossa Representante de Odin.

Hyoga tomou a carta e a leu uma terceira vez.

— O que isso significa? — perguntou ele, enquanto Alberich tirava as algemas de seus braços.

— Isso significa que está livre por enquanto, Hyoga. Hilda pode parecer uma mulher razoável nas cartas que cruzam os céus divinos, mas ela não confia plenamente na história que contam.

— Pois é a mais pura verdade.

— Assim falou Corvo e assim eu mesmo pude verificar com algumas fontes que tenho no estrangeiro. Ainda assim, o povo de Asgard é um povo muito desconfiado. E com toda razão de ser assim. Mas eu apresentarei seu caso com mais tranquilidade à Valhalla. Explicarei que a missão do Santuário em Asgard não é por guerra, e sim por paz. 

— Não consigo acreditar em você. — falou Hyoga, já livre de suas algemas, mas ainda completamente esgotado de suas forças.

Alberich pela primeira vez hesitou e encarou o garoto muito ferido naquela cela, aparentemente ainda contendo uma mágoa profunda por estar diante do assassino de seu velho amigo; o rapaz então tirou novamente o pingente de ponta de flecha que tinha guardado no peito e deu na mão de Hyoga.

— Seu Mestre me deu este presente há alguns anos. Disse que é a marca de um traidor no Santuário. — fez uma pausa, buscando os olhos de Hyoga. — Pois é também a marca de um traidor em Asgard, pois aqui me consideram um desertor de Odin por ter escolhido ser amigo de alguém tão distante. De atuar muito mais fora desses muros do que dentro deles. E novamente aqui estou eu me arriscando contra meu próprio povo para dar voz à uma missão que não é minha ou sequer por Odin.

— Alberich…

— Levante-se. — ordenou ele para Hyoga.

O garoto colocou-se de pé o melhor que pôde, mas sua fraqueza o fez cambalear e precisar se apoiar na parede; Alberich adiantou-se para segurá-lo e suportá-lo nos ombros.

— Eu falarei ao Palácio Valhalla em seu nome e em nome de sua missão. — tentou ele acalmar Hyoga. — Agora você virá comigo. Ficará na minha casa recuperando-se até que tudo esteja claro com Hilda e seus Conselheiros.

— Vai receber o assassino de um amigo em sua própria casa? — perguntou Hyoga, sentindo-se deslocado.

— É o meu dever cuidar dos estrangeiros. — respondeu ele, de maneira lacônica.

Hyoga saiu dali apoiado em Alberich, pois suas forças estavam realmente esgotadas; ele havia perdido muito peso e talvez tenha desmaiado no caminho do calabouço até onde ficava a mansão dos Alberich em Asgard-Alta. O Guerreiro Deus colocou-o deitado em uma confortável cama e pediu a um único serviçal que ainda tinha na mansão que um banho fosse preparado para o convidado e então que o jantar fosse posto para ele.

— Tome um banho, alimente-se e descanse. Eu preciso retornar ao Palácio Valhalla para confirmar à diviníssima Hilda que você já está livre de seu calabouço. E então podemos definir os próximos passos.

— Escute, Alberich… — começou Hyoga, antes que ele se distanciasse. — Fale ao seu povo que tudo que queremos é a paz. É selar Poseidon. Temos uma tripulação em alto-mar enquanto falamos cruzando os Oceanos para selar todas as outras Relíquias de Poseidon. E em breve eles deverão chegar até aqui para conseguirmos fazer o mesmo.

— Jamian mencionou um Galeão. — falou Alberich.

— Não devem demorar.

— Eu compreendo, Hyoga. Agora descanse. — falou Alberich.

O Cavaleiro de Cisne estava tão cansado que sequer conseguiu forças para teimar, e as dores que o haviam mantido acordado por todos aqueles dias presos, naquele momento, deitado em um colchão tão macio, se esvaíram, e Hyoga simplesmente apagou. Alberich olhou para seu ajudante e pediu que o deixasse dormir.

 

—/-

 

Ao acordar dali a dois dias, praticamente, Hyoga percebeu que estava com uma roupa diferente e seus machucados haviam sido cuidados. Levantou-se sobressaltado sem lembrar de absolutamente nada desde que havia chegado naquele casarão. Não havia ninguém no quarto, mas da janela ele pôde ver a neve cair em grande alvoroço, o brilho branco do céu inundando o quarto e ferindo seus olhos recém acordados. Ele colocou-se na beirada da cama olhando para os pés ainda feridos por sobre um tapete felpudo que lhe dava um certo conforto.

O quarto em que estava guardava ainda algo de elegante e nobre, embora lhe faltasse uma plena limpeza e poeira se juntasse em alguns dos cantos. Além da cama larga, havia ali um armário de mogno escuro e também uma escrivaninha com uma poltrona encostada no vidro da janela. De onde estava sentado, Hyoga podia ver que se espalhava pela mesa um tanto de envelopes muito semelhantes. Todos com insígnias do Santuário, o que muito atraiu sua atenção.

Ele levantou-se, ávido por tocar e abrir todas as cartas, mas então hesitou, pois afinal de contas não eram correspondências suas.

— Leia.

Hyoga virou-se rapidamente e encontrou Alberich, muito sério, na porta do quarto.

— Escolha qualquer uma delas. — falou ele novamente.

Hyoga olhou para as dezenas de cartas que havia ali e escolheu uma que parecia destacar-se das demais, mais próxima dele. Olhou outra vez para Alberich e ele assentiu para que seguisse em frente. O garoto abriu o envelope selado pelo brasão de Atena, mas que já havia sido rompido, e leu as palavras de uma caligrafia adorada.

"Caro Alberich,

Os tempos são calmos, finalmente, na Grécia. Ainda ocupo meus dias com as pesquisas e observações sobre o Submundo para que o Santuário esteja preparado para a Guerra que virá. Recebi e agradeço imensamente a pedra-escura que me enviou. Tenho certeza de que não há outra melhor do que essa e que somente você poderia tê-la conseguido. Será de muita valia para nós e o Santuário saberá da contribuição de Valhalla. Novamente encontro-me em dívida para com você, não pense nunca que me esqueço de sua dor.

Parto hoje de volta para a Sibéria. Isaac e Hyoga estão treinando com Cristal e matam-me de saudades os dois garotos. Hyoga principalmente, pois o menino perdeu a mãe não muito longe dali; Isaac é mais velho e compreende melhor as coisas. Mas o destino me colocou um menino que tem o maior coração do mundo para treinar. Mas eu acredito que ele será um grande guerreiro.

Sei que deve estar rindo ao ler essas palavras; talvez eu esteja já ficando velho. Dizem que os anos se multiplicam quando se perde tempo demais debruçado sobre os livros. Talvez seja verdade. 

Espero que o inverno não esteja tão rigoroso em Asgard. Mande notícias.

Cordialmente,

Camus"

 

Hyoga chorava de soluçar.

Alberich avançou e tomou a carta delicadamente de suas mãos, guardando-a novamente no envelope e colocando-a junto às demais que ali havia. Aquelas palavras foram como se houvessem aberto um rombo no peito de Hyoga, acostumado a tentar trancar seus sentimentos dentro de si, tentando honrar a memória de seu mestre com o esquecimento e o abandono dos sentimentos. Depois de tantos dias de viagem na neve, outros muitos em cárcere, aquelas palavras abriram seu peito para o sentimento que havia represado. Ele quase podia ouvir a voz de seu Mestre naquelas linhas, ainda que parte delas soassem completamente inacreditáveis; mas justamente por compreender, naquele instante, que talvez houvesse um lado sutil e desconhecido de seu Mestre que ele refletia dias e noites sobre a possibilidade de existir. Um homem que também fosse capaz de sentir algo. E ali estava a prova de que, de fato, Camus o via mesmo como o filho que ele sentia ser.

— Perdoe-me por como me comportei antes. — falou Alberich em russo. — Camus e eu éramos grandes amigos desde a infância. Treinamos juntos para nos tornarmos Guerreiros e estudamos juntos para sermos catedráticos nos maiores Santuários do Mundo. O de Asgard e o de Atena. Camus era incrível tanto como guerreiro quanto como estudioso. Mas eu nunca tive qualquer aptidão para a guerra. Saber de sua morte tirou-me um pouco a razão. Eu peço perdão, Hyoga. Eu deveria ter me lembrado de como Camus o queria bem e como ter de enfrentar seu Mestre deve tê-lo machucado.

Hyoga ficou em silêncio ouvindo aqueles relatos de seu amado mestre.

— Fique à vontade para ler todas as cartas. — falou Alberich. — Eu fiz questão de separar as que recebi de seu Mestre.

— Quando foi a última vez que o viu? — perguntou Hyoga, e Alberich respirou fundo.

— Há mais de dez anos, na última vez que Camus esteve em Asgard e me trouxe a ponta-de-flecha. — respondeu Alberich. — Desde então sua função dentro do Santuário e o seu próprio treinamento fizeram de Camus um homem atarefado demais para viagens triviais.

— Eu quase não posso acreditar nessas palavras. — comentou Hyoga com um sorriso breve no rosto, e Alberich adivinhou o que se passava por sua mente.

— É sempre curioso quando percebemos que nossas figuras intocáveis por vezes são tão vulneráveis como nós. Seu mestre Camus era mesmo um homem muito reservado e por vezes extremamente frio, mas havia detalhes que o tocavam. Você era um desses.

Hyoga chorou novamente e Alberich lhe colocou a mão sobre os ombros.

 

—/-

 

Pouco aconteceu nos dias que se seguiram e, embora Alberich tenha deixado Hyoga ler todas as correspondências de Camus que quisesse, Hyoga não as leu todas de uma vez, pois havia talvez uma dúzia ou pouco mais do que isso de cartas breves. Uma tarefa que ele sabia que poderia dar cabo em uma tarde voraz, mas escolheu ler uma ou duas por dia, como se deixasse para cada dia seguinte um novo recado de seu Mestre.

Hyoga era bem cuidado no casarão pelo único serviçal, um senhor já velho que tomava conta das poucas tarefas da casa; sua sina para com Asgard não havia mudado e Alberich pediu-lhe para que não saísse de casa para não atrair atenções desnecessárias, uma vez que o povo da cidade ainda era muito arredio aos estrangeiros em um tempo de Guerra, como frisava sempre Alberich. Então Hyoga realmente tinha apenas aquelas cartas e a neve para observar do lado de fora; as cartas que lia, Hyoga lia e relia até mesmo as pontuações. A voz de seu Mestre sempre ecoando junto com aquelas linhas.

— Sinto que as palavras de Camus carregavam uma enorme tristeza. — falou Hyoga para Alberich certa noite. — Me passam a impressão de que ele sabia que morreria.

— Ele vinha pesquisando muito profundamente nos últimos anos sobre a Morte e o Submundo a mando do Camerlengo, como uma forma de se preparar para a Guerra Santa que está por vir.

— Mais do que isso, a impressão é que quanto mais ele parecia se preparar para sua morte, também lhe angustiava deixar para trás uma dívida. Uma dívida com você, Alberich.

O rapaz ficou calado pela primeira vez e Hyoga notou como seus olhos buscaram desviar de sua mirada. Poucas coisas deixavam Alberich hesitante como aquele momento, mas Hyoga lembrou-se que ele era um mero convidado daquele anfitrião benevolente que o aceitou em seu casarão um prisioneiro de Valhalla tomando a missão dele como sua diante da Representante de Odin.

 

E então Hyoga escolheu deixar aquela dúvida no fundo de sua mente, desviando do assunto.

— A Guerra Santa é a batalha certa. Mas ainda podemos evitar o confronto contra Poseidon.

— Hilda tem me escutado. — falou Alberich, finalmente retornando sua atenção para Hyoga e notando que a observação causava certa ansiedade do garoto. —  A ameaça de Poseidon também nos aflige. O inverno torna-se cada vez mais rigoroso e há relatos de que o Mar Ártico nunca esteve tão violento. Acredito que a missão do Santuário pelos Sete Mares deve estar causando certas dores de cabeça ao Deus dos Mares.

— Seiya e os outros devem ter selado muitas Relíquias. O que significa que não tardará muito até que cheguem aqui.

— E eu não acredito que eles serão os únicos a chegarem aqui. — falou Alberich. — Se é verdade que aqui estará a última Relíquia dos Mares, não devemos assumir que os fiéis à Poseidon aceitarão quietos que Poseidon seja calado.

— Lutaremos se for preciso.

Alberich deixou escapar um riso desacreditado.

— Sua Armadura está destruída, Hyoga, deixe a batalha para os Guerreiros Deuses de Asgard.

— Não me subestime, Alberich.

— Jamais, Hyoga. Você é um discípulo de Camus, mas se a tripulação de Atena chegar em Asgard junto dos asseclas de Poseidon, tenho plena convicção de que os Guerreiros Deuses poderão dar cabo das ameaças junto dos Cavaleiros de Atena. Não há necessidade de se sacrificar em vão.

— Você fala como se não fizesse parte dos Guerreiros Deuses. — observou Hyoga.

— Eu tenho o direito de ser um Guerreiro Deus, mas não sou um guerreiro como eles. Eu disse antes que Camus era o estudioso que guardava talento nos dois mundos. Eu apenas atrapalharia os nobres conselheiros de Hilda.

Hyoga escutou, mas deu de ombros ao virar-se para a janela onde a neve nunca parava de cair.

— Não há a menor chance de acontecer uma batalha em que meus amigos vão arriscar suas próprias vidas e eu ficarei aqui atrás dessa mesa lendo cartas. Isso não vai acontecer.

Os olhos de Alberich eram claros como a frieza de Asgard, mas um deles era coberto pela mecha ruiva que lhe cobria o rosto; aquele único olho encarando Hyoga dava-lhe uma estranha sensação de que o asgardiano era capaz de olhar seus medos internos e todas suas angústias. Ele caminhou por aquela ante-sala e aproximou-se.

— Nesse caso, eu tenho uma ideia, Hyoga. — falou o anfitrião aproximando-se de Hyoga, mas ficando do outro lado da mesa de cartas. — Os tempos são de miséria até mesmo entre a linha de frente dos guerreiros de Valhalla. Os Guerreiros Deuses de Odin representam as Sete Estrelas do Céu. Mas apenas cinco delas foram ocupadas por guerreiros realmente capazes de fazer jus aos antigos guerreiros.

— Apenas cinco Guerreiros Deuses?

— Contando comigo, somos seis. Mas como eu disse, a batalha nunca será o meu forte.

— Não posso acreditar que um reino orgulhoso como o de Asgard não tenha mais que um punhado de guerreiros.

— Esse nosso orgulho não nos permite esmorecer em frente aos Deuses e aos visitantes, mas a verdade é que não há. Infelizmente, uma tempestade no início desse período de inverno rigoroso levou Tor, um de nossos maiores guerreiros, vitimado pela fome e pela miséria. Há outro enorme guerreiro, cuja ganância o trancou para sempre nos calabouços de Valhalla, de onde jamais será libertado. De modo que esta Safira de Odin não tem dono. — Alberich colocou na mesa uma brilhante Safira de Odin.

Hyoga olhou para ela e então para Alberich.

— Uma Safira de Odin?

— É o presente de Odin aos Sete Guerreiros Deuses.

O Cavaleiro de Cisne tornou a olhar para a pedra preciosa em cima da mesa.

— Você só pode estar brincando. — comentou ele.

— Você é um guerreiro muito mais capaz do que eu, Hyoga. Seria de muito mais valia tê-lo nos combates por vir do que um aristocrata como eu. E assim poderia ajudar a sua missão, ajudar seus amigos e ainda provar para Hilda e toda Valhalla o quanto você fala a verdade.

— Eu não vestirei qualquer outra Armadura que não aquela que me foi destinada e presenteada por meu próprio Mestre Camus. Aquela com a qual eu fiz o Juramento de Cavaleiro.

Alberich calou-se, pois era como se procurasse as melhores palavras para seguir.

— Essa também é a sua chance de pagar a dívida de seu Mestre Camus.

— O quê!?

As palavras eram incisivas e objetivas, exatamente para reavivar a dúvida que havia populado a mente de Hyoga anteriormente, mas que ele, educadamente, havia empurrado para o fundo de sua mente. Pois agora Alberich queria que ela tomasse seu corpo inteiro.

— A dívida que seu Mestre Camus morreu sem poder liquidar foi a de lutar por Asgard.

— Do que está falando, Alberich? Vamos, fale de uma vez!

— Camus foi responsável por uma tragédia ainda quando era um aspirante a Cavaleiro. E uma criança veio a falecer por conta dessa tragédia. Em Asgard, todos compreendemos que foi uma fatalidade, que não havia sido realmente sua culpa, mas Camus… — deteve-se Alberich e cada letra, cada vírgula, cada flutuação de seu tom era calculado. — Camus mortificou-se pelo que considerou um erro terrível de sua parte. E então deixou para trás um juramento e uma dívida: de que emprestaria sua força a Asgard quando fosse chegado o momento.

— Mestre Camus… — balbuciou Hyoga.

— Mas seu destino o levou antes que pudesse quitar essa dívida que tanto o incomodava. Ninguém de Asgard jamais o cobrou, pois era muito bem vindo aqui mesmo depois dessa fatalidade. Mas Camus nunca se perdoou.

Hyoga estava boquiaberto e praticamente sem fôlego, e Alberich deixou-o ali com suas dúvidas.

— Deixarei a Safira aqui, caso mude de ideia.

 

—/-

 

Outros dias ainda se passaram e Hyoga estaria mentindo se dissesse que não lhe comia por dentro a curiosidade ao redor daquela fatalidade, mas compreendia que aquele era um segredo de seu Mestre para com Asgard e talvez não coubesse a ele buscar por pura curiosidade, uma vez que parecia ter sido algo tão grave. Por outro lado, Hyoga sentia-se ansioso para a chegada de Seiya e do Galeão de Atena e o fim daquela missão. E entre a curiosidade e sua ansiedade estava aquela pedra preciosa cintilante na mesa, de que o garoto negava-se, inclusive, a chegar muito perto ou até encostar, pois estava ali algo que parecia ser sagrado demais à Asgard.

Ela brilhava no centro da mesa e Alberich nunca mais a tirou dali, como eles também nunca mais falaram sobre ela. E ainda assim, Hyoga sorvia cada letra de seu Mestre Camus naquelas cartas e o garoto sentia-se embevecido e largamente lisonjeado quando, por mais de uma vez, ele era citado naquelas passagens breves. Como também ficava mais e mais evidente a angústia de Camus com sua iminente passagem, deixando para trás aquela maldita dívida.

O garoto deixou que lhe escapassem lágrimas do rosto em certa passagem em que seu Mestre confidenciava sua lamentação pela perda de Cristal e até mesmo de Isaac há muitos anos; se para Hyoga aquelas cartas eram como janelas para o coração de seu mestre Camus, também eram uma prova de como seu mestre confiava em Alberich, um confidente distante. Aquela parecia ser uma de suas últimas cartas da pilha, pois com efeito, Alberich parecia ter-lhe deixado todas em uma certa ordem, de modo que ele pudesse mesmo observar a maneira com que seu Mestre pensava através dos anos. Desde que o aceitou como tutor, ainda muito garotinho, passando pela provação de ter perdido seu irmão Isaac, os frequentes abandonos ao Santuário até que ele fosse comissionado para a missão que mudou sua vida na cidade.

E depois de reler todas as linhas e gracejos da caligrafia de seu Mestre, Hyoga percebeu que na pilha havia uma última carta, dessas muito curiosas, pois não tinha qualquer insígnia, tampouco parecia selada de qualquer maneira. O envelope em nada se parecia com o papel grosso e de boa qualidade com que as outras cartas estavam. Hyoga imaginou que aquela fosse uma correspondência que Camus havia enviado, talvez, da própria Sibéria, como havia uma ou outra no meio das dezenas que já havia lido.

O garoto abriu novamente o envelope e leu o que, sem dúvidas, era a caligrafia de seu mestre Camus, a mesma das outras cartas que havia acabado de ler. Devorou a pequena carta, mas o conteúdo fez com que ele sobressaltasse da cadeira e olhasse apavorado para o conteúdo. Não era possível e ele jamais poderia acreditar. Mas as palavras que havia lido não deixavam dúvidas.

Hyoga levantou-se da cadeira, mas então foi surpreendido pelo serviçal que adentrou o quarto ofegante, os olhos esbugalhados, a roupa toda torta e uma única palavra repetida várias vezes:

— Alberich! Alberich!

Hyoga não entendia a língua do povo do Norte, tampouco aquele velho homem podia lhe falar em um idioma que compreendesse. Mas o serviçal pegou Hyoga pelo braço e o arrastou até a janela onde apontou para um caminho que perdia-se na Floresta Proibida em desespero e repetindo o nome de seu anfitrião amedrontado.

— Alberich está em perigo?

— Poseidon! Poseidon!

Palavras que tinham peso em qualquer lugar do mundo; Hyoga virou-se para ir até Alberich, quando estacou à meio-passo, olhando para aquela Safira de Odin na mesa. Pensou duas vezes e deixou-a onde estava, não sem antes pegar aquela última e misteriosa carta de Camus.

Hyoga saiu pela neve que agora caía com menos intensidade, deu a volta no casarão e disparou pela trilha que afundava-se na Floresta Proibida; ainda teve tempo de olhar o rosto do serviçal, branco feito a neve, olhando-o se perder na janela do quarto em que estava. Ele correu por sobre raízes, folhas, e não demorou para escutar a fuzarca de uma batalha.

— Alberich! — exclamou ao ver o rapaz no chão tentando fugir de dois enormes guerreiros que pareciam atacá-lo com grossas correntes com âncoras de navio nas pontas.

O Cavaleiro de Cisne, mesmo sem sua Armadura, já recuperado do tempo de cárcere, saltou no ar e atingiu os dois brutamontes no rosto, levando-os ao chão; Hyoga facilmente deu cabo daqueles que pareciam ser simples guardas que carregavam escamas como proteção. Mas não eram páreos para a força de Hyoga.

— Cuidado, Hyoga! — advertiu Alberich para ele. — Esses são apenas sentinelas.

Uma risada cruzou as paredes daquela floresta, formada por troncos antiquíssimos, e Hyoga viu surgir entre eles, com uma cosmo-energia fabulosa e azulada, alguém que também protegia-se com uma Armadura azulina e oceânica. Ele não tinha dúvidas: era um Marina de Poseidon.

— Quem é você? — perguntou Hyoga.

— Sou o Tenente Marina Alexei! — anunciou o homem orgulhoso.

Um corte rente de um cabelo curto, elmo nenhum cobrindo-lhe a cabeça e aquela maravilhosa Armadura oceânica no corpo. Hyoga colocou-se em guarda para enfrentar o Marina e imediatamente sentiu a pressão de seu cosmo, que parecia ter mesmo a profundidade de um oceano. Era uma sensação diametralmente oposta àquele frio triste dos Guerreiros Deuses ou mesmo à quentura solar dos Cavaleiros de Atena.

— Matarei os dois! — anunciou a voz de Alexei.

Abriu os braços ao ar, seu cosmo oceânico revolucionou atrás de suas costas e um fluxo de energia parecia conectar todos seus membros, enquanto no centro de seu corpo manifestou-se uma orbe azul que recebia os fluxos energéticos carregados por feixes pequenos de luzes. Sua voz reverberou com força.

— Impulso Azul!

A orbe azulada disparou na direção de Hyoga, que tentou conjurar uma parede de gelo com seu cosmo, mas ela foi espatifada pelo cosmo do tenente e levantou do chão tanto ele quanto Alberich. Os dois espatifaram-se contra paredes opostas e foram ao chão.

— Droga, sem a minha Armadura seremos presas fáceis. 

— Pegue a Safira de Odin, Hyoga! — falou Alberich com dificuldades.

— Não usarei essa Armadura; esqueça, Alberich. Eu sou um Cavaleiro de Atena e vencerei com meu próprio orgulho!

Alexei aproximou-se deles dando risada.

— Um Cavaleiro de Atena? Ora, então nesse caso você não será o primeiro a cair em minhas mãos. Morra, Cavaleiro!

Hyoga desviou três vezes do punho de Alexei e encarou-o novamente.

— O que quer dizer com isso!? — perguntou Hyoga, mas Alexei sorriu novamente, armando sua técnica feroz.

— Hyoga, deixe de bobagem e coloque a Robe Divina! — clamou Alberich para ele.

— Esqueça isso, Alberich. — falou ele, que sequer havia trazido a Safira para aquela batalha.

E o Impulso Azul novamente o atingiu com violência, arrancando pedaços de sua roupa e fazendo com que vomitasse sangue na neve branca. Escutou seu nome sendo gritado na neve, olhou para o lado e viu Alberich arremessando-lhe sua Safira de Odin. Ela caiu na sua frente.

— Deixe seu orgulho de lado. Se morrer aqui, a sua missão e a missão de todos os seus amigos terá sido em…

Mas antes que pudesse completar sua frase, seu corpo foi arremessado pela força de Alexei, que estava diante dele. Hyoga olhou para aquela pedra preciosa à sua frente e odiou-se por tomar a decisão que não queria, mas Alberich tinha razão: morrer ali era ainda pior.

— Faça por Camus, Hyoga. — balbuciou Alberich, muito ferido no chão.

O garoto levantou, tomou a Safira nas mãos e ascendeu seu Cosmo, que podia tocar ao Sétimo Sentido; aquela energia cálida ressoou com a Safira e tomou-se de uma frieza enorme. 

A pedra preciosa era gélida nas mãos e brilhava uma luz incandescente; a terra ao seu redor tremeu por alguns instantes e, de dentro da neve, pareceu brotar uma criatura fantástica que assustou Hyoga à princípio. À frente dele estava uma maravilhosa serpente púrpura olhando-o nos olhos; era uma armadura. As partes que formavam o totem da maravilhosa serpente separaram-se no ar e vestiram o corpo de Hyoga, que percebeu-se envolvido de um enorme poder.

A Safira que tinha trancada nas mãos soltou-se e alojou-se delicadamente na cintura da Robe Divina; e quando Hyoga sentiu-se o Guerreiro mais poderoso do mundo, foi quando percebeu que seu peito estava invadido de uma profunda fúria e tristeza. Olhou para as mãos quase sem reconhecer seu próprio cosmo e viu como a coloração púrpura daquela Robe Divina lentamente tingiu-se de um profundo alaranjado que mudou toda a tonalidade daquela armadura. E junto com aquela mudança, brilhou nos olhos claros de Hyoga as runas escuras da magia de Odin.

— Trovão Aurora! 

Sua voz reverberou levantando tufões de gelo ao redor do lugar que arrasaram com Alexei; o Tenente Marina que viu-se envolto por uma furiosa nevasca que o levantou do chão e o derrubou já vencido e morto na neve. Hyoga também caiu de joelhos, pois sentia que o ar lhe faltava nos pulmões e uma enorme pressão o deixava enormemente angustiado no coração. Desesperado, ele tirou das vestes o envelope que havia trazido e releu suas poucas palavras do que não passava de uma breve nota.

"Caro Alberich,

A pedra funcionou.

Aqui é tão frio quanto a Sibéria.

Camus"

Pareciam as últimas palavras de seu Mestre Camus e Hyoga lembrou-se de outras que leu já há muito tempo: 

"Lembre-se Hyoga, você é um Cavaleiro de Atena."

E o garoto sentiu uma enorme tristeza antes de cair desmaiado.

Ele era agora um Guerreiro Deus.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Um dos capítulos mais difíceis de escrever, pois ele é praticamente todo original. Eu queria mostrar o que aconteceu com Hyoga, mas sempre mantendo certo mistério, pois eu me dei o desafio de tentar escrever esse arco o máximo possível do ponto de vista dos Guerreiros Desues, portanto a perspectiva de Alberich aqui era muito importante. E a ambientação de Alberich é totalmente inspirada pelo personagem Surtr de Alma de Ouro. =) Acredito que os dois personagens cumprem a mesma função narrativa dentro dos dois arcos (a de ser um personagem cerebral e ardiloso), de modo que foi quase natural unir os dois personagens. A ideia de Camus escrever cartas pode ser um pouco estranha, mas é ele quem envia a carta original para Hyoga ir até a Guerra Galática, e dentro dessa versão da história eu já havia estabelecido que Camus era um grande estudioso, de modo que ele ter escrito outras cartas não seria de todo absurdo.

PRÓXIMO CAPÍTULO: ALBERICH

Hyoga finalmente coloca Alberich contra a parede sobre suas motivações e ambições, sem conseguir discernir o que é a pura realidade.



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