Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 8
Remorso e Ousadia




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Ao fazerem uma parada no meio do trajeto entre a Cidade do Leste e Rizembool, os alquimistas acabaram encontrando por acaso o até então desaparecido Dr. Tim Marcoh, que atuava como médico daquela cidadezinha se escondendo com o nome de “Dr. Mauro”. Ao ser reconhecido por Major Armstrong, o homem foge de forma assustada e após a explicação de Armstrong sobre que aquele homem se tratava de um alquimista especializado em alquimia médica, Edward automaticamente fica interessado em que tipo de informações aquele homem podia lhe fornecer, pensando que ele poderia saber algo a respeito de transmutações humanas. Assim, desceram do trem e foram atrás do mesmo.

Com a fama que Marcoh possuía naquela cidadezinha, não foi difícil encontra-lo, porém foi difícil faze-lo permitir que conversassem com ele, se apresentando muito arisco e assustado. Major Armstrong precisou ser muito “persuasivo” para que ele os aceitasse.

Não esperavam nem de longe que aquele médico foragido os levasse a ver a primeira pedra filosofal de suas vidas embora fosse uma versão imperfeita. Marcoh admitiu que havia participado das pesquisas sobre a pedra filosofal com muito remorso em seu tom de voz, porém, se recusou a demonstrar como tal versão fora feita parecendo muito afetado pela simples lembrança daquele item.

A forma com que a voz do médico parecia tão dolorida a cada lembrança que desenterrava fez com que Ani se sentisse com pena do mesmo, querendo pedir para Ed não o pressionar tanto com suas perguntas. Porém, sabia o quanto aquilo era importante para os dois, e para este bem maior, sabia que seria de suma importância que Marcoh falasse.

Embora tamanha insistência por parte de Edward, Marcoh se recusa a dar qualquer informação sobre suas pesquisas para o alquimista, afirmando que Ed se aproximaria do inferno caso visse o conteúdo de seus estudos e pedindo para que eles se retirassem de sua residência logo em seguida e não os deixando opções a não ser retornar para o trem.

Contudo, Marco pareceu ter de alguma forma se sensibilizado com a história de Edward e Alphonse e dizendo “Você deve ser capaz de ver a verdade” lhes deram uma pista de onde sua pesquisa estava escondida. Agora mais animados e confiantes eles seguem para Rizembool, após os reparos de Ed, eles teriam um novo destino para investigar e quem sabe não estivessem a um passo de seus objetivos?

Ao chegarem em Rizembool a animação de Ani mesmo continuava constante, não combinando com o ânimo de Alphonse que além de não estar em um dos seus melhores dias, já que nem podia caminhar por si só. O que o mantia um pouco animado, embora pensativo era a conversa que tiveram com Marcoh horas atrás, além da história que Ani lhe contou no trem, em meio a “béés” das ovelhas.

—Então foi aqui onde vocês cresceram! -Olhando em volta toda animada, captando o máximo de detalhes que seus olhos podiam ver enquanto caminhavam pela estrada que levava até a casa dos Rockbell- Ah! Acabei de perceber que todos nós viemos do campo!

—Parece que sim.

—Onde você cresceu, Major? -Olha para ele.

—Hmmmm! -Seu belíssimo bigode tremelicava pela vibração de sua voz, enquanto se colocava pensativo.- Eu cresci em Central City na residência da família Armstrong, um belo imóvel que já está na família a gerações! Cresci junto de quatro irmãs.

—Hoooooh! Você tem irmãs!

—Três mais venha e uma mais nova! Sou o quarto filho.

—Elas devem ser tão bonitas! -Comentou com um ar admirado enquanto Ed se vestia de uma expressão horrorizada ao imaginar uma versão de saias de Major Armstrong. Pobre dos maridos dessas “donzelas”.

Continuam caminhando durante o trajeto até chegarem numa casa grande e pintada de amarelo, onde foram recebidos por Pinako, que fumava seu cachimbo na varanda da parte frontal do imóvel. Assim que os vê se aproximar, chama Winry no interior da casa para avisa-los sobre a visita, os cumprimentando logo em seguida.

—Vovó, esse é o Major Armstrong. E esta é Ani. – Ed os apresenta.

Pinako cumprimenta ao Major com um singelo aperto de mão, e logo volta seus olhos para Ani, também estendendo sua mão para cumprimenta-la.

—Ora, que surpresa ver que encontrou uma garota que teve interesse por um rapaz tão pequeno. -Olhou para Edward com um sorriso sarcástico- Você parece que diminuiu desde a última vez que te vi, Ed.

No mesmo instante Edward fecha a cara, e teria explodido instantaneamente se não tivesse um mal-entendido para esclarecer e uma chance de esfregar na casa daquela velha nanica sua mais nova “conquista”.

—Ani é minha aprendiz. – Respondeu com um sorriso, frisando com uma entonação maior a última palavra, levemente metido.

—Oh? Aprendiz?

Pinako volta a olhar para a jovem, que até então apenas estava ao lado da caixa de Alphonse, levemente tímida por estar ali, embora ainda claramente animada. Normalmente não ficava acanhada em novos locais, pois se adaptar a eles acabou virando uma de suas maiores habilidades. Contudo, estar com pessoas que eram como uma família para Edward e Alphonse a fazia se sentir ansiosa por poder vê-los em um ambiente diferente, além de acabar secretamente tendo o desejo de que as pessoas ali gostassem de si também.

—É um prazer conhece-la! -Curva-se educadamente.

Pinako observa Ani por alguns segundos, tragando o fumo de seu cachimbo e o expirando lentamente, olhares que apenas deixavam Ani mais nervosa.

—Você tem mesmo certeza de que quer esse nanico como mestre?

—Eh?

—QUE ESTÁ DIZENDO SUA VELHA NANI-

E plaft, Edward é brutalmente agredido por uma chave inglesa que o nocauteou no mesmo instante. O golpe assusta Ani e Major Armstrong, porém Pinako e Alphonse permanecem pleníssimos, já muito acostumados com aquela cena.

—Eu já disse para você me ligar antes de aparecer para manutenção!

A voz feminina vinda do segundo andar fez com que Ani voltasse os olhos para a sacada de um dos quartos, podendo então ver Winry pela primeira vez e logo se admirando pela beleza da loira.  

—Aquela é a Winry? -Pergunta para Al.

—É ela sim.

—Hoooh! Que bom gosto! -Sussura para Al, seguido de risos divertidos.

—Do que vocês estão falando? -Comenta Ed, com uma voz irritada- EI! WINRY! ESTÁ TENTANDO ME MATAR?!

A loira simplesmente ri da fúria de Ed, o cumprimentando com um “Bem-vindo de volta” antes de todos adentrarem a casa, onde chega o momento inevitável em que Winry constata com pesar a belíssimo estrago que Edward havia feito em seu precioso automail.

—MEU AUTOMAIL! MINHA OBRA DE ARTE! -Choramingando- COMO VOCÊ PODE FAZER ISSO COM ELE?

—Ah, ele quebrou. -Afirma num tom despreocupado, enquanto tomava um cafezinho, atitude que só intensifica a fúria de Winry que o agride novamente, transferindo esta ira até para Alphonse, quando constata que ele também estava em péssimo estado. Aqueles dois realmente sabiam como ser descuidados e imprudentes, o que só conseguia matar a loira de preocupação toda vez que os viam naquele estado.

Só após descontar toda sua raiva em ambos os irmãos, Winry se dá conta de que havia ficado tão focada em sua preciosidade destruída que nem ao menos percebeu a presença de Ani, que até então estava sentada no chão brincando com Den, rezando internamente para não acabar apanhando também.

—Olha que feio. Você nem cumprimentou! -Emburrado no chão.

—A culpa é sua por me tirar do sério assim. -Rebate ainda irritadiça, aproximando de Ani e retirando sua luva de trabalho para cumprimenta-la.- Olá! Muito prazer! Eu sou Winry Rockbell!

—Meu nome é Ani Harris. -Se levanta do chão, deixando um último carinho no alto da cabeça de Den antes de cumprimenta-la. Também é um prazer conhece-la, Winry-san!

—Ani é minha aprendiz. -Comenta, se levantando do chão e voltando a se sentar.

—Aprendiz? Heeeeh? -Parecendo incrédula de que alguém realmente concedia o dever de seu aprendizado para Ed.

—Pois é! Vê como sou importante? -Sorri num ar metido, porém sendo cortado por Pinako que bate o cachimbo em sua perna de metal.

—Vamos, vamos. Pare de brincar e fique quieto para que eu possa tirar as medidas de suas pernas. -Examinando-as- Parece que elas também vão precisar de ajuste.

—Hooh! Parece que no fim você cresceu um pouco Ed! -Winry provoca num ar irônico, fazendo Ed fechar a cara no mesmo instante. Volta-se para Ani em seguida, sorrindo simpática para a mesma.- Como os conheceu, Ani-san?

—Ah, nós nos conhecemos em um trem que ia para East City!  Estávamos no mesmo vagão e eu os conheci por acaso!

—“Os conheci por acaso”, falando desse jeito parece que nos conhecemos no vagão da lanchonete durante o almoço. – Ed resmunga num ar irônico enquanto Pinako media suas pernas, arrancando risos de Alphonse.

—Nem parece que invadiu o trem e se escondeu embaixo da nossa mesa!

—O-Ora! Essa parte foi por acaso! Eu não sabia que era a mesa de vocês! -Responde emburrada.- E eu já disse que eu não invadi o trem!  Eu perdi minha passagem!

—Aaah... Agora consegui entender porque acabaram viajando juntos. -Winry gargalha em um tom cansado. Pelo jeito aquela garota também era tão imprudente quanto os outros dois.

Após tirar as medidas para os ajustes na perna de Edward e examinar os estragos causados no automail do braço, constatando que realmente não havia o que salvar ali, Ed se equipa com uma prótese substituta enquanto Pinako e Winry começam a construção dos novos automails de Ed.

Enquanto Winry começa seu trabalho, Edward foi caminhar pela vila, dizendo querer visitar a sepultura de sua mãe. Pinako começa a se preocupar com o jantar, já que precisariam de muito mais comida que o costume com a quantidade de convidados que teriam. Armstrong prontamente se oferece para cuidar da lenha enquanto Ani prontamente se oferece para ajuda-lo.

—UUUUUGHAAAAAH! -Mete um socão no tronco, com toda a graça que possuía em seu ser, reluzindo os fabulosos músculos. -Coloque outra tora por favor, senhorita! -Pede com uma delicadeza que não condizia com seus músculos.

—Sim, senhor! -Responde entusiasmada, toda encantada pela força do Major. Rapidamente recolheu a tora quebrada, colocando suas frações numa pilha de outras toras quebradas e colocando uma integra em seu lugar. -Hey, Major! Qual o segredo para ser forte assim?

—Hm.. -bigode remexendo- Dedicação, treinamento e um fruta fresca todo dia.

—Hoooh! -Olhos brilhando. -Será que algum dia eu consigo ser forte como o senhor?

Major Armstrong encara aquela jovem que devia ter um terço de sua altura e um oitavo de seu peso. Sabia que seria um caminho beeeem longo para que ela chegasse ao seu tamanho, mas, se sua irmã mais velha poderia ser bem mais forte que ele, porque não? Oh, espera. E se ela acabasse como sua irmã mais velha?

—... Major? -Encarava Armstrong que pareceu horrorizado por um momento.

—Huh? -Desperta de seus pesadelos, se ajoelhando por um momento para tentar ficar ao menos próximo da altura de Ani.- Senhorita, devo lhe dizer que acho que você está muito melhor do jeito que está!

—Heh?

—Além disso, você não precisa ter músculos para ser forte!  Não importa se tem músculos ou não, desde que tenha músculos dentro de você. -(Quem pegar a referência ganha um abraço)- Assim poderá ser tão forte quanto eu! -Fazendo pose, exibindo seus músculos e arrancando risadas de Ani.

—Ei, vocês dois! A lenha não irá se cortar sozinha! Parem de brincar e se apressem! -Grita Pinako da porta da cozinha.

—Ah! Claro! -Volta a colocar toras de madeira acima do tronco partido onde Armstrong estava os quebrando.- Obrigada, Major! -Lhe responde num tom doce, de certa forma tocada pelo encorajamento do maior, embora não tivesse compreendido muito bem.

Não muito longe dali, Alphonse estava sentado sobre a grama, os observando interagir. Não conseguia andar naquele estado, portanto, zelando para que não acabasse deprimido ou solitário, Armstrong estava o mantendo próximo de ambos, tanto pela companhia, quanto pela paisagem dos vastos campos de Rizembool. Devido à não ter muito com o que se entreter, Alphonse se distraia observando as galinhas enquanto escutava a conversa, agradecendo internamente por Ani parecer ter desistido da ideia de ficar musculosa como o Major. Imagina-la assim era no mínimo assustador.

Após partir toda a lenha em pedaços menores, Major e Ani os levam para dentro. Armstrong poderia muito bem carregar todos os pedaços, mas Ani fez questão de ajuda-lo, embora claramente seus braços comportassem uma quantidade quase insignificante próximo do que o Major carregava.

—Al, já volto para te fazer companhia! -Sorridente.

—Okay!

Já dentro da casa, carregaram a lenha até o local onde era guardada. Major deixou todas elas próximas do local e Ani cuidava de organiza-las, separando o necessário para preparar o jantar. Enquanto se ocupava, ouvia a conversa entre Pinako e Armstrong.

—Ei, Major. Que tipo de vida aqueles garotos estão levando? -Pergunta enquanto se mantinha concentrada nos reparos do Automail. – Eles nunca nos mandam sequer uma carta.

“Então eles fazem isso também.” Ani pensou ao ouvir a afirmação da senhora, se lembrando novamente de seu irmão mais velho. Se perguntou em silencio porque Ed e Al acabavam tendo o mesmo comportamento digno de reprovação que ela possuía ao não manterem contato com Pinako e Winry. Al havia dito que as conheciam desde crianças, mas será que eles não eram tão próximos assim?

—Eles são alquimistas federais muito conhecidos na Central. E isso também os traz problemas. -Responde sincero, ciente da preocupação que ela possuía. -Mas, eles ficarão bem. Ambos são muito fortes. -A resposta de Major faz Ani sorrir.

—Fortes? Com certeza espero que sejam.

—A senhora pode ficar segura disso, Sra. Pinako! -Reforça o que Armstrong diz, interrompendo a conversa virando-se para eles sorridente. -Eles são conhecidos justamente por serem muito fortes!

Pinako olha para Ani por um momento, abrindo um leve sorriso enquanto voltava a concentrar sua atenção nas peças de metal.

—Eu nunca achei que Ed teria algo como uma aprendiz um dia. Você está viajando com eles agora?

—Sim, estou!

—Então... as coisas são como Major diz?

—Ah, bem... -Se coloca a pensar, voltando terminar de organizar as lenhas, pegando as que havia separado e as levando até o fogão.- Sim, é como ele diz. Ed é muito conhecido em todo o lugar que vá, e as vezes isso atrai pessoas ruins até ele. Algumas vezes nós passamos por situações perigosas, como a que levou ele a quebrar o automail daquele jeito. Mas, Sra. Pinako, você deve conhece-los melhor que eu, e por isso, também deve saber melhor que eu o quanto eles não desistem fácil e o quanto são fortes! Seja em força ou em espirito!  

Pinako fica em silencio durante alguns instantes, refletindo sobre o que Ani havia dito.

—É... eu conheço bem o nível da determinação deles. -Olha para o relógio- Oh! Está quase na hora de preparar o jantar. -Se levanta da cadeira- Como temos muitas pessoas hoje, precisaremos de muita comida.

—O-Oh! Eu não quero causar incomodo para a senhora! -Afirma Major.

—E-Eu também não! Aliás, eu posso ajuda-la com o jantar! -Indo até ela prendendo os cabelos.

—A comida fica mais gostosa com mais pessoas à mesa. Temos lençóis e camas extras, então vocês podem ficar. Aqueles garotos não têm outro lugar para ficar além daqui, então estamos sempre preparados para receber pessoas.

—Eh? E a casa deles? -Ani pergunta enquanto ajudava Pinako a pegar as panelas e alimentos.

Outro momento de silêncio vindo de Pinako, apenas voltando a falar após soltar um longo suspiro acompanhado pela fumaça de seu cachimbo.

—Eles não têm. Aqueles garotos não possuem uma casa para voltar. No dia em que Ed recebeu seu certificado de alquimista federal, eles queimaram sua própria casa.

E então, Pinako lhes conta toda a história. Lhes conta sobre a casa queimada, sobre o pai que saiu de casa e nunca retornou, fala sobre sua mãe falecida, fala sobre a relação que possuía com os dois. Lhes conta detalhes dos quais ainda não sabiam sobre os irmãos enquanto preparava o jantar. E contrariando sua natureza falante, Ani permaneceu em silêncio a partir daí, ajudando a picar os legumes para o ensopado enquanto ouvia Pinako, agora conversando com Armstrong.

—Ani, você poderia picar um pouco de salsa? – Pergunta para ela, lhe passando um maço de salsinha, mas parando sua mão no meio do caminho quando viu que Ani chorava.

—A-Ah! Claro! -Imediatamente percebeu o olhar de Pinako para si, tratando de secar as lágrimas que nem havia notado que deixara escapar com o dorso de sua mão. -A-Ah! Isso é han... cebola! Não se preocupe! Eu estou bem!

—... -Abre um sorriso suave- Não é nenhuma vergonha mostrar que se importa com alguém. Não cobre tanto de si.

Ani trava por um momento com a fala de Pinako, ficando alguns segundos sem reação antes de suspirar pesadamente.

—... Eu sei. É só que... eu gostaria de ser um pouco mais forte, assim como eles.

—Ser forte nem sempre é uma virtude, senhorita. -Diz Armstrong- Às vezes ser forte contra tudo nos fere por dentro.

Major Armstrong bate sua mão algumas vezes no alto da cabeça de Ani, numa espécie de carinho desengonçado e levemente bruto, que arranca um suave sorriso da jovem, apesar dos olhos ainda com lágrimas. Aqueles olhos ainda reluzindo ingenuidade sobre a crueldade do mundo o lembrava de si próprio no passado.

—...Obrigada, Major! O senhor é muito gentil.

Ani lhe direciona um sorriso, este um pouco mais sincero que o que tentou forçar minutos atrás, ao esconder seu choro. A fala de Armstrong a deixa pensativa sobre o que realmente era ser “forte” e se isso realmente fazia bem, principalmente se fazia bem a eles. Será que se eles pudessem “Não ser fortes” em algum momento isso lhes faria bem?

Ao lado, Pinako observava à Ani. Mesmo mantendo-se discreta, estava a observando desde o momento que a conheceu, se perguntando que tipo de pessoa seria a primeira aprendiz de Ed. Ainda não possuía uma opinião formada sobre a mesma, mas ela parecia ser uma garota gentil.

—Aqueles garotos se preocupam tanto com seus objetivos que acabam se esquecendo de se importar consigo mesmos. É bom que agora tenha alguém que faça isso por eles por perto.

Ani fita Pinako com um ar surpreso pelo que havia ouvido, buscando saber se havia mesmo compreendido o significado de suas palavras. Pinako por acaso estava lhe pedindo para que tomasse conta deles? Ou estava sendo muito pretenciosa ao pensar nisso? Seja lá qual fosse a resposta, fez com que seu sorriso se ampliasse, voltando sua atenção aos alimentos com mais entusiasmo.

—Eles são descuidados o tempo todo. Mas acho que eu as vezes quase ganho deles nesse quesito. -Rindo divertida.

—Isso só mostra que vocês combinam. -Ri suave- Nesse caso Ed é o mestre adequado para você.

—Pff! Eu acho que sim! -Pareceu se lembrar de algo- Ah! Major, Al está sozinho lá fora! O senhor poderia trazê-lo para dentro?

—Oh! -Nem tava chorando emocionado ali no canto com seu lencinho- Claro, senhorita! Irei busca-lo agora mesmo!

Major Armstrong sai do cômodo para buscar Alphonse e um confortável silêncio se instala entre as duas, sendo ouvidos apenas o som dos legumes sendo cortados sobre a tabua de madeira justamente com o tintilar das panelas e colheres.

—Me diga Ani, você é boa na cozinha?

—Eh? -Meio confusa com Pinako cortando o silencio com aquela pergunta- Bem... eu sei me virar! Mas nada de muuuuito destaque! Acho que sei cozinhar como qualquer outra pessoa!

—Você sabe fazer ensopado?

—Huh... Eu sei jogar um monte de legumes numa panela com agua! Mas não sei se isso seria “Fazer um ensopado”. -Ri sem jeito- Ah! Mas eu sei fazer lasanha! -Afirma toda orgulhosa.

—Oh? Aquele prato com massa?

—Isso! Aprendi com minha família!

—Hmm... -Abre um sorriso calmo. -Por que não fazemos o seguinte? Eu te ensino como fazer ensopado e você me ensina a fazer lasanha.

—Heh? Sério?

—Precisaremos de muita comida hoje, então não seria nada mal fazer dois pratos.

—Ah! C-Claro! Seria uma honra ensina-la! 

~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Edward retorna a casa dos Rockbell ao pôr do sol, e é prontamente recebido pelo abraço CALOROSO de Major Armstrong, ainda tocado pela história que havia ouvido de Pinako, emocionadíssimo por todo o zelo que Edward possuía por seu irmão mais novo e assim o esmagando com seus enormes braços, repletos de afeto, o que claro, deixou Ed “super feliz” enquanto gritava desesperadamente para que Major tivesse a misericórdia de solta-lo.

Após o fim do jantar, quando a cozinha já estava em ordem e todos estavam na fase de preguiça “pós-encher o bucho”, Ani estava cedendo um pouco de sua curiosidade e observando o mural de fotos da casa, observando atentamente cada uma das imagens ali, enquanto digeria o sentimento de satisfação que sentia por todos terem gostado do jantar que preparou com Pinako.

—Então é assim que você é, Al... -Sorridente.

—Bem, é assim que eu era quando criança!

—Oh, é mesmo! Você deve estar um pouco diferente agora! Olhe só para vocês dois pequenininhos! -Gargalhando derretida pelas fortos.

Ani continuou olhando para as fotografias até focar sua atenção em uma foto que estava parcialmente coberta por uma outra, automaticamente atiçando sua curiosidade. Ao analisar a foto, poderia supor que aquilo era um retrato em família, sendo que aquela mulher deveria ser a mãe de Edward e Alphonse e sendo assim aquele homem com o rosto coberto...

Esticou sua mão para revelar o rosto escondido daquela foto, tentando ser discreta para não parecer inconveniente ou evasiva, mas...

—Ani! -Ani dá um pulo de susto, rapidamente se virando para Winry com um sorriso de “Não tava fazendo nada”.- Vou preparar uma cama para você! Se importa em ficar no meu quarto? -Pergunta Winry, segurando alguns lençóis nas mãos.

—Ah! Claro que não! -Se aproxima dela- Eu que deveria lhe perguntar isso!

—Ah, não tem problema! Estarei ocupada com o Automail, então poderá ficar à vontade. -Caminhando para o quarto com ela.

—Heeeh... você está realmente dando duro, Winry-san. Obrigada por fazer tanto pelo Ed. E obrigada pela hospitalidade em me receber. -Se curva novamente.

—Hahah! Eu faço isso porque ele é um ótimo cliente! -Responde com o rosto levemente vermelho, tentando não parecer que se importava tanto assim.- Eu que deveria agradece-la por ficar de olho neles!

*~*~*~*~*~*~*~*~*

Durante a noite, Edward acorda no sofá do andar de baixo, onde acabou adormecendo após o jantar. O céu lá fora ainda estava escuro, recém começando a clarear, por volta das 5 da manhã. Permaneceu sentado no sofá num ar sonolento, quando foi atraído por ruídos vindos da oficina, lá encontrando Winry trabalhando em seu automail. Tentou provocar-la comentando sobre como ela era aplicada estando de pé trabalhando tão cedo, mas seus planos não correram como o esperado quando soube que ela na verdade, nem havia dormido.

Frustrado por sua brincadeira não ter dado certo, resolve caminhar até o quarto, pois suas costas já estavam doloridas por ter dormido no sofá e precisavam de uma cama decente. Ao aproximar-se da porta escuta as vozes de Ani e Alphonse, lhe deixando curioso tanto por ela estar ali, quanto pelo horário que os dois estavam acordados.

Abre a porta, vendo Ani sentada de lado no batente da janela, olhando para Alphonse que estava na caixa próximo a ela, os dois riam.

—Ah! Ed! Acordou cedo!

—O que houve Nii-san? Teve um sonho ruim?

—O que estão fazendo acordados?

—Ani não estava conseguindo dormir!

—Então vim conversar! -Completa sorridente. -Não consegue dormir também, Ed?

—Eu acordei no sofá.

—Venha conversar também!

Edward se aproxima deles, logo se jogando na cama próxima do irmão e colocando os braços atrás da cabeça.

—Sobre o que estavam conversando?

—Al estava me mostrando seu caderno de anotações!

—Caderno? -Ed se perguntou por um momento porque um caderno de anotações seria algo interessante que Al quisesse compartilhar, até que associa que eles deveriam estar falando sobre o caderno em que Alphonse costumava a anotar as coisas que gostaria de fazer depois que recuperassem seus corpos.- Aaah! Aquele caderno.

—Ani estava me ajudando a pensar em coisas para aumentar a lista! -Risonho.

—Aaah! Falando nisso! -Apontou para ele- Nadar!  Definitivamente você precisa nadar!

—Hoooooh! Tem razão! Seria ótimo poder voltar a sentir a água!

—Siiim!

Ed observava os dois conversarem com um sorriso sereno. Gostava muito de ver o irmão feliz daquele jeito, e também o deixava feliz ver ele sonhando com o dia que recuperassem seus corpos. Ver que Al se mantinha otimista o deixava mais determinado em continuar seguindo em frente.

—Hm... -Colocando a mão no queixo pensativa.- Que comida combina com um dia de banho de rio...?

—Melancia. -Responde Edward.

—Sim! Melancia!!! -Exclamam os outros dois num tom animado, arrancando risos de Ed.

Puderam então ouvir ao fundo a voz irritada de Winry dizendo que eles estavam fazendo muito barulho e que deveriam fazer silencio ou acordariam a casa toda, assim os aquietando, embora Ani ainda risse baixinho.

—Por que não conseguiu dormir? -Edward volta a falar- Por acaso tem medo de dormir sozinha ou algo assim? -Pergunta num tom risonho.

—Claro que não! -Gargalha- Eu só estava com muita coisa na cabeça! Eu simplesmente adoro o campo! E estar em Rizembool acaba me deixando com muita saudade de casa, o que já atrapalha um pouco meu sono! Além disso, pude conhecer mais sobre vocês dois hoje! -Faz uma breve pausa em sua fala, parecendo pensar em algo- Vocês são protagonistas bem incomuns, sabiam?

—Hã? -Arqueia a sobrancelha.

—Você sabe! -Gesticulando- Normalmente os protagonistas das histórias são pessoas solitárias que acabam passando por várias dificuldades sem ter a ajuda de ninguém! Mas vocês... Vocês são queridos por muita gente e possuem muitas pessoas que os apoiam. Eu gosto disso.

—Como assim "protagonistas"? Isso não é um livro ou coisa assim.

—Ora, nunca ouviu falar que somos os protagonistas de nossas próprias histórias? Você seeeempre é o personagem principal de sua vida, Ed! Eu nunca gosto da ideia que os livros trazem quando dizem que a verdadeira força é a que adquirimos ao lutar sozinhos. Eu acho que somos mais fortes quando temos a força dos que torcem por nós. -sorridente.- Não acham?

Os irmãos se entreolham, achando aquela conversa bem curiosa.

—Hm... Acho que seria muito triste ter que passar por tudo sozinho. -Responde Alphonse.

—Não acha que as coisas parecem um pouco mais fáceis de se passar porque vocês dois estão juntos nisso?

—Hm... -Ed sorri, com os olhos voltados para o teto.- Tenho que concordar.

—Eu sempre me sinto mais forte quando estou com vocês! Mesmo quando tenho certeza que vai dar ruim, sei que de alguma forma vai dar certo! -Risonha.

—Isso foi um insulto? -gargalhando.

—Não é minha culpa que vocês sempre me metam em confusão!

—Como se fosse só a gente!

—Vocês ganham nessa competição! -Gargalha novamente, tentando dessa vez rir mais alto para não levar um outro puxão de orelha. Em meio a isso, surge outra curiosidade em sua cabeça.- Nee! Nee! Al, se você pudesse escrever sua própria história, como ela terminaria?

—Escrever minha história?

—Sim! Imagina que você tenha uma caneta mágica e pudesse escrever como seria sua vida daqui para frente. O que escreveria?

Novamente a pergunta lhe pareceu curiosa.   

—Hm... -Al se coloca a pensar, observando o céu pela janela enquanto pensava nas coisas que queria na vida, lembrando então de seu caderninho onde anotava as coisas que gostaria de fazer depois que recuperasse seus corpos e tentando sintetiza-lo um pouco.- Nós teríamos nossos corpos de volta e eu comeria a torta de maça da Winry!

—A torta? -Rindo divertida por Alphonse estar falando sobre ela novamente.- Essa torta deve ser boa mesmo, huh? É um bom final! Comemorações devem ser feitas com comida! -Afirma num tom solene- E você, Ed?

—Hm... Eu não sei. -Dá de ombros continuando à olhar para o teto, sorrindo de forma distante enquanto ouvia o irmão. Não se sentia muito à vontade para pensar no futuro assim, preferindo manter suas próprias ambições com os pés no chão. - Porque não diz você?

—Eu? -Volta a colocar a mão no queixo.- Hm... O meu final ideal seria um final em que todos ficam felizes!

—Pfff! Claro. -revira os olhos brincalhão.

—Ah! E eu gostaria de poder me casar!

Os dois se irmãos se entreolham e então olham para Ani numa feição um pouco surpresa pela curva brusca que o assunto fez.

—Casar? -Ed questiona.

—Sim! Eu gostaria de um dia ter um casamento beeeeem lindo! E eu chamaria todos daqui! -Animada de repente- Ah! E eu com certeza teria várias flores para decorar!

—Pfff! Isso é o sonho de uma garotinha! -Comenta Ed num tom brincalhão.

—Eu tenho 14 anos, Ed! -Olha para ele sorridente.- Eu ainda sou uma garotinha! Assim como você e Al também no fundo ainda são garotinhos. Eu sei que na maior parte do tempo nós temos que agir como adultos, principalmente você que possuí a patente do exército... Mas sabe? As vezes deveríamos nos aproveitar de nossa pouca idade e agir como crianças. -Volta a fitar o céu- Sonhar um pouco purifica nossa alma.

Os irmãos ficam em silêncio, pensativos com que Ani diz, ambos fitando o céu estrelado assim como ela fazia. Era algo tão raro ouvir alguém lhes dizer que eram crianças... Normalmente todos a sua volta os tratavam como adultos, porque sabiam que eles precisam ser assim para passar por sua jornada difícil e ter alguém os recordando de que apesar de tudo, ainda eram adolescentes, os deixavam um tanto atordoados.

Após um momento de reflexão, Alphonse decidido, volta a falar.

—Eu também gostaria de me casar um dia.

—Sério? -O encara sorridente, feliz por vê-lo entrando na onda de devanear um pouco.

—Sim! -Sorrindo também, se permitindo ao menos um por um momento, "sonhar como uma criança"- Gostaria de poder me casar com alguém de quem eu goste muito e eu também gostaria de ter lá todas as pessoas que eu gosto. -Pensa um pouco- Ah! E nii-san seria meu padrinho!

Edward gargalha num tom mais suave ao ouvir o desejo do irmão. Jamais havia pensado numa situação como aquela, mas ao imaginar-se acompanhando o irmão em um momento tão importante, não achava nada ruim pensar em um futuro assim.

—Hoooah! Imaginando isso parece ser tão lindo! -Comenta sorridente, se empolgando com a conversa e virando o tronco para eles, ficando pensativa logo em seguida.- Parando pra pensar eu não tenho um padrinho... -Poderia ser seu irmão, mas com o jeito que as coisas estavam complicadas entre eles, não sabia se ele aceitaria, ao menos não até o momento.

—Eu posso ser seu padrinho também. -Edward resolve se permitir entrar um pouco na brincadeira, embora não fosse bom em falar daquele assunto.- Posso ser o de vocês dois.—acrescenta, frisando a última parte olhando para Alphonse com um sorriso faceiro, o qual o deixa constrangido no mesmo instante. Normalmente não brincava com o irmão daquela forma, mas já que estavam sendo crianças, por que não?

—Eh? Sério? -Toda sorridente e inocente do duplo sentido da afirmação de Ed, logo se empolgando com a ideia de ter Ed como padrinho, sentindo o coração no peito até aquecer-se um pouco.- Isso seria maravilhoso! Então decidido! O meu final ideal seriam todos nós felizes com o Ed sendo padrinho do meu casamento!

—Pfff! -rindo divertido- Então o meu seria poder ter umas férias depois dessa loucura toda. E quem sabe uma lei que proíba o consumo de leite.

Alphonse e Ani riem alto.

—E o meu seria torta de maçã, nossos corpos de volta e poder me casar com quem eu gosto.

Ao ouvir a síntese de Alphonse, Ani automaticamente fica interessada, o fitando com um olhar curioso e um sorriso animado.

—Heh? "Com quem eu gosto?" Há alguém de quem você gosta, Al?

Al trava por um momento, levemente constrangido por seu "furo". Encarou Ani que ainda o encarava de volta com um sorriso radiante, ansiosa em saber sua resposta, enquanto Ed, ao lado dela, sorria divertido observando o teto, esperando para ver como o irmão escaparia da curiosidade de sua aprendiz.

E de repente, ao observar a situação em que se encontravam, Alphonse tem a percepção da paz que os rodeava durante aquela conversa simples sobre sonhos. Todos aqueles momentos de calmaria e risadas que começaram a ocorrer com mais frequência desde que Ani se juntou à suas viagens, sempre faziam com que Alphonse se sentisse confortável, estes momentos se tornaram algo de estrema estima para o Elric mais novo pois o faziam se sentir... Em seu lugar.

Ani os fazia lembrar da pouca idade que tinham e se permitirem ser sonhadores, impulsivos e bobos novamente. Coisa que já não se permitiam há muito tempo, pois a jornada que trilhavam tinha um peso maior em suas prioridades do que simplesmente serem adolescentes. Mas ela os fazia ver que eles podiam de vez em quando agir com imaturidade e se deixarem levar pelas emoções e ambições que ditavam o coração. Não havia nada de errado nisso e isso também os fortalecia.

Diante desta reflexão, Alphonse consegue por fim compreender o sentimento que a algum tempo estava desenvolvendo, sentimento que talvez por pensar que não deveria sentir naquele momento de sua vida, onde já tinha tantas coisas que desejava e precisasse se preocupar, tivesse deixado enterrado em sua alma. Mas, se naquele momento eles podiam ser crianças sonhadoras... Então ele também poderia amar se quisesse.

—Hahaha... Isso é um segredo~

—Heeeh? Mas eu quero saber! Atiçar minha curiosidade desse jeito é maldade! -Protesta num ar birrento, provocando mais risos nos irmãos e um outro puxão de orelha, desta vez por Pinako.

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

O dia seguinte correu como o anterior, apenas vivendo cotidianamente enquanto esperavam que o automail de Ed ficasse pronto. Ao fim do dia, Ani estava entediada no quarto olhando para os campos de Rizembool pela janela, um tanto risonha por se recordar da conversa que tiveram. Novamente tomada pela nostalgia e saudade de seu próprio lar, se põe a imaginar como estaria seu irmão e o que estaria fazendo naquele momento. Deveria escrever uma carta ou algo assim, pelo menos para lhe dizer que estava bem.

—Ele ao menos tem o direito de saber que eu estou viva, né? -Falou para si mesma, enquanto apoiava sua cabeça em uma das mãos.

Continuou passeando seus olhos pelos campos, até seu olhar focar em algo ao alto de uma colina não muito distante dali. Estreitou um pouco os olhos para tentar enxergar melhor, tentando identificar o que seria.

—Aquilo é... uma construção? -Tomba a cabeça para o lado.

Ficou curiosa sobre aquela construção, pois elas pareciam mais algum tipo de ruína do que vestígios de que construíam algo. Porém, logo seu cérebro liga os pontos e consegue uma hipótese do que seriam aquelas ruinas.

Permanece olhando para a colina de forma distante, antes de se afastar da janela e sair da casa dos Rockbell, cedendo a sua curiosidade de olha-la mais de perto.

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Já era final do dia quando Edward regressa depois de resolver alguns assuntos por Rizembool e acabar revendo alguns conhecidos pelo caminho. Entrou na casa, com uma feição cansada, pois era exaustivo caminhar tanto, ainda mais com um automail que não estava acostumado e não era nem de longe tão bom quanto os feitos sob medida para si.

Assim que pisa na casa estranha o silencio do lugar, salvo os sons vindos da oficina de Winry. Olhou em volta por um momento e não vendo sua aprendiz, se aproximou do irmão.

—Bem-vindo de volta, Nii-san!

—Onde Ani está, Al?

—Ela saiu mais cedo, disse que queria dar uma volta! Mas não voltou até agora.

—Já está quase na hora do jantar, deveria ir busca-la Ed. – Diz Pinako ao ouvir a conversa deles.

—Talvez ela tenha se perdido no caminho de volta! -Diz preocupado- Não é fácil andar por um lugar que não se conhece.

Edward suspira, coçando sua nuca. Não que duvidasse da capacidade de Ani de se cuidar sozinha, afinal, ele próprio já havia presenciado que ela sabia como lutar e depois de viajar sozinha durante tanto tempo, já deveria ter experiência de sobra para conseguir se virar. Porém, se ela realmente tivesse se perdido no caminho como Alphonse havia dito, não havia muito o que fazer senão ir busca-la. Os moradores de Rizembool eram um povo que se recolhia cedo e além disso, muitas casas eram distantes umas das outras. Não haveriam pessoas nas estradas para quem Ani pudesse pedir informações.

—Eu vou traze-la de volta.

—Não demore, ou ficará sem jantar! -Provoca Pinako.

—Certo, certo. -Responde com um sorriso calmo, por saber que se tratava de brincadeira.

Edward deixa a casa novamente, ficando um pouco sério enquanto pensava onde Ani deveria ter se metido para não voltar até então. Possuía algumas hipóteses de lugares que poderiam ter despertado a curiosidade de Ani, e a levado a ficar tanto tempo fora. Também possuía a possibilidade dela ter arrumado algum tipo de emprego temporário para conseguir algum dinheiro enquanto estivessem por lá. Durante o tempo que a conheceu, Edward pôde aprender duas coisas que eram bem fortes em Ani: Era muito curiosa e adorava trabalhar.

Decidiu examinar sua primeira hipótese. Só sabia de três locais do conhecimento de Ani em Rizembool que poderiam ter algum motivo para que ela fosse até lá. Um deles era a casa de Winry, o qual obviamente ela não estava. O segundo seria o cemitério, onde talvez por algum motivo ela quisesse deixar uma oração para sua mãe por saber que ela havia falecido e o terceiro local era sua antiga casa.

Não sabia bem porque motivo ela iria até lá, mas sabia que ela era uma pessoa com uma grande carga de compaixão dentro de si. Talvez quisesse olhar com seus próprios olhos o que fizeram para compreender melhor? Edward não sabia, mas seguiu caminhando, propositalmente percorrendo um caminho mais longo para poder cobrir uma área maior e assim poder encontra-la se ela tivesse parado para trabalhar em algum lugar.

Ani não estava no cemitério, embora houvessem vestígios de que talvez tivesse passado por lá. Havia uma flor na sepultura de sua mãe além do buque que havia levado no dia anterior. Sendo assim, restava checar sua próxima hipótese.

A passos lentos, Edward caminhou pelas estradas de terra até chegar a colina onde ficava sua antiga casa, a subindo sem muito ânimo já que ali não era exatamente seu lugar preferido no mundo, embora tivesse sido um dia.

“Bingo” foi o que pensou quando viu quem procurava em frente aos escombros de sua antiga casa, observando todo aquele monte de madeira, tijolos e outros materiais carbonizados. Caminhou até ela.

—O que está fazendo aqui? -Questiona num tom calmo.

Ani olha para Edward por um momento antes de retornar seus olhos para a casa, portando uma expressão séria em seu rosto. Edward já acostumado a vê-la o cumprimentando sempre com um sorriso, a princípio estranhou um pouco sua atitude, porém pode compreender diante da paisagem a sua frente.

—Vocês são ousados, huh?

Edward arqueou a sobrancelha.

—Não sei se algo assim pode ser considerado ousadia.

—Eu acho. -responde simplesmente.- Por que fizeram tudo isso?

Edward suspirou.

—Foi para que não pudéssemos mais voltar atrás na nossa decisão de recuperar nossos corpos. Assim, não teríamos para onde voltarmos nem se quiséssemos.

—Mas vocês ainda têm um lugar para ficar aqui.

—É diferente. -Sorri sem ânimo.- Você conseguiu ver da casa da Winry, não é? Por isso está aqui. Mesmo quando estamos lá, ainda podemos ver isso para nos lembrar do que precisamos recuperar.

—Então foi aqui? -Edward assente- Wow...

Ani possuía um leve sorriso, sem tirar os olhos dos escombros da casa. Ed ainda estranhava seu comportamento tão apático.

—Por que você quer tanto isso a ponto de queimar sua casa? Vocês estão vivos, não? O que mais quer?

—Eu estou fazendo isso pelo Al. -passa a mão pelos seus cabelos até a nuca, incomodado em ter que falar sobre aquele assunto. -Não há ninguém que aceitaria facilmente ficar em um corpo em que não se pode sentir.

—Nem sempre. Algumas pessoas simplesmente aceitam o corpo na qual foram postas. Ele deveria simplesmente aceitar que aquilo é o que ele é agora.

Edward fica ainda mais surpreso com a fala que sai da boca de Ani. Se não estivesse vendo com seus próprios olhos, não acreditaria que ela havia falado algo cruel como aquilo, muito menos que algum dia a ouviria chamar Alphonse de “aquilo”.

—Aquele não é o corpo do Alphonse. -Responde irritado. -Eu jamais o deixaria viver daquele jeito. Ele costuma a ser positivo, mas eu sei o quanto é difícil para ele.

—Será que sabe mesmo?

—Eh?

Ani finalmente vira seu corpo para Edward, mantendo seus braços atrás de seu corpo como esteve fazendo desde que o alquimista chegou, olhar dela parecia diferente para ele. Sem o habitual ar alegre de sempre, desta vez suas íris refletiam um estranho ar maldoso juntamente com um leve sorriso em seus lábios.

—Você saiu bem nisso tudo. Afinal, a verdade só levou seus membros. Você ainda é considerado ser humano por todos os demais. Mas e quanto a ele? Quantas pessoas será que realmente o consideram uma pessoa e não uma simples criação da alquimia como uma quimera qualquer?  

A cada palavra que Ani proferia Edward se enchia de uma estranha mistura de surpresa, choque e raiva. Sabia que a conhecia a não muito tempo, mas jamais imaginou tal crueldade saindo de sua boca. Nesse momento repreendeu a si mesmo por não confiar em seu instinto anteriormente. Sempre soube que ela escondia algo, mas escolheu respeitar seu tempo por acreditar que ela o contaria quando estivesse pronta para isso. O pensamento de que os segredos que ela guardava na verdade era aquela parte de sua personalidade fizeram Edward pensar que talvez tivesse feito a escolha errada, embora o tamanho desconcertamento que possuía não o deixasse refletir muito sobre isso.

—Na verdade o motivo disso tudo -gesticula para a casa- É porque na verdade você se sente culpado pelo que houve com seu irmãozinho, não? Você deveria mesmo se sentir culpado. Pobrezinho, tendo que viver sua vida com aquele corpo vazio. Enquanto você simplesmente pode se dar ao luxo de se "Sentir culpado" -A garota começa a rir, como se realmente achasse toda aquela situação hilária. Edward sentiu a fúria aumentar conforme a ouvia, mas a ira se continha pelas rédeas da culpa, por no fundo, saber que tudo o que ela dizia era mesmo a verdade. Por saber que Alphonse era o mais prejudicado por um erro que considerava mais seu do que de seu irmão. Esta culpa fazia com que Edward não revidasse aos insultos, assim como o choque de ver ela agindo daquela forma. - Uma pessoa com você não mereceria perdão algum.

Edward levanta o olhar para ela, só então percebendo que estava fitando o chão, talvez por se sentir envergonhado por seus atos tivesse fugido de seu olhar sem nem notar. Entretanto, a feição de culpa que ele carregava some rapidamente quando arregala os olhos ao ver Ani segurando uma lâmina que estava anteriormente escondida entre suas roupas. Lâmina esta que até então, Edward não sabia que ela possuía.

O sorriso até então maldoso que ela exibia aos poucos foi morrendo até restar uma expressão séria e vazia. Tomando impulso com seus pés, avançou sobre Edward sem hesitar e deferiu seu ataque.  

—Desapareça... Alquimista.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá na minha página, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver as vezes. ;) https://www.facebook.com/TordTheWriter/

—Tord.



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