Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 7
Aproximando-me de você




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—Hey, a quanto tempo, não é? Pedi para que ele tomasse conta de você, mas aquele idiota foi covarde e não cumpriu sua promessa. Depois que saiu da casa daquele homem... eu não a encontrei mais. Você também esteve com medo? Acabou indo parar tão longe, afinal. Teve medo do que? Está tentando fugir de quem? Quem é seu inimigo? Bem... isso não importa agora!  Eu estou indo até você... não deixe que eles te encontrem antes de mim.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Pouco a pouco começava a retomar a sensibilidade sobre sua pele. Gradativamente, a imagem daquela boca pronunciando aquelas palavras, juntamente com aquele sorriso enigmático sumiam de sua cabeça. Ouvia vozes ao seu redor, sentia algo fofo em suas mãos enquanto apertava as pálpebras e resmungava baixinho.

Poucos minutos se passaram até que seus olhos se abrissem e a primeira coisa que pode ver, fora branco. Um teto inteiramente branco juntamente com uma luz clara que incomodava seus olhos sonolentos. Percebeu que havia algo sobre sua testa, algo úmido. Franziu o cenho, um tanto confusa.

—Ei.-Automaticamente virou a cabeça para o lado, encontrando dois rostos conhecidos. Um deles riu alegremente, enquanto o que lhe dirigia a palavra possuía um fraco sorriso- Finalmente acordou.

Ainda sem dizer nada, Ani sentou-se na cama, sentindo algo cair de sua testa. Olhou para seu colo e descobriu que o que repousava ali anteriormente era um pano úmido.

A jovem parecia atordoada e confusa, seu corpo inteiro apresentava lentidão. Na forma como piscava e como movia suas íris azuis analisando o cômodo, a forma limitada que movia o corpo e como ainda não havia dito nenhuma palavra. Ani parecia um corpo vazio, exausto e sem alma.

Olhou novamente para os irmãos, só então percebendo o que Ed estava sem seu automail e Alphonse parcialmente destruído. Como se sua consciência tivesse sido reconectada, seu rosto finalmente ganhou expressão, arregalando os olhos quando as lembranças invadiram sua mente como uma avalanche. Suas sobrancelhas se curvaram numa feição preocupada e assustada, ficando claramente inquieta logo em seguida, só então podendo finalmente dizer algo:

—E Scar? O que houve com ele?

—Ele escapou.

—E vocês dois? Estão machucados?

—Nós?- Ambos começaram a rir- Você acabou de acordar na cama de um hospital! Não quer saber se você está bem?

—E-Eh? Eu?

Só então Ani pareceu tomar plena ciência de que de fato estava sobre a cama de um hospital. Analisou seu corpo por um momento e pôde constatar alguns curativos em seus braços e mãos, juntamente com alguns arranhões certamente provocados pelo desespero em fugir de Scar. Sua cabeça doía amenamente e sentia fome. Porém, apesar disso, parecia estar bem quando comparada aos dois.

—Durante a noite sua temperatura subiu muito. -Diz Alphonse, capturando a atenção de Ani para si.- Coronel nos disse que quando chegou, Scar estava te sufocando... e que você ficou inconsciente logo depois dele te soltar. Depois disso a febre e parecia ter dores... ficamos preocupados!

—A temperatura baixou próximo do amanhecer e você começou a dar sinais de melhora. E agora acordou.

Ani absorveu a explicação em silencio. Estranhamente, não pareceu surpresa ou assustada com o que havia acontecido enquanto estava inconsciente, simplesmente suspirou de maneira cansada e balançou a cabeça positivamente.

—Entendi... Desculpe por ter causado problemas.

—Você não causou.

Ani olhou para seu próprio colo, tomando o pano úmido em mãos. Não dizia nada, mas em seu olhar e expressão era possível ver que sua mente estava agitada de pensamentos, refletindo profundamente sobre alguma coisa em seu amago.

Olhou para Ed pelo canto dos olhos, vendo que ele também a encarava, algo parecia rondar sua cabeça e Ani podia perceber isso. Os olhos de ambos conversavam entre si, azul e dourado se comunicavam, tornando possível saber o que se passava pela cabeça do outro naquele momento.

—Nós precisamos conversar, não é?-Diz Ed.

—Sim... -Ani aperta o tecido entre suas mãos nervosamente, voltando o olhar para seu colo na tentativa de evitar o de Ed.-Você quer saber como eu fiz aquilo, certo?

—Sim, eu quero. Mas não agora. -Edward suspirou- Falaremos disso quando você estiver fora daqui. Agora eu tenho outra coisa para dizer.

Com um pouco de receio Ani olhou para Edward, mas mal conseguiu visualizar seu rosto e é atingida por uma forte pancada em sua cabeça.

—AIEEEE!

Assustada e ainda mais confusa levou ambas as mãos até a cabeça que latejava pela dor e olhou para Edward que parecia estar extremamente irritado. A mão que havia lhe dado um cascudo agora estava próxima ao peito do loiro, mantendo o punho fechado dando ainda mais ênfase a ira do Elric mais velho.

—P-Por que fez isso?!

—VOCÊ!-Ani estremece-NUNCA MAIS FAÇA UMA MERDA DAQUELAS DE NOVO! SE O MUSTANG NÃO TIVESSE CHEGADO AQUELE CARA TERIA MATADO VOCÊ!

—Nii-san! Estamos em um hospital! Pare de gritar!

—NÃO IMPORTA! SUA GRANDE IDIOTA!

Os olhos de Ani permaneciam estáticos diante do rosto raivoso de Ed, parecia que seu corpo havia sido desligado novamente, pois apenas encarava Edward com suas mãos na cabeça sem dizer nada em protesto.

O mais velho tentou se acalmar um pouco enquanto fitava a expressão abobada de sua aprendiz. Devido a sua experiencia com Winry estava esperando que ela reagisse com xingamentos e mais raiva, porém, Ani apenas o encarava em silencio, demorando alguns segundos para sair do estado imóvel e conseguir dizer alguma coisa.

—Me... desculpe.

Apesar do pedido de desculpas, Ani não possuía uma feição arrependida e sim apresentava um sorriso levemente sem jeito, enquanto esfregava sua cabeça que ainda doía um pouco.

—Por que está sorrindo?-Edward franze o cenho.

—É só que... já faz algum tempo desde que alguém me repreendeu assim.-riu- Você parece um irmão mais velho, Ed!

—Isso é porque eu sou um.-Bufa-Se você fizer algo assim de novo...

—Nii-san tem razão! Aquilo foi loucura!

Ani apenas riu enquanto balançava sua cabeça positivamente, o que fez com que Edward revirasse seus olhos. Quando o riso de Ani cessou, deixou como vestígio um suave e também nostálgico sorriso.

—Eu não posso garantir, mas vou tentar!

Ani chutou os lençóis e pisou os pés descalços no chão frio, se levantando calmamente. Ao ficar de pé, sentiu os joelhos fraquejarem, tendo que se apoiar em Edward para que não caísse.

—Ei, você não deveria se levantar ainda!

—Eu estou bem.-sorriu-Só com um pouco de fome.

Ani caminhou até a caixa onde Alphonse se encontrava dentro, para que nenhum de seus fragmentos se perdesse, mantendo-os todos juntos. Ajoelhou-se próximo a caixa, apoiando seus braços na borda da mesma e sorrindo para o outro.

—Obrigada por confiar em mim, Al! E...-abaixou o olhar- Desculpe por não ter feito algo mais rápido.

—Isso não foi sua culpa! Fico feliz que esteja bem, Ani!

—Mas nós podemos... consertar você?

—Eu posso fazer isso.-Diz Ed- Mas primeiro eu preciso consertar meu braço. Então estamos indo para Rizembool!

—Rizembool?

—É onde Al e eu crescemos.

—E onde mora nossa amiga de infância e mecânica no Nii-san.

—Amiga de infância...

Ani olha para Al, arqueando uma das sobrancelhas em questionamento. Alphonse riu suavemente, já imaginando o que ela estaria pensando naquele momento.

No mesmo momento o sorriso de Ani cresce ganhando uma estranha animação aos olhos de Edward.

—Por que estão rindo?

—A-Ah, é que... eu lembrei da piada sobre o alquimista.

—Que piada?

—Eu esqueci!-riu.

Edward apenas bufou novamente, enquanto revirava os olhos com um suave sorriso. Estava aliviado por a velha Ani ter voltado, pois a que vira no dia anterior, havia o deixado preocupado. Nunca pensou que um dia a veria tão assustada e depois... parecendo tão vazia, contrastando completamente com a garota cheia de vida da qual havia se acostumado a ter por perto. Gostaria de ter a oportunidade de retomar este assunto com ela quando fosse mais apropriado, pois pode ver na luta contra Scar que Ani havia mais coisas em seu interior que ainda gostaria de compreender.

Ed levou o indicador até o alto da cabeça de Ani, a chamando atenção por um momento e ao mesmo tempo fazendo-a contrair o corpo devido a dor que ainda sentia pelo cascudo levado.

—Eu e Al temos que conversar com Mustang, fazer os preparativos para voltar para Rizembool. Você vai ficar aqui para fazer os exames finais e confirmar se está mesmo tudo bem com seu corpo. Venha nos encontrar na estação quando terminar, entendeu?

—Sim, entendi!-sorri- Mas como vai levar Al até lá?

Edward saiu do quarto e após alguns instantes voltou acompanhado de outro militar. Muito alto, muito forte, muito... peculiar com aquele cachinho caindo sobre sua testa. Qualquer pessoa normal o acharia um tanto esquisito e talvez até o achasse suspeito se não fosse pelo uniforme, mas ao ver o loiro os olhos de Ani quase pulam para fora de surpresa.

—O ALQUIMISTA DOS BRAÇOS PODEROSOS!!

Edward só pode ver um vulto passar diante de seus olhos, para depois ver Ani literalmente pendurada num dos braços de Major Armstrong, com o maior dos sorrisos e um brilho emocionado nos olhos.

—Ah, meu deus! Major Armstrong!! Alquimista dos braços poderosos! Eu não acredito!

—S-Senhorita?

—Oh!! Olha o tamanho desses braços! Ed olha o tamanho dos braços! ED, OS BRAÇOS!

—Eu já entendi! Você se supera a cada dia...-Ed parecia irritado-Desça daí!

—Que? Não! É o Major Armstrong! -Ani volta a olhar pra ele- Que olhos maravilhosos que você tem!!

—Oh, os olhos azuis são passados de geração em geração pela família Armstrong, senhorita! Todos os membros da minha família são donos destes olhos.

—E seu cacho loiro também é lindo! Eu...-Ani ganha um sorriso assustador- Posso tocar?

—A vontade!-Major Armstrong sorri e curva a cabeça para que Ani pudesse alcançar o precioso cacho loiro.

—Aaaah! Eu não acredito que toquei! Alguém me ajuda, eu tô passando mal...

—Fico feliz que esteja contente, mas senhorita, não é adequado que se pendure desta forma em um homem!

—O-Oh! Meu deus, desculpe!

Imediatamente Ani se solta de Major Armstrong, estando um tanto constrangida por ter se descontrolado, mas ainda claramente empolgada pela presença do Alquimista.

Porém, Armstrong não parecia ofendido com aquilo, toda a simpatia que emanava do maior não acabaria por um ataque de euforia de uma garotinha. Com toda a classe presente na careca reluzente, Armstrong estendeu sua mão a Ani. Não dá forma como alguém que oferecia um aperto de mão, mas sim se curvando como o cumprimento de um cavalheiro a uma dama.

—Me chamo Alex Louis Armstrong, é um prazer conhece-la.

—A-Ani, Harris!-Ani devolve o cumprimento.-I-Igualmente!

Tendo finalmente cumprimentando-a como sua boa educação lhe mandava, Armstrong passa a falar com Edward, enquanto Ani literalmente se jogava de joelhos no chão próximo a Alphonse dizendo eufórica: “É ele! É ele! Eu não acredito que além de Roy Mustang eu também conheci ele!!!”, enquanto Alphonse ria de seu ataque e tentava acalma-la um pouquinho.

—Major, nós precisamos falar com o Coronel, eu preciso consertar meu braço, para poder consertar o Alphonse, então nós dois precisamos vê-lo para informa-lo sobre isso. Você pode me ajudar com o Al?

—Sem problemas! A força é um dom passado de geração em geração pela família Armstrong!-Major vira para onde Alphonse estava- Com licença, senhorita.

Ani se afasta como fora pedido e Major pode levantar a caixa onde Alphonse estava, levando-o até a porta de entrada, aguardando por Edward.

Ver Armstrong levantar Alphonse com tanta facilidade (te enche de determinação) fez com que os olhos de Ani brilhassem novamente, beirando outro ataque de histeria que felizmente, fora interrompido por Edward.

—Termine com exames. E não fuja do hospital, se fizer isso vou saber.

—Quem faria uma coisa dessas?

—Você faria. -Diz Alphonse entre risos- Nos vemos depois, Ani!

—Eu não vou!-sorriu-Vão falar com o Coronel! Até depois!

Ainda meio desconfiados, os irmãos saem do quarto, deixando Ani sozinha pela primeira vez desde que acordou.

A solidão trás como consequência a retomada das lembranças do dia anterior, mas especificamente... sobre aquela voz, sobre coisas que lhe disse. Pelo que havia compreendido, havia alguém vindo ao seu encontro e isso a enchia de incertezas. Quem estaria vindo e o que queria eram perguntas que rondavam sua cabeça e a amedrontavam, ainda mais por algo que havia se recordado enquanto lutava com Scar, aquela sensação que conhecia tão bem, mas havia sido abençoada pela capacidade de esquece-la por algum tempo.

Seus pensamentos só foram cessados quando a porta do quarto abriu-se e uma enfermeira entrou por ela, sorrindo gentilmente.

—Fui informada que você acordou! Como está se sentindo?

—Ah, eu estou bem! Preciso que me dê alta logo, não posso mais atrasar aqueles dois!

—Sim, claro. Só precisamos examinar seu corpo mais uma vez para ter certeza de que está tudo bem com ele.

—Tudo bem.-A enfermeira se aproxima de Ani enquanto esta senta-se sobre a cama.-Han... quando estavam me examinando... Ed e Al ficaram por perto?

—Sim, eles não saíram de seu lado!

—Eles ficaram o tempo... todo?

Ani mandava um olhar preocupado para a enfermeira, que não pareceu compreender. Após uma curta troca de olhares, a mulher pareceu entender o que Ani queria saber, sorrindo para confortá-la.

—Eles não viram seu corpo, senhorita. Neste sentido, pode ficar tranquila! Seu corpo estava bem, apenas estávamos preocupados com sua cabeça. Não foi necessário despi-la, pois não haviam grandes ferimentos no tronco. Apenas examinamos pulso, pressão arterial e coisas assim.

—Ah...-corou- Tudo bem...Obrigada.

—Bem, vamos logo para que você possa receber alta!

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Edward e Alphonse tem sua conversa com Coronel Mustang, o deixando ciente da viagem para Rizembool. Coronel concordou com a viagem, mas apenas se os irmãos levassem Armstrong como escolta, para que pudesse os ajudar numa possível volta de Scar, afinal, Edward ainda estava em sua mira.

Após isso, os irmãos saem acompanhados de Major Armstrong, já todos com suas coisas postas em malas para a viagem e também trazendo a mala de Ani. Apesar de todos os males, Ani era uma pessoa bem organizada com suas coisas.

Saíram ao encontro da jovem na estação ferroviária. O desafio agora era encontra-la! Ani não era o tipo de pessoa que ficaria simplesmente esperando-os sentada no banco, conhecendo-a bem, deveria ter aproveitado o tempo livre para conseguir algum dinheiro.

Não precisaram olhar muito para perceberem que haviam algumas pessoas olhando para o local onde ficava um alto poste que sustentava um grande relógio de metal em seu braço adjacente. Encontravam quem procuravam pendurada de cabeça para baixo no poste, segurando-se com suas pernas e mexendo na parte posterior do relógio, onde ficavam suas engrenagens. Havia um senhor próximo ao poste, que passava algumas ferramentas a Ani quando ela as pedia.

Aproximaram-se.

—O que você está fazendo agora?

—Ed, Al! -sorriu- Um minuto!

Eles puderam ouvir um “clik” de uma alavanca, seguido de Ani colocando uma chave de fenda em sua boca e se aproximando mais do relógio para que pudesse ver seus ponteiros.

—Horas!

—Han..-o senhor encara o relógio em seu pulso- São 10:15!

—Obrigada!-disse com certa dificuldade pela ferramenta em sua boca.

As mãos de Ani se mexem dentro das engrenagens, e acertam a hora do relógio. Após ter a tampa parafusada, ela finalmente pôde descer do poste. O senhor agradeceu Ani pela ajuda e lhe deu algumas notas, seguindo seu caminho logo em seguida.

Ela se vira para os irmãos com um grande sorriso.

—Minha passagem para Rizembool!

—Você não tem jeito!-riu

—Não sabia que podia consertar coisas também!

—Apenas relógios. Aprendi quando era criança.-O humor de Ani pareceu oscilar por um momento ao mencionar aquilo, sorrindo de maneira inquieta- Nós já estamos indo?

—Sim, vamos pegar o próximo trem. -Diz Ed- E os exames?

—Eu estou bem! Eu disse!

—Ótimo!

Após isto, todos compram suas passagens para Rizembool e embarcam no próximo trem. Porém, Al naquela caixa não poderia ir no vagão de passageiros como os outros e por ideia de Armstrong, foi colocado juntamente com várias ovelhas! Ani por ter ficado com pena de deixar Alphonse sozinho, ficou com ele.

Embora estivessem próximos, Ani e Alphonse não estavam dialogando entre si. Enquanto ela se divertia brincando com um cordeirinho, Alphonse apenas a observava em silencio, com a mente que ao contrário do seu corpo, estava inquieta.

—Ani, eu posso fazer uma pergunta?

—Você já está fazendo uma!-sorriu- Mas eu deixo você fazer duas!

A atenção de Ani se volta para Alphonse, que por longos segundos pareceu refletir sobre a melhor forma de perguntar o que queria, se mostrando um pouco sem jeito ao faze-lo.

—Você se lembra do dia que contamos a você dos motivos da nossa viagem?

—Claro! O que tem isso?

—Por que... você beijou meu selo de sangue?

A voz de Alphonse era baixa e claramente sem jeito. Ani piscou algumas vezes, absorvendo a pergunta e sorrindo logo em seguida.

—Oh, isso incomodou você?

—Não é isso, apenas fiquei... curioso.

—Bem, porque foi a forma que encontrei de chegar até você!-sorriu- O selo é o que conecta sua alma até seu corpo, certo? Se eu o abraçasse você não iria...-pausa- Q-Quer dizer, eu achei que se fosse através do selo eu conseguiria fazer com que seu corpo e alma sentissem o valor da minha promessa! Por isso eu abracei Ed, e beijei você.

—Porque queria chegar até mim... entendi.-Alphonse ri suavemente- Ontem, eu e Nii-san ficamos muito preocupados com você, não sabíamos o que Scar havia feito e você não acordava!

—Desculpe por ter assustado vocês dois.

—Se o Coronel não tivesse chegado a tempo... Eu sentiria sua falta.

—Ei, pare de velar uma morte que não aconteceu.-Ani sorri compreensiva-Eu estou aqui! Prometo que vou ser mais cuidadosa, mas não podia simplesmente ficar parada! Eu não podia deixar que... levassem tudo de mim outra vez quando havia algo que eu podia fazer!

—...Você nos chamou de terceira família.-Ani cora-A segunda...foi o casal da fazenda?

—Sim. Eles eram muito gentis comigo. Como avós de verdade.

—Não pensava que sua relação com eles era tão próxima, você não dava a entender que... tinha sofrido assim pela perda deles.

—Eu sei. É proposital... Mas eu sofri. Eu ainda sinto falta deles. Mas como eu disse antes... Eles ficariam tristes se eu ficasse chorando. Então tento não pensar muito nisso.

—E nós somos a terceira?

—T-Talvez eu tenha exagerado ao dizer família! Me desculpe por isso, mas é que... é a primeira vez que não me sinto perdida desde que o vovô e a vovó se foram!

—É assim que chama eles, na verdade?-Os lábios se Ani se curvaram num fraco sorriso, seguido de um balançar afirmativo de sua cabeça.-Eu não me incomodo de nos considerar uma família, e acho que Nii-san também não se incomodaria.

Ani se aproxima da caixa, sentando-se na beira da mesma, sentia seu peito inundar-se de felicidade ao ouvir aquilo. Adorava poder ter pessoas com quem conversar e que podia confiar. Era como sentir-se em casa após muito tempo longe dela.

Mas, o sorriso de Ani fraqueja por um momento. Ao mesmo passo que se sentiu feliz pelo que Alphonse disse, Ani lembrou-se da voz que rondou sua mente nas últimas horas, na voz que dizia estar a seu caminho. Lembrou-se das coisas que viu no momento que Scar estava prestes a ceifar uma coisa preciosa para ela.

O sorriso de antes deu lugar a um olhar distante e expressão séria, que não passaram despercebidos pelo maior.

—Obrigada, Al.

—Qual o problema?

—Só um pouco... preocupada. -olhou para o chão.

—Por que?

—Porque eu não entendo o que está acontecendo agora. -suspira- Desde a luta com Scar tenho sentido e visto coisas estranhas e eu... consegui me lembrar de uma coisa.

—Que coisa?

—Que eu estava fugindo.

—O que?

—Na minha lembrança, eu vi meu rosto. Eu estava correndo assustada e estava tudo escuro a minha volta. Eu não sei o que estava atrás de mim, mas eu conseguia sentir bem o quanto estava apavorada. E agora... eu sinto como se algo estivesse vindo. -riu sem animo- Lá no fundo... eu sempre soube que estava fugindo. Por isso eu sempre tinha que mudar o lugar onde estava, por isso acabei indo morar na fazenda... Porque estava me escondendo.

—Se escondendo de quem?

—De mim... e dos outros. Eu não sei bem, mas eu nunca... me senti segura. E agora que sinto que alguém está vindo até mim... preciso estar pronta para isso! Eu preciso ficar mais forte, rápido! Se alguém como Scar aparecer de novo e eu continuar assim... eu não posso me esconder mais.

Ani parecia apavorada, não pretendia contar sobre aquilo à Al, mas a conversa havia saído de seu controle. Aquela voz, aquela lembrança de estar correndo assustada... aquela sensação de nunca estar segura, de não ter como se esconder mais. Ani sentia-se como se estivesse afundando cada vez mais em si mesma, cada vez mais sufocada pelas suas próprias mãos.

—Ei.

A voz calma de Alphonse interrompe um pouco os pensamentos de Ani, fazendo-a olhar para ele.

—Não coloque tanto peso em cima de você. Mesmo que algo esteja realmente te perseguindo, você arriscou sua vida para salvar eu e o Nii-san, e é claro que eu vou retribuir isso. Não vou deixar que ninguém te machuque. Você não está mais sozinha, não precisa mais fugir!

Ani ouviu cuidadosamente cada uma daquelas palavras sem tirar os olhos do rosto de Alphonse. Sua voz calma e serena fez com que sua preocupação se esvaísse, e a felicidade voltasse a reinar. O sentimento de “não estar mais sozinha”, era a coisa mais bela e maravilhosa que Ani já havia sentido em toda sua vida. Era a frase que fazia seu sono tranquilo, era a frase que aquietava seu peito, era a frase que a fazia sentir esperança.

Levantou-se e virou de frente para Alphonse, se sentando no chão e apoiando-se na beira da caixa, onde anteriormente estava sentada. Olhava para Al de forma curiosa e desconfiada, da mesma forma que um cachorrinho olhava para as pessoas tentando entender o que elas diziam.

—E se... a pessoa ruim for eu?

—Hã?

—Eu não me lembro de nada. Mas... nunca me deixaram em paz. Isso quer dizer que eu fiz alguma coisa, não é?

—Você era só uma criança. O que poderia ter feito?

—Mas então por quê? E-E se Ed estiver certo? Se eu... a minha mãe...-Ani balança sua cabeça em negação- E por isso meu pai se foi e a minha mãe sumiu. Eu não posso nem dizer o que eu fiz! Isso é... sufocante Al.

Alphonse ouviu cuidadosamente cada palavra dita e apesar de manter a voz baixa e estar aparentemente calma, era possível ver o quanto Ani estava desconcertada em seu olhar apreensivo. Vê-la assim, deixava o maior incomodado.

—Você não fez nada de errado.

—Mas e se eu fiz?

—Então... você só vai ser como eu, Nii-san... e todas as outras pessoas. Que cometem erros e tentam consertar eles. Você está nos ajudando a consertar o nosso, então se um dia soubermos que você também cometeu um... ajudaremos você.

—Troca equivalente?

—É como amigos... e famílias se comportam! Nós nos ajudamos.

Ani ficou sem reação a princípio. Seu rosto lentamente ganhou cor, tornando rubras as suas bochechas. Logo em seguida, seus dentes puderem ser vistos num curto e sincero riso, como uma fração do sorriso radiante que ela possuía.

—Então, eu sou sua irmã agora?

Foi a vez de Alphonse travar por um momento. Era uma pergunta simples, mas não possuía resposta para ela, porque haviam coisas que Alphonse também não entendia bem.

—Eu não sei, talvez?-riu.

—Então eu deveria começar a te chamar de Nii-san?

—Mas temos a mesma idade!

—Ah! Então eu deveria chamar o Ed de Nii-san!

—Ele pode encarar isso como provocação!

A feição de Ani finalmente cede ao momento e ganha um sorriso que cresceu aos poucos, até se tornar o grande sorriso contagiante que Alphonse conhecia bem.

—Obrigada, Al... significa muito para mim.

—Não foi nada!

Ani deitou a cabeça nos braços apoiados na beira da caixa, encarou Alphonse em silencio, novamente parecia pensar profundamente em algo.

—O que foi?

—Quando você e Ed brigam... o que fazem?

—Bem, Nii-san e eu gritamos um com o outro, ficamos zangados e cada um vai para um lado. Quando a raiva passa, normalmente Nii-san ia atrás de mim e voltávamos para casa!-riu-Já faz um bom tempo que não discutimos, mas é isso o que acontece. Por que?

—Antes de sair da fazenda onde morava, eu discuti feio com uma pessoa. Estava com muita raiva, peguei minhas coisas e fui embora. -Ani suspirou-

Ultimamente... eu ando sentindo muita falta dela, mais do que sinto normalmente. Mesmo que eu ainda esteja com muita raiva e magoada.

—Que pessoa?

Ani fechou os olhos por alguns segundos. Já fazia tanto tempo desde que não mencionava aquele nome. Evitava falar dele pelo mesmo motivo que evitava falar sobre os senhores que moravam naquela mesma fazenda. Por que mesmo sentindo raiva... ainda assim sentia saudades, sentia sua falta.

—Ele se chama Franz Harris... meu Nii-san.

—V-Você tem um irmão?

—Uhum. -sorriu- Ele é cinco anos mais velho do que eu. É neto do vovô e vovó, morávamos todos juntos! Eu ando pensando muito nele ultimamente... vocês dois me lembram dele. Na forma como me repreendem... e também na forma como cuidam de mim.

—Por que brigaram?

—Nii-san odeia... alquimia. Não queria que eu aprendesse. -suspirou- Depois que nossos avós se foram, ele se tornou responsável por mim. Não queria que eu aprendesse alquimia e também não queria que eu viesse atrás do Ed. Dizia que ele era um alquimista federal e que eu não deveria me aproximar deles. Mesmo sabendo o valor que aprender alquimia tinha pra mim, ele quis me impedir.

—Talvez... ele só estivesse tentando protege-la.

—Agora eu consigo entender isso. Mas na época eu fiquei com muita raiva e magoada... e sai de casa. Eu deveria me desculpar...

—Quanto tempo fora de casa?

—Dois anos.-Ani riu-Acha que ele vai estar muito bravo?

—Com certeza deve estar muito preocupado! Nem ao menos o mandou uma carta?-Ani balança a cabeça negativamente- Então é o que deveria fazer. Para que ele saiba que está bem!

—Quando pudermos... eu quero ir ve-lo!-sorri- Quando eu for... podem ir comigo? Eu quero que ele conheça vocês dois, para que saiba que estou bem!

—Claro, quando quiser!

Um grande sorriso domina os lábios de Ani, enquanto ela passava os braços em volta do grande corpo de metal de Alphonse. Os abraços de Ani mesmo que não pudesse sentir fisicamente eram calorosos, sentia bem o carinho que ela passava com eles.

Mas, naquele momento Alphonse não estava plenamente focado no abraço, pois sua mente se encontrava em outros assuntos. Pensava em Scar e no perigo que passaram, pensava que veriam Winry e vovó Pinako após um bom tempo, pensava em seu corpo destruído, pensava em sua jornada agora sem rumo certo, pensava em tudo que Ani havia lhe dito e principalmente... em um certo questionamento que rondava seus pensamentos sempre que via aquele alegre sorriso.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá na minha página, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver as vezes. ;) https://www.facebook.com/TordTheWriter/

—Tord.



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