Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 5
Monstro




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O dia amanheceu com pouca luz. Nuvens apagavam o céu aos poucos, deixando um ar melancólico na região. A chuva era apenas uma ameaça iminente, não procedendo em cair pingos grossos sobre o solo, mas os fortes trovões mostravam que uma tempestade se aproximava.

Os três alquimistas já estavam acordados e Ani observava o céu em silencio enquanto aguardava que Edward e Alphonse estivessem prontos para continuar a pesquisa na residência de Tucker.

A jovem tinha um olhar voltado para o clima daquela manhã, observava as nuvens cobrirem cada pedacinho restante de azul. Sempre gostara muito de observar o céu, principalmente o que antecedia a chuva forte. Porém, sempre acabava ficando silenciosa quando fazia isso, o que era claramente estranho vindo de alguém alegre como ela.

—Ani? -Chama Edward.

—Sim?

—Você está muito quieta. O que está olhando tanto?

—Vai chover.

—E dai?- Ed se aproxima, olhando para o céu junto a ela- Você não gosta de chuva?

—Pelo contrário. -sorri- Eu a adoro.

—Que surpresa.

—Por que surpresa?

—Conhecendo você eu esperava que fosse o tipo de pessoa que adorasse dias de sol.

—Hahaha! Eu também gosto de dias assim! Mas a chuva... eu renasci dela.

Edward olha para Ani, arqueando uma das sobrancelhas em questionamento. Seu olhar e o suave sorriso demonstravam interesse na explicação. Ela o olha de volta, abrindo um grande sorriso.

—Antes, eu tinha muito medo da chuva. Os raios e trovões me assustavam muito! Eu sempre me escondia quando chovia forte. Mas teve um dia em que... eu não tinha onde me esconder e fiquei apavorada, mas por não poder me esconder eu finalmente tive que encarar a chuva. Foi então que eu percebi... o quanto ela era maravilhosa! O som forte, o tremor, os pingos caindo... eram assustadores! Parecia que a chuva iria destruir tudo o que estivesse em volta, mas... era incrivelmente belo. Naquele momento eu senti como se os trovões me destruíssem e a chuva me reconstruísse. Cada pedaço de mim era quebrado e remontado e eu me senti mais forte, mais resistente... eu havia renascido como uma pessoa melhor. Foi uma sensação maravilhosa!

—Acho que a chuva é uma alquimista também!-sorri.

—Você vê alquimia em tudo, Ed!-riu

—Não posso evitar, eu sou um alquimista. -Ani pôde sentir a mão de Edward pesar sobre sua cabeça, afagando minimamente.- Como você.

—Não sei se já posso ser chamada de alquimista, mas obrigada. -sorri

—Só precisa continuar treinando.

As mãos de Ed se movem entre os castanhos de Ani, num suave carinho que faz com que ela ganhasse um tímido rubor em suas bochechas juntamente com um sorriso.

—Por que está fazendo isso? Você não parece ser o tipo que faz cafuné.

—É melhor do que ter você me derrubando no chão o tempo todo. E isso te faz ficar quieta.

—Então é só pra me fazer calar a boca?

—É bem conveniente!-riu

—Ah... Eu pensei que fosse porque não é todo dia que encontra alguém mais baixo que você! -Ed a olha feio- Hehehe!

—A pouco tempo você estava me chamando de “Edward-san” e agora já está me enchendo o saco?

—É o preço da intimidade, Ed!-riu- Mas... realmente... é a primeira vez que conheço um rapaz que é quase da minha altura! Você esqueceu de crescer?

Ani se afastava alguns passos devido ao olhar raivoso que Ed lhe direcionava, sorrindo com um ar travesso. Estava se divertido muito provocando Edward, daquela forma! Até era possível ver uma veia saltando em sua testa devido a raiva que tentava conter sem muito sucesso.

—Calma, calma! Eu só estava brincando!-Continuou rindo enquanto posicionava as duas mãos e frente ao corpo, como uma forma de proteger-se de um possível ataque de fúria.

—Ani.-rosnou- Você tem... muita sorte.

Ao terminar a frase, Edward automaticamente olha para Alphonse que até então estava sentado no chão passando óleo em sua armadura enquanto observava os outros dois.

Ani acompanha Edward e também volta sua atenção para Al, mas sem entender muito bem porque estavam olhando para o maior. Alphonse ao ser encarado pelos dois ficou confuso por alguns instantes, mas logo ligou a frase a si e entendeu o que seu irmão quis dizer.

Ed havia percebido. Havia percebido que ele havia afeiçoado-se a Ani. O próprio Alphonse ainda não compreendia bem os fundamentos daquele afeto, mas sabia que gostava um pouco mais de Ani a cada traço de sua personalidade que tinha a oportunidade de conhecer. A personalidade gentil dela o cativava cada vez mais.

—Por que estamos olhando para o Al?

—Por nenhum motivo em especial.-Ed dá de ombros.

—Porque está passando isso na sua armadura, Al?

—É só uma precaução para que não enferruje. Eu acabei ficando alguns dias sem fazer isso, então estou tendo cuidado redobrado.

—Deve ser difícil fazer isso todos os dias com um corpo tão grande...

—Hehe! Eu já estou acostumado!

Ani se aproxima e Alphonse pode sentir um peso sobre suas costas que o faz curvar um pouco seu corpo para frente. Girou minimamente sua cabeça para ver Ani o encarando por cima de seu ombro com olhos curiosos, direcionando sua atenção para seu próprio corpo e para Alphonse, o olhando de cima a baixo.

—O que foi?

—Você é muito grande, Al! Você sentado tem meu tamanho em pé!

—Você só percebeu o tamanho dele agora?-Ed ri

—Hãn... digamos que eu só comecei a prestar atenção agora!

Alphonse se levanta ficando de frente para Ani, que precisou voltar sua face completamente para cima para poder enxergar seu rosto.

—Whooa!! Ed, Ed! Você com certeza queria trocar de tamanho com o Al, não é?

—Você acordou abusada hoje, hein?-bufa- Vamos logo, temos muito trabalho a fazer. Testarei seus conhecimentos hoje de novo, por isso estude bastante.

—Quer dizer me torturar como sua mestra?

—Exatamente.-Ed sorri

—Você é cruel...

Acompanhados de mais alguns choramingos de Ani, eles deixam a pousada e se dirigem até a mansão Tucker.

A cada minuto as nuvens cinzentas cobriam o pouco de azul que ainda restava no céu, tornando quase impossível que a luz solar tocasse o solo atravessando pelas nuvens. Ani mantinha seu olhar no céu, sentindo seu corpo estremecer a cada trovoada ameaçadora que vinha do alto.

Não demora muito para chegarem a residência. Alphonse bate na porta de madeira, mas não obtém nenhuma resposta. Perceberam que a mesma se encontrava aberta e adentraram o local chamando por Tucker e Nina, ainda sem obter nenhuma resposta.

Em um determinado momento, o corpo de Ani trava e ela imediatamente leva sua mão ao peito, sentindo uma fortíssima angustia.

—Ani?-Alphonse chama

Sem responder ao chamado, Ani passa a frente dos dois irmãos e caminha em direção a um ponto específico da casa. Havia hesitação em seu andar, parecia não querer ir onde seus pés a levavam, mas também caminhava com muita destreza, parecia saber exatamente onde estava indo.

—Há alguém aqui. -murmura.

—Como sabe disso?

—Eu só... sinto.

Ed queria questionar, mas os passos hesitantes de Ani se tornaram contínuos e mais rápidos, fazendo com que os dois irmãos apenas optassem em segui-la.

A garota acaba os guiando até o laboratório no porão na mansão e como Ani havia dito, Tucker estava lá; Agachado e em silêncio próximo a parede que ficava na outra extremidade do cômodo.

—Tucker-san?-Al chama novamente.

Edward tinha sua atenção em Ani. A expressão que ela demonstrava era estranha. Parecia confusa com algo, estava inquieta fitando os próprios pés enquanto monologava consigo mesma.

Aquela estranha sensação no peito, aquela angustiante sensação que só se fez presente pouquíssimas vezes na vida de Ani havia retornado no momento que adentraram aquela casa. Andou até aquele cômodo com o receio de encontrar algo ruim, mas aparentemente... parecia estar tudo bem. Havia sido apenas um engano seu? Ani não compreendia, aquela sensação nunca fora uma mera sensação antes.

—Edward-san, eu consegui... Ela é perfeita.

Com um sorriso melancólico no rosto, Tucker se afasta um pouco para mostrar os resultados de sua experiencia. Ali, próxima a parede estava uma criatura semelhante a um cão, com uma longa crista de pelos castanhos que iam de sua cabeça até a cauda.

Edward e Alphonse se aproximam maravilhados da quimera enquanto Ani apenas observava um pouco distante, com os olhos presos a criatura.

—Bem a tempo... agora não perderei minha licença!

—Ela pode mesmo falar?

—Sim, claro! Vejam!-Tucker se ajoelha próximo a quimera novamente, acariciando-lhe o alto da cabeça enquanto a mesma voltava o olhar para o homem- Olhe, essa pessoa é Edward.

A quimera mantem o olhar em Tucker por alguns segundos, o direcionando para Edward logo em seguida, fitando-o com olhos vazios. Lentamente ela abre sua boca e repete pausadamente com uma grave e distorcida voz:

—Ed...ward.

—Isso mesmo! Você conseguiu!- Comemora Tucker

Edward automaticamente abre um grande sorriso. Uma quimera falante era algo que nunca havia presenciado antes, estava impressionado.

Ainda olhando para Edward, novamente a quimera abre sua boca, repetindo com o mesmo tom de voz:

—Edward... Ed...Ward...-Os lábios da quimera então se contorcem num fraco sorriso- Onii...chan.

Os brilhantes olhos dourados de Ed se arregalam e tornam-se opacos devido ao horror que toma sua face. Ficou totalmente sem nenhum tipo de reação a princípio. Não conseguia crer no que estava vendo, por mais que sua dedução parecesse obvia, não queria acreditar no que pensava. Queria que apenas desta vez sua habilidade de dedução estivesse errada.

Com uma voz nula, Edward dirigiu-se a Tucker:

—Tucker-san... há quanto tempo conseguiu sua licença de alquimista federal?

—Hum... foi a dois anos.

—E a quanto tempo sua esposa se foi?

—...Há dois anos.

—Vou fazer apenas mais uma pergunta... Onde estão Nina e Alexander?!

.

.

.

—Eu odeio pessoas tão perspicazes como você!

Aquela frase havia lhes cortado como uma lâmina, dilacerado seus corações e munindo-os de sentimentos explosivos.

No mesmo instante, Edward agarra a camisa do homem a sua frente e prensa-o contra a parede com toda sua força e ódio.

—Então é isso? Você conseguiu de verdade! Há dois anos você usou sua mulher e desta vez usou a filha e o cachorro para transmutar uma quimera! É porque há limite nas transmutações com animais, não é?! É claro que usar um humano é mais fácil!

Com o enorme choque de descobrirem o que havia ocorrido com Nina e Alexander, Ani perde suas forças para conseguir ficar em pé. Deixou seu corpo cair ajoelhado ao chão e a quimera aproxima-se de Ani, levando o focinho para próximo de seu rosto cheirado-a.

Aqueles olhos vazios e sem vida encaram os azuis de Ani e esta cede aos seus sentimentos, envolvendo o corpo peludo da quimera, trincando os próprios dentes enquanto afundava os dedos nos pelos brancos e permitia que tudo o que estivesse sentindo transbordasse pelos seus olhos.

Alphonse não conseguia ter reação alguma, estava horrorizado com tudo aquilo.

—Por que... por que está tão zangado?-Murmura Tucker- A humanidade progrediu graças a experimentos em humanos. Como cientista, você-

—COMO SE ATREVE!? Como acha que irei perdoar isso?! Você está brincando com vidas humanas!

—Brincando com vidas? Oh, sim! Brincando com vidas!- Tucker abre um sorriso- Fullmetal... você e seu irmão... não são o resultado de “Brincar com vidas”?!

—NÃO É A MESMA COISA!

Não aguentando lutar mais contra seu ódio, Edward soca o rosto de Tucker com toda sua fúria, fazendo seus óculos serem lançados longe e quebrar-se ao atingirem o chão. O rosto de Tucker começa a sangrar, mas ele ainda mantinha o mesmo sorriso monstruoso nos lábios.

—Eu e você somos iguais!

—ESTÁ ERRADO!

—Sim, nós somos! Você teve uma oportunidade e tentou! Mesmo sabendo que era proibido!

—NÃO! Eu não..! A alquimia não é..!

Sem conseguir conter-se mais, Edward defere contínuos socos sem nenhuma piedade. Shou Tucker não era digno de qualquer piedade àquela altura, mas Edward estava perdendo sua razão e seguindo a força da sua raiva. Batia várias vezes com todas suas forças, apenas queria que ele pagasse pelo que havia feito. Apenas queria soca-lo para faze-lo sentir aquela dor. Apenas queria puni-lo pelo que havia feito.

Apenas... queria descontar nele sua raiva e ódio por não poder fazer nada para reverter o que Tucker havia feito a Nina.

Edward o bateu várias vezes até que a face daquele homem estivesse quase desfigurada de tantos hematomas. Porém, Tucker não resistiria por muito tempo. Se Edward continuasse...

—Nii-san!-Alphonse segura seu pulso- Se você continuar, ele vai morrer!

A respiração do Elric mais velho estava descompassada, suor escorria por sua testa enquanto ele ainda puxava seu braço de Alphonse. Queria bate-lo mais, ainda não era o suficiente comparado ao que ele havia feito, mas Alphonse não cedia o aperto ao redor do pulso do irmão.  Por mais que Tucker merecesse cada um daqueles golpes, não deixaria que seu irmão matasse alguém dessa forma. Não na frente de Nina, não quando Edward poderia acabar pagando por aquele assassinato, não na frente de Ani.

Edward pôde sentir uma presença ao seu lado. Ali estava a quimera de Nina, olhando fixamente para Tucker. Edward estava horrorizado.

—Papai... Está doendo?

Atendendo o pedido de Alphonse e por compaixão a Nina, Edward finalmente solta Tucker, que sem forças deixa suas costas deslizarem sobre a parede até alcançar o chão. Alphonse se aproxima da Quimera, acariciando o alto de sua cabeça e lhe dizendo com voz sofrida.

—Me desculpe... nós não temos o poder para faze-la voltar ao normal...

—Vamos brincar! Vamos brincar!

Ainda no encostado na parede, Tucker leva uma das mãos até o bolso da calça e retira de lá seu relógio de prata, olhando-o contemplado como se aquele objeto fosse algum tipo de santidade.

—Consegui a tempo... agora posso continuar sendo Alquimista federal.

O fogo do ódio acende-se novamente no interior de Ed e automaticamente chuta para longe o precioso e estupido tesouro de Tucker, que lamentavelmente rasteja pela sala para recupera-lo.

A movimentação próxima de si atrai a atenção de Ed. Ani havia se levantado do chão e caminhava até Shou Tucker, sem encara-lo diretamente a princípio. Chegou a uma distância de pouco menos de um passo do homem e o olhou profundamente.

—Por que, Tucker-san?

—Era... preciso.

—Por que?

A voz de Ani era nula e rouca devido ao choro; seu corpo tremia e apertava seus punhos a ponto da palma de suas mãos ficarem marcadas pela pressão de suas unhas na pele. Tucker a observava confuso, mas não havia nenhum traço de arrependimento em sua expressão. Seu tom de voz não apresentava interesse, parecia não ligar para tudo aquilo.

—Eu iria perder minha licença! Iria passar dificuldades outra vez.

—Foi por que ela era uma criança?

—O q-

—Foi por que ela era sua filha? Por que ela era mais fraca? Por que ela era ingênua? Tucker-san.... Qualquer uma das suas respostas é sim?

Sem dar chance do outro responder, Ani pisou fortemente sobre a mão de Tucker, a mesma que segurava o relógio de prata. Ani prensava com força a sola de seu sapato sobre o dorso da mão do outro. A força era tamanha que era possível ouvir suaves estalos das engrenagens e peças do relógio começando a quebrar-se.

—POR QUE?! PORQUE FEZ ISSO COM ELA?! ELA É SUA FILHA! ELA AMAVA VOCE! MESMO DEPOIS DO QUE VOCE FEZ COM ELA, NINA AINDA AMA VOCÊ!

—M-Meu relógio!

—Ela iria continuar do seu lado mesmo se ficasse na miséria! Ela iria continuar com você mesmo se não fosse mais alquimista federal! POR QUE VOCÊ A USOU DESSE JEITO?! P-Por que não... continuou do lado dela também?

Novamente as lagrimas invadem os olhos de Ani, desta vez de maneira mais sofrida, mais nervosa. Sua respiração estava acelerada e descompassada enquanto pressionava cada vez mais a sola de seu sapato sobre a mão de Tucker que grunhia de dor.

Os irmãos Elric só conseguiam observar a cena assustados. Aquela reação não era o que esperavam vindo de Ani, por mais que a raiva fosse plausível.

O olhar dela estava repleto de fúria, trincava os dentes e apertava cada vez mais os próprios punhos, lutando para manter todo seu ódio dentro de si e não espanca-lo como Ed havia feito momentos atrás.

—Eu... Eu quero tanto matar você! Eu quero tanto fazer você pagar! Mas... Mas..!

Novamente aquela voz grave ecoa na cabeça de Ani, agindo como uma barreira que a impedia de continuar. Agindo como correntes que a seguravam e a impediam de agredir Tucker.  Aquela voz que não conseguia se lembrar de quem era, mas que estava tão profundamente presente em suas memórias, ecoava aquela promessa em sua mente:

“Me prometa que nunca tentará alterar o tempo que ganhamos ao nascer. Mesmo se for alguém que você ame, nenhum humano tem o direito de aumentar ou diminuir esse tempo. Você entendeu?”

—Eu quero... Mas eu... n-não posso fazer isso. Eu prometi.

Ani então tira o pé da mão de Tucker momentaneamente para chuta-lo com certa força o empurrando em direção a parede e fazendo-o largar o relógio.

Abaixou-se e tomou o relógio de prata parcialmente destruído em suas mãos e voltando a olhar para o homem a sua frente ainda com desprezo, mas agora mais calma.

—Ed não é como você. Ed é um grande alquimista. Mas você é só... um monstro. Não deveria nunca ter ganho esse relógio.

Novamente ela abaixou a cabeça e deixou as lagrimas voltarem a escorrer de forma silenciosa. Levou ambas as mãos até o rosto e cobriu o rosto, sentindo seu corpo estremecer. Não queria continuar chorando, mas era impossível parar com todos a tristeza e raiva que a invadia.

Edward e Alphonse se entreolham por um instante, antes de ambos se aproximarem de Ani.

—Ei. Nós precisamos telefonar para o Coronel.

Ed afaga a cabeça de Ani brevemente, sua voz era calma, embora ainda pudesse sentir a dor presente nela.

—S-Sim.

—Vamos esperar lá fora.

—... Sim.

Edward vira-se em direção a porta e lidera o caminho. Ani se vira na mesma direção, mas por algum motivo, suas pernas não se moviam, ainda não sentia-se capaz de seguir em frente.

Enquanto encarava o nada, uma grande mão metálica entra no campo de visão de Ani. Olhou para cima por um momento, encarando Alphonse.

—Vamos.

Ani além de segurar a mão oferecida, envolve o braço de Alphonse com os seus, encostando a cabeça no metal e sendo guiada por ele até o lado de fora, seguindo Edward.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Os militares não demoraram muito a chegar, e os irmãos Elric deixaram o caso nas mãos deles. Cabia agora ao exército punir Tucker, não a eles.

Já haviam deixado a residência, e agora se encontrava nas escadarias do Quartel General, ainda muito abalados com o ocorrido. A chuva finalmente começara a cair, molhando seus corpos e deixando-nos frios, mas eles não se importavam com aquilo, a chuva era o menor dos seus problemas. Sem dizer nada um para o outro, se consolavam em silêncio, sentados naquela escadaria.

Ao sentir os primeiros pingos, Ani olha para o alto. Era como se o céu também chorasse, como se ele também estivesse com raiva.

—Se existe um demônio nesse mundo...-uma voz soa atrás deles-Desta vez ele foi este demônio. Mas os alquimistas federais quando são ordenados devem matar sem hesitar. A respeito de lidar com vidas, as ações de Tucker e as suas não são assim tão diferentes. E você escolheu esse caminho sabendo perfeitamente disso, não foi Fullmetal?

Ani olha por cima de seu ombro e fita Coronel acompanhado de Riza, enquanto os outros dois apenas continuam olhando para frente, sem responder.

—Você vai enfrentar muitos casos como esse no futuro. Talvez você tenha que sujar suas próprias mãos. Vai ficar desse jeito sempre que isso acontecer?

—Mesmo que nos chamem de cães do exército ou de demônios, eu e Al vamos recuperar nossos corpos. Mas nós não somos demônios.-Coronel para de andar-Somos humanos....NÓS SOMOS HUMANOS!

Ani olhava para Ed, nunca havia visto-o tão desconcertado, tão triste. Mustang e Riza voltam a descer as escadas, deixando os três para trás.

—Somos humanos ridículos que não podem salvar uma criança.

Os penetrantes olhos de Ed ainda encaravam o chão, imerso em seus pensamentos. Sentia-se inútil por não poder fazer nada para ajudar Nina. Tentava manter-se determinado em sua jornada, mas em situações como aquela, era realmente difícil.

Edward então sente algo envolver sua cintura e aconchegar-se em suas costas, o aperto em volta de si era leve, mas acolhedor. Ani não dizia nada, mas Ed sabia o que ela pensava. Mesmo não tendo muitas informações sobre Ani, ela era uma pessoa fácil de entender.

Ed leva sua mão até uma das de Ani que o envolviam e a aperta brevemente. Mentalmente, Ani lhe dizia “Vocês não são ridículos” e Edward lhe respondia “Obrigado.”

Após aceitar rapidamente o carinho de Ani, Edward afasta os braços dela e se vira para ela e seu irmão.

—Vamos voltar para a pousada. Preciso colocar a cabeça no lugar. Todos nós precisamos.

Ani acena positivamente com a cabeça enquanto se virava para Al, que se encontrava muito quieto. Ele olha para ela enquanto Ani apoiava as mãos em seus joelhos e curvava-se em sua direção. Alphonse a olhava imaginando o que iria fazer.

Ani leva a palma de sua mão para o rosto metálico num suave carinho que Alphonse não podia sentir fisicamente, mas pode sentir em sua alma. Foi a vez de Ani estender sua mão para Alphonse que aceitou prontamente.

Ao estarem ambos de pé, Ani forçou um sorriso compreensivo, ainda sem soltar sua mão,

—Vamos.- Segurou a mão de Ed com sua mão livre- Todos juntos.

Edward não respondeu, mas não soltou sua mão. Nenhum dos três possuía felicidade em seu rosto, estavam sofrendo com tudo aquilo, mas quando suportavam o peso da dor juntos... seguir em frente se tornava um pouco mais fácil e sentiam-se mais capazes de continuar naquela jornada. Mesmo sabendo que veriam muitas crueldades como aquela novamente... sabiam que suportariam tudo pelo desejo de que Ed e Al tivessem seus corpos de volta.

Mesmo sendo apenas humanos fracos... de alguma forma conseguiriam. Lutariam com todas suas forças por isso.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá na minha página, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver as vezes. ;) https://www.facebook.com/TordTheWriter/

—Tord.



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