Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 3
As peculiaridades que te tornam única




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Os irmãos Elric acompanhados da nova aprendiz de Ed, chegam a pousada onde ficariam enquanto estivessem em East City. Era uma pousada confortável e ampla, apesar de simples. Edward e Alphonse sempre ficavam naquela pousada ou nos dormitórios do QG quando estavam na cidade.

O Elric mais velho se joga sobre uma das camas assim que entram no quarto, bufando de maneira cansada após o longo dia que teve, enquanto Ani entra timidamente, observando cada detalhe do cômodo.

—Ani!-Al chama sua atenção.

—Sim?

—Você vai dormir ali, tudo bem?-Alphonse aponta para a cama que ficava próxima da que Ed estava estirado.

—Tudo bem… Mas e quanto a você?

Alphonse fica um pouco atordoado com a pergunta. É claro, Ani achava que ele era um humano comum, um homem grande e alto dentro de uma armadura de metal e não a própria armadura em si.

Já havia passado-se um bom tempo desde o dia que se tornou um corpo de metal vazio. De certa forma, tinha se acostumado com isto e já não entristecia-se tanto quanto nos primeiros dias ou anos. Porém, mal conhecia Ani apesar de ter simpatizado com ela. Talvez fosse melhor contar-lhe este segredo mais tarde, num outro momento.

—Eu… Estou fazendo um treinamento de alquimia, por isso não vou dormir numa cama por enquanto.

Ed ouve a desculpa que Al deu a Ani, mas resolveu não se manifestar, respeitando a decisão do irmão em omitir o fato.

—Treinamento de alquimia?-arqueia uma das sobrancelhas- Em que dormir no chão ajuda nas transmutações?

—Han… bem…

—Isso ajuda a controlar melhor a energia do seu corpo. Desta forma, a transmutação termina mais bem-feita. – Intervem Edward, ajudando Alphonse com a mentira.- A alquimia tem que ser algo natural para você, portanto, seu corpo tem que estar relaxado. Se conseguir relaxar a ponto do chão se tornar confortável, então será fácil controlar o fluxo de energia.

Ani escuta o que Edward diz com atenção, enquanto Al se perguntava como o irmão conseguia fazer um absurdo daqueles soar tão convincente!

—Entendo. Então é por isso que Al vai dormir no chão...

—I-Isso!

—Certo! Se isso ajuda em alquimia, então eu também vou fazer!

Os irmãos se entreolham.

—N-Não, Ani! Você não precisa fazer isso!

—Ah! Deixe ela, Al! Ela quer aprender!-Diz Ed esboçando um sorriso maldoso.

—Nii-san! – Repreende Al.

—Não, Al! Tudo bem! Eu estou disposta a fazer tudo o que for possível para melhorar minhas transmutações!

—Mas-

—Shiu! Não tente me impedir!-sorri determinada.-Dormir no chão não irá me matar!

Alphonse continou por mais alguns minutos tentando convencer Ani de que ela não precisava fazer o tal “treinamento”, até se dar por vencido e a deixar fazer o que queria, mesmo sabendo que não iria servir-lhe de nada.

Ani sentou-se na beira da cama de frente para Alphonse, direcionando-lhe um olhar curioso.

—Ei, Al…

—Sim?

—Por que você está sempre usando essa armadura? Também faz parte de um treinamento?

—S-Sim… Também.-Alphonse fica tenso.

—Hum… Eu acho que isso eu não poderei imitar. Não acredito que eu aguentaria o peso dela! Bem, ao menos não agora!

—Quem sabe quando… Você ficar mais forte?

—Sim!-sorri

Ani olha para Ed que ainda estava deitado sobre a outra cama. Ele mantinha os olhos fechados e respirava calmamente, ainda não havia adormecido, então escutava tudo o que os dois diziam enquanto tentava descansar um pouco.

—Eu ainda não estou acreditando que realmente estou aqui!-Ela tinha um ar emocionado.

—Já fazia quanto tempo que estava tentando encontrar o Nii-san?

—Hum… Uns dois anos, talvez.

—Isso é muito tempo!-Al estava surpreso

—Sim, eu sei!-volta a fitar Alphonse- Ed é bem diferente do que eu imaginava!

—Diferente como?-Pergunta divertido, já imaginando que tipo de coisa ouviria.

—Bem… Primeiro porque Ed parece ter quase a minha idade! Eu sei que ele foi o mais jovem a conseguir o título de Alquimista federal, mas achei que fosse mais velho do que isso! Além disso, ele tem uma aparência bem incomum!

—Se falar da minha altura eu mudo de ideia sobre ensinar você.-Ameaça Ed, num resmungo sonolento.

—Hahaha! Não estou falando disso! Estou falando sobre ter olhos e cabelos dourados.-sorri- Nunca havia visto alguém com essas características antes!

Ani leva as mãos até as fitas pretas que prendiam seus compridos cabelos castanhos em duas partes iguais e as puxa delicadamente, libertando os fios do laço.

—Eu gostaria que os meus fossem assim, também!-Ani observava os fios que caiam sobre sua testa

—Os seus são bonitos do jeito que são, Ani.

—Obrigada, Al!-sorri- Ah, na verdade eu já ouvi falar de um país onde todos os moradores possuíam essas características! Se chamava Xerxes!

—Ah, nós também já ouvimos falar de Xerxes!

—Xerxes é quase como uma lenda. É um país tão antigo que ninguém sabe ao certo se realmente existiu.-Diz Ed, voltando a abrir seus olhos- Tudo o que a lenda diz é que Xerxes possuía moradores de cabelos e olhos dourados e que é um país que desapareceu de um dia para o outro.

—Como um país pode desaparecer assim?–diz Ani curiosa- Seria preciso uma força extremamente devastadora para isso! E eu nem sei se essa força poderia existir.

—É por isso que dizem que Xerxes é só uma lenda. Porque é impossível que um país simplesmente desapareça.

—Sim, eu entendo.-sorri- Mas se Xerxes realmente existiu, então vocês podem ser descendentes dos cidadãos de lá!

—É, quem sabe?-Ed sorri, voltando a fechar seus olhos, desta vez virando-se de lado na cama

Ani assume que Ed queria dormir e volta a falar com Alphonse, que parecia estar sem sono. Desta vez, falando mais baixo para não incomodar o cochilo de Ed.

—Al, como você é?

—Hum?

—Eu ainda não te vi sem essa armadura! Como você é?

Aquela questão retorna, deixando o Elric mais jovem tenso novamente. Já fazia um bom tempo desde que não conversava com alguém sobre “Como ele era”. Não sabia como lidar direito com a questão, ainda mais com alguém que não tinha conhecimento sobre seu atual estado e perguntava-lhe inocentemente sobre sua aparência física.

—Eu… Sou um pouco parecido com meu irmão. Mas meu cabelo é curto e não estou sempre emburrado desse jeito.-ri

—Ooh! Você deve ser muito bonito!

—Obrigado!

Ani não mencionou nada a respeito, mas percebeu o certo incômodo de Alphonse quando o questionou sobre o assunto. Por este motivo, mesmo que estivesse curiosa, não pediu para que ele se mostrasse a ela naquele momento. Se viajaria com eles dali em diante, certamente teria outras oportunidades para isso.

—E quanto a você?

—Eu? Eu sou assim mesmo, ora!

—Não!-risos- Eu quero saber mais sobre você! Você já sabe várias coisas sobre nós, mas nós sabemos poucas sobre você.

—O-Oh…-cora- Bem, não tem nada de especial em mim... Eu acho.

—Ah, me desculpe… Eu havia me esquecido disso!-Al fica constrangido

—Está tudo bem! Eu já me acostumei com isso.

Ani retira o cachecol que usava, o dobrando cuidadosamente e colocando-o sobre o criado-mudo ao lado de sua cama. Al repara em todo cuidado que ela tinha com o objeto e o observa melhor.

Parecia ser um cachecol já antigo apesar de estar muito bem cuidado;  Seu tecido tinha um tom pastel e possuia três pompons em cada uma das pontas dando a ele um leve ar infantil e fofo. Alphonse repara no suave sorriso que estampava seu rosto enquanto o colocava sobre o móvel de madeira. Devia ser algo de muita importância para ela.

—Você parece gostar disso.

—Ah, sim…-sorri serenamente- Eu o ganhei da minha mãe. Ela mesma quem o fez!

—Ela deve ser uma boa mãe!

—Sim.-O sorriso de Ani torna-se distante-Ela é… incrível.

Ani solta um suspiro, ainda com os pensamentos em algum lugar longe daquele quarto, encarando um ponto qualquer da parede sem perceber que seu silêncio despertou a curiosidade de Alphonse.

—Você deve sentir falta dela. Digo, está a tanto tempo viajando… Não deve vê-la há muito tempo.

—Sim…-volta a olhar para o maior- Eu sinto falta dela.

Ani esboça um sorriso triste. Porém, antes que o outro pudesse dizer algo, esta se levanta e senta ao seu lado.

—Amanhã será um dia cheio. Devemos dormir!-sorri- Boa noite, Al.

—Boa noite!

—Boa noite, Ed.-disse baixinho, verificando que ele já havia adormecido e recebendo um “boa noite” também em baixo tom.

Ani deita-se e faz silêncio a partir dali, não demorando muito a adormecer. Alphonse esperou que ela caísse no sono para então pega-la nos braços e a deitar em sua própria cama, cobrindo seu corpo com a colcha que se encontrava aos pés do colchão e se pondo a questionar os motivos da mudança de humor tão repentina.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

No dia seguinte Edward e Alphonse encontram Coronel Mustang que os leva até a casa de Shou Tucker, o alquimista da vida. Mais cedo, quando chegará a hora de encontrar Coronel, os irmãos perceberam que Ani ainda dormia profundamente. Ela apresentava uma feição muito desgastada, então decidiram deixa-la descansar um pouco mais. Contariam a ela sobre a visita a casa do Alquimista da Vida quando voltassem.

No caminho até a residência de Tucker, Coronel explicava melhor sobre os feitos do homem:

—Há dois anos, Tucker conseguiu provar que as Quimeras podiam entender a fala humana e com isso ganhou o título de Alquimista federal.

—Entender a fala humana? Quer dizer uma quimera falante?

—Isso mesmo. Porém, foram apenas algumas palavras:“Quero morrer”. Após isso, a quimera se recusou a se alimentar e morreu.

Ambos permaneciam pasmos com os relatórios que eram lidos por Mustang. Estavam fascinados com o fato de uma quimera ser capaz de pronunciar palavras, mas horrorizados com o claro sofrimento da mesma. As vezes, uma pesquisa pode seguir um caminho assustador.

Ao chegarem na casa –ou melhor, na mansão- de Tucker, Coronel Mustang toca a campainha em formato de sino enquanto Edward observava admirado a dimensão do prédio.

Mas então, quando menos esperava Ed fora atacado por uma criatura enorme! Gigante! Peluda! Pesada! E que latia! Espera, latia?

—N-Nii-san?

Ed agora se encontrava com a cara no chão e com um gigante cachorro branco deitado sobre si, arfando enquanto abanava a enorme cauda alegremente.

Quando ainda tentavam entender de onde havia surgido aquele cachorro, escutam uma doce voz infantil, acompanhada de uma outra mais adulta.

—Aah! Temos visitas!

—Nina! Você tem que deixar o cachorro preso!

*~*~*~*~*~*~*~*~*

—Eu peço desculpas! Desde que minha mulher se foi minha casa tem estado uma confusão.

Já mais calmos e não sendo esmagados por cachorros brancos gigantes, todos se encontravam do lado de dentro da residência de Tucker, que lhes oferecia um chá.

—Mais uma vez, prazer em conhece-lo, Edward.-diz sentando-se na cadeira a frente deles.- Eu sou o alquimista da vida, Shou Tucker.

—Ele está interessado em Transmutações Biológicas.-Conduz Coronel- Então ele gostaria de conferir sua pesquisa, se você permitir, é claro.

—Oh, não há problema nenhum.-Os irmãos sorriem um para o outro.- No entanto… se você quiser ver a verdade de uma outra pessoa, primeiro tem que revelar sua própria. É desta forma que os alquimistas trabalham, não é? Então…Por que estão interessados em alquimia biológica?

—Bem… Ele…

Mustang estava prestes a explicar a situação para Tucker, mas Edward levanta uma das mãos o interrompendo. Aquele era um assunto seu, então ele mesmo explicaria.

Mesmo que não fosse um assunto que gostasse de comentar, Edward explica sua história e retira seu colete preto, mostrando a Tucker seu braço de automail. O alquimista fica surpreso que alguém tão jovem tenha passado por experiências tão horríveis quanto estas.

—Devem ter sido tempos difíceis…-comenta pensativo- Tudo bem, Edward-kun. Espero que minha pesquisa lhe seja útil.

Tucker mostra sua enorme biblioteca para Edward e Alphonse e os dois logo começam suas pesquisas. A concentração deles era tanta, que nem sequer ouviram quando Mustang lhes disse que mandaria que alguém os buscasse mais tarde.

Os irmãos passaram várias horas lendo os incontáveis livros daquela biblioteca. Até que a filha de Tucker, Nina, começa a espionar Al curiosamente e este acaba cedendo a fofura e alegria da pequena e parando de ler para brincar com ela.

Edward escuta as risadas e vai ver o que estava acontecendo, dando uma bronca no irmão por estar brincando ao invés de estar pesquisando, mas acabou que Edward foi arrastado para a brincadeira pelo cachorro Alexander.

O dia termina sem que eles pesquisem tudo o que gostariam pois acabam esquecendo do que estavam fazendo ali e passam o dia brincando com Nina e Alexander. (prioridades)

Felizmente, Tucker permite que eles retornem no dia seguinte para continuar suas buscas.

O segundo tenente Havoc, a mando de Mustang, deixa-os a poucas quadras da pousada onde estavam hospedados e eles caminham pelo resto do caminho, comentando sobre o dia divertido que tiveram.

Já faziam muitos anos desde a última vez que brincaram como crianças desse jeito. Afinal, boa parte de suas infâncias lhes foi tirada após o erro que cometeram anos atrás. Porém, era bom para eles saber que suas “almas de criança” ainda estavam ali dentro em algum lugar.

Algo chama a atenção de Alphonse acima do telhado de uma das residências que passaram. E ao olhar para cima, fica surpreso ao ver Ani no alto da casa, manejando o que parecia ser um enorme espanador dentro de uma chaminé. Ela estava toda suja de poeira e fuligem, nem sequer seu rosto havia escapado das manchas que variavam de cinza claro ao preto.

—Nii-san, olhe lá!

Edward olha para onde Alphonse aponta e arqueia uma sobrancelha ao ver o que ela fazia, soltando um riso divertido quase que ao mesmo tempo.

—Êi! Ani!-chama

—Hum?-Ani olha para trás e abre um grande sorriso- Ah! Vocês voltaram! Um minuto!

Ani faz mais alguns movimentos com o espanador e o retira de dentro da chaminé. Em seguida desce cuidadosamente pelo telhado e se agarra num poste de luz que ficava próximo, deslizando por ele até que seus pés tocassem o chão.

—Boa agilidade.

—Não foi nada demais!

Ani bate levemente suas roupas, tentando se livrar um pouco de toda aquela poeira sem muito sucesso. Logo em seguida, a porta da casa se abre e por ela sai uma senhora de meia-idade muito bem vestida. Ela caminha até Ani com um sorriso simpático no rosto.

—Ah, senhora! Eu terminei de limpar a chaminé!-sorri- Agora não irá mais sair labaredas dela!

—Obrigada, mocinha! Já fazia um bom tempo desde a última vez que ela foi limpa! Deveria estar imunda! Você com certeza teve muito trabalho ao limpar-la sozinha.

—Não foi nada, senhora!-diz modesta

A senhora que trazia uma carteira em mãos, retira de lá certa quantia de dinheiro e a entrega nas mãos de Ani.

—Novamente, muito obrigada! O inverno está se aproximando e não consegui encontrar nenhuma empresa especializada nisso tão em cima da hora, você me salvou!

—Fico feliz de ter ajudado!-sorri- Até mais!

Ani se aproxima de Ed e Al.

—Estava trabalhando?-pergunta Al

—Sim! Olhe!-Ani lhe mostra o dinheiro- Jantar!-sorri orgulhosa

—Então era assim que ganhava a vida quando estava atrás de mim?-Diz Ed voltando a caminhar

—É assim que eu ainda ganho a vida, Ed!

—Você sabe que não precisa mais fazer isso, não é?

—Eu não vou depender de você o tempo todo, Ed! Eu me virei sozinha por anos e posso continuar fazendo isso!

—Sim, mas você está cheirando a fumaça.

—Limpe uma chaminé sozinho e duvido que terminará cheirando a rosas!-ri- Enfim, vocês não me acordaram hoje! Isso foi cruel!

—Culpe o Al! Ele não me deixou te jogar da cama!

—Jogar da cama?!

—Nii-san está exagerando!-Ri-Mas você parecia cansada, Ani. Imagino o quanto tenha andado pra chegar até nós, então achei que deveria descansar mais um pouco.

—Oh… Não precisa se preocupar tanto comigo, Al! Eu sou mais resistente do que pareço! Mas obrigada!

Alphonse apenas ri levemente em resposta. Gostava desse jeito marrento de Ani, desta atitude em não querer demonstrar fraquezas e não querer que tenham pena de si.

—Então… Já que é tão resistente assim, acha que ainda pode lutar comigo e com Al?

—Mas é claro!-Ani estava animada-Estava esperando por isso a anos!

—Ótimo.

Ao chegarem na pousada, os três se dirigem até os fundos da mesma. Lá havia um quintal amplo e sem muitas construções, portanto era um lugar possível para uma batalha de treino. (Se algo fosse destruído, era só reconstruir com alquimia)

Lá, eles se posicionam formando um triângulo.

—Ok, Ani. Eu e Al treinamos assim sempre, você só precisa derrubar o outro. Vence o último de pé.

—Entendi!

—E só para avisar, eu nunca ganhei dele.-sorri

—Hum… então Al é forte.-murmura para si mesma.

 -Sim, muito. Escute, eu quero ver o que você sabe fazer lutando com seu próprio corpo, então por enquanto nada de alquimia, entendeu?

Ani apenas assente com a cabeça. Ela esboçava um sorriso confiante e emitia um ar um tanto convencido, que não passa despercebido pelos olhos atentos de Ed. Talvez houvesse algo mais de interessante em Ani além de sua determinação admirável.

O treinamento inicia-se e os três começam a atacar e defender-se. Como o objetivo daquela luta era testar Ani, os irmãos estavam focando seus ataques na jovem e surpreenderam-se ao ver que ambos estavam tendo dificuldades em acerta-la. Era claro que Ani não tinha uma ofensiva boa, mas sua agilidade era incrível! Conseguia desviar de dois ataques simultaneos sem muita dificuldade! Porém, de nada adiantava só se defender, mais cedo ou mais tarde ficaria cansada e por consequência mais lenta. Além disso, os irmãos não eram facéis de lidar.

Edward não apenas observava os movimentos de sua aprendiz enquanto a atacava, mas também observava os de seu irmão. Al estava hesitando, isto era claro para Ed.

Não poderia negar que Alphonse era um garoto muito gentil, talvez lutar com uma garota da mesma forma que lutava com o irmão estivesse fora de sua compreensão, por isso se continha ao deferir os golpes. Mas a escolha de Al em “pegar leve” mostrou-se errada quando recebeu um forte chute no peito de sua armadura que ecoa pelo local, fazendo com que a força do golpe impulsionasse ambos para direções opostas.

Os irmãos se entreolham um pouco surpresos, aquele chute fora bem mais forte do que o esperado para alguém com o porte de Ani. Ela agora se recompunha da aterrissagem mal feita e se recolocava em posição defensiva, desta vez exibindo um sorriso orgulhoso e brincalhão.

—Por que essas caras?

Al solta um riso divertido.

—Você é forte! Incrível, Ani!

—Oh.-cora- B-Bem, para viver sozinha precisei aprender a me defender!

—Mesmo? Você deve ter tido muitos problemas!

—Ah, nem me fale! Mas eu consegui me virar, eu sou muito forte!

Ani tinha um tom convencido, porém seu sorriso não dura muito tempo, desaparecendo de seu rosto quando escuta uma voz ameaçadora vinda de suas costas.

—É, você é forte… -Ani olha para trás rapidamente deparando-se com os olhos dourados de Ed-Mas não muito atenta.

Ani até pensou em se esquivar do soco que lhe é direcionado, mas ao perceber que não teria tempo ou agilidade suficiente para isso, apenas esperou que o golpe a atingisse. Porém, a mão metálica de Ed para de se mover quando estava a centímetros de seu rosto.

Ani permanece encarando a mão que por pouco não a atingiu e acaba por deixar seu corpo ceder ao susto, caindo sentada no chão. Ao ouvir o riso travesso de Alphonse e ver o sorriso maldoso de Ed, infla suas bochechas com uma expressão irritada.

—Hey! Isso foi covardia!

—Você é quem decidiu começar a se vangloriar no meio de uma luta!-Ed sorri- Eu só aproveitei a brecha que você me deu!

—Al, você me enganou!

—Ehehe! Desculpe!

—Cruel…

Os murmuros chorosos de Ani são interrompidos por Ed, que estende sua mão para que ela se levantasse. Ani mesmo ainda estando emburrada, aceita a ajuda.

—Eu achei que era para lutarmos entre nós, não vocês dois contra mim.-resmunga

—Pare de reclamar!-suspira-Alias, o que eu disse é verdade. Você se distraiu facilmente. Se eu realmente fosse um inimigo você teria sido pega.

—Se você realmente fosse um inimigo eu não teria me distraido assim.-Ani estreita os olhos.- Se bem que não estou mais certa de que é mesmo um amigo. Eu achei que era uma luta honesta!

A expressão irritada de Ani cede para um riso divertido que logo é acompanhado pelos outros dois.

—Bem, isso foi o suficiente para mim.-Diz Edward- Vamos voltar para dentro.

—Sim!-respondem os outros dois.

—Ei, ei, Ed! O que achou da forma como luto?

Ani tinha um brilho ansioso no olhar, um brilho que almejava muito ouvir um elogio. Afinal, Edward sempre foi alvo de grande admiração para si e ainda o respeitava muito como um alquimista.

—Hum… Você é agil e tem muita força nas pernas, mas não sabe atacar com eficacia e quando o faz perde sua atenção. Ou ataca, ou defende, não consegue fazer os dois ao mesmo tempo.-Edward possuia um discurso analítico e sério. Ele avaliava o desempenho de Ani na posição de um mestre.-Mas, você superou minhas espectativas! Muito bem!-sorri

Ani exibe um sorriso feliz enquanto suas bochechas ganhavam um leve tom avermelhado. Não havia sido perfeita, havia cometido vários erros e falhas, mas poder corrigi-los com a ajuda de Ed e ter o impressionado era uma alegria enorme para si.

—Obrigada!

Ed apenas devolve o sorriso e se põe a caminhar para o interior da pousada, sendo seguido por Alphonse. Ani observa os dois irmãos rumando em direção ao prédio, mas não os acompanha.

—O que foi, Ani?-pergunta Al

—Ed é tão legal…-o brilho de admiração retorna ao olhar de Ani.

—Sim, ele é!-ri

—Ei, Al!-Ani faz sinal para que Alphonse se aproximasse.

—O que foi?

—Ed tem namorada?-Ani exibia um sorrisinho.

—Han… Não.

—Mesmo?-O brilho em seu olhar aumenta.

—Ani…-Al suspira.

—Ehehehe! Só estou brincando!-Ani coloca uma das mãos na cintura enquanto gesticula com a outra-Eu não tenho tempo para esse tipo de coisa! Vamos entrar, Al!

Ani se põe a caminhar, mas interrompe seus passos ao ouvir a voz de Alphonse novamente.

—Ele não tem namorada, mas… há alguém de quem ele gosta.

Em um instante, Alphonse estava de pé falando com um ar nostálgico a respeito de Winry, garota que seu irmão nutria grande afeição desde que eram crianças e no segundo seguinte estava jogado no chão com Ani acima de si.

—Queee?! Sério? Não pode ser! Como ela é? Heim, heim?-O tom de Ani estava MUITO empolgado, a ponto que praticamente gritava enquanto pedia para Al mais detalhes.

—Êi! Saia de cima de mim! E-E isso é assunto do Nii-san, eu não deveria estar falando disso pelas costas dele!

—Ah, não seja chato, Al!-ri- Vamos, me diga mais! Como ela se chama?

—Não!

—Só o nome, por favor! Por favor! Por favoooor!

O olhar de gatinho pidão de Ani amolece o coração amante de felinos de Alphonse, o fazendo suspira pesadamente antes de responder:

—…Ok, só o nome.-Al bufa- Ela se chama Winry, é nossa amiga de infância.

—Winry… Então esse é o nome que faz o coração do Ed bater mais forte, huh?-Ani tinha um tom divertido.

—Falando assim soa ridiculo!

—Mas é ridículo! Não consigo imaginar o Ed suspirando apaixonadamente! Ou corando de vergonha ou…ou…-Ani prende o riso- F-Fazendo serenata!

—Ele nunca faria isso! Mas… só de imaginar isso...-Alphonse ri

—Não é?-Ani deixa seu riso escapar- E como Winry é?

—Só o nome, lembra?

—Cruel!

Alphonse apenas continua rindo da situação, enquanto Edward já impaciente pela demora dos outros dois, retorna ao quintal e fica no mínimo confuso ao ver Ani em cima de Al enquanto riam divertidamente.

—O que estão fazendo?

Ani olha para trás e não consegue evitar de rir novamente quando fita o rosto de Ed, tentando segurar as gargalhadas sem muito sucesso.

—N-Nada! Só estavamos… T-Treinando mais um pouco!

—Sim!-Al acompanha- Ani ganhou!

—Eu disse que era muito forte!

Ani se levanta de cima de Alphonse e o ajuda a se levantar com um pouco de dificuldade devido a diferença de portes.

Edward não havia acreditado nem um pouco na desculpa recebida, mas não estava com muita paciência no momento para arrancar a verdade deles. Tudo o que queria era tomar um banho, jantar e dormir.

Passar o dia pesquisando, brincando com Nina e depois lutando contra Ani e Alphonse havia o deixado exausto.

—Tá, que seja. Entrem logo ou janto sem vocês!

—Sim!-Ani se vira para Al, sorrindo-Vamos?

—Sim!

Os dois voltam para o interior da pousada ainda rindo suavemente do ocorrido. Ao adentrarem o quarto, encontram Ed deitado sobre o sofá enquanto anotava alguma coisa num pequeno caderno de capa preta que possuía um fecho com um botão.

—O que está fazendo, Ed?

—Anotando o pouco de informação que conseguimos na casa do Senhor Tucker.

—Então não conseguiram encontrar nada útil com ele?

—Bem…-Ed franze o cenho- Digamos que tivemos uma pequena… distração.

—Distração?

—Não importa. Vamos pedir algo para jantar ou encontrar algum lugar para comer logo.

—Ah, sobre isso!-Ani senta-se no braço do sofá oposto ao que a cabeça de Ed estava recostada.- Eu posso… fazer o jantar hoje?

—Fazer?

—Sim! Eu estive conversando com a dona da pousada mais cedo e ela disse que eu poderia usar a cozinha se quisesse!-Ani sorri-Eu gostaria de poder retribuir sua ajuda de todas as formas que puder, já que não posso pagar.

—Você não pre-

—Bem, está decidido! – Ani corre em direção a porta- Espero que gostem!

A garota sai do cômodo, deixando em Ed uma expressão cansada enquanto suspirava pacientemente.

—Por que ela me pede permissão se acaba sempre fazendo o que quer no final?

—Hahaha! Ela só escuta aquilo que quer ouvir.

—Eu sei. Alias, Alphonse…-Ed sorri- Vocês dois parecem ter se dado bem.

—Ani é divertida!-ri

Alphonse não havia percebido o significado da afirmação de Ed, mas este decide não insistir em provocar o irmão e focar em terminar as anotações em seu caderno. Avançar na busca pelos seus corpos era prioridade no momento.

Os dois irmãos começam a discutir sobre o que ambos conseguiram pesquisar enquanto Edward anotava no caderno tudo que consideravam relevante.

Passa-se em torno de 40 minutos até que Ani abre a porta do quarto, colocando a cabeça para dentro do cômodo para chama-los.

—Ed, Al! Venham!

Os irmãos a encaram e automaticamente começam a rir, Ani apresentava uma aparência no mínimo cômica! Trazendo consigo um sorriso animado no rosto que estava todo sujo de farinha de trigo.

—O que houve?

—Ahn… problemas técnicos!-sorri sem jeito- Não é nada demais! Há uma mesa lá, então poderemos comer com mais conforto, venham logo!

—Ok!

Os dois acompanham Ani até a cozinha do local e puderam ver que outras partes de seu corpo e roupas também estavam sujos de farinha.

—Primeiro a encontramos suja de fuligem e agora suja de farinha. Isso é algum tipo de passatempo?-Ed ri

—Foi um acidente! Que tipo de pessoa colocaria o trigo numa prateleira tão alta?-resmunga

A reclamação de Ani foi o suficiente para fazer Ed cair na gargalhada ao entender o que havia acontecido para deixa-la daquele jeito, logo sendo acompanhado pelas risadas de seu irmão mais novo.

Ani apenas cruza os braços em frente ao corpo, juntamente com uma expressão irritada.

—Não tem graça!

—Ah, tem sim!

—Se continuarem rindo, vão ficar sem comer.-cerra o olhar

—Desculpe, desculpe!-Edward tentava recuperar o folego.- Você é o tipo de pessoa que eu esperaria ver tropeçando nos proprios pés!

—Eu não sou tão desajeitada assim! E eu vou provar isso!

—Como?

Ani não responde, apenas abre a porta da cozinha com um grande sorriso orgulhoso no rosto e entra no cômodo sendo acompanhada pelos irmãos. Assim que eles olham para a mesa, ficam admirados com o que vêem: Ela estava repleta de coisas que pareciam deliciosas! Uma cesta com frutas, salada colorida, uma jarra de suco e um prato com cor avermelhada que não sabiam ao certo o que era, mas parecia delicioso.

—U-Uau!-Ed estava surpreso

—Você quem fez isso?-Diz se referindo ao conteudo da travessa- Alias, o que é?

—Se chama lasanha! O casal que vivia em uma fazenda onde trabalhei vinha de um país em que este prato é muito comum, um país além do mar, ao leste.-Ani sorria com carinho ao se lembrar daquela familia que a acolheu por tantos anos- Foram eles quem me ensinaram a cozinhar esse prato! Espero que esteja gostoso!

—Incrivel!-Ani cora com o elogio.

—Afinal, quantas coisas você sabe fazer?

—Tudo o que eu precisei aprender!-seu sorriso aumenta- Vamos! Sentem!

Os três se sentam e passam a se servir. Ao comer a primeira garfada, Ed abre um grande sorriso que é acompanhado de um olhar admirado.

—Está otimo!

—Que bom!-Ani exibe um sorriso feliz. Em seguida olha para o prato de Al, que nada contia e o fita com um olhar preocupado-Você não vai comer, Al?

—Eu… não posso comer por enquanto.

—Por que não? É outro treino de alquimia?

—…Sim.-Al tinha um tom triste. Gostaria muito de poder comer aquela comida que parecia tão gostosa, mas era incapaz de faze-lo.- Desculpe, Ani.

Al mantinha a cabeça baixa, enquanto Ani o encarava séria. Sentia-se mal por não poder comer o que ela havia preparado com tanto esforço e ainda mais mal por não poder lhe explicar o real motivo daquilo. Não queria que ela pensasse que estava desprezando a comida feita por ela.

—Bem… se é um treinamento então não há nada que possamos fazer!-Al olha para Ani-Mas, quando seu treinamento acabar eu vou preparar outra tão gostosa quanto essa só para você, Al!

Ani sorri gentilmente, sorriso que faz com que Alphonse se sinta aliviado ao ver que ela não havia ficado chateada por ele não poder comer.

—Obrigado, Ani!

—Não é nada! Afinal… eu também quero que você coma a minha comida.

—P-Por que?

—Hum…-Ani tomba a cabeça para o lado levemente- Na verdade, eu estou muito feliz de poder estar cozinhando para alguém de novo. Me esforçar para fazer algo… ter pessoas que eu gosto provando o que fiz e depois vê-las sorrindo e dizendo que estava gostoso… é algo que me deixa muito contente!

Ed cora levemente ao ouvir que era alguém de quem Ani gostava, assim como Alphonse que também fica sem jeito. Porém, os dois não podiam negar que sentiam algo se aquecer dentro de si com aquela afirmação tão sincera.

—Sabe…-Ani tinha um sorriso distante no rosto, juntamente com um olhar sonhador- Algum dia, eu quero ter uma graaande familia!

—Quer dizer que quer ter muitos filhos?-Ed arqueia uma sobrancelha

—Não necessáriamente!-ri- Mas meus filhos terão filhos que terão outros filhos! Então… um dia eu serei parte de uma grande, grande familia! E então… eu quero poder cozinhar coisas gostosas para todos eles!

O sorriso que Ani esboçava prende completamente a atenção de Alphonse. Era um sorriso tão sincero, tão caloroso, sonhador e gentil, mas ao mesmo tempo tão… triste. Não conseguia desviar o olhar daquela expressão tão diferente do habitual sorriso animado e despreocupado que ela sempre apresentava.

—Você… cozinhava na fazenda que viveu?

—Sim, fiz isso várias vezes! Se cozinho bem hoje, devo isso a senhora que me ensinou!

—Uma grande familia, é?-Ed sorri

—Sim! As vezes, os netos e filhos do casal daquela fazenda vinham os visitar e a casa ficava cheia de crianças brincando e pessoas conversando! Eu sentia tanta inveja!-ri-Parecia tão divertido!

—Entendi.

O sorriso de Ed mesmo que discreto, aumenta suavemente. Até agora todas as impressões que teve de Ani foram de uma garota exageradamente empolgada e escandalosa, mas agora ela mostrava um lado seu que não era irritante. Apesar de sua vida complicada ter lhe dado aquele jeito teimoso de ser, ainda residia um doce coração feminino ali dentro.

Edward desvia seu olhar para Alphonse e acaba soltando um baixo riso. Al parecia estar hipnotizado, com a atenção completamente presa no que Ani dizia.

—Ei, Al?

Ani passa a encarar Al também, acabando por ter seu olhar encontrando o dele. Alphonse automaticamente dá um leve “pulo” ao encontrar as íris azuis de Ani, acordando do transe. Ficou visivelmente sem jeito quando percebe a forma que estava avoado.

—O-O que foi, Nii-san?-Al fica ainda mais sem jeito ao perceber o sorrisinho do irmão.

—Você estava longe, heim?-ri

—No que estava pensando, Al?

—N-Nada demais. Só estava prestando atenção na conversa.-desvia o olhar- Você pretende voltar a morar nessa fazenda algum dia, Ani? Você parece… Ter um apreço especial por essas pessoas.

—Eu gostaria se pudesse.-suspira- Mas aquele casal… morreu a pouco mais de um ano.

—D-Desculpe! Eu não sabia…

—Tudo bem.-Ah, aquele olhar novamente…- É o fluxo da vida. Tudo possui um tempo. O deles terminou, mas eles sempre estarão vivos no meu coração.-sorri-Além disso, eles não gostariam que eu ficasse lamentando pra sempre! Eles tiveram uma vida feliz e eu tive a chance de conhece-los! É o suficiente para mim.

—Você é forte…-Al diz, ainda se repreendendo mentalmente pela pergunta feita.

—Eles sempre me diziam que eu não poderia deixar as dificuldades impedirem meus sonhos! Se eu trabalhasse duro, eu conseguiria tudo o que quisesse. Então!-Abre um grande sorriso- Eu não tenho tempo para ficar choramingando!

Novamente Al sente seu olhar prender-se a Ani, mas desta vez consegue se controlar e não entrar em transe novamente. Sem conseguir evitar acaba sendo contagiado por aquele sorriso e ri também.

—Ehehe! Entendi. – Alphonse sentia-se estranho, o que estava acontecendo?

Ed apenas arqueia a sobrancelha mantendo o mesmo riso suave.

O jantar corre normalmente a partir dali. Os irmãos contam a Ani sobre o dia na casa de Tucker e sobre a pequena distração causada por Nina e Alexander, fazendo Ani rir pela forma como a pequena conseguiu prender completamente a atenção dos dois e ainda faze-los brincar como crianças novamente.

Após alguns minutos de conversas e risadas, eles terminam de comer e os dois ajudam Ani a organizar a cozinha. (Para evitar novos acidentes com prateleiras altas) E quando já estava tudo em ordem, retornam para o quarto para se prepararem para dormir. Amanhã seria mais um longo dia de pesquisa na residência de Tucker e talvez de brincadeiras com Nina.

Ani repete o ritual de soltar o cabelo e colocar o cachecol cuidadosamente dobrado sobre o criado-mudo. A clara estima que Ani possuía com o cachecol denunciaria até para um estranho o valor que ele representava para a jovem. Da mesma forma, a delicadeza com que soltava os cabelos todas as noites mostravam uma certa vaidade com as madeixas castanhas.

Por um momento Ani para o que fazia, pareceu ter se lembrado de algo.

—Ah! Eu acordei na minha cama hoje de manhã!-fecha a cara- Eu disse que queria fazer o treinamento também!

—Você não deveria dormir no chão, Ani! Fará mal a suas costas!

—Mas Al-

—Vamos, estou cansado. -Ed resmunga- Fique quieta!

Ani murmura mais algumas reclamações inaudíveis antes de se deitar na própria cama, meio que a contragosto.

—Se eu me dormir no chão de novo, você vai me colocar na cama assim que eu dormir, não é?-Ani olha para Alphonse.

—Er, bem...

—Eu já entendi. -Ani fecha os olhos, sorrindo suavemente- Não precisa cuidar tanto de mim, Al. É estranho.

Al trava por um momento, ficando confuso com a declaração de Ani. Por que era estranho ser cuidadoso com ela? Estaria exagerando?

Alphonse gostaria de ter questionado, mas tudo o que conseguiu foi responder um “Entendi.” e se calar em seguida. Algo dentro de si o limitava de forma que não conseguisse falar nada além disso. Novamente, Alphonse sentia-se estranho.

*~*~*~*~*~*~*~*~*

Naquela noite, Ani teve um sonho diferente de todos que já tivera. Nele se via pequena, com aproximadamente sete ou seis anos e conversava com alguém que estava sentado numa poltrona de cor caramelada.

Podia ver muitos detalhes do local, como pôr-do-sol que entrava pela janela e os acariciava gentilmente, dando aos cabelos castanhos de Ani um tom acobreado, as cortinas balançando suavemente devido a brisa que soprava vinda do jardim, as estantes de madeira repletas de livros dos mais diversos assuntos, um tapete vermelho felpudo… E uma pequena e alegre Ani apoiada no braço da poltrona enquanto ouvia com atenção o que a outra pessoa ali presente lhe dizia.

—A Alquimia é uma ciência baseada na troca equivalente, não se pode criar algo do nada. Mas…-sorri serenamente- Com algo de mesmo valor, podemos fazer coisas incriveis.

—Ooh! Então com alquimia podemos fazer qualquer coisa, tio?

—Quase tudo. Há coisas que nós humanos não podemos fazer.

—Nem se for um alquimista?-Ani arqueia a sobrancelha

—Não, nem se for um alquimista.

—Mas os alquimistas são incriveis! É como magia!

—Há coisas que nem o mais forte dos humanos ou dos alquimistas deve mexer. Você um dia quer ser uma alquimista também, não é?

—Sim!-Se levanta, dando pulinhos de empolgação-Como você, tio!

—Então preste muita atenção…-A voz grave dizia calmamente-Um alquimista não deve mexer com vidas.

—Vidas?

—Sim, alterar o fluxo da vida é proibido. –O homem coloca a mão no alto da cabeça de Ani, afagando gentilmente- Você será minha aluna um dia. Então, me prometa que nunca tentará alterar o tempo que ganhamos ao nascer. Mesmo se for alguém que você ame, nenhum humano tem o direito de aumentar ou diminuir esse tempo. Você entendeu?

—Sim! Eu prometo!-sorri- Mas... E se eu usar alquimia para curar machucados também é errado?

—Hum… A alquimia pode ser usada para salvar uma pessoa que está partindo, mas não para trazer de volta uma que já se foi.-O senhor também sorri- Por que? Você quer ser uma médica-alquimista?

—Sim! Assim eu vou poder curar muuuuitas pessoas!

—Tenho certeza de que fará um ótimo trabalho, Ani.

Ani tentou identificar o rosto do homem ao seu lado, mas a imagem do sonho começa a ficar desfocada e distante até simplesmente se apagar como se tivessem desligado o projetor de sua mente e ela abre os olhos, fitando o teto do quarto.

Sentando-se sobre a cama um pouco confusa, Ani olha a sua volta e em seguida para o relógio preso a parede que marcava 4:00 am. Finalmente compreendeu que aquilo tudo se tratou apenas de um sonho, mas isto não a deixa menos inquieta a respeito. Aquele sonho estranho lhe causara uma enorme sensação de nostalgia!

—Tio..?-Ani sente sua cabeça doer, levando ambas as mãos até as têmporas, massageando-as em busca de alivio. - Eu já tive outro mestre?

Após refletir por mais alguns minutos, Ani decide deixar o assunto para trás e voltar a dormir. Não valia a pena quebrar a cabeça pensando naquilo. Seria como as outras lembranças aleatórias que possuía, não importa o quanto tentasse vasculhar suas memórias, não encontraria respostas e apenas ficaria mais e mais confusa.

Alphonse pensou em perguntar se estava tudo bem após ver sua expressão levemente desconsertada e dolorida, mas a reclamação de Ani sobre ele estar “cuidando demais” dela volta a sua mente e age como um tipo de trava, fazendo com que Al continue fingindo estar dormindo.

A manhã logo chega, e Ani desperta visivelmente menos empolgada do que no dia anterior, o que causa estranhamento. Afinal, o silêncio é algo estranho vindo de alguém tão barulhenta e empolgada quanto Ani.

—Bom dia...

—O que houve? Não dormiu direito?

—Algo assim.-sorri sem jeito- Mas estou bem para ir a casa do senhor Tucker!

—Otimo! Sairemos em vinte minutos.-Ed vestia seu colete- Hoje vou testar sua habilidade com pesquisa.

—Pesquisa?-arqueia a sobrancelha

—Sim, alquimistas são cientistas apesar de tudo e cientistas precisam passar um bom tempo pesquisando para desenvolver suas transmutações. Ou você achou que alquimia era só ficar decompondo e reconstruindo coisas?-Ed abre um sorriso debochado

—Claro que não!-cora-B-Bem... Talvez sim, mas isso não importa! Eu farei o que você disser!

Ao não receber uma resposta, Ani volta a fitar Edward e este a encava de maneira incrédula.

—O que foi?

—Não achei que fosse obeceder tão facilmente! Você nunca me ouve.

—Você ainda é meu mestre em alquimia, mas fora dela você é só o Ed! Temos quase a mesma idade!-Ani arqueia a sobrancelha em questionamento- Ou pelo menos... Eu acho que temos.

—15 anos.-responde Ed-Al tem 14.

—Ah! Temos a mesma idade, Al!-sorri

—Sim!

Ani se coloca a pensar sobre a idade de Edward e seu peito se enche ainda mais de admiração pelo outro. Ed era tão jovem e já possuia o título de alquimista federal com uma reputação tão marcante.

Ed e Ani possuíam quase a mesma idade, porém suas diferenças de habilidades eram notáveis. A felicidade de te-lo como mestre era mesclada com o desejo de um dia se tornar uma alquimista tão boa quanto ele.

Ani invejava o olhar flamejante que Ed possuía.

—Eu também... Consigo.-sussura pra si mesma.

Por um momento Ani se recorda do estranho sonho da noite passada, voltando a aguçar sua curiosidade a respeito do assunto que tratou com aquele homem anônimo. Sabia que a alquimia sempre estivera ao seu redor, mas era a primeira vez que via que desde pequena desejou ser alquimista.

—Ei, Ed?-Ed murmura um “Hum?”- Existem pessoas que usam alquimia como uma forma de curar ferimentos? Como médicos?

—Hum... Não são muitos, mas sim. Os alquimistas que tem boas habilidades normalmente se tornam militares, enquanto os medianos usam a alquimia para outras funções, geralmente para fabricar coisas, conserta-las e vende-las.-Ed coloca uma das mãos no queixo- Mas também há pequenos médicos que usam a alquimia para esse fim. Por quê?

—Porque, eu penso em me tornar esse tipo de Alquimista.- Ani separa seu cabelo em duas partes, segurando uma das fitas pretas com a boca enquanto amarrava uma das metades do cabelo com a outra.- Acho que assim eu poderia ser mais util.

—Realmente.- Ed lembra com certo pesar das inúmeras vezes que se quebrou inteiro após se meter nas confusões que insistiam em persegui-lo em suas viagens.- Se além disso você aprender a consertar automail seremos o time perfeito!

—Hahaha! Isso eu não sei fazer!

—Que pena.-sorri- Bem, Sr. Tucker é especialista em alquimia biológica! Já que se interessa pela área médica, talvez a pesquisa dele também seja util a você.

—É mesmo!- Ani sorri, terminando de prender o cabelo- Certo! Vou me esforçar!

—Ehehe! A Ani de sempre voltou.-Diz Alphonse

—Eu nunca fico desanimada por muito tempo!-pisca

E eles então retornam a casa de Tucker, desta vez acompanhados de Ani, que fora apresentada ao homem por Edward.

A jovem o cumprimenta educadamente, agradecendo por permitir que estivessem ali.

Eles então seguem até a biblioteca de Tucker, a princípio retomam as pesquisas e Ed novamente entra em seu estado de concentração total, se colocando num mundo particular onde tudo o que via eram as teses, conceitos e relatórios das pesquisas do Alquimista da Vida.

Ani e Alphonse estavam um pouco afastados de Ed. Al de pé foleando um dos arquivos, enquanto Ani estava sentada no chão com as pernas cruzadas, também com um livro. Tentava prestar atenção no que estava escrito, mas os olhos vidrados de Ed sobre o que lia atraem mais a atenção de Ani do que o livro que segurava em suas próprias mãos.

—Incrível, ele nem pisca…

Alphonse acompanha o olhar de Ani até o irmão, também o fitando por alguns instantes.

—Nii-san tem uma concentração muito grande quando se interessa por alguma coisa.

—Sim…-Ani olha para Al-Você também é incrivel! Consegue ficar tanto tempo lendo esses livros complicados e consegue entender tudo!

—Você está tendo dificuldades para entender?

—B-Bem…-abre um sorriso enquanto suas bochechas adquirem um tom avermelhado- Um pouco.

—Eu posso explicar para você o que não entender.

—Mesmo? Obrigada!

—Então… “A equação de um circulo de transmutação só obterá exito se os átomos da substancia transmutada tiverem mesmo numero de massa e componentes semelhantes”. Você entendeu isso?

—Troca equivalente, não é?

—Sim! Como por exemplo transmutar ferro em ouro, por mais que isso seja proibido.

—Se fosse permitido o ouro não teria mais valor nenhum, não é?-sorri- Por que nos livros se descreve as coisas de forma tão complicada? Não seria melhor escrever de um jeito mais simples?

—Alquimistas são levados mais a sério se demonstrarem conhecimento. E um vocabulário rebuscado causa uma impressão de inteligência. Por isso os livros são descritos dessa forma, para que assim as pesquisas tenham mais impacto, principalmente para os céticos.

—Entendo…-Ani olhava admirada- Você é tão inteligente, Al!

—Hahah! Isso não é nada demais. Eu apenas leio muito! Eu e Nii-san estudamos alquimia desde pequenos! Nossa professora sempre nos colocava de castigo porque ficavamos lendo livros sobre alquimia em vez de ler os da escola!-Alphonse ri nostálgico

—Hahah! Eu imagino!-pausa- Ei, Al… Como é uma escola?

Alphonse trava por um momento, ficando deveras surpreso com a pergunta que ouviu.

O maior fita Ani incrédulo, enquanto essa abria um outro sorriso sem jeito, já sabendo o motivo daquela reação.

—Você nunca foi a uma escola?

—Não. Você é meu primeiro professor, Al!

—Você sabe… ler?

—É claro que eu sei ler!-franze o cenho-Eu disse que aprendi tudo o que precisei! Ler foi uma dessas coisas! Eu também sei fazer continhas!

—C-Continhas?-Al segura o riso

—N-Não ria de mim!!-cora- C-Como eu saberia que estavam me pagando certo se não soubesse contar?

—Não estou rindo de você, estou rindo da forma como falou. “Continhas”.

 -Q-Qual o problema?-faz bico

—Nenhum.-solta um risinho- Eu só achei… fofo.

Desta vez quem fica sem reação é Ani. Ela apenas conseguiu encarar Al e não emitir resposta alguma. Quando percebeu que sua voz não passava de sua garganta, abaixou sua cabeça e permaneceu em silêncio.

Alphonse no mesmo instante se repreende mentalmente pelo seu comentário. Não prestou atenção no que dizia e quando deu por si sua voz ditava o que se passava em seus pensamentos.

—D-Desculpe. Eu não queria te incomodar de novo.

—“De novo”?-arqueia a sobrancelha- Quando me incomodou?

—Quando disse para não me preocupar tanto com você, porque é estranho…-Al desvia o olhar.

—Oh… Não, não! Você entendeu errado, Al.

—Entendi?

—Sim! Não é estranho porque me incomoda, é estranho porque… não estou acostumada com isso.-ri- É a primeira vez que alguém toma conta de mim dessa forma.

Neste momento, os dois invertem suas ações, Alphonse volta a fitar Ani e esta desvia o olhar, esboçando um leve sorriso ainda com as bochechas adornadas num suave tom rubro.

O Elric mais novo se afunda em pensamentos após a desfeita deste pequeno mal-entendido. Ani era mesmo uma pessoa cheia de pequenas e curiosas peculiariedades, que tornavam ela uma pessoa muito interessante.

Sentindo-se mais calmo por saber que não a deixava desconfortável, Alphonse volta sua atenção para o livro que ainda segurava.

—Ani, como você está com dificuldades com pesquisa… o que acha de eu ensina-la?

—Me ensinar? Então… Ed será meu mestre na parte prática e você será meu mestre na parte teórica?

—N-Não me chame de mestre.

—Parece divertido!-Ani se empolga rapidamente e em dois segundos estava sorrindo e dando pulinhos animados- Vamos começar logo, Al!

—Certo, certo, se acalme!

Ani e Al se sentam no chão e passam a ler os livros juntos. A medida que ia lendo, Alphonse explicava a Ani todas as informações que obtinha naquelas páginas.

Por mais que não tivesse frequentado uma escola, Ani não era nada boba e entendia tudo o que lhe era explicado com facilidade, ao mesmo tempo demonstrando já ter consigo um amplo conhecimento da alquimia basica e um pouco de alquimia biologica aprofundada.

O compartilhamento de conhecimentos de Alphonse com Ani além de instrui-la, tornava a tarefa de ler todos aqueles livros menos tediosa e mais divertida.

Após cerca de meia hora de pesquisa, Nina aparece e se junta a eles na biblioteca para conversar com os irmãos e com a nova amiga que vinha vindo naquele dia.

Edward novamente cede as vontades da garotinha e se senta proximo dos outros, ouvindo a conversa dos três, sem parar de ler.

—Então… você vivia sozinha antes de conhecer os Onii-chans?

—Sim, eu passei por várias cidades até acha-los!

—Você também quer ser uma alquimista federal?

—Hum…Eu acho que não. Eu quero ser uma médica!

—Por que?

—Bem…-Ani sorri- Não é triste quando você fica doente ou se machuca e não pode sair para se divertir, fica olhando para as outras crianças brincando lá fora mas não pode ir?

—Sim… eu quero, mas o corpo doi.

—E se de algum jeito, o machucado sumisse num instante? Ou você se sentisse melhor na hora? Não seria otimo?-sorri

—Sim! Você pode fazer isso?

—Ainda não, mas… eu vou poder um dia!

—Incrivel, Onee-san!

A palavra “Onee-san” ecoa na consciencia de Ani, a fazendo sorrir ainda mais. Nina era uma garotinha adoravel, de fato! Podia entender porque os irmãos haviam se afeiçoado tanto a pequena. Ela própria, que a conhecia a menos de uma hora já começava a nutrir um grande carinho por Nina.

—Ter um irmão mais novo deve ser divertido…-comenta

—Ter irmãos é otimo, mas… também brigamos bastante.-Ed ri- Eu e Al já brigamos muito!

—É mesmo?-ri

—Nii-san consegue ser muito teimoso as vezes!

—E você é muito bonzinho!

Ani e Nina riem enquanto veem os irmãos iniciarem uma pequena discussão a respeito dos “Defeitos” um do outro.

—Você gostaria de ter um irmãozinho também, Nina?-pergunta Ani

—Sim! Pra brincar comigo e Alexander!

—Você deveria pedir um a sua mamãe!

A expressão de Nina se torna séria por um instante, retornando com o sorriso infantil segundos depois.

—Mamãe foi embora dois anos atrás.

Os irmãos param de discutir ao ouvir esta frase e voltam sua atenção para a conversa das duas.

—Eh? Sua mãe deixou vocês a dois anos atrás?-Pergunta Al

—Papai disse que ela voltou para sua familia.

—Entendo… Deve ser solitário viver aqui só você e seu pai.

Ani se afunda em pensamentos após a afirmação de Nina. Queria dizer algo, mas nada vinha a sua mente, as palavras simplesmente não saiam. Mesmo sem saber o que dizer, sentia algo entalado em sua garganta mas não conseguia identificar direito do que se tratava.

Acalmando a si mesma, Ani engole a explosão de sentimentos que inundaram seu peito e exibe um suave sorriso tristonho em seu lugar.

—Não.-Nina balança a cabeça- Papai está aqui, e tem o Alexander também!-Abraça Alexander- Mas, ultimamente ele anda passando muito tempo no laboratório… É um pouco solitário para mim.

Os irmãos se entreolham, ao mesmo tempo se recordando da própria experiencia que era muito semelhante a de Nina. De um pai que vivia trancado em um laboratório e não podia brincar com eles.

Edward fecha o livro que segurava e se levanta, esticando os braços os alongando.

—Ah, meu corpo doi!

—Que tal se exercitar um pouco, Nii-san?

—É uma boa. Ei, cachorro!-Aponta pra Alexander- Você vai me ajudar no meu treinamento.

—Você também, Nina!

E novamente eles esquecem-se das pesquisas e começam a se divertir com Nina, brincando como crianças outra vez.

Ed corria de Nina que estava montada em Alexander, logo em seguida transmutu seu automail num tipo de brinquedo de garra e corre atrás dos dois que passam a fugir.

Passaram várias horas brincando com a menininha. Correram de um lado para o outro, Alphonse serviu de escorregador e Alexander de cavalo. Toda a diversão era acompanhada da doce risada infantil de Nina, que estava adorando brincar tanto daquela forma.

*~*~*~*~*~*~*~*

O tempo passa mais rápido do que puderam perceber e logo o dia chega ao seu fim.

Quando o sol se despedia, os alquimistas se reunem na sala de Tucker para conversar com ele e saber um pouco mais sobre a vida do senhor.

—Nossa vida antes de conseguir a classificação de Alquimista federal era horrivel. Éramos muito pobres… e minha mulher sem conseguir aguentar mais a situação foi embora.-Tucker tinha uma voz triste, relembrava com pesar das inumeras discussões e brigas com a esposa e das várias vezes que havia visto a filha chorar.-Eu tenho que conseguir a qualificação de qualquer jeito. Não quero que aqueles tempos voltem.

—Vai dar tudo certo, papai! Se disserem que você falhou, eu e Alexander vamos lá reclamar!

Edward e Alphonse riram admirados pela coragem da pequena mas estranhamente, Ani não conseguiu rir. Sequer havia ouvido o que Nina disse, pois estava afundada em pensamentos sobre Tucker. Havia sido gentil com o senhor por educação, mas em seu âmago… não havia gostado dele.

Seus anos vivendo por conta própria fizeram dela uma pessoa muito intuitiva, e por mais que talvez estivesse errada, manteria-se cautelosa diante do homem.

Tucker olhou para a filha, e sorriu.

—Nina, o que acha de brincarmos amanhã?

Foi o suficiente para um grande sorriso iluminar o rosto da pequena, que pulou nos braços do pai e contou alegremente ao grande cachorro que no dia seguinte brincariam todos juntos. Ed pensou que talvez não devessem aparecer na manhã seguinte, para que assim pai e filha pudessem passar um tempo juntos.

E assim deixam a residência, retornando para a pousada.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

O dia amanheceu, e como não pesquisariam naquele dia, Ed seguiria com o treinamento de Ani.

Edward novamente seguiu até os fundos da pousada, sendo seguido pelos outros dois. No caminho, o mais velho refletia sobre a transmutação que vira Ani fazer quando a conheceu. Uma transmutação bem-feita seguia três passos básicos:

—Compreensão.

—Decomposição.

—Reestruturação.

Por algum motivo, as transmutações de Ani paravam em algum desses passos. Ela não conseguia finaliza-las. Conseguir descobrir em que parte ocorria a falha na alquimia era o primeiro passo para saber como corrigi-la e assim começar de fato a treina-la.

—Eu não posso ensina-la nenhuma tecnica enquanto você não conseguir nem ao menos realizar uma transmutação simples.

—Então… O que vai fazer?

—Quero vê-la transmutar de novo.

—Tudo bem, mas… você sabe...

—Está tudo bem. Mesmo que destrua algo eu posso reconstruir.-Ed para de andar, virando-se de frente para Ani- Vamos começar com algo simples.

Edward para de andar bem acima de uma das pedras que faziam parte de um caminho decorativo que ia da porta dos fundos até o fim do quintal.

O loiro bate suas mãos e transmuta uma pequena estátua de Alphonse usando a pedra como máteria prima.

—Ah! É o Al!-sorri

—Quero que você faça o mesmo.-Ed se afasta um pouco e se senta no chão, de frente para Ani.-Não precisa ter tantos detalhes, mas preciso conseguir identificar o Al nela.

 -Sim, entendi.

Alphonse se coloca atrás do irmão.

—Esse é o tipo de transmutação que eu e Al faziamos quando crianças. É o basico do basico.

—Pressão zero, né Ed.-Ani franze o cenho enquanto Ed exibe um sorriso maldoso.

—Faça seu melhor, Ani!-Diz Al

—Sim!

Edward então passa a observar os movimentos de sua aprendiz, os analisando minuciosamente para não perder nenhum detalhe, não deixando escapar nenhuma pista da falta de exito na alquimia de Ani.

A jovem olha por alguns instantes para o modelo feito por Ed e para a pedra que faria sua própria estátua. Após respirar fundo imita os movimentos de Ed, batendo suas próprias mãos e iniciando a transmutação.

Porém, diferente de seu mestre, a transmutação de Ani falha novamente, fazendo com que vários pequenos fragmentos da pedra voem para os lados devido a explosão. Já prevendo que isto fosse acontecer, Ani se afasta rapidamente e usa os braços para proteger o rosto das pedras.

Após o perigo ter passado, Ani abaixa seus braços, frustrada por aquilo ocorrer sempre que usava alquimia, não importando o quanto treinasse.

Olhou para Edward e este ainda se escontrava na mesma posição, a olhando com uma expressão séria no rosto.

—E-E entã-

—Outra vez.

—Eh?

—Faça outra vez.

—S-Sim!

Ani repete a transmutação e novamente a pedra explode. Ani volta a fitar Ed que ainda a encarava com aquele mesmo olhar intimidador.

—Outra vez.

Ani não entedia porque Ed pedia que ela repetisse o que fazia. Ambos sabiam qual seria o resultado, o que ele queria afinal?

Mesmo não entendendo, Ani não o questiona e tenta novamente. Mais uma explosão. Ela novamente espera outro comando.

—Outra.

E assim Ani tenta mais três vezes, obtendo sempre o mesmo resultado e tendo que repetir o ato.

Ao fim da terceira tentativa, Ani já estava put- quer dizer, extremamente irritada com a situação. O que Ed estava querendo? O que estava tentando fazer? Já estava totalmente suja de terra e poeira e ainda não havia entendido o proposito de ficar repetidas vezes explodindo aquela pedra.

—Outra vez.

—Afinal, por quanto tempo vou ter que fazer isso?!

—Até parar de ter medo de mim.

—Hã?

—Quando transmuta suas mãos tremem e você me olha nervosa. Você fica com medo da minha reação e por isso tem medo de errar.-cruza os braços- Lembra do que eu disse? A alquimia tem que ser algo natural pra você. Enquanto ficar tão insegura não vai conseguir se concentrar.

Ed abre um suave sorriso, lembrando-se daquela explicação. Por mais que a história de dormir no chão ser um treinamento fosse mentira, a justificativa que deu era verdadeira. Alquimia tinha que ser algo fluente na vida do Alquimista, para assim poder compreende-la e controlar melhor o fluxo da energia.

—Eu não vou rir se errar.

—Eu sei que não.

—Então do que tem tanto medo?

—Eu… nunca consegui fazer direito e nem sei se posso.-suspira-Tenho medo de… que se canse de tentar me treinar.

—Se não achasse que pudesse eu não teria aceitado te treinar.-sorri.

O olhar de Ani brilha. Ouvir que Ed acreditava nela era um sonho que jamais imaginou realizar. Sua maior inspiração acreditava em seu potencial, então porque ela própria também não acreditava?

—Vamos, mais uma vez.-se levanta, se aproximando novamente-Al me contou que você sabe muita coisa sobre alquimia. Por isso creio que seu problema esteja na segunda ou terceira etapa da transmutação.

—Porque… sabendo muita teoria o problema não poderia estar na compreensão, certo?

—Isso mesmo.-sorri-Eu suspeito que você falhe na decomposição, porque a explosão acontece quase que no mesmo momento que inicia a transmutação.

—Então… O que devo fazer?

—Feche os olhos.-Ani obedece-Agora imagine essa rocha.

—Sim.

—Aprofunde mais. Vamos para pedaços delas, depois poeira, particulas, moleculas. Imagine cada um dos átomos que formam esta pedra sendo separados, desmonte ela parte por parte.-Ed tinha uma voz calma- Depois remonte, reorganize tudo na forma que quer. Você sabe como deve acontecer, agora você tem que fazer acontecer.

—Molecula por molecula… desmontar e remontar…-abre os olhos- Certo! Mais uma vez! -Ani torna a fechar os olhos, respirando fundo novamente.

Desta vez Edward não se afasta, vendo de perto Ani bater as duas palmas de suas mãos e leva-las até o chão, mantendo os olhos fechados e a concentração. Imaginando cada uma das particulas da pedra sendo separadas e reorganizadas e tentando recriar o que se passava em sua cabeça.

Pôde ouvir os sons das faiscas da reação de transmutação, mas o som da explosão não veio.

Abriu seus olhos e foi com grande surpresa que viu a sua frente um molde de Alphonse feito de pedra. Não tão rico de detalhes como o que Ed fez, mas era possivel ver a silhueta de Alphonse moldada na pedra.

—Não… explodiu.

—É, parece que eu estava certo!-Abre um sorriso-Muito bem!

Ani pisca algumas vezes, ouvindo o elogio de Ed ressoar em sua cabeça, mas não conseguindo processa-lo e entender que fora um elogio. Conseguia apenas olhar para a figura de pedra à sua frente completamente abobada.

—Ei, Ani?

Ed balança uma das mãos na frente de seu rosto e ela pisca mais rapido, parecendo ter despertado do transe. Fitou Ed com a mesma expressão incrédula.

—Ed… Não explodiu.

—Você conseguiu, Ani!-Diz Al com um tom alegre

—Não…explodiu.-arregala os olhos- NÃO EXPLODIU!!

Ed se assusta com o grito repentino, mas mal teve tempo de reclamar pois é jogado ao chão por Ani que novamente sobe acima de si ainda gritando.

—ED! NÃO EXPLODIU!! EU CONSEGUI TRANSMUTAR! EU CONSEGUI! EU CONSEGUI! HAHAHAH!!

—TÁ, EU ENTENDI! MAS PARA DE GRITAR!

—EU FINALMENTE CONSEGUI!!!-As duas mãos de Ani vão até o sobretudo vermelho de Ed e começam a sacudi-lo freneticamente para frente e para trás.-GAAAAAAAAAH!!! NÃO FEZ BUM! EU CONSEGUI TRANSMUTAR ALGO!!

—A-Ani, se acalme!-Diz Alphonse, temendo pela segurança de seu irmão. A força que Ani ganhava quando se empolgava era no minimo assustadora. Porém, Alphonse percebe que passou de salvador para presa no instante que os olhos assustadoramente animados de Ani o fitam como um predador.

—ALPHONSE! VOCÊ VIU? VOCÊ VIU? EU FIZ UMA TRANSMUTAÇÃO! EU FIZ!

—S-Sim, eu vi! Muito bom, Ani! Mas pare de gritar, assim vai incomodar os outros hóspedes!

—EU NÃO POSSO ME CONTER!

Ani joga Ed deitado no chão com a furia de sua euforia, este mantinha um olhar de “WTF” e via Ani pular como uma mola enlouquecida enquanto se perguntava o que havia feito para merecer aquilo.

—DEU CERTO! DEU CERTO! DEU CERTO!!!

A jovem gira seu corpo e salta em direção a Alphonse, também jogando o Elric mais novo ao chão.

—AL-PHON-SEEEEEE!!!

—Ok!!! Eu já entendi!!-Al coloca as duas mãos sobre os ombros de Ani a segurando com certa firmeza para que se acalmasse um pouco antes que o irmão decidisse fazer isso por si só. (E deu ma maneira não tão carinhosa.)- Isso é ótimo, Ani! Mas pare de gritar!

—Desculpe…-Ani arfava, tossindo algumas vezes devido a gritaria- É que… Eu estou tão feliz!

—Eu sei.-ri- Muito bem!

Ani abre um enorme sorriso. Podia-se notar algumas lagrimas se formando no canto de seus olhos devido a emoção de pela primeira vez, ter tido sucesso com Alquimia. Por mais que aquele tipo de transmutação fosse algo simples para alguns alquimistas, era algo incrivel para ela.

Enquanto isso, Ed se levantava do chão, limpando a poeira de suas roupas e montrando um olhar irritado. Era a segunda vez que era atacado brutalmente daquela maneira e com certeza não era algo que estava achando divertido.

—Êi, da proxima vez que você pular em mim eu vou-Ed não pode terminar a frase, pois fora interrompido com um forte abraço vindo da garota.-… Ani?

—Obrigada! De verdade… Obrigada!

Edward era apertado fortemente por seus braços enquanto Ani afundava seu rosto no ombro do mais velho. Sua voz chorosa denunciava que havia cedido aos seus sentimentos e agora deixava suas lágrimas de alegria sairem livres por seus olhos.

Sem saber direito como reagir aquilo, Ed apenas leva uma das mãos até o alto da cabeça de Ani, afagando suavemente numa espécie de carinho desajeitado. Não era abraçado daquele jeito com frequência.

Olhou para Alphonse por um momento, e este ri da situação, incentivando Edward a abrir um sorriso também.

Ed afaga a cabeça de Ani por mais algum tempo, em seguida a afasta delicadamente, sorrindo meio sem jeito.

—Já chega. Ainda não terminamos seu treinamento.

—A-Ah! Sim! Desculpe, me deixei levar!

—Está tudo bem.Vamos continuar.

—Quer dizer que eu posso te abraçar quando quiser?-Abre um sorrisinho

Ed bufa em resposta, ficando claramente incomodado com a pergunta. Ani ri, se divertido com a reação de Ed.

—Pare de brincar e vamos continuar com isso.

—Sim!-Ani para- Oh, mas antes.

Novamente a garota gira seu corpo em direção a Alphonse. (Que aliás, ainda estava sentado no chão após ser derrubado por Ani.) Caminhou até ele e se agachou a sua frente, abraçando os próprios joelhos enquanto o olhava com o mesmo sorriso de quando abraçou Ed minutos atrás.

—Você também, Al. Obrigada!

—Mas eu não fiz nada…

—Você me ensinou muita coisa ontem! Com certeza me ajudou a visualizar melhor minha transmutação antes de fazê-la!-Tomba levemente sua cabeça para o lado-Muito obrigada!

—De nada, Ani.-ri- Mas realmente não fiz nada de mais! Foi divertido te ensinar!

Ani já havia agradecido, Alphonse já havia respondido, porém a garota não se levanta para continuar o treinamento e continua ali, encarando Al fixamente com sua testa franzida.

—O que foi?

Ani não responde, apenas se levantou e se aproximou mais de Alphonse, também envolvendo seu corpo de metal em seus braços, num rápido porém carinhoso abraço.

Distanciou-se um pouco para poder olha-lo, com um sorriso sereno.

—Obrigada, Al.

Ani então afastou-se, voltando para perto de Ed e continuando o treinamento. Enquanto isso Alphonse permaneceu parado, pensando no que havia acabado de acontecer. Desde o dia em que perdeu seu corpo, Alphonse nunca desejara tanto ser capaz de sentir o calor de um abraço.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá na minha página, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver as vezes. ;) https://www.facebook.com/TordTheWriter/

—Tord.



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