Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 10
Ina


Notas iniciais do capítulo

Heeey! Eu voltei! Particularmente eu estou muito contente com este capitulo! E também bem surpreso de ter conseguido escreve-lo tão facilmente! Talvez eu esteja pegando o jeito pra essa fanfic de novo.
Este foi um daqueles capítulos em os personagens falaram mais alto do que eu e muitas decisões que eu havia tomado foram mudadas pelas vontades deles e acho que isso que me fez gostar tanto de escreve-lo!
Espero que vocês também gostem de lê-lo! Novamente, gostaria de agradecer por todos os comentários e carinho que tenho recebido tanto no decorrer de Sugar Heart como em Imperatriz do mar! Me deixa extremamente feliz ter toda essa interação com cada um de vocês! Muito obrigado por tudo! Vocês são demais!
Aproveitem o capitulo! E até o próximo! ;)

—Tord.



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Alguns minutos haviam se passado desde que aquela garota que possuía o mesmo rosto de Ani havia lhes dado as costas e saído dali com uma feição tão confusa e desnorteada quanto a que Ed e Ani possuíam naquele momento. A cabeça turbulenta de Ani dividia-se entre se preocupar com o estado físico de Ed e tentar encontrar algo que fizesse sentido em tudo o que houve na última hora.

—Você está bem, Ed?

—Estou. – Respondeu num tom sério, agora já sentado no chão, enquanto sua aprendiz se encontrava ajoelhada ao seu lado com uma das mãos apoiando suas costas.

—O que aconteceu? Você estava no chão quando eu te encontrei! Ela te feriu muito?

—Na verdade não.

Ed puxa a barra da calça de sua perna esquerda, revelando uma prótese quase que completamente destruída. Ao ver o estado que a perna de Ed se encontrava, Ani imediatamente arregala seus olhos e seu rosto se configura numa expressão preocupada.

—Ed, sua perna!!

—Ela foi direto para meus automails. Ela sabia que eu não estava com minhas próteses habituais... estas não foram feitas para lutar, são só provisórias até que Winry terminasse as minhas. Ela sabia que eu não estava preparado para lutar.

—Quer dizer que ela estava nos observando? – Ani parecia assustada. Olhou em volta rapidamente, como que querendo confirmar se de fato estavam ambos sozinhos. – H-Há quanto tempo?

—Eu não sei. Se ela me atacou quando sabia que eu estava fraco... Ou ela optou por não me subestimar, ou é mais fraca do que eu. – Ed a encara após abaixar a barra da calça novamente. Seus olhos dourados encararam os azuis de Ani profundamente com um brilho questionativo. Ed não sabia o que deveria pensar depois do que havia visto naquele fim de tarde. – Quem era ela?

—Eu não sei... – Ani leva uma de suas mãos à cabeça, franzindo um pouco a testa. Sua cabeça doía. – E-Eu... A senhora Pinako nos contou um pouco sobre vocês dois quando eu estava a ajudando com o jantar. Ela contou sobre o que houve com a mãe de vocês e contou sobre o dia em que... em que tentaram trazer ela de volta. – Ani baixa o olhar. – Sempre pareceu ser um assunto delicado para vocês então eu nunca perguntei nenhum detalhe. Depois que eu soube o que aconteceu eu quis ir visitar o túmulo da Trisha-san, sabe? Vocês raramente vêm para casa, achei que uma oração para ela não seria algo ruim. – suspira. – Depois... Depois eu me senti curiosa sobre esse lugar. Eu queria vê-lo com meus próprios olhos e não de longe, pela janela da cozinha. Eu queria entender melhor tudo o que houve. Mas então... – Sua testa se franze novamente, parecendo mais dolorido. – Eu cheguei aqui... e-e...

A cabeça dela latejava, sentia todo seu cérebro pulsando dentro de seu crânio como se estivesse tentando ultrapassar por alguma barreira, como se algo estivesse segurando sua consciência naquele lugar limite e não estivesse a deixando ir em frente. Várias lembranças entrecortadas e confusas rondavam sua cabeça e a cada uma, parecia doer mais.

“Eu finalmente encontrei você!”

“Agora vamos poder voltar para casa!”

“Olhe para isso... – Apontando para casa. – Alquimistas são pessoas horríveis, não é? Continuam a fazer isso de novo e de novo.”

“Foi difícil conseguir chegar até você, aqueles dois nunca a deixavam em paz.”

“Oh. Ele a seguiu. Não se preocupe... cuidarei dele também.”

ELA NÃO TE DEU ESSE CACHECOL! EU TE DEI ESSE CACHECOL!!”

“Eu sou a pessoa que vem tentando salvar você.”

U-Uugh!

Ani leva ambas as mãos até a cabeça, trincando seus dentes com força e grunhindo de dor quando parecia ter sua cabeça esfaqueada de todos os lados possíveis. Tamanha era sua agonia que seu corpo até mesmo se curva para frente, incapaz de manter seu próprio equilíbrio.

—Ani? – Preocupado, Ed a segura pelos ombros, a fazendo endireitar o corpo enquanto tentava olhar para seu rosto. Quando ela finalmente olha para si, várias lagrimas já rolavam por seu rosto, enquanto seu olhar emitia toda a dor que estava sentindo tanto fisicamente quanto emocionalmente.

—O-O que está acontecendo, Ed? Q-Quem era ela?

Ed suspira, tentando acalma-la com seu olhar, mas ainda se mantendo meio distante.

—Você realmente não sabe quem ela é?

—Mas é claro que não! E-Eu saberia se tivesse uma gêmea, não saberia? O-Ou eu não saberia..? E-Ela é minha irmã? E-Eu tenho uma irmã? – Ani segura o cachecol em seu pescoço, o puxando para que se desenrolasse de seu pescoço, o encarando com uma expressão incrédula. – F-Foi a minha mãe quem me deu esse cachecol. – As lágrimas se acumulam novamente em seus olhos, escapando de seus olhos sem empecilhos. – N-Não foi?

Ani tenta trazer a sua cabeça todas as memórias que possuía de sua mãe, todas as lembranças dos dias felizes que viveram juntas, todas as vezes que riram uma ao lado da outra. Lembrava-se de quando andavam de mãos dadas pelas ruas, quando ainda mal alcançava a altura de sua cintura. Ani sempre olhava para o alto sorridente, apenas para ver sua mãe sorrindo de volta para si, com os raios do sol brilhando ao redor de si. Seu sorriso sempre era tão-

—A-ARRRHG!

No momento que o rosto de sua mãe começava a se formar em sua memória, uma dor insuportável atingiu sua cabeça, a fazendo agarrar seus próprios cabelos com força, como se quisesse abrir seu próprio crânio e arrancar de lá seja lá o que estivesse fazendo doer tanto.

—ANI JÁ CHEGA!

A voz de Ed entrecorta parcialmente sua linha de raciocínio que ainda tentava trazer a imagem de sua mãe de volta, o aperto que ele deu em seus braços a faz abrir seus olhos em meio as lágrimas, parecendo mais assustada a cada segundo que se passava.

—O-O que está acontecendo, Ed?

—Fique calma. – Pede firmemente. – Não temos certeza da força que ela tem. Ela não pareceu querer te atacar agora, mas eu ainda pareço ser um alvo para ela. E se você tentar me proteger de novo, vai acabar virando um também. Com essa prótese destruída e sem meu braço eu não posso defender nem a mim e nem a você.

Ter Ed falando consigo naquele tom tão firme, fazia com que Ani se acalmasse aos poucos, focando sua atenção no que ele dizia e passando a acenar levemente com a cabeça, embora seu olhar ainda permanecesse perdido.

—Nós precisamos sair daqui. Eu preciso ter certeza de que o Al não está em perigo também.

Citar Alphonse fez com que a cabeça de Ani voltasse a funcionar, arregalando levemente os olhos aos perceber que Ed estava certo. Não sabiam para onde aquela garota havia ido, mas se ela tentou atacar Ed, poderia também tentar atacar seu irmão. Precisavam voltar para a casa dos Rockbell.

—S-Sim!

Rapidamente secando suas lágrimas com as costas das mãos e respirando profundamente, tentou recuperar um pouco seu centro, se acalmar um pouco e não se desesperar naquele momento. Quando conseguiu retomar minimamente sua calma, deixou que Ed se apoiasse em seus ombros e o ajudou a ficar de pé, fazendo com que o mais velho soltasse alguns resmungos doloridos antes de começarem a caminhar.

—x-

—Al! Alphonse!

—Al! Winry-san!

Ao ouvir os gritos vindos da porta de entrada da casa, Pinako imediatamente vai de encontro a eles, com uma feição preocupada no rosto que só se intensifica ao ver o estado de Ed.

—Céus! O que aconteceu com vocês?

Sendo também atraída pelos gritos dos dois, Winry desce as escadas e vai até a sala. Quando vê o estado de Edward imediatamente fica furiosa ao ver o automail destruído novamente.

—AAAH! O QUE VOCÊ FEZ?

Os gritos irritados de Winry fazem Ed voltar o olhar para ela. Já estava mais que acostumado com os exageros dela quando se tratavam dos automails, porém, no lugar de reclamar do drama dela como sempre fazia, a expressão de Ed imediatamente se suaviza ao ver que tanto Winry quanto Pinako estavam bem.

—Winry...

Instantaneamente a loira estranhou a reação tão inusitada dele. Sem reclamações, sem comentários sobre ela exagerar. Sem o habitual tom abusado que sempre dizia “É, ele quebrou! Fazer o que?”. Winry já conhecia Edward há tempo suficiente para saber que algo estava errado.

—Winry-san, onde está o Al?!

—Eh? – Confusa. – Ele está lá fora com o Major. – Ed e Ani se entreolham. Em um simples olhar a comunicação entre eles é estabelecida e Ani entende o comando que lhe é dado. Ajudou Ed a sentar-se no sofá da sala e correu em direção os fundos da casa. – M-Mas o que está havendo?

—Winry. – A loira olha para ele. – Sabe que eu detesto te apressar... – Ed abre um leve sorriso. – Eu preciso que conserte meus automails. Depressa.

—x-

—O-O que vocês estão dizendo?

—Havia uma pessoa igual a mim. Igualzinha! Ela queria que eu fosse com ela. Ela... parecia me conhecer.

Os três alquimistas agora estavam em um dos quartos da residência, os três com olhares perdidos e confusos. Alphonse olha para o irmão, que agora se encontrava sentado em uma cama próximo a si, já com uma nova prótese temporária em sua perna.

—E... ela fez isso com você?

—É. E podemos deduzir que ela esteve nos seguindo. Só não conseguimos dizer há quanto tempo. O que sabemos agora é que ela sabia que eu não estava nas melhores condições e... – Olha para sua aprendiz. – Ela quer a Ani. Não parece querer machucar ela, mas o interesse dela... é a Ani.

Alphonse percorre o quarto com o olhar.

—...O Coronel disse que talvez viessem atrás de nós. Por isso o Major veio conosco.

—Al, eu não acho que ela esteja relacionada com o Scar.

—E... ela machucou você também?

Al olha para Ani que também estava sentada na cama próximo da grande caixa onde se encontrava. Abraçava uma de suas pernas enquanto a outra se mantinha esticada e balançando devagar. Permanecia encarando o nada, perdida em seus profundos pensamentos, sendo trazida de volta apenas quando o ouvir falar consigo.

—Não, ela não me machucou. Na verdade... – A lembrança do momento em que subiu até a colina onde se localizava os escombros da antiga casa dos irmãos Elric retorna a sua cabeça. Lembrou-se do sorriso dela ao olhar para si, no momento em que seu olhar focou na imagem refletida de si mesma à sua frente. – Ela parecia feliz em me ver.

—E você não sabe quem ela é? – Ani balança a cabeça negativamente.

—Eu não tenho uma irmã. Ao menos... não uma que eu soubesse da existência.

Ani encarava as próprias mãos com um olhar distante e exausto, assim como todos os olhares perdidos daquele cômodo, em especial, o de Ed. Seus olhos dourados brilhavam intensos pelas dúvidas que rondavam sua mente, duvidas que lhe tiravam toda a tranquilidade. Aquela hipótese que a principio lhe pareceu impossível começava a lhe fazer cada vez mais sentido e isto o deixava inquieto.

Ani já havia percebido o olhar dele sobre si e não saber o que ele pensava a assustava um pouco. Não era tola, sabia que sua falta de lembranças juntamente com os últimos acontecimentos poderiam trazer desconfianças. Não saberia dizer até quando Ed acreditaria em si se suas respostas a todas as perguntas dele fossem “Eu não sei”, e Deus, como queria poder responder outra coisa. Queria ter respostas tanto quanto ele, mas tudo dentro de seu cérebro era um turbilhão sem fim e se tentasse recuperar alguma coisa em meio à aquele furacão de imagens confusas... aquela dor horrível voltava.

Enquanto Edward a encarava cheio de dúvidas e questões, Alphonse também olhava para ela, embora o olhar dele sobre Ani tivesse um ar preocupado com o estado dela. A angustia de seu silêncio era perceptível para ele e a feição dolorosa dela, doíam nele também.

—... Você fica mais interessante a cada dia, Ani.

As palavras de Alphonse a fazem olhar para ele com um ar surpreso, o que o faz soltar um suave riso. Se o Elric mais jovem fosse capaz de sorrir, seu sorriso com certeza teria aumentado de tamanho a ver o dela voltando ao seu rosto, mesmo que moderadamente.

—Ani.

Os olhares dos dois se voltam para Edward.

—Eu preciso conversar com o Al.

—Eh?

Ani o encarou confusa, aquele pedido parecendo inusitado para si e a fazendo se perguntar se havia ouvido certo, entretanto, o olhar firme e sério de Ed faz seu coração se apertar novamente. Por um momento olha para Al outra vez, que também parecia confuso com o pedido do irmão.

—Entendi.

Entendendo o recado, Ani se levanta da cama e deixa o quarto a passos lentos e incertos. Não sabia o que aconteceria quando voltasse para dentro daquele quarto novamente e isso a deixava apavorada, mas compreendia o pedido de Ed. Se a presença dela os colocaria em risco... ele precisava discutir sobre aquilo com Al.

Uma parte de si queria se agarrar àquela cama e se recusar a sair de qualquer forma. Mas seu lado racional entedia que nada ganharia ao fazer um escândalo. Eles precisavam de espaço.

—Nii-san, eu acredito nela. – Alphonse dispara assim que a porta se fecha.

—Não é sobre isso, Al. – Ed explica. – Eu não acho que ela esteja mentindo.

—Então... qual o problema?

Ed suspira, coçando sua nuca. As hipóteses que se formavam o deixavam preocupado, mas também intrigado. Precisava discutir o assunto com Alphonse.

—Você gosta dela, não é?

—E-Eh?

De todas as frases e perguntas que esperava ouvir do irmão, aquela era a mais inusitada. O que aquilo tinha a ver com tudo? Porque justo naquele momento Edward havia puxado esse assunto?

—Por... Por que está me perguntando isso?

—Porque se eu estiver certo... isso pode afetar a nós três. Principalmente à ela.

—Eu não estou entendendo.

Edward suspira.

—Aquela garota definitivamente a conhecia. E não parecia ser simplesmente alguém que ela conheceu de vista. – Edward encarava o irmão seriamente enquanto o explicava num tom calmo. – Ela pareceu destruída quando percebeu que Ani não se lembrava dela. Além disso, as duas são idênticas! A única informação plausível para mim é que elas são gêmeas. Mas se eram assim tão próximas, como Ani não se lembra dela?

—Bem... as memorias dela estão todas confusas, ela não se lembra de muita coisa sobre si. Ela já havia nos dito isso!

—Exato. Ela não sabe praticamente nada sobre si, mas ela se lembra de coisas sobre alquimia. E ela é capaz de usar alquimia sem o círculo, o que quer dizer que ela viu a verdade. Mesmo sem ter o menor talento para transmutações!

—Nii-san, onde quer chegar?

—... Al, lembra-se que eu suspeitava que a falta de memórias da Ani fosse porque talvez ela tivesse feito o mesmo que nós e dado suas memórias como preço?

—Sim, eu me lembro.

—Aquela garota disse que “Era a pessoa que vinha tentando salva-la.”

Edward direciona seus olhos dourados para o irmão e o encara profundamente. O brilho em seu olhar sendo capaz de transmitir toda a inquietação que aquela simples hipótese o fazia sentir. Tendo o irmão o encarando daquela forma, primeiramente ficou confuso, mas aos poucos foi ligando os pontos das pistas que Edward havia lhe dado e ao compreender o que o irmão queria dizer, Alphonse se espantou.

—Ela deu a entender que me atacou porque eu sou um alquimista e ela estava particularmente interessada com o que houve na nossa casa.

—N-Nii-san... Você...

—Eu acho que Ani talvez não seja uma alquimista que tentou transmutar uma pessoa. Eu acho que talvez ela seja a transmutação.

Assim como a surpresa que atingiu Alphonse ao ouvir aquela frase, do lado de fora do quarto, recostada à porta e com o ouvido junto a sua madeira, Ani também sentiu seu corpo estremecer.

Não era o tipo de pessoa que costumava a ouvir detrás da porta, mas se o assunto era ela queria saber do que se tratava, não importando o que fosse. Precisava saber o que aquele olhar tão incomodado de Ed queria dizer, mas nunca pensou que seria algo como aquilo que sairia de sua boca.

—M-Mas isso é loucura!

—Al, eu sei que fiz algumas coisas que poderiam fazer pessoas me detestarem, mas quando me atacou ela não parecia ter algo pessoal contra mim e sim contra o meu título! Você se lembra de que o que nós fizemos logo chegou aos ouvidos do exército? E foi assim que eu fui recrutado?

—Sim, eu me lembro.

—E se nós tivéssemos conseguido? Jamais foi relatado um caso de transmutação humana que tenha sido um sucesso! O que teria acontecido se realmente tivéssemos trazido a mamãe de volta?

—Bem... Se nós tivéssemos conseguido, provavelmente o exército também descobriria rapidamente.

—E acha que iriam nos deixar viver tranquilamente e pronto?

Al exclama em surpresa ao entender onde o irmão queria chegar.

—Talvez o exército fosse querer estudar o que fizemos e como fizemos e uma das únicas de fazer isso é estudando o fruto do experimento. – Edward volta seu olhar para o chão. – Se eu estiver certo... ela está tentando proteger a Ani de nós. Ela deve pensar que estamos levando ela para ser estudada.

—E-Então... Esta dizendo que a Ani pode ser alguém que já morreu?

Aquilo era loucura. Mais absurda do que aquela ideia era a constatação de que ela começava a fazer sentido. Os pontos se encaixavam mas mesmo assim insano demais pensar que Ani, a garota que conheciam... poderia ter sido alguém que um dia já esteve morta.

—Como nunca houve sucesso na transmutação humana, não tem como prever quais seriam os efeitos disso na pessoa trazida de volta. Ela poderia ter perdido toda a memória de quem foi, a inconsistência no uso da alquimia e o fato de poder usa-la sem o circulo também poderiam ter algo a ver com isso. Afinal, se ela foi trazida de volta, ela também passou pelo portão e foi exposta a verdade.

A mente de Al estava em Ani, só conseguia pensar em como ela se sentiria ao ouvir aquela suposição, em como contariam para ela. O Elric mais jovem mal sabia que naquele momento, do lado de fora do quarto, o corpo de Ani ficava mais trêmulo conforme escutava o diálogo dos dois. Naquele ponto, seus olhos já se encontravam totalmente abertos em espanto enquanto absorvia todas as teorias que seu mestre explicava. Tudo parecia extremamente irreal, inacreditável! Mas as ações daquela garota interligadas com explicações de Ed... se encaixavam.

Naquele momento, uma frase em especifico se passa por sua cabeça. Recobrando a memória daquela voz que a tantos anos não ouvia.

“Você não devia estar aqui.”

As memorias dolorosas daquela noite em que seu pai a abandonou. A frase dita por ele quando lhe deu as costas e a deixou trancada na casa que sempre pensou como um lar até tal data. A frase que ouviu na primeira vez que realizou uma transmutação em sua vida.

Ani sempre pensou que aquilo tivesse sido a forma dele lhe dizer que não a queria mais, sempre pensou naquilo como um ato de desprezo por ela. Mas... e se o que ele lhe disse não foi um meio de magoa-la e sim a verdade? Se o que Ed dizia fosse verdade... por mais doloroso que fosse, finalmente tinha uma resposta para uma de suas várias perguntas. Se aquela garota fosse mesmo sua irmã e a tivesse trazido de volta a vida... Talvez seu pai não tivesse suportado aquela ideia?

Sem conseguir manter sua compostura, Ani deixa seu corpo escorregar pela porta até o chão, abraçando a si mesma. A ansiedade e nervosismo que atingiu seu corpo naquele momento tornaram sua respiração ofegante diante daquela simples possibilidade.

—A transmutação humana é um tabu. é uma das proibições da alquimia! Ani tem nossa idade, o que significa que se isso realmente aconteceu, ela e a irmã eram crianças, como nós. Qualquer criança ficaria apavorada fazendo aquilo, ainda mais lendo sobre todos as proibições que os livros citam. Nós tivemos medo! Ela me atacou porque está assustada, porque eu sou um alquimista federal. Ela tem medo de que a levem.

Todas as possibilidades que Ed havia levantado tornam impossível que Ani continuasse ali sentada meramente ouvindo tudo. Precisava fazer alguma coisa, não podia simplesmente ficar parada!

Com este pensamento em mente, Ani se levanta do chão e novamente caminha para fora da casa, se esgueirando até a porta para que pudesse sair sem ser vista. Assim que se vê do lado de fora, volta seu olhar para os escombros da antiga casa Elric no alto da colina e engolindo seco, corre em sua direção.

Precisava de respostas.

—x-

—EEEEI! ONDE VOCÊ ESTÁ?! EU SEI QUE ESTÁ AQUI! APAREÇA! – Já sem fôlego, tanto pela corrida quanto por estar gritando, olhou em volta enquanto era respondida apenas pelo silêncio da noite. – VOCÊ TEM QUE APARECER! VOCÊ ME DEVE ISSO! – Novamente é confrontada unicamente pelo som dos insetos e da brisa noturna. Sem ter resposta, sente seus olhos arderem e encherem de lágrimas. Mais uma pergunta sem resposta, mais uma questão sem conclusão. Já não aguentava mais. Toda vez que descobria uma página de sua história, também descobria que o livro para decifrar a frente havia se tornado maior e o enigma mais complicado. Não aguentava mais aquela angustia em não saber quem era. – V-Você não pode sumir...

Você quem sumiu.

Levando um susto pela voz atrás de si, Ani imediatamente se vira ainda com lágrimas nos olhos, dando de cara novamente com aquele rosto semelhante ao seu. Inconscientemente se afasta dois passos, se colocando em guarda.

A outra garota por sua vez, ao ver a reação dela desviou seu olhar, encarando o chão com uma feição entristecida e o olhar sem vida.

—Então... ainda tem medo de mim.

Ani a encarou, analisando sua expressão que não a encarava de volta. Os cabelos de ambas eram balançados pelo vento da noite, em harmonia, como uma perfeita imagem refletida de um espelho. Engolindo seco, endireitou seu corpo, a encarando com mais firmeza.

—Eu preciso de respostas.

A outra garota levanta seu olhar para ela, permanecendo em silêncio enquanto aguardava que ela perguntasse o que queria. Lentamente, ela balançou sua cabeça positivamente, incentivando que Ani prosseguisse.

—Como você me conhece?

—Desde sempre.

—Não! Eu não perguntei quando! Eu perguntei como!

Ela o encarou profundamente.

—Você realmente não se lembra... – Suspira. – Você pelo menos se lembra qual o seu nome?

—E-Eh..? – Arqueou a sobrancelha ao ouvir aquela pergunta. – Meu nome é Ani Harris.

—Ani... – Ela desviou seu olhar, pensativa. E após alguns segundos, balançou sua cabeça negativamente. – Este não é seu sobrenome. De onde ele veio?

—Eu sei disso. Esse é o sobrenome da família que cuidou de mim.

—Entendo... Ani Harris, huh?

Novamente a garota fica em silêncio e seu olhar se torna distante. Ambas se encaram profundamente, repletas de pensamentos que as preenchiam de dúvidas e inseguranças. O olhar de Ani refletia a dúvida, o de Ina a dor. Ani se aproxima alguns passos dela, ainda mantendo certa cautela.

—... Qual o seu nome?

A garota suspira pesadamente, refletindo por alguns segundos enquanto encarava o chão.

—Meu nome? Me chame de... – Olha para ela novamente. – Ina.

—Ina? – Arqueia a sobrancelha. – Esse não é seu nome verdadeiro, não é? É o oposto do meu.

—Esse será meu nome agora. – Abre um leve sorriso tristonho. – Se você não se lembra de quem é, eu também não posso ser quem eu sou. E este é um nome apropriado. Já que parecemos ter nos tornado tão diferentes uma da outra... não é, alquimista?

Ani arregala seus olhos e seu olhar se torna sério. Embora sua postura se mantivesse amena, o brilho em seus olhos a enfrentavam de forma ameaçadora.

—Você vai machuca-los?

—Não consigo compreender como você acabou se tornando uma alquimista. – Sua testa se franze numa expressão dolorida e enojada. – Como acabou se juntando... a-a eles!

Você vai machucar eles?— Foi mais incisiva com sua pergunta, seu olhar se tornando mais agressivo.

—... O que faria se eu disser que vou?

—Impedir você.

Os olhares delas se encontram novamente, a postura de Ani se tornou mais imponente e ameaçadora, enquanto a de Ina murchou e seu olhar pareceu mais perdido. Suspirou.

—Eu odeio aquele alquimista assim como eu odeio todos eles. Mas... – Volta um olhar triste para ela novamente. – Você gosta deles, não gosta? – Ani balança a cabeça afirmativamente. – É perigoso ficar perto deles. É perigoso ficar em Armestris. Você nunca deveria ter saído de Creta.

Ani arregala seus olhos. Sua boca se abre algumas vezes para tentar falar, mas as palavras simplesmente não saem. Correu o olhar perdido e assustado pelos campos de Rizembool antes de voltar a encara-la. Nunca havia contado aquele detalhe a ninguém, nem mesmo a Ed e Al! Nunca havia dito... que na verdade não pertencia àquele país e sim ao vizinho.

—C-Como você sabe disso?

Ina abre um leve sorriso.

Eu te levei para Creta, Ani. Eu fugi de Armestris com você e te levei para lá. Mas... – Fecha seus olhos. – Você voltou para cá. – A encara novamente. – Eu voltei para te buscar, mas você havia sumido e voltado para esse país. Eu... E-Eu... – Os olhos dela se enchem de lágrimas, lagrimas que aos poucos se transformam em um choro cheiro de dor, externando toda a agonia que havia sentido sabe-se lá por quantos dias... ou por quantos anos. – Eu pensei que nunca mais fosse te ver. Eu achei que tinha te perdido para sempre.  

Ao vê-la chorar, o olhar de Ani se torna confuso, a forma como ela chorava a surpreendeu. Não conhecia aquela garota, não sabia nada sobre quem ela era ou que relação tinham uma com a outra, não sabia se era confiável. Mas... podia ver que ela também tinha passado por coisas demais.

—Mas então eu encontrei você... E-E você havia se tornado um deles. E você não sabe quem eu sou! O que você andou fazendo, sua idiota? A-Assim eles vão te encontrar.

—Desculpe. – Balança a cabeça negativamente. – E-Eu não consigo entender! Você precisa me explicar! Eles quem? De quem estamos fugindo?

Ainda parecendo sofrer, Ina seca suas lágrimas, respirando profundamente antes de voltar a olhar para ela, tentando recobrar um pouco de seu autocontrole.

—Algo que eu disser... vai te fazer deixar aqueles dois e vir comigo?

—O-O que? – Recuou um passo novamente. – Não! E-Eu não posso! Eu prometi que os ajudaria! E...E-E Eu não posso deixá-los. Eles são meus amigos e eu preciso deles.

Ina fecha seus olhos, suspirando novamente e fungando de leve pelo choro ainda preso em sua garganta.

—Então... não há nada a te dizer agora.

Novamente ela dá as costas para ela e faz menção de se afastar, mas sem perder tempo, Ani corre até ela e a segura pelo pulso, a impedindo de ir.

—Você não pode me deixar assim! Você não respondeu nenhuma das minhas perguntas! Você só me deixou com mais! P-Por favor... E-Eu não aguento mais. Eu preciso de alguma resposta! Não pode fazer isso comigo!

Ina volta seu corpo para ela novamente, ficando em silêncio por alguns segundos enquanto refletia.

—Ok. Eu responderei a uma pergunta. – A encara seriamente. – Uma pergunta.

Ani se sente perdida com aquela condição. Tinha tantas e tantas perguntas! Como poderia escolher apenas uma? Como poderia escolher entre suas milhões de dúvidas qual era a que mais lhe tirava o sono? Procurou e refletiu sobre qual questão lhe era a mais importante naquele momento. Qual pergunta mais a incomodava? Qual pergunta era a principal?

Mas então, aquele questionamento passou por sua cabeça novamente, o questionamento que a fez procura-la. Ani a encarou e pela primeira vez desde que subiu aquela colina, em seu olhar não havia nervosismo e nem insegurança, embora seu coração ainda batesse forte em seu peito. Engoliu seco, sentindo medo do que ouviria... mas precisava daquela resposta.

—E-Eu... eu já estive morta?

O olhar de Ina se arregala suavemente, de forma quase imperceptível, ainda mantendo sua postura calma. Ela a encarou por vários segundos, que para Ani pareceram uma eternidade. Quando sua ansiedade já estava a ponto de explodir, assim como seu coração apertado no peito, Ina balança sua cabeça suavemente num “não” silencioso.

Ao ver esse ato, Ani solta todo o ar que havia prendido sem nem perceber. Seus olhos instantaneamente se arregalam e seu corpo fica trêmulo. Até mesmo sua respiração se torna ofegante por ter se desenterrado tão rapidamente de toda aquela angustia que afundava anteriormente.

—E-Então... Então eu não sou uma transmutação humana?

Desviou o olhar por um momento e então voltou a encara-la.

Uma pergunta, Ani. – Reafirma firmemente. – Você jamais esteve morta. – Delicadamente solta sua mão da dela. – Você não acreditará no que eu te disser, a não ser que veja por si só a sujeira que é esse país.

Novamente, ela faz menção de se afastar, mas Ani a segura outra vez, desta vez com mais força.

—NÃO!

Ina encara Ani, novamente abrindo um leve sorriso e aperta a mão de Ani com suavidade. As duas se encaram por vários segundos, ambos olhares refletindo quantas coisas estavam guardadas em seus interiores, muitas palavras não ditas.

—Quando você estiver pronta e for capaz de acreditar no que eu disser, eu vou te contar tudo. Até lá, por favor, tome cuidado. Eu não posso perder você. – Desviou seu olhar. – Eu não vou machuca-los.

Os olhos de Ani se arregalam novamente e o alivio que sentiu, trouxe lagrimas aos seus olhos novamente. Vendo isso, Ina abre um leve sorriso e aproxima seu rosto do de Ani, encostando sua testa à dela enquanto fechava seus olhos. Se rendendo ao alivio que ainda tomava seu corpo, Ani faz o mesmo e também fecha seus olhos.

—Por favor, não se torne uma alquimista.

A voz aflita dela faz com que Ani abra novamente seus olhos.

—Me perdoe... Eu não posso prometer isso. É a única forma de encontrar respostas. É a única forma de ajuda-los. Eles são importantes para mim. – Ina suspira. – Eu também sou importante não sou? – Ina abre seus olhos, a encarando de volta. – Então você deve entender como eu me sinto. Eu não posso deixa-los para trás.

—...Entendo. Então por favor... Por favor... Não morra, tá?

—Eu não vou morrer. Então por favor, cuide-se também.

Ina sorri mais largo. Encara-la ali tão de perto era como encarar um espelho de si mesma e ninguém poderia descrever como aquela imagem a confortava. Aquela imagem aquecia seu peito angustiado e a trazia uma paz que há muito tempo não sentia mais. Finalmente havia a encontrado de novo.

—Até mais, Ina.

—Até mais, Ani.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá na minha página, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver as vezes. ;) https://www.facebook.com/TordTheWriter/
Até o próximo capítulo!

—Tord.



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