Cavalo de Tróia escrita por Vic


Capítulo 2
Agradando a gregos e troianos




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É complicado estar em um dilema, principalmente em uma situação em que nenhuma das opções disponíveis são boas. Quando se está em um dilema perigosamente mortal para uma das partes envolvidas, geralmente a pessoa tende a querer agradar gregos e troianos. A expressão “agradar a gregos e troianos” significa que estamos tentando agradar todo mundo, até mesmo pessoas que são rivais. No momento Xena estava diante de dois de seus rivais. Herodotus, o pai de Gabrielle, que não gostava dela por uma porção de motivos e Esperança, a filha maligna de Gabrielle, que não gostava dela simplesmente pelo fato de que ela jamais gostou verdadeiramente de alguém em sua vida. Diante daquele perigoso dilema, a guerreira decidiu que aquela era uma situação em que ela teria que agradar a gregos e troianos, então o que se sucedeu naquela estranha tarde foi o seguinte:

— Gabrielle, não vim aqui para te levar embora. Só vim aqui para saber como você está. –Xena resolveu entrar no jogo da mulher. Tinha convicção de que se a família de Gabrielle não soubesse que se tratava de uma impostora, estariam seguros por um tempo.

— Estou em casa com a minha família. –Esperança passou o braço esquerdo por cima dos ombros de Lilá e deu um sorriso perverso para a guerreira.

— Podemos conversar a sós por um momento? –A guerreira lançou um olhar mortal para a loira e Esperança cedeu ao pedido da mulher mais velha. As duas entraram na casa, mais precisamente para o quarto que Gabrielle dividia com a irmã, enquanto Solan e a família da barda ficaram na sala. — O que pensa que está fazendo? –Xena segurou o braço esquerdo da mulher com raiva.

— Estou conhecendo vovó, vovô e titia. –Esperança puxou o braço, libertando-o do aperto da mulher.

— Deixa de ser cínica, se você está aqui só pode ser por um motivo, maldade. Seja lá o que for que esteja planejando, pode desistir. –Olhou com seriedade para a filha das trevas, mas esta não se dobrou as suas ameaças. – O que quer? O que veio fazer aqui? –A loira riu com cinismo.

— Vim me esconder aqui porque sabia que este seria o último lugar em que você viria me procurar. Afinal, você não admite a derrota. Não admite que a sua querida Gabrielle morreu por sua culpa. –Esperança gargalhou satisfeita ao ver que tinha conseguido atingir o ponto fraco da guerreira. Mesmo depois desses quatro anos, Xena ainda se culpava pela morte de Gabrielle.

— Você matou Gabrielle, mas não vou deixar que machuque a família dela. –Esperança continuou sorrindo com desdém, o ar de superioridade estava nítido em seu semblante.

— Você não vai deixar? Você não é ninguém, Xena. Você não é melhor do que eu... quantas pessoas você já matou? Acha mesmo que bancar a defensora dos fracos e oprimidos irá limpar todo o sangue que tem nas suas mãos? Ah, mas você não se importa com todo esse sangue, não é? Só com o sangue da minha querida mãe... esse você luta para limpar da sua alma, todos os dias. Porque você e eu sabemos que ela poderia estar viva aqui em Potédia... com a família dela. Mas você precisava arrancá-la daqui, do convívio com aqueles que a amavam... e agora ela está morta... e é tudo culpa sua, Xena. –O semblante da guerreira continuava duro e impenetrável enquanto a mulher que era o constante lembrete da morte de Gabrielle lançava acusações sob ela.

— Se você machucar algum deles, prometo que acabo com a sua raça. –Lançou seu olhar mais ameaçador para a filha das trevas.

— Não se eu acabar com ela primeiro, querida. –Esperança passou a destra no rosto da guerreira que a olhava com nojo e desprezo.

— Como você sobreviveu? –Perguntou, dando um tapa na mão da mulher.

— Cortesia de Dahak. –Esperança sorriu vitoriosa. – Por que será que mamãe escolheu você? Vocês tinham um caso? –A filha de Dahak a olhou com nojo. – Vocês transavam? O sexo com mamãe era bom? Ela saciava a sua fome de guerreira? –Esperança tapou a boca, tentando não rir ao notar o choque na expressão de Xena.

— Não ouse falar dela como se ela fosse um pedaço de carne. Não era isso que ela era para mim, eu a amava e você sabia disso, por isso a matou! Pode ter a aparência dela, mas nunca será metade da pessoa que ela foi. Você é um monstro, nunca vai entender o que é amar e ser amada. –A princesa guerreira segurou a destra da mulher que estava próxima ao seu rosto e torceu com força para trás até ouvir o som do osso se partindo.

É importante frisar que Esperança não era capaz de sentir nenhum tipo de dor física, mas no momento em que Xena quebrou sua mão, ela soltou um grito tão estridente e escandaloso que naquele momento parecia ser a detentora de toda a dor que há no mundo. Herodotus, Hecuba e Lilá surgiram de imediato, seguidos por um Solan muito chocado ao ver que sua mãe era a causadora daquele grito tão desesperado. Ao notar a presença de mais pessoas no cômodo, Xena soltou a mão da mulher imediatamente, mas já era tarde demais.

— O que você fez?! –Um Herodotus furioso caminhou com passos firmes até a mulher que ele pensava ser sua filha mais velha.

— Xena...

— Por que? –Hecuba estava muito assustada com a atitude da guerreira e se encolhia próxima a uma Lilá também muito amedrontada.

— Me desculpem, eu não...

— Você se diz amiga dela? Vem aqui dizendo que queria saber como ela estava e quebra o braço dela? –Herodotus se pôs na frente de Esperança que fazia uma falsa cara de choro e segurava o pulso. – Fora da minha casa, os dois! Fora! Agora! –O homem segurou a guerreira pelo braço a conduzindo para fora de sua casa. Logo, a guerreira e seu filho estavam olhando novamente para a porta da frente da antiga casa de Gabrielle.

O sol deu lugar a lua rapidamente nos céus de Potédia, a guerreira e seu herdeiro se juntaram a Argo nos estábulos, pois não queriam ir embora sem alertar os familiares de Gabrielle sobre a impostora que ocupava o lugar da barda e que estava pretendendo matá-los.

— O que deu em você? Poxa, justo na noite em que eu finalmente iria dormir em uma cama de verdade. –Solan lamentou, tirando de sua bolsa algumas mantas e seus habituais pergaminhos que usava para relatar coisas importantes do seu dia a dia.

— Nada... e você não iria dormir em uma cama de verdade, no máximo ia dormir no chão ao lado de uma cama de verdade. –Xena acariciou o focinho de sua égua e se pôs a escovar seus pelos antes de dormir.

— Pelo menos não ia ter que dormir em cima de um monte de feno. O que ela fez para te deixar tão irritada a ponto de quebrar a mão dela? –Solan afofou o feno no qual teria que dormir naquela noite. Xena não o respondeu, estava imersa demais em sua própria raiva. – Ela falou da Gabrielle? Falou sobre o relacionamento de vocês? –A guerreira ignorou as perguntas do filho e continuou penteando Argo. – Ela perguntou como era o sexo? -De repente ela se virou com uma expressão de horror em seu rosto, o que fez com que Solan caísse na risada.

— Solan! –Xena repreendeu o filho, enquanto se esforçava para não rir junto dele. – Você só tem quatorze anos, o que sabe sobre sexo? –O olhou desconfiada com um sorriso no canto dos lábios. Não estava acreditando que estava mesmo tendo aquele tipo de conversa com seu filho.

— Sobre sexo eu não sei nada, mas sei sobre você e Gabrielle. Sei que se amavam... –Xena olhou para ele arqueando uma sobrancelha, como costumava fazer quando o ouvia falar coisas daquele tipo. – Não como amigas. –Solan sorriu tranquilamente. – Vi quando vocês se beijaram naquela tarde antes dela morrer. Vi como seus olhos brilhavam quando você falava com ela... você estava completamente apaixonada por ela, mãe. Não há nenhuma vergonha nisso. –O garoto sorriu uma última vez para sua genitora e se deitou no leito feito de feno coberto com suas mantas, deixando uma Xena com um misto de orgulho e vergonha sozinha com o barulho que a escova fazia ao tocar no pelo macio de sua égua. – Mãe. –A guerreira continuou sua tarefa.

— Mais um conselho amoroso, Solan? –Xena tinha um tom divertido em sua voz.

— Você não sente falta daquilo? –Solan se virou para a mãe com um olhar sério em sua face.

— Daquilo o que? –A guerreira sabia do que o filho estava falando, mas queria dar corda para ele se enforcar.

— Você sabe... –O garoto baixou o olhar, ao contrário de momentos atrás em que falou do assunto com desprendimento, agora mostrava um certo constrangimento.

— Sim, sinto falta... mas não consigo fazer com outra pessoa. –A mulher coçou a nuca em uma mistura de constrangimento e tristeza ao se lembrar que estava em abstinência há exatos quatro anos desde a morte de Gabrielle.

— Se vocês estavam juntas... então quer dizer que a Gabrielle também seria minha mãe? –Bocejou, demonstrando um cansaço considerável.

— Ela adoraria... ser sua mãe, Solan. –A guerreira sorriu ao lembrar do carinho que a barda e seu filho nutriram um pelo outro no pouco tempo em que estiveram juntos.

O que a guerreira não sabia era que enquanto ela traçava um plano para agradar a gregos e troianos, a filha das trevas também já traçava os seus próprios planos, que logo colocaria em prática. O plano de Esperança envolvia escutar sorrateiramente uma conversa particular entre mãe e filho, para em seguida usar as informações ao seu favor. O mal é uma qualidade daquele que é mau, isso é o que nós acreditamos, mas o mal é uma qualidade de todos os seres humanos, todos temos o bem e o mal dentro de nós, como em um yin-yang, menos Esperança. Ela era completamente má. Ao ouvir de Xena que ela estava em abstinência sexual desde a morte de sua amada, Esperança decidiu que iria usar a vantagem de ser fisicamente idêntica a Gabrielle para fazer com que a guerreira traísse sua memória, foi naquela noite que após beber se lembrando da conversa que tivera com a filha das trevas que a princesa guerreira caiu em tentação. Tentar agradar a gregos e troianos é uma tarefa complicada, nem sempre podemos agradar a todos. Num dado momento é preciso escolher se irá agradar aos gregos ou aos troianos, e na tentativa de agradar a gregos e troianos, Xena descobriu que havia desagradado aos gregos e caído na armadilha dos troianos.


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