Cavalo de Tróia escrita por Vic


Capítulo 1
A morte e todos os seus amigos


Notas iniciais do capítulo

Sugiro que antes de ler está fic, façam a leitura de Presente de Grego primeiro.



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Não importa quanto tempo passe, falar da morte de uma pessoa amada nunca é algo fácil de se fazer, mas é algo que precisa ser feito. Xena pensava em como ia dar a notícia da morte de Gabrielle para seus pais e irmã, enquanto caminhava ao lado de seu filho.

— O que está comendo? –A guerreira perguntou ao notar que seu filho estava mastigando algo.

— Bolo de nozes. –Solan respondeu enquanto colocava mais um pedaço de bolo na boca.

— E onde você arranjou um bolo de nozes? –Arqueou a sobrancelha vendo o garoto encher a boca de bolo.

— A vovó me deu. Ela disse que era o favorito da Gabrielle, então talvez eu gostasse também... já que gosto de quase as mesmas coisas que ela. –Solan deu um breve sorriso para a sua mãe e continuou a comer o bolo.

— Mamãe te paparica tanto. –Sorriu ao notar o desespero com que seu filho comia.

— O que posso fazer se sou o neto favorito dela? –Solan parou de comer e encarou Xena com seus olhos semicerrados.

— Você é o único neto dela. É por isso que ela te mima tanto... e porque você se parece com seu tio Lyceus. –Disse pegando um pouco do bolo de nozes das mãos do menino e colocando em sua boca.

— Se for para ela me dar comida sempre que for lá... graças a Zeus por me parecer com o tio Lyceus. –Solan desviou o restante do bolo das mãos sorrateiras de sua mãe.

— Você não sabe o quanto você se parece com Gabrielle. –Xena revirou os olhos e desistiu de pegar mais um pouco daquele bolo. Quando o assunto era comida, Solan era igualzinho a Gabrielle, não aceitava dividir suas refeições com ninguém.

— Não vejo isso como algo ruim... –O garoto terminou de comer e limpou a boca com sua própria camiseta.

— E não é... e então, como estão as aulas na academia? –A guerreira questionou o filho, sabia que Solan não gostava quando ela bancava “a mãe zelosa”. Solan passava todo o ano letivo na academia dos bardos, onde Gabrielle havia se formado e durante as férias Xena o buscava para que ele pudesse passar um tempo com ela e Cyrene.

— Está tudo bem, eu tenho muitas habilidades. –Solan inflou o peito, cheio de si.

— E já conquistou alguma menininha com essas suas “muitas habilidades”? –Xena gargalhou e passou a destra nos longos cabelos dourados do filho, bagunçando-os.

— Mãe! Eu só tenho quatorze anos! –O garoto a olhou surpreso.

— Mas ainda assim é um adolescente, e adolescentes vivem com os hormônios à flor da pele. Ah não ser que você prefira os garotos. –A guerreira segurou o garoto pelos ombros, envolvendo-o em um abraço amigável. Adorava ter aqueles momentos de mãe e filho com ele, mesmo que as vezes as conversas fossem embaraçosas demais para ambos.

— Eca! Não! –Solan fez uma careta como se fosse vomitar todo o bolo de nozes que acabara de comer. – Nada contra, mas os garotos são uns idiotas. Zeus me livre gostar de garotos! Não sei nem como as garotas gostam. –O garoto tinha uma expressão de incredulidade fixada em seu rosto.

— Espero que você não seja um desses idiotas...

— Eu sou um cavaleiro, mãe. –Solan fez uma reverência cheia de orgulho para a guerreira e esta caiu na risada.

— É cavalheiro, bobão. –O garoto tinha uma expressão de vergonha ao ouvir a palavra certa saindo dos lábios de sua mãe. – Solan, já que você é um cavaleiro, leva a Argo para mim. –A princesa guerreira disse ainda entre risos e ofereceu o cabresto da égua para o garoto segurar.

A vila tinha mudado bastante desde a última vez em que Xena estivera ali, parecia maior e mais cheia de gente. As crianças corriam de um lado para o outro e os adultos trabalhavam na decoração do que parecia ser um festival infantil, a guerreira se permitiu sorrir ao pensar na sua barda crescendo em um lugar tão calmo como aquele, mas ao lembrar do motivo que a levava ali, seu sorriso desapareceu de seu rosto.

— Estamos em Potédia, Solan. Foi aqui que Gabrielle nasceu e cresceu. –Xena pôs a destra no ombro de seu filho e ele observou a dor no semblante de sua mãe, lembrar de Gabrielle ainda lhe causava muita dor.

— É um lugar lindo, mãe. Mas o que viemos fazer aqui? –Observou as crianças correndo de um lado para o outro, estavam animadas para ver mais um show de marionetes.

— A família de Gabrielle tem que saber sobre a morte dela. –A guerreira deu um sorriso fraco, lamentando consigo mesma por não ter ido fazer isso alguns anos antes.

— Você está pronta para voltar a falar sobre isso? –Solan observou a mãe com certa preocupação, sabia que o assunto Gabrielle ainda era algo muito delicado para ela.

— Se eu esperar ficar pronta, vou esperar a vida toda. A família de Gabrielle merece saber a verdade... não vou privá-los disto, como os privei do convívio com Gabrielle. –O tom de voz da guerreira estava áspero, era o tom de voz que ela adotava quando estava se sentindo atormentada por um pecado do passado... e o “pecado” de ter levado consigo a garota que conhecera em Potédia lhe atormentava a cada noite e a cada dia desde que a filha das trevas assassinara sua alma gêmea, privando-a para sempre do convívio com o ser mais lindo que ela já havia conhecido.

A princesa guerreira e seu filho entraram no vilarejo, passando pelas pessoas que os olhavam com indiferença. Não tiveram dificuldades para localizar a casa da família da barda entre tantas outras, Xena jamais se esqueceria de onde a sua bela loira dos olhos verdes esmeralda morava antes delas se conhecerem.

— Se comporte, Solan. O pai de Gabrielle não é uma pessoa muito gentil... não quero tornar as coisas ainda mais difíceis. –A guerreira instruiu seu filho antes de bater na porta da antiga casa da barda.

— Não serei um problema, se ele não for um... –O garoto foi fuzilado com o olhar frio de sua genitora e se calou imediatamente.

Xena bateu na porta duas vezes e esperou que alguém fosse abrir, torcia para que Lilá fosse atender, era a mais gentil da família depois de Gabrielle. Como se os deuses pudessem ouvir suas preces, logo Lilá estava ali diante deles.

— Xena... –A moça falava em um tom de voz baixo e desconfiado.

— Lilá... –Xena não conseguia pronunciar mais nenhuma palavra além do nome da jovem irmã de sua amada.

— Quem está na porta, Lilá? –A garota pareceu tomar um susto, se virou para trás na direção da qual a voz vinha e respondeu seu interlocutor.

— É a Xena, papai. –De repente a porta se abriu por completo e Xena pôde ver Herodotus atrás de Lilá.

— Hum... e quem é o moleque? –Ele apontou Solan fazendo um gesto com sua cabeça.

— O “moleque” se chama Solan, senhor... –Solan se emudeceu novamente ao ver o semblante irritado de sua mãe e o sinal que fazia com seu indicador em sua própria garganta, anunciando que se não se calasse por vontade própria, ela mesma iria calá-lo.

— Herodotus, tenho uma notícia para dar para vocês...

— Não me diga que está aqui para levar Gabrielle embora outra vez? –O pai de Gabrielle fez uma careta de raiva.

— Como assim?! –A guerreira se surpreendeu ao ouvir aquelas palavras. – Gabrielle está...

— Gabrielle está em casa, Xena... e você não irá tirá-la de nós outra vez! –O homem deu um empurrão com certa agressividade no ombro da guerreira, mas ela não se aborreceu com isso, estava surpresa demais com o que havia acabado de ouvir dele.

— Não quero mais viajar com você, Xena. –Uma voz idêntica à de Gabrielle surgiu detrás de Herodotus e Lilá. – Minha filha está morta por sua causa, me deixa em paz. –O pai e a irmã de Gabrielle deram espaço para que uma mulher idêntica à Gabrielle se revelasse diante deles. Xena e Solan ficaram boquiabertos com o que estava diante dos seus olhos, a mulher era fisicamente idêntica à Gabrielle, vestia as mesmas roupas que ela e agia como a barda, mas ao notar um sorriso perverso no canto de seus lábios, Xena soube que a Esperança de Dahak estava usurpando o lugar de Gabrielle no seio de sua família. Naquele momento a princesa guerreira sentiu como se a morte e todos os seus amigos estivessem de volta para atormentá-la mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Agora as coisas começam a ficar boas...



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