O Despertar Infernal- Interativa escrita por Lady L


Capítulo 11
XI- O Rio de Janeiro Continua Lindo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Peço perdão pelo atraso na postagem! Hoje reiniciamos o ciclo de narradores, e novamente temos um capítulo da Cassandra. Boa leitura :)



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08 de Dezembro de 2022; Rio de Janeiro, Capital

 

                                                 Cassandra->

 

Eu odiava a energia daquela cidade.

Talvez fosse a minha sensibilidade reconhecidamente elevada para coisas do tipo, mas o ar ali era sufocante. Caminhando pelas ruas estreitas e sujas, cada poro da minha pele parecia protestar contra o que quer que houvesse naquela atmosfera densa.

—Odeio esse lugar- eu resmunguei, soprando uma mecha de cabelo azul para longe do meu rosto.

Luciano soltou uma risadinha debochada.

—Não é a vizinhança mais agradável do mundo, mas também não precisa exagerar, bruxa- ele zombou, o que me fez franzir a testa.

—Não estou falando do aspecto da rua. É só que... tem algo estranho acontecendo por aqui. Eu consigo sentir- eu respondi, e Celina assentiu, parecendo compreender do que eu falava.

—Cidades velhas costumam ter essa energia- ela comentou- Como se estivessem mais... abertas. Receptivas às manifestações de coisas que não são desse mundo mortal. E isso pode ser muito bom para nós...

—Ou muito ruim- eu completei, e nós trocamos um olhar cúmplice.

—Não faço a menor ideia do que as moças estão falando. Só sei que qualquer coisa estranha que venha a aparecer no nosso caminho será obliterada na porrada- Luciano brincou, e nós acabamos rindo.

Estávamos perto do Centro, na parte mais duvidosa e mal frequentada. Pessoas de aspecto pouco amigável nos olhavam feio, mas de olhares feios nós entendíamos muito bem, então, por enquanto, estávamos sendo deixados em paz. Refleti por um segundo sobre como deveríamos parecer, vistos por pessoas de fora. Luciano e eu nos vestíamos de maneira bastante semelhante, com tons escuros e couro, e Celina também optava por uma paleta mais sóbria, embora tivesse um estilo mais elegante e menos agressivo, mas ainda assim deveríamos parecer todos igualmente mal encarados, ainda que de um jeito que nos destacasse  um pouco naquele ambiente. De qualquer maneira, conforme andávamos em direção às partes menos desagradáveis da cidade, eu mantinha um feitiço na ponta da língua, como costumava fazer quando me via em lugares como aquele quando mais jovem.

Talvez parte do meu desconforto com aquele bairro fosse o tanto que ele me lembrava do final da minha infância. Talvez só houvesse algo nos espreitando desde que colocamos nossos pés ali. De qualquer maneira, iríamos descobrir qual era o caso em breve.

—Pronto, não foi tão ruim assim, foi?- Luciano provocou, quando ficou visível que a rua pela qual seguíamos desembocava em uma avenida maior e menos atarracada- Já retornamos à civilização.

Celina arqueou uma sobrancelha, olhando ao seu redor conforme chegávamos à avenida.

—Uma afirmativa deveras questionável, caro Luciano. Não sei se poderíamos atestar com tanta segurança a essa suposta civilização- ela disse, e acabamos soltando risadas mais altas do que seria aconselhável.

A avenida de fato não tinha um aspecto exatamente organizado, com prédios velhos se erguendo sem a menor lógica, e cartazes desbotados e pichações emplastrando as paredes.

—É, o Rio de Janeiro continua lindo- eu zombei, conforme abríamos caminho por entre os apressados transeuntes.

—Lindíssimo- Luciano ironizou- Pelo menos agora já sabemos como sair desse lugar. De acordo com o mapa, é só seguir por essa avenida que sairemos do Centro.

Eu sabia que, mais tarde, me arrependeria por aquela sugestão. Mas, para o bem ou para o mal, algo ali estava praticamente gritando os nossos nomes, e seria estúpido de nossas partes ignorar.

—Eu acho que deveríamos ficar por aqui- eu admiti, a contragosto- Aquela energia estranha não pode ser à toa. Vamos investigar um pouco, pelo menos.

Celina arqueou uma sobrancelha, mas acabou concordando.

—Você não está errada. Seria negligente ir embora sem sequer dar uma olhada, poderíamos deixar alguma pista sobre o paradeiro da flauta passar- ela disse, e, ao vê-la concordando, Luciano franziu a testa.

—Vocês estavam dizendo agora há pouco que odiavam esse lugar- ele fez uma careta, e eu dei de ombros- Vamos logo com isso, então. Não temos o dia todo.

Nós demos meia volta, e começamos a entrar novamente pelas ruelas, por partes cada vez mais decrépitas e desertas do bairro. Os prédios eram baixos e estavam em péssimo estado de conservação, e casebres mal construídos se intercalavam com casarões antigos e com quê de assombrados.

—Está ficando mais forte. A energia, quero dizer- Celina comentou, e eu assenti.

—Também estou sentindo- eu disse, olhando ao redor, procurando qualquer possível fonte para aquela sensação estranha.

Logo meus olhos se fixaram em um prédio específico, que parecia mais velho e decrépito do que os outros. Algo no aspecto geral dele era... poderoso. De um jeito inexplicável e estranho, mas havia algo de grave e profundamente assustador nas janelas de vidro estilhaçado e nas paredes descascadas e pichadas.

—É aquele prédio- Celina disse, com uma segurança que me deu a certeza de que aquele era mesmo o lugar.

—Também acho que seja- eu concordei, e nós começamos a caminhar em direção à entrada do lugar.

—Vocês tem certeza de que querem entrar aí?- Luciano perguntou, arqueando uma sobrancelha- Não acho que vamos encontrar muita coisa além de alguns drogados e muitas telhas de amianto.

—Confia, garanto que não é só isso que vamos encontrar- disse Celina, empurrando o portão de metal, que estava fechado por um grande cadeado enferrujado-  Vamos encontrar bastante tétano também.

Todos rimos, ainda que um pouco desanimados.

—Deixa que eu dou um jeito nesse cadeado- eu me ofereci, e Celina se afastou um pouco- Incantare: Alohomora

A fechadura imediatamente fez um clique e se abriu, caindo no chão com um barulho alto e metálico.

—Isso mesmo, bruxa, faça bastante barulho e anuncie nossa chegada para todos- Luciano ralhou, e eu revirei os olhos.

—Da próxima vez, deixo você quebrar a fechadura com as próprias mãos, então. Tenho certeza de que você vai ser muito silencioso- eu fiz uma careta enquanto empurrava as grades- Droga, está emperrado.

—Deixa que eu abro isso- Luciano disse, me empurrando para o lado. Apesar de não ter sido um gesto excessivamente agressivo, eu ainda assim fiquei um pouco revoltada, e o empurrei de volta.

—Não seja estúpido. Se está emperrado, quer dizer que o portão não é aberto há muito tempo. Portanto, deve haver algum outro jeito de entrar- eu expliquei, olhando ao meu redor para tentar achar alguma outra entrada- Ué, onde está Celina?

—Aqui em dentro, bobões- a voz dela respondeu, e logo sua cabeça surgiu de dentro de uma das janelas quebradas do primeiro andar- Vamos lá, não podemos perder mais tempo.

Eu pulei a janela, ainda que me sentindo um pouco estúpida por não tê-la visto antes, e Luciano me seguiu.

A parte de dentro do prédio era ainda mais decrépita. O lugar era escuro, tendo como única iluminação a luz fraca e escassa que passava pelas janelas quebradas e empoeiradas. Um cheiro de mofo intenso me fez torcer o nariz, e a poeira fez meus olhos arderem, mas nós continuamos a adentrar o saguão sombrio do prédio.

Uma escada no fundo do ambiente levava aos andares superiores, e seus degraus de madeira rangeram alto conforme eu coloquei meus pés neles. Nós subimos o mais silenciosamente o possível, mas a cada pequeno ruído, eu me pegava fazendo uma careta.

—Luciano anda com a delicadeza de um elefante- Celina, que subia as escadas ao meu lado, sussurrou. Os passos dela eram extremamente delicados, e ela se movia como uma sombra.

—Não estou muito melhor que ele- eu admiti, e ela deu uma risadinha baixa.

—Vou ter que ser furtiva o suficiente por todos nós, então.

O prédio costumava ser residencial, eu reparei conforme chegávamos ao primeiro andar. Um corredor pequeno e atarracado, com o papel de parede amarelado e descascando, exibia uma sucessão de portas com números de 100 a 105. A maioria das portas estava fechada ou entreaberta, e era possível ouvir vozes ou sentir fumaça com cheiro engraçado saindo detrás de algumas delas.

—Eu avisei que só acharíamos drogados aqui- Luciano comentou, afrontoso, ainda que sendo obrigado a sussurrar.

Celina deu de ombros.

—O que quer que estivesse emanando aquela energia estranha, não está nesse andar- ela disse, continuando a subir as escadas- O prédio só tem cinco andares, mais cedo ou mais tarde, vamos descobrir onde ela está.

Pelos três andares seguintes, encontramos cenários bastante parecidos com o do primeiro, e igualmente decadentes. Até que, conforme subíamos para o último andar, ouvimos vozes baixas e sibilantes. Luciano, que ia na frente, imediatamente fez sinal para que parássemos, e eu parei, sentindo o sangue gelando em minhas veias.

Elesss essstão perto- uma voz arrastada e grave, mas ainda assim vagamente feminina, disse- Foram avissstadosss chegando na cidade hoje maisss cedo.

Masss elesss sssabem do paradeiro da flauta?- uma outra voz, igualmente arrastada, perguntou.

Imposssssivel!- a primeira voz replicou- Ela essstá em segurança, muito bem guardada!

Apenas pelo jeito que as criaturas falavam, eu já sabia do que se tratava, e, pelo olhar no rosto de Celina e Luciano, eles também.

—Dracanae– Celina sussurrou, tão baixo que não passou de um mero movimento de seus lábios.

Eu assenti, e Luciano também pareceu compreender. Nós avançamos lentamente escadas acima, até que conseguimos um vislumbre das criaturas através das barras do corrimão.

Eu já havia lutado contra dracanae antes, mas, mesmo assim, eu me peguei um pouco supresa por encontrar tantas daquelas desagradáveis mulheres-cobra no mesmo lugar. Com um aspecto humanoide, ainda que escamoso e esverdeado, da cintura para cima, e uma cauda de cobra no lugar de cada perna, as criaturas tinham garras longas e presas afiadas, sem falar do veneno que escorria pelo canto de suas bocas. Apesar de terem de rastejar sobre as caudas reptilianas, elas costumavam ser supreendentemente rápidas, mas o pior sobre elas era o jeito extremamente desagradável e irritante com que elas sibilavam a letra “s” quando falavam.

Haviam cerca de dez criaturas no amplo espaço do quinto andar. Diferente dos outros andares, as paredes daquele haviam sido derrubadas, o transformando em uma única sala ampla e escura. No fundo do recinto, havia um elevador de serviço velho e precário, eu reparei. Deveria dar para os fundos do prédio ou uma garagem, uma vez que eu não o havia visto em nenhum outro andar.

Com um sinal, Celina indicou que recuássemos, e nós o fizemos, voltando lentamente até o quarto andar.

—Droga- eu murmurei- Então era essa a energia. Criaturas que querem nos matar.

—Não necessariamente- Celina respondeu- Por isso os chamei até aqui. Acho que vi uma delas com um objeto metálico. Pode ser a flauta, ou ao menos algo de utilidade.

—Eu esqueço que você enxerga no escuro- Luciano comentou- Bem, ao que tudo indica, vamos ter que quebrar alguns répteis na porrada, não é mesmo?

Eu dei de ombros.

—Não é como se tivéssemos nada melhor para fazer.

Uma sucessão de risadinhas tensas, e logo nós havíamos sacado nossas armas e começado a novamente subir as escadas.

Celina sinalizou com suas mãos quantas dracanae haviam. Doze. Acho que o escuro havia me impedido de fazer uma contagem acurada, mais cedo. Melhor assim, eu pensei. Múltiplos de três garantiam uma briga mais democrática: quatro criaturas para cada um de nós.

Nos entreolhando uma última vez em um desejo silencioso de boa sorte, nós subimos os últimos degraus, nos espalhando pela sala com o máximo de furtividade o possível.

O fator da supresa durou pouco tempo, contudo. Assim que Luciano avançou sobre uma das criaturas, as outras se viraram para ele, e imediatamente notaram nossa presença.

Elesss finalmente chegaram!- a dracaena que havíamos ouvido mais cedo anunciou, com um sorriso sádico- Não ssse acanhem, meninasss, o patrão não precisssa delesss vivosss!

A dracaena que Luciano tentara atacar avançou contra ele, e mais quatro a seguiriam. Ele estava em um ponto pouquíssimo favorecido, entre a parede e as criaturas, e, enquanto nenhuma mulher-cobra fez menção de avançar contra mim ou Celina, várias pareciam se direcionar a ele.

Em um reflexo automático e impensado, meus lábios se moveram, recitando um dos feitiços ofensivos mais poderosos do meu arsenal. Um orbe de energia esverdeada imediatamente surgiu em minhas mãos, e eu o lancei na direção das criaturas que fechavam cerco contra Luciano.

Antes que o orbe pudesse atingir qualquer uma das dracanae, contudo, uma flecha passou cortando o ar, se chocando contra ele em pleno voo. A flecha atravessou o orbe, o fazendo desfazer-se em diversos raios verdes, e carregando parte da energia restante consigo.

Me peguei fazendo uma careta, achando que o ataque seria completamente anulado, mas o que aconteceu foi justamente o contrário. Os raios não se dissiparam, e sim atingiram duas criaturas em cheio, e a flecha voou elegantemente até o peito de uma outra dracaena. Logo três criaturas se desfaziam no chão em nuvens de pó, e apenas duas mulheres-cobra avançavam contra Luciano. As outras olharam para nós com expressões de puro ódio, e começaram a deslizar em direção a mim e a Celina.

—Excelente tiro- eu gritei para Celina, preparando mais dois orbes de energia, um em cada mão.

Ela sorriu, prendendo o arco nas costas e transformando suas pulseiras prateadas em sais, espadas finas e curtas, com um movimento dos braços.

—Excelente feitiço- ela retribuiu o elogio- Vai ter que me ensinar esse mais tarde.

Antes que eu pudesse responder, as dracanae nos alcançaram, e a breve conversa não pôde prosseguir.

Desviei das garras de uma das criaturas antes de acertá-la com um chute no peito, e lançar um dos orbes contra ela. A energia mágica a lançou para trás violentamente, e ela se desfez em uma nuvem de pó. Segurei o orbe restante entre minhas duas mãos, recitando mais um feitiço para aumentar seu poder ofensivo, e o lancei contra mais uma criatura, que avançava contra mim cada vez mais depressa.

Antes que o orbe pudesse acertá-la, contudo, ela desviou, o que fez o ataque atingir o chão com tudo, ocasionando uma explosão violenta de energia verde.

Um dos raios quase acertou Luciano, que olhou na minha direção com uma careta.

—Tenha mais cuidado, bruxa!- ele resmungou, logo depois brandindo suas espadas em um arco contra as duas criaturas que o rondavam. As lâminas acertaram em cheio os pescoços de ambas, e ele deu um sorriso convencido conforme elas se desfaziam em nuvens de pó.

Eu não tive muito tempo para assimilar a eficácia do golpe, contudo, pois logo a dracaena que eu tentara acertar havia me alcançado, e eu fui obrigada a sacar minha adaga para me proteger. Ela tentou atingir meu rosto com suas garras, mas eu desviei a tempo, tentando aproveitar de sua guarda aberta para acertá-la com uma facada no flanco. Minha tentativa falhou, contudo, e eu recebi uma pancada na lateral da minha coxa conforme a criatura usava uma de suas caudas de cobra para me acertar.

Eu me desequilibrei, caindo no chão, e tive de rolar para o lado para evitar as presas da dracaena, que se fecharam no ar onde segundos atrás estivera o meu pescoço. Antes que eu pudesse me colocar de pé para continuar a luta, contudo, a dracaena se desfez em uma nuvem de pó, conforme uma espada a acertava pelas costas. Logo Celina surgiu em meu campo de visão, exibindo uma expressão concentrada, e estendeu a mão para me ajudar a me levantar.

Ela havia acabado com as duas dracanae que haviam avançado contra ela notavelmente rápido, então aceitei a ajuda, me colocando de pé novamente conforme preparava mais um ataque mágico. Eu nunca havia sido particularmente boa em combate corpo a corpo, e os meses que eu passara no Acampamento sem ir em nenhuma missão me deixaram um pouco enferrujada.

Celina avançou para onde a batalha estava mais densa, ou seja, em direção às  duas dracanae que agora lutavam contra Luciano. Eles tinham um estilo de luta muito parecido, eu reparei conforme Celina começava a lutar ao lado de Luciano. Ambos brandiam lâminas gêmeas com maestria invejável, e confiavam em arcos rápidos e imprevisíveis para pegar os inimigos desprevenidos. Juntos, eles pareciam uma máquina e matar, funcionando em perfeita sincronia conforme atingiam as criaturas com ataques repetidos e impiedosos. Eu estava quase desfazendo meu ataque mágico, pois a batalha deles estava praticamente ganha, quando uma dor aguda em meu braço esquerdo me fez virar nessa direção, supresa e assustada.

A dracaena que parecia ser a líder, a que nos ameaçara mais cedo, exibia mais um sorriso sádico conforme meu sangue pingava de suas garras. Me senti estúpida por não ter percebido que faltava um monstro a ser morto, e essa negligência me custaria caro, eu pensei, assim que percebi que meu ataque mágico havia se dissipado devido à dor e à supresa.

—Achei que osss essscolhidosss da profecia seriam maisss fortesss do que isssso— a criatura zombou, tentando novamente me atacar com as garras, mas dessa vez eu desviei- Vocêsss sssão patéticossss!

Ela tentou me acertar com sua cauda, mas novamente consegui desviar, ainda que por pouco. Minha mente estava à mil. Invocar outra orbe de energia levaria tempo demais, um tempo que eu não tinha durante aquela batalha acirrada. Apenas um feitiço me vinha à memória, mas eu não tinha um controle completo sobre ele, não ainda. Falhar era uma possibilidade forte, e uma que poderia ter consequências desastrosas para mim, mas eu precisava tentar.

Erguendo minha mão direita e conjurando o máximo de concentração que eu tinha, eu recitei o encantamento:

Incantare: sanguinem flexarum!

Imediatamente uma fraqueza intensa tomou o meu corpo, mas eu não desmaiei, como eu temia que acontecesse. Pelo contrário, logo eu tinha a consciência aguda do sangue verde e espesso da dracaena dentro de suas veias, e um controle quase absoluto sobre ele.

Senti um sorriso metade vitorioso e metade sádico se formando no meu rosto, conforme eu constatava o meu sucesso. A dracaena estava congelada, completamente à minha mercê, e eu nunca havia me sentido tão poderosa.

—Patéticos?- eu perguntei, erguendo minha mão mais alto no ar, o que fez a criatura levitar um metro e meio acima do chão- Quem parece patético agora?

Com um movimento brusco do meu braço, eu a lancei com tudo contra a parede, e ela se chocou com violência, caindo no chão e gemendo de dor logo em seguida.

—Você vai me dizer onde está a flauta, e vai me dizer agora, ou podemos ficar nessa dança por muito mais tempo- eu expliquei, usando o solado do meu sapato para virar o rosto da criatura em minha direção- A escolha é sua.

Uma expressão de puro ódio se formou no rosto da mulher-cobra.

—Você acha messsmo, filha da magia, que Tártaro seria esssstúpido o sssuficiente para nosss contar?- ela sibilou- Você pode fazer o que quisssser comigo, masss não vai consssseguir informação alguma.

Eu estava prestes a estourar cada veia e artéria no corpo daquela criatura desprezível, quando senti uma mão suave pousando em meu ombro.

Me virei para encontrar Celina. A expressão no rosto dela não era assutada, mas sim um pouco supresa.

—Isso não é necessário, Cassandra- ela disse, em um tom de voz calmo. Então, ela apontou para um objeto metálico preso ao redor do pescoço da dracaena por um colar- Ela já vai nos dar o que estávamos procurando, querendo ou não.

Luciano se abaixou e pegou o objeto. A criatura sibilou, mas não foi capaz de atacá-lo, pois estava completamente sob meu controle.

—Uma chave- Luciano murmurou, segurando o objeto- Não sei para que serve, mas parece útil.

Eu encarei a chave, e senti uma energia extremamente forte emanando dela. Era definitivamente o que estava nos atraindo até aquele lugar.

—Vai ser útil sim- eu confirmei, com bastante certeza- Vamos, precisamos sair daqui antes que o restante dessas coisas comece a se refazer.

Celina e Luciano concordaram. De fato, algumas das pilhas de pó começavam a se recompor, e em pouco tempo as criaturas estariam de pé novamente.

—Deixe que eu dou um jeito nessa- Celina ofereceu, e eu concordei. Com um golpe rápido e limpo, a última criatura estava morta, e logo já estávamos descendo as escadas novamente.   

—Cassandra?- Celina chamou, atrasando seu passo para ficar do meu lado, conforme Luciano descia na frente- Onde aprendeu aquele feitiço?

Eu mordi o lábio inferior, um pouco constrangida com a verdade.

—No livro que peguei do meu pai- eu admiti, e Celina assentiu gravemente.

—Eu imaginei que esse fosse o caso- ela disse- Ele tinha uma energia... estranha. Talvez fosse melhor que você não usasse novamente. Pelo menos por enquanto.

—Talvez- eu concordei- Eu fiquei um pouco desesperada na hora, e ele foi o único que me veio à mente. Mas vou tentar entendê-lo melhor antes de usá-lo novamente. Nós podemos tentar entendê-lo juntas, se você quiser.

—Eu acharia mais sábio- ela anuiu- De qualquer jeito, está ficando escuro agora. Talvez devêssemos procurar um lugar para comer e dormir.

—É verdade. E talvez devêssemos sair desse bairro antes que anoiteça completamente. Acho que Luciano vai dar um chilique se ver alguém usando drogas na rua.

Celina riu.

—Eu diria que esse é o menor dos nossos problemas, mas é um bom ponto. Vamos logo, então. Antes que ele arranje briga com alguém.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :) Vejo vocês nos comentários, até!