O Despertar Infernal- Interativa escrita por Lady L


Capítulo 10
X- Plano de Ação


Notas iniciais do capítulo

Olá! Essa semana, o capítulo é da adorável Catarina! Boa leitura :)



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08 de Dezembro de 2022; Estado do Rio de Janeiro, Brasil

 

                                                     Catarina->

 

Eu ainda estava para encontrar um misto quente melhor do que o meu, e não foi daquela vez que isso aconteceu.    

A lanchonete de beira de estrada estava bem vazia, o que nos permitiu juntar algumas mesas para nos assentarmos todos juntos. A maioria havia optado pelos mistos do estabelecimento, que não eram ruins, mas eu tinha certeza de que eles estavam com saudades dos meus.

Cora havia pegado o mapa que Virgília havia lhes entregado, e ele estava estendido no meio da mesa. Enquanto comíamos, projetávamos rotas e possíveis planos.

— Eu acho difícil encontramos todos os objetos dentro do prazo nesse ritmo- Tony disse, analisando o mapa- E ainda teríamos que encontrar uma entrada para o Mundo Inferior. Altamente improvável conseguirmos tudo isso em menos de treze dias.

Alguns murmúrios puderam ser ouvidos ao redor da mesa, mas quem se pronunciou primeiro foi Laiza:

—Então você está sugerindo que devemos nos separar?- ela perguntou, arqueando uma sobrancelha- Se tem uma coisa que aprendemos com Scooby Doo, é que isso sempre dá errado.

Eu teria rido, mas ela estava certa, em algum nível. Certa até demais.

—Também não sei se gosto dessa ideia, amor- eu murmurei, e Tony me encarou com uma expressão traída no rosto- Não me olhe assim. Só acho que grupos pequenos não são a melhor opção contra todos os monstros que certamente nos perseguirão.

Ele franziu a testa e suspirou.

—Mas nós não temos muita opção, temos?- Tony perguntou, talvez mais para si próprio do que para nós- Olhem, eu realmente acho que essa é nossa melhor chance. Mas caso queiram se ater a um plano com altas chances de fracasso, não há nada que eu possa fazer.

Eu vi Luciano revirando os olhos. Eu teria achado engraçado, se não fosse a briga do dia anterior. Droga, eu tinha que parar de pensar sobre aquela briga. Eu não estava chateada, estava? Tony só estava tentando me proteger, afinal. Não estava?

—O pior é que o nerd pode ter razão- Pietro ponderou, e eu fiquei supresa de vê-lo concordando- Mesmo se conseguíssemos todos os objetos dentro do prazo, achar uma entrada para o Mundo Inferior, e depois para o Tártaro, seria uma tarefa demorada demais para o prazo.

Celina suspirou, e então disse:

—Concordo. Não gosto da ideia, mas concordo. Acho que é nossa melhor opção.

Minha cabeça estava à mil. Ao mesmo tempo em que eu queria confiar em Tony e seu plano, a possiblidade de me separar do restante do grupo me assustava mais do que eu gostaria de admitir. Eu odiava ficar com tanto medo, mas eu não podia evitar. Brigar com os ciclopes, como eu havia feito no dia anterior, era uma coisa. Eu enfrentaria qualquer monstro com bravura desde que tivesse o time ao meu lado, para me amparar caso eu caísse, me cobrir quando eu estivesse vulnerável. Mas enfrentar uma força tão poderosa e brutal sozinha? Isso já era demais. Uma parte de mim temia a solidão muito mais do que a escuridão.

—Tudo bem- eu acabei murmurando- Mas como exatamente nos dividiríamos?

Tony me encarou, com  uma expressão bem mais branda e afetuosa. Meu coração se derreteu um pouco, mas uma parte de mim ainda estava com o pé atrás, e por diversos motivos.

—Eu estava pensando em respeitar as afinidades previamente construídas- ele explicou- Mas de um jeito a potencializar os talentos de cada um. Portanto, Pietro e uma pessoa de sua escolha ficariam encarregados de encontrar uma entrada para o Mundo Inferior.

—Laiza- Pietro disse- Se posso escolher, eu escolho a Laiza.

Ela lhe lançou uma piscadela antes que Tony continuasse a divisão.

—Para achar a flauta de Hipnos, a pessoa mais apropriada seria Celina, devido à conexão de Nyx a esse deus- Tony disse- Qual seria sua escolha de dupla, Celina?

Ela pareceu ponderar por um segundo.

—Uma dupla não. Um trio. Acho que eu, Luciano e Cassandra trabalhamos bem juntos- ela respondeu, e Tony fez uma careta.

—Eu estava esperando que Cassandra viesse comigo e Catarina. Somos um trio antigo, sabe?- ele comentou.

—Sinto muito, mas concordo com Celina, Tony- Cassandra disse, e ele novamente esboçou aquela expressão traída- Não é nada pessoal. É só que, magicamente falando, nós potencializamos os poderes uma da outra.

Tony estava prestes a replicar, mas eu o interrompi antes que ele pudesse começar.

—Está tudo bem, Cassie, faz bastante sentido- eu disse, com um sorriso compreensivo- Vamos precisar de todo o poder que tivermos nessa missão.

Tony abriu a boca para dizer algo, mas a fechou novamente.

—Bem- ele murmurou- Então pode ser. Para achar a ampulheta de Cronos, eu acho que Cora é uma boa escolha. Você nasceu na Bahia, não é mesmo, Cora?

Cora deu uma risada.

—Nós já tivemos essa conversa, Tony- ela respondeu- Não nasci na Bahia, apesar de já ter morado lá e em vários outros lugares.

—Ah, eu confundi de novo, foi mal- ele deu um sorrisinho amarelo- Mas sua dupla de escolha seria a Atlanta mesmo, certo?

Cora concordou, e Atlanta sorriu.

—Ótimo! Então eu e Cat iremos atrás das correntes em Minas Gerais. Todos de acordo com essa divisão?

Todos pareceram concordar, o que me deu uma ideia.

—Deveríamos brindar à ocasião! É a primeira vez que todos concordamos sobre alguma coisa!- comentei, arrancando algumas risadinhas- Estou falando sério. Vou buscar Coca Cola e nove copos. A ocasião pede.

Nós terminamos de comer depois do brinde com Coca Cola, e voltamos para a kombi, estacionada do lado de fora da lanchonete.

Havíamos passado a noite lá dentro, então o veículo estava um pouco bagunçado. Talvez fosse bom mesmo que o grupo se separasse, ver tantas coisas brilhantes espalhadas por aí estava me dando alguns pensamentos duvidosos. A culpa não era minha se eles deixavam coisas tão bonitas sem nenhum tipo de vigilância, era?

Ficou decidido que deixaríamos Cassandra, Celina e Luciano no Rio de Janeiro antes de continuarmos nosso trajeto país acima. Então eu e Tony desceríamos em Ouro Preto, Atlanta e Cora em Salvador, e a kombi ficaria em posse de Laiza e Pietro, que deveriam achar uma entrada para o Mundo Inferior e voltar para nos buscar dentro de uma semana e meia. Pontos de encontro em todas as cidades foram estipulados, e o prazo, apesar de curto, era necessário, pois ainda teríamos de percorrer o Mundo Inferior em busca de uma passagem para o Tártaro depois de tudo.

Eu estava arrumando minha cama na área de dormitórios (e casualmente encarando um colar muito bonito jogado sobre uma das cômodas. Eu tinha quase certeza de que ele era de Cora, e por isso estava fazendo um esforço para não pegá-lo) quando senti uma presença atrás de mim. Me virei para ver Tony, parado na porta me observando.

—Ei- ele cumprimentou, se aproximando um pouco timidamente- Podemos conversar, amor?

Eu já imaginava sobre o que a conversa seria, mas ela era necessária. Já estávamos postergando aquilo desde o dia anterior, e não poderíamos sair em uma missão juntos com aquele assunto pendente.

—Claro, querido- eu sorri- No que você está pensando?

Ele me encarou por alguns segundos antes de responder:

—Eu só queria te perguntar... por que você discordou de mim agora há pouco? Você costuma ter mais confiança em mim e em meus planos. Fiquei um pouco surpreso, só isso.

Eu suspirei. É óbvio que ele não fazia ideia de qual era o verdadeiro problema. Tinha notado meu comportamento atípico, é claro, afinal ele era bastante inteligente para algumas coisas. E nem tanto para outras.

—Eu só falei o que estava na minha cabeça- eu sorri placidamente, decidindo manter minha calma enquanto fosse possível- Mas ainda confio plenamente nas suas estratégias.

Ele pareceu incerto por alguns segundos, e permaneceu me encarando analiticamente.

—Não tem nada a ver com a briga que tive com o Luciano ontem, tem?- ele perguntou, e eu tive de conter o início de exasperação que começava a ameaçar aparecer. Ele era mesmo bem esperto para algumas coisas, não era?

—O que você acha, Tony?- eu perguntei, sentindo o sorriso sumir do meu rosto- Não acha que já tivemos uma conversa sobre esse assunto, mas que você decidiu ignorar meus pedidos de qualquer jeito? Não acha que mereço um pedido de desculpas?

A expressão em seu rosto era agora completamente mortificada.

—Não fique brava comigo- ele pediu- Eu não fiz por mal.

Eu suspirei.

—Você nunca faz. Mas também nunca melhora, não é? Sempre acaba se metendo e apanhando, e ainda assim nunca aprende uma lição.

Ele franziu a testa.

—Você está sendo injusta agora. Eu não apanhei. E só fiz o que fiz para te proteger.

Eu tive de respirar fundo para não levantar meu tom de voz.

—E não é esse precisamente o problema? Você sempre achar que eu preciso de proteção, mesmo quando eu estava com a situação sob controle? Luciano não estava sequer irritado, até você decidir interferir. Eu já te disse para não se meter em discussões com ele, mas você nunca me ouve.

Tony fez uma expressão chateada, e aquilo me afetou mais do que eu gostaria. Eu perdi completamente a vontade de continuar aquela conversa, e me senti mal por chamar-lhe a atenção. Para o bem o para o mal, ele tinha aquele efeito sobre mim. Eu não conseguia ficar brava com ele por muito tempo.

—Mas está tudo bem- eu acabei falando, com um suspiro- Só não faça de novo, ok?

—Eu vou tentar- ele garantiu, me puxando para um abraço, o que eu permiti- É só que eu te amo demais, Cat. Não posso evitar tentar te proteger de tudo e de todos.

“Você não pode me proteger do que está por vir”- eu pensei, afundando meu rosto em seu peito-“Ninguém pode.”

Mas eu apenas o abracei de volta e permiti que seu calor me confortasse. Ao menos eu não estaria sozinha no que quer que nos aguardasse.

Não demorou muito para que chegássemos à cidade do Rio de Janeiro. Era Atlanta quem estava dirigindo, e ela decidiu passar com a kombi por cima do mar, para que pudéssemos aproveitar a bela vista antes de pousarmos na área central. Eu encarei a imensidão azul através da janela, maravilhada com a visão estonteante, mas que infelizmente durou pouco. Logo a van começava a descer, e pousou com um solavanco. Para ser justa, não foi tão brusco quanto o pouso de Luciano, mas também não foi tão suave quanto o de Cassie e Celina. Um meio termo tolerável, provavelmente o melhor que poderia ser feito sem magia.

Estávamos estacionados em uma rua deserta, no que parecia ser um bairro mais antigo. Ruas de pedra e prédios velhos ocupavam a paisagem ao nosso redor, mas eu não reparei muito, pois logo me joguei nos braços de Cassandra, que se preparava para ir embora.

—Boa sorte, Cassie- eu murmurei, a apertando forte contra o meu corpo. Ela abraçou de volta, e então segurou em meus ombros com delicadeza.

—Para você também, Cat. Nunca se esqueça do seu potencial, malandrinha. Você é a pessoa mais corajosa que conheço, apesar de nunca perceber- ela deu um beijo em minha testa, e então foi se despedir dos outros.

Logo ela, Celina e Luciano se afastavam, desaparecendo por entre as ruas estreitas de pedra, indo em busca do primeiro objeto. O resto de nós voltou pata a kombi, e novamente decolamos, rumo ao próximo destino. O meu destino e de Tony.

Enquanto o veículo planava por entre as nuvens, não pude deixar de sentir medo. Cassandra havia me dito que eu era corajosa, mas eu não me sentia corajosa, muito pelo contrário. Talvez por isso Tony tentasse me proteger até mesmo da minha própria sombra. Eu não passava de uma garotinha assustada, e que precisava dele o tempo inteiro.

Eu pensei no sonho que todos havíamos tido alguns dias antes, o sonho da profecia. No cheiro do enxofre e no calor infernal subindo por meu corpo, na sensação horrível de estar sendo observada, e lentamente consumida. Aquilo era muito mais poder do que eu poderia enfrentar, terrível além de qualquer pesadelo que minha mente poderia conjurar. Por que logo eu havia sido uma das escolhidas para enfrentar aquele criatura? Eu não me sentia capaz de lidar com aquilo, nem perto disso.

Contudo, dentro de mim, havia uma parte de encarava tudo aquilo não com terror, mas com resignação. Uma espécie de resignação que eu esperava que algum dia pudesse virar coragem, como a que Cassandra acreditava ver em mim. Eu não sabia o porquê de eu ter sido sido uma das escolhidas para aquele destino, mas eu tinha fé. Fé de que nós seríamos o suficiente. De que eu seria o suficiente. Fé de que eu poderia ser algo além de uma garotinha assustada. E fé de que eu cumpriria meu destino, de uma maneira ou de outra.


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Notas finais do capítulo

Foi um capítulo com menos ação, o fechamento do primeiro arco, mas espero que tenham gostado! Vejo vocês nos comentários, até!