O Despertar Infernal- Interativa escrita por Lady L


Capítulo 12
XII- Presságios


Notas iniciais do capítulo

Olá! Hoje teremos um capítulo da nossa Oráculo, a Amélia, para ver como andam as coisas no Acampamento. Peço perdão pelo atraso, e boa leitura :)



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09 de Dezembro de 2022; Templo do Oráculo, Acampamento Meio-Sangue

 

                                                         Amélia->

 

—Vocês o que?- eu perguntei, incrédula, encarando a expressão de pouco caso de Laiza.

—Foi uma decisão praticamente unânime- a garota loira deu de ombros, e eu fiz uma careta- E, sinceramente, a mais acertada.

—Não pensaram sequer em me avisar?- eu questionei, sentindo vontade de desligar na cara dela. Além de desrespeitosa, ela estava sendo imensamente irritante com sua postura debochada. Eles haviam separado o grupo, e sequer pensado em me avisar, que audácia!

—Nós estamos avisando agora, não estamos?- ela arqueou uma sobrancelha- Enfim, você vai precisar rever os presságios. Eu não quero me meter em uma enrascada sem estar propriamente avisada.

Eu fiz uma expressão de descrença.

—Bem, se queria minha ajuda, talvez devesse ter me avisado mais cedo. Não é como se olhar os presságios fosse uma tarefa simples e rápida- eu respondi, e Laiza abriu a boca para retrucar, mas logo Cora, ao seu lado, resolveu interferir.

—Nós sabemos que é de última hora, e sentimentos muito- ela deu um sorriso gentil- Mas só tivemos tempo de te contatar agora. Acabamos de deixar Cat e Tony em Ouro Preto, e, antes disso, deixamos Cassie, Celina e Luciano no Rio de Janeiro, então só tivemos uma oportunidade de te ligar agora. Sentimos muito pela demora, mas realmente vamos precisar da sua ajuda.

Eu desfiz minha expressão hostil. Por mais irritada que eu estivesse, Cora não merecia que eu descontasse nela.

—Bem, eu vou ver o que posso fazer- eu respondi, em um tom mais brando- Posso contatar vocês por esse número, caso necessário, certo?

Cora assentiu.

—Podemos te colocar no nosso grupo do WhatsApp também- Atlanta, de pé atrás da cadeira de Cora, propôs- Combinamos de mandar as atualizações por lá. Ontem de noite mesmo, Luciano já estava se gabando sobre eles terem conseguido uma chave ou algo assim.

Eu dei uma risadinha, mas acabei concordando.

—Seria bom sim, obrigada. Assim que eu tiver alguma coisa, mando lá também- eu garanti. Antes que eu pudesse me despedir e terminar a ligação, contudo, a kombi deu um solavanco, o que fez minha ficha cair de quem estava no volante, afinal- Então é Pietro quem está dirigindo?

Cora e Atlanta se entreolharam, e então riram, assentindo. Ao notar isso, Laiza revirou os olhos.

—O próprio- Atlanta concordou- Sabe, eu também sei dirigir, mas ele insistiu.

—Ele nem é tão ruim assim, só vai um pouquinho rápido demais- Laiza tentou defender, mas não soou muito convincente- De qualquer forma, até mais tarde, Amélia. E tente não demorar com os presságios.

Laiza então desligou, o que me poderia ter me deixado irritada, mas, ao invés disso, eu me peguei rindo de sua reação.

Eram por volta de oito horas da manhã, e eu podia ouvir os campistas começando suas rotinas do lado de fora do meu templo. Caminhando até a janela, eu abri as cortinas, e o sol forte de Verão me cegou por um segundo.

Era um dia bonito, e vários grupos passavam, conversando animados e andando em direção ao refeitório. Eu senti minha própria barriga roncando, afinal, eu ainda não havia comido nada naquele dia, mas decidi que tomaria café mais tarde. No momento, queria usar minha energia para estudar os presságios solicitados.

Eu queimei algumas oferendas; joguei ossos e os analisei, tomando notas sobre suas conformações e formatos, para depois confirmar tudo nos livros; e até mesmo meditei um pouco. Ainda assim, todos os presságios pareciam dolorosamente vagos, como se eu estivesse tentando segurar névoa com as mãos, e ela escapasse por entre os meus dedos.

A maioria alertava sobre perigo e instabilidade, mas de uma forma estranha e indefinida. Sem um tempo cravado, como se a ameaça já estivesse, de certa forma, formada, o que não fazia sentido. A profecia falava sobre o Solstício, mas nenhum dos presságios confirmava essa localização temporal.

E, o que estava me deixando mais confusa: os presságios eram extremamente impessoais. Em apenas dois ou três eu consegui captar características pessoais específicas: mechas de cabelos loiros em um, olhos grandes e castanhos no outro; mas a grande maioria parecia um aviso geral, o que estava me deixando preocupada. Afinal, o grupo havia se separado, e os presságios deveriam se tornar mais individualizados. Ainda assim, é como se o destino de todos eles continuasse conectado, misturado.

Decidi dar uma pausa e tomar meu café da manhã às nove e meia, apesar do pressentimento ruim que não me deixava por nada.

O refeitório era um espaço amplo e barulhento, e, no momento, com um cheiro denso de pão fresco se espalhando pelo ar.

Assim que eu peguei minha comida, vi Amanda, filha de Hécate, acenando para mim, e decidi ir me assentar com ela. Ela era uma das poucas pessoas do Acampamento que eu realmente considerava como amiga, e eu estava mesmo precisando de um pouco de companhia para me distrair.

—Bom dia- eu cumprimentei, e ela sorriu para mim.

—Bom dia, Mel- ela respondeu- Você parece preocupada. Está tudo bem?

Eu dei uma mordida desanimada na minha fatia de torrada antes de dar de ombros.

—Alguns presságios complicados, nada com o que se preocupar- eu respondi.

Amanda era somente um ano mais velha do que eu, mas ela tinha uma postura calma e madura, quase maternal, que me fazia ter uma confiança estranha nela.

—Tem certeza de que é só isso? Você pode conversar comigo, se quiser- ela insistiu, e eu me peguei soltando um suspiro cansado.

—Na verdade, tem algo a mais sim- eu admiti- Sinto que estou deixando algo importante passar. Esses presságios em que estou trabalhando deveriam ter tempos e pessoas definidos, mas estão vagos. Abrangentes, quando deveriam ser mais específicos. Quase como se algum aviso que eu não estava procurando tentasse se infiltrar.

Amanda tomou um gole de seu café.

—Talvez seja um presságio geral? Algo grande que vai acontecer com várias pessoas?- ela propôs.

—Talvez- eu concordei, apesar de já ter considerado a possibilidade- Mas não faz muito sentido. A não ser que...

Antes que eu pudesse concluir meu pensamento, a terra tremeu.

Não foi um terremoto comum, e sim um tremor tão intenso e assustador que me lançou para longe da mesa, me jogando no chão com violência.

Minha cabeça girava, e, apesar de tentar, eu não conseguia me levantar do chão, que ainda sacudia com força, eu estava tonta e fraca demais devido à queda. Amanda caiu do meu lado, e um filete fino de sangue escorria por sua testa conforme ela tentava se levantar.

—Mel, o que está acontecendo?- ela perguntou, a voz assustada, e eu rastejei em sua direção conforme tremores terríveis e violentos ainda sacudiam o chão com força.

—O presságio- eu murmurei, tentando segurá-la para que conseguíssemos nos levantar- Era sobre isso a droga do presságio.

Com dificuldade, nós nos colocamos de pé. Dezenas de campistas gritavam e tentavam sair do refeitório, que estava prestes a desabar, fazendo chover pedaços de pedra e concreto ao nosso redor.

—Precisamos sair daqui- eu gritei, e Amanda assentiu, desesperada. Nos apoiando uma na outra para conseguir o mínimo de equilíbrio, nós corremos em direção à entrada.

As paredes ruíam cada vez mais depressa, e nós conseguimos ajudar os campistas restantes a sair de dentro do refeitório, mas foi por pouco. Assim que tiramos a última pessoa de lá de dentro, ele desabou completamente, causando um estrondo terrível e uma nuvem de pó e detritos.

Nós sequer tivemos tempo para assimilar a queda do refeitório, logo um novo abalo, nos atingiu, e um som alto e assustador começou a ecoar pelo chão de terra.

—Amanda, cuidado!- eu gritei, a puxando em minha direção conforme uma rachadura fina começava a surgir no chão sob seus pés.

Foi por pouco, sem minha ajuda, ela teria caído.

Com um estrondo final, uma rachadura enorme se abriu no chão, dividindo o pátio do Acampamento em dois. Gritos de desespero e gemidos de dor podiam ser ouvidos, mas, felizmente, ninguém caiu dentro do abismo. O alívio durou pouco, contudo, pois logo uma fumaça densa e escura começou a subir de dentro do penhasco, e o cheiro de enxofre e cinzas a tomar o ar, e essa sequer foi a pior parte.

O desespero de verdade só chegou com os escorpiões.

Do tamanho de uma cabeça humana, eles rastejaram para fora das profundezas em ondas de carapaças negras e ferrões afiados. Criaturas assustadoras e maléficas, cujo veneno poderia matar em poucos minutos, e a maioria dos campistas estava desarmada e indefesa.

—Precisamos fazer alguma coisa!- Amanda disse, conforme os escorpiões de aproximavam. Ela invocou um feitiço, criando uma orbe de energia entre suas mãos, e começou a atacar os escorpiões que se aproximavam de nós.

Eu não tinha trazido nenhuma arma comigo além da minha adaga, e sequer era uma lutadora particularmente formidável. Sabia que o mais sábio naquela situação seria correr. Mas eu não iria abandonar Amanda, ou sequer os outros campistas, que estavam fazendo o que podiam para conter o avanço dos milhares de escorpiões. Talvez aquilo fosse assinar minha própria sentença de morte, mas, se fosse necessário morrer para proteger o meu lar, a minha família, eu morreria com um sorriso no rosto.

Mas não era o destino de nenhum de nós morrer naquele dia. Porque, em uma explosão de labaredas douradas, a deusa que intercedia por nós surgiu em nosso auxílio.

Héstia flutuava acima do abismo, seus olhos e cabelos em chamas, e o fogo se alastrava também pela terra, consumindo os escorpiões e afastando a escuridão que a fumaça escura havia causado. Ela brilhava, exalando puro poder, e a luz e o fogo eram tão fortes que eu me peguei momentaneamente hipnotizada. Qualquer poder que nós achávamos que tínhamos não era nada comparado àquela manifestação pura e irrestrita de glória em seu estado mais puro. Ela era grandiosa, e, naquele momento, não havia nada em meu coração além de admiração e gratidão.

Os pés da Última Olimpiana só tocaram o chão novamente quando todo mal havia se dissipado, e todo o perigo havia se desfeito em cinzas.

—Ninguém mexe com a minha família- ela disse, com os olhos ainda queimando em dourado- Nem mesmo você, Tártaro.

E, com um gesto de sua mão, a rachadura no chão se fechou, até não passar de uma fina linha marcando o chão.

Um presságio de perigo, eu havia previsto. Os destinos de todos os semideuses estavam entrelaçados e instáveis, e o destino dos Escolhidos, sobretudo, estava cercado de mistério e atribulações. Eu encarei a rachadura no chão por alguns segundos, ainda sentindo meu coração disparado. Se aquilo era apenas o começo, eu temia verdadeiramente o final.


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Notas finais do capítulo

Acharam que o capítulo ia ser paradinho, não é mesmo? Enganei vocês kkkkk! Espero que tenham gostado. Até, vejo vocês nos comentários!

Ps: postei uma pequena atualização no tumblr da fic (https://odespertar-interativa.tumblr.com/)