Murilo Narrando

Acordei com alguém passando a mão em meu cabelo. Abri os olhos e era a minha mãe. Lembrei de um pesadelo que tive com meu namorado e fiquei imediatamente preocupado.

— Como Kevin está? – perguntei mesmo sabendo que ela não teria essa resposta.

— Quando é que você se tornou esse homem? – Sorri.

— É sério mãe, estou preocupado com ele.

— Ele tá bem meu filho, certamente no hotel. – Continuou me acarinhando. – E eu estou orgulhosa de você. Deixe-me demonstrar isso.

— Tive um pesadelo. – Cocei os olhos. – O Adam já acordou?

— Sim. Está conversando com seu pai lá embaixo.

— Que horas são? – Eu me assustei me levantando. – Combinei de almoçar com Kevin.

— Acho que está um pouquinho atrasado então, já passa de meio dia.

— Vou tomar um banho rápido. – Avisei indo para o banheiro.

Quando cheguei no hotel para almoçar com Kevin, já atrasado, notei que ele estava um pouco tenso. Pensei que fosse por coisas do trabalho, contudo, logo notei que era sobre nós.

— Fala logo Kevin. Sei que está incomodado com algo e sei que tem a ver com a gente.

— É que... – Ele puxou o ar e soltou lentamente. – Não sei se consigo mesmo estar contigo Murilo.

— Eu sei. – Peguei em sua mão discretamente. – O amor vai exigir um pulo no escuro. Sei que tem medo. E por outro lado, sei que tenho minha vida traçada e até iniciada em Paris. Sei que tenho planos, projetos, talvez até alguns sonhos e ilusões, mas eu abro mão de tudo por você. Por uma vida com você. Porque eu sei que nada se compararia a isso.

— Você não entende. Eu sou instável, impulsivo e muito imprudente... Eu posso te machucar. Posso não conseguir me manter tão bem e... Tenho muito medo.

— Você nunca me machucou. E seu sentimento por mim não te deixaria fazer isso.

— Eu não posso fazer você largar sua vida por mim. – Balancei a cabeça negativamente.

— Você é a minha vida. Não entende isso? Sempre foi. Por que acha que eu nunca consegui te esquecer?

— Não posso ser sua vida, isso não é saudável.

— Reclame com nossos pais, viemos de uma linhagem de amores perfeitos e apenas reproduzimos o que aprendemos.

— Não existe amor perfeito.

— Ah é? Então como você explica o que seu pai sentia por Luna e o que meus pais sentem um pelo outro? Sem falar em todos os outros casais que conhecemos. O seu pai fazia tudo o que Luna queria, lembra?

— É difícil discutir com você né? – Sorri grandemente.

— Só aceita que eu te amo e você me ama e que ainda vamos ser muito felizes.

— Isso vai funcionar a distância?

— É por pouco tempo. Eu prometo. – Mandei beijo em um gesto de carinho.

— Não posso te perder de novo.

— Você nunca me perdeu Kevin Morelli Montez.

— Sabe que naquela época eu teria enfrentado tudo só para ter meu caminho de volta até a você.

— Sei. E não quero que faça nenhuma besteira para me proteger.

— Ele tá morto Murilo. O pesadelo acabou.

Aquela tarde não poderia ser melhor. Ele largou tudo pra ficar comigo e eu fiquei todo bobo com a sua atitude. De qualquer forma eu estava prestes a ir embora, então tínhamos que aproveitar ao máximo o tempo juntos.

Só não imaginava que aquilo fazia parte de uma manobra de distração, para que enquanto isso nossos amigos organizassem uma festa de despedida para mim. Não sabia se merecia o namorado e os amigos que eu tinha, era muita dedicação vindo deles.

— Liguei e convidei Rafael para vir aqui. – Falei para o meu primo Arthur, que na hora fechou a cara. – O Kevin insistir em não olhar pra ele eu até entendo, mas você não. Vocês eram os melhores amigos que talvez nós dois nunca chegamos a ser.

— Sua importância sempre foi bem maior que a dele.

— Não é essa a questão. Na vida amizade é o bem mais precioso que temos, ele traiu o seu irmão e não você. Coloca isso em sua cabeça.

— Ravi diz a mesma coisa. – Resmungou. E vimos o loiro adentrar a sala da casa da minha vó. – Vou ouvi-lo por cinco minutos Murilo e se eu ver que não vale a pena você não insiste mais nisso.

— Combinado. – Fui até Kevin que me lançou um olhar nada agradável.

— Aposto que aquilo foi ideia sua. – Concordei. – Quando vai deixar de ser tão bonzinho?

— Foi sendo assim que consegui recuperar sua alma. Não reclame.

— Por que é tão importante pra você que convivamos com ele?

— Não te quero nutrindo ódio por ninguém e sei que não sente mais nada por ele... Já com Arthur, por mais que ele diga que não, está sofrendo sem o amigo. Eles nunca tiveram uma conversa sincera sobre o assunto, precisam disso.

— Mas hoje era sobre você e só você. – Sorri.

— Eu sei. E ainda não aprendeu algo sobre mim? Que eu quero ver todos que eu amo felizes.

— Odeio te amar tanto Murilo. – Apertou meu queixo selando nossos lábios.

— Posso interromper os pombinhos? – Soph chegou com sua Polaroid e pediu para tirarmos foto com ela, como ela estava fazendo com todo mundo. Ela era mesmo a mais animada de todas nossas amigas. Kevin e eu nos juntamos a todos, menos Arthur que estava na área da piscina e pelo visto a conversa durou mais que cinco minutos.

— Por um instante eu quase consegui esquecer que toda essa alegria se trata de uma despedida. – Minha irmã disse repousando a cabeça em meu ombro.

— Logo estarei de volta. – Só esperava que isso realmente acontecesse, mesmo com os meus estudos e trabalho, que eu conseguisse ir o máximo de vezes até Torres e não sentisse tanta saudade de todos ali.

Alice Narrando

Duas coisas inéditas aconteciam naquela noite. A primeira era Arthur estar conversando com Rafael e a segunda... Preciso explicar em detalhes.

Estava com todos quando meu namorado chegou e se ajoelhou em minha frente com os braços para trás. Não acreditava no que ele estava prestes a fazer. O meu pai, minha mãe, avós e todos os adultos pareciam saber de sua intenção, já que apareceram no mesmo momento.

Foi quando ele tirou um buque imenso de rosas vermelhas e um anel de noivado e me pediu em casamento. Por alguns segundos eu entrei em transe, sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. As palavras “Você aceita se casar comigo?” ecoavam em minha cabeça e ele começou a ficar aflito pela minha demora em responder.

“Claro que aceito” saiu da minha boca quase que de forma automática e eu sentia que aquilo era a melhor decisão que eu podia tomar em todo esse tempo juntos. Todos aplaudiam enquanto nos beijávamos e ele colocou o anel ao lado do anel de vó Isa que ele me presentou quase no início do namoro.

— Você vai se casar com o cara mais incrível que conheço! – Meu pai disse nos parabenizando.

— Obrigado pai! – Murilo se fingiu magoado.

— Obrigado também sogrinho. – Kevin o provocou.

— Você é atrevido mesmo hein garoto?! – Meu pai o questionou de forma séria. Eu soube por alto da indignação e medo dele por Muh e Kev estarem namorando, mas não sabia que sua posição ainda não havia mudado. Era óbvio que aqueles dois ficariam juntos independente da aprovação de qualquer pessoa na face da terra.

— Não vou te perdoar por roubar a atenção em minha festa de despedida. – Meu irmão brincou com Arthur para amenizar o clima.

— Queria aproveitar todos juntos, sei o quanto isso é importante para Alice.

— Quando alguém vai me pedir em casamento assim? – Sophia resmungou fazendo Alê olhar para ela. Os dois não se resolviam de jeito nenhum.

— Eu puxei meu irmão, então a Larissa pode esperar algo parecido. – Yuri disse deixando a garota sem graça. O namoro deles ainda não era público, por isso causou essa reação.

Pensei que Ryan também diria algo a Otávia, porém ele ficou em silêncio e preferiu não se pronunciar quanto a pedir a garota em casamento algum dia. O que nao significava que não aconteceria. Sabíamos o quanto ele amava aquela garota. 

Minha felicidade era explicita. Iria fazer um ano que Arthur e eu reatamos o namoro e mesmo que passássemos alguns anos noivos antes de nos casar, ainda assim valeria a pena esperar.