Alice Narrando
Arthur e eu combinamos de nos reversarmos para vigiar Kevin agora que Murilo não estava mais aqui e ele podia regredir novamente. Fui ao hotel perto da hora dele largar serviço e encontrei o Orlando Costa saindo de sua sala. Kevin deu uma risadinha quando já estávamos sozinhos.
— Ele nunca vai se perdoar por não conseguir te tirar do Arthur. – Revirei os olhos e mudei o assunto.
— Você está bem? – Nós nos olhamos por um tempo.
— Claro que eu não estou bem né Alice. Como eu poderia ficar bem com ele longe de mim dessa forma? – Achei fofa a sua pergunta e sorri.
— Vamos fazer algo depois que acabar aqui?
— Você tem aula na faculdade, começa hoje e eu... Acredito que vou voltar para o curso que eu fazia aqui, já que decidi assumir o hotel de vez.
— O primeiro dia quase ninguém vai. Vamos Kevin, você precisa se distrair um pouco.
— Vai tentar me distrair diariamente? Porque sem ele aqui é desse jeito que vou ficar.
— Kevin... – Ele me cortou abruptamente.
— Não Alice. Você tem que ir estudar. – Ele não mudaria de ideia mesmo então desisti.

Mais tarde naquele mesmo dia meu noivo me buscou para irmos à faculdade juntos. Era tudo novo para mim, porém eu sabia que iria dar conta, já que estava comprometida.
— Eu te vejo no intervalo. – Selou nossos lábios. – Você e o resto daquele pessoal grudento.

E assim foi feito, o assunto da roda era o aniversário de Sofia e Larissa que se aproximava, quando uma discussão interrompeu o momento. Soph estava dando um ataque de ciúme com Alexandre.
— Ela tá afim de você! – Exclamou sem deixa-lo nem se defender.
O que eu não imaginava era que eu passaria pelo mesmo, horas depois. Quando deu a hora de ir embora fui até o carro de Arthur de onde o vi se encaminhar com uma garota. Eles se despediram e ele veio para perto de mim me beijar e eu neguei.
— Quem era aquela? – Perguntei cheia de ódio.
— Uma menina da minha sala Alice.
— Não me chama pelo nome. O que estavam conversando? Hein Arthur? – Cruzei os braços e quase bati os pés.
— Sobre uma matéria amor. Para de bobeira. É você que eu amo, você que eu pedi em casamento. Não tem motivos para ciúme. – Seus braços fortes e enormes me puxaram e eu não consegui resistir.

Sabia que eu tinha que confiar em Arthur e que ele era confiável, no entanto, ao ver outra do lado dele eu sempre ficava assim descontrolada. Podia passar o tempo que fosse junto, eu não iria conseguir agir diferente.

A semana ia passando de forma rápida, eu ia me adaptando a faculdade e tudo que eu sabia fazer era estudar. Até chegar o fim de semana.
— Vocês estão sabendo? Dizem que Rafael está pegando uma das professoras dele. É verdade Arthur? – Ele olhou para Sofia parecendo não entender.
— Quem disse isso? E como você fica sabendo de tudo quanto é fofoca Soph?
— As meninas da minha sala comentaram. Sabe como é... Alela não é tão grande assim, toda a faculdade se conhece.
— Sim e ela é casada. – Ele respondeu me deixando horrorizada. – Se bobear ele pega a mulher e o marido dela.
— Vocês são tão antiquados. Talvez seja um casamento aberto. Ninguém sabe do combinado deles.
— Uma hora ele vai aparecer morto.
— Se não foi pelo Kevin, não vai ser por mais ninguém. – Todos riram, apesar de não ser uma piada.

Naquele momento eu percebi como começava a se desenhar a formação do nosso grupo. Todos os casais finalmente juntos. Aquilo de certa forma me alegrava, era um sinal que as coisas podiam dar certo não apenas para mim e acredito que no fim, a volta de Murilo e Kevin inspirou todo mundo.

Murilo Narrando

Os meus dias não estavam sendo os mesmos com a ausência de Kevin e sentir isso na pele era horrível. Sei que era apenas para me distrair, mas Adam me chamou para sair. Logo disse não. Cancelaria qualquer compromisso que não fosse próprio e que oferecesse risco ao meu relacionamento.

Não me permitiria ter esse tipo de comportamento. Eu assim como Kevin, repudiava traição e com certeza não o perderia por esse motivo.

Como eu havia voltado a Paris, eu devia voltar a frequentar a minha terapia. Eu não queria. Porque eu sabia que ela iria me questionar a minha volta com Kevin e eu não estava pronto para ir tão fundo nesse assunto. Mas aqui eu estava.
— Quer dizer que os dois se reencontraram, viram que ainda se amam e reataram? – Concordei gestualmente. – Você se lembra do motivo pelo qual terminaram e o que isso fez com você?
— Mas agora é diferente. O pai dele está morto. Já disse isso.
— Murilo eu acreditei em cada palavra que você me contou sobre esse pai dele e por tudo que ele já fez e pelo grau de psicopatia, ele não cometeria um suicídio.
— Você pensa que ele está vivo? Como? Se todos o observaram no caixão.
— Só estou dizendo ser uma atitude que não condiz com perfil dele. – Ela pousou as mãos na perna. – Murilo... Você está voltando para uma relação que te fez muito mal. Tem certeza que é isso mesmo que você quer?
— Tenho. Estar com ele me faz imensamente bem.
— Vejo como os seus olhos brilham quando fala dele, mas mantenha os pés no chão.

Não tinha como explicar que eu não sabia fazer aquilo. Manter os pés no chão para mim era ir com um pé atrás e eu já havia me entregado por inteiro sem ressalvas.

O momento que eu mais temia chegou, nossa primeira discussão após a volta. O motivo era bobo e eu sabia que eu tinha que ter paciência com o jeito de Kevin, mas às vezes eu falhava nessa missão. A pauta era a mãe dele, ele tinha que perdoá-la e não conseguia.
— Não vou deixar me manipular. – Negou veementemente.
— Tá bom Kevin. Não vou mais discutir com você. É hora de eu inverter a situação indo fazer o que eu faço de melhor, cozinhar. – Seu sorriso me deixou confuso.
— Não resisto a esse seu dom. Meu chef lindo. – Agora quem não segurou o sorriso foi eu.
— Sabia que pensei em você o dia todo? – Eu me rendi a ele e esqueci aquela pequena discussão.
— Engraçado... Porque eu também pensei em você. Acredito que eu deveria ser diabólico o bastante para não admitir isso. – Rimos juntos.
— Com certeza. – Concordei. Ficamos algumas horas naquela ligação, até o sono nos pegar completamente.

A distância já estava fazendo seu efeito. Duas semanas longe de Kevin e eu parecia querer morrer. Nada me distraia e eu mal conseguia manter a concentração nas aulas.

Vivíamos em ligações o tempo todo e ele até parava o trabalho para falar comigo. O fato é que nada daquilo satisfazia. Queria o som da sua risada em meu ouvido, olhar em seus olhos verdes água e sentir o seu corpo no meu. Era tudo o que eu queria.

Manhã de sábado. Fui surpreendido com uma notícia que eu não esperava. Notícia essa que me faria ir a Torres mais rápido do que eu planejava.