Amor Perfeito XV escrita por Lola


Capítulo 17
Abrigo


Notas iniciais do capítulo

Obrigada Bruh e Isah por sempre estarem aqui ♥
Boa Leitura ♥



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Murilo Narrando

Cheguei até a casa da minha vó e vi que Adam estava interagindo com todos como se tivesse sido criado em Torres. Dei uma risada interna.

— Você não se cansa desse papelão né meu amigo?! – Alexandre me provocou. Danilo entrou na biblioteca de uma forma veloz e teriam soltado piada sobre a intimidade dele invadir o local assim se não fosse por sua expressão.

— Kevin está fora de controle. – afirmou com um tipo de fúria incomum.

— Isso todos nós sabemos.

— Não... Ele realmente passou dos limites.

— O que ele fez? – perguntei um pouco preocupado.

— Causou uma tragédia em minha casa. Só porque tentei colocar juízo na cabeça dele, ele contou aos meus pais que eu... – parou e respirou fundo. – Eu namoro Diana.

— Que? – todos pareciam surpresos, menos Alice. Certamente como melhor amiga de Kevin ela já devia saber disso há tempos.

— Não somos irmãos!

— Mas foram criados como se fossem. Isso é no mínimo estranho.

— Já ouvi o bastante do meu pai. Só vim dizer que vocês precisam pará-lo porque eu desisto.

A única coisa que podíamos fazer era ir atrás dele. Fomos no mesmo instante em que Danilo jogou em cima da gente a responsabilidade de fazer com que trouxéssemos Kevin de volta. Só que ninguém ali sabia lidar com ele. Muito menos Sophia que o desafiou a mudar e ele respondeu na mesma altura.

— Você não aguentou segurar um bebê, vai aguentar a minha revolta? – meu estômago embrulhou e imaginei se isso era o mais longe que ele podia ir. Talvez não. E pensar nisso me causava calafrios.

 - Como você consegue agir como se não se importasse? Agir como se não sentisse nada?

— Será que existe um coração em seu peito? – Alice o questionou mesmo sabendo que sim e mesmo conhecendo o melhor lado dele.

— Peça desculpas a Sophia, Kevin! – Arthur exclamou com rigidez. – Por favor, se desculpe agora. Mostre que tem alguma coisa dentro de você. – Kevin olhou no fundo dos olhos do irmão.

— Não. – respondeu simplesmente.

— Pede desculpas agora. – vimos o loiro ficar alterado e eu sabia que aquilo não iria acabar bem.

— Arthur está entediado. Uma vida com Alice deve levar a esse tipo de emoção mesmo. Invalidar normas é o princípio básico humano. Caso contrário as coisas perdem o sentido e a graça.

— Ele já disse isso antes, mas agora doeu mais. – minha irmã admitiu baixinho com mágoa.

— Agora viu que não tem como mudar quem eu sou. – cuspiu olhando diretamente para mim.

— Você acha que eu vou te julgar depois de saber que você foi torturado por anos? Você não nasceu má, Caleb o deixou assim. – pedi com o olhar que todos saíssem.

— Tudo de terrível que eu fiz está ligado a ele. Ele me ensinou a ser ruim e a gostar disso. Ele me arruinou e eu não posso voltar atrás. – admitiu após um tempo.

— Olha como ele ainda te controla Kevin. É a melhor prova que é errado, tudo isso o que você faz.

— E por qual motivo você ainda não se afastou se sabe o quanto errado é?

— Você precisa de mim agora. E eu prefiro me machucar a te machucar. Essa é a diferença entre nós dois. – dei um suspiro pesado. – Vá lá fora e peça perdão a Sophia. Arthur arriscaria a vida dele para salvar a sua, faça o que ele pediu, sei que no fundo não queria machuca-la tanto.

— Você melhorou? – franziu a testa e eu sorri.

— Estou concentrado demais nos seus dramas para ter crises. Mas obrigado por se preocupar.

— Dramas. – soltou a palavra como se fosse um peso. E era. – Não passam de besteiras.

— São as suas feridas. Importam. Pelo menos a mim.

— Vou pedir desculpas a ela. – torceu o nariz. – Se ela não aceitar não posso fazer nada. – dei uma risadinha e assisti a cena mais gratificante dos últimos dias. Pelo menos essa batalha eu havia vencido.

A festa de 150 anos do hotel havia começado. A decoração era prata, cheia de pequenos Globos e lustres. Arthur estava estranho comigo. Ele não conseguia aceitar que era impossível entender a relação deles com o pai ou a falta dele quando cheguei. Ele não sabia ainda que isso havia mudado. Fiquei observando Kevin sempre ser abordado por vários homens.

— Quer um babador? - Adam perguntou. Eu o olhei e ele fez biquinho. - Essa pose dele toda ereta, séria... É mesmo excitante. Ele é bom, não é? Tem jeito de ser.

— Tá imaginando o cara que eu amo fazendo sexo com você?

— Várias vezes. Ele fica sexy acendendo cigarro. Aquela noite no hotel...

— Vocês estavam flertando?

— Talvez um pouco. Ele precisa de sexo. Pelo jeito dele e por tudo que sabemos, diria que ele está há bastante tempo sem nada.

— Oi garotos. – o pessoal chegou e finalizamos o assunto.

— Ele é um empresário disputadíssimo. - Alice comentou chegando ao meu lado. Olhamos na direção de Kevin. Gustavo fez sinal para ele vir até a gente.

— Ele fez o hotel crescer exponencialmente desde a sua volta da capital. O dinheiro disponível também foi multiplicado.

— Quando vai deixar o Palace e trabalhar pra mim? - um cara meio careca perguntou para ele antes de ele chegar até a gente.

— Um dia Pires.

— É o melhor negociador.

— Obrigado. - ele deu um sorriso cordial e se juntou a nós, quase não conseguindo chegar, sendo abordado por outro cara.

— Sei que é uma hora ruim, mas preciso dizer, estamos com problema com nosso acordo.

— Quando eu deixei minha sala há algumas horas ele não tinha nenhum problema. – Ele fez aquela cara de deboche dele que eu sentia tanta falta de ver. – Ah sim, mas me esqueci que vocês colocaram uma cláusula com uma exigência absurda. O hotel não está disposto ceder tanto. E nem agir com desonestidade.

— Isso que dá colocar um garoto idiota de vinte anos para comandar um hotel desse tamanho.

— Ele não comanda. – meu tio Gu interveio. – Sou eu que comando e já estou sabendo do problema e concordei com ele. Agora estamos em uma festa. Podemos conversar na segunda?

— Sabemos quem manda. Ele é filho do Caleb. Tem esse posto. Mas deveria ter puxado mais ao pai.

— Deixa eu ver se eu entendi. Você está usando um momento de comemoração para discutir um acordo e ainda atacando o meu sobrinho?

— É o que parece.

— Isso não vai acontecer.

— E por que não?

— Porque eu não vou deixar e se preciso for chamo os seguranças para te tirar daqui.

— Entendi. Vocês preferem perder milhões que apenas fazer uma jogada simples. – Ele encarou Kevin. – Você é um frouxo mesmo. Você e aquele seu namoradinho. Não quero mais mudar o contrato, quero desfaze-lo.

— Na verdade não é você que quer. Somos nós. E eu já passei o valor da multa para sua secretária. Acho que vai fazer um pequeno rombo em sua empresa. – Ele chegou mais perto dele. - Poderia dizer que estou arrependido, mas agora me sinto aliviado. E desculpa ser frouxo para você, mas eu estou bem confortável com minha masculinidade.

— Vai deixa-lo falar assim comigo? - ele perguntou para Gustavo.

— Ele está apenas respondendo pelo Hotel.

O cara se foi nervoso.

— Toda essa confiança em uma cama. Meu pai. – Adam disse baixinho e se abanou.

— Fica quieto.

Após muita comemoração, brindes e discursos eu me atrevi a ir atrás da pessoa que eu mais via desde que cheguei a Torres. Ele, claro.

— Posso? – perguntei da porta de vidro. Kevin estava guardando algumas coisas em caixas e parou e me olhou.

— Entre. - Sua voz não soou nada agradável. Sentei confortavelmente na cadeira em frente à mesa.

— A vista daqui é bonita. Escolheu fazer sua sala no último andar por isso? – ele olhou pelo enorme vidro.

— Era a sala do meu pai.

— Que nojo. – ele me olhou sério e depois continuou a guardar aquilo.

— O que está fazendo?

— Guardando alguns prêmios e enfeites muito valiosos que foram expostos hoje.

— Ah sim. Parece ser muita cosia. Quer ajuda?

— Pode dizer o que está fazendo aqui?

— Acho que temos que conversar.

— Eu acho que não temos. Eu me abri com você algumas vezes Murilo, eu sei disso. Mas isso não quer dizer absolutamente nada.

— Só porque...

— Respeita a memória do meu pai. Não importa o que ele fez em vida. Eu o perdoei. E se não consegue lidar com isso, paciência. Amadureça Murilo. - Fiquei em silêncio digerindo aquilo. Eu me senti um moleque. Um idiota. Um bobo. Era eu que o ajudava e o dizia o que fazer, agora parecia que ele era o dono da situação e eu o irresponsável.

— Ok. Paciência. – me levantei e virei as costas indo embora. Ele não impediu. Imaginável. Fui pra casa. E meu humor era péssimo.

— Não devia te contar isso. – Arthur se sentou ao meu lado. – E se quer saber eu nem sei se vai adiantar alguma coisa. Kevin pegou a chave do abrigo com Ravi. Ele está lá agora. Será por que?

— Foi pra onde eu fui depois do cemitério aquele dia. – dei um sorriso. – Só que eu fiquei do lado de fora com Adam... Sentamos em um relevo e ficamos observando. Relembrei tudo. Imagino ele que está lá dentro.

— Isso não te diz nada?

— Talvez lembre o pai de vocês.

— Não seja idiota. Ele quer reviver vocês dois. Foi intenso, foi forte... Eu vi de perto. Não sei se ainda está aceso, se tem chance... Mas acho que você deveria ir até lá para descobrir. - Ele não precisou dizer duas vezes. Peguei a chave do carro do meu pai e sai correndo. Quando estacionei vi que meu coração estava saindo pela boca. Ele nem se preocupou em trancar o portão. Pelo menos estava fechado. Ao passar por aquela entrada tremi mais ainda. Procurei por todos os lugares e não o achei. Se ele queria lembrar da gente... Ele deveria estar na ponte. Ao chegar lá em cima notei que estava enganado. Entrei de novo e o achei em meu antigo dormitório. Ele estava deitado na cama de olhos fechados. Sentei e ele abriu os olhos assustado.

— O que está fazendo aqui?

— Arreda mais para o canto. - pedi e ele o fez. Deitei ao seu lado. Peguei sua mão e comecei a brincar com ela. Notei que ele estava gelado. - Por que você está assim?

— É você porra.

— Achei que eu não significasse nada. Por que você está xingando?

— Porque você é um idiota.

— Vai. Diz tudo logo. Tira de dentro de você.

— Você pode causar qualquer reação em meu peito ou meu corpo, mas eu nunca vou te perdoar por ter ido embora Murilo. E por esses dois anos. Já falei. Você pode tentar me ajudar, mas isso não significa que... – o cortei.

— Não te pedi perdão. No fundo eu estou muito feliz com a escolha que fiz. Olhe pra você Kevin, se tornou um homem. Alguém admirável. Você executa o trabalho do seu pai sem precisar usar de artimanha ilícita alguma. É honesto. Tem caráter. E está superando seu lado obscuro.

— Sou introspectivo, arrogante, sombrio, egoísta, sem compaixão e ainda incapaz de amar. Então não sei se estou muito bem. - me virei de lado. - Não encoste em mim, por favor.

— Você é capaz de amar. - ele me olhou de perto. Bem perto.

— Após ser abandonado e depois traído? Não. - ficamos nos olhando. Não tinha como meu coração acelerar mais.

— Eu não te abandonei Kevin. O seu pai...

— Não o use como desculpa. Ficasse e enfrentasse tudo ao meu lado.

— Não sabia que guardava tanta mágoa de mim dentro de você.

— Como saberia? Distante como sempre esteve.

— Prometo que vou compensar o tempo perdido. – tentei sorrir, mas não saiu nada. – Prometo.

— Só faça com que eu pare de ser semelhante a Caleb. Está de bom tamanho.

— Por nada por isso. – agora o sorriso veio fácil. Ele estava começando a mudar e isso era a melhor notícia que eu poderia ter.

Alice Narrando

Passei horas e horas pesquisando entre as faculdades de Alela quais que eu deveria ir. No meio disso tentei convencer meu pai que caso eu fosse para onde todos meus amigos estudam, o motivo não era esse. Falhei feio.

Tudo que eu queria era ver Arthur agora no fim desse dia denso e irritante, mas ele trabalhou até tarde e iria chegar em casa agora. Tomei um banho e resolvi ir fazer uma surpresa a ele. Pedi carona ao meu irmão que milagrosamente não estava atrás do nosso primo.

O que eu não esperava era encontrar todos por lá, felizes e comemorando alguma coisa. Dei uma risada ao saber que o motivo era o total de um dia que Kevin não havia tido nenhuma de suas atitudes condenáveis.

— Vocês são a minha família. – confessei após ver o quanto eu me sentia bem ali. – Obrigada por estar aqui Muh.

— Tem melhor lugar para estar? – ele veio até a mim e beijou o topo da minha cabeça. Vi meu namorado descer as escadas de bermuda e sem camisa, naquela altura do verão isso era compreensível. O que eu não entendia, no entanto, era eu ter tanta sorte. Eu o abracei forte quando ele me alcançou.

— Já vi que você está estressado. – fiz um bico detestando vê-lo assim.

— Tá impossível a convivência com Rafael. Não suporto olhar na cara dele. E para o Ravi tudo é diplomacia.

— Tá explicado porque ele sempre engoliu Caleb. – quase sorri.

— Estou muito cansado. Você se importa se eu apenas comer e for deitar? – sim eu me importava, porém, não diria isso a ele. Não quando sabia que podia fazer diferente.

— Tudo bem. Descanse. Eu te amo. – nos beijamos e eu o deixei ir.

O pessoal ria de algum costume francês que Adam contava e eu apenas fiquei aérea o resto da noite, pensando se Kevin tinha razão e se estar ao meu lado era realmente tão entediante assim. Eu esperava que não. Na volta para casa, meu irmão quis conversar comigo, sabia que era algo sério.

— Ele pediu para eu passar esse tempo que estarei aqui com ele. – abri os olhos devagar.

— Você tá louco? Você tem que supera-lo. Isso não é nada saudável Murilo.

— Eu me preocupo quando ele está sozinho.

— Aí que está Muh. Não é problema seu. Eu larguei a mão dele. Eu. Você devia fazer o mesmo.

— Agora que ele está demonstrando uma pequena melhora... – respirei fundo e tentei manter a calma.

— Entendo você não ter conseguido tirar esse sentimento de dentro do seu peito. Entendo ainda sentir o amor que sentia naquele abrigo. E entendo muito mais que queira usar o jeito dele como desculpa para se aproximar. O que eu nunca vou entender é se anular a ponto de não ver que ele tá assim por causa de outra pessoa que não é você Muh.

— Ele tá assim mais pelo pai. Acredito que até já esteja esquecendo Rafael.

— Você é muito inocente!

— Por que essa inocência não pode muda-lo?

— Chega Murilo. Essa conversa não vai dar em lugar nenhum.

— O que você quer de aniversário? – sorriu de canto. – São os seus dezoito anos.

— Que você esqueça Kevin. – ele riu contrariado. Mas sabia que eu estava certa. O melhor era ele lutar contra aquele sentimento. Ou será que eu estava enganada?


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Notas finais do capítulo

até amanhã ♥



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