Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 99
Ansiedade


Notas iniciais do capítulo

Quase aos quarenta e oito do segundo tempo, aqui está a atualização...
Achei que tinha ficado pequena, mas muito pelo contrário... está enorme e eu não vou me desculpar!
Uma boa leitura!



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Dizer que consegui dormir é uma piada. Tirei pequenos cochilos durante a noite, não porque queria, mas por puro cansaço. E nos poucos minutos em que meus olhos se fechavam, minha mente não desligava. E uma única pergunta ficava se repetindo.

Quem me mandara aquela mensagem?

Enquanto que nos momentos insones, eu tentava, em vão, achar a resposta.

Revirei-me na cama até que desisti de ficar ali, levantei, me enrolei em um roupão quentinho e fui para meu escritório, não com o intuito de trabalhar, mas pura e simplesmente para mudar de ambiente e tentar ocupar minha mente com outras coisas. Coisas bobas, mas que poderiam me distrair o suficiente, como onde eu colocaria os dois quadros que agora estavam no cantinho de uma das estantes.

Um deles, o que eu havia dado ao meu noivo no Natal, já tinha local definido, no escritório de Alex, atrás de sua mesa. Eu havia medido o local e daria certinho, acontece que eu não consegui segurar o bendito e marcar os locais exatos dos parafusos, então, voltei com o quadro para dentro da caixa e esperaria Alex voltar para que o pregássemos na parede.

O outro quadro era um problema maior. Na verdade, foi um presente surpresa de Alex que chegou nesta tarde e foi recebido pelas meninas, mas na nossa ânsia de descobrir o sexo do bebê e de armar toda a cena para que Vic contasse para meu irmão, acabou esquecido atrás do divã deste cômodo, ainda dentro da caixa.

Eu sabia que era um quadro, porque vi a moldura, mas não sabia qual quadro era.

Com a curiosidade inflamada, peguei o abridor de carta que tenho, andei até o divã e, depois de colocar o quadro no chão, rasguei a caixa com a ponta do abridor e assim que vi o que havia no embrulho, acabei ficando pasma e até mesmo grata por não ter ninguém ao meu lado.

Não se tratava de apenas um quadro, mas de dois, um maior que o outro. O primeiro, e menor, era simplesmente uma das muitas fotos que Alex havia tirado de mim enquanto eu patinava no gelo durante a nossa estadia na Finlândia. Lembro-me que ele realmente insistiu que uma das duzentas fotos merecia virar um quadro e ele disse isso olhando justamente para a foto que está emoldurada em minhas mãos. Naquela noite, eu não gostei muito da ideia, nunca gostei de ser modelo, mas sempre gostei de tirar as fotos, porém, olhando para esta que ficou tão linda nesta moldura, vi-me concordando com Alex. Sim, a foto merecia virar um quadro, não porque era eu ali, mas por outro motivo.

Quem havia tirado a foto.

Alex enfrentou temperaturas negativas para fazer o click, ele fez isso por mim, e o que valia não era somente a pose que eu fazia quando esta ficou registrada permanentemente, mas a lembrança que eu teria cada vez que olhasse para a foto na parede de meu escritório.

— É, Alexander, mais uma vez, você conseguiu me convencer de algo. – Comentei alto e sozinha.

Deixei o quadro em cima do divã e me peguei novamente curiosa com o próximo. Eu não fazia ideia de que foto Alex havia escolhido dessa vez. Tirei a proteção e me vi sem fôlego ao fitar o maior dos dois quadros.

Era nada mais, nada menos do que a foto que tiramos debaixo da Aurora Boreal, na nossa pequena e única viagem juntos até hoje.

E essa foto me remeteu muito à foto que Olivia havia tirado do vídeo que ela fez quando esteve aqui. Somente nossas sombras eram visíveis, contudo, era possível ver que nos olhávamos apaixonadamente e, atrás de nós, o céu noturno explodia em milhares de cores e ondas.

Parecia até uma foto manipulada e eu não duvidava que se fosse colocada em alguma rede social, esse seria o primeiro comentário. Mas essa era a nossa casa, e nós dois sabemos a verdade por trás do momento.

Com um pouco de dificuldade levantei o quadro do chão e o tirei da embalagem. Assim que o coloquei de pé, um envelope caiu.

Apoiei o quadro em minha perna, peguei o envelope no chão e notei que Alex não ficara satisfeito somente com os presentes, ele sempre tem que falar algo, e já esperando qual tirada ele tinha escrito, abri a aba, sorrindo.

Rainha do Gelo, – Ele começou e eu revirei os olhos para o apelido que ele vinha usando desde quando nos conhecemos.

Só uma lembrança das nossas férias. Principalmente, este último quadro. Te vejo em poucos dias, Kat. E não se esqueça, eu te amo.

A.

— E que lembrança, Surfista. Que lembrança. – Murmurei cheia de saudade.

Não era segredo que eu estava sentindo falta dele, não à toa todos os dias nós conversávamos, porém, depois de ver os presentes, de relembrar de nossos beijos debaixo da dança das luzes, eu senti ainda mais falta dele.

Chegava a ser insanidade como eu sentia falta da presença, da voz, da companhia de meu noivo. Isso porque nós nos conhecemos há menos de cinco meses, pelo menos nessa vida. E era ainda mais estranho como eu precisava dele ao meu lado, principalmente agora que o julgamento estava próximo e alguém estava atrás de mim.

Observei por mais um tempo o quadro, relembrando as memórias de nossa pequena Lua de Mel muito antes da hora, doida para chegar o dia em que eu ia abraçá-lo novamente.

Sem poder ligar para ele, afinal ele deveria estar no último dia de gravações no Leste Europeu e eu tinha certeza de que não me atenderia, apenas mandei uma mensagem.

Você conseguiu se superar dessa vez, hein? Não satisfeito de ter me colocado em um quadro, ainda fez isso em dose dupla. Amei a surpresa, amei as lembranças, queria poder te agradecer pessoalmente... fica para daqui a alguns dias. Te amo, Alex. E estou sentindo muita falta sua!

Enviei a mensagem e, mesmo sem querer, tive esperanças de que ele me respondesse, isso não aconteceu, e enquanto eu encarava a tela do celular, lá fora, algum passarinho começou a piar, indicando que o dia já estava para clarear, assim, guardei novamente os quadros e fui para a cozinha começar a fazer o café da manhã.

Com tudo já bem adiantado, fui tomar um banho e dar um jeito de tampar as provas da noite acordada com maquiagem, só para enganar as minhas visitas.

Assim que voltei ao térreo, pude ouvir que já tinha gente comendo. Claro que meu irmão sempre esquecia das boas maneiras e atacava qualquer mesa que estivesse posta e desprotegida. E não era somente ele quem estava por ali, Vic e Mel também já tomavam o café.

— Bom dia! – Falei da porta.

Só recebi grunhidos, vindos de pessoas com as bocas cheias, como resposta.

Servi uma xícara de chá para mim e me escorei na bancada perto do fogão, estava sem fome, depois de ter fritado bacon tão cedo.

— Não vai comer? – Vic perguntou.

— Não. Vou ficar só no chá.

— Depois fica magra igual a um palito e fica reclamando que perdeu massa muscular, que está fraca. – Kim falou e recebeu o tapão do dia, logo cedo.

Com pouco, Pietra desceu e como ela é mal humorada que dói pela manhã, só acenou qualquer coisa com a cabeça e mergulhou em uma caneca de café.

Levou quase uns dez minutos para que ela falasse algo que não fosse:

— Odio alzarmi presto[1].

Enquanto Pietra ainda reclamava, Vic soltou a novidade da manhã. Ela iria embora com Kim ainda hoje. E essa conversa acabou com Pietra e Mel também já falando em ir, afinal, as Fábricas das equipes já tinham voltado a pleno vapor e os carros novos precisavam estar prontos e perfeitos para os testes no Bahrain. Elas iriam no dia seguinte, assim teriam dois dias para se acostumarem ao fuso e se ajeitarem para a volta ao trabalho.

Antes de ir para o escritório, dei carona para Kim e Vic, sendo obrigada a escutar que pelo menos dessa vez, Kim foi bem tratado, e não quase arremessado da garupa da minha moto.

Despedi-me deles e prometi que um dia iria a Chicago passar umas férias. E eles pareceram não pegar o “um dia” da minha desculpa perfeita.

Do LAX segui para o escritório, estava no meio do caminho quando recebi uma mensagem. Achei estranho que a assistente do celular não me informou de quem era, assim, só pedi que ela lesse o conteúdo.

E eu não deveria ter feito isso.

A voz um tanto robótica da Siri apenas leu as seguintes frases:

Cada dia mais perto. Me pergunto se seu namorado vai te salvar agora.

 Uma dor apareceu na boca do meu estômago. E eu tinha quase certeza sobre quem me mandava essas mensagens.

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Passei a manhã indo e vindo dentro de minha sala, quase que abro um buraco no chão de tão nervosa que estava. Para não chamar muita atenção com a minha andança, acabei por tirar os sapatos, assim, nem Milena, nem Amanda iriam escutar os meus passos ansiosos.

Mil e um pensamentos passavam por minha mente, desde quem me mandara as mensagens (eu tinha alguns palpites, é claro, mas eu precisava de certeza), até porque fazer isso só agora.

E isso eu não tinha.

Frustrada, me joguei na cadeira e coloquei a cabeça entre as mãos. Eu tinha que pensar em um contra-ataque. Eu não poderia simplesmente me deixar ser influenciada por duas mensagens!

Era mais fácil falar do que fazer.

Vendo que seria inútil ficar preocupada com algo que estava além do meu controle, decidi por bloquear o contato de vez – algo que deveria ter feito ontem à noite – e começar a trabalhar.

Joguei meu telefone na primeira gaveta de minha mesa e coloquei em minha cabeça que agora não existia nenhum problema, só o meu trabalho.

Meu intento funcionou, fui direto até quase às cinco da tarde, quando uma batida na porta me tirou a concentração.

— Entre. – Falei alto.

E logo Mel entrou com cara de poucos amigos e, ainda mais emburrada, se jogou na cadeira na minha frente.

— Boa tarde para você. – Falei e voltei a mirar a tela do computador.

— Fui despejada aqui pela Italiana Apaixonada. Ela foi se encontrar com o Benny, acho que finalmente caiu a ficha dela que os dois moram a meio mundo de distância um do outro. Assim, como não querem testemunhas, me deixaram aqui.

— Pietra só volta amanhã. – Comentei.

— Isso é tão certo quanto dois mais dois são quatro. Mas...

— Mas o que, Mel?

— Qual é, minha última noite aqui! Temos que fazer algo!

Pensei em cada um dos problemas que rodeavam a minha cabeça, contudo, Mel estava certa.

— Fazer o que?

— Não sei... surfe noturno? Uma caminhada arriscada até o Letreiro de Hollywood, sei lá, estou aceitando até a Disney!!

— A DISNEY?? Quantos anos você tem?

— Mentalmente ou cronologicamente? - Ela rebateu.

— Faz diferença? - Foi a minha resposta em forma de pergunta e minha amiga balançou negativamente a cabeça, para então dizer:

— Eu preciso fazer algo. É sério.

Eu não fazia ideia do que poderíamos fazer. E Mel começou a procurar por lugares bons que poderíamos ir, e ficou assim um tempão.

Tinha até me esquecido da presença dela na sala, quando ela soltou um grito:

— Eu não acredito nisso!

— Acredita em que?

Precisamos ir nesse lugar!

— Que lugar?! – Perguntei novamente. Detestava informação pela metade.

— Um boliche. Só que as pistas tem iluminação de neon!! – Mostrou a tela do celular. O lugar era um convite para a minha enxaqueca atacar, só de olhar as fotos.

— Isso não é um boliche! É um fliperama. E olha que o pessoal de hoje nem sabe o que é um fliperama! 

— Qual é! Não banque a velha! Vamos!! Nem fica tão longe da sua casa.

— Mas vamos jogar boliche de duas?

— Vou chamar a Pepper! – Ela foi logo falando.

Mais de meia hora depois, Pepper respondeu, dizendo que tinha recebido mensagem de Lilly sobre esse lugar, parece que tinham inaugurado há pouco tempo. No final das contas. Mel conseguiu uma turma bem grande para jogar boliche, já que toda a turma do surfe já tinha combinado de ir lá hoje e mais do que aceitaram as três agregadas.

Como eu estava com a minha fantasia de executiva importante, tive que passar em casa para colocar uma roupa mais adequada para o lugar.

Chegamos junto com a turma, e depois de uma falação sem fim sobre qual pista era melhor, conseguimos por ordem e começar a jogar.

Eu achei que todo mundo ali sabia jogar boliche, afinal, os poucos filmes e séries que vi, várias foram as menções ao jogo, mas era um pior que o outro, então, ao invés de contar quantos eram os pinos derrubados, contávamos quantas vezes alguém mandava a bola na canaleta. E toda santa vez que alguém derrubava um pino, por acidente, era devidamente zoado por todos.

Mais ou menos no meio do nosso jogo, chegaram Benny e Pietra. Naquele clima de romance que, claro, não passou despercebido por ninguém.

— Olá, Pombinhos! – Matt cumprimentou os dois.

E daí até o momento em que fomos expulsos do lugar – porque ninguém estava levando o jogo a sério e isso estava enfurecendo os apaixonados pelo jogo, a zoação com dos dois não parou. E nem com quem acertava as poucas bolas nos pinos.

— Acho que nunca mais poderemos entrar nesse lugar. – Lilly comentou meio rindo e com pesar ao mesmo tempo. - O que é uma pena, eu gostei daqui!

— Mas veja pelo lado bom, não fomos presos! – Benny disse

E à menção à prisão, Mel, Pietra, Pepper e eu nos olhamos. Se isso acontecesse, seria para fechar com chave de ouro a estadia das meninas.

Na rua nos despedimos e cada um seguiu para sua casa, Pietra acompanhou Benny e disse que nos veria no aeroporto, e que era para levar as malas dela.

— Não sou sua empregada! – Comentei.

— Faz esse favor, Bionda! – Pediu ao entrar no carro com Benny.

— E o que eu faço com o seu carro?

— Depois mando alguém pegar lá. – Falou com um aceno de mão.

— Folgada! – Murmurei quando abri o meu carro.

— Demais! – Mel concordou comigo. – Mas, um assunto importante, o que vamos comer agora?

Acabamos em uma rede de fast food, comendo porcaria quase à meia noite.

Já em casa, Mel me deu boa noite e disse que tinha algumas coisas para guardar, fiquei no térreo com meus cachorros e agradeci ao fato de que, se não consegui esquecer os problemas, pelo menos me distraí o suficiente para que ninguém soubesse o que se passava.

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Como Pietra bem tinha avisado, ela só foi dar as caras no aeroporto quase na hora da decolagem, deixando que Mel e eu nos virássemos com as enormes malas que ela trouxe. Junto com ela, veio Benny e os dois se esqueceram que tinha mais gente presente, quando se despediram, foi preciso que eu e Mel coçássemos as gargantas para lembrar ao casal apaixonado que estávamos ali. 

Benny, depois veio se despedir de Mel e disse a mais estranha das frases:

— A gente se vê logo.

E para mim sobrou um:

— Até qualquer dia, Garota que Veio do Norte! Vê se aparece na praia para tomar caldo! Estamos precisando rir de alguém. – E depois se foi e, assim que ele saiu de nosso alcance, olhei para Pietra.

— Se acostume, Ben veio para ficar!

Essa frase, vindo dela, significava muito.

— Você...

— Eu vou na frente, vou conversar com a Nonna e depois vou apresentá-lo para minha família.

— Mas já!? – Mel praticamente gritou.

— Sim. Estava conversando com ele, temos uma ideia que pode dar certo, porém, antes de soltá-la na frente da famiglia, tenho que apresentar o meu namorado a todo.

Mel, mais assustada do que eu, se despediu de mim e subiu as escadas do avião, murmurando qualquer coisa ininteligível em português.

— Gostaria de aprofundar a conversa? – Perguntei para a italiana.

— Só uma ideia de expansão dos negócios. Sabia que a família de Benny tinha um restaurante de sucesso aqui em Los Angeles, com filiais em San Diego e San Francisco?

— Não.

— Pois é, coisas aconteceram e ele perdeu tudo. Mas quer recomeçar. Eu posso ajudá-lo. E espero que você e o Alex nos apoiem.

— Conte conosco.

— Depois te explico com detalhes. Até logo, amiga. Acho que eu agora tenho mais um motivo para viver na ponte aérea Milão - Los Angeles -Milão.

— Sei. Vou fingir que acredito que você tem mais um motivo. Creio que é só um! Boa viagem.

— Nos vemos em breve e isso é sério.

— Até.

— Ah! Deixei um presente para a Amanda. Sei que ela vai gostar! E, devolve a Ferrari para mim na concessionária, já avisei que é você quem vai, hoje...

— O que?!

Arrivederci, Bionda![2]

E a Louca se foi. Me deixando mais louca do que ela.

E do aeroporto, acabei tendo que voltar em casa, trocar o carro e levar a bendita da Ferrari até a concessionária. Como Pietra tinha deixado tudo já adiantado, assim, que entreguei o carro, um dos motoristas da loja se prontificou a me levar para onde eu precisasse, assim, pedi que me deixasse no escritório, um dia voltando de UBER para casa não faria mal.

Consegui trabalhar sem nenhuma interrupção, algo raro ultimamente, e assim, pude colocar todo o meu trabalho em dia e me preparar para as reuniões de fim de mês, que aconteceriam na próxima sexta, além da minha reunião mensal com Camilla e a Diretora interina, também conhecida como minha avó, quando estivesse em Londres.

No fim do expediente, ponderei como ia para casa. Eu tinha as opções de voltar de taxi, Uber ou transporte público (se eu soubesse as linhas do metrô que me deixaria em casa, é claro!) e, sendo uma plena sexta-feira à tarde, qualquer um que eu escolhesse acabaria travado pela hora do rush. Acabei me decidindo por ir de Uber e quando acabei por acompanhar Milena e Amanda até o saguão e as duas estranharam meu comportamento.

— Ué, Chefa? Tá a pé hoje? – Amanda questionou.

— Mais ou menos. Tive que resolver uns problemas para Pietra.

— Ela foi embora e deixou trabalho para você! Que amiga Louca!

— E esse é exatamente o apelido dela. – Confirmei.

— Boa sorte, então. Até segunda!! E bom final de semana!! Tchau, Milena! – Disse a adolescente que já saiu tirando o celular da bolsa e colocando os fones no ouvido, entrando imediatamente no clima do final de semana.

Eu e Milena ficamos na calçada, esperando nossos respectivos Uber’s. Milena deu sorte e foi primeiro, e eu ainda fiquei plantada ali, xingando Pietra e a péssima ideia que ela teve e pensando se dava para ir a pé para casa.

Estava batendo o pé de ansiedade quando um homem parou do meu lado. Como é natural de qualquer mulher, quando um desconhecido para muito perto de você, damos um passo para longe e foi o que eu fiz. Porém, o estranho me seguiu. Mal sabia ele que bastava um pedido e os seguranças do prédio viriam ao meu socorro, mas como eu queria evitar atrito e fazer uma cena, ia apenas voltar para a segurança do saguão, quando escutei a seguinte frase:

— Está saindo assim porque está com medo e não tem o namoradinho, não, o seu noivinho mendigo, para te defender?

Eu nem acreditei em meus ouvidos. Não era possível que Dempsey tinha feito uma viagem de mais de doze horas de avião, só para vir me perturbar aqui, na Califórnia!

De início, eu ignorei o comentário. Porém, ele continuou a falar.

— Aqui, na Califórnia, você não é ninguém. Não tem ninguém, Katerina. Seus pais não estão aqui, seu irmão veio e já foi embora, e até mesmo aquele mendigo está longe de você. Deve ter se cansado da sua chatice e arrumou alguém muito mais interessante. Então, se...

— Cale a sua boca! – Sibilei. – Eu não preciso de ajuda de ninguém para acabar com a sua maldita raça! Ou você se esqueceu do que lhe fiz em Londres? Saia de perto de mim, tome o rumo do inferno e vá atazanar outra pessoa. E não volte a aparecer por aqui, ou perto de mim. Porque eu posso não ser ninguém aqui na Califórnia, mas uma coisa é certa, perseguição, importunação e ameaça são crimes neste país! E quanto a isso, eu tenho proteção legal.

— Você não faria isso. Tem medo de prejudicar a imagem da sua tão amada empresa.

— Você não me conhece.

— Te conheço sim, tive que te aguentar por longos sete anos.

— Não. Você nem arranhou a superfície de quem eu sou, Dempsey. Não mesmo. Agora suma daqui, ou o escândalo começa agora!

E o Pateta 3 achou que eu estava blefando, e tentou, mais uma vez, se aproximar de mim. Eu estava a ponto de dar uma joelhada no desgraçado e começar a gritar “assediador”, quando os seguranças do prédio, que deveriam estar prestando atenção no que acontecia praticamente na frente deles, vieram e simplesmente disseram:

— Está tudo bem, Senhorita Nieminen?

Encarei Dempsey mais uma vez.

— Estará, quando este senhor aprender que todos tem direito a ter o seu espaço pessoal preservado.

E os dois seguranças, que devem ter quase 1,90 de altura cada, se viraram para o Pateta, que, claro, abaixou a cabeça e foi embora para outra direção.

— Muito obrigada. – Agradeci aos dois.

— Não há de que senhora. Sempre tem uns espertinhos por aqui, tentando mexer com as funcionárias, não é o primeiro que colocamos para correr.

— Agradeço mais uma vez. E, só para constar, o circuito interno deve ter pegado o rosto dele, peço que não o deixe chegar mais perto de ninguém. Ele pode ser perigoso.

— É o que fazemos com todos. Temos fotos em uma pasta, e caso ele volte, ligamos para a LAPD[3] para tratar do caso.

— Fazem bem. – Tornei a agradecer e acabei ganhando duas companhias até que o carro parou na minha frente.

Depois de conferir o nome do motorista, a placa, cor e modelo do carro, entrei e pude ir para casa.

Como acabei por chegar cedo, o motorista sabia todos os atalhos de Los Angeles, me vi no dilema de ir ou não ao Pilates. Costumo ir à pé, pois assim posso ainda fazer uma rápida corrida de ida e volta, porém, não quis arriscar. Se Dempsey apareceu na porta do prédio, ele poderia muito bem aparecer nessa vizinhança, e aqui eu não tenho os seguranças do prédio para me ajudarem, e duvido muito que terei a sorte de passar um bom samaritano para me ajudar, então, depois de muito pensar, fui de moto, pois era mais fácil de manobrar em caso de precisar fugir e não precisava abrir todo o portão da garagem para entrar e sair.

Estava muito atenta a qualquer carro ou moto que me ficava atrás de mim por mais de um quarteirão, contudo, não houve ninguém e assim que entrei no estúdio, pude respirar aliviada.

As fisioterapeutas não notaram o meu alívio, mas tinha uma pessoa que notou.

Minha sogra.

E eu nem a tinha visto quando entrei, pois ela estava sentada justo no meu ponto cego.

— Aconteceu algo para você ficar tão relaxada assim que pisou aqui dentro, minha filha? – Ela perguntou e eu me vi pulando como um gato assustado.

Mentir era fora de cogitação, Dona Amelia é uma pessoa muito perceptiva, falar a verdade vai desencadear uma avalanche de perguntas e de ações.

— Muita coisa, Dona Amelia. Muita coisa. – Foi a minha resposta.

E ela estava pronta para lançar a primeira leva de perguntas, quando as fisioterapeutas que são as responsáveis por nossos exercícios nos chamaram.

Salva pelo gongo, foi tudo o que eu consegui pensar. Mas não por muito tempo, pois cada vez, durante a aula, que meus olhos cruzavam com os de minha sogra, eu via escrito nos dela a seguinte frase:

— Você não vai escapar de me contar o que está acontecendo, mocinha.

E o que aconteceu nesta tarde, cruzaria o país, o Oceano Atlântico e chegaria na Inglaterra antes que eu pudesse pensar em pedir discrição.

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Como eu sabia que aconteceria, Dona Amelia pediu por explicações assim que saí do estúdio. Como eu acabei fazendo um pouco de hora para terminar o último exercício, ela estava me esperando do lado de minha moto e olhava para o veículo com cara feia.

— Eu sabia que você tinha uma moto aqui, mas nunca achei que a pilotaria de verdade. – Foi assim que ela começou a conversa. – Ainda mais para vir para cá, você não gosta de ir e voltar correndo?

Eu não tinha saída, minha sogra tinha me cercado de todos os lados.

— Sim, Dona Amelia, eu gosto de vir correndo, mas não hoje. Como fiquei mais de uma semana sem vir, sabia que a aula seria pesada e dolorosa, assim resolvi vir motorizada. E como a noite nem está tão fria, achei uma boa tirar a poeira da moto. Além de ser mais rápida. – Expliquei a história que inventei durante toda a aula. Não era uma completa mentira, mas não era a verdade que ela buscava.

— Só isso? Ou tem mais?

— Não tem mais nada. – Garanti.

— E como você está, agora que vai ficar sozinha de novo? Vai fazer o que amanhã?

Minha sogra era muito esperta, estava cavando até que eu soltasse todas as verdades.

— Pensei em dar um pulinho para ver Hal e Perigo. Já tem quinze dias que não apareço por lá, e nem quero imaginar o que esses dois aprontaram nesse meio tempo. – Era a desculpa perfeita e o plano perfeito, afinal, eu não precisaria ficar naquela casa imensa, sozinha, com medo de alguém aparecer.

— Bem, então nos vemos lá, Kat. Sabe se Pepper vai?

— Não falei para ela que ia... vou mandar mensagem.

— Ótimo. Até amanhã, filha.

— Boa noite, Dona Amelia. – Despedi-me e esperei que ela fosse para o carro e partisse para a direção contrária, para só então, subir na moto e acelerar tudo o que podia.

Não fui direto para casa, acabei dando uma voltinha em Santa Mônica e apesar de não ser tão cedo, acabei parando no Restaurante da Dottie.

— Ouvi dizer que tem uma frente fria bem forte vindo do Canadá e que vai chegar para nós. Devem ter sido os ventos do norte que te jogaram aqui, Loira! – Ela me cumprimentou.

— Oi, Dottie. Sei que estou sumida, mas estava com visitas e tempo apertado.

— Vou aceitar as suas desculpas. E, então, vai querer o que? Pelo visto qualquer coisa bem natural, já que está vindo da academia.

— Não. Pode ser o de sempre. Preciso me alimentar de verdade. Comi bem mal hoje.

— Deixa comigo, garota! – Ela saiu para cozinha e eu fiquei praticamente sozinha dentro do lugar, já que só tinha mais duas pessoas ali, e cada uma estava em seu mundo particular, olhando para a tela de seus respectivos celulares.

Dottie não demorou e quando voltou tinha uma bandeja enorme nas mãos.

— Panquecas, chá gelado e torta de morango com chocolate, está fresquinha, fiz hoje.

— Senhor! Eu vou ter que ficar sem comer por uma semana depois de tudo isso.

— Se viesse com frequência, não precisava, mas está pior que o Alexander, quase não se lembra mais de vir aqui! E por falar nele, como vai o meu menino?

— Já fez um pequeno tour pelo Leste Europeu e agora está indo para Londres.

— E volta quando?

— Final de fevereiro, se nada der errado.

— Então vão passar o primeiro dia dos namorados de vocês, separados?

— Pois é... e eu não tinha pensado nisso. – Comentei.

Contudo, sinceramente, diante de todos os problemas que eu estava tendo nos últimos tempos, este era o menor deles, se é que era um problema.

Dottie foi atender aos dois outros clientes e me deixou comendo sossegada. Quando eles foram embora, ela se sentou do outro lado do balcão e começou a puxar papo, coisas sem sentido e sempre engraçadas, era bom vir aqui por isso. Eu não tinha que pensar muito em tudo o que acontecia em minha volta, só comer, e escutar os casos mais absurdos e engraçados dos clientes do Restaurante.

Fiquei por ali até no momento em que Dottie fechou, e antes de ir embora, ainda a ajudei com a limpeza do lugar e da cozinha.

Cheguei na minha rua era mais de uma e meia da manhã, e antes de entrar conferi se não tinha nenhum carro parado na porta ou mais no final da rua. Com tudo limpo, pude abrir o portão e guardar a moto. Esperei o portão fechar totalmente e fechei até mesmo o portão da garagem, que normalmente fica aberto, indo, a passos rápidos, em direção à porta principal. Já dentro de casa, conferi todas as janelas e portas e acionei o alarme. Podia até ser paranoia da minha cabeça, porém, era melhor que eu tivesse todos os meios de segurança ativados do que acordar com um presente desagradável.

Fui para cama esgotada, tanto física, quanto mentalmente e contando as respirações ruidosas dos meus cachorros logo caí no sono.

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Acordei com o sol já alto e ao olhar na tela do celular, vi que eram quase nove e meia da manhã.

— Quanto tempo tem que não durmo até esse horário? – Perguntei para mim.

Decidi que era dia da faxina, adiando meus planos de ir para a Fazenda em um dia. Assim, troquei a roupa de cama, lavei toda a roupa suja, arrumei o restante da bagunça deixada por minhas amigas e ainda tive tempo limpar toda a casa, a garagem e o jardim.

No final do dia, quem precisava de uma boa limpeza era eu, meu esmalte tinha descascado todo, meu cabelo estava duro de tanta poeira e suor e eu não tinha o melhor dos aspectos quando me olhei no espelho. Assim, era hora de me dar um trato, ter o momento só meu.

Gastei o tempo que quis na banheira, sequei meu cabelo, arrumei a minha unha e, quando terminei, uma tempestade, acompanhada de muito vento, assolou Los Angeles, fazendo com que alertas fossem disparados no meu celular, pedindo cuidado para os próximos dias.

Vendo que minha rápida viagem para ver meus cavalos teria que ser adiada – eu não me arriscaria a ir para lá debaixo de uma chuva dessas e ainda com uma previsão que indicava mais água e até mesmo neve para as regiões mais altas da Califórnia, me permiti ficar de pijamas dentro de minha própria casa, fazer um balde de pipoca e, enrolada em um cobertor, tendo meus cachorros como companhia, fui assistir ao último filme que Alex havia feito.

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Meu domingo foi o dia mais estranho que passei em Los Angeles até agora, como não tinha acionado nenhum alarme para me acordar, dormi até a hora que quis e quando enfim, depois de muito enrolar, levantei-me e abri a janela, deparei-me com algo que eu achei que era basicamente impossível aqui.

Neve.

A tempestade da noite anterior era realmente uma frente fria, e deveria ser das fortes, pois raramente nevava nessa cidade, nas montanhas ao redor sim, não aqui.

Porém, eu estava presenciando o impossível! Tinha neve acumulada na minha janela e até onde pude ver, também no gramado lateral.

— Eu não acredito! – Falei animada. – Thor, Loki! Vamos! – Chamei pelos huskies e desci correndo a escada até a cozinha, onde, depois de desarmar o alarme, escancarei a porta e fui recebida por uma rajada de vento ártico. O mesmo tipo de vento que eu tanto amava quando estava em na Finlândia.

Thor e Loki saíram correndo contentes pelo jardim nevado. Felizes por estarem temporariamente no habitat natural deles.

Já atrás de mim, Stark gania infeliz.

— E você está com frio! – Comentei acariciando a cabeça dele e depois de pegá-lo no colo, levei-o para cima, onde achei a roupinha que ele usara quando levamos o trio para a Finlândia. – Pronto, Stark, agora você está aquecido. Vou acender a lareira para você!

Voltei ao térreo, acendi a lareira da sala de TV, ajeitei a cama de Stark em frente do fogo e fui para a cozinha. Pude ouvir os latidos dos meus huskies enquanto eles corriam do lado de fora, brincando na neve.

Fiz meu café da manhã, que estava mais para um brunch devido a hora e depois voltei ao quarto, arrumei minha cama e, sem nada para fazer, decidi sair a pé com os huskies, para que eles pudessem gastar ainda mais energia nessa manhã gelada.

Estava pronta, já com as coleiras na mão, quando meu telefone tocou.

Era uma chamada de vídeo de Alex.

— Hei, Surfista!! – Atendi sorrindo, feliz em poder vê-lo depois de dias.

— Oi, Rainha do Gelo. Por que toda empacotada assim?

Abri um sorriso.

— Aconteceu algo quase impossível em Los Angeles hoje. – Falei enquanto caminhava até a porta dos fundos. – Olha como o dia amanheceu! – Mostrei nosso quintal.

Alex soltou um sonoro palavrão.

— Está nevando este tanto aí? – Questionou incrédulo.

— Sim. Este tanto. Eu até ia para a Fazenda ontem, mas desisti. Estava chovendo muito... falei que ia hoje, mas não vou não. Vou aproveitar essa raridade de tempo por aqui mesmo.

— Raridade mesmo. Estou tentando lembrar quando foi a última vez que nevou tanto aí...

Comecei a rir.

— Isso não é importante, Alex. O importante é outra coisa. – Comentei.

— Você vai ficar sentada do lado de fora, na neve, enquanto conversa comigo? – Ele reclamou.

— Só um pouco. Você precisa do sol e do mar para recarregar as baterias, eu preciso da neve e do frio, e esse “mal tempo” veio em uma hora muito boa para mim, então, tenha paciência.

Meu noivo fez uma careta, porém, aquiesceu.

— E o que você iria comentar? – Voltou ao assunto.

— Já está em Londres?

Foi a vez dele de se levantar e andar pela casa. Era a nossa casa de lá.

— E como está a adaptação com dirigir na mão inglesa?

— Ingleses são malucos por dirigir do lado errado. – Murmurou contrariado.

— Nem tanto... isso é algo que você se acostuma.

— Você diz isso, porque tem sangue inglês correndo nas veias! Consegue não só dirigir do lado errado, mas com um pé d’água que não te deixa ver um metro na frente e com nevoeiro.

— O carro tem desembaçador. – Comentei casualmente e ganhei uma encarada dele.

— Está engraçadinha hoje, hein?

— Estou de bom humor. Algo que você, claramente não está.

— Você é a única pessoa que fica de bom humor com um tempo feio, fechado, frio e nevando.

Dei de ombros.

— Minha mãe deve estar para morrer com o tempo assim. Ela odeia passar frio. – Alex continuou.

— Não sei como ela está, ainda não conversei com ela. Mas ela não tem o que reclamar, lá tem lareira, ela vai estar aquecida.

— E quanto tempo vai durar essa frente fria?

— Por mim, poderia durar até o final do inverno... mas eu não sei. E nem vou olhar, vou aproveitar o que der. – Falei e peguei um tanto de neve com a mão e fiz uma bolinha, arremessando do outro lado do quintal, perto de onde estavam dois dos meus cachorros.

— Onde está Stark?

— Seu cachorro, que é muito parecido com você, já ganiu reclamando do tempo, e agora encontra-se deitado, debaixo de uma coberta, na frente da lareira. Mais ou menos como você mesmo. - Comentei casualmente, já que Alex tinha se esgueirado de volta para a cama e se enfiado debaixo dos cobertores, pela imagem parecia que eram uns quatro.

— O tempo aqui está horrível. – Alex comentou com uma careta.

— Falta um mês para você voltar para casa. – Tentei animá-lo.

— Se ao menos você estivesse aqui, eu não reclamaria tanto.

Tive que rir.

— Semana que vem vou para aí.

— Tão cedo?

— Reunião com o Conselho, já que agora eu faço parte. E tem o fato de que querem me preparar para o julgamento, assim embarco na sexta-feira, e vou ficar com você por duas semanas.

— Toda parte ruim, tem uma parte boa. E como você está com tudo isso? Tem conversado com a psicóloga?

— Tenho. Toda terça-feira, ao meio-dia. E tenho conversado com a minha mãe também. Desabafar seria a palavra ideal.

— Aconteceu algo que eu não saiba?

E aqui eu demorei para responder e Alex entendeu na hora.

— O que foi dessa vez?

Respirei fundo.

— Promete não surtar?

— Quando você começa assim até parece que Cavendish apareceu na sua frente.

— Recebi duas mensagens no celular, meio que me ameaçando, falando que vai ver a minha derrota.

— Tinha assinatura?

— Não. Não tinha. E eu bloqueei o contato depois da segunda mensagem, deveria ter feito depois da primeira, mas antes tarde do que nunca.

— Por que você não pede para o pessoal da pesquisa olhar de quem é?

— Não é um número nem daqui dos EUA, nem da Finlândia e nem do Reino Unido... decidi que não quero saber quem é, e também não quero pensar nisso.

— Da última vez era a sua irmã... – Ele falou.

— Pode ser ela. Mia adora pisar nas pessoas, e sabe que só com ameaças veladas consegue me atingir. Como pode ser um paparazzi, algum advogado de Cavendish.... a lista pode continuar, eu que não quero saber.

— Tudo bem, você fez o certo, bloqueou o número, mas mensagens não me preocupam, ações sim. O que mais aconteceu, Kat?

— Lucca Dempsey apareceu na porta do prédio, na sexta à tarde.

Vi a feição de Alex mudar de cor. Vi a sua expressão endurecer e a raiva, que ele não conseguiu esconder, nublou o azul de seus olhos.

— Os seguranças barraram a entrada dele? – Perguntou friamente.

— Ele não tentou entrar no prédio.

— E como você sabe que ele esteve lá?

— Estava do lado de fora, esperando o Uber para voltar para casa, quando ele parou do meu lado.

— Onde está o seu carro? Quebrado? Por que não pegou o meu?

— Meus carros estão funcionando, Alex. Tive que entregar a Ferrari de Pietra na concessionária, e acabei por ficar a pé. Pedir um Uber ou voltar de táxi eram as melhores opções. Só não contava que o Pateta 3 apareceria do meu lado.

— E o que ele tentou fazer com você?

— Falou algumas besteiras, disse que estava sozinha aqui, que ninguém poderia me ajudar. – Expliquei a rápida conversa que tive que com o ser.

— O que ele quer com isso?

— Me intimidar para o julgamento. Certeza de que isso é estratégia da defesa. Mandaram Lucca por saberem da cena que aconteceu do lado de fora do prédio de Londres. Eles querem inverter a culpa de Cavendish e jogá-la em mim. Assim, se eu batesse ou atacasse Lucca, atestaria que sou descontrolada.

— E o que você fez?

— O possível para ignorá-lo, quando não deu certo, ameacei gritar e chamar a polícia. Não precisei, os seguranças do prédio vieram e colocaram Dempsey para correr, de novo.

— E você está sozinha em casa?

— Tudo está trancado, Alex. Estou segura. Se não estivesse, não estaria aqui.

— Eu deveria ter batido nele bem mais forte, assim ele ainda estaria no hospital.

— E você estaria preso. – Cortei-o.

— Se ele aparecer novamente, chame a polícia.

— Não vou precisar chamar. Os seguranças já fazem isso. Ele agora está no livrinho dos assediadores das funcionárias, se ele pensar em passar em frente ao prédio, vão ligar para a LAPD. Sem que eu tenha que me envolver.

Alex não gostou do ocorrido, e também não tentou esconder o mau humor que piorou. Por fim, acabou dizendo:

— Ainda bem que você vem nessa semana para cá.

Sim, era um alívio, mas nem tanto. Se mandaram um para cá, para me ameaçar, o que não seriam capazes de fazer quando estiverem todos juntos, em uma cidade que eles conhecem tão bem quanto a palma da própria mão?

Será que era realmente uma boa ideia voltar pra Londres e colocar um alvo também na minha família? Porque se até mesmo Matti foi capaz de usar os bisnetos para me ferirem, os que os Cavendish não fariam?

Um arrepio percorreu o meu corpo, não era de frio, mas de medo. Alex viu e me pediu para entrar, só para disfarce, atendi o seu pedido.

Ainda ficamos conversando um bom tempo, coisas banais, e assuntos do set, era o momento de Alex desabafar sobre os problemas das filmagens e da produção, além, é claro, de me contar os erros de gravação.

Já era o meio da tarde quando nos despedimos. Ele já iria dormir, pois tinha uma chamada bem cedo no set, já eu, tinha quase metade do dia pela frente.

Como fiquei conversando com Alex por muito tempo, acabei por desistir de sair com meus huskies, eles estavam felizes do lado de fora e eu não queria ser um alvo fácil, então, fiquei em casa, tocando piano, ligando para minha família e avisando da minha iminente chegada e me preparando mentalmente para voltar à Londres e encarar a família que tanto me fez mal.

 

[1] Odeio levantar cedo.

[2] Adeus, Loira!

[3] Los Angeles Police Departament – ou Departamento de Polícia de Los Angeles.


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Notas finais do capítulo

Um adendo, a foto que Liv tirou e a qual Kat faz referência é a capa da história, agora fica quase fácil imaginar a Aurora Boreal atrás.
Dito isto, quero agradecer a você que leu até aqui, além de agradecer aos novos leitores, a vocês que favoritaram e estão acompanhando a história e a todos que tiram um tempinho para comentar também! Fico agradecida de coração!
Semana que vem tem mais, devo postar mais ou menos no final do domingo novamente!
Até lá!
xoxo



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