Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 98
Kat e Kim


Notas iniciais do capítulo

De volta, neste finzinho de domingo, com um capítulo um tanto água com açúcar.
Espero que gostem!
Boa leitura!



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Cheguei em casa e encontrei Victoria nervosa, andando de um lado para o outro, tentando não roer a unha que tinha sido tão bem feita no nosso dia no Spa.

Ela estava tão atarantada, se é que posso falar isso, que estava deixando meus cachorros ansiosos. Até Loki que sempre esteve acostumado com o meu falatório sem sentido e sozinho, estava ficando nervoso e começava a bater as patas no chão, cada vez que Vic ia e vinha.

— Isso tudo é nervoso para daqui a pouco? – Perguntei depois que tirei os sapatos.

Minha cunhada parou no meio do corredor, bloqueando o caminho de Thor, que acabou por bater nela e saiu ganindo alto, fazendo um drama desnecessário, que assustou Pietra, Mel e Pepper que também estava por aqui.

— Ele vai ficar bem. – Garanti, enquanto meu cachorro rodava atrás da cauda e chorava ao mesmo tempo, para depois, um tanto tonto – dizer que estava desorientado era pleonasmo, porque Thor sempre foi desorientado! – acabou por se jogar em uma almofada, bem em cima de Stark. – E então, o que aconteceu para te deixar assim?

— O Kim sabe onde você está morando? – Vic lançou de uma hora para outro e, com olhos arregalados, veio para perto de mim e agarrou meus braços.

— Uhn... não. Mas eu mando...

— VOCÊ VAI LÁ NA ARENA BUSCÁ-LO! – Ela demandou praticamente gritando. E como ela ainda agarrava meus braços, tudo o que eu pude pensar era que os hormônios da gravidez eram realmente poderosos, pois Vic nunca levantou a voz para ninguém ou por nada.

— Tudo bem... eu vou. E você vai ficar aqui, senão a cena vai acontecer dentro do meu carro e eu não vou poder gravar! – Falei bem devagar e comecei a guiar a gravidinha descompensada para o sofá, onde ela se sentou e abraçou Thor com tanta força que o pobre ganiu de novo.

— Eu vou avisar para ele que você vai estar lá na porta. Ele já avisou para o time que não volta junto com eles, mas está confirmado no jogo de sábado. – Falou de repente e se levantou, pegando o celular e se encaminhando para o quintal.

Tudo o que eu pude fazer foi ficar olhando, um tanto espantada, as reações de Vic.

— Nem diga uma vírgula. Ela está assim o dia inteiro! – Mel comentou, massageando a têmpora.

— Vocês me chamam de Louca, mas a Vic está doidinha, doidinha! E tudo piorou depois que o Kim disse que já está na cidade.

Ao fundo, escutamos Vic conversando com Kim e, dessa vez foi Pepper quem expressou nossos pensamentos:

— Se ele não descobriu até agora, Kim é mais lesado que o Will!

Realmente, até o tom de voz de Vic tinha mudado para conversar com o meu irmão.

— Ele me ligou ontem, completamente apavorado, achando que a Vic vai pedir o divórcio, deve estar dez vezes mais desconfiado agora que até o tom de voz dela está mudado.

— O pobre nem vai jogar direito hoje. – Mel comentou.

— É bem capaz que ele finja uma lesão. Mas se isso acontecer, a esposinha grávida dá um treco. – Pietra falou e tivemos que trocar de assunto, pois o nosso atual entrando na sala, toda sorrisos. Uma mudança de tanto de humor para quem quase me estrangulou há menos de 10 minutos.

— Avisei ao Kim. Ele disse que é para você ligar para ele e informar o local certinho onde você estará parada. E a placa do carro. – Ela disse toda meiguinha.

— Claro. Eu vou fazer isso. – Informei.

— E quando você vai sair? – Vic perguntou, já voltando a um tom de voz mais nervoso.

— No fim do terceiro quarto. Dá tempo suficiente. E é bom que eu não preciso ficar esperando tanto assim.

— Claro. E como você vai fazer para que ele não te interrogue pelo caminho?

— Isso é fácil, Victoria! Muito fácil. – Foi a minha resposta e depois pedi licença para poder tomar um banho rápido e trocar de roupa. Meus cachorros me acompanharam para o andar de cima, pelo visto eles não estavam mais aguentando a loucura que essa casa tinha virado.

Adiantamos o jantar e nos sentamos para ver o jogo, tive o azar de me sentar ao lado de Vic e a cada dez minutos – do relógio, não do jogo -, ela ficava me cutucando e perguntando quando eu iria sair.

Cansada de ser cutucada e já quase com um hematoma no braço, decidi que era hora de sair, voltei ao quarto e vesti a roupa que já tinha deixado separada. Quando desci, com uma jaqueta debaixo do braço, Pietra e Mel não conseguiram conter a risada, o que, lógico, atraiu a atenção de Vic e Pepper.

— Mas aonde você vai assim? Parecendo uma motoqueira da MotoGP? – Vic perguntou.

— O que você me pediu? Não é para buscar o Kim?

— Para buscar o meu marido, não o fazer virar uma panqueca no asfalto de alguma rua de Los Angeles! – Ela disse brava.

— Mas você também não quer que eu conte nada... assim, com o Kim na garupa, ele vai ficar calado e o seu segredo estará seguro até que cheguemos aqui! Confie em mim, vai dar certo. – Corri no meu escritório, peguei a chave da minha moto, que até hoje não tinha conhecido as ruas de Los Angeles e fui para a garagem.

Vic foi atrás de mim, falando na minha cabeça que era para que eu trouxesse o “marido dela” inteiro. Que não deveria “colocar as minhas divergências com meu irmão em primeiro plano” porque “agora ele é pai” e ela não quer “ser mãe solteira e criar uma criança que, com certeza, ficará traumatizada a vida inteira, porque não conheceu o pai, ou pior, porque a tia e melhor amiga da mãe dele, matou o próprio irmão gêmeo!”

— Acabou com o drama ou vai ter mais? Porque assim eu vou acabar chegando atrasada na arena.

E Vic saiu me empurrando, me mandando correr até lá, mas voltar devagar.

— Então eu posso me estrepar no caminho de ida, mas não no de volta? – Fingi uma falsa injuria ao falar isso.

— Claro! Não é você que está para ter um filho!!

— Eu tenho filhos! Todos eles peludos. Três aqui em casa e dois estão não muito longe daqui!

— Não esse tipo de filho. Agora vai buscar o meu marido!

Não subi na moto, muito pelo contrário, fui até a moto de Alex, destravei-a, peguei o capacete dele que fica guardado debaixo do banco e voltei devagar na direção da minha moto.

— Por que a demora!?!

— Você não me mandou ter cuidado com o meu carona? Duvido que o Kim vá querer usar o capacete que ele jogou, até porque nem pode, então, eu vou proteger a cabeça dele, pegando o capacete e a jaqueta do Alex emprestados. – Balancei os dois itens na frente dela.

— Guarda isso e vai! Preciso ver meu marido o mais rápido possível!!

— Mas eu não quero ver o mala do meu irmão.

— KATERINA, VAI LOGO!! – Ela explodiu de vez!

Contive a risada e, depois de colocar as luvas e o capacete, subi na minha moto, fazendo questão de acelerar bem alto antes de sair da garagem.

Eu tinha decorado o caminho da minha casa até a arena e, de moto, foi muito mais fácil para chegar até lá.

Como eu não tinha ingressos para o jogo, não pude entrar no estacionamento, mas, para a minha sorte, tinha uma lanchonete perto, estacionei por ali e mandei a minha localização para meu irmão. Aproveitando que não tinham me deixado jantar, entrei na lanchonete, só para disfarçar e acabei por comprar um sanduíche e um suco, sentei em uma mesa que dava para ver a TV, que estava passando o jogo e fiquei ali, esperando a esperteza do meu irmão aparecer.

Até que o jogo estava bom, o time da cidade, o Los Angeles Kings, estava dando trabalho para os Blackhawks, mas bastou uma distração da defesa e Kim conseguiu roubar o disco e saiu em disparada na direção do gol, não teve quem o parasse e o destino do disco foi o fundo do gol dos Kings.

Algumas pessoas que estavam vendo o jogo por ali só comentaram.

— Também, dar uma bobeira dessas bem na frente do Nieminen, é pedir pra tomar gol. O cara é um monstro e o pessoal ainda facilita.

Não sei quem falou, mas tive que conter o sorriso de orgulho, e pela primeira vez eu via pessoalmente quem era meu irmão gêmeo para os torcedores e fãs do hockey no gelo.

Antes que acabasse o quarto tempo, Kim fez mais três gols, confirmando a goleada dos Blackhawks.

A torcida começou a deixar a arena, agora era questão de tempo para meu irmão aparecer.

A TV continuou a mostrar o pós jogo, com as entrevistas dos jogadores e técnicos, Kim, claro, passou por lá e ganhou o troféu de Melhor Jogador da Partida.

Mais um suco e uma batata frita extragrande, que iriam me fazer correr dobrado na esteira no próximo dia, e meu irmão me mandou mensagem.

Onde você está?

Na lanchonete do outro lado da avenida. Não sabe ler um mapa, maninho?— Respondi.

Placa do carro.

Estou dentro da lanchonete, Kim. Será que você não consegue achar a sua irmã?

Levou quase vinte minutos – e nesse meio tempo Vic me mandou umas quinze mensagens que eu ignorei lindamente – para que meu irmão aparecesse do meu lado.

— Bonito boné! – Brinquei com a cara dele, já que ele usava um boné que remetia à cidade de Los Angeles, mais ou menos como aqueles que os turistas compram para levar de presente para familiares ou guardar de lembrança. 

— Você me obrigou a usar isso! Olha onde está!

— O famoso aqui é você, não eu! E como sabia que eu vinha, porque não pediu para liberarem o estacionamento para mim, Senhor Melhor Jogador da Partida?

— Será que podemos ir?

— Uhn... tem alguém com saudades da esposa! E obrigada por perguntar como eu estou! – Dei um tapa no alto da sua cabeça e quase tirei o boné que ele usava.

— Quer parar com isso? – Ele reclamava, andando atrás de mim.

Esvaziei a bandeja na lixeira e depois de higienizar as minhas mãos, abri caminho para o chato.

— Vamos.

Só que Kim me olhava desconfiado.

— Por que você não está de salto? Ou carregando uma de suas inúmeras bolsas?

Dei um sorrisinho para ele, já que ele caminhava do meu lado.

— Porque é inviável pilotar uma moto usando saltos ou carregando uma tote bag.

— Você tem três carros...

— Dois. Dei o Aston Martin para o Alex.

— Mesmo assim, tem três carros na sua casa.

Quatro. Dois meus e dois do Alex. – Tornei a corrigi-lo e Kim ficou possesso.

— Tem QUATRO carros na sua casa e você vem de MOTO?

— Você se casou com a pessoa certa! – Comentei enquanto tirava o capacete e a jaqueta do “bagageiro” da moto. – Pois Victoria falou a mesma coisa.

— Você não me respondeu.

— Simples. É mais rápido e assim ninguém te reconhece! Agora coloca o capacete e a jaqueta.

— De quem são?

— Do Alex. Vocês são quase do mesmo tamanho. Mas ele não vai ligar, desde que a jaqueta esteja limpinha na gaveta. – Falei e montei na moto.

Kim, que estava com uma duffel bag, onde provavelmente estavam algumas roupas para a noite e o dia de amanhã, me olhou atravessado, porém, conseguiu se ajeitar na garupa.

— Se você me derrubar de propósito, Katerina.

— Relaxa, porque eu estragaria minha moto e ainda arriscaria quebrar uma perna ou um ombro. Você vai chegar inteiro ao nosso destino.

— Só você para escolher uma moto no meio do inverno.

— Com coisa que você nunca pilotou um snowmobile antes! Ou uma moto de motocross no meio da neve! Já está confortável aí? – Perguntei e abaixe a viseira. Não esperei pela resposta, apenas dei partida na moto e sai acelerando pela avenida movimentada por conta dos torcedores que ainda não tinham se dissipado totalmente. Fazendo com que Kim soltasse um sonoro palavrão antes de se segurar em mim.

Em um semáforo, paramos, e no carro ao nosso lado, pudemos ouvir a família comentando:

— Os Blackhawks, sem o Kim Nieminen, não são nada. – Dizia o pai.

— O Kim é a alma do time, papai! – Defendeu a filha, uma adolescente de cabelos coloridos, que usava a camisa do time e eu não duvidava, tinha o nome de Kim e o número 25 estampados nas costas.

— Quando eu crescer, quero jogar hockey igual a ele! – Disse o garoto que devia ter mais ou menos uns 11 anos.

Cutuquei meu irmão com o cotovelo, ele não falou nada, apenas me mostrou que o semáforo estava verde e que era para irmos.

Quinze minutos depois eu abria o portão da minha casa e logo pudemos ver Vic pulando na porta de entrada.

Estacionei na garagem e assim que Kim tirou o capacete, só comentou:

— Tá morando bem, hein?

— A casa é do Alex. – Falei sem graça.

— Aposto que já tem dedo seu na decoração. – Foi o que ele disse, antes de ser atacado por Vic que o enlaçou em um abraço de urso.

— Vou deixar vocês dois às sós. – Falei sem graça. E murmurando baixinho, comentei – Se o Kim não desconfiou de nada, ele só pode ser adotado, não pode alguém da minha família ser tão devagar de raciocínio!!

Como tinha cedido a sala de jantar e de estar para o casalzinho, subi o mais depressa para o segundo andar, onde encontrei com Pietra, Mel e Pepper.

— Armamos a câmera lá embaixo, conectamos com esse computador. Estamos prontas para gravar tudo! E tomamos conta dessa salinha aqui.

— Sem problemas, ninguém fica muito aqui mesmo. – Expliquei o motivo da salinha de estar do segundo andar ser tão desabitada.

— Espero que ela conte logo, não estou no humor para ficar vendo casalzinho meloso. – Pepper comentou e nos sentamos para esperar pela grande revelação. Até porque ali tinha uma novidade. Será que era uma menina ou um menino?

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— Será que vai demorar muito ainda? – Pepper perguntou. – Eu vim direto da clínica e não comi nada.

— À julgar pelo que estamos ouvindo, vai. – Mel garantiu.

Eu e Pietra já tínhamos desistido de ficar ouvindo a conversa entre Kim e Vic. Tudo estava muito meloso e os apelidos só estavam piorando a situação toda.

— Será que podemos pedir algo para comer e esperar na porta para que o entregador não precise bater a campainha? – Continuou Pepper, que agora passava até a mão na barriga para evidenciar a fome.

— Você está pior que a Elena! – Comentei com ela, dando um tapa em seu ombro.

— Ainda não. Não pedi nenhuma sobremesa antes do jantar! – Ela retrucou rindo.

— Será que as futuras “Senhoras Pierce” podem ficar caladinhas, porque está acontecendo! – Mel falou e apontou para a tela da TV, já que tínhamos espelhado a tela do notebook lá.

E na sala abaixo de nós, Kim perguntava o real motivo da conversa, na mesma hora Vic ficou nervosa, muito nervosa, e se sentou na frente de Kim, pegando a mão dele.

— Você promete que não vai surtar? – Ela perguntou.

Meu irmão na mesma hora olhou desconfiado para a esposa, e creio eu, já pensava nas mil e uma maneiras de entrar em uma briga comigo.

— E por que eu surtaria, Vic?

— Porque eu tenho uma notícia para te dar. Uma notícia importante. Que vai mudar as nossas vidas.

Dio Mio!! Ele ainda não desconfia de nada?! Tem certeza de que ele é seu irmão, Bionda? E ela não pode pedir para ele não surtar! E as nossas apostas?!

— Eu já estou desconfiando que um de nós foi trocado na Maternidade. – Respondi à italiana. – E te garanto, Kim vai surtar de qualquer jeito.

Voltamos nossa atenção à sala de estar e Vic agora estava parada em frente ao Kim, entrelaçava as mãos nervosamente e brincava com a aliança no dedo esquerdo. Fato que chamou a atenção de Kim, que se levantou, parou na frente da esposa e abriu a boca para dizer:

— Vic, o divórcio...

— Eu estou grávida, Kim! Finalmente vamos ser pais! – Ela soltou de uma vez, ficando vermelha e olhando meu irmão nos olhos.

Kim ficou parado onde estava, ainda absorvendo a notícia. Ainda tentando colocar o cérebro para funcionar e assimilar que a Vic não estava pedindo o divórcio, mas sim, dizendo que eles passariam de dois para três.

E quando isso aconteceu. Ele caiu sentado no sofá, com os olhos cheios d’água e logo puxou Vic pela cintura e perguntou em finlandês, acariciando o baixo ventre dela:

— Tem um bebê aqui dentro? Dessa vez é verdade?

Vic balançava a cabeça em afirmativo e, também chorava.

— Vamos ser pais? – Ele murmurou tão baixo que só tive a certeza de que meu irmão efetivamente disse isso, porque li seus lábios.

— Vamos. E... bem, você por acaso quer saber o vamos ter?

— Já tem como saber? Você nem está mostrando? – Ele olhava para a barriga de Vic.

— Já tem como ver... mas quem não sabe só acha que eu comi demais na última refeição. Então, você vai querer saber?

— O exame não é perigoso?

Vic deu uma risada.

— Eu já fiz o exame. As meninas me levaram para fazer na segunda de manhã!

— E o que é? – Kim agora que já tinha processado a notícia, estava começando a chorar e a sorrir ao mesmo tempo.

— Bem, como você não foi o primeiro a saber da gravidez... você vai ser o primeiro a saber o que teremos. Não tive coragem de abrir sem você! – Vic falou toda encabulada.

— Ó céus! Eu estou ficando nauseada aqui! – Pietra comentou do meu lado.

— Quando for você contando para o Benny que tem um pãozinho no forno, vai ser a mesma coisa! – Pepper cutucou a Italiana.

— Caladas!!! Eu quero saber se terei outra sobrinha ou outro sobrinho.

— Aposto que ela quer uma sobrinha, só para vir outra cópia dela! – Mel comentou.

— Mas a inveja é tanta... não tenho culpa se meu DNA é excelente.

Foi a minha vez de apanhar e voltamos nossa atenção para a TV.

Vic agora estava sentada no colo de Kim e os dois olhavam para o envelope com feições ansiosas, mas carinhosas ao mesmo tempo.

— Algum palpite? – Perguntou Kim.

— O que vier eu estarei eternamente feliz! – Vic repetiu o mesmo discurso que tinha feito com a gente.

— Bem... eu fico feliz com um menino ou uma menina... mas preferiria um menino.

— Motivos? – Vic perguntou tombando a cabeça.

— Acho que não precisamos de outra cópia da Kat na família. E a probabilidade de vir outra é alta.

Os dois pombinhos riram alto e eu fiquei um tanto inconformada. Que mal fazia vir outra criança parecida comigo?

— Tomara que quando for a vez dela, ela carregue só cópias de Alexander! – Vic comentou e eu quase desci as escadas para dar uns cascudos nesses dois.

— Abram logo! Eu estou envelhecendo aqui! – Mel chiou.

— Estou igual a velhinha do Titanic... “Faz 84 anos que estou aqui”. – Pepper aumentou o drama, para completar: - Morrendo de fome!

E, finalmente, os dois se dispuseram a abrir o envelope.

— Se eles fizerem mais hora, eu vou descer e tomar aquele papel das mãos de Kim e vou contar para todo mundo o que eles vão ter! – Pietra se revoltou. Paciência nunca foi o forte dela mesmo.        

Meu irmão devolveu o envelope para Vic e a ajeitou em seu colo, de uma maneira que ambos veriam o resultado do exame.

Vic rasgou a aba, pegou a folha de papel dobrado e respirando fundo desdobrou.

Vimos os dois correndo os olhos pelo exame, lendo as minúsculas letrinhas, e nada de reagirem.

— Qual é!!! Estou curiosa aqui!! – Mel disse dando um tapa no sofá.

Pepper já estava roendo as unhas e Pietra a um passo de descer.

— Ah, mas eu vou lá! – Disse a italiana louca.

Nós três que ficamos, nos olhamos e seguimos a Louca, que, já do alto da escada bradava:

— Eu sou tia desse bebê! Tenho o direito de saber o que!

Não vi a reação de meu irmão, mas escutei o que ele respondeu:

— Então vocês estavam vendo tudo... só não vão ver o resultado.

— Eu vou sim!

— Ô Elena da Itália, quer parar? – Vic parou na frente de Pietra.

— Está contra mim, agora? Fui eu quem deu a ideia de fazer esse exame! Se a sua curiosidade de futura mamãe foi satisfeita, agradeça a mim!

E enquanto os três discutiam, nós três ficamos paradas no último degrau, somente esperando que alguém desse a notícia.

— Pelo amor de Deus, digam o que é!! – Pietra implorou.

— Te digo o que não é! – Kim retrucou.

— Também serve!

— Não é outra cópia da Kat! – Vic disse e olhou debochada para mim, mas eu estava feliz demais para levar o deboche em algo mais pessoal, porque eu seria tia de outro menino!

Um outro garotinho estava a caminho para se juntar aos Nieminen. Meu pai vai amar essa notícia. E Ian também.

Un bambino? – Perguntou Pietra.

— Sim. – Responderam os futuros papais.

— Mas ele vai ser piloto da Ferrari! E Campeão Mundial! Já estou até vendo!

— Correr na Fórmula 1 ele pode até correr, mas JAMAIS pela Scuderia do Mal! Jamais! – Respondeu Vic.

Claro que Pietra não deixou barato, e começou a discorrer todos os prós do meu sobrinho já ser integrado na Academia Ferrari.

E foi aqui que tudo desandou de vez.

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Depois do mais longo e tedioso discurso que alguém pode dar sobre como é ser integrado à “Famiglia Ferrari” desde tenra idade, Pietra acabou de falar e olhou para o casal em sua frente.

— Já posso reservar a vaga dele?

— Qual parte de: ele JAMAIS vai correr pela Ferrari, você não entendeu, Pietra? – Kim perguntou pela milésima vez.

— Pertencer à “Famiglia Ferrari” soou tanto coisa de mafioso. Como se a Empresa fosse um braço da Máfia Italiana, e que para entrar a pessoa tem que passar por um teste, que seria matar um pobre coitado qualquer. – Pepper comentou rindo.

Os cinco outros ocupantes da sala olharam para a Miss América e esperaram que o cérebro dela fizesse a ligação.

— Você é da Máfia, Pietra? – Perguntou de olhos esbugalhados.

— Não. Mas tenho contatos.

Contatos? – Pepper engoliu em seco ao questionar.

E a Italiana Louca só abriu um sorriso de gato que comeu um canário, para então responder.

— Fica tranquila. Ninguém vai fazer mal a você ou alguém da sua família, mas se um dia precisar de um favorzinho, não hesite em pedir.

Pepper ficou transparente. Tenho a pequena impressão de que ela realmente achou que o papo da Pietra, naquela tarde quando saímos todas juntas, assim que as três chegaram da Europa, era brincadeira. E agora ela via que não era tão brincadeira assim.

E por conta disso, um silêncio se instalou na sala, só sendo quebrado por Vic, que novamente com fome, perguntou se alguém não queria pedir algo para comer, já que os dois tinham comido todo o jantar que era para seis pessoas. E foi justo Pepper quem concordou, dizendo que tinha anos que não comia nada.

A discussão sobre o que iriam comer continuou por algum tempo, e como não entraram em um consenso, sobrou para quem ir para a cozinha?

Sim, eu. E nem adiantava argumentar. Pois a resposta de todos era só uma: “É a sua casa, afinal!”

Revoltada, fui para a cozinha, sendo seguida por meus cachorros, que já estavam ficando cansados de tanto barulho.

Estava resmungando em finlandês, quando Kim apareceu.

— Não é possível que não tem nenhuma garrafa de champanhe nessa casa!

— Não, não tem. – Confirmei sem olhá-lo.

— Alguma bebida que se possa fazer um brinde?

— Água. – Falei sarcasticamente.

— Qual é, Kat! É o seu sobrinho mais novo! Você tem que estar animada!

— Animada com a chegada do bebê eu estou, para ficar na cozinha, quase às 23:00, não.

— Ninguém mandou ser a única cozinheira que presta e a dona da casa. Ia sobrar para você de qualquer jeito.

Virei-me para Kim, pronta para brigar com ele, mas quando notei a sua expressão de incontida felicidade, desisti.

— Tem vinho na adega. Porém, não se esqueça, Vic não pode beber, assim eu vou acompanhá-la para que ela não fique sem graça.

Acabei por fazer algo bem leve, ainda mais por conta do horário, e Kim não deixou de celebrar o momento com um discurso que fez Vic quase se desmanchar em lágrimas, se continuasse desse jeito, minha cunhada não chegaria até o parto.

Logo em seguida, ainda com todos em volta da mesa, Kim recebeu uma chamada de vídeo. Não demoramos para saber quem ligava, pois logo ouvimos a voz de minha mãe.

— Vou presumir, meu filho, que a notícia é boa.

Eu não sabia como isso era possível, mas o sorriso de meu irmão ficou ainda maior.

— Sim, Dona Diana, a notícia é boa. Muito boa! – Ele respondeu e estendeu a mão para que Vic se levantasse. – Vic tem uma notícia para partilhar com todos. Se a senhora esperar, acho que consigo colocar todo mundo nesse vídeo.

E em menos de meia hora, toda a minha família e os pais de Vic estavam reunidos na chamada. Todos aguardando Vic dar a notícia. E assim como na hora em que ela contou para Kim, minha cunhada ficou vermelhinha e teve que respirar fundo antes de soltar:

— A família vai aumentar! Eu e Kim estamos esperando um bebê!

A gritaria e os sorrisos foram gerais. Todos parabenizaram o casal mais de uma vez, felizes com tamanha notícia. Dizendo que queriam estar presentes para poderem dar abraços apertados nos dois.

Com a exceção de uma garotinha loira.

Elena não estava nada feliz por um único motivo e, com lágrimas nos olhos, perguntou:

— Isso quer dizer que eu não sou mais a caçula da família??

Fiquei com tanto dó da Leninha, que a minha vontade era que existisse algum aparelho de teletransporte, para que eu pudesse estar em Londres com um piscar de olhos, e confortar a garota.

— Você continua sendo A caçulinha da família, Elena. E seu primo também vai ser O caçulinha. – Falei pausadamente com ela.

— Não entendi muito bem, täti, mas eu acho que posso dividir a atenção de todos com meu priminho.

— É assim que se fala, pikkuinen! – Falei para ela.

Porém, Elena só tem cinco anos, e era inevitável que ela fizesse uma única pergunta.

— Mas, gente, de onde vem os bebês?

Pietra, que estava bebericando o vinho, quase que cuspiu tudo em cima de Pepper. A Miss América teve que segurar a risada. Mel pediu licença e correu para a cozinha, porém pudemos escutar a gargalhada dela. Kim olhou para Vic, do outro lado da tela, Ian coçava a cabeça e Tanya escondia a dela com as mãos. Tuomas e Liv não sabiam se riam ou se saiam correndo, de tão vermelhos que ficaram.

Para não sobrar para mim a famigerada explicação – até porque eu não saberia inventar uma história para esse ponto em específico. - dei um tchauzinho para a câmera e fui saindo de mansinho, até que me vi do outro lado da sala, bem longe das explicações fajutas que meus pais, e meus irmãos e cunhadas tentavam dar para Lena.

Pietra e Pepper saíram da mesa e pararam do meu lado, rindo agora não da pergunta inocente de Elena, mas das explicações absurdas.

Porque soltaram a história da sementinha.

Sim, essa.

Só que eles subestimaram a inteligência de Elena. Porque ela soltou a seguinte frase:

— Mas, setä, como uma semente pode crescer no escuro? Eu fiz a experiência do feijão na escola, e o feijãozinho que colocamos na caixa morreu!!! - Ela falou desesperada.

E depois dessa, foi um tal de quererem mandar a Elena para a escola que deu até dó da pequena. Ela só queria ajudar, a culpa não era dela se, de uma vastidão de possibilidades, escolheram a pior para explicar a ela de onde os bebês vem!

Com o fim da ligação, as risadas ficaram mais altas, também pudera, uma garotinha de cinco anos colocou três casais na saia justa, duas vezes, em menos de dez minutos.

— Jamais subestimem a inteligência das minhas sobrinhas! – Eu falei alto, quando Kim mencionou que Elena seria um perigo, cheia de perguntas curiosas, mas traiçoeiras.

— E você só diz isso, porque foi a responsável por ajudar na alfabetização dela! – Ele falou mais alto.

Parei na porta da cozinha e encarei o meu irmão.

— Não ache ruim, estava cumprindo o meu papel de tia! Onde você estava?

Kim me arremessou uma almofada, devidamente interceptada por Loki que com de cabeça erguida, a colocou no lugar em que estava e teve a capacidade de rosnar para meu irmão, como que o avisando que não era para fazer isso, nunca mais.

Depois dessa, Pepper pediu licença e se despediu de todos, pedindo para ser chamada na próxima vez em que a família fosse revelar algo para Elena, porque ela merecia rir um pouco.

— Um dia será você! – Vic falou.

— Um dia, não hoje! Até lá a Elena já cresceu!

E dando boa noite, se foi. Com pouco, Pietra e Mel que misturaram vinhos, foram se deitar, e Vic as acompanhou, já fazendo planos para começarem a comprar o enxoval do bebê.

Restou o mala do meu irmão gêmeo na sala, ainda absorvendo a grande notícia do dia.

— Sem querer quebrar a bolha de felicidade em que você se encontra, mas acredito que você me deve, ao menos, um agradecimento. – Comentei enquanto acabava de tirar a mesa.

— E posso saber o motivo?

— Eu te falei que a notícia era boa!

Kim tentou me arremessar outra almofada, mas não conseguiu fazer, pois Loki e agora Stark, pararam na frente dele e começaram a rosnar.

— Agora tem dois seguranças e um bobo da corte para te vigiar? – Perguntou injuriado e depois de encarar os dois cachorros que estavam parados na sua frente.

— Sim, eu tenho. Eles existem para me proteger.

— Stark não é seu!

— Me adotou como mãe. Não posso fazer nada.

— E quanto aquele ali. – Apontou para Thor que corria atrás do próprio rabo, até que bateu a cabeça no pé do piano.

— Ele tem sérios problemas. Mas é um bom menino, não é, Thorzinho! – Falei chegando perto dele para ver como estava o focinho. – Não tem nada aqui, pode voltar a correr.

E meu cachorro fez isso, e conseguiu escorregar no tapete.

— Não liga para ele. – Comentei por fim, já tinha deixado de entender a falta de coordenação do meu husky há muito tempo.

— Se ele ficasse sozinho, no meio de uma tempestade de inverno, nas florestas da Finlândia, morreria de frio e de fome. É um péssimo descendente dos lobos da neve.

— Nem todos são perfeitos, Kim. Sempre tem aqueles que nascem com o parafuso a menos ou até mesmo com algumas sinapses a menos. Como você! – Soltei a bomba e fui para a cozinha terminar de lavar e guardar as coisas.

Claro que Kim logo viria atrás de mim.

— Está me comparando com aquele lesado ali? – Apontou para Thor que estava latindo para o próprio reflexo que ele via na tampa do forno.

— Não. Dei dois exemplos. Thor é a vergonha da raça dele. Já você é o lesado da família mesmo.

Kim me deu uma encarada achando que eu iria ficar com medo.

— Admita, Kim! – Continuei sem me intimidar. – Você poderia ter descoberto o segredo de Vic, bastava que você pensasse um pouquinho, tentasse se lembrar do comportamento da sua esposa e depois na forma como ela agiu com você do momento em que chegou até quando ela te falou tudo. Se você tivesse usado o seu cérebro, teria descoberto, porque a Vic deu todas as dicas, principalmente quando começou a passar a mão na barriga... só que você não descobriu. – Dei um tapa na cabeça dele e voltei a lavar as vasilhas.

Kim ficou calado por um tempo, muito tempo, acho que ele não deve ter assimilado muito bem a ideia. Até que soltou a seguinte frase:

— Mas eu não sou lesado na mesma proporção do Thor!

Era melhor ter ficado calado!

Fiquei com vontade de explicar o contexto geral, porém era tarde, e estava precisando de cama.

— Definitivamente, Kim, você foi trocado na maternidade! Não é possível! – Soltei quando saí da cozinha em direção ao quarto. – E o seu quarto é o terceiro do lado direito! Boa noite!

Ele ainda tagarelou na minha cabeça por quase quinze minutos, falando que eu era a adotada da família, e explicou isso com vários motivos – alguns até verídicos – e depois começou a falar que ia chamar Tanya e Ian para serem os padrinhos do filho dele, porque assim o bebê teria tios normais e cresceria sem nenhum trauma de infância. Ele ia continuar falando se Vic não tivesse aparecido e o puxado pelo braço para dentro do quarto.

Dei graças a Deus por minha cunhada ter feito isso e fui para meu quarto. Estava prestes a cair na cama, quando recebi uma mensagem de um número que não estava na minha lista de contatos e que não era dos EUA, Finlândia ou Grã Bretanha.

Fiquei sabendo que teremos um showzinho em poucos dias. Quero muito ver como você vai escapar agora. Estarei na primeira fila para te ver desmoronar.

Precisei de três tentativas para conseguir ler a mensagem inteira, não sabia de quem era, e isso me preocupava, afinal, poderia ser de várias pessoas, até mesmo dos irritantes jornalistas de quinta categoria, que estavam, mais uma vez, tentando me intimidar.

Deite-me na cama e mesmo cansada do longo dia, não consegui dormir.

— Parabéns a você, Anônimo. Conseguiu me tirar o sono! Está feliz agora? – Murmurei no quarto escuro e tudo o que eu queria era que o tempo voasse e que eu só me desse conta da realidade quando o julgamento já tivesse acabado.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso!
Espero que tenham gostado!
Obrigada a você que leu até aqui, semana que vem tem mais um capítulo!
Até lá!
xoxo



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