Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 69
Cumprindo Uma Promessa


Notas iniciais do capítulo

Sábado, já quase domingo, e cá estamos com mais um capítulo.
Se preparem porque a treta está começando...
Tenham uma ótila leitura!!



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Oi, täti!! Como a senhora está? Dá para acreditar que já se passaram 15 dias desde o Grande Prêmio?

Täti, a senhora está aí?

Qual é täti! Eu preciso conversar com a senhora!

Täti!

Se a senhora não me responder em 15 minutos eu vou ligar!

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— Alô?! – Atendi ao telefone mais dormindo do que acordada. Era madrugada de sábado, e pela segunda semana seguida, eu tinha trabalhado demais e descansado de menos.

— Oi, täti! Esqueceu que tem sobrinha?

— Liv?! – Tirei o telefone da orelha e conferi as horas. Eram 04:32 da manhã.

— Eu estou mandando mensagens para senhora há um tempão! – Ela disse injuriada do outro lado.

— Ainda é madrugada por aqui! – Murmurei. Do meu lado, Alex se virou e cobriu o rosto. Não tinha nem três horas que ele estava em casa, essa última semana foi puxada no estúdio, sendo a sexta-feira o pior dos dias, ele teve que chegar no set às 04:30 e saiu de lá já era mais de uma da manhã do outro dia. Nós pouco nos falamos durante a semana. O único dia que isso aconteceu em um horário que não compreendia a madrugada foi na quarta-feira, quando entregamos a moto consertada para Matt.

— Droga! Esqueci do fuso! Mas agora que a senhora está acordada. Conversa comigo?

Contra a minha vontade, me levantei e me enrolei em um roupão quentinho. Podia não fazer o mesmo tipo de frio aqui na Califórnia, que fazia em Londres ou em Helsinque, mas as madrugadas já estavam geladas.

— O que você está aprontando que para me ligar a essa hora?

— Nada.

— Olivia!

— Tudo bem. Estava esvaziando a minha câmera, já que não tenho nada para fazer.

— Você já fez isso.

— Calma, täti! Deixe-me terminar. – Ela me interrompeu. – Então, estava olhando as fotos que tirei na viagem. Todas as fotos. E tem algumas aqui que não coloquei no grupo da família.

— E posso saber o motivo? – Perguntei ao meu jogar no divã que tinha comprado para o meu escritório, Loki logo apareceu e veio se deitar no chão ao meu lado. Olhei para fora e estava impossível de ver o quintal dos fundos de tanta névoa.

— A senhora já olhou o seu celular hoje?

— Não, Olivia. Eu mal abri os olhos.

— Então olha.

Fiz o que ela pediu e me surpreendi com a quantidade de mensagens que ela já tinha me mandado. Sendo que a grande maioria eram fotos. E tinha até alguns vídeos. De curiosa, abri um para ver.

Era o momento em que a turma de surfistas nos “abençoava” depois que anunciamos o noivado. Liv tinha gravado cada um dos momentos e eu fui seguindo até a parte em que Alex me joga dentro d’água e depois eu dei uma rasteira nele.

— Você gravou tudo isso?

— Pois é, gravei. Sei que vocês ainda não anunciaram nada, por isso resolvi deixar de fora daquela leva que mandei na semana passada. E, eu tomei a liberdade de pegar um frame do vídeo e separar como foto. – Disse e logo escutei a notificação da mensagem.

Abri a foto para ver. Eu sabia o contexto em que a foto fora tirada, então para mim, nem era tão romântica quanto parecia. Mas, para quem não sabia, ou se eu resolvesse ignorar, era um momento perfeito, pois minha sobrinha tinha pegado justamente nossas sombras, e eu olhava para Alex e ele para mim, como se nós estivéssemos presos um no olhar do outro.

— Muito obrigada. Ficou... ficou perfeita.

— É, pensei nisso quando estava editando. Se a senhora quiser, posso imprimir por aqui, tenho tudo o que preciso para fazer dessa uma foto perfeita.

— Não precisa, Liv.

— Já era, já fiz. E eu te mandei mais coisas. Tem as fotos de vocês dois lá no Letreiro. Peguei o beijo. E como sei que o isoisä[1] vai odiar o momento, também não compartilhei com a família inteira.

Como eu não gosto de conversar pelo viva-voz, corri na gaveta e tirei meus fones, assim poderia conversar com Liv e ver as fotos que ela me mandou de uma só vez.

— Você está virando uma excelente fotógrafa, Olivia. As fotos estão cada dia melhores! – Elogiei-a.

— Obrigada, täti! Quando a senhora vier, daqui a quinze dias, eu te mostro as que andei tirando por Londres afora. E as que tirei de Elena, quando ela começou a dar pequenos saltos com o Algodão Doce. Äiti gravou vários vídeos e chorou em todos, mas eu te mando depois.

— Preciso ver esses também. – Garanti. – Agora, qual foi o real motivo de a senhorita ter me no meio de um sábado? Porque se fossem só as fotos, você teria se contentado com as mensagens.

Minha sobrinha ficou muda, demorou tanto para emitir um som, que eu achei que a ligação tinha caído. E como ela não falava nada, resolvi encerrar a ligação e fazer uma chamada de vídeo, porque Liv poderia mentir conversando comigo, mas não quando eu a olhava cara a cara.

Ela atendeu com uma carinha um tanto preocupada.

— Não é nada de importante. – Disse assim que me viu. – É seu escritório? Ficou pronto?

— Não desconverse. Me conte o que está te perturbando que eu te mostro como ficou tudo.

Ela respirou fundo.

— Matti.

Tive que conter a minha vontade de revirar os olhos. Ele estava um tanto estranho demais na reunião de ontem pela manhã, sobre o Caso Mancini e, ao final, me pareceu excessivamente interessado se eu sabia do paradeiro da família, principalmente dos meus sobrinhos.

— O que ele fez?

— Apareceu ontem na porta da escola. Ele, Lars e um novo segurança que não sei o nome. E pediu, não, ele mandou que tanto eu, quanto Tuomas, entrássemos no carro.

— E o que ele queria?

— Aparentemente, nos levar para tomar um café ou um chá, mas nós não chegamos até isso.

— Por que não?

— Não queremos nada com ele, e Tuomas foi bem claro. Disse que ele, estragou a sua carreira e te mandou para longe, só porque ele te culpa pelo fiasco do casamento. Lógico que não com essas palavras, meu irmão foi bem direto. E, que se ele foi capaz de fazer isso com a própria neta, que sempre o idolatrou, o que será que ele iria querer fazer com os bisnetos que ele não faz questão de ver?

— Tuomas não deveria ter se metido nesse assunto.

— Os dois começaram a brigar, a brigar feio, já estávamos na porta do restaurante quando tudo deu errado.

— Deu errado como? Olivia o que aconteceu? – Perguntei desesperada.

 - Vamos dizer que o novo segurança de Matti não gostou da forma como meu irmão estava dizendo as verdades e acabou por segurá-lo com força. Eu tentei impedir, e puxei o braço do segurança para longe do meu irmão. O cara estourou de vez e me empurrou. Tuomas, para me defender, armou o bote para um soco, mas o segurança foi mais rápido e acabou acertando o olho e o nariz do meu irmão.

— Mas... como chegou a isso?

— Nós não queríamos estar lá! Não mesmo. E ele meio que estava nos obrigando a segui-lo. E, não sei explicar täti, mas eu senti que ia dar muito errado, no momento em que entrei dentro daquele carro, e por isso mandei mensagem para mamãe e para a vovó, para falar onde estávamos e com quem estávamos. E, assim que a briga começou, eu liguei para as duas. Contei onde estávamos e o que tinha acontecido. Nunca vi a vovó tão brava na minha vida. Elas chegaram logo, mas a essa altura o Matti já tinha mandado o segurança que bateu no Tuomas voltar para a empresa... e eu estava tentando dar os primeiros socorros no meu irmão.

Eu estava vendo vermelho. Estava com ódio do que tinha acontecido com meu sobrinho. E estava precisando socar a cara do meu avô com todas as forças.

— Como está o Tuomas agora?

— Quebrou o nariz, tem um olho roxo. Está no hospital, porque vai ter que operar o nariz, a mãe tentou me explicar, mas eu não entendi nada.

— Ele vai operar?! – Falei mais alto do que deveria.

— Sim... mas não precisa ficar preocupada, täti. A mãe vai acompanhar a cirurgia.

— E onde você e Elena estão?

— A vovó está aqui.

— Olivia não minta para mim!

— Estamos temporariamente sozinhas. Eu sei, isso é errado, mas a Lena está bem, está cochilando aqui na minha cama. A vovó teve uma emergência no hospital também. Eu estou tomando conta da minha irmã, täti. – Garantiu.

Levantei do divã e liguei o computador, eu precisava ir para Londres urgente.

— O que a senhora está fazendo?

— Comprando uma passagem para Londres.

— Não, täti!! Não precisa. Tudo está sob controle.

— Olivia, minha mãe tem que trabalhar, sua mãe vai ficar ao lado de Tuomas no hospital. Ian e meu pai estão no Brasil. Alguém tem que tomar conta de vocês! Principalmente de Elena. Daqui a pouco ela vai querer saber o que está acontecendo! E você sabe, a Elena é sensível ao ambiente ao redor dela, você está agitada, ela vai ficar dez vezes mais. Eu preciso ir, ou a sua mãe não vai ter sossego.

— A senhora não pode vir! Tem o escritório.

— Você conheceu Milena, ela tem capacidade suficiente para controlar as coisas por aqui. Além do mais, alguns problemas eu posso resolver daí. – Respondi e estava para comprar a passagem, quando uma mão segurou a minha e disse que não. – Alex, não. Eu preciso.

— Escute o tio, por favor!! – Liv implorou. E ao fundo escutei um som, alguém chamava por minha sobrinha. – Vovó! Estou no meu quarto.

Com pouco minha mãe apareceu, pude ver que ela parou ao lado da cama e verificou Elena, depois observou as reações de Liv, para então, olhar para celular e para mim.

— Contou para a Katerina. – Disse com um suspiro.

— Não era a minha intenção. Mas a täti sabe me ler muito bem. – Liv se desculpou.

Äiti, como está o Tuomas? Eu estou indo para Londres no...

— Não. Você vai ficar onde está, Katerina. – Ela me cortou.

— Mas...

— Katerina, não! Eu pedi licença do hospital pelos próximos sete dias.

— E a Faculdade?

— Darei aulas por videoconferência. Meus alunos são grandes o suficiente para aguentarem uma semana de aulas assim.

— Se eu for para Londres, a senhora não precisará...

— Você tem que ficar onde está e fazer o que tem que fazer. Em quinze dias estará aqui. Tanya e eu daremos conta desse problema.

— A senhora não contou para o papai?

— Não. E só vou contar quando ele voltar. Do Brasil ele tem que ir para o Oriente Médio. Até que ele volte em definitivo para cá, que será na mesma semana que você vem, Tuomas já estará muito melhor e eu terei conversado com Matti. Sem você, sem seu pai, sem ninguém para nos atrapalhar. – Disse séria.

Mesmo assim não estava com muita vontade de seguir as ordens dela e quase que consigo fazer a compra, se Alex não tivesse desligado o monitor do computador, pegado um dos fones de minha orelha e tomado a palavra.

— Dona Diana, boa tarde! Posso segurar a Kat por aqui? Porque a teimosa ainda está querendo comprar a passagem.

— Faça esse favor, Alexander. Não tem nada para Kat fazer por aqui.

— Claro que tem! Eu posso tomar conta das meninas, levá-las para a escola, posso ajudar a Tanya.

— Katerina. Simplesmente não é o momento para você vir à Londres. Entenda isso. Alexander, por favor, não a deixe comprar nenhuma passagem ou se ela chegar a fazer, impeça que ela chegue até o portão de embarque.

— Sim, Senhora! Qualquer coisa para mantê-la aqui.

— Muito obrigada. Agora que a Kat já está conformada de que ficará em Los Angeles, vou atualizar vocês sobre o Tuomas.

Ela discorreu tudo o que aconteceu com meu sobrinho e como seria não só a cirurgia, como a recuperação. Não era nada complicado e eu tive a certeza de que meu sobrinho ficaria bem.

— Por favor, já que a senhora não quer que eu vá para Londres, ao menos vá me informando como ele está indo. – Pedi.

— Isso eu posso fazer, KitKat.

Kiitos[2].

— Fique tranquila por aí, Kat. Vai dar tudo certo. E posso te fazer um último pedido?

— Claro, äiti[3], que pedido?

— Não ligue para Matti para tirar satisfações e não conte nem para seu pai, nem para Ian.

Mordi a língua, pois eu sabia que seria injusto com o Ian não saber da condição do filho nos próximos dias.

Katerina, me prometa. - Ela ordenou.

— Tudo bem, não conto.

— Ótimo. E Alexander, primeiramente me desculpe por tê-lo acordado em um sábado tão cedo.

— Não tem problema algum, Dona Diana.

— Mesmo assim agradeço a sua ajuda. Se eu fosse os dois, voltava para cama, pelo visto está bem frio por aí. Fiquem com Deus, eu vou ligando para vocês ao longo do dia. - Se despediu e encerrou a chamada.

Eu olhava paralisada para a tela do computador que estava na minha frente, ainda sem acreditar no que eu tinha acabado de ficar sabendo.

Foi Alex quem me tirou do choque.

— Vem, Kat, vamos deitar um pouco, ainda é cedo. – Disse e saiu me puxando pela mão.

— Eu não posso. Não posso nem ficar aqui em... – Comecei a me rebelar novamente e tentei voltar para a frente do computador e ligar a tela.

Alexander me impediu, me segurando pela cintura.

— Não, Katerina. Você não vai para Londres! Você não vai comprar passagem nenhuma!

— Eu preciso! – Tentei me soltar, mas ele me abraçou com mais força. – Você não entende! É o Tuomas. O meu sobrinho. O segurança daquele idiota brigou e feriu o meu sobrinho. Eu tenho que falar... – E fui interrompida pois meu noivo colocou um dedo na frente dos meus lábios.

— Sua mãe vai dar um jeito nisso. É a hora dela fazer isso, não a sua! Você terá a chance, em quinze dias, até lá, deixe que Dona Diana e Tanya resolvam isso. Pois uma é a mãe, a outra é a avô. Se você não percebeu, isso pode ter sido feito para te irritar, Kat. Você mesma me contou que ele usa de artifícios para desestabilizar as pessoas. Seu ponto fraco, um dia foi querer a cadeira de CEO, hoje você não quer mais, isso não te importa tanto assim, então ele teve que buscar outro.

— Minha família. – Murmurei.

— Ou seus sobrinhos. Principalmente Olivia que é grudada em você. Entenda de uma vez, Kat, para seu avô tudo é um jogo.

— Ele não é meu avô. – Neguei.

— Você querendo ou não, ele é pai do seu pai. Sim, ele é seu avô. E está fazendo qualquer coisa para te derrubar, de novo.

— Eu ainda não acredito que ele teve a coragem de machucar o Tuomas... meu Deus, ele é o único neto!

— O que você fez nas últimas semanas para que ele tivesse essa ideia?

— A viagem com toda a família. O Caso Mancini. O fato de que eu já encaminhei para Londres a minuta com a situação completa do escritório para ser discutida em dezembro. Só mais do mesmo.

— Não é mais do mesmo, Kat. – Alex me falou e finalmente conseguiu me levar para o quarto. – Você apresentou a sua família para a minha. E ele não pôde dar a opinião, que ele já tem sobre mim, a ninguém. Nem ao seu pai. Porque todos estão do seu lado! Então ele teve que procurar outro caminho. Achou. O que ele permitiu que fizessem com Tuomas foi jogar contra as regras? Sim. Mas esse é um modo indireto de te afetar, pois vai afetar todo mundo. Até eu quero pegar esse segurança e dar uma boa lição nele. Estou precisando colocar meu jiu-jitsu em dia.

— Mesmo assim, Alex. Eu sinto que deveria estar lá.

— Você tem que seguir o que a sua mãe te falou para fazer. O seu dia vai chegar. Tenha paciência.

E esse era o meu problema! Eu não tinha paciência. Não tinha esse sangue frio de esperar. Quando se tratava da minha família, a minha reação, a minha briga, tinha que ser na hora.

O que não aconteceria hoje.

Frustrada, me sentei na cama e fiquei olhando para a janela, mentalizando tudo o que eu faria, tudo o que eu realmente gostaria de fazer nesse momento.

Para dizer o mínimo, eu sabia que, se fizesse o que se passava na minha cabeça, eu acabaria ou no hospital, ou presa. E mesmo assim, eu faria tudo, pela minha família, eu faria.

— Kat? Katerina?! – Escutei Alex me chamando.

— Ahn? Oi? O que?

— Seu telefone! – Disse e me entregou o aparelho. Antes de atender a ligação de minha mãe, reparei que tinham se passado incríveis três horas desde que ela tinha desligado a última chamada.

Três horas! Eu fiquei pensando em como vingaria o meu sobrinho por três horas.

Balancei a cabeça e atendi a chamada.

— Oi, mãe.

— Olá novamente, Katerina. Alexander está por aí.

Olhei por sobre meu ombro, Alex estava sentado do meu lado, uma expressão indecifrável no rosto enquanto olhava de volta para mim.

— Sim, está aqui do meu lado.

— Tenho atualizações sobre o Tuomas, acho que ele vai gostar de ouvir também.

— É claro. – Antes de colocar no viva voz, avisei para Alex. – É sobre Tuomas. – E depois voltei para minha mãe. – Estamos aqui.

— A cirurgia já acabou, Tanya me ligou agora. Correu tudo bem e estão esperando que todos os efeitos da anestesia acabem para que ele já seja liberado. Foi mais simples do que pensávamos que seria.

— Isso é bom. – Alex disse.

— Vai ficar com alguma cicatriz? – Perguntei.

— Provavelmente só do supercílio aberto. Mas como Tuomas já tinha uma cicatriz ali daquela vez que ele bateu a cabeça em uma árvore, depois de cair da moto, não vai dar para notar muito.

Ao fundo escutamos Elena chamando a vovó.

— Tenho que ir, Elena está acordada agora e querendo saber o porquê de todos estarem estranhos.

— Não contaram para ela?

— Contamos que Tuomas está no hospital porque caiu na aula de educação física. Ela não precisa ficar sabendo da verdade, não ainda.

— Se vocês acham... – Comecei a falar, e Alex apertou a minha mão, chamando minha atenção.

— Nos avise sobre qualquer novidade, Dona Diana, por favor. – Ele disse mais alto para abafar as minhas palavras.

— A Kat está te dando trabalho nas últimas horas, não está, Alex? – Minha mãe matou a charada.

— Só um pouquinho, não sabia que ela poderia ser tão teimosa!

Olhei para ele com cara feia.

— Uma ajuda para você, meu filho. Tire ela de casa. Porque se ela ficar presa, vai ficar murmurando pelos cantos o dia inteiro.

— Acho que vou fazer isso, Dona Diana. Muito obrigado.

— Volto a falar com vocês mais tarde. E Kat, pelo menos dessa vez, deixe que eu resolvo isso. E não dê tanto trabalho à Alex. Ele está tentando te ajudar.

— Tudo bem, mamãe. Até daqui a pouco. – Me despedi e logo tive que encarar meu noivo. – Fiquei muito tempo aérea? – Questionei.

— As últimas três horas, Kat. Primeiro você ficou calada, olhando pela janela, depois começou a ficar agitada e começou a falar sozinha. Não entendi nada, pois não era inglês, e quanto mais eu te chamava, mais agitada você ficava. Por fim, deixei você murmurando por aí. Até que parou, com um sorriso um tanto estranho nos lábios. Quem você planejava matar?

— Três horas?!

— Sim. E você não respondeu à minha pergunta.

— Desculpe-me. É que... é complicado para mim saber de tudo o que aconteceu e não poder fazer nada, não poder falar nada.

— E então você se colocou em uma conversa com seu avô?

— Mais ou menos isso. Eu pensei em tudo o que eu falaria, que eu faria. É uma excelente válvula de escape. – Dei de ombros.

— Entendo. – Alex respondeu e se levantou da cama, começando a mexer nas gavetas da cômoda.

— Procurando por algo específico? Porque eu tenho roupa para passar, talvez esteja lá embaixo.

— É algo específico, mas não vai estar na pilha de roupa. – Disse e depois de remexer na gaveta que eu tinha arrumado durante a semana, tirou de lá o macacão de Neoprene.

— Você vai surfar? Achei que a turma tinha ido na semana passada.

— Eles foram. E estão combinando voltar no feriado de Ação de Graças, passar quatro dias no México, longe das tradições e da Black Friday. E eu já avisei para eles que até meados de dezembro nós não vamos.

— E posso saber o motivo?

— Quanto mais perto do inverno, mais ao sul eles vão. Fica longe e eles saem de madrugada. E nós dois estamos chegando na sexta-feira mais cansados a cada semana.

— Se você quiser ir, não me importo de ficar.

— Kat... eu não vou me levantar às duas da manhã para viajar seis horas, curtir um dia de praia, dormir em qualquer lugar e depois fazer a mesma coisa no domingo. Eu não aguento isso. Se as nossas agendas estivessem mais tranquilas, talvez até faríamos essa viagem para você conhecer as praias. Porém, é sacrifício demais e nós temos dois compromissos chegando.

— Espero que ninguém fique chateado por você não ir.

— Não ligue, nem todos vão. Matt e Emilly estão ficando e Benny também. Às vezes faz bem tirar um tempo.

— Espero que seja verdade o que você está dizendo. – Falei e me levantei, já que ele iria surfar, eu ia dar uma faxina na casa, assim me mantinha ocupada. E comecei pela cama.

— Fazendo o que?

— Você vai surfar, eu vou...

— Você vai junto.

— Nem pensar. A água deve estar um gelo.

— Eu estou te tirando de casa, Kat, como a sua mãe me deu a ideia, além do mais, temos que cumprir uma promessa.

— Que promessa? – Parei no meio do quarto com os cobertores dobrados em meus braços.

— Eu tenho que mandar o vídeo do seu caldo para a sua família.

— É para isso que quer me tirar de casa? Para me fazer passar frio, beber água salgada e se divertir às minhas custas?

— Não seja exagerada. Pense nisso como um meio de divertimento para Tuomas que está de molho por um tempo... Sei que ele vai gostar de ver a tia favorita tomando uma bela vaca!

— Agora chama “vaca”? Céus, cada dia esses nomes ficam piores!

— Anda, vá se arrumar, vamos tomar café na Dottie e depois vamos um pouquinho para o sul.

— Exatamente quanto para o sul?

— Lembra daquele restaurante perto de San Diego? Onde almoçamos?

— Claro. Comida boa e vista bonita.

— Vamos para lá.

Meu estômago vazio deu uma contorcida... eu tinha uma vaga ideia do que me esperava hoje.

E não ia ser nada de bom.

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Era metade da manhã quando Alex estacionou o Jeep no estacionamento do restaurante. Apesar de ter sol, o vento estava bem frio.

— Não sei se é uma ideia muito boa. – Murmurei assim que desci do carro e o vento forte e gelado que vinha do mar bagunçou todo o meu cabelo.

— Foi para climas assim que você comprou aquele macacão, Katerina. Pare de reclamar como uma criança e vá se vestir.

Eu estava com o biquini especial para surf, que Alex havia me presenteado pouco depois que acabei de arrumar a minha mochila, diz ele que eu não corro muitos riscos de ter um acidente com as peças, pois são feitas exatamente de surfistas para surfistas.

E foi aqui que ele colocou umas ideias ridículas e preocupantes na minha cabeça.

E se algo acontecer com o biquini? E se a amarração do meu top simplesmente resolver que não quer mais trabalhar hoje e eu acabar mostrando demais?

Por via de dúvidas, decidi que não ia surfar só de biquini de jeito nenhum. Ainda mais depois que vi o tamanho das ondas. Assim, peguei a minha mochila e tirei o macacão de Neoprene que comprei e corri para vestir. Esse não era um macacão comprido, então estava com metade das pernas e metade dos braços de fora.

Assim que me reencontrei com Alex já na faixa de areia, ele em olhou de cima a baixo e levantou uma sobrancelha.

— Cadê o biquíni?

Abri um pouco o zíper do macacão.

— Por baixo.

— Não gostou?

— Muito pelo contrário. Adorei, mas você não vai ficar me vendo desfilar de biquíni o dia inteiro na sua frente. Primeiro, a água está fria, e não negue isso, pois até você está de macacão. E segundo. Você quer filmar a minha vaca. Eu não sei surfar direito e essas ondas estão fortes, assim, a probabilidade de acontecer um acidente nudístico é altíssima e eu não quero mostrar demais por aí.

— Ponto justo, principalmente a última parte. Vamos deixar o biquíni para quando você já estiver quase profissional e as ondas estiverem bem fracas. – Ele concordou comigo e me jogou um bloquinho de parafina. – Sei que faz muito tempo desde a sua primeira e única aula de surf, então vamos voltar no início.

— A parafina na prancha. – Murmurei e me ajoelhei na areia para começar a garantir que eu não caísse tanto assim.

Pacientemente passamos a parafina nas duas pranchas, logo depois, Alex me fez treinar meu tempo de reação para ficar de pé em cima da prancha. Ele me jurou que ninguém estava prestando atenção em mim, mesmo assim eu me sentia ridícula, ainda mais na presença de tantos surfistas.

Quando ele ficou satisfeito do meu treinamento besta de remar na areia e pular em cima da prancha semienterrada, disse que era hora de irmos para a beira d’água.

A facilidade com a qual ele vestiu o macacão – que ele não saiba, mas eu levei quase dez minutos para entrar no meu! – e depois ficou parecendo realmente um surfista com a prancha debaixo do braço, me deu inveja.

Enquanto ele parecia realmente pertencer àquele lugar, eu tinha certeza de que parecia uma pata andando até a rebentação com a cordinha presa no pé e deixando a rabeta arrastar de vez em quando na areia.

Para meu espanto, ele não entrou de cara na água. Parou ainda no raso e me fez parar ao lado dele. A água estava gelada e eu me arrepiei toda, já me arrependendo de ter concordado em ter saído de casa para estar ali, ao invés de ficar esperando por notícias do meu sobrinho recém-operado.

— Repare em como está o mar. – Alex começou do meu lado.

Quase que eu respondi: “como em todos os dias”, porém, eu comecei a reparar em como as ondas iam e vinham nos meus pés, sempre tentando me levar mais para dentro.

— Está puxando.

— Sim. Nessa praia tem uma corrente muito mais forte do que em Venice Beach. E ela não te puxa para o mar aberto, como você está pensando, ela te puxa sempre para o sul. Nada que te assuste ou que seja perigoso, afinal você sabe nadar. Mas quero que sempre, sempre deixe o bico da prancha, que se chama rocker, apontado para o nosso carro. – Ele se virou e apontou para o Jeep branco. – Assim você não vai se perder e sempre terá um ponto de orientação. Caiu da prancha, tomou uma vaca, volte à superfície, respire fundo e procure pelo restaurante e por nosso carro. Jamais se desespere ou a sua situação pode ficar pior.

Voltei a olhar para o estacionamento, para o local onde nossas mochilas estavam e depois me virei para o mar.

— Tem certeza de que vai dar certo, Alex? – Perguntei um tanto temerosa demais.

— Vai sim. O mar não está tão agitado quanto você pensa.

— As ondas estão enormes. – Comentei e apontei para uma onde um surfista entrava em um tubo.

— Kat, confie em mim. Se o mar estivesse perigoso eu ia te deixar na faixa de areia. E aquele cara que acabou de pegar o tubo, está ensinando o filho dele, o menino acabou de chegar aqui na faixa de areia. – Me fez olhar na direção do garoto. – Ele tomou uma vaca de primeira e está bem. E vamos comentar, é quase uma criança, se um pai fez isso com a cria, você realmente acha que o mar está tão perigoso assim?

Observei pai e filho, já que o homem tinha acabado de demonstrar toda a sua perícia dentro da água e agora dava dicas para o garoto. Exatamente como Alex fazia comigo.

 - Pronta? – Meu noivo me cutucou na cintura.

— Eu quem pergunto, a GoPro está bem presa no seu macacão?

Ele deu uma risada e apontou para o centro do peito, onde tinha agarrado a câmera.

— Tudo funcionando perfeitamente. Agora me segue, vou te mostrar onde ficaremos esperando as ondas. – Ele deu uma corrida e depois jogou a prancha dentro d’água e começou a remar. Fiz a mesma coisa e logo estava remando ao lado dele, pelo menos isso eu conseguia fazer com maestria.

Já estávamos bem longe da faixa de areia, e Alex continuava a remar, olhei meio desconfiada para a distância e logo recebi um tanto de água no rosto.

— Ei! Não faça isso! – Reclamei.

— Nunca se olha para a distância. Não é ela que determina onde as ondas começam. É o mar. E nós vamos remar só mais um pouco.

— Sim, senhor.

Remamos mais uns dois ou três minutos e paramos. Alex se sentou na prancha, eu fiz o mesmo e começamos a olhar para o horizonte. Apesar da água e do vento gelados, a vista ainda era de tirar o fôlego e eu até que agradeci o fato de que Alex estava com a câmera. Talvez fosse possível salvar algumas fotos do vídeo.

— Espero que a sua cabeça esteja nessa praia e não em Londres.

— Está no horizonte. – Falei sem olhá-lo.

— Se importa de explicar enquanto a onda não vem?

— Larga de ser curioso! – Brinquei e ele fechou a expressão. – Estava pensando nas fotos que vou poder tirar do vídeo que você está gravando. A vista desse ponto é ainda mais bonita.

Ele não falou nada, só se virou para o horizonte novamente.

Quando eu já estava quase me deitando em cima da prancha, Alex me chamou.

— Se prepare. Vire na direção da praia, reme algumas braçadas e depois tente ficar de pé.

Olhei para o horizonte e não vi nada, todavia fiz o que ele falou. E na minha cabeça comecei a imaginar as risadas que o pessoal que estava na praia estava para dar.

— Um surfista não se importa com a opinião de mais ninguém. Não pense no que os demais vão achar da onda que você vai pegar, Kat. O segredo é aproveitar a sensação de se poder andar sobre a água. Faça o que você conseguir, é quase como se você estivesse em cima de uma prancha de snowboard, e nos encontramos na faixa de areia. E sempre aponte o rocker para o nosso carro. – Ele corrigiu a minha direção e empurrou a prancha para frente.

Dei algumas remadas e logo senti não precisava mais, pois o mar levava a minha prancha.

Assim, fiquei de pé e torci para que pudesse, ao menos levar a prancha, sem cair, até a areia. Não fiz um papel muito bonito de início, estava mais preocupada em não cair, porém não teve muito jeito... era a minha primeira onda, nunca tinha feito isso e quando a velocidade o mar aumentou e consequentemente a altura da onda, eu caí.

Não vi muita coisa, só tentei não me desesperar quando me senti rodando embaixo d’água e procurei minha prancha para subir à superfície.

Depois de alguns segundos submersa, consegui agarrar a prancha e fui em direção ao clarão, quando tirei a cabeça de dentro da água, ainda sem enxergar muita coisa, tentei me orientar, procurando pelo estacionamento, assim que achei o ponto branco que era nosso carro, me deitei de barriga para baixo na prancha, agarrei as bordas e deixei que mar me levasse para a praia.

Quando ficou raso demais, fiquei de pé e peguei a prancha em minhas mãos, fingindo que nada de anormal tinha acontecido e agradecendo aos deuses que eu estava de macacão, porque eu nem queria saber o que estaria aparecendo agora se eu tivesse tomado essa vaca de biquíni.

Depois de realmente fazer um inventário completo de que eu estava inteira e realmente viva, me virei para o mar. E eu nem preciso dizer o que Alex fazia. Assim, joguei a prancha na areia e me sentei em cima dela, um tanto emburrada demais, esperando que ele acabasse o showzinho.

Não demorou muito e ele saía do mar como o Poseidon, só balançando a cabeça para tirar o excesso de água do cabelo que estava cada dia maior.

Sarcasticamente bati palmas. E quando ele parou na minha frente, chutou um pouco de areia nos meus pés.

— Isso tudo é inveja? – Perguntou todo convencido.

— Não precisava ter me humilhado desse jeito. – Reclamei.

— Você quer a verdade? – Ele fincou a prancha na areia e se sentou do meu lado em cima da minha.

— Que eu não sirvo para esse esporte?

Alex revirou os olhos.

— Muito pelo contrário. Acho que você leva jeito! Ficou muito tempo de pé, só não aproveitou a onda como devia.

— Porque eu caí! – Exclamei.

— Não, porque estava preocupada em não cair! E foi exatamente por isso que, quando a velocidade da onda aumentou, você caiu. Não sentiu o mar sob a prancha. Eu te falei, Kat. Aproveite a onda.

— E como eu vou saber o que fazer, quando eu mal fico de pé?

— Você já começou no snowboard fazendo manobras, pulando os degraus da montanha e, até sob as copas das árvores?

— Não. Comecei no final da pista e fui subindo cada vez mais alto, até que saí da pista de iniciantes e fui praticando... – E aqui eu parei.

— É a mesma coisa no mar, Kat. Ninguém nasce sabendo. Não se aprende a surfar e fazer manobras com uma ida ao mar. Primeiro você vai aprender a remar até a linha das ondas, depois vai saber o momento em que a onda está vindo, aí vai ficar de pé na prancha e deixar que a onda te traga até a praia. Quando você souber tudo isso, quando aprender a sentir o momento em que o mar vai acelerar ou desacelerar, você vai querer dar um pulinho com a prancha, vai querer cortar a onda de forma diferente, e quando você notar, vai estar dando um backflip, pegando um tubo, mas não vai ser hoje ou amanhã. Isso eu te garanto. Leva tempo.

Fiz um bico e tornei a olhar para o mar e a minha reação arrancou uma risada de Alex.

— Bem que seu pai me disse. Você detesta não saber como fazer algo e ver as demais pessoas fazendo e fazendo bem, te irrita. Não que você fique com inveja dos demais, você fica furiosa com você, por não saber!

— Ele disse isso, é?

— Sim, quando tentou me embebedar no bar em Austin. Achei que ele tinha exagerado, mas vejo que não.

Encarei meu noivo.

— Não gosto de ser motivo de piada.

— Mas ninguém está rindo de você nessa praia. Olha quanta gente está aprendendo!

— Só eu!

— Não. Você viu o garotinho. Aquele casal ali. A moça está ensinando o namorado. E ele está tendo mais problemas de equilíbrio do que você e não ficou emburrado por conta disso. – Ele começou a enumerar as pessoas.

— Mesmo assim...

— Eu te coloquei na aula avançada, Kat. Era para estarmos aqui na rebentação e eu te ajudando a ficar de pé na prancha. Mas eu confiei que você sabe nadar muito bem e tem um bom equilíbrio. E você me provou isso. Só está faltando treino, o que não vai acontecer se você for ficar emburrada aqui na areia. Vem, vamos voltar para o mar.

Um tanto de má vontade, acompanhei Alex, que parecia genuinamente feliz pelo fato de que eu não iria desistir de aprender a surfar. Mal sabia ele que eu não desistia. Ou pelo menos que eu iria tentar até que tivesse a certeza de que o mar não me derrotou, eu derrotei o mar. O que, pelo tanto de vezes em que caí durante o dia e metade da tarde, significava que iria levar tempo.

Já eram quase 16:00, estava ficando cada segundo mais frio, mas Alex queria uma última rodada.

— Vá você dessa vez. Eu já estou exausta e com frio. – Tentei apelar com uma carinha de coitada.

— Não. Você vem.

— Lá vou eu tomar outro caldo.

A verdade era que os meus tombos estavam ficando menos dramáticos com o passar da hora. Eu passei a seguir o que Alex me falava, deixei de me preocupar com a opinião alheia e meu foco foi em me manter de pé e alinhada com a praia. Com o corpo mais relaxado, até a prancha deslizou mais facilmente pela água, porém os tombos continuaram. Eu não cheguei na praia em cima da prancha em hora nenhuma.

E essa minha última tentativa de surfar foi até melhorzinha, caí porque a onda ficou pequena e eu me esqueci de abandoná-la a tempo. Aos poucos eu ia pegando o jeito, e tive a certeza de que iria demorar, mas chegaria lá. Quando? Não fazia ideia.

A GoPro tinha sido acoplada na minha prancha logo depois que paramos para almoçar. Assim, não só os meus tombos estavam devidamente filmados, como Alex tinha os vídeos para assistir e tentar corrigir o que eu fazia de errado.

No fim das contas, Alex se provou um excelente professor, entre uma série e outra, ele se sentava na areia ao meu lado, tirava a câmera do suporte e, com uma paciência ímpar, começava a me ajudar a entender o que eu estava fazendo de errado e ainda me mostrava como eu deveria corrigir tanto a minha postura, como os meus poucos movimentos com a prancha.

Sabendo que eu não iria mais voltar para o mar e que ele estava esperando pela onda perfeita, arrumei a GoPro na prancha fincada no chão, de modo que filmaria toda a série de Alex, e corri para as nossas mochilas, atrás da minha câmera. Iria tentar fazer um agrado para meu professor favorito.

Voltei para linha d’água e aguardei o momento em que ele iria começar a surfar de verdade. O mar estava quase praticamente vazio, pois a maré alta estava começando a dificultar a vida dos aprendizes.

Levou um tempinho até que a onda perfeita aparecesse e assim que ele se virou para a praia, eu disparei tanto a GoPro quanto a minha câmera.

Já mais acostumada com a velocidade das manobras no surf, pude fazer o close e o foco preciso para pegar os melhores momentos da onda que meu noivo surfava, e, se eu não fui lá um primor em cima da prancha, atrás da câmera eu tenho certeza de que tirei um belo 10, pois as fotos estavam perfeitas.

— Deu tempo de você tirar fotos? - Alex perguntou assim que parou do meu lado.

— Sim, e particularmente, ficaram muito boas, mas essa aqui... – Mostrei a foto do exato momento em que ele entrava no tubo e a água começava a se fechar em torno dele. O contraste do azul do mar, com o branco e preto da prancha e do macacão que ele usava, fez dessa foto uma maravilha.

— Essa ficou... Céus, Kat! Olha essa foto! – Ele disse empolgado.

— O dia não foi de todo perdido, afinal. Creio que serei obrigada a transformar essa em um quadro.

— E vamos colocar onde?

— Aí é com você. Tem o seu escritório, tem um espaço bem interessante na sala, basta escolher - Dei as opções.

— Vamos escolher depois. Pronta para ir embora?

— Precisando. Eu estou só o pó hoje.

— Esse era outro dos meus objetivos. Te cansar. Anda, vamos tomar um banho ali e depois, enquanto nos secamos, podemos comer mais alguma coisa. – Ele me guiou até as nossas coisas e depois que guardamos o que precisava no carro, até o restaurante.

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 Nossa viagem de volta foi tranquila, eu lutei contra o sono que queria me pegar, assim, fui me atualizando sobre o que acontecera durante o dia. Desde o treino classificatório do GP do Brasil, até se tinha novidades de Tuomas.

Minha mãe, sensatamente, não tinha mandado mais nada. E isso significava que meu sobrinho estava bem e que ela tinha tudo sob controle. E era um aviso para mim também, e me dizia que ela estava no comando, que ela iria resolver isso.

Já em casa, depois de tomarmos um banho de verdade e de darmos uma voltinha pelas redondezas com nossos cachorros que ficaram sozinhos por todo o dia, acabamos a noite comendo nosso jantar, sentados no chão do meu escritório, vendo os vídeos dos meus tombos.

— Seu pai vai gostar desse! – Alex disse rindo.

— Só ele?! Kim vai acabar comigo! Eu saí toda torta da água! – Entrei na risada. Na hora não tinha sido nada engraçado e eu acabei por beber muita água, mas vendo o vídeo agora... céus! – Como você não riu de uma coisa assim? Eu caí igual a uma jaca dentro d’água!

— Eu estava mais preocupado com você do que em prestar atenção em como você caía, Kat. Você pode achar que não, mas eu só voltava a respirar quando você colocava a cabeça na superfície. Foram segundos de terror para mim também.

Dei um beijo na bochecha dele.

— E isso foi?

— Por toda a preocupação que te cause.

— Só isso. Eu ganhei até cabelo branco por causa disso! – Ele reclamou.

— Larga de ser exagerado! Estou te deixando escolher os três melhores vídeos ou os tombos mais engraçados para que você coloque no grupo da família! E você sabe o que isso vai virar não sabe? Todo mundo vai cair matando em cima de mim!

— Então vão ser três agora! – Disse com um sorriso diabólico. – E eu escolho...

Alexander nem falou nada, só mandou os três vídeos que mais feriam o meu orgulho, pois não tinha dignidade nenhuma no modo como eu caía da prancha. Tudo sob a seguinte legenda:

Como eu havia prometido, aqui vão os tombos da Kat. E antes que perguntem, sim ela está viva e ainda vai fazer a alegria de vocês mais algumas vezes.

— Pronto! Agora é só aguardar a chuva de comentários.

Eu, sabiamente, coloquei meu celular no silencioso. Só não foi direto para o modo avião, porque minha mãe poderia resolver mandar alguma mensagem ou ligar.

E não demorou dez minutos, começou a chuva de comentários começou.

— Você criou um monstro! – Murmurei ao ver algumas das mensagens de Kim e Will.

E a conversa no grupo não parava, e quando já estávamos deitados, uma nova leva chegou, Alex, curioso, só ria das mensagens. E gargalhou alto quando meu pai respondeu aos vídeos, dizendo que foi operado um milagre. Milagre por eu ter entrado dentro do mar e um ainda maior por eu ter deixado que Alex postasse esses vídeos no grupo.

A última mensagem da noite foi de Vic:

Eu vou montar na sua alma na festa de Natal, Katerina! Você não perde por esperar.

— É, Alex, olha o que nos aguarda em dezembro! – Murmurei.

E meu noivo, o rei da cara de pau, só me abraçou apertado, e ainda rindo às minhas custas, só me fez a seguinte pergunta:

— Sabe o que é melhor do que seus tombos?

— Não.

— O fato de que você ficou do meu lado o dia inteiro, fazendo algo que até então, só eu gostava entre nós dois, Kat. Obrigado pela companhia. E pelas risadas.

— Não se acostume com elas, um dia os tombos serão raros!

— Estou contando com isso! Agora, o que vamos fazer no domingo?

— Dormir, arrumar a casa, passar roupa, verificar se a Pepper está viva, ir jantar na casa de seus pais. – Fiz a lista.

— Esquece, vamos só dormir por enquanto, Surfista. – Ele falou no meu ouvido.

— Nem pensar, você é o Surfista aqui, o Surfista Tatuado! Nada de mudar os apelidos. – Chiei.

— Tem razão, você ainda combina mais com Rainha do Gelo. Mas um dia vira a Sereia! –  Ele me respondeu já quase dormindo.

— Mas já está assim? – Perguntei dando um beijo no alto de sua cabeça.

— E se você continuar com o carinho, durmo ainda mais rápido.

— Manhoso.

— Seu manhoso preferido. – Alex disse e se deitou com a cabeça em minha barriga. – E pode continuar a mexer no meu cabelo.

Minha vontade era parar de mexer nos cabelos já quase grandes dele, mas, como ele mesmo vivia me falando, eu não resistia.

Rakastan sinua, Surfista. Hyvää yötä!— Falei baixinho, já que ele parecia já ter apagado de vez.

 

[1] Vovô

[2] Obrigada.

[3] Mãe.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente: eu não entendo nada de surf, o que coloquei aqui foi pesqusiado em blogs e sites sobre o tema, se estiver errado e alguém quiser me corrigir, fiquem à vontade.
Como eu falei no início, a treta estava só começando... e Matti vai escutar de muita gente.
Espero que tenham gostado do capítulo, uma ótima semana para vocês, e antes de me despedir de verdade, gostaria de agradecer a todos que estão lendo essa história e dizer um MUITO OBRIGADA gigantesco para cara um de vocês que tirou um tempinho para comentar!! Isso me deixa muito feliz!!
Agora sim, até o próximo capítulo.
xoxo



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