Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 68
Preparativos


Notas iniciais do capítulo

Chegando um pouquinho mais cedo com este capítulo.
Sem muito o que dizer, só que a apresento a vocês,os três protagonistas caninos dessa história!
As fotos dos cachorros não são minhas, créditos aos donos, só a montagem é minha!
Tenham uma ótima leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799284/chapter/68

 

 

 

 

Minha quarta-feira passou praticamente voando, entre ser obrigada a mandar cada uma das mais de trezentas fotos que tirei no último final de semana, mais as fotos dos passeios que Olivia fez por aqui e eu tirei sem ela ver, e ainda receber reclamações devido ao excessivo número de fotos do meu piloto preferido, estudar e resolver os últimos detalhes do Caso Mancini, supervisionar o escritório como todo e fazer o meu trabalho diário, só fui parar realmente quando me sentei dentro do meu carro para ir embora.

Alex tinha avisado que, de hoje até o fim das gravações, ele só chegaria em casa tarde da noite, e ainda disse que não era para que eu o esperasse acordada.

Coitado dele se ele achava que eu iria ouvi-lo em algo assim.

Saí do escritório com a intenção de ir até o supermercado, amo meu noivo, mas ele não era a melhor pessoa do mundo para se mandar às compras, então tomei essa tarefa como pessoal e me encarreguei de encher a despensa. E mesmo que eu tenha tentado fazer hora no supermercado, ainda cheguei em casa com tempo livre.

Arrumei a casa, fiz o jantar, adiantei o nosso almoço para o dia seguinte e me vi parada no meio da sala, com as mãos na cintura procurando por algo para fazer, sendo encarada pelos três cachorros, que tinham acompanhado os meus passos desde que entrei em casa.

Meu escritório ainda não estava montado, então eu não tinha um lugar confortável para trabalhar, e trabalhar na cozinha não valia à pena, pois eu comia o tempo inteiro, na sala, eu acabava me distraindo com a TV, foi quando eu me lembrei da moto de Matt.

— Tem aquilo para arrumar! Pelo menos algo para fazer!

Já estava com uma roupa mais velha, assim só busquei por um par de luvas para não estragar as minhas unhas ou machucar as mãos e fui para a garagem.

Dentre todas as coisas que tive que despachar na minha mudança, estava o presente mais inusitado que uma garota pode ganhar no aniversário de 18 anos.

Uma caixa de ferramentas automotivas.

Meu pai não comprou um carro novo para nenhum dos filhos quando tiramos nossas carteiras de motorista, ele sequer nos ajudou a comprar, mas quando compramos, o presente dele, além de uma aula completa sobre mecânica, foi uma caixa de ferramentas completa.

A minha, que é cor de rosa com branco, veio até estilizada com os cabos em roxo com glitter, bem patricinha mesmo, ou como meu pai me disse quando me entregou o presente, “A Caixa de Ferramentas da Penélope Charmosa”. E, pelo visto, Alex não tinha se dado o trabalho de ver o que tinha dentro dessa caixa tão de garota, pois se tivesse visto, não teria quase arrebentado a correia da moto com a ferramenta errada que ele tinha deixado separada.

Antes de começar a trabalhar, abri meu carro e liguei o som, deixando minhas músicas tocarem alto e ecoarem pela casa vazia.

— Não sei quem é mais irresponsável, Matt que entregou uma moto idosa para o psedo mecânico ou Alex que aceitou fazer um trabalho que ele, claramente, não sabe fazer. – Murmurei sozinha.

Me sentei no chão, Thor, Loki e Stark vieram e se deitaram perto de mim, e estavam observando atentamente tudo o que eu fazia, e comecei a analisar as peças, vendo que Alex tinha, definitivamente, estragado algumas e outras necessitavam de serem trocadas.  Particularmente, eu trocaria toda a moto, pois além de velha, ela parecia um Frankenstein, de tanta peça trocada que não era original, mas sim meros “recursos técnicos” para manter a velhinha de pé e funcionando precariamente.

E entre ajeitar uma mangueira, que estourou na minha cara, anotar que eu precisaria comprar outras peças, alguém chamou o interfone.

Perkele[1]! Logo agora! – Xinguei e dei uma olhada no meu estado lastimável, eu estava imunda da cabeça aos pés.

Cheguei no interfone da garagem e atendi, rezando para ser só escoteiras vendendo biscoitos. Não era. Eram Matt, Benny e Grant. Não tinha jeito, tive que abrir.

— Podem entrar. – Falei e, sem tempo para tentar me fazer apresentável, encontrei com os três no meio do caminho.

— Fala irmãzinha! – Matt me cumprimentou, porém, assim que viu a minha sujeira. – O que aconteceu com você!?

Grant, tentando fazer piada, soltou:

— Caiu dentro do motor do seu carro?

— Ahn. Oi! Boa noite para vocês! Não, não caí dentro de motor nenhum. – Tentei explicar.

— E por que tão suja, Garota que Veio do Norte?

Apontei para a moto parcialmente desmontada.

— HAHA! O Alex te colocou para limpar as peças?

— Não, Grant, o Alex não está! Ainda no set. – Contornei a pergunta.

— É você quem está arrumando a minha moto!? – Matt perguntou espantado.

— Sim. Alex estava mexendo no lugar errado. Não tem nada de errado com o motor, era a mangueira de combustível que estava entupida. Mas tem mais algumas coisinhas para trocar ali.

Os três homens me olharam estupefatos.

— Você sabe mexer com motor de moto? – Grant perguntou abismado.

— Sim. Meu pai é engenheiro mecânico. Cresci vendo-o mexer nos carros e motos da família. – Expliquei.

— E foi ele quem te deu essa caixa de ferramentas ou você comprou para que ele não mexesse no que é seu? – Benny perguntou rindo ao levantar a chave de roda com o cabo roxo.

— Ele me deu.

Os três olhavam da moto desmontada para a caixa de ferramentas e depois para mim.

— Quem te vê nesses carrões aqui, não imagina. – Matt comentou. Grant ainda me olhava meio de lado. – E o que falta para que ela fique nova?

— Nova ela jamais será. – Fui sincera. – Seu “mecânico” fez um péssimo trabalho. Mas dá para salvar. Amanhã saio para comprar as peças que faltam e creio que no final de semana termino o conserto.

— Sem o Alex te ajudando? – Benny ria da situação.

— Ainda bem que ele é ator e surfista, porque se fosse viver como mecânico, passava fome.

Foi aqui que o doidinho riu ainda mais.

— Mas, tirando a moto, que claramente ainda está no Departamento Médico, precisam de mais alguma coisa?

— Nada, na verdade a gente sabia que a moto nem estaria pronta, Alex enrola para estragar ainda mais a coitada. Só passamos pra encher a paciência de vocês e saber se vão na praia no sábado. – Matt disse, se agachando ao lado da moto e analisando as peças.

— A Emilly me fez a mesma pergunta na segunda, e eu continuo não sabendo a resposta. Não sei até que horas Alex vai trabalhar e pouco estou conversando com ele durante o dia. Vocês vão para onde?

— Sul, atrás de águas mais quentes. Se vocês forem, diz para ele que é a primeira praia depois que se passa a fronteira. Já cansamos de ir para lá. E conserta a minha moto direito. Ela um dia será parte do museu da minha família.

— Te prometo entregá-la em pleno funcionamento, Matt.

— Valeu, irmã!

— Não há de que!

— Só uma pergunta. – Grant nos interrompeu. – Você diz que sabe consertar motos, mas não vi nenhuma moto de motocross, que seja sua, por aqui. Só a de Alex e essa Ducati. – Ele deu a volta na minha moto e analisou-a por inteiro.

— Bem... a minha não está aqui. Ficou na Europa.

Grant não pareceu acreditar na minha resposta, contudo não comentou mais nada, e logo os três se foram, já que Alex não estava por aqui para que ficassem até tarde conversando.

Voltei a ficar sozinha, agora encaixando o quebra-cabeça que tinha virado essa moto, já estava tudo mais ou menos no lugar, só faltando encaixar as peças que eu compraria no dia seguinte, quando Alex, enfim, chegou.

— Boa noite, Dona Mecânica! Achei que você iria me esperar para trabalharmos nisso juntos. – Ele veio me abraçar, porém o impedi de fazê-lo, afinal eu ia acabar manchando a roupa dele.

— Estava à toa. Aí resolvi adiantar. E ainda bem, porque o mecânico que andou mexendo nisso aqui fez um péssimo trabalho.

Alex começou a olhar para cima, fingindo não saber quem era o culpado pelo estado lastimável da moto, além do dono, é claro.

— Nada a declarar quanto ao péssimo trabalho do mecânico? – Perguntei ficando na ponta do pé para nivelar nossos olhos.

— Sei de nada sobre o que você está falando aí! – Ele riu. – Já está acabando?

— Na verdade, sim. Tenho que comprar mais algumas peças, aí ela ficará alguns anos mais nova.

— Ótimo! Então vamos entrar porque você pode estar ligada na tomada igual a Elena, mas eu estou morto.

— Dia puxado assim no set? – Perguntei enquanto arrumava as ferramentas. Alex parou atrás de mim encarando a caixa.

— Então era isso que tinha aí dentro? A sua caixa de ferramentas parece mais a caixa de ferramentas da Penélope Charmosa! – Ele exclamou.

— Culpe seu sogro por isso. E só para constar, é assim que meu pai chama essa caixa.

— Foi o seu pai quem comprou isso para você? O seu pai te deu – Ele apontou para a caixa e as ferramentas.

Comecei a rir.

— Sim, ele me deu. De presente de 18 anos.

— E eu achando que a Penelope Charmosa da família era a Elena. Estava errado. Você é a precursora do que as suas sobrinhas fazem!

— Bem menos, Alexander. Bem menos.

— Mas, por que seu pai te deu uma caixa de ferramentas?

— Porque ele disse que não nos daria o carro. Aí quando compramos os nossos, esse foi o presente.

— Seu pai é um homem muito sábio. Tenho que dizer isso a ele. Só errou na cor da caixa.

— E por que ele erraria na cor da caixa, sendo que ela é para mim?

— Porque eu não posso surrupiar essas ferramentas para mim!

— Então ele não errou. Ele acertou. E ainda teve um toque de futurologia nesse presente. – Constatei quando acabei de guardar tudo e arrumei a garagem, fechando o portão atrás de mim.

— Ele complicou a minha vida, porque a minha caixa de ferramentas não tem nem a metade do que tem a sua, e se eu roubar alguma ferramenta, você vai saber que é sua!

— Meu pai pensa em tudo. – Brinquei.

— Espero que ele tenha pensado em te dar uma dica sobre o que vamos comer no jantar.

— Já está pronto. Ou melhor, encaminhado. E antes que eu me esqueça. Benny, Matt e Grant estiveram aqui te procurando! Acho melhor você ligar para eles. Querem saber sobre ir surfar nesse final de semana.

— Já fiquei sabendo. Matt me avisou que trocou de mecânico e que é para eu ficar longe da moto dele.

— Eu não vou contar para ele se você me ajudar. – Prometi.

— Vou conversar com eles enquanto você toma um banho. E, só curiosidade, o que aconteceu com você para ficar nesse estado lastimável?

— A mangueira de combustível entupida cismou de desentupir em cima de mim, bem na minha cara. Aí fiquei essa beleza que você está vendo aqui.

Alex deu uma risada.

— Só você mesma para tomar um banho de graxa e combustível e ficar de bom humor, Kat. Só você!

— Estou mais do que acostumada, Alex. Você não faz ideia do que meu pai já me fez arrumar e o que minha vida de piloto já aprontou comigo.

— Pretendo descobrir, afinal, vou conhecer seu copiloto em breve.

— Sim, você vai, e te garanto que vovô vai adorar te contar as nossas peripécias dentro de um carro de rally. Agora, eu realmente vou para o banho e não mexa nas panelas! – Adverti e subi correndo para tentar tirar a graxa que tinha se agarrado em mim.

—-----------------------

O restante da semana não foi muito diferente da minha quarta-feira, a mesma quantidade excessiva de trabalho, os preparativos para a Reunião do Conselho e a tão temida reunião com Londres.

Estava até um pouco distraída com o grupo da família quando Matti e Cavendish apareceram na tela,

— Boa tarde, senhores. – Saudei-os ao largar o celular.

De início me perguntei o motivo de Cavendish estar nessa reunião, afinal, nas últimas ele não tinha dado o desprazer de sua presença.

— Boa tarde, Katerina! – Veio a saudação de Matti. – Como estamos com o Caso Mancini?

— O RH, juntamente com o jurídico e o Financeiro, me entregou o relatório final ontem à tarde.

— E por que ainda não está em nossas mãos aqui em Londres? – Cavendish me interrompeu, porém eu continuei a falar no ponto em que eu parara.

— Pediram, antes que mandasse toda a documentação para Londres, que eu fizesse uma conferência nos dados apresentados, afinal se trata de assunto que, com certeza, resultará em um processo, assim, nenhuma informação incorreta ou que tenha a possibilidade de ser mal interpretada pode aparecer. Posso não entender muito de finanças, todavia, tudo está tão bem explicado que foi desnecessária qualquer correção até o presente momento. Terminarei de ler o relatório ainda hoje e, estando tudo correto e comprovado pela documentação que ali juntaram, encaminharei imediatamente para os senhores.

— Alguma prova realmente contundente, Katerina?

— Várias, senhor. Inclusive transferências mensais feitas diretamente para a conta pessoal de Mancini, com os valores exatos do que era descontado dos demais trabalhadores.

— Não tiraremos conclusões precipitadas antes do seu parecer final, porém, estou considerando começar uma auditoria em cada um dos escritórios que temos para verificar possíveis problemas.

Balancei a cabeça de forma afirmativa. Essa auditoria, além de não ser barata, iria chacoalhar com as estruturas da empresa.

— Assim, me encaminhe esse relatório o mais depressa possível, que marcaremos uma reunião envolvendo os setores responsáveis por ele e você.

— Sim, senhor.

E depois dessa, Cavendish ficou calado, só balançando a cabeça como se não concordasse de ter sido preterido, ou estivesse preocupado com algo.

Duas horas depois, com o fim da reunião, pude, enfim, dar uma descansada e uma respirada, o que não durou muito, afinal, Amanda estava entrando e saindo com relatórios e resumos que não paravam de chegar.

— Isso tudo aqui é para a reunião do Conselho? – Ela me perguntou quando pedi que ela colocasse o que tinha nos braços em uma pilha dedicada ao tema.

— Sim. Estou fazendo a revisão dos pedidos de cada setor desse escritório antes da reunião, com tudo isso pronto, poderemos colocar no relatório final o que levarei para Londres.

— Caramba. Isso dá muito trabalho. – Ela comentou.

— Nem tanto se você for organizada. Parece muita coisa, porém cada chefe de setor já deixou tudo mais ou menos organizado. Essa conferência e a reunião geral serão apenas para confirmar o que precisamos e se não apareceu mais nada nas últimas semanas.

— Entendo. Mesmo assim, é trabalhoso.

Comecei a rir.

— É algo que você se acostuma, Amanda.

— Então tem muito tempo que você faz isso?

— É a primeira vez que organizo a pauta de um escritório. Mas estou participando no Conselho há quase 10 anos, então sei o que realmente é importante ou não para ser discutido lá.

— Você ainda estava na faculdade quando começou a trabalhar nessa empresa?

— Eu estava no Ensino Fundamental quando comecei a trabalhar aqui. Tinha 12 anos.

— DOZE? Você não teve infância?! – Ela se assustou.

— Eu tive, Amanda. Comecei trabalhando nas férias de verão, como garota de recados e, à medida que crescia, ia mudando de função e aumentando a responsabilidade.

— Ah! Que susto! Achei que tinham te escravizado desde sempre.

— Não seja exagerada!

— Só a minha opinião. E vou te deixar trabalhar, porque isso aqui só está crescendo e crescendo! – Apontou para a pilha de relatórios e saiu dando tchauzinho.

— No dia em que descobrir que eu não faço só a administração do prédio, você vai chorar, Amanda. – Murmurei quando a porta se fechou atrás dela.

Mergulhei no que tinha que fazer e tentei ignorar o fato de que hoje eu ainda não tinha conseguido conversar com meu noivo. Ele tinha saído mais cedo do que de costume e o único momento em que pude vê-lo foi enquanto ele tomava café e eu fazia companhia a ele, e isso foi às 05:00 da manhã!

Acabei de ler a pasta do Caso Mancini, fiz o meu parecer de Diretora Executiva do Escritório e encaminhei tudo para Londres. Essa era a próxima dor de cabeça que me esperava.

Escutei Milena e Amanda já falando em encerrar o expediente, resolvi fazer o mesmo e, ao invés de ir para casa, fui atrás das peças para a moto de Matt.

Chegando em casa, fiz a mesma rotina do dia anterior, com a diferença de que hoje era a minha avaliação no Estúdio de Pilates.

Peguei minha bolsa de ginástica, joguei o que iria precisar lá e fui a pé até o local, já que nem era tão longe assim.

Assim que dei meu nome na recepção, escutei uma voz bem conhecida me chamando, me virei e dei de cara com a minha sogra.

— Oi, minha querida! Como você está? – Como de costume ela já veio me abraçando e dando um beijo na minha testa.

— Boa noite, Dona Amelia! Eu quem pergunto, já deu para descansar da loucura do final de semana?

Minha sogra riu da pergunta.

— Já estou pronta para a próxima, quando vai ser? – Brincou e trocou de assunto. – Pelo visto resolveu vir fazer exercícios aqui também.

— Não diria que resolvi. É necessidade mesmo. Tem um mês e meio que deixei as aulas, vamos ver como estou.

Dona Amelia me deu um tapinha na bochecha e só falou:

— Só não me humilhe muito, fiquei sabendo com que fizeram com William e a corrida na praia.

Fiz cara de paisagem.

— Você e Alex não têm jeito mesmo! E falando no meu mais velho, ele ficou em casa resmungando por ter sido deixado sozinho?

— Não. Ainda no set do comercial. Creio que hoje é um dia longo para eles.

— Gravação desde o nascer do dia?

— Sim. Ele saiu era 05:15 da manhã e ainda não deu sinal de vida. – Comentei.

— Se acostume, minha querida. Se acostume. Vida de set é assim. – Ela me aconselhou.

Nos separamos e foi iniciada a minha avaliação. A boa notícia, tinha vaga todos os dias às 19:00, a má notícia, cinco semanas parada tinham surtido efeito para pior.

Marquei os meus horários de aulas, que coincidiriam com os de minha sogra e fui liberada. Já sofrendo em antecipação o tanto que eu vou ficar dolorida nas próximas semanas.

Fiz meu caminho de volta correndo, estava precisando disso e mesmo depois de correr um pouco além do que eu planejara no início, voltei para casa e não tinha ninguém.

Estava tarde demais para montar a moto, afinal era um trabalho complicado e que tomaria tempo e paciência demais. Assim, tomei um banho, coloquei uma roupa qualquer e fui aproveitar a rede que tem no jardim de trás, fiquei deitada ali tempo suficiente para começar a cochilar e mesmo não querendo, me vi obrigada a sair do meu momento paz e tranquilidade, afinal a noite já ia alta e nada, nenhum sinal, do meu noivo. Nem uma mísera mensagem. E a última vez que isso aconteceu, ele foi parar no hospital.

Assim, resolvi mandar uma mensagem, já eram 22:30, ele tinha que me dar um sinal de vida! Fiquei esperando a resposta e nada.

Resolvi entrar e acabei em um dilema. Jantar ou não jantar? Eu não gostava de comer sozinha e me deixava com um sentimento de culpa saber que Alex chegaria com fome e eu já tinha jantado.

Olhei para Loki, que me encarava com a cabeça tombada, como se ele estivesse tentando ler meus pensamentos.

— Não, Loki, eu não sei o que vou fazer.

Meu cachorro se sentou na minha frente, com as orelhas em estado de alerta e logo Stark começou a correr igual um foguete até a porta e Thor, tentando segui-lo, acabou batendo o focinho na parede de vidro e fez um escândalo.

Fui até onde o Estabanado estava deitado, e mesmo contra a vontade dele, peguei seu focinho em minha mão. Não tinha nada de anormal ali.

— Isso é para você aprender a olhar por onde corre, seu Lesado! – Dei um beijo no focinho dele.

— Escutei um cachorro ganindo, foi aqui? – Alex perguntou da porta.

— Sim. Thor enfiou a cara na parede de vidro, e não finja que isso é inédito, porque sabemos que é bem a cara dele fazer isso. – Respondi e fui me encontrar com ele. – Como foi seu dia?

— Terminamos o primeiro dos três comerciais. E só demorei tanto assim, porque o diretor e o pessoal do marketing se desentenderam sobre alguns detalhes que não fizeram diferença nenhuma. – Ele me abraçou e ia me beijar quando escutamos outro ganido. Olhamos na direção do som e lá estava Thor agarrado entre o pé do piano e a parede.

— THOR! – Gritei e fui resgatar o cachorro, que assim que se viu livre foi pular aos pés de Alex.

— O que deu nele hoje? Comeu ração estragada ou batizada?

— Não faço a menor ideia. Deve ser a velhice atacando. – Comentei. – Vai guardar as suas coisas que eu vou terminar o jantar.

— Você ainda não comeu? – Alex parou no meio da escada e Thor bateu nas pernas dele. Nós dois só olhamos para o cachorro que estava atacado nessa noite.

— Não, Alex. Recebi a sua mensagem, mas não pense que vou te deixar jantar sozinho.

Ele só me abriu um sorriso enorme e saiu galgando os degraus de dois e dois, com Stark correndo junto com ele até o quarto e Thor tentando acompanhar.

Alguns minutos depois, meu noivo voltou para a cozinha, e como eu já tinha deixado tudo arrumado, ele teve que se contentar em apenas se sentar e comer.

— Vi que você comprou o restante das peças da moto. – Alex falou de boca cheia. – E a propósito, isso aqui está muito bom!

— Muito obrigada. E sim, comprei.

— E por que ainda não montou?

— Vai demorar para montar, e já estava tarde quando voltei do pilates.

— Vai finalmente voltar a fazer?

— Vou, e no mesmo horário de sua mãe.

— Vou ter alguém de olho em você. – Ele deu um sorriso de lado. – Vou pedir um relatório completo sobre seu desempenho para a sua sogra.

— Coitado de você, creio que a sua mãe jamais bancaria a fofoqueira.

— Não mesmo. Ainda mais com você! Sabe que ela te adora, não sabe?

Senti meu rosto corar na hora.

— A recíproca é verdadeira. Sua mãe tem sido uma mãe para mim, desde que a conheci e não tenho palavras para descrever como sou agradecida por tudo o que ela fez por Olivia.

— Eu te disse, você, Liv e toda sua família, já fazem parte da minha família.

— Obrigada, de verdade. E te agradeço mais ainda por não ter saído correndo quando conheceu todos no último final de semana.

Alex, bobo como sempre, só me soltou a seguinte resposta:

— Fico feliz que ninguém me arremessou na pista. Porque pelo que você andou me preparando, achei que vinha coisa muito pior.

— Não se esqueça, Senhor Convencido, que é sempre bom preparar a pessoa para o pior cenário possível.

— Sua psicologia doida funcionou perfeitamente. E agora, qual vai ser a tática para Londres? – Perguntou quando começamos a lavar as vasilhas.

— Não sei. É você quem tem que preparar um discurso, afinal vai pedir a minha mão em casamento.

E Alexander só fez uma cara estranha.

— Ou você desistiu dessa ideia?

— Não. Não desisti. E nem precisa ficar felizinha porque não vai ter A Conversa com o papai e com a mamãe, porque vai.

Tive que rir, olha as ideias que passavam pela cabeça de meu noivo!

— Creio que essa conversa vai vir um pouco tarde, não é mesmo? – Cutuquei a barriga dele.

— A julgar pela cara que seu pai fez quando nos viu na porta do quarto, sim, a conversa vai vir tarde. – Ele concordou.

Acabamos de arrumar tudo e subimos para o quarto, e quando enfim saí do banheiro, já pronta para me deitar, meu noivo já tinha dormido há tempos.

— Boa noite, Alex. Rakastan sinua!

Ele só se remexeu, como que me dando espaço para deitar e assim que sentiu a minha presença, me abraçou e me levou para perto dele.

—----------------------------

 Finalmente a sexta-feira tinha chegado e acabado, todo o meu calendário, cada dia mais frenético, tinha sido cumprido e depois de uma das mais dolorosas aulas de Pilates que tive na vida, finalmente estava em casa.

E antes mesmo que eu parasse o carro, notei que as luzes da casa estavam acessas.

Pelo menos por um dia nessa semana, meu noivo tinha chegado antes de mim.

Só que o carro dele não estava na garagem, muito pelo contrário, o carro que estava parado na vaga não era outro senão a caminhonete de meu sogro.

E meu sogro, dentro de nossa casa, sem aviso, só me fez pensar em uma coisa:

Algo acontecera com Alex.

Conferi meu celular, não tinha nenhuma mensagem de ninguém, a não ser no grupo da Família. Assim, estacionei o carro de qualquer jeito e subi correndo os degraus da entrada e, quase gritando, chamei pelo Sr. Pierce.

— Oi, Kat. Boa noite! – Ele disse calmamente.

— Boa noite! Está tudo bem? – Ainda estava nervosa, mesmo que a postura dele fosse relaxada.

— Na verdade, a minha intenção era sair antes que você chegasse, mas pelo visto você dirige tão rápido quanto Alexander. Venha comigo.

Segui meu sogro um tanto desconfiada e só depois que percebi para onde estávamos indo que eu relaxei.

— O senhor já terminou? – Perguntei animada.

— Ainda não, vai fazer bem ter uma ajudante.

— Mas é claro! Só um minutinho! – Pedi e sai correndo para o quarto para me trocar e, em menos de cinco minutos, estava ajudando o meu sogro a montar o meu próprio escritório.

Lógico que, como eu não entendo nada de montagem de móveis, ajudei no que foi possível. Porém, meu sogro tem tanta paciência para ensinar, que logo eu estava furando parede, colocando prateleiras no prumo e, o mais incrível, sem martelar nenhum dedo!

— Então quer dizer que você pode montar um motor, mas não sabe montar um móvel? – Sr. Pierce perguntou rindo, quando, por acidente, deixei o martelo cair no meu pé.

— É, para o senhor ver!

— Não se pode saber fazer de tudo com perfeição, porém você tem que aprender.

Fiz uma careta. Aprender toda essa matemática de montar e encaixar não era muito a minha praia.

— Claro que leva tempo. Alex martelou muito prego no dedo para conseguir fazer o que faz hoje. Will também.

— Quer dizer que os dois também sabem fazer isso? – Apontei para a minha mesa que já estava montadinha no lugar.

— Sabem. Alex não comentou com você? Até achei que ele que iria querer fazer isso aqui.

— Não. Ele não falou. Quando ele me mostrou esse cômodo e eu comecei a ter as ideias sobre o que eu queria, ele simplesmente me disse que conhecia a pessoa perfeita. Era o senhor.

Meu sogro fez uma cara engraçada.

— Algum problema? – Indaguei diante da sua feição.

— O problema é esse seu pé ficando roxo. – Ele apontou para o meu pé.

— Passa. Já caiu até chave de roda em cima dele e ele está firme e forte no lugar. – Fiz piada, porém, no fundo eu sabia que a expressão dele não dizia respeito sobre o meu pé, parcialmente estourado e, tão certo quanto o sol vai nascer de novo, mais cedo ou mais tarde eu ia saber a verdade!

Dona Amelia chegou não muito tempo depois disso e foi logo pegando uma cadeira e se sentando em um canto, dizendo que estava ali para supervisionar a montagem e garantir que os trabalhadores não fossem ficar enrolando.

Voltamos aos móveis e meus sogros não conseguiam ficar calados, e começaram a me contar as peripécias dos filhos, desde o momento em que começaram a ajudar o pai na arte de mexer com madeira, até quando se interessaram pelo que fazem hoje.

E entre outras tantas, teve uma que realmente me fez rir. Eu ri tanto que tive que parar o que fazia para respirar. E foi nessa pausa das minhas risadas, que Alex chegou.

— Qual é a piada? Quero rir também! – Ele parou na porta do cômodo e olhou para o que já tinha sido feito. – Boa noite, pai! – Cumprimentou o pai e foi na direção da mãe para abraçá-la. - Boa noite, mãe.

— Você é a piada, Alexander. – Minha sogra respondeu simplesmente, depois de dar um abraço no filho.

— Alguém quer me explicar? – Ele disse meio injuriado.

— Nada demais. Só quando você se prendeu no meio do móvel que estávamos montando e só se deu conta disso quando tudo já está no lugar. – Sr. Pierce explicou.

— Você quase virou parte da mobília.

— Eu me lembro desse dia, mãe. – Alex falou e eu estava tentando não rir, mas era impossível, pois eu estava imaginando a cena.

— Uma pena que na época não tinha celulares com câmeras... o registro teria sido hilário. – Comentei.

— Você, Kat, é a última pessoa que pode falar algo. – Alex desconversou.

— E posso saber por quê?

— Seu pé. Você não deve ter feito quase nada, e já está com o pé roxo.

Escondi meu pé esquerdo atrás da minha perna automaticamente.

— Eu fiz muita coisa. – Defendi meu trabalho árduo.

— Imagino que sim. – Ele desfez do meu trabalho. – Precisando de um ajudante com experiência, pai?

Olha a cara de pau da criatura!

— Achei que você não iria se prontificar, ainda mais depois de ter ajudado a desenhar os móveis. – Dona Amélia falou. Encarei Alex, que olhou para mãe e depois para mim. – Não era para contar para ela? Me desculpe!

Eu não disse que saberia a verdade? Tenho que agradecer ao fato de que minha amada sogra tem a língua meio solta quando se trata dos segredos do filho sobre mim.

Alex, pediu licença e foi tocar de roupa, e todo mundo escutou o que ele dizia enquanto subia murmurando o fato de que a mãe dele não sabe guardar segredo nenhum.

— Se não fosse eu, ele ia acabar contando. É tão fofoqueiro quanto eu. – Minha sogra disse rindo. – Isso ainda vai demorar muito, Jonathan?

— Com a Kat e o Reclamão me ajudando, não.

— Ótimo! Vou fazer o jantar. Você não se importa de mexer nas panelas por aqui, se importa, Kat?

— De jeito, nenhum, Dona Amelia! Mas o jantar já está quase todo pronto, é só colocar no forno.

— Tem sobremesa? – Meu sogro perguntou de uma só vez.

— Sim, Senhor Pierce. Tem sobremesa.

Alex, que já estava descendo a escada e escutou a pergunta do pai, só falou:

— Não é à toa que gostou tanto da Elena! Tá igual à baixinha!

Pior que era verdade.

Com três pessoas trabalhando, o serviço começou a render de verdade. E só fomos terminar mesmo já na madrugada de sábado.

— Está sujo, mas está tudo pronto. – Meu sogro falou quando paramos para observar o trabalho dele.

— Está mais do que perfeito! – Falei sorrindo.

— Ficou do jeito que pensou, filha?

— Ficou muito melhor! – Respondi e o abracei. – Muito obrigada!

— Seu presente de boas-vindas à família.

— Não era necessário, ainda mais depois de tudo o que vocês já fazem por mim. Mas adorei! De verdade! – Eu não conseguia esconder a minha felicidade de jeito nenhum.

Meus sogros foram pensar em se despedirem de nós, e foram impedidos de imediato.

— Nada disso. – Falei. – Ficam aqui. Está muito além de tarde.

— Vocês não têm nada para fazer logo cedo? – Dona Amelia perguntou.

Alex fez uma careta.

— Nem pensar que vou dirigir até a fronteira para surfar. Estou precisando de um final de semana sem nada para fazer e sem horário para me levantar!

— Justo. Ambos estão precisando disso. – Concordou minha sogra.

E pouco depois disso, seguimos para os quartos, eu nem acreditava que tinha chegado o final de semana, parecia que um mês tinha passado em apenas cinco dias, de tantas coisas que aconteceram.

 

[1] Droga!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Espero que tenham gostado.
Muito obrigada a você que leu até aqui!
Até o próximo capítulo.
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Presos Por Um Olhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.