Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 67
Presente-Passado-Futuro


Notas iniciais do capítulo

Algumas revelações importantes estão pode vir...
Uma boa leitura para vocês!



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— Katerina! Katerina! Kat, por favor, acorde! – Ouvi Alexander me chamando.

Abri os olhos e, com o misto de alívio e desespero, agarrei o pescoço de meu noivo.

— Ainda bem que você acordou! – Ele disse quando afundei meu rosto em seu ombro e respirei fundo, tentando apagar o meu último sonho. – Foi só um sonho, Kat. – Ele dizia ao massagear as minhas costas e foi só aí que me dei conta de que eu chorava de soluçar.

— Você está aqui! – Murmurei.

— Sim. Eu estou.

Você. Está. Aqui. – Apertei meus braços em torno de seus ombros e chorei ainda mais.

Alexander me passou para o seu colo, e começou a me balançar como se eu fosse um bebê, para que eu pudesse me acalmar.

Aos poucos eu fui parando de chorar, fui conseguindo respirar normalmente e pude, enfim, levantar a minha cabeça dos ombros de meu noivo.

— Está comigo agora? – Ele me questionou assim que eu o olhei.

Fiquei olhando para seu rosto por mais tempo do que seria necessário, por mais tempo que seria considerado normal, porém, eu precisava fazer isso. Eu precisava ter a certeza de que ele estava realmente ali.

— Kat? – Ele tornou a me chamar diante do meu silêncio. – Eu posso fazer alguma coisa? O que você sonhou?

E eu não sei se foi o meu desespero, ou se foi porque eu não aguentava mais sonhar com um passado onde nós dois nunca terminávamos juntos, só sei que eu contei meu sonho para Alexander. Em detalhes.

Ele, como sempre, prestou atenção em tudo o que eu falava, em cada palavra, e quando eu recomecei a chorar, porque a certa altura me lembrei de que esse não foi o primeiro sonho que tive em que a Katerina ficava sozinha, Alex me abraçou apertado e começou a beijar minha cabeça.

— Eu estou aqui, Kat. Eu estou aqui. – Ele murmurava.

Ainda sob o efeito do que eu havia sonhado, ou visto, ou revivido, só soltei:

— Por favor, me diga que você não vai me deixar para trás! Não me deixe sozinha nesse mundo sem você. É doloroso demais. – Peguei seu rosto em minhas mãos e o olhando em seus olhos, supliquei. – Me prometa isso.

E Alexander abaixou a cabeça até que a apoiou em meu ombro, já que eu estava virada na sua direção.

— Então é assim que acabava? – Ele disse.

— Como é? – Perguntei sem entender nada.

Sem levantar a cabeça, ele tornou a falar.

— Foi assim que acabou.

— Eu não estou te acompanhando, Alex. Por favor.

Ele respirou fundo. Beijou meu ombro e devagar levantou a cabeça e finalmente me encarou.

— Creio, Katerina, que nós dois tivemos o mesmo sonho nesta noite.

Você?!

— E estou começando a achar que não foi a primeira vez. – Ele me olhou no fundo dos meus olhos. – Me diga uma coisa.

— O que?

— Você, por acaso, sonhou comigo na primeira noite, depois que nos vimos na praia, no seu primeiro sábado em Los Angeles?

Eu não poderia mentir, não quando ele estava observando cada pequena expressão minha, então só meneei a cabeça de forma positiva.

— E esse seu sonho envolvia uma aldeia Viking?

— Mas como? – Eu dei um pulo de seu colo e só não saí correndo do quarto, porque Alex me segurou onde estava.

— Você sonhou com isso, Katerina? Se sonhou, como terminou para você? Porque eu sonhei. Foi ali que eu fiquei sabendo seu nome.

E eu voltei no nosso primeiro encontro. Na hora em que apertamos as mãos e ele murmurou o meu nome. Eu achei que tinha ficado louca ao ouvir aquilo, mas não. Eu realmente ouvi.

— Você se foi. – Disse por fim, editando o final.

— E o que aconteceu com aquela Katerina?

Respirei fundo.

— O mesmo que aconteceu com a do sonho que acabei de te contar.

Alex ficou calado por um longo tempo e eu me pus a pensar sobre os sonhos, sobre tudo o que sonhei até agora. Sobre o fato de que Alexander vinha sonhando as mesmas coisas, porém na sua versão. Não era possível que isso estivesse acontecendo. Quais eram as chances?

— Para cada sonho que você teve, você leu um livro, não foi? – Ele disse depois de muito tempo, quebrando o silêncio que se instalara no quarto. – As cruzadas, as grandes navegações...

— Você viu tudo isso também?

— Foi assim que você descobriu o ano do pesadelo que tive quando dormimos no sofá, naquela tarde de sábado, não foi? Você sonhou o mesmo que eu.

De todos os passados, e eu agora aceitava isso piamente, o da Alemanha no meio do século XVI era o pior. Pois Alex fora aquele que ordenara a minha morte.

— Não me peça para me lembrar desse. É...

— Doloroso.

— Sim. Foi o pior até aqui. – Murmurei e sem querer acabei por olhar para minhas mãos, Alex, na mesma hora, as segurou e as levou até seus lábios.

— Me desculpe. – Ele disse assim que eu olhei para seu rosto.

— Não tem o que desculpar, Alex. Não foi você!

— Eu jamais me perdoarei pelo que fiz. Não me perdoei lá e vou tentar te provar que jamais farei algo assim novamente. – Disse apertando mais um pouco as minhas mãos. – Eu quebrei a promessa que te fiz, tantos anos antes.

— Eu te disse naquele domingo, e repito aqui. Eu te perdoo, Alex. – Cheguei mais perto dele e dei um beijo em sua testa.

Ele suspirou diante do meu gesto e tornou a encostar a testa em meu ombro.

Desviei meus olhos dele e olhei para a janela, tentando esquecer tudo o que sonhei, e percebi que o dia já clareava do lado de fora. Foi a minha vez de suspirar. Tínhamos um dia cheio pela frente e nenhum de nós havia dormido direito.

Estava quase me levantando, mesmo que o despertador ainda não tivesse tocado, quando Alex me perguntou:

— Você sonhou com o período da América Espanhola, não sonhou?

— Sim.

— O que você fugiu comigo?

— É. Mas por que o interesse?

— Você consegue se lembrar dos rostos dos nossos filhos? Ou dos nomes?

— Não. Bem que eu tentei. Passei horas tentando me lembrar, porém não consegui. E você?

— Nada. Sei que a menina era loira e o menino tinha cabelos castanhos, só isso.

E, de tudo o que sonhei até agora, era justamente esse detalhe que eu queria me lembrar. Mas, ao que parece, era o único que fora definitivamente apagado.

— Você ainda se lembra mais do que eu. – Falei e me levantei.

Alex também se levantou e depois de me dar um beijo, desceu para fazer o nosso café da manhã, eu fiquei para arrumar a cama, lamentando o passado e temendo pelo futuro.

Ainda era cedo para ir trabalhar, não era nem cinco e meia da manhã, então decidi ficar de pijama mesmo, só vesti um moletom de Alexander e desci um tanto sonolenta e com uma dor de cabeça começando a aparecer.

— Até onde eu sei, você não estudou na UCLA. – Meu noivo comentou com um sorriso de lado assim que me viu entrando na cozinha

— Eu não, mas você sim.

— Reconheci o moletom... ficou um tanto...

— Grande? Pois essa era a intenção. Vai querer o que de almoço hoje? – Questionei ao abrir a geladeira.

— Qualquer coisa que dê energia, pois vou precisar! – Me respondeu. – Disso e de uma intravenosa de café.

— Nem falo nada. Se eu tivesse com o mínimo de disposição até iria correr, mas tudo o que eu quero é me escorar em algum lugar e ficar ali pelo resto do dia. – Falei ao colocar tudo o que precisaria em cima da bancada. – E me desculpe por te acordar e te manter acordado por mais da metade da noite.

— Eu já tinha acordado antes de você começar a murmurar e se mexer. – Alex deu de ombros. – Uhn... Kat?

— Sim?

— Quantos mais você acha que tem?

— Desculpe? Alex, por favor, seja bem claro hoje. – Pedi.

— Passados. Quantos mais até chegarmos aqui?

— Não sei. Existe padrão nas reencarnações.

— Você acha que é isso? – Ele parou o que fazia e me encarou, esperando uma resposta.

Fiz uma careta, que Alex deve ter achado muito fofa, porque logo me deu um peteleco no nariz.

— É o que eu penso. Ou andei pensando algumas semanas atrás.

— Explique-se. – Agora ele tinha se escorado na ilha e me observava com interesse.

— Você tem alguma teoria? – Questionei antes de lançar a minha.

— Diga a sua e depois, se for muito diferente da minha, eu te falo. – Respondeu e me levou até a bancada onde nos sentamos para comer.

— Eu acho que uma promessa feita a um grande amor, à sua alma gêmea, vai se perpetuar até que ela se cumpra. O primeiro a fazê-la foi o viking, só que ele não voltou... então nós nos reencontramos na época das cruzadas, mas não chegamos a cumprir nenhuma promessa ali.

— Mas e o México?

— Era o México ali?

— Sim, era. Mas como você explica o que aconteceu ali?

— Dez anos não são uma vida. E, vamos dizer que os dois deixaram um serviço inacabado para trás.

— Nossos filhos.

— Sim.

— Mas, na teoria os pais morrem antes dos filhos. – Alex retrucou.

— Na teoria os pais morrem quando os filhos são mais velhos. Não duas crianças. Acontece que você se esqueceu da promessa que fizemos? Antes de sermos fuzilados?

Alex recolocou a caneca de café na bancada e meneou a cabeça.

— Sim. Eu me lembro. Eu te disse que iríamos nos encontrar novamente.

— E eu completei a sua promessa, dizendo que faríamos isso até que tivéssemos nosso felizes para sempre.

— Aonde mais nós nos encontramos?

— Não faço ideia. E, sinceramente, gostaria de não saber. Porque se estamos aqui, algo aconteceu.

— Você tem razão.

— Mas você está curioso com isso, não está? – Indaguei ao ver o seu semblante.

— Você não?

— Não. Não estou. Eu acho que não aguento mais ver essas tragédias.

Alex ponderou a minha fala.

— Pelo visto, estamos desafiando a história, desde sempre estamos desafiando algo ou alguém. Exatamente como hoje.

— Não se anime com esse padrão. Tendo em vista o que passamos, esse está bem fácil. – Comentei.

— Superamos vários nos últimos séculos, Kat, vamos vencer esse também. – Ele disse todo cheio de certeza, me lembrando na hora a sua versão viking.

Acabamos de tomar nosso café e, ao invés de sair para correr, demos uma volta perto de casa, só para que nossos cachorros pudessem se exercitar e, mesmo assim, ainda era cedo quando saí para trabalhar, tão cedo que quando cheguei no prédio, estavam trocando o turno dos seguranças.

Meu dia foi relativamente tranquilo, tendo colocado o serviço atrasado em dia, me dediquei, quando tive tempo, à pauta da reunião com Londres, na próxima quinta-feira, e no que seria necessário para o Conselho Geral.

O Financeiro, em conjunto com o RH e o Jurídico, me entregou as pastas com as contas do ex diretor do escritório e só de ver as provas eu sabia que esse Mancini iria ter que indenizar a Empresa, Matti Nieminen não deixaria barato essa brincadeira.

No meio da tarde, meu celular começou a apitar sem cessar, devem ter sido mais de quatrocentos alertas em menos de cinco minutos.

Preocupada com o que poderia ser, peguei o aparelho, para notar que Olivia tinha aprontado novamente.

Agora ela encaminhava todas, TODAS as fotos que ela tirara no final de semana do GP, para o Grupo “Fim de Semana Muito Louco” e, avisou depois da última foto.

Tem muito mais no cartão da minha câmera. E a täti pode ir pensando em mandar as que ela tirou também.

As cobranças das fotos que eu havia tirado começaram. Até meu pai queria ver.

Para cada foto que Liv mandou, houve um comentário, alguém relembrando o momento, ou só comentando como a foto foi bem tirada.

E, para meu espanto, minha mãe entrou na roda e começou a mandar outras fotos. Da corrida de kart.

Essa vergonha não!— Foi uma mensagem de Pietra.

Desde quando você está nesse grupo?— Respondi na hora.

Olha quem apareceu para falar nesse grupo pela primeira vez!— Pepper retrucou.

Estou aqui desde sábado depois da corrida de kart... pelo visto você não abre muito esse grupo, não é mesmo? Ou teria me notado aqui, amiga desnaturada.

 Eu não acredito que até aqui você vai me perseguir!

Não só a Louca, como eu também?

MELISSA?!

Olá, todo mundo! Estava caladinha, mas vi a oportunidade perfeita para dar um oi! Todo mundo já está pronto para o próximo GP?

Olivia tinha ido longe demais dessa vez!

E cada um foi dando uma opinião sobre o aparecimento das minhas amigas, até que meu sobrinho disse:

Isso quer dizer que esse grupo vai existir até o próximo GP em que todo mundo for junto?

Não, esse grupo vai existir até a próxima vez que a sua tia for viajar para algum lugar legal e levar todo mundo com ela!— Will respondeu.

A KitKat trabalha e a gente curte. Essa é lei da vida!— Kim disse debochado.

E foi quando outra coisa aconteceu. O nome do grupo mudou, de “Um Fim de Semana Muito Louco” passou para “Quando que a Katerina vai viajar de novo?”

Eu não vou bancar vocês não!!— Digitei.

Ah vai sim! Foi você quem resolveu unir as famílias, agora aguenta! – Will me respondeu.

NÃO!!

SIM!!— Todos os integrantes do grupo, absolutamente TODOS, o que incluía meus sogros, meus pais e até Alex, responderam.

Eu criei um monstro e ele voltou para me pegar.— Digitei sem pensar e saí a conversa, silenciei o grupo para sempre e fechei o aplicativo.    

Porém as notificações continuaram, pois todos eles resolveram me marcar nas perguntas e a última mensagem era até interessante demais

Katerina, eu não peguei sol, chuva, vento demais, viajei mais de treze horas à toa, a mocinha pode enviar todas as fotos até hoje à noite.— Minha mãe me mandou essa pérola.

Me vi obrigada a voltar ao grupo e responder.

Achei que a senhora tinha vindo aos EUA para me ver. E, só para constar, eu estou trabalhando e já é noite onde a senhora mora! Leve isso em consideração.

Alguém ficou com medinho da mamãe!— Kim me provocou.

Na hora em que eu me levantar, Katerina, é muito bom que essas fotos estejam nesse grupo!

Se até a Dona Diana já fez o upload aqui, Bionda, é melhor que você se apresse.

Eu não merecia mais uma dor de cabeça, ainda mais quando eu mal havia dormido.

Vai estar, mãe.— Confirmei.

Só para logo em seguida, ler as seguintes mensagens.

Não disse que isso daria certo, Amelia?

Com o Alexander é a mesma coisa. Isso sempre funciona!— Minha sogra respondeu de pronto.

Eu fiquei pasma lendo o restante da conversa e a cara de pau de Ian, Kim, Vic, Will e Pietra de destacavam a conversa das duas matriarcas e riam da minha cara.

Por fim, cansada de ser motivo de chacota, descontei a minha raiva na única pessoa possível

OLIVIA, VOCÊ ESTÁ PROIBIDA DE FAZER COISAS ASSIM!

Por que sempre sobra pra mim?— Foi a resposta que recebi de minha sobrinha.

Voltei ao trabalho, certa de que seria mais fácil de lidar com toda a minha burocracia interna do que com esse grupo de família que estava me enchendo a paciência, pois estando todos acordados ao mesmo tempo, eles resolveram pegar no meu pé.

Joguei o celular dentro da gaveta e olhei para a minha pilha de trabalho, alonguei o pescoço e me pus a trabalhar.

Um par de horas depois, o grupo se acalmou o suficiente para que eu pudesse deixar o celular do meu lado e, finalmente, usá-lo para o trabalho.

— Bendito seja o fuso-horário existente entre a Europa e Los Angeles! – Falei e só de curiosidade, olhei quantas mensagens não lidas tinham.

Duzentas.

Duzentas mensagens.

Deve ser bom ter tempo para ficar jogando conversa fora... porque eu não faço a menor ideia do que é isso!

Como eu tinha chegado absurdamente cedo, decidi sair junto com os funcionários, me esquecendo de um pequeno detalhe, Los Angeles inteira estava indo para casa nesse horário.

Entediada no congestionamento sem fim causado por uma batida, liguei o som do carro e comecei a cantarolar a música que tocava. Isso me distraiu um pouco, até que um sem noção começou a buzinar atrás de mim.

Decidi por ignorar o idiota e aumentei o som. E o irritante barulho continuou. Tive que respirar fundo para não sair e arrancar a pessoa pela janela do próprio carro e mostrar para ela que o trânsito estava todo parado. Fiz esse ritual algumas vezes e, quando enfim me acalmei o suficiente, levantei os olhos para o espelho retrovisor interno e reparei qual era o que carro estava atrás de mim.

Um BMW azul marinho.

— Ah! Mas fala sério!

Como não dava para ver a placa, engatei a ré, só para que a câmera acoplada no para-choque traseiro me desse a imagem.

Pausei a minha playlist na melhor música e fiz uma ligação.

Alex atendeu dando gargalhadas.

— Isso é poluição sonora e você sabe disso! – Falei azeda.

— Você engatou a ré só para ver a placa?

— Claro, não queria matar um estranho!

— Quem mais você achou que te perturbaria em pleno congestionamento?

— Não pensei em ninguém, tem sem noção em todos os lugares.

— Queria ter visto a sua cara quando comecei a buzinar.

— Eu deveria ter saído do carro e quebrado a sua janela com o taco de hockey que tenho aqui.

— Aí você seria a responsável pelo maior congestionamento da história da LA. – Alex disse ainda rindo

— Não teve graça. E continua não tendo. – Alertei.

— Pelo menos serviu para me distrair, porque pelo visto vamos dormir em nossos carros hoje. Estão falando que Los Angeles realmente deu nó.

— E nem está chovendo.

— Deu nó porque você saiu cedo do trabalho e todo mundo saiu para ver esse milagre. – Ele tornou a brincar com a minha cara.

— Você não conhece um atalho para nos tirar daqui não? – Troquei de assunto.

— Até os atalhos estão parados. Mas logo na próxima esquina tem um restaurante bem interessante, que tal parar ali e esperar até que esse trânsito dos infernos melhore?

— Vamos levar quase vinte minutos só para achar uma vaga para pararmos os carros, Alex.

— Eles têm estacionamento próprio. Confie em mim, Kat!

Levamos quase quinze minutos para andar uma quadra, enfim paramos os carros e entramos no tal do restaurante.

Lógico que, como sempre, alguém tinha que reconhecer Alex e assim que o fizeram, nos levaram para uma mesa mais afastada da multidão. Achei foi bom. Quando fomos deixados à sós, Alex foi logo me perguntando:

— E como foi o trabalho?

— Mais tranquilo do que achei que seria, devido ao excesso de sono em me encontro, e o seu?

Começamos a conversar e, claro, terminamos comentando sobre o que nossas mães disseram no grupo.

— Elas pegaram pesado. – Alex falou rindo. – Todas duas, eu sabia que tinham se dado bem, mas toda aquela falação foi além da minha expectativa.

— E eu achando que minha mãe se faria de difícil, ainda mais se levarmos em conta que eu estou muito mais próxima à sua mãe e que Olivia ainda ficou por aqui por dez dias. Porém, ao invés disso, as duas se tornaram melhores amigas! – Joguei os braços para o ar para dar ênfase à minha incredulidade.

— Não quero nem saber o tanto que já falaram mal de nós! Uma história pior do que outra.

— Tomara que fique só entre elas, o restante da família não precisa dar opinião.

— O restante da família e suas amigas. – Alex pontuou.

— Exatamente. – Dei uma golada no meu suco. – Olivia passou dos limites.

— Mas voltando para um assunto mais interessante... – Alex me interrompeu.

Olhei para ele, esperando que continuasse.

— Para onde você vai viajar mesmo?

Dei um chute tão forte na canela dele que ele deu um pulo.

— Que foi? Foi uma pergunta inocente!

— Mas não foi mesmo!! – Respondi azeda.

— Só perguntei para me programar.

— E jogar a informação privilegiada no grupo.

— Eu só ia falar que sei para onde você está indo, só isso.

— Claro e deixaria a bomba explodir na minha mão... – E aqui eu parei e abri um sorriso.

— Que cara é essa? Parece que você quer cometer um assassinato! – Alex até afastou a cadeira da mesa.

— Você é um gênio! – Fiquei de pé e dei um selinho nele.

— Isso eu já sabia. Mas por que eu sou gênio?

— Nossa vingança! Vamos executá-la agora!

— Vingança de?

— Alexander, essa cerveja, por acaso, está afetando o seu cérebro? Nossa vingança contra esse grupo!

— E como vamos fazer isso? – Ele voltou para perto da mesa.

— Ora, eles querem saber para onde eu vou viajar, não querem?

— Sim!

— E eu vou viajar, dentro de três semanas.

— Mas você vai para Londres. Tirando os meus pais, Will e Pepper, o restante... – Ele parou e me acompanhou no sorriso.

— Entendeu não foi?

— Você é má!

Dei uma risada.

— Anda, abre esse aplicativo, vamos deixar essa família maluca. – Falei e puxei minha cadeira para que eu me sentasse perto dele, Alex foi além e praticamente me escorou nele, pegando o celular e já digitando:

Informação fresquinha. Eu sei para onde a Kat vai viajar!

Agora é só esperar... – Ele disse.

E não deu dois minutos.

Preciso separar que tipo de roupa?— Pepper perguntou.

Hahahahaha dessa vez a Kat se lascou! Arranjou um namorado fofoqueiro!!— Vic comentou.

Eu não sei quantas horas são aí na Califórnia, mas aqui na Itália já são três e meia da manhã! Tenham dó de mim! Mas conta a fofoca inteira, Tatuado! Não interrompi o meu sono de beleza à toa.— Pietra digitou.

Conta logo que daqui a pouco eu tenho aula! A täti vai nos levar, na faixa, para onde?— Tuomas perguntou.

Katerina está tirando o escorpião do bolso e resolveu ajudar os pobres mortais. Para onde eu vou?— Mel entrou na conversa.

E até Tanya tinha algo para falar.

Meu Deus! Quantas horas de viagem? Vou deixar tanto a Liv quanto a Elena por conta da amada täti[1] delas!

Hei, äiti[2]! Eu estou aqui!

Deveria estar dormindo, Olivia! Quer que eu te tome esse celular?

Hyvää yötä[3]! — Foi tudo o que Liv respondeu.

Outra viagem?— Essa era minha sogra. – Não tive nem tempo de desfazer as malas direito. Para onde vamos dessa vez?

E o assunto foi escalonando de um jeito que, em menos de quinze minutos, começaram a chamar por Alex, pedindo que ele acabasse de contar a fofoca.

— E agora? – Alex me perguntou ao ler, rindo, a mensagem de meu pai.

Com um floreio, tirei o meu celular do bolso.

— Agora é hora do banho de água fria.

Abri o aplicativo só para digitar, respondendo à mensagem de Alex:

Não é como se fosse uma novidade, essa viagem...

E lá foram todos mandando mensagem.

Até que meu pai mandou:

KitKat, é para hoje.

Não sei por que tão animados... — Novamente deixei o suspense no ar.

Do meu lado Alex, que estava com o aplicativo aberto, ria de cada desespero de resposta.

Por que não ficar?! É outra viagem!! Para onde, täti?— Olivia implorou.

Você também sabe para onde, Liv.

— Isso é maldade! – Alex me avisou. E logo em seguida, Pietra falou.

Minha fofoquita mezzo inglesa, mezzo finlandesa, por acaso você se esqueceu de me contar alguma coisa? Eu te paguei para ter exclusividade nas notícias!

— E olha as confissões aparecendo aí! – Falei rindo.

Eu não lembro de nada em específico, zia[4]!!!! Juro para você!

Você é uma péssima informante, Olivia! Nunca mais caímos na sua lábia! — Mel respondeu. – KATERINA, CONTA LONGO, MULHER! Antes que a curiosidade acabe me matando!

Estão preparados?— Fiz suspense.

E lá veio um monte de figurinhas.

Londres. Eu tenho que ir à Londres em dezembro. Daqui a três semanas estou desembarcando.

As respostas que recebi foram hilárias, não teve um que não ficou bravo.

Que coisa meiga, o casalzinho dando payback junto! Isso foi tão... MELOSO! Quero ver como vão pagar pelo meu sono de beleza!!

Foi você que não deixou o celular no silencioso, Pietra. Problema é seu. — Respondi à minha amiga.

Se ela sozinha já é convencida, quando junta com o Alex piora... ninguém merece!— Mel disse. – Com coisa que vir para Londres é passeio. EU MORO AQUI!! Achei que ia para algum lugar bacana. Estraga prazeres.

Por fim, a última mensagem. De minha mãe.

Vontade de deixar os dois virem a pé do Heathrow até Westminster, só para aprenderem que não é para acordar ninguém no meio da noite com brincadeira.

Levam as coisas bem na esportiva, não? – Questionei para Alex.

— Suas amigas estão iradas. – Ele me respondeu rindo, lendo ao último desabafo de Pietra.

— Elas superam. Só não vão superar o fato de que ainda não mandei as fotos. Você acha que o trânsito já diminuiu?

Alex conferiu as horas.

— Creio que sim.

Pedimos a conta, afinal, acabamos por jantar ali mesmo. E Alex dessa fez em enganou, pagando tudo sozinho.

— Já conversamos sobre isso. – Avisei.

— Sim, e você pagou tudo em Austin, sozinha. Minha vez. Até porque a ideia foi minha. – Falou ao segurar a porta do restaurante aberta para mim.

— Obrigada. – Disse e caminhamos lado a lado até nossos carros, Alex, sem motivo algum, parou no meio do estacionamento e soltou:

— Ter jantado cedo assim foi um erro. Eu estou sentindo que vou ficar com fome daqui a pouco.

— Ah. Meu. Deus! Eu não sabia que você era vidente!! – Debochei.

— Eu sou. E dos bons. Sei exatamente o que vai acontecer daqui a pouco!

— Ui, é mesmo? E o que seria? – Abri meu carro e coloquei a bolsa lá dentro. Ainda era possível ouvir meu celular vibrando com as mensagens iradas da família.

— Você vai perder uma corrida.

— Não vou entrar em corrida nenhuma.

— Vai sim, porque aquele que chegar por último vai ser o responsável por cozinhar uma ceia hoje!! – Ele falou e correu até o carro, entrando pela janela já aberta e dando partida.

Entrei no meu carro e antes que eu virasse a chave, escutei meu noivo xingando, já que de alguma maneira muito absurda, ele tinha conseguido deixar um carro automático desligar. Aproveitei a chance e arranquei cantando pneus. Tinha que aproveitar os poucos segundos de vantagem.

E eu dei sorte, pois logo na saída tinha um semáforo, que eu passei quando estava amarelo e pude ver Alex parando.

Claro que eu teria que ser esperta e contar com a sorte, afinal, meu noivo conhecia a cidade como ninguém, e eu só sabia dois caminhos distintos. Então, tirei proveito da potência do motor e do fato de que peguei quase todos os semáforos abertos para acelerar.

Quando virei na esquina de casa, de uma maneira que faria um piloto de rally e não um motorista urbano, vi que Alex fazia o mesmo no final do quarteirão. Nossa casa ficava bem no meio, apertei o botão para abrir o portão, ao mesmo tempo em que garantia que meu carro faria a curva sem bater na guia da calçada e tivesse tração suficiente para me manter na mesma velocidade.

Alex deve ter pensado a mesma coisa, afinal, nós dois paramos cantando pneus, segundos depois, em frente ao portão fechado.

Ele desceu do carro, eu desci do carro.

— Por que você fechou o portão? – Perguntamos juntos, apontando para o portão da garagem que permanecia fechado.

— Eu ABRI o portão. – Foi nossa resposta, também em sincronia e ficamos encarando um ao outro.

— Eu ganhei. – Ele clamou.

— Mas não ganhou mesmo! Eu ganhei!

E continuamos a nos encarar, nossos carros atravessados na rua, ainda ligados e nós dois na frente do portão fechado de braços cruzados, uma cena e tanto se tivesse algum paparazzo à toa passando.

Só saímos de nossas posições quando o vizinho buzinou querendo espaço para poder passar. Nossa desculpa?

— Desculpa, o portão enguiçou!

Se ele acreditou, não sei, porém guardamos os carros, ao mesmo tempo e foi só aí que Alex disse:

— Creio que terei que ser o magnânimo aqui e dizer que foi empate. Nós empatamos. Talvez você seja a motorista mais rápida, pois fez o caminho mais longo, mas eu sou o mais inteligente. O que me diz, Apressadinha? Empate?

Olhei para sua mão estendida e a apertei.

— Dá próxima vez, vamos definir uma rota, assim poderemos saber quem é o melhor. – Falei.

— Regras são regras.

Y carreras son carreras[5].- Citei o pentacampeão mundial de Fórmula 1, Juan Manuel Fangio.

— É claro. Mas... – Ele começou assim que entramos e estávamos tirando os sapatos.

— Lá vem você! – Murmurei e revirei os olhos.

— Quem vai fazer a ceia, se foi empate?

— Meu Deus! Mas ele só pensa em comer! É claro que nós dois! Foi empate. E mesmo se não fosse, você sabe, a noite iria acabar com os dois cozinhando e arrumando a cozinha mesmo.

— Esse ponto está resolvido e o outro?

— Que outro ponto? – Parei na frente dele e o encarei.

— O que nós vamos comer?

Encarei Alexander, sem acreditar nas suas palavras.

— Poço sem fundo! Ainda pior do que eu!

— Mas eu sei que você me ama! – Disse com um sorriso travesso.

Onde que eu estava com a cabeça quando aceitei namorar e me casar com um homem assim, meu Deus?

 

[1] tia

[2] Mamãe

[3] Boa noite!

[4] Tia, em italiano.

[5] Corridas são Corridas.


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Notas finais do capítulo

E é isso! Espero que tenham gostado!
Muito obrigada a você que leu até aqui!
Uma ótima semana e nos vemos na quarta-feira!
Até lá!
xoxo



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