Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 63
Sexta-Feira


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não escrevi isso aqui no embalo do GP do Brasil que ocorreu na semana passada, na verdade, este capítulo já estava escrito antes mesmo que a Fórmula 1 passasse por terrras brasileiras. Se preparem para entrarem de cabeça em um final de semana de F1!
Tenham uma ótima leitura!



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Eu poderia jurar que mal tinha dormido. Creio que não tinha nem piscado e já era de manhã e alguém batia na porta do quarto.

Mene pois[1]! – Gemi e me encolhi debaixo das cobertas.

Porém a pessoa não desistiu. E Alex, que até então estava tentando ignorar a barulhada no corredor, se remexeu nervoso do meu lado.

— Mas quem é? – Ele xingou.

— Qualquer ser sem mãe! – Respondi azeda e com muito custo me levantei e coloquei um roupão por cima do pijama. Alex fez o mesmo.

Quando abrimos a porta, fomos obrigados a escutar:

— Estamos interrompendo algo? – Will soltou bem no momento em que meu pai saía do quarto.

Pepper, Kim e Vic riam.

O que vocês querem?

— Kat... não fique tão mal-humorada assim! O dia só está começando.

Levantei uma sobrancelha para o meu irmão, ao fundo pude escutar uma voz bem conhecida:

— Mas vocês são malvados. Interromper o casalzinho a essa hora da manhã!

E todos que estavam no corredor olharam na direção de onde tinha vindo a voz, inclusive meu pai e minha mãe.

Buongiorno a tutti[2]! – Disse Pietra com um aceno de mão, como se fosse a coisa mais banal, uma reunião às 06:00 da manhã no corredor de um hotel.

— Não sei bom dia para quem. – Eu falei.

E meu cunhado, cunhadas, irmão e amiga riram da minha cara.

— E você, irmão, não vai dizer nada? – Will provocou Alex.

— Você jamais deveria ter tido a ideia de trazer o meu irmão. – Ele comentou.

— Qual é o motivo dessa bagunça tão cedo? – Meu pai tentou por ordem no caos.

Kim, como sempre, tinha uma saída para tudo.

— Só evitando que a dorminhoca ali perca a hora.

Alex desistiu de tentar entender o que estava acontecendo e voltou para dentro do quarto, para a alegria de Will.

— Sabe nem o que é uma brincadeira. Volta aqui, irmão!

Alex soltou um palavrão xingando Will, mas ninguém do lado de fora do quarto ouviu.

— Eu combinei com a mamãe de sair do hotel às 09:30 da manhã, Kim. Não preciso de um despertador que me jogue da cama junto com as galinhas.

— Mas tá azeda hoje, hein Kat. Credo! – Vic se intrometeu.

— Eu vou me lembrar disso, Victoria. – Alertei.

— É a primeira vez que não sou ameaçada pela finlandesa!

— Comece a falar muito e você vai entrar na roda. Afinal, o que você veio fazer aqui, Italiana Louca?

— O mesmo que eles, mas com uma oferta de paz. Se quiserem passe livre para o Paddock é só me avisarem. E, por favor, desgrude de seu namorado por algumas horinhas hoje, precisamos por a conversa em dia!

— Vou pensar no seu caso. E obrigada pela oferta.

— Não há de que! E isso é uma convocação, não tem como você fugir. – Ela avisou e saiu clicando os saltos pelo corredor.

— E os quatro à toas na vida, sumam daqui. Eu ainda preciso dormir.

Kim e Will saíram rindo, como se fossem dois colegiais pregando uma peça em um amigo, meus pais, que ainda estavam parados do outro lado do corredor, me encararam.

Hyvää huomenta! – Falei para eles.

— O que foi isso? – Quis saber a minha mãe.

— Quatro crianças que não sabem tomar conta das próprias vidas. – Respondi.

— Vai voltar a dormir ou vai tomar café da manhã com a gente?

— Se vocês não estiverem morrendo de fome e puderem me esperar. – Apontei para a minha aparência no geral.

— Meia hora, Katerina. – Meu pai deu o ultimato, sabendo o quanto eu demorava para me fazer apresentável.

— Estarei lá embaixo.

— Alexander?

— Se ele não tiver desmaiado de novo.

Os dois acenaram com a cabeça e desceram. Fechei a porta e entrei para um banho, me arrumando o mais rápido que pude, tentei acordar Alex para perguntar se ele queria tomar café, mas ele só murmurou qualquer coisa e virou para o outro lado.

Deixei um bilhetinho em cima do celular dele, peguei minha bolsinha e desci atrás de meus pais.

Minha mãe estava sentada em uma das mesas, já meu pai conversava com o Chefe de Equipe da McLaren. Passei pelos dois, dei o meu bom dia e logo estava me sentando ao lado de minha mãe.

— Desceu rápido. – Ela comentou olhando no relógio. – Creio que esse é o seu recorde. Alex não quis vir?

— Alex nem acordou. – Fui sincera. – Chegou tarde no quarto ontem, parece que alguém tinha o maligno plano de embebedá-lo.

Minha mãe me deu uma risada e olhou para onde meu pai estava.

— É, ele me falou isso. E disse que o Hollywood foi esperto e notou o que ele queria fazer.

— Achei uma jogada bem maldosa de papai. Mas... como o todo, o que a senhora achou de todos? – Fiz a pergunta mais difícil.

— Eu adorei todos. Will parece mais irmão do Kim do que você e Pepper tem uma energia muito boa, não tem medo de rir dela mesma o que é ótimo. Seus sogros são tudo o que eu não esperava de dois atores consagrados. Confesso que não esperava por eles serem tão receptivos. Pode parecer estranho, mas eu poderia jurar que já conhecia Amelia.

— É mesmo? – Perguntei alarmada.

— Sim.

— Talvez a senhora tenha confundido com alguma personagem que ela fez.

— Deve ser isso. – Minha mãe concordou comigo. - E, então, chegamos, em Alexander.

— Seu veredicto, Doutora Nieminen. – Encarei minha mãe por cima da minha xícara de chá que tinha acabado de chegar. – Deus que chá horrível!

Minha mãe, muito mais elegante do que eu, apenas encostou a xícara dela no canto da mesa, fazendo uma cara de desgosto.

— Definitivamente, americanos não aprenderam a fazer um chá. – Ela disse infeliz. - Você não toma isso todos os dias, toma?

— Eu faço os meus próprios chás, mãe, pode ficar tranquila, não aniquilei o meu lado inglês tomando essa borra que eles chamam de café. Contudo, não é esse o assunto.

— Nunca gostou de um bom suspense, não é mesmo, minha filha?

— Não é minha culpa. Algo eu tinha que ter herdado da vovó. – Dei de ombros.

— Como eu já havia dito a você naquela ligação. Eu gostei de Alex. Ele é uma boa pessoa, um verdadeiro cavalheiro. É fácil de se ver isso. Tanto nas atitudes dele com os outros e, principalmente, com você. Eu reparei ontem, enquanto você conversava com o seu pai, durante o jantar, a forma como, de tempos em tempos, ele olhava para a mesa, procurando nos demais rostos o que estava se passando ao lado dele, e depois olhava para você. Até que você confirmou para o seu pai que o amava e ele pegou a sua mão. Ele já está entendendo finlandês a esse ponto?

— Não. Ele não sabe o que conversamos. Mas a primeira frase que ele aprendeu em finlandês foi “eu te amo”, e essa parte ele entendeu.

— E ele realmente te ama, KitKat. Muito. O que nos traz a outro ponto.

— Que é?

— Vocês estão morando juntos.

Olhei em volta, procurando por meu pai, isso eu acho que ele ainda não sabe.

— Sim.

— Então, por que você tirou o anel de noivado do seu dedo?

Encarei boquiaberta minha mãe.

— Não pense que eu não vi, Kat. Eu vi. E não venha me dizer que aquele é um anel qualquer, porque não é.

Cocei minha cabeça. E torci internamente para que alguém chegasse para que trocássemos de assunto, porém não era a minha manhã de sorte e eu tive que contar a verdade.

— Nós vamos anunciar, propriamente. Em dezembro. Ele vai pedir a minha mão para a senhora e o papai. Só quis saber se eu aceitava.

— Os pais dele já sabem, oficialmente?

— Não. Ninguém sabe oficialmente. Estava só entre nós.

— Ou pensaram isso. Kat, sinto te informar, porém, nada sobre o que envolve os dois fica só entre vocês. Tanto você, quanto Alex gritam para o mundo o que está acontecendo. Não tem como você saber disso, mas qualquer um que te conheça, percebe. Você mudou muito, minha filha. Não tem mais nada daquela Katerina que evitava demonstrar sentimentos em você, minha filha. A forma como você fala, olha, se move, sorri e principalmente fala de Alexander diz tudo o que você está pesando e sentindo. E vou te dizer, do fundo do meu coração de mãe, eu não poderia estar mais feliz com isso. Finalmente você está feliz e amando alguém que te ama de verdade. E caia de cabeça nesse amor, filha, você merece ser feliz.

Não sabia o que dizer, para ser sincera, eu não esperava por esse discurso da minha mãe, todavia, ela só confirmava o que Olivia tinha dito.

Kiitos, äiti[3]. – Foi tudo o que eu pude dizer.

— Vou esperar pelo anúncio em dezembro para te dar os parabéns, porém, desde já, só quero que vocês sejam felizes. – Ela disse e deu um beijo em minha testa.

E a nossa conversa foi encerrada com a chegada de papai, que tomou o café tão rápido que mal pude conversar com ele. Ian foi a mesma coisa, só passou, deu bom dia e pediu que eu tomasse conta dos filhos dele no autódromo hoje.

Ainda fiquei sentada à mesa com minha mãe por um bom tempo, dessa vez, conversávamos sobe outro assunto delicado, meu avô.

— Matti não está feliz. – Ela disse depois de, relutantemente, tomar um copo de suco. – E, sinceramente, eu não me importo com os sentimentos dele.

— Vindo da senhora, isso é extraordinário.

— Ele mexeu com a minha caçula, Katerina. Com a minha cria. Ele brincou com a sua felicidade e depois te mandou para meio mundo de distância. – Foi a explicação dela.

— Há males que vem para bem. – Tentei ver o copo meio cheio.

— Você também não o perdoou, sei disso muito bem, minha criança. O seu maior sonho era comandar a empresa. E agora você sabe que isso não vai mais acontecer.

— Sei disso, e ainda estou tentando aceitar. – Fui sincera e minha mãe só levantou uma sobrancelha e tombou a cabeça, como se eu acabasse de confirmar as suas palavras. – Olivia me falou que ela não trabalha mais lá. Foi Liv quem quis sair ou...

— Tuomas e Olivia não sabem de todos os detalhes. Sabem o que aconteceu, mas o que seu avô andou falando com você, eles não sabem e não quero que saibam por agora, contudo, eles não são alienados e tomaram um partido. O seu. Tuomas brinca muito, falando que Kim não se lembra dele, mas no fundo, sabemos que não é brincadeira, é verdade. Kat, você foi a babá de Tuomas desde que ele nasceu e andou encobrindo algumas noitadas dele, como se ele fosse mais o seu irmão do que seu sobrinho. O garoto vai ser eternamente grato por isso, e, pelo que parece até agora, ele gostou tanto de Alexander, quanto de Will. Não preciso explicar os motivos de Olivia, preciso? Ela, simplesmente te vê como modelo. Quer ser exatamente como você. E desde que ouviram Matti bradando que seu pai tinha que exigir a sua volta para Londres, para que você voltasse a agir como uma pessoa responsável e ouviram a resposta de seu pai, seus sobrinhos não pensaram duas vezes. Cortaram os laços com o bisavô. Tentamos evitar isso, todavia os dois são teimosos e nem podíamos exigir muito deles, afinal, ninguém mais está conversando com Matti. A não ser você, que faz obrigada.

— E eu terei que encará-lo pessoalmente em dezembro. – Suspirei.

— Espero que ele te trate de forma educada. Minha paciência com ele acabou há muito tempo.

— Está ameaçando alguém?

— Pode apostar que sim, filha.

Só meneei a cabeça, era reconfortante saber disso. Não que eu duvidasse que minha família iria me virar as costas, eles jamais fariam isso, porém fazia muito tempo que eu não via a minha mãe com uma postura tão defensiva para com os filhos como via agora.

Com pouco o restante da família foi chegando e tomando conta da mesa, a falação foi aumentando, até que quando vi, todos estavam falando sem parar, empolgados com o final de semana que tínhamos pela frente.

Combinamos de sair às 9:30, porém a empolgação estava tanta que acabamos saindo às 8:00. E, para minha total surpresa, Tanya deixou Tuomas dirigir o carro até o autódromo.

— Estou de olho em você, uma besteira e eu tiro a sua carteira internacional e você não tira nem a inglesa, nem a finlandesa no próximo ano. – Ela avisou ao filho mais velho assim que entregou a chave para ele.

— Nem morta que eu entro nesse carro! – Liv saiu correndo de lá e logo estava pulando no banco de trás do carro que eu havia alugado. Elena bem que quis fazer a mesma coisa, porém Tanya não deixou. E quem acabou de carona conosco foi a minha mãe.

— Quem já foi nesse autódromo? – Will quis saber antes de sairmos.

Com a exceção dos Pierce, todos levantaram a mão.

— Dirigindo.

Eu e Kim levantamos a mão.

— Os gêmeos, que ótimo! Kat, nada de errar a navegação, mais uma vez não quero parar no México.

— Vontade de hackear o sistema do seu carro e te mandar pra lá. – Alex falou ao passar por trás do irmão e empurrá-lo.

— Você não viveria sem a minha pessoa, Alexander. Posso provar isso.

Kim ia abrir a boca.

— E você fica quietinho. Ou eu sim, hackeio o sistema desse seu carro aí e te mando para o México. Sabe que eu sei fazer isso.

— Eu só ia dizer que tenho a melhor irmã do mundo!

— Sei, Joakim. Mente que nem sente.

E depois dessa demonstração de amor fraternal, fomos para o circuito com uma única certeza, o dia seria muito longo.

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O Circuit Of The Americas, ou COTA, não fica tão distante assim do centro da capital do Estado do Texas, são em torno de 30 km de distância. O que, em um dia normal, seria feito em, no máximo meia hora. Contudo, em um dia de atividade na pista, o trânsito estava impossível.

— Isso que é dirigir rápido. – Alex comentou. – Andamos incríveis 500 metros nos últimos quinze minutos.

— Um teste e tanto para Tuomas. Olha a cara de feliz dele no carro. – Liv apontou, ao olhar para trás e dar um tchauzinho para o irmão que estava mais emburrado do que nunca de não ter podido acelerar nem que por um minuto.

Meu telefone tocou, era Will.

— Só para saber, quantos quilômetros até a área dos estacionamentos.

Conferi no mapa do sistema de navegação do carro.

— Um quilômetro. – Respondi.

— E vamos demorar quanto tempo? Três horas?

— Algo mais ou menos assim.

— Mas por que está tudo parado?

— A entrada para o paddock é logo ali na frente. O pessoal se aglomera nos portões esperando ver algum piloto. Isso é comum em todos os autódromos.

— E nós, vamos ver algum piloto quando?

— Dentro do hotel estavam vários. – Comentei.

— E ninguém para me mostrar. Olivia, sobrinha amada, esse era para ser o seu papel.

— Eu estava esperando pelo Kimi... não vi ele. Devo ter perdido os demais. – Foi a resposta que ela deu.

— Tudo é esse tal de Kimi. Estou vendo que vamos ter que torcer para ele também. – Will bancou o dramático.

— Eu não me importaria. – Pepper entrou na conversa, e eu sabia que vinha uma pérola por aí. – Ele até que é bem bonito.

Não disse?

Mais trinta minutos e estávamos finalmente já dentro do autódromo. E, aproveitando que ainda não estava cheio, por ser uma sexta-feira de manhã, pudemos andar por algumas áreas que a partir de sábado seriam restritas para os determinados setores e, a nossa primeira parada foi a torre de observação que fica atrás da área dos boxes.

A subida não foi difícil, usamos os elevadores que subiram a uma velocidade incomum. Já na plataforma de observação a história foi outra. O piso é todo de vidro, dando uma visão e tanto do que está aos nossos pés. Pepper, na mesma hora, recuou e ficou perto das portas, evitando a todo custo olhar para baixo.

Elena nem se abalou com a altura de mais de 70 metros e correu até o beiral, também de vidro e já dizia até quais eram as curvas e o que ela se lembrava que tinha acontecido.

Claro que fotos foram tiradas, como Liv tinha prometido, essa viagem iria virar um álbum de recordações que ela fazia questão de compartilhar com todos.

Foi com muito custo que conseguimos arrastar Pepper para perto da beirada para tirarmos uma foto de todos juntos, tendo uma grande parte do circuito e até mesmo do centro de Austin como fundo.

— Ótimo. Temos a foto, podemos descer! Por favor! – Ela pediu. E nem Will perdoou a medrosa namorada.

Se subimos de elevador, descemos pelas escadas, tirando mais fotos e, a cada segundo, brincando com a cara de Pepper. Elena, manhosa como só ela pode ser, ganhou uma carona e estava tagarelando qualquer coisa nos ombros de Kim.

Mal chegamos ao nível da pista, uma pessoa nos parou e simplesmente disse:

— Achei que o Kim Nieminen ia ser do tipo que ficaria no Paddock! – Disse o rapaz que estava acompanhado por uma turma de umas dez pessoas. Eles esperavam pelos elevadores. – Mas ainda bem que está aqui. Pode me dar um autógrafo?

Kim colocou Lena no chão, que não se fez de rogada e foi logo pedindo colo para Alex. E o movimento da pequena, chamou a atenção do restante da turma, que reconheceu os outros famosos e ali começou a sessão de fotos e autógrafos que Kim tinha me avisado na terça de manhã.

Depois de quase quinze minutos de momento fama, pudemos voltar a andar pelo circuito, e Tuomas e Liv quiseram ir em um dos brinquedos. Elena também se aninou, mas era baixinha demais para poder entrar. Acabei ficando com ela no solo, já que as crianças grandes chamadas Alexander, William, Joakim, Victoria e Rebecca também quiseram ir.

— Por que não vai? – Meu sogro quis saber.

Só apontei para Elena que estava agarrada em meu pescoço e olhava desolada para a fila, doida para participar da bagunça.

— Se eu for também, Sr. Pierce, essa aqui vai aprontar uma cena.

Elena suspirou audivelmente quando viu os irmãos subindo no brinquedo e disse:

— Como é difícil ser baixinha. Queria estar lá em cima também.

Tudo estava indo às mil maravilhas, até que ouvimos um grito.

Pepper.

Desesperada porque o brinquedo travou no alto. E pelo que pudemos notar, foi Alex quem pediu que isso acontecesse.

— Eu não sabia que a Pepper tinha tanto medo assim de altura. - Dona Amelia comentou.

A resposta do meu sogro?

— Acho que nem ela sabia, Amelia.

As crianças se juntaram a nós e, enfim, fomos para nossos lugares, na reta dos boxes. Olivia e Tuomas começaram uma aposta sobre quem seria o mais rápido da sexta-feira. E, principalmente, sobre quem sairia da corrida de domingo liderando o campeonato.

Podemos reclamar de muita coisa em um final de semana de corrida, como ficar horas debaixo do sol, esperando pelo treino começar, não ter uma comida descente para comermos ou até mesmo as filas imensas para se usar a toalete. Porém, não podemos reclamar de duas coisas: nossos lugares marcados estavam livres, sem ninguém os ocupando e, principalmente, falta de animação.

Para todos os lados em que olhávamos, era possível ver a empolgação dos torcedores. Cada um representando muito bem para quem torciam. Bandeiras hasteadas da Red Bull. Faixas encorajando Lewis Hamilton. Várias pessoas de laranja, apoiando Max Verstappen. E, claro, o mar vermelho dos tifosi, apaixonados pela Ferrari. Algumas bandeiras de países, até mesmo do Brasil, que apesar de não ter um piloto no grid desde a aposentadoria de Felipe Massa, estava representado com a bandeira e uma outra, ainda mais emblemática, se você é um fã da Fórmula 1, pois essa trazia a seguinte frase: “Senna Sempre”. E ao lado a foto do tricampeão mundial Ayrton Senna.

— Não tem tantas bandeiras da McLaren por aqui... – Alex comentou.

— Nem toda aquela maré laranja apoia o Verstappen. Acredite em mim.

Liv não perdeu tempo e hasteou a bandeira da Finlândia. A dela tendo uma mensagem bem especial: GO KIMI! E, ao lado, a laranja da McLaren.

— Não me diga que a sua... – Meu noivo tornou a falar.

— Não. A minha é só a da Finlândia. Nada escrito.

— Menos mal.

Tuomas, para irritar a irmã, hasteou ao lado da dela, uma bandeira do Reino Unido, com a frase “Go Hamilton”.

Elena não gostou muito disso e encarou o irmão mais velho.

— Perto da do Kimi não! – Ela disse brava.

— Leninha, ali é o melhor lugar, não reclame.

— O Hamilton nem vai ver mesmo. – Disse a pequena. – O box da Mercedes fica lá na frente. O da Alfa é que fica bem aqui na nossa frente. O da McLaren também.

Depois de termos demonstrado para quem estávamos torcendo, nos sentamos. Era hora da espera sem fim até que começasse o primeiro treino.

O sol foi ficando mais forte e o autódromo foi enchendo cada vez mais. A previsão era de casa cheia, ou seja, cento e vinte mil pessoas. E, era divertido ver a reação das pessoas que passavam por nós, principalmente as que reconheciam ou algum dos Pierce ou meu irmão. Eles encaravam, olhavam e depois saiam murmurando que nenhum deles ficaria na arquibancada.

E, assim, o tempo passou e o grande relógio que marca o horário da largada informou que eram 11:00 horas da manhã.

Faltavam trinta minutos para o início das atividades na pista e o barulho vindo dos boxes começava a ficar mais alto, assim como a falação da torcida.

Tirei o celular do bolso e abri o aplicativo da F1, para que a parte da família que não sabia nada de Fórmula 1 pudesse começar a acompanhar a transmissão.

— Senhor Pierce. – Chamei meu sogro. – Venha aqui. Agora é a hora do senhor ter uma aula sobre tudo o que vai acontecer. – Entreguei meu celular para ele e comecei a explicar o que acontecia nos boxes naquele momento. Era um olho na tela do aparelho e o outro do outro lado da pista.

Tive que interromper a minha explicação no momento em que Hamilton apareceu no pitlane e acenou para a torcida. O barulho foi mais ensurdecedor do que o de um carro.

A meia hora passou rápido, e antes que o primeiro carro deixasse os boxes, entreguei os protetores de ouvido para todos e coloquei o abafador em Elena, que estava sentada no meu colo e agitava a bandeira da Finlândia toda vez que alguém saía de dentro dos boxes da Alfa Romeo.

— Agora o senhor coloca isso, se não quiser ter uma dor de cabeça digna de ressaca amanhã. – Falei para meu sogro.

O som de um motor sendo ligado ecoou pela reta, fez-se um silêncio absurdo por dois segundos, depois vieram os gritos, assim que a Haas de Mick Schumacher cruzou o pitlane e saiu para a pista.

Eu passei os próximos sessenta minutos entre explicar quem era quem para Alex, meus sogros e Pepper, Olivia ia me ajudando. E, eu só perdi a concentração quando Kimi Räikkönen saiu dos boxes.

— Olha o Kimi! – Liv gritou. Elena que já tinha subido nos ombros de Alex, começou a balançar a bandeira da Finlândia e eu tive que me desculpar com meu sogro, era hora de tirar algumas fotos de meu piloto favorito que estava se despedindo da categoria.

Kimi deu uma sequência de 15 voltas direto, provavelmente uma simulação de corrida, mas todas as vezes que ele passou na nossa frente era como se fosse domingo e ele estivesse liderando a corrida. Algo impossível de se acontecer nesse carro.

E, cada um dos pilotos teve a sua chance na pista. Fotografei quase todos, deixei Mazzepin de fora, por motivos óbvios. E, quando achamos que mais nada de interessante poderia acontecer, eis que os candidatos ao título vêm dividindo a última curva e lado a lado cruzam a reta dos boxes, para o delírio de todos. Verstappen meio que espremeu Hamilton bem na nossa frente e todos pudemos ver que o inglês não gostou nadinha da atitude do holandês.

Tuomas e Kim logo começaram a xingar o piloto da RBR e meu noivo e cunhados, estavam de pé, vibrando com a cena, até a minha sogra e mãe ficaram de pé para ver o que acontecia na pista.

Com os ânimos mais calmos, ouvi o mesmo pedido de todas as pessoas que me cercavam:

— Me diz que você fotografou esse momento!

Sim, eu tinha conseguido pegar cada um dos quadros da disputa.

Com o fim da primeira sessão, Kim pediu para ver as fotos que eu tinha tirado, me xingou pelo excesso de fotos de Kimi e das McLaren, o que não era novidade nenhuma.

No intervalo de duas horas, comemos um pouco e trocamos as primeiras impressões sobre o treino.

Alex foi o primeiro a falar.

— E você me dizendo que a sexta-feira é chata e sem emoção. O que foi aqueles dois, lado a lado aqui na nossa frente.

É, ele tinha sido mordido pelo bichinho da F1 e agora era um torcedor de verdade. E pelo visto era mais um para a turma de Lewis Hamilton.

Will se arrependia de não ter começado a assistir à categoria mais cedo e até meu sogro deu o braço a torcer, dizendo que poderia começar a assistir, se não tivesse mais nada para fazer.

Pepper estava um tanto perdida, ainda não sabia quem era quem na pista, e precisava da ajuda do aplicativo para entender tudo, e Olivia estava sendo uma professora muito paciente com ela.

Quando vimos, outro motor foi ligado e lá fomos nós para o segundo treino livre!

Alex ficou de pé por todo o treino, ele, Will, Tuomas e Kim comentando cada lance. Sr. Pierce, com meu celular na mão era um olho na pista e o outro nos tempos, e ele comentava quem estava mais rápido e mais lento com relação ao treino da manhã como se tivesse guardado cada um dos tempos. Já Tanya, minha mãe, Dona Amelia e Pepper estavam só vendo a confusão que tinha virado o autódromo, minha sogra achando o ambiente diferente dos demais eventos esportivos que ela já tinha ido, minha mãe estava contando os minutos para poder voltar a falar em um tom de voz normal.

Eu e Vic comentávamos as estratégias da sexta-feira e tentávamos descobrir quem estava escondendo o jogo e quem realmente iria sofrer no calor de quase 40ºC que faria na prova de domingo.

E, no meio disso tudo tinham Elena e Olivia, que não se importaram nem um pouco em ignorar os demais pilotos, para elas só importavam cinco. Kimi Räikkönen, o favorito. A dupla da McLaren, afinal, os gritos de “Vamos Papayas!” não eram à toa. Sebastian Vettel e Valteri Bottas, o outro finlandês do grid. Ou seja, elas gritaram por sessenta minutos sem parar.

Com o fim do treino, alguns dos carros vieram fazer teste de largada e se alinharam nos colchetes. E foi a hora em que a torcida mais vibrou, afinal, alguns, antes que as equipes autorizassem o teste, faziam um pouquinho de gracinha e aceleravam os carros por um tempo, só para fazerem barulho.

Daniel Ricciardo, da McLaren foi um deles, para a nossa alegria. E, pelo tempo que ele ficou parado no grid fazendo isso, Elena não deixou de pular e nem de balançar a bandeira laranja da McLaren.

— Acho que até o papai já achou onde estamos a essa altura! – Liv gritou no meu ouvido.

— Você acha? Olha para o telão! – Apontei para o telão que fica no fim da reta ao mesmo tempo em que meu sogro me mostrava a tela do celular.

A transmissão tinha encontrado Elena e sua bandeira no meio da torcida e agora ela era a imagem do momento. Uma garotinha, com a camisa e a bandeira da McLaren, expressando toda a sua felicidade em ver o carro da equipe favorita parado bem na frente dela.

Sim, Elena estava no telão. Ela e Liv!

Liv vendo isso, cutucou Elena e falou para ela dar tchau. E o que as duas fizeram?

Além de pularem mais alto, começaram a acenar e foi claro o que elas gritavam, mesmo que não houvesse som ambiente: “VAMOS PAPAYAS!! VAMOS PAPAYAS!! VAMOS PAPAYAS!!”

Com o fim do teste de largada, o pessoal começou a sair da arquibancada. Esperamos um pouco para fugirmos da confusão e estávamos no estacionamento, uns quarenta minutos depois do final da sessão, quando Ian manda o gif das duas filhas pulando e gritando.

— Só falam delas aqui dentro da McLaren. Ainda mais depois que as reconheceram.

— Podia ser pior, imagina se elas estivessem torcendo para a Ferrari? - Foi o que eu respondi.

— A Pietra já tinha vindo aqui dentro do box para rir da minha cara.

— Não duvido.

Voltamos para o hotel mais animados do que viemos, Will tinha muito o que perguntar sobre o restante do final de semana, meu sogro a mesma coisa e, assim, conseguimos colocar os três carros na mesma chamada e fomos conversando por todo o caminho, que levou quase uma hora.

O jantar foi tranquilo, resolvemos ficar no hotel, pois todos estavam cansados e até porque meu pai e Ian ainda não tinham chegado do circuito.

Estávamos indo para os quartos, quando eles e o restante da equipe que estava hospedada no hotel chegaram. Entre eles os pilotos, Lando Norris e Daniel Ricciardo.

E as torcedoras mirins da McLaren foram reconhecidas e quando entramos no elevador, para dar o dia como encerrado, o álbum do dia incluía, agora, uma foto de cada uma das meninas com a dupla de pilotos da equipe mais alaranjada da Fórmula 1.

E esse foi o só o primeiro dia!

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— Essa tal de Fórmula 1 é mais divertida ao vivo, no circuito, do que pela TV. – Alex comentou assim que se deitou do meu lado.

Tive que rir.

— Estou vendo que alguém se apaixonou pelo esporte... – Cantarolei.

— Não vou negar. Gostei do que vi. Gostei da torcida. Apesar de que você ficou bem quietinha.

— Estava assessorando seu pai e preocupada com Pepper e sua mãe. Elas nunca tinham ido.

— Gostaram tanto quanto eu. Esqueceu o tanto que a sua sogra veio falando na volta. Agora, o que me espera amanhã?

— Mais uma sessão de treino livre, e a formação do grid. É dia de ficar realmente de olho nos tempos para que se consiga um lugar do lado limpo da pista.

— Isso realmente influencia na largada? – Ele quis saber.

— E como.

— Pode desenvolver isso aí. Quero ter uma vantagem em cima do Will amanhã. – Alex disse e se sentou virado para mim, interessadíssimo no que eu ainda tinha que contar.

A aula de Fórmula 1 foi tão boa, que quando assustamos já eram 03:00 da manhã.

— Só ninguém vir nos acordar daqui a pouco. Encarar o seu pai como a primeira pessoa a se ver pela manhã não é nada agradável. – Ele comentou quando apagou as luzes.

— Posso te jurar que a recíproca deve ser verdadeira. Meu pai não deve ter gostado de ver o genro de roupão meio aberto, mostrando o peitoral nu ao lado da filha dele de jeito nenhum.

— E não se esqueça das tatuagens. – Alex fez piada.

— Exatamente. Tem elas. Melhor já estarmos prontinhos logo cedo para que ninguém fique de mau-humor.

 

[1] Vão embora!

[2] Bom dia a todos! Em italiano.

[3] Obrigada, mamãe.


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Notas finais do capítulo

E essa foi a sexta! Prometo que no dia de sábado haverá muito mais coisa do que só F1!
Muito obrigada a você que leu!
Tenha um ótimo domingo e até o próximo capítulo!!
xoxo



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