Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 62
Os Nieminen Encontram os Pierces (e Mais Algumas Pessoas)


Notas iniciais do capítulo

Voltando com o capítulo gigante que (finalmente) traz as duas famílias juntas!
Se preparem para uma aula basicona de finlandês e algumas dicas de italiano! Sim, somos poligotas nessa história!
Tenham uma boa leitura!



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Como eu já tinha terminado o check in foi fácil de observar a reação de cada uma das pessoas restantes.

Meu irmão mais velho observava a filha e com muita gentileza a puxou pelo braço para abraçá-la, perguntando como ela estava e como tinha sido a viagem. Meu pai e minha mãe me olhavam. Minhas três amigas que já estavam reunidas no centro do lobby, e de braços cruzados, observavam todos, já analisando a família de Alex e as reações da minha família. Tanya, Tuomas e Kim só esperavam os próximos movimentos. Da parte dos Pierce, minha sogra foi a primeira a se movimentar para começar as apresentações, mas parou antes mesmo que pudesse falar uma palavra ou dar um passo, pois um furacão loiro, de um pouco mais de um metro de altura, se soltou da mão de Tanya, passou correndo entre meu pai e minha mãe e vinha na minha direção dizendo:

Täti[1]! Täti! Täti! O pouco, que não era nem pouquinho nem poucão, chegou!! – E depois de dizer isso, pulou nos meus braços abertos.

Hei pikkuinen[2]! Como você está? E essa mão? Não vai melhorar? – Dei um abraço apertado na caçulinha da família.

Äiti[3] disse que na semana que vem tira isso. – Ela me estendeu a mão machucada. – Mas täti, eu senti tanta saudade da senhora!! Muita mesmo! Desse tamanhão aqui ó: - E ela estendeu os braços tentando abri-los o máximo que conseguia para poder me mostrar o tamanho da saudade que sentia.

— Eu também senti saudades suas. – Dei um beijo na testa dela que me abraçou apertado.

E foi aqui que eu perdi a minha sobrinha, pois ela viu...

Setä[4]!!! Setä!!! – Começou pulando no meu colo. – Oi!!! Eu tô te conhecendo pela primeira vez! – Estendeu os braços na direção e Alex e só aqui se lembrou. – Täti, o setä fala finlandês?

— Não, Elena, ele ainda não fala. Mas já entende algumas palavras, e sabe que você o chamou de tio. – Respondi tentando manter a seriedade, mas a pergunta inocente dela arrancou risadas dos presentes.

Alex chegou perto de mim e Elena pulou do meu colo, só para parar na frente dele e, estendendo os braços para cima, começar a pular, pedindo colo. Ele não pensou duas vezes e logo pegou Elena no colo que o abraçou apertado.

Setä, você trouxe a camisa da McLaren, né? – Foi a primeira coisa que Lena perguntou.

— Trouxe sim. E você, trouxe a sua?

— E a bandeira da Finlândia. Falando nisso, a täti, ela já te convenceu a torcer pelo Kimi?

Eu sabia que Elena ia me colocar em saia justa, mas não sabia que seria tão cedo. Ao fundo escutei minhas amigas quase se engasgando para conter a risada. Encarei as duas e elas desapareceram para o bar.

— Vamos dizer que ela tem tentado, mas eu preciso da sua opinião primeiro, Elena, só para saber se ela não está exagerando. – Alex piscou para Elena que abriu um sorriso enorme.

— Não. Ela não está, ele é o melhor piloto do grid!

— Então eu vou torcer para ele.

Elena deu um gritinho e tornou a abraçar Alex e começou a falar sobre a corrida de forma embolada. E foi aqui que eu consegui me mexer e comecei a apresentar cada uma das pessoas. Ou eu nem precisava, já que minha mãe e Dona Amelia já saíram conversando como se se conhecessem a séculos.

Kim, Vic, Will e Pepper engataram uma conversa sobre viagens, algo como “A Kat vai trabalhar e a gente pode pegar carona no jato dela e viajar junto, ela paga tudo e nós tiramos férias!” Eu desconfiava que eles se dariam bem, mas não tão bem.

E, por fim, apresentei Alex para a família.

Kim falou que estava decepcionado com o cunhado, pois eu ainda estava viva e respirando, mesmo depois de cair da prancha. Vic parou na frente de Alex e tentou ameaçá-lo. Mas ela mal tem 1,60 de altura e Alex tem quase 1,90... não dava para levar a sério essa ameaça nem se meu noivo quisesse.

Ian e Tanya, com Liv agarrada na mãe, foram os próximos, e depois de se certificarem que a filha do meio estava inteira, não tinha nenhuma tatuagem ou piercing, eles agradeceram por ele ter recebido Liv e ter feito as vontades da menina nos últimos dias, a piada ficou para mim, pois eles ainda juravam que eu tinha que sustentar a “minha filha”. Tenho certeza de que nenhum dos dois jamais esquecerão aquela manchete.

Tuomas tentou passar despercebido, até que Liv gritou:

— A täti já sabe que você pegou a guitarra dela, não adianta fugir, ladrãozinho.

E garoto parou, encarou a irmã mais nova.

— E você pegou o violão. – Retrucou.

— Eu salvei o violão da tia de ter uma depressão. É completamente diferente.

Tuomas, só para deixar a irmã muito sem graça, veio para perto de mim e depois de me cumprimentar e cumprimentar Alex, só disse:

— Tia, me dá a sua guitarra? A minha quebrou e não tenho grana pra arrumar...

— Pode ficar. – Falei.

— Valeu! E Alex, ainda bem que você não escutou o que o tio Kim falou, ou eu tava lascado. Preciso da tia viva, viu? Pois ela é a única que lembra que tem sobrinhos na família! – Cumprimentou Alex e saiu mexendo com Olivia que quase se engasga de tão injuriada que ficou.

E, por último, meu pai. Ele me abraçou, disse que estava com saudades, e me analisou como um todo. Satisfeito com o que viu, se virou para Alex.

— E, bem, pai esse é o Alex. Alex, meu pai. – Apresentei os dois, rezando para meu pai não falar nada.

Alex, todo educado, estendeu a mão para meu pai, que até aceitou e o cumprimentou, mas foi logo alertando.

— Você não esqueceu o que conversamos naquele dia, esqueceu, meu rapaz?

— Não, senhor.

— Não vou conversar com você nesse final de semana. Porém, quando você for à Londres, conversaremos. No mais, obrigado por ter recebido Olivia, dá para notar nas feições dela que ela adorou cada minuto.

— Olivia será sempre bem-vinda, senhor. Assim como toda a família. – Alex respondeu. Meu pai só confirmou com a cabeça, e disse que queria conversar comigo mais tarde, mas que agora iria acabar de chegar do autódromo e se arrumar para o jantar.

Nos despedimos temporariamente dele, que saiu xingando Liv pelo excesso de malas.

Isoisä[5]... isso é porque o senhor não viu na hora que a minha mala explodiu dentro do quarto! – Olivia disse na maior sinceridade. – Voou roupa pra tudo o que é lado.

— Sua mala explodiu, Liv?

— Vish, Dona Amelia, a senhora não faz ideia. O quarto virou uma bagunça só.

— E o que você estava querendo colocar lá dentro? – Tanya perguntou à filha. – Queria trazer o Thor dentro da sua mala?

Äiti... só a senhora vendo. E o Thorzinho, mesmo lesado como só ele pode ser, não tem nada a ver com isso!

— Eu não quero nem passar perto! – Ian falou.

— Mas pai, eu preciso de ajuda para rebocar isso aqui. – A garota gesticulou para as duas malas e a mochila.

— Manda pra Londres de navio. Você conhece alguém que faz isso.

— Alguém quer me ajudar a levar isso até o quarto? – Liv pediu estendendo as mãos em prece.

Kim levou uma mala, falando na cabeça de Liv e na minha, que eu tinha ensinado só coisa errada para a garota. Alex não se importou em carregar a outra e Elena, que cismou que estava cansada e se sentou em cima da mala que ele levava. Will, por sua vez, saiu falando que se tivesse mais uma, ele carregava, só para provar que ele era o melhor tio americano que Liv tinha.

Enquanto que no outro elevador, foram meus sogros e meus pais; e eu nem queria escutar uma linha da conversa deles.

Quando descemos no andar, Tanya liderou o caminho até a suíte, eu estava por último, pois fiquei para segurar as portas do elevador, e quando saí pra seguir a turma, fui, literalmente, arrastada até o outro lado do andar.

— Fica calada! Eu não quero que o seu beau apareça agora. – Pietra sibilou e ela e Mel continuaram a me arrastar pelo corredor, uma cena bem suspeita para quem observava de longe.

— Me solta! – Pedi.

— Não... você vai correr para pedir ajuda. Agora é a nossa hora de conversar. – Melissa disse. – Vic vem daqui a pouco. – Disse e abriu a porta de um quarto e as duas, literalmente me arremessaram no sofá e ficaram de pé, me encarando com os braços cruzados.

— Agora me fala, onde eu arrumo um daqueles para mim?! – Pietra pediu desesperada, se ajoelhando no chão, fazendo jus ao seu sangue italiano.

E eu juro que não entendi nada.

— O que foi aquela cena dele com a Elena?! – Melissa falou.

— Também senti saudades de vocês! – Murmurei me sentando direito no sofá.

— Não sentiu não. Estava ocupada demais aceitando esse anel de noivado! – Pietra quase que arranca a minha mão para ver o anel. – Madonna mia! Olha isso! Ele acertou de verdade nas pedras. – Estendeu meu braço para que Mel pudesse ver o anel.

— Muita coragem sua aparecer com isso no dedo na frente da sua família. Ou eles já sabem? – Mel disse depois de observar a joia.

— Ninguém sabe de nada. – Vic apareceu dentro do quarto. – Mas Dona Diana viu o anel e está com aquela cara de quem está só esperando que contem a novidade.

— Eu me esqueci de tirar o anel. Vamos dizer que a manhã foi corrida!

— Corrida? Sei que tipo de atraso você teve. – Mel brincou. - Falando sério, amiga. A família inteira é gente boa mesmo ou estão atuando? Nunca achei que fosse possível duas famílias tão diferentes se darem tão bem!

— Eles são ótimos. Nada de atuação ali.

— Kim e Will já estão pensando em como vão sacanear o Alex durante o final de semana. – Vic me informou. – E mudando de assunto... achei que seu pai iria torcer a cara para Alex, mas parece que foi tudo bem.

— Foi tudo bem, porque o Surfista Tatuado está escondendo as tatuagens... quantas são e onde estão mesmo? – Pietra tentou a sorte.

— Já disse que não conto e Alex meio que resolveu vir de blusa de manga comprida só para dar uma boa impressão para meu pai mesmo. – Confirmei.

— Hei, hei! Esse é realmente para casar! Ele tem medo do sogrão ou só está preparando o terreno, para então aparecer descamisado em uma bela manhã na cozinha na frente de todo mundo?

— Respeito, Mel.... ou talvez eu tenha deixado escapar que meu pai iria odiar cada uma das tatuagens...

— Preparou bem o terreno, hein? – Pietra começou a rir.

— O que não adianta muito, afinal, pelo que fiquei sabendo, minha mãe mostrou uma foto do Alex para meu pai, logo que começamos a sair... e ele estava sem camisa. – Disse com um muxoxo.

E o trio só riu da minha cara.

— Agora, o que é tão sério que você não podia falar por telefone? – Melissa começou a conversa que adiei alguns dias atrás.

— Vocês ainda não sabem mesmo? – Conferi os rostos das minhas amigas.

— Eu sei, mas não espalhei a fofoca dessa vez. – Vic levantou a mão e tomou um tapa de cada uma das meninas. – Eu prometi para Dona Diana que não falaria nada. – Explicou.

— Tá, tudo bem. Começa a contar. – Pietra arremessou os saltos do outro lado da salinha que tinha no quarto, se levantou e pegou uma garrafa de vinho do frigobar, servindo uma taça para ela e uma para Mel e outra para Vic. – Não vou te oferecer, primeiro porque você não bebe, segundo, não te quero bêbada no jantar de daqui a pouco. Então, desembucha.

E eu contei cada uma das armações de meu avô. Cada pequeno detalhe do que tinha acontecido. Ao final do meu relato, a garrafa de vinho tinha acabado e minhas amigas estavam em choque.

— Eu te avisei. Naquele sábado em que conversamos, que eu tinha um jeito de desaparecer com “Você Sabe Quem” – Pietra falou mal-humorada.

— Eu ainda não acredito que o seu avô fez isso com você! Justo com você! Tem que ser muito picareta para aprontar algo assim com a própria neta. – Melissa explodiu.

— E ainda tem a Miss Antipatia da sua irmã, querendo te vender pra mídia. Pelo amor! Por que você não coloca a Cobra, seu Avô Vindo do Inferno, e a Família Ganância em um contêiner e sem querer, solta as amarras e deixa o quarteto boiando no oceano até afundarem? – Pietra inventou esse plano.

— Para isso eu ainda enfiaria a Suzanna Cameron também. – Comentei.

— Ela e a Mia deveriam ser chamadas de “As Cobras”! – Vic fez piada.

— Ô e como. Vocês não fazem ideia do que é encarar as duas em uma mesma noite.

— HA!! O lançamento da propaganda!! Pode contar os mínimos detalhes, quero saber de tudo. – Melissa deu um pulo e se animou.

Só que na mesma hora, meu celular, e o de Vic, começaram a tocar.

As duas estenderam a cabeça para ver quem me ligava e ao verem a foto e o nome do contato, abriram um sorriso nada bento.

— O Surfista está com saudades da noivinha! – Cantarolaram e começaram a rir.

Pedi licença e atendi.

— Eu sei que você foi sequestrada por suas amigas, mas só para te falar que daqui a pouco temos que ir jantar...

— Eu já estou indo. As fofocas podem ser contadas amanhã. – Respondi.

— Ótimo. Vou subir para o quarto.

— Onde você está? – Perguntei desconfiada.

— Conversando com o Kim, Will, Pepper, Tanya e Ian no bar. Te vejo daqui a pouco.

— Até. – Desliguei o telefone e fiz uma careta.

— E o que o Bonitão queria? – Pietra, como sempre muito curiosa, quis saber.

— Só avisar que daqui a pouco temos que ir para o jantar. – Respondi e peguei minha bolsa para ir saindo.

— Eu vou junto! – Vic disse.

— Claro! Fazem parte da mesma família. – Mel fez uma careta.

— E nada de vocês aparecerem. – Avisei.

— Mas nós vamos. Sou a fã número um do seu sogro, Bionda[6]!

— Pietra, fique longe.

Porém o sorriso de Pietra e Mel me disseram que elas iriam aprontar comigo.

Eu e Vic saímos do quarto e paramos na frente do elevador, esperando. Quando as portas se abriram, eis que demos de cara com a turma que estava fofocando no bar. Ian e Tanya desceram no andar. Minha cunhada falando que não tinha nem mais os filhos do lado dela, porque eles foram levados para algum lugar.

— Olha as desaparecidas aí! – Will brincou.

— Ela sabia do plano das outras duas desde o início. – Informei para meu cunhado, apontando para Vic que só deu um tchauzinho.

— Foram fofocar e nem me levaram. – Pepper brincou. – Mesmo que eu não saiba de quem vocês estão falando mal, quero escutar! Me levem da próxima vez.

— Pode deixar! Vou te atualizar nas fofocas durante o jantar. – Vic respondeu rindo.

— Você deveria deixar aquelas duas doidas longe da gente. – Murmurei.

— Ha! Elas querem ir? – Kim riu.

— Sim. – Respondi infeliz.

— Eu vou é rir muito. – Ele tornou a falar e eu tive que explicar quem elas eram para Will e Pepper.

Cada um desceu no seu andar e nos despedimos temporariamente. Quando fiquei sozinha com Alex, tive que falar.

— Desculpe-me ter sumido e te deixado junto com todo mundo.

— Relaxa. Vic explicou o que tinha acontecido. Ninguém ligou e, como o elo estava temporariamente indisponível, resolvemos ir para o bar, ver se o álcool fazia efeito e começávamos a conversar.

— E pelo visto funcionou. – Comentei.

— E como! Mas não precisava. Aliás, você viu as nossas mães?

— Não. A última vez que vi as duas, elas estavam no outro elevador.

Nos encaramos e soltamos ao mesmo tempo.

— Não vai sair nada de bom dali.

E rindo fomos para o quarto, no corredor, Alex cismou de me abraçar por trás e começar a beijar o meu pescoço. O que dificultou a minha tarefa de abrir a porta do quarto, e cada vez que eu não conseguia encaixar o cartão na porta, ele ria no meu ouvido.

— Não está me ajudando. Quer por favor... – Comecei até que escutei uma voz conhecida.... – PERKELE![7]! Meu pai!

Na mesma hora Alex deu um passo para trás e eu acertei o cartão na leitora e antes que alguém pudesse nos ver, entrei no quarto e puxei Alex comigo.

— Eu não acredito que estamos no mesmo andar que meus pais!

Alex levantou um dedo me pedindo silêncio, e de trás da porta, pudemos escutar, não somente as vozes dos meus pais, mas dos pais dele também. E pelo som das portas se fechando, um dos casais estava no quarto da frente e o outro do nosso lado.

— Não acredito na nossa sorte. – Alex murmurou.

— Você quer dizer: Falta de sorte, não é?

— Isso aí. – Ele começou a rir. E tudo o que nos restou foi rir da nossa situação.

— Mas eles não sabem que estamos aqui... – Alex comentou com um sorriso diabólico, ao se jogar na cama, enquanto eu arrumava a minha roupa.

— Com coisa que eles não reconhecem as nossas vozes.

— É só não falarmos alto. – Ele se levantou e veio me abraçar.

— Um caso bem interessante para você. – Comecei.

— Conte.

— É bem pequeno. Uma vez meu pai estava na Malásia, e o casal do quarto ao lado estava muito, mas muito animado e não o deixava dormir, sabe o que ele fez?

— Ligou para a recepção. – Alex disse simplesmente.

— Não. Ele bateu na porta, e enquanto eles não a abriram, ele não parou de bater, dizendo que, se ele não conseguia dormir, os dois não conseguiriam ter paz. Agora, imagina se ele escuta algo e cisma de fazer a mesma coisa? Quem vai abrir a porta é você! E você, Garoto da Califórnia, acha que ele vai te deixar vivo depois do que ele escutou?

— Me convenceu. Seu pai é perigoso. Acho que podemos só... jogar xadrez durante a noite, ou discutir a política mundial.

— Discutir política sempre dá confusão. – Falei rindo.

— Então nós vamos ter é que jogar paciência mesmo.

— Paciência é bem inofensivo. Muito. Agora, vai se arrumar.

— Ou, talvez, podemos trocar de quarto! – Disse com um sorriso, já dentro do banheiro.

— E com qual desculpa? A de que o seu sogro está no quarto ao lado não é motivo de troca de quarto.

— Eu vou pensar em uma.

— Banheira entupida também não cola. Tem o chuveiro.

— Não me desanime, Kat.

Um pouco mais de uma hora depois, nós dois esperávamos no saguão pelo resto das famílias. Alex ainda pensava em uma desculpa para trocar de quarto, pois ele dizia que nem roncar ele poderia.

— Você não ronca tanto assim. – Tentei confortá-lo.

— Quero ver quando você começar a falar.

— Vai que eu falo a coisa errada, né? – Brinquei com a cara dele.

Nesse meio tempo, a porta do elevador se abriu e de lá saíram Ian, Tanya e os filhos. Elena veio correndo e pulou bem no nosso meio, se sentando tanto na minha perna, quanto na perna de Alex, perguntando se tínhamos gostado do vestido novo dela.

— Se você não tivesse corrido, Elena, seus tios teriam visto o seu vestido. – Tanya informou. E foi o que bastou, pois ela pulou de onde estava e ficou de pé na nossa frente, para então dar uma rodada nos mostrando o laço que tinha atrás.

E aos poucos todos foram descendo, quando Dona Amelia e o Sr. Pierce apareceram, Elena foi até eles, agora sem correr, sendo recebida por um abraço de meu sogro. E o que o Furacãozinho disse?

— O senhor tem os melhores abraços, vovô!

— Pronto, agora ela ganhou o velho de vez! – Alex murmurou no meu ouvido.

— Não diga nada, mas Olivia achou a mesma coisa. E eu espero que ele não fique chateado por Lena tê-lo chamado de vovô!

— Não vai. Mas seu pai não deve ter gostado muito... -  Ele comentou ao se levantar e me ajudar.

Eu ia comentar algo, mas Elena não deixou, pois simplesmente falou:

— Eu agora tenho um vovô finlandês, um vovô inglês e um vovô americano! E duas vovós inglesas e uma americana!

E foi a vez da minha sogra abraçar Elena.

Só para variar, Will foi o último a chegar e vendo todo mundo rindo, teve que perguntar.

— Tudo bem, perdemos o que agora? Qual foi o vexame que a Kat deu?

— Por que eu tenho que dar vexame, Will?

— Vexame é você estar sempre atrasado! – Dona Amelia disse para o filho.

— Não perdeu nada, tio Will. Só a Elena. – Liv explicou.

— E o que você aprontou agora, Pouca Sombra? – Will se virou para Elena que estava elogiando a roupa de Pepper.

— Nada. – Minha sobrinha disse simplesmente.

— Elena chamou o seu pai de vovô e a mim de vovó. – Dona Amelia respondeu toda feliz.

— Que ótimo! Agora que a senhora já tem uma neta, vai parar de ficar pedindo netos para nós. – Ele apontou para ele e Pepper. – Mas pode continuar a pedir para eles. – Apontou para Alex e para mim.

Meu pai me encarou e minha mãe levantou uma sobrancelha para mim e olhou para a minha mão, onde, mais cedo, ela tinha visto o anel, que eu tinha deixado no cofre do quarto, para não chamar atenção de meu pai e irmãos.

Eu, rapidamente, só troquei de assunto:

— Então podemos ir? – Perguntei, já sabendo que os próximos minutos seriam de discussão sobre quem ia com quem.

E não deu outra, depois de quase quinze minutos, nos dividimos nos carros, e eu e Alex acabamos tendo a companhia de Elena e Olivia, para o desespero de Ian, o espanto de Tanya e desgosto de meu pai que não gostou nada da visão da filha caçula dentro de um carro ao lado do namorado, com duas meninas parecidíssimas com ela, no banco de trás.

Antes de sairmos do hotel, só escutei Ian me ameaçando:

— São minhas filhas, Katerina. E elas voltam comigo para a Europa!

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Como quem escolheu o restaurante foram minha sogra e minha mãe, as duas, literalmente, tomaram a frente quando chegamos e não pararam de conversar por um minuto sequer. O que rendeu comentários de Will.

— Cara, na boa. – Ele começou quando parou atrás de nós, esperando a chance de poder se sentar à mesa. – Nunca é bom quando as duas sogras se dão tão bem assim...

Olhamos para ele.

— É sério! Sua mãe é gente boa, Kat... mas, na história dos relacionamentos, quando as sogras se dão bem, o relacionamento naufraga.

— Só porque a sua sogra não é a sua fã número um e o seu sogro não gosta de aparecer lá na Fazenda, não significa que tem que ser a mesma coisa entre as famílias da Kat e a nossa, Will. – Alex disse bravo.

— Meu sogro não gosta de ir lá na Fazenda porque tem ciúme do papai. Não é culpa do velho se a minha sogra meio que é fã dele. – Will disse dando de ombros e Pepper e eu tivemos que conter a risada.

— Eu te disse, Will, que não era para espalhar essa história! – Pepper deu um tapa no namorado.

— Sua mãe não é fã do meu pai não, né Kat? – Will perguntou.

Olhei um tanto azeda para ele.

— Só garantindo que não teremos torta de climão hoje... porque foi assim na primeira vez que nos reunimos com a família da Pepper.

— Tô até hoje digerindo aquele jantar... – Ela concordou debochada. – Sério, meu pai não precisava ter feito aquilo. No mais... acho que podemos nos sentar agora. – Ela apontou para a mesa onde praticamente todos já tinham escolhido os lugares. Sobrando quatro. Dois entre meu pai e Ian e dois entre Kim e Liv. Will e Pepper rapidamente se sentaram ao lado de meu irmão e os três só deram aquele sorriso de lado, esperando que Alex e eu nos sentássemos.

— Eu vou matar o meu irmão! – Alex murmurou no meu ouvido. – Ele nos distraiu direitinho.

— Coloca o meu na conta. Isso está parecendo que foi armado.

Parecendo? Kat olha essa mesa! Nós não vamos poder nos mexer sem que alguém nos olhe!

E era verdade, tinham nos colocado no centro da mesa, sem que tivéssemos pedido.

Os únicos que pareciam alheios a essa armadilha eram meus sobrinhos, Tuomas e Olivia já estavam discutindo o que queriam pedir. E Elena, ela estava indagando por que não poderia comer a sobremesa primeiro, já que era mais gostosa do que a comida.

Alex, ao ouvir esse comentário, me deu um chute na canela e só falou:

— Bem sua sobrinha mesmo.

Mas o comentário quase silencioso dele, foi repetido em alto e bom som por Ian.

— Ô Katerina nº 2, dá para parar de querer comer só doces? E se ficar emburrada, fica sem sobremesa de vez!

Lena só olhou para o pai e depois para mim.

Täti, faz alguma coisa! Eu só queria sorvete!

Meu sogro só deu uma risada.

— Sobremesa só depois do jantar, Elena, você sabe disso! – Falei firme.

 Ao meu lado, tanto meu pai, quanto meu noivo, esconderam a risada com uma tosse.

— Se ao menos você seguisse isso, né Kat? – Meu irmão gêmeo abriu a boca.

Para o azar dele, Kim estava na minha frente, e eu deliberadamente mirei a canela dele e dei um chute bem forte ali, fazendo questão de que o bico do meu scarpin pegasse bem no osso da perna.

Ele me olhou atravessado e eu só dei um sorrisinho debochado para ele.

— Parem os dois. – Meu pai alertou em finlandês.

O garçom veio e cada um fez seu pedido, Elena bem que tentou conseguir um doce antes do prato principal, mas tudo o que ela conseguiu foi ser ameaçada, novamente, de ficar sem a sobremesa, com isso, ela se levantou do lugar e veio se sentar no meu colo.

Täti... como é difícil ser eu! – Ela murmurou no meu ouvido, porém, todos ouviram o desabafo da dramática.

— Acho melhor você ficar quietinha e ouvir o seu pai. Ou não vai comer sobremesa pelo final de semana. – Falei com ela em finlandês.

— O final de semana todo? – Ela me perguntou com os olhinhos arregalados de medo.

— Sim. É só você ver a cara que o seu pai está fazendo agora.

Elena olhou para Ian que nos encarava, tentando entender o que nós conversávamos.

— E o que eu faço para poder comer doce?

— Comporte-se à mesa, respeite o que seus pais estiverem falando e não fique pedindo por doces quando você sabe que não é a hora.

Elena fez um biquinho, parou um pouco e se escorando mais em Alex do que em mim, disse simplesmente.

— É melhor eu fazer isso mesmo. Não quero nem o papai, nem a mamãe, bravos comigo.

—  É assim que se fala! – Dei um peteleco na ponta do nariz dela. - Agora volte para o seu lugar para que possamos comer. E quando quiser conversar com alguém que está distante de você, é só chamar. Nada de ficar correndo em volta da mesa. É perigoso.

Minha sobrinha concordou comigo e voltou para o lugar ao lado do pai. Ian me agradeceu com um aceno de cabeça e, ao invés de ficar um pouco quieta, afinal, Alex estava conversando com Kim e Will por sobre a mesa, creio que combinando uma viagem ou algo assim, senti meu pai me observando.

— Pode perguntar, papai. – Voltei a falar finlandês aproveitando que todos conversavam entre si e não prestariam atenção em nós.

— Ele tem te tratado bem? – Olhou rapidamente por sobre o meu ombro, na direção de Alex.

— Pode ficar tranquilo, papai. Ele me trata muito, mas muito bem.

— Tem certeza, filha. Não é só encenação?

— Tenho a mais absoluta das certezas, papai. Se eu pedisse, Alexander pularia de um prédio por mim.

Meu pai ponderou a minha resposta e, tardiamente percebi que tinha soltado uma hipótese bem real, afinal, eu estava noiva de um amante do parkour.

— Andei sabendo de algumas coisas sobre ele... – Meu pai disse depois de um tempo.

Dei uma olhada ao redor da mesa, antes de fazer a pergunta crucial.

— Que tipo de coisas?

— Que ele foi processado por agredir um fotógrafo. E acusado de bater na ex-namorada.

— Alex realmente foi processado por um paparazzo. – Comecei a explicar. – Mas não foi sem motivos. Ele estava saindo com a ex dele de um restaurante, quando fotografaram por baixo da saia dela. Alex pediu para que o fotógrafo apagasse a foto. Ele não o fez... não sei todos os detalhes.

— E a acusação de violência doméstica?

— Uma invenção da ex dele, com uma grande ajuda de Mia. Não aconteceu nada. Foi, na verdade, ao contrário. Ela bateu nele. Não sei se o senhor percebeu a cicatriz acima do olho esquerdo. Aquilo ali é o resultado do momento em que a ex arremessou uma caneca na direção dele. Toda a história do abuso foi desmentida um ano depois em um programa de TV. Ela disse que fez isso para saber qual seria a reação de Alex. E completou falando que ele não faria mal a uma mosca.

— Mas, mesmo assim, ele bateu em um fotógrafo... – Claro que meu pai não deixaria essa informação morrer.

— Alex pediu que apagassem a foto, o paparazzo não fez isso, ele tomou a câmera da mão do homem, quando fez isso, quebrou dois dedos e depois a câmera. O fotógrafo o processou pedindo indenização, pois com o dedo quebrado não poderia trabalhar. Alex pagou uma indenização e saiu como o ruim da história. Contudo, sendo bem sincera, papai, eu também faria isso se fotografassem por baixo da minha saia. E eu não arrancaria só a câmera...

Meu pai tomou um gole do uísque e tornou a olhar em volta da mesa, para as duas famílias, que se davam bem e conversavam, pelo visto o passado nada bento de alguém era o assunto.

— Como trataram a Liv?

— Como uma neta.

Meu pai não gostou da comparação.

— Pelo menos as fofocas que saíram diziam que ela é sua filha... – Disse desgostoso.

— Sim... a culpa foi minha. Não deveria tê-la levado para correr... não ali. Contudo é o nosso hábito.

— Um mês e virou hábito?

— Foi o primeiro lugar em que fui, fora o apartamento e o escritório, quando cheguei na Califórnia. – Dei de ombros.

— E onde vocês se conheceram... – Ele completou.

— Também. Voltando à Liv, por que a pergunta?

— Por conta de Elena.

— O senhor não gostou de vê-la chamando meus sogros de vovô e vovó? – Tive que segurar a risada.

O silêncio de meu pai respondeu à minha pergunta.

— Saiba que me chamam de filha desde o primeiro dia. A família é assim. Eles são calorosos e simples.

E atores. — Meu pai destacou a profissão de quase todos da família.

— E carpinteiro, e dona de haras e mãezona, e diretor e surfista, surfista, praticante de parkour e ajudante em um abrigo de animais abandonados, dublê. – Fui indicando as outras “profissões” da família de meu noivo. – Meu sogro está fazendo os móveis do meu escritório, papai. Alex falou com ele, e Sr. Pierce não pensou duas vezes.

Meu pai me encarou, sem que ele visse, Alex me deu um cutucão com o pé por baixo da mesa, creio que ele estava prestando mais atenção na nossa conversa do que deixou transparecer.

— Você me disse ao telefone que o ama.

— Sim. Eu amo o Alex. – Repeti as palavras na cara de meu pai, e meu noivo escutou e entendeu essa frase e, creio que em um movimento mais automático do que pensado, pegou a minha mão que estava em cima da mesa na dele. E claro, meu pai viu isso. Todos viram isso.

— Ele fala...

— Meia dúzia de expressões e palavras. Pediu que eu o ensinasse. Até comprou um dicionário inglês/finlandês e tentou aprender sozinho.

E aqui a minha mãe abriu um sorriso, ela era outra que estava escutando nossa conversa, mesmo que estivesse conversando com Dona Amelia e meu sogro e cunhada.

— Ele fez isso? E quis te mostrar?

— Ah... não. Eu vi na casa dele. O dicionário e uma folha com algumas expressões. Não era para que eu tivesse visto.

— Ainda quero conversar com ele, KitKat. Longe de você, longe das minhas netas e do meu neto. – Ele mirou Tuomas que depois do gelo ter se quebrado, estava mais do que interessado em conversar com Alex e Will sobre surf e parkour.

— Posso pedir só uma coisa ao senhor?

— Diga, filha.

— Fale o que o senhor quiser, ameace-o como achar que deve, porém, por tudo o que o senhor ama, não conte com detalhes como eu fiquei depois da cena do casamento.

— E posso saber o motivo?

— Alex tende a ser superprotetor. E eu não sei o que vai se passar na cabeça dele se o senhor contar os pormenores de como fiquei. Eu sei que fiquei mal, sei que me isolei por quase dez dias e que vocês me tiraram de casa quase inconsciente porque eu parei de comer, porém eu não quero que ele saiba disso.

— Elabore.

— Ele sabe da história toda. Sabe o que aconteceu. E tem verdadeiro ódio de o senhor sabe quem por ter me feito sofrer. E, se acontecer de um dia, os dois se encontrarem... Alex vai querer me defender.

— Vou pensar no seu caso, KitKat.

— Papai.

— Dessa vez eu vou fazer o meu papel de pai corretamente, Katerina. Você querendo ou não. E discutiremos isso mais tarde. – Respondeu calmamente. E ali eu soube, ele iria contar para Alex.

— Sim, senhor.  – Concordar com ele era tudo o que me restava.

— Mas se te ajudar. Eu gostei dele. Tem tatuagens demais e poderia ter outro emprego, mas esse rapaz gosta verdadeiramente de você, filha. Tanto que ligou para a sua mãe para pedir conselhos a ela sobre você e uma crise de enxaqueca. – Meu pai disse e olhou para nossas mãos entrelaçadas em cima da mesa.

— Ele ligou? Alex me disse que...

— Ele ligou, Kat. Eu estava do lado dela quando o telefone tocou e depois ela me contou a história. Tinha anos que você não passava mal desse jeito, o que foi?

— Meu Chefe. – Resumi.

Papai suspirou.

— Ele é outra conversa que temos que ter, contudo não aqui e nem nesse final de semana. Não vamos estragar a reunião de família.

— Obrigada.

— E, por favor, volte a comer. Você tornou a emagrecer. Andou pulando o almoço novamente?  - Ele voltou ao inglês e disse um pouquinho mais alto.

— Meio sem tempo.

— Organize-se, filha. Se não fizer isso, sempre terá que dar essa desculpa.

— Tudo bem.

E, com essa deixa de meu pai, que foi alta o bastante para até Dona Amelia escutar, a conversa virou para o fato de que eu trabalho muito e descanso pouco. E eu tomei sermão até de Elena.

Em um determinado momento, quando todos já estavam comendo, Alex, muito discretamente me perguntou:

— Foi tranquilo como pareceu? – Disse se referindo à conversa.

— Te conto no quarto.

Ele tornou a pegar a minha mão e nós dois entramos na conversa de Will e Elena. Já que meu cunhado estava jurando para Leninha que ele era o melhor tio americano que ela tinha.

E o restante do jantar foi bem tranquilo, apesar de que quase todas as histórias vexatórias envolvendo ou Alex ou a mim foram contadas, para o nosso desespero e alegria de nossos irmãos.

O único problema da noite apareceu na hora da conta. Foi um tal de um querer pagar e o outro não deixar que ficamos quase meia hora discutindo a solução. Até que soltaram a comanda perto de mim.

— Você não vai fazer isso! – Alex disse injuriado, indo atrás de mim até o caixa.

— Claro que vou! A ideia de vir a Austin foi minha, nada mais justo do que eu pagar pelo jantar.

— Você já pagou os ingressos, nossa estadia... essa é minha.

— Mas não é mesmo! – Respondi e me virei para o caixa que esperava a nossa decisão sobre quem iria pagar. Se fosse Dottie já tinha dividido a conta e estava esperando com a expressão fechada que terminássemos de discutir.

Fui mais rápida que Alex e acabei por pagar a conta sozinha.

— Vai começar com isso de novo? – Meu noivo começou a reclamar no instante em que saímos e paramos para esperar por nossos carros.

— Com o que?

— Essa ideia fixa de que você tem que pagar por tudo!

Nossos pais observavam nossa “briga”.

— Não estou começando nada. Só seguindo a sua regra.

— Minha regra?! – Alex respondeu surpreso.

— Sim, a do “Eu convido, eu pago!”

E ele, pego de guarda baixa, só soube me encarar.

— O gato comeu sua língua? – Provoquei.

— Você jogou as minhas palavras contra mim?

— Como você diria, aprendi com o melhor. Agora é só aceitar.

Lógico que Alex não ficou nada feliz, ainda mais se levarmos em conta que eu tinha dado essa rasteira nele, bem na frente da minha família. Porém, se contentou em ficar quieto, ao menos enquanto estivéssemos na frente de nossos pais.

O esquema da volta foi o mesmo da ida, com Elena e Liv como nossas caronas e eu dirigindo, já que ele tinha bebido. Lena estava feliz da vida porque agora ela tinha muito chocolate. – Uma barra, que meu sogro fez questão de dar para ela, desde que ela prometesse que não comeria tudo de uma vez. - e ia falando que agora ela tinha sobremesa até o final do ano.

Já no hotel, ainda ficamos conversando mais um pouco, sobre quase nada importante, a não ser o final de semana que tínhamos pela frente quando entram no lobby, vindas de sei lá onde, Pietra e Melissa.

— Boa noite! – Disse a italiana toda simpática, como se o encontro fosse pura coincidência. Encarei as duas e suspirei, elas não eram nada sutis.

— Oi, tia Pietra! – Liv, que não tinha medo de morrer, repetiu a saudação de mais cedo e quase que a Louca arranca a cabeça dela só com o olhar.

— Ah! Então você é a Pietra! – Dona Amelia perguntou. – E você deve ser a Melissa. – Apontou para a outra e pegou as duas de surpresa. – Kat fala muito de vocês!

E as duas me olharam, afinal, sim, eu tinha conversado com a minha sogra sobre as minhas amigas.

— Bem, sim. – Mel foi a primeira a sair do estado de susto.

Levantei do sofá e fiz as devidas apresentações. Deixando Alex por último, o que não foi uma ideia muito boa, pois deu tempo de Pietra se recuperar do choque inicial e soltar o tipo de comentário que sempre me faz questionar os motivos de eu tê-la escolhido como amiga.

— Finalmente conheço pessoalmente o namorado da minha amiga. E só te digo uma coisa, Hollywood, a Bionda ali tem amigas, e as amigas dela conhecem as pessoas certas para te apagarem da face da terra. Faça a nossa melhor conselheira chorar, que você não vai viver para pegar a próxima onda. Estamos entendidos? – Ela estendeu a mão na direção de Alex.

— Estamos entendidos, Pietra. – Alex até que levou a ameaça bem tranquilamente.

— Certo. E uma única pergunta, só para eu ter certeza de que a minha amiguinha finlandesa não tem dedo podre. – Essa foi Melissa. - Vai torcer para qual equipe?

Segurei a risada, minha amiga tinha jogado o meu noivo na fogueira com uma simples pergunta.

McLaren. Vou até uniformizado.

Pietra olhou descrente para mim.

— Não fui eu quem deu a camisa! – Me defendi.

— E quem foi?

Elena, como só ela pode ser, soltou:

— A ideia foi minha e a Liv comprou.

Traditore[8]!!  - A Italiana louca falou, apontando para minha sobrinha mais velha. – Achei que você estava do meu lado!

Elena não deixou barato.

— Mas o setä tem que ir uniformizado para o autódromo! E vai igualzinho à família inteira! Vai até torcer pro Kimi também!

Pietra revirou os olhos e Melissa segurou a risada.

— Mesmo assim está avisado. – Tornou a falar, dessa vez com Alex. – Ainda vamos nos encontrar mais vezes, e vamos ter uma conversinha. E você, Informante de Quinta Categoria, me deve uma caixa de chocolate finlandês. Ainda mais depois do vexame de mais cedo! – Falou ao se despedir de Olivia.

— Eu não te devo nada, zia[9]. – Liv retrucou de uma só vez.

— Ah! Me deve sim. Porque você foi uma péssima informante, mesmo quando me prometeu que iria me passar os mínimos detalhes.

A família inteira olhou para Olivia.

— O pagamento não caiu na conta. – Foi a resposta que ela deu. – Sem pagamento, sem informação.

Claro que ninguém passa Pietra para trás, e ela só deu aquela encarada mortal em minha sobrinha e disse:

— Você, mezzo finlandesa, mezzo inglesa, ainda vai precisar de mim. Ainda mais com a sua adorada tia do outro lado do mundo, e eu vou me lembrar desse dia!

Alex tentava não rir da conversa sem nexo das duas, e foi quando eu soltei:

— Não te disse que ela tinha que ser internada em um manicômio? Mas ao invés, mandaram essa aí para um Colégio interno na Inglaterra... deu no que deu.

— Eu te defendendo e você me solta uma dessas, Katerina. Vê se pode! Você já foi uma amiga melhor. Conversaremos mais tarde! – Me deu um tapa no ombro. – Um prazer conhecer vocês, espero que gostem do final de semana. E que aproveitem a cidade e a corrida! Buona notte[10]! – Se despediu e foi embora para os elevadores.

Melissa, que ficou calada por um tempo, só soltou.

— Ela é doida, mas é gente boa. Foi um prazer conhecer vocês! Nos esbarramos por aí!

Com as duas indo embora, Kim só falou:

— Ainda dá tempo de fugir, Alex. Isso aí foi só a prévia. Elas podem ser muito piores.

— Ainda mais se a Pietra estiver bêbada. – Tanya comentou rindo.

— Em minha defesa, você estava avisado que elas eram doidas e mesmo assim insistiu em conhecê-las. – Comentei e me levantei. – Uma boa noite para vocês. Nos vemos amanhã bem cedo. – Sai me despedindo de cada um, e quando achei que seria seguro ir para o andar sem que ninguém ficasse sabendo qual era, eis que minha mãe e minha sogra cismam de me seguirem.

Antes que a porta do elevador se fechasse, pude ver a cara de Alex e, se antes ele já estava um tanto desorientado, tendo em vista quem eram nossos vizinhos, agora ele estava desesperado.

— Não acredito que estamos no mesmo andar! – Minha mãe me encarou nem um pouco surpresa.

— Para a senhora ver a coincidência.

Dona Amelia trocou o assunto e quis saber que horas sairíamos para o autódromo.

— O primeiro treino é as 11:30, daqui até o autódromo leva um pouco mais de uma hora... com os lugares marcados, podemos sair às 09:30 sem problemas. – Fui falando e quando chegamos no andar, eu juro que quis ir para o outro lado, porém, não seria uma ideia muito boa, assim, segui as duas, ainda falando sobre a manhã seguinte. Quando paramos em frente às nossas portas, foi até cômico.

— Vocês estão aí? – Minha mãe quis saber.

— Sim.

Ela deu uma risada.

— É, Kat... às vezes você é realmente azarada. Tomara que seu pai não descubra.

— Obrigada pelo apoio, äiti. – Disse desanimada. - Hyvää yötä[11]! – Despedi dela.

Hyvää yötä, tytär[12]! – Me deu um beijo na testa. – Boa noite, Amelia. Amanhã continuamos a falar mal do casalzinho.

E eu juro que quis sumir.

— Muito engraçado. – Comentei.

Minha mãe não ligou e depois de acenar, fechou a porta do quarto.

— Boa noite, Dona Amelia. Espero que nada tenha assustado a senhora.

Minha sogra, como só ela sabe ser, me deu um sorriso.

— Não poderia ter sido melhor, Kat. Mas eu já esperava por isso! Nós vamos nos dar muito bem! Agora vá dormir, antes que você durma em pé, minha querida, até amanhã! – Me deu um beijo na testa e entrou também.

Com as portas fechadas, pude respirar aliviada. A parte de introdução das famílias tinha acabado e nada tinha saído errado. Eu tinha dado sorte.

Entrei no quarto, tirei os sapatos e como eu já tinha deixado tudo organizado para ir para o COTA[13], me permiti outro banho e, enquanto Alex não vinha dormir, peguei meu livro para ler.

Esperei por Alex até quando eu consegui, e foi só eu apagar a luz e ele entrou no quarto, resmungando que não deveria ter ficado jogando conversa fora com Will, Kim, Ian, meu pai e o pai dele.

— Eu ainda estou acordada. – Falei ainda no escuro e vi ele dando um pulo.

Acendi a luz e olhei para ele.

— Quem te arrastou para o bar? – Perguntei.

Ele deu uma risada.

— Kim. Os homens foram, felizmente percebi a armadilha bem cedo e fiquei enrolando a cerveja.

— Meu pai é esperto.

— Notei. E tem um outro problema.

— Ele sabe que estamos aqui. – Confirmei.

— Como você sabe?

— Nossas mães. Subi com elas, se esqueceu?

— Vamos ter que passar a noite jogando paciência mesmo. – Ele disse sem empolgação nenhuma.

— Acho melhor você resolver tomar um remedinho para dormir e apagar durante toda a noite, pois amanhã eu tenho quase certeza de que alguém vai querer te usar de escada e de assento.

— Elena?

— Pode apostar! Ela te adorou.

Alex abriu um sorriso.

— É impossível não amar aquela pequena. E até o Tuomas falou muito durante o jantar.

— Ele só demora para se abrir com quem ele não conhece, mas parece que vocês têm interesses em comum...

— Temos que tirar umas férias com todos eles.

Comecei a rir.

— Não se empolgue antes de domingo. Meus irmãos são traiçoeiros e talvez você pode não gostar do que vai ver. – Alertei.

— Se você já está querendo ficar livre de mim, Kat, só te digo uma coisa, não dá mais. – Ele disse e foi para o banho.

— Ah! Alex! – Chamei.

Ele só colocou a cabeça para fora do banheiro.

— Que foi?

— Não demore muito, seu sogro está no quarto ao lado e pode ficar desconfiado... – Tentei manter uma feição séria, mas não consegui.

Alex não falou nada, só entrou para o banho, que, realmente não foi demorado.

Definitivamente meu noivo tinha medo do meu pai!

 

[1] Tia.

[2] Oi Pequena!

[3] Mamãe

[4] Tio!

[5] Vovô.

[6] Loira, em italiano.

[7] Droga!

[8] Traidora, em italiano.

[9] Tia, em italiano.

[10] Boa noite, em italiano.

[11] Boa noite.

[12] Boa noite, filha!

[13] Circuit Of The America, ou Circuito das Américas.


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Notas finais do capítulo

E é isso! Espero que tenham gostado dessa maluquice, desde a introdução das famílias, à conversa das amigas e o jantar.
Só um aviso, essa confusão só está começando, tem algo muito mais insano prestes a acontecer!
Muito obrigada a você que leu, nos vemos no domingo!
Até lá!
xoxo



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