Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 57
Fama


Notas iniciais do capítulo

Porque nem tudo são flores na vida da Kat... e um pouco de drama não faz mal nenhum!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799284/chapter/57

Nosso dia começou com a já tradicional corrida. Dessa vez não levamos os cachorros, afinal, Will e Pepper iam conosco.

Nós já estávamos no estacionamento esperando o casalzinho por um tempo – Alex ficando a cada segundo com uma carranca maior. – quando Will estacionou o carro ao lado do BMW do irmão e já foi logo falando.

— Eu duvido que vocês vão conseguir nos acompanhar, mas vou dar essa chance para o trio. Ainda mais para você, mano, afinal, além de velho ainda está todo ferrado.

— Estão atrasados. – Alex murmurou. – Kat tem horário para estar no escritório.

— Ela manda naquilo lá, se chegar atrasada ninguém vai abrir o bico. – Disse Will só para encher a paciência de Alex ainda mais.

Nos alongamos e saímos para correr.  Alex e Will logo começaram a falar dos jogos de futebol, seja o campeonato profissional ou o universitário.

— Brigam, brigam, mas é só juntar que logo estão falando e fazendo coisas sem sentido algum. – Pepper riu do meu lado. – E à propósito, você recebeu alguma encomenda de Dona Amelia?

Liv do meu lado segurou a risada.

— Sim, eu recebi várias.

Pepper respirou aliviada.

— Achei que ela tinha feito a festa só com a gente. Sabe como é, dado uma empolgada porque você e Alex estão morando juntos e já tem um certo compromisso mais sério. – Apontou para o meu anel.

— Não, ela deve ter feito a mesma coisa nas duas casas, e eu estou completamente sem graça.

— Quer um conselho de alguém que já está por aqui há cinco anos? – Minha cunhada soltou.

— Vai me ajudar?

— Não sei, mas só digo que se acostume. Ela faz isso de vez em quando. No início, eu morria de vergonha, ficava sem graça. Contudo, a família é assim. Alex já cansou de deixar presentes sem ser nenhuma data especial. Inclusive para mim. Sr. Pierce a mesma coisa, uma vez apareceu com uma mesa enorme e as cadeiras, simplesmente chegou na casa que ainda era só de Will e colocou a mesa e as cadeiras no deck dos fundos e foi embora. Ninguém sabia que ele estava fazendo aquilo, ele só fez e nos deu. Eu quase morri de tão jeito que eu fiquei. Agora, nem falo mais nada.

— Eu entendo o fator “gostar de dar presente”, eu também gosto, porém Dona Amelia ontem...

— É porque foi a primeira vez. O primeiro presente que ela me deu foi Cookie. Eu sempre amei cavalos, montava quando podia, mas nunca tive, comentei isso com a família um mês depois que comecei a namorar Will e ele me levou à fazenda. Não deu uma semana, voltamos lá, Dona Amelia me disse que tinha uma surpresa para mim. Era Cookie. E não foi só ele, a sela completa e ainda ganhei o chapéu. Foi uma das maiores surpresas que alguém já me fez. Então, Kat e você também, Liv, se acostumem, vocês ainda vão ter muitas surpresas.

Só concordei com a cabeça. Não tinha o que fazer quando uma pessoa queria te presentear.

Não estávamos nem na metade do caminho quando Will começou a reduzir a velocidade.

— Mas já? – Alex cutucou o irmão.

— Eu estou fora de forma.

— Não, Will, você é preguiçoso, fora de forma estou eu, que fiquei parado por um mês!

— Vamos voltar? – Meu cunhado pediu.

— É até o posto 10 e você está dando uma péssima impressão para Liv. Ela corre sem nem respirar mais forte. Anda, deixa de ser molenga, Will. Uma garota de 12 anos te ultrapassou!

Mesmo quase morrendo de falta de ar, Will correu. Não porque ele queria, mas porque ele não poderia deixar uma pré-adolescente chegar na frente dele.

Só que toda essa tentativa de bancar o forte não deu muito certo, pois no final, Will só se escorou no carro e caiu sentado.

— Ele vai sobreviver? – Liv me perguntou.

— Espero que sim, já comprei o ingresso e reservei o hotel para ele, ou seria um tremendo desperdício de dinheiro.

Pepper parou na frente do namorado e só soltou:

— Que vexame, hein? Ninguém aqui está bufando, só você.

— Dá um desconto. Tem anos que eu não corro tanto.

— O máximo que você consegue correr por dia é a distância entre o sofá da sala e a geladeira. - Alex falou para o irmão.

— Não, eu diria que a faixa de areia para poder chegar na sua frente no mar e roubar a sua onda perfeita. – Will contra-atacou.

— Você perdeu para uma garota de 12 anos. Que vem de Londres. Onde não faz esse calor todo. – Pepper disse sem dó.

Will olhou para Liv, que tinha se empoleirado no capô do carro de Alex.

— E onde foi que você aprendeu a correr essa distância toda e nessa velocidade?

Minha sobrinha só apontou para mim.

— E por que você fez isso com a sua sobrinha, Katerina? Quer matar a menina?

— Sempre é bom fazer um esporte, Will, e quanto mais cedo se começa, melhor será para a sua saúde no futuro.

— Vocês três são robôs, não pode. Nem estão ofegantes.

— Corremos quase todos os dias.

— Mas precisava ir até o Posto 10?

— Fui lá no meu primeiro dia aqui, Will. Meio que virou a minha meta. – Tentei explicar.

— Amanhã vocês não terão a minha companhia não. Até encontro com vocês aqui, mas eu venho surfar. O que me diz, Alex, elas correm e a gente surfa?

Alex ia responder, quando escutamos uma pessoa gritando o nome dele e quando nos viramos, não era só uma pessoa.

Era um bando de paparazzi.

— Ah, merda! – Will xingou. – Pepper para o carro!

Antes que Liv pudesse reagir, puxei-a de cima do capô e Alex já tinha aberto a porta de trás.

— Mas o que?! – Ela perguntou assustada.

Paparazzi. Fique de cabeça abaixada, por favor. – Pedi e ela se deitou no banco de trás.

— Tudo bem com a minha sobrinha? - Will perguntou antes de entrar no carro.

— Vai ficar. Vai embora, Will. Ande! – Alex disse, já pulando para o banco do motorista, eu tive que dar a volta e consegui entrar no carro antes que o primeiro fotógrafo chegasse muito perto.

Olhei para trás, Liv estava com os olhos arregalados e quase gritou quando um mais afoito, bateu com a câmera no vidro de trás.

— Calma, Olivia. Só tenha calma. Não tem como eles te fotografarem dentro desse carro. Fique com a cabeça baixa e se esconda atrás de um dos bancos. Já estamos saindo daqui. – Alex disse enquanto manobrava para fugir do grupo que quase pulou em cima do capô. Notei que ele mesmo estava nervoso, assim só segurei o seu braço.

— Eles não viram o rosto dela. – Falei baixinho.

Conseguimos deixar o píer, vimos Will um pouco mais à frente, também tendo problemas com os fotógrafos, pois um o seguia.

Alex murmurou alguns palavrões do meu lado e eu automaticamente busquei pelo retrovisor. Tinham duas motos nos seguindo.

— Não vai dar para despistar. Eles...

— Vai sim. Acelera o carro. – Falei confiante.

— Kat, o sinal está quase fechando.

— Exatamente por isso. Acelere. O motor potente vai te ajudar a atravessar esse cruzamento sem problemas. – Garanti.

Por milagre, Alex fez o que pedi e logo voamos pelo cruzamento, para que nenhum carro que estava arrancando do sinal recém-aberto nos pegasse.

— Eles ficaram para trás? – Perguntei olhando no retrovisor do meu lado.

— Sim, os dois. Mas onde foi que aprendeu isso? – Alex me perguntou.

Antes de respondê-lo, conferi Liv.

— Como você está, pikkuinen[1]?

— Me sentindo como se estivesse no banco traseiro de um carro de rally! – Ela comentou.

— Carros de Rally não têm banco traseiro. – Falei.

— Pois é... essa acelerada do setä foi para tentar me fazer passar mal por acaso? – Ela disse. – Posso me levantar agora?

— Pode, não tem ninguém nos seguindo.

Liv se sentou no banco de trás e deu aquela conferida na rua.

— De onde eles vieram? Não tinha ninguém, estávamos só brincando com a cara do setä Will e do nada, começaram a gritar...

— Não sei, Liv. Eu não sei. Eles simplesmente aparecem. – Respondi.

— Acha que eles tiraram muitas fotos? – Minha sobrinha perguntou preocupada.

— Vamos torcer para que não. – Murmurou Alex.

Estávamos quase em casa, Alex dirigia com cuidado para não ser surpreendido por nenhum possível fotógrafo, quando o telefone dele tocou.

— Bom dia, mãe! – Ele saudou. – A senhora está no viva-voz.

— Bom dia, meu filho. Kat e Liv estão com você?

— Bom dia, Dona Amelia! – Nós duas respondemos juntas.

— Ótimo! E como vocês estão?  - Ela perguntou, como se soubesse do que tinha acontecido.

— Bem. – Foi nossa reposta padrão.

— Isso é muito bom!

Olhei para Alex e ele tinha uma expressão estranha no rosto.

— Mãe, o que aconteceu? – Ele perguntou de uma vez, quando já guardava o carro na garagem.

Fez um silêncio no outro lado da linha. Muito incomum da minha sogra fazer isso.

Mas ela estava concentrada em outra coisa, pois logo o meu celular emitiu um bip e algumas fotos me eram enviadas.

— Dona Amelia, o que é isso? - Perguntei ao abrir as fotos e dar de cara com fotos de paparazzi.

E nas fotos estavam: a própria Dona Amelia, eu e Liv.

— Quando isso foi tirado? – Quis saber Alex.

— Ontem. Durante a nossa saída para o almoço. Fomos a pé. – Respondi ainda encarando as fotos, meu irmão iria me matar por ter colocado a filha dele nas páginas de fofoca.

Liv colocou a cabeça no meio dos bancos para ver o que tanto eu olhava.

Ei... ei... ei...— Ela murmurou. - Isä tulee olemaan raivoissaan![2]

— Liv? Está tudo bem? – Dona Amelia questionou.

— Comigo sim, mas meu pai não vai gostar disso.

Só que tinha mais, alguém aproveitou o passeio de minha sogra com a minha sobrinha e tirou um monte de fotos. Várias. Se as passasse muito rápido, daria um filme em câmera lenta.

— Eles tiraram fotos da gente a tarde inteira? – Liv quis saber, mas foi fácil de perceber que ela estava além de assustada.

E, embaixo, a manchete era ainda melhor:

Depois de aparecer ao lado de Alexander Pierce em um evento há sete dias, sua namorada, Katerina Nieminen foi vista andando ao lado da sogra, Amelia Pierce e de uma garota que é extremamente parecida com ela. E parece que os Pierces não se incomodaram com a presença da enteada, já que a consagrada atriz passou a tarde ao lado da garota, fazendo compras e a levando em pontos turísticos de Los Angeles.

— Como vamos desmentir isso? – Perguntei sobressaltada.

— Não vamos. Temos que deixar morrer. Daqui a pouco ninguém fala mais nada. – Dona Amelia respondeu.

— Sim, senhora. – Concordei, contudo não estava tão certa assim.

— Não se preocupem, deixe isso comigo. – Ela disse confiante e desligou.

Alex já tinha parado o carro na garagem e batia os dedos no volante, olhei para ele e depois para minha sobrinha que mordia a ponta do dedão de nervoso.

— Isso não é nada bom, não é? – Perguntei diante do seu silêncio.

— Tem sempre dois lados. Contudo, não é.

— Qual é o lado bom? – Liv perguntou, pude notar que a voz dela falhava.

— Você não mora aqui. Não estuda aqui, Liv. Eles te viram, te fotografaram, porém não vão seguir você. Não na intensidade que...

— Que seguem você e seus pais e seu irmão. – Ela completou.

— Exatamente.

Eu ainda olhava para as fotos e para a legenda absurda que tinham inventado, certa de que a qualquer momento, Ian e Tanya iriam me ligar para arrancarem a minha cabeça pelo telefone.

Mas como tudo o que está ruim tende a piorar, eis que recebo outra mensagem, dessa vez de Kim.

Eu não sei como eu vou te falar isso, Kat. Sei que você não está acostumada a ser seguida por fãs e fotógrafos, mas o que você tinha na cabeça quando saiu a pé, com a sua sogra, que é famosa, e com a Liv? Se fossem só vocês duas, tudo bem. Mas com a Olivia? A Olivia tem 12 anos, Kat. Deve estar apavorada.

Mordi o lábio para não entrar em desespero. Peguei a garrafa de água e sai do carro, assustando os outros dois que ainda pareciam pensar no desastre.

Täti? – Liv me gritou abrindo a porta.

Eu estava na porta de casa, quando Kim resolveu me ligar. E isso só provava a seriedade da situação, afinal Kim nunca me ligava, geralmente conversava comigo quando Vic telefonava.

— Eu não pensei que isso pudesse acontecer! – Comecei a falar em finlandês. – Não fazia a menor ideia de que iriam tirar fotos nossas. Era uma saída para o almoço. Perto de onde eu trabalho. Nunca imaginei que um simples almoço viraria esse pandemônio, Joakim, nunca! – Comecei a falar ainda mais alto e, à medida que ia subindo para o segundo andar, pude ouvir Alex parando no pé da escada e perguntando para Liv o que eu estava falando.

Tudo o que escutei de Liv foi:

— Ela e o tio Kim estão brigando. Por conta das fotos.

Apressei-me para o quarto, fechei e tranquei a porta, assim ninguém iria entrar e continuei a descarregar a minha raiva no meu irmão gêmeo.

— Kat... – Ele começou.

— Eu já disse, Joakim, eu não tenho culpa. Talvez eu não deveria ter deixado que ela saísse com a Dona Amelia, mas, mais uma vez, não tinha como eu prever que algo assim iria acontecer!

— KATERINA!  - Ele gritou. E eu afastei o telefone da orelha, encarando a tela, como se eu pudesse encarar o meu irmão. E esse grito me lembrou o grito que Matti deu na reunião de quinta-feira passada.

— Não grite comigo. – Não gritei de volta, mas sibilei.

— Só assim para você me ouvir. – Kim rebateu. – Eu não estou te culpando, Kat. Nem posso. Aconteceria o mesmo se ela viesse me visitar aqui em Chicago.

— Aconteceria? – Me joguei na cama, sentindo o desespero me tomar e, junto com ele, meus olhos se enchiam de lágrimas.

— Sim. É isso que esse povo faz, Kat. Eu só fui aprender isso depois de sair em revistas de fofoca ao lado de Vic, por situações tão comuns quanto o seu almoço de ontem.

— Eu não queria que a Liv passasse por isso. Não mesmo. É um inferno ter esse povo na sua cola. É um inferno não saber quando eles vão aparecer ou que tipo de foto vão tirar.

— Eu sei que é. E para você deve estar sendo ainda pior, pois além de nunca ter sido acostumada a isso, você sempre foi aquela que fica nas sombras e não tem como sair.

— Não, eu não tenho como sair disso. – Confirmei. – Eu aceitei os riscos, Kim, mas não queria colocar a Liv nisso.

— Ninguém quer, mas ia acontecer de qualquer forma.

— Não, se ela tivesse ficado em Londres, se eu não estivesse namorando o Alex, se eu não tivesse sido transferida para cá.

— Uma hora ela sairia nas fotos, Kat. Porque ela é minha sobrinha também. E mesmo com tudo o que aconteceu com você, você realmente acredita que nesse final de semana passaríamos despercebidos? Que ninguém tiraria uma foto da família inteira, da família do seu namorado e não iria postar ou pior, vender?

E Kim, sem querer, tinha me dado um choque de realidade. Eu não tinha pensado por esse lado. A reunião de famílias não passaria despercebida mesmo. Não com os Pierce. E, também, por Kim, eu só tive a noção da fama de meu irmão, quando vim para os EUA. Para mim ele não tinha essa fama toda, mas ele tinha. Seu nome era citado em programas de esporte, sua foto estava em jornais e revistas. Ele tinha fãs e não raro, via camisas com “Nieminen” e o número 25 estampado nas ruas de LA.

— Kat, você ainda está aí?

— Sim. Estou. Eu só...

— A ficha caiu, não caiu?

— Sim. Só agora. Eu agi por impulso com essa história do Grande Prêmio. Foi uma péssima ideia.

— Não foi não.

— Não?! Como não?

— Kat, só entenda. Não temos como fugir disso. Não mais. Eu só não sei como não ligaram nossos nomes ainda, mas quando ligarem...

— Isso pode piorar?

E meu irmão riu.

— É só a gente falar primeiro.

— E como você pensa em fazer isso? Porque eu não faço ideia...

— Redes Sociais, Kat... uma coisa que você não usa, mas deveria começar a usar.

— Eu estou pensando em sair desse planeta. – Murmurei.

Ouvi um barulho ao fundo da ligação, e depois a voz de Vic.

— E como a celebridade está?

— Eu não sou celebridade e eu estou péssima. – Gritei.

— Então se prepare para o round dois. Sua corrida matinal já está na internet.

Me afundei na cama.

— E sobrou para a família inteira agora. Até para a sua cunhada, que não sou eu...

— Meu Deus!

— Quer um conselho?

— Vai me dar uma passagem para Marte?

— Não, vou dizer para você dar um tempo da praia. Eles já sacaram a sua rotina lá. Ou muda de praia...

— É, vou me trancar em casa e só sair em carro blindado e filmado.

— Não diria que precisa do blindado. – Vic respondeu. – E seus carros já têm janelas escuras.

Joguei o telefone cima da cama e me deitei ali de barriga para cima, chorando, logo pude ouvir Alex batendo na porta.

— Você se trancou no quarto para chorar? – Kim perguntou.

— Tenho esse direito.

— Orgulhosa até onde foi parou e ficou. Incapaz de demonstrar fraqueza na frente de qualquer um. – Ele continuava a falar.

— Tudo bem, Kim, você venceu. Estou concordando com você. Em tudo o que você disse nessa manhã. Está feliz?

E meu irmão gargalhou.

— Creio que realmente vai chover na corrida, você concordou comigo.

— Cale a boca, Kim.

— Também te amo, irmãzinha.

Bufei.

— Vou aceitar isso como: “eu te amo, melhor irmão do mundo”!

— Palhaço.

— Agora é a Kat que eu conheço! Vai logo e abre a porta para o Alex, antes que ele derrube a coisa.

Rolei na cama, eu queria era poder voltar no tempo e dizer para Liv não vir... tanta coisa teria sido evitada e minha sobrinha não estaria no olho do furacão.

— Kat, vai lá, ou vai deixar seu namorado e sua sobrinha preocupados. E a gente se fala no final de semana.

— Se o Ian não me matar pelo telefone.

— Ele não vai te matar. Eu vou conversar com ele.

— Você vai defender a minha pele, Joakim? Você por acaso bateu a cabeça? Te acertaram um puck na cabeça no último treino.

Mais uma risada.

— Não, Kat. Mas alguém tem que acalmar a fera. Sei que a mãe vai te defender também.

— É... eu vou ter que ligar para ela.

— Vai dar o braço a torcer por duas vezes hoje?

— E tem outro jeito, Kim? Depois de tudo isso?

— Não, não tem. Mas posso te garantir que melhora. Não é você a pessoa famosa, é ele. Quando o Alex ou alguém da família dele não estiver por perto, você passará despercebida.

— Assim espero.

— Parou de chorar? – Meu irmão perguntou, realmente preocupado comigo.

— Não. Mas vou ter que abrir a porta. Nos vemos na quinta à tarde?

— Sim. Quinta estaremos todos em Austin.

— Então, até lá. – Tentei tomar coragem para me levantar.

— Tome conta da minha sobrinha.

— Pode deixar.

Näkemiin, sisko[3]! – Kim disse e e a ligação foi encerrada.

Ainda fiquei alguns segundos olhando para o teto, mas o fato de eu estar calada agora, parece que deixou Alex ainda mais nervoso, e ele começou a bater o pé insistentemente.

Respirei fundo, levantei e fui abrir a porta do quarto, para dar de cara com Alex e Loki. Os dois sentados do outro lado do corredor.

— Ahn... oi. – Murmurei.

Alex se levantou com um pulo e só me puxou pelos ombros para me dar um abraço.

— O que o Kim falou com você?

— Só fez a minha ficha cair de verdade. Nada demais.

— Você parecia bem nervosa quando subiu.

— Só para variar, descontei minha raiva em Kim. Ele já está mais do que acostumado com isso.

— Raiva de? – Meu noivo quis saber.

— Por ter jogado Liv no meio dessa bagunça. Eu me esqueci completamente dos paparazzi. Não deveria, mas me esqueci. Agora já é tarde. – Dei de ombros e me desvencilhei dos braços dele.

Alex tentou me seguir pelo quarto.

— Alex, você não tem culpa. – Me virei para ele e expliquei. – Nenhuma culpa. Eu que fui avoada e acreditei que isso não aconteceria. Aconteceu. É como Kim disse. Foi aqui, poderia ter sido ao lado dele, ou até mesmo nesse final de semana. Foi ontem e hoje. Eu tenho que aprender a manter um pouco mais de discrição e tentar manter meus sobrinhos longe disso. Aprendi a lição da pior maneira possível.

— Você não vai deixar a Liv presa dentro de casa!

— Deveria, contudo não vou. É injusto com ela que viajou por tantas horas, que fez contagem regressiva para estar aqui. Porém...

— Não diga isso, não fale que essa é a primeira e última vez que ela vem!

— Que escolha eu tenho, Alex? Me diga? É injusto com ela. Ela não pediu por isso. Ela não escolheu.

— Deixe ao menos que ela decida, Kat. Liv já tem 12 anos e vai saber escolher o que quer.

— Eu deixei que ela fizesse a minha cabeça para ir ao GP, Alex. E isso foi outro erro. Não deveríamos ir. Não vai acabar bem. – Constatei e fui tomar um banho.

— Não vai tomar café da manhã?

— Não estou com fome. – Afirmei.

Quando desci, não vi sinal de Alex, Liv estava na cozinha, uma xícara de chá na mão e cabeça baixa.

— A coisa tá muito feia? – Me perguntou.

— Não sei. Não conversei nem com seu pai, nem com sua mãe.

— Vovô?

— Não conversei com ninguém, Liv. – Falei.

— Eu vou poder voltar, não vou?

E foi só aqui que olhei para minha sobrinha. Ela estava com a cabeça baixa e passava a ponta do dedo na borda da xícara.

— Eu não sei.

— Mas, e seu quiser? – Ela questionou. – Eu gostei da Dona Amelia, do Sr. Pierce, eles me lembram o vovô e a vovó. Gostei do tio Will e da tia Pepper. Não vi quase nada de Los Angeles, mas o pouco que vi, eu amei. E tem a fazenda. Eu amei aquele lugar! Apesar de ser parecido com o Haras do bivô George, tem um ar muito diferente. E eu quero voltar. Porque a senhora não vai para Londres com frequência, nem o setä. E... täti, foi ruim ficar longe da senhora. A senhora sabe, minha mãe trabalha pra caramba, e quando está em casa, tem um monte de coisa para fazer e ainda tem a Elena... Tuomas não vai conversar comigo. Papai tá pra lá e pra cá... eu tenho minhas amigas, mas era com a senhora que eu conversava mais... com quem eu ficava a maior parte do tempo em que eu não estava na escola... agora tô ficando sozinha... porque eu não vou no escritório mais.

— E posso saber o motivo? – Me sentei na frente da minha sobrinha e ela me encarou.

— Matti.

— Não é assim que você o chama.

— Passei a chamá-lo assim. – Ela deu de ombros. – Desde que eu descobri o que ele fez. Eu já disse, täti, a senhora não merecia o que aconteceu. Foi... aquela cena foi... – Liv se embolou. – É triste de se lembrar. E saber que tudo aquilo só aconteceu porque tentaram arranjar um casamento para a senhora?! Estamos no século XXI, isso não existe mais! E depois, como se não bastasse a humilhação que te fizeram passar, te mandaram para o outro lado do mundo. Longe de todos. Da sua família, das suas amigas.

— Liv, você não pode lutar as minhas guerras. Ele continua sendo o seu bisavô e você deve respeito a ele.

— Por acaso ele te respeitou?

— Isso não vem ao caso. – Tentei pôr panos quentes.

— Não, täti, vem ao caso sim, porque tudo isso deixou tudo mundo enfurecido lá em Londres. Ninguém te contou, mas o bivô George foi tirar satisfações com o Matti. Não sei os detalhes, mas não foi bonito. Para falar a verdade, todo mundo teve o seu momento com Matti. E ninguém conversa mais com ele. Nem o Tuomas. A única que pergunta por ele é Elena, mas ela não entende o que aconteceu. Täti, ele nos tirou de você e te tirou de nós. Isso não foi justo. Você não pediu para vir! Como a vovó disse, isso não foi uma promoção, fui uma punição. Te puniram por algo que você não fez! Jogaram a culpa em você quando você nem sabia o que estava acontecendo! E foi por isso que todo mundo vai vir ao Grande Prêmio. Para te ver.

— Eu não vou voltar para Londres, Liv. Não posso.

— Não pode por conta do trabalho?

— Não, não vou voltar por conta do Alex. Não posso deixá-lo aqui. E ele não vai conseguir morar lá. – Expliquei.

— Mas eu só vou poder te ver a cada três meses? – Ela começou a chorar.

Me levantei e dei a volta na ilha, abraçando minha sobrinha.

— Eu tenho que ajeitar de vez a minha vida aqui, Olivia. Mas eu vou tentar arranjar um meio termo para ir mais para a Europa, nem que seja por um final de semana, uma vez por mês. Não foi só você que ficou com saudades, eu também fiquei.

— E como a senhora fez? Porque eu ainda tinha a vó, quando a saudade apertou. E aqui?

— Alex. Você não faz ideia o que nós passamos por aqui.

— Acho que não quero saber. Sei de quem é a culpa. – Ela fungou.

— Ainda é errado.

— Não tem clima no escritório para se trabalhar lá... – Liv comentou. – Não ficou ninguém que trabalhava com você lá. Mandaram a Wendy embora, trocaram o pessoal da cozinha, até os porteiros.

— Mas por quê? – Perguntei abismada.

— Não sei, täti. Mas um dia todos estavam lá, e no outro não tinha mais ninguém. Se não foi o Matti, quem foi?

— Você se lembra quando isso aconteceu?

Liv se pôs a pensar. Na terça, logo depois que a notícia sobre Alex chegou em Londres.

— Creio que dessa vez, Matti não tenha culpa. – Falei para Liv.

— E de quem é a culpa?

— Lucca Dempsey.

— Eu sabia que deveria ter socado a cara dele no dia que cruzei com ele no elevador.

— Você não vai socar a cara de ninguém, Olivia. Essa briga não é sua. – Avisei.

— Deveria ser, foi a minha tia quem foi mandada para o outro lado do mundo! Deveria ter sido o Lucca, não a senhora.

— Ainda tem coisas que você não entende, Liv. No dia em que você souber de tudo, vai entender o motivo de terem me mandado para cá.

— E eu achando que tinha uma família normal, feliz.

— “Todas as famílias felizes são iguais, as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira.” – Citei. – Só não se esqueça, não somos infelizes. Só somos complicados. – Dei um beijo na testa dela.

Anna Karenina, Leon Tolstói. Vendo por esse lado, não somos cheios de tragédias.

— Não, só algumas armações, mas são coisas que podemos superar.

— Vou tentar me lembrar disso. – Liv disse. – E, voltando ao início.

— Por mim, você pode voltar. Quando quiser, Liv. Tenho que ver como o seu pai vai reagir.

— Se ele reagir mal...

— Eu vou conversar com ele. – Prometi.

Kiitos, täti[4]! – Ela me abraçou apertado.

Ei kestä[5], Liv.

— A senhora está atrasada, né?

Conferi o relógio.

— Bem atrasada. Você vai querer ir comigo?

— Posso?

— Claro. Vá se arrumar.

Ela saiu correndo, quase tropeçando em cima de Alex que estava escondido perto da porta.

Anteeksi, setä[6]! – Ela gritou e subiu pulando os degraus.

— Você pode ter ouvido tudo, mas acho que não entendeu nada. – Comentei com ele.

— Não, mas vi a Liv chorar, o que foi?

— A consequência da minha mudança. Ela anda ficando sozinha, porque ninguém tem tempo suficiente para conversar com ela, e ela parou de ir para o escritório também.

— Parou?

— Sim, ela não vai mais lá, por minha causa. Não quer encontrar Matti e disse que toda a equipe que trabalhava comigo foi demitida. Tem mais coisa, mas preciso da minha mãe para me contar. A situação está pior do que eu imaginava.

Alex se sentou na minha frente e só ficou me encarando.

— Pensando que você se meteu com a pior família do mundo, hein?

— Não. Não é a pior família. Quem tinha que ficar do seu lado, ficou. Ou não estariam vindo nesse final de semana.

— É. Estão. – Confirmei.

— Eu acho que entendi o nome do seu ex... – Alex tentou cavar a informação.

— Sim, você escutou. Eu tenho quase certeza de que foi ele quem demitiu a minha ex-equipe.

— Não é culpa sua.

— Eu sei... mas eles não mereciam isso! Eram excelentes, Alex!

Ainda não é culpa sua. Você não controla isso. – Ele me abraçou.

— Quando eu acho que as coisas começam a melhorar, sempre vem algo e parece que quer impedir. – Falei infeliz.

— Vai dar tudo certo no final. – Alex me garantiu. – Dessa vez vai dar certo.

Ia perguntar o porquê ele disse “dessa vez”, mas Liv apareceu, já pronta e com a bolsa nos ombros.

—  Vamos? – Ela me chamou.

— Posso levar as finlandesas? – Alex se ofereceu.

— Só para ter a certeza de que vamos estar em casa no horário do jogo, não é? – Brinquei com ele.

— Pego no flagra. – Ele admitiu e foi nos guiando até a garagem.

—-----------------------------

Apesar de ter chegado bem tarde, consegui dar conta de tudo o que ficou pendente da segunda de tarde na parte da manhã e ainda terminei o serviço que apareceu.

Lógico que com as devidas ajudas de Liv e Amanda. Que ficaram responsáveis por distribuir e pegar o serviço para mim, dando uma folga para Milena que já começava a organizar as pautas das reuniões pré conselho.

Fiz questão de permanecer dentro do prédio na hora do almoço, pedindo algo tanto para mim quanto para Liv, afinal, ela também não tinha tomado café da manhã, e já tinha gastado mais energia do que tinha armazenado.

Comemos sentadas no chão da salinha, as duas descalças e conversando sobre o que nos esperava á noite.

— Eu nunca gostei do futebol que se joga na Europa, como eu vou gostar do Americano? – Liv me perguntou. – Eu sempre durmo, antes de chegar nos 15 minutos do primeiro tempo!

— Teremos que arranjar algo para nos distrair.

Täti, a única coisa que nos distrai é comida. E a senhora sabe disso.

— Teremos que nos manter acordadas a base de cachorro-quente sem molho e refrigerante.

— Não pode ser pipoca, não?

— Se tiver, também prefiro, porém, antes de irmos, temos trabalho para terminar.

Entramos em um ritmo confortável e às 15:00 horas, Liv já estava à toa, deitada no sofá da minha sala, lendo justamente Anna Karenina, já que eu tinha esse livro aqui no escritório.

Fiz a pauta da reunião de amanhã com Londres – pedi que a bendita fosse adiantada, por conta da folguinha que me dei na quinta e sexta-feira. Cobri cada ponto que Matti pudesse questionar e garanti que os lucros das últimas semanas fossem a pauta principal do encontro. Acabei de escrever alguns pontos importantes no bloquinho, quando meu celular tocou.

— Diga, Surfista!

— Já está com um humor bem melhor, Rainha do Gelo!

— Sim... já me conformei com a história toda.

— Isso é bom, mas eu estou te ligando para te avisar que já estou aqui no estacionamento.

— Não quer subir?

— Hoje não. Ainda vai demorar aí?

— Não, já estou juntando tudo.

— Liv não está com você?

— Sim, ela está aqui, se deitou no sofá e está lendo.

— Tal tia, tal sobrinha. - Alex brincou.

— Mais ou menos isso. – Confirmei. – Vou terminar tudo e daqui a pouco te encontro. Beijos.

— Até. – Foi a resposta que consegui.

— Bem, Liv, hora de arrumar tudo. Alex já está lá embaixo.

Ela deu um pulo do sofá e veio correndo para me ajudar e vinte minutos depois, nós duas saíamos do elevador, no segundo subsolo. Para encontrar Alex escorado no carro, com duas sacolas nas mãos.

— O que é isso? – Perguntei depois de dar um beijo nele.

— Um presente para você. – Ele entregou uma das sacolas para Liv. – E para você. – Estendeu a outra para mim.

— Preciso ter medo? – Perguntei.

— Não. – Ele garantiu, mas eu li em sua expressão que ele tinha aprontado com a gente.

Liv foi a primeira a abrir a sacola e tirou de lá uma blusa azul com detalhes em dourado, na parte da frente se lia Bruins.

— Vamos uniformizados para o jogo? – Ela perguntou.

— Se eu vou ter que ir com uma camisa laranja no GP, o que custa as duas irem devidamente uniformizadas para o jogo? – Alex retrucou.

— Para mim, nada. Achei bonitinha a camiseta. – Liv disse colocando a blusa na frente de si.

E eu olhei para minha sobrinha que sorria com o mais novo uniforme. Só me restou abrir a sacola e tirar de lá uma camiseta idêntica à dela.

Que o jogo começasse!

 

[1] Pequena.

[2] Não... não... não... papai vai ficar furioso!

[3] Adeus, irmã.

[4] Obrigada, tia.

[5] De nada.

[6] Desculpe, tio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero qiue todos tenham gostado. Quarta-feira é dia de jogo de futebol ameircano! Venham preparados!
Muito obrigada a você que leu até aqui.
Uma boa semana e nos vemos no próximo capítulo!
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Presos Por Um Olhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.