Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 56
Surpresa


Notas iniciais do capítulo

E hoje vocês vão saber o que Dona Amelia quer com a Kat e a Liv.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799284/chapter/56

— Claro que conheço. Pode liberar a entrada. – Disse. – E diga a ela qual é o andar, por favor.

— Visitantes na hora do almoço? Meu Deus, que pessoa sem coração, atrapalhando o almoço alheio! – Amanda disse indo para perto do elevador.

Eu só soube rir. E tive que conter a gargalhada quando as portas se abriram e tanto ela quanto Milena deram de cara com a minha sogra.

Milena até disfarçou bem, mas Amanda? Ela ficou estática, parada no meio da porta, com os olhos esbugalhados. Milena teve que puxar a adolescente pelo braço.

— Boa tarde, Dona Amelia! – Cumprimentei-a assim que as portas do elevador se fecharam.

— Boa tarde, minha filha! – Ela veio e me deu um beijo na testa e um abraço. E fez a mesma coisa com Liv. – Vim sequestrar Liv para andar comigo hoje, será que posso? – Ela brincou.

Olhei para minha sobrinha.

— Eu vou com certeza! Não sei aonde a senhora vai, mas eu te acompanho. – Ela garantiu.

—  Por mim tudo bem, desde que você não dê muito trabalho, Olivia.

— Não vou dar. – Minha sobrinha jurou.

— Bem, já que vocês vão sair, vou ver se como alguma coisa... aproveitar que tenho uma folguinha.

— Isso é ótimo! Eu levo vocês, tem um restaurante aqui pertinho que eu adoro! – Minha sogra falou e já foi andando para o elevador.

— Espere, só eu pegar a minha bolsa.

— É claro, e eu vou ser a curiosa e entrar no seu escritório. Um outro dia eu volto para você me mostrar o prédio. – Dona Amelia respondeu e me seguiu para dentro da sala, fazendo mais ou menos a mesma coisa que Alex havia feito quando veio aqui pela primeira vez. – Alguém gosta de ver as estrelas mesmo durante o dia! – Apontou para a minha cópia de Van Gogh.

— Eu gosto mesmo.

— Mas ainda acho que deveria ter um pouquinho mais de luz, não me admira que Alex sempre fique falando que vocês têm que correr de manhã. Você precisa pegar um pouco mais de sol, Kat.

Liv olhou para mim e começou a rir.

Logo em seguida, estava saindo ao lado de minha sogra e sobrinha para almoçar em algum lugar no centro de LA.

Como Dona Amelia havia dito, o restaurante não era longe e, apesar de ser um pouco mais chique do que os que Alex havia me levado até então, ainda permanecia na categoria: eu volto aqui.

Conversamos sobre outras coisas que não falávamos na frente dos meninos, e Dona Amelia começou a suspirar dizendo que estava com saudade de sair em uma tarde só para andar à toa, olhar para Los Angeles e terminar a tarde, tomando um drink em algum lugar perto da orla.

— E é exatamente por isso que chamei Liv para me acompanhar. Chamaria você também, Kat, mas sei que está cheia de coisas. Um dia nós duas sairemos sem ter Alex falando na nossa cabeça.

Voltamos para o prédio, minha sogra de braço dado comigo e falando como agora ela estava feliz por ver ambos os filhos felizes com suas garotas e, principalmente, como ela estava adorando que uma tivesse uma família tão grande a ponto de permitir que ela pudesse ser uma avó, sem ser avó.

Nos despedimos na porta do prédio, e eu pedi que Liv se comportasse. Dona Amelia desdenhou do meu alerta e já saiu falando que as duas teriam uma tarde e tanto.

E eu juro, me preocupei imediatamente quando a isso.

Subi para minha sala, e fui me preparar para a parte da tarde. Sabendo agora que voltaria sozinha para casa, estava tentada em adiantar o máximo de coisas que me fosse possível, tendo em vista que minha semana será mais curta.

Um pouco antes da minha última reunião, recebi uma mensagem de Alex.

Você sequestrou o meu carro!

E você o meu!— Rebati.

Isso não é justo! Você ainda tinha o Jaguar.

Considere isso o meu troco. E como foi a reunião?

Seu noivo terá um mês de novembro bem agitado. Quase não vamos ter tempo para muita coisa.

Você ainda vai poder ir em dezembro em Londres?— Perguntei.

Mas é claro, prometi para minha sobrinha mais nova que ela poderia me mostrar a Cabana da Barbie que ela ganhou. Não vou desapontar o pequeno Furacão Loiro.

Comecei a rir olhando para a mensagem. Alex nem tinha visto pessoalmente minha família e já falava de alguns como se os conhecesse há séculos.

Se alguma coisa mudar, Alex, é só avisar com antecedência, Lena nem deve estar se lembrando dessa promessa.

Não vou deixar a baixinha na mão. E como está minha outra sobrinha?

Sua mãe a sequestrou hoje. Veio aqui na hora do almoço e depois saiu com Liv. Disse que queria companhia para a tarde.

Bem... se prepare para encontrar a sua sogra cheia de embrulhos no final do dia. Ela estava de carro?

Disse que sim. Mas não faço a menor ideia de onde foram...

Meu pai deve ter enchido a paciência dela hoje, o Velho está obcecado com os móveis que está fazendo para você. Creio que até a semana que vem você já terá o seu escritório pronto, aí a nossa casa estará perfeita.— Para depois desconversar. – Que horas você chega hoje? Ainda quero levar Liv em um lugar.

Vocês estão mimando a minha sobrinha demais! — Reclamei.

Nossa Sobrinha!— Ele destacou. E, não. Estamos mostrando Los Angeles para ela. Só isso. E que horas você estará em casa?

Pelo visto temos reserva para algum lugar...

Às 20:00. E não permitem atraso.

Posso saber aonde vamos?

Não. Mas eu creio que vocês vão gostar.— Alex me respondeu todo misterioso e depois em deixou no vácuo.

Balancei minha cabeça e me pus a concentrar na próxima reunião.

A reunião com o financeiro me deixou com dor de cabeça. Tudo por causa do sistema de salário igual para funções iguais.

— E por que raios Londres está enchendo a paciência com isso agora? – Questionei.

— Porque extrapolamos o orçamento anual. Em quase 35%. Essas equiparações não foram previstas.

— Disso eu sei. Mas o que eles queriam, que desigualdades absurdas continuassem a acontecer?

E os três responsáveis pelas finanças do prédio deram de ombros.

— Tudo bem. Outro caminho. Era dito que havia equiparação aqui?

— Sim. Sempre foi dito e nossos relatórios constavam isso.

— Mas não havia. – Afirmei.

— Não.

— E para onde o dinheiro ia? – Questionei.

Os três homens se entreolharam. E eu soube a resposta sem que eles abrissem a boca.

— O ex-diretor do escritório embolsou esses números, não embolsou?

— Não temos provas. Ele dizia que eram para cobrir gastos de viagens, que Londres permitia essa jogada.

Passei a mão pelo meu rosto. Eu teria que encarar Matti Nieminen mais cedo do que pensei.

— Ok... eu quero o balancete anual desse escritório e com toda as viagens de Alberto Mancini destacadas. Façam a média dos gastos afirmados por ele e com o valor que gastamos com a equiparação. Depois me entreguem tudo.

— Isso vai abrir uma caixa de marimbondos. – Mitchel, o Diretor Financeiro, me disse.

— Vai. E a ferroada vai sobrar para mim. Acham que podem me entregar isso quando?

— Semana que vem, está bom, senhora?

— Ótimo. Vou pedir uma reunião extraordinária com Londres para sexta-feira da próxima semana.

— Te entregaremos a tempo.

— Muito obrigada. Mais algum problema?

E passamos para os gastos dos portos e de consertos e o ativo e o passivo. Essa reunião só foi terminar às 17:00 horas.

Quando todos saíram e Milena veio me entregar os relatórios do dia, ela só me perguntou:

— Se eu pedisse um autógrafo para sua sogra, ela acharia ruim?

— Nem um pouco. Deveriam ter pedido. Mas ela vai voltar aqui. Pode ter certeza, oportunidades não faltarão. – Garanti.

Milena deu uma risada.

— Creio que é melhor eu me acostumar com essas presenças por aqui... mas só te digo uma coisa, não me responsabilizo por minhas ações se o Jonathan Pierce aparecer por aqui. Sei que ele tem idade para ser meu pai, porém tem algo naqueles olhos....

— Milena... por favor. – Pedi rindo. – É informação demais.

— É mesmo. Vou parando por aqui. E só mais uma pergunta: Onde está Olivia? Não vi aquela loirinha durante a tarde.

— Minha sogra a sequestrou para fazer sei lá o que.

— O caso de sequestro do qual eu queria ser vítima.

— Milena, você por acaso tomou algo estranho na hora do almoço? - Perguntei diante da falação sincera de minha secretária.

— Não, mas comi uma salada com cogumelos... e não me pergunte a procedência deles. – Ela fez piada.

E rindo, nós duas fomos para o elevador.

Amanda nos olhava como se fôssemos doidas.

— Que piada eu perdi?

— Depende, você almoçou o mesmo que Milena? – Perguntei.

— E desde quando eu como fungo? - Respondeu a adolescente fazendo uma cara de nojo.

— Então, a piada é exatamente a procedência dos “fungos”.

— Como alguém pode comer aquilo? É nojento! – Amanda reclamou.

— Tenho que concordar. Tem coisa que não desce.

Milena nos olhou ofendida.

— Sabe qual é o problema de vocês? Vocês têm paladar de pobre. Eu gosto de comida sofisticada.

— E depois fica alta igual ao Empire State pelo resto do dia! – Amanda retrucou.

— Ah garota! Amanhã eu vou te fazer andar todos os andares a pé! – Milena reclamou.

As duas se despediram de mim e desceram no lobby, antes das portas se fecharem, ainda escutei Amanda rindo da cara de Milena.

Definitivamente eu só atraio gente louca.

Minha volta para casa foi rápida, mesmo com um trânsito e quando eu entrei na garagem, vi um carro que eu não conhecia, parado na vaga do carro de Alex. Presumi que aquele Audi Q5 deveria ser de Dona Amelia. E só pela quantidade de embrulhos que eu consegui ver pela janela aberta eu sabia que Liv tinha aprontado.

Passei perto do BMW e dei uma conferida no ar perto do carro, cheirava a carro limpo e não a barco pesqueiro. O Jipão estava limpo e até mesmo a minha Jamanta.

Quando entrei em casa, a primeira coisa que vi foi uma bola azul vindo na minha direção. Depois de ser arremessada no chão, foi que percebi que quem me jogara fora Stark, e que ele vestia uma roupa.

Uma roupa azul e dourada que me lembrou o uniforme da seleção sueca de futebol. Mas, na verdade, era o uniforme dos Bruins.

Kuinka ihanaa! Ruotsin värit![1]

— Kat? Falou alguma coisa? – Escutei a voz da minha sogra.

— Só me assustei com Stark! – Comentei alto. Ainda não tinha encontrado ninguém. – Onde vocês estão? – Perguntei depois de tirar os sapatos e notei que além dos meus, estavam os de Alex, de Liv e até da minha sogra na sapateira perto da porta. A mania se espalhava a cada dia.

Cheguei na sala e espalhadas em cima do sofá estavam várias sacolas, com um monte de coisa, que iam desde roupa de cama até mesmo sapatos.

Dei uma olhada para Alex que tinha uma expressão de perdido no rosto, Olivia me encarava com um sorrisinho de lado, claro que ela entendeu o que eu falei e logo chamou por Thor, que também usava um uniforme dos Bruins.

— Uhn... boa noite! – Cumprimentei os três. Alex foi o primeiro a me olhar e depois olhou para mãe e tornou a me olhar, me explicando sem abrir a boca que ele não tinha nada a ver com o quer que seja que minha sogra tinha aprontado.

— Boa noite, minha querida, como foi no trabalho? – Minha sogra me perguntou.

— Bem. Poderia ter sido melhor. – E tive que perguntar. – O que é isso tudo?

Alex fez uma careta, ele conseguiu ver a minha saída nada diplomática e ainda notou que algo me importunava no trabalho.

— Só umas coisinhas que eu precisava comprar e que a Liv me ajudou. – Dona Amelia me respondeu e estendeu uma toalha de mesa para me mostrar. – Você gosta?

— Sim, muito bonita. – Falei e vi que Alex fazia sinal com o dedo para que eu falasse não. – O que está acontecendo aqui?

— Como eu te disse na hora do almoço, Kat. Eu estava precisando sair e fazer algumas comprinhas. Só me faltava companhia.

Alex não pareceu acreditar no que a mãe falava, porém, como eu não tinha todas as informações sobre o que acontecera durante a tarde e na minha ausência, só concordei com Dona Amelia.

— Bem, eu já vou indo, pelo que sei, vocês têm compromisso. – Ela se levantou do sofá. – Liv, creio que é a oportunidade perfeita para usar aquele vestido.

Vestido?! Isso aqui era...

E para confirmar as minhas suspeitas, Dona Amelia não levou nenhuma das sacolas, deixou todas em cima do sofá.

— Tenham uma ótima noite! Nos vemos amanhã no jogo. – Ela disse ao nos abraçar para se despedir. Alex, como sempre, acompanhou a mãe, Liv fez a mesma coisa e as duas pareciam que conversavam sobre alguma combinação de roupa.

Meu noivo levou a mãe até o carro, abrindo a porta para ela, minha sogra se foi e ele manobrou o próprio carro para guardá-lo de forma correta na garagem, notei que Liv tinha voltado correndo para dentro de casa e, ainda um tanto abismada com o que tinha visto, me vi obrigada a perguntar:

— O que aconteceu aqui? O que são todas aquelas coisas?

— Minha mãe. Só a minha mãe, querendo dar presentes. Assim como você, ela adora presentear as pessoas. Não se preocupe, ali tem presentes para, praticamente, toda a sua família.

— Mas... eu juro, Alex, não estou entendendo nada.

— Nem tente. E antes que você surte. Os seus estão em cima da nossa cama.

Meus? No plural?

— Minha mãe. – Foi tudo o que ele disse, enquanto me guiava para dentro de casa.

— E aquilo tudo?

— Como se chama... – Ele parou para pensar. – Acho que ela disse algo como enxoval.

Eu gemi em desespero.

— Olivia Alexandra Nieminen, aqui embaixo agora! – Chamei por minha sobrinha.

— O que eu fiz? – Ela perguntou do alto da escada.

— Mais pelo que você não fez! Como permitiu que Dona Amelia comprasse tudo isso?

— Mas täti, eu não sabia para quem era. Dona Amelia só pedia a minha opinião, na hora que ela separou em três montes, foi que eu percebi que um deles viria para cá.

TRÊS!? – Alex perguntou.

— Deixamos algumas sacolas na casa do tio Will.

Balancei minha cabeça em negativa.

— Onde vamos guardar tudo isso? – Perguntei para Alex.

— Acho que a ideia de aumentar o closet vai ter que sair da ideia e virar realidade. – Ele comentou.

Levamos as sacolas para o segundo andar e tanto eu quanto Alex nos desdobramos para conseguir guardar tudo.

— E o que tem ali? – Perguntei apontando para as sacolas que estavam em cima da nossa cama.

— Meus e seus.

— Alex... eu estou completamente sem jeito com isso. Sua mãe não deveria...

— Aceite esses, por favor, depois conversamos com ela com calma. – Ele me pediu e nós dois encarávamos as sacolas.

Abrimos todas, eram roupas e mais alguns presentes, que eu, com certeza usaria, porém, ainda achava que minha sogra não precisava ter feito isso.

— Depois de toda essa surpresa, será que posso saber aonde vamos?

— Não.

— E como vou saber com que roupa eu vou? – Perguntei.

— Bem... Um meio termo entre as suas roupas de trabalho e as casuais. Nada de camisa de banda de rock. Ajudei?

Não, ele não tinha me ajudado.

— Mais ou menos. – Falei.

— Eu sei que você vai conseguir acertar. Quer ir primeiro?

Agradeci a oferta e entrei para o banho, ainda curiosa com o meu destino dessa noite.

Quando saí, dei uma olhada na roupa que Alex havia separado, não me falava nada. Assim, novamente, testei a minha sorte e escolhi um vestido que serviria para mil e uma ocasiões.

— Já está pronta? Hoje foi rápido! – Alex brincou quando saiu do banheiro.

— Indo às cegas, já que você não colabora.

Ele deu um passo para trás e só me encarou.

— Não preciso te ajudar. Você sempre acerta. Só não esquece o casaco. – Me deu um beijo e partiu para se arrumar, o que ele fez em cinco minutos.

— Você não vai me falar nada? – Tornei a questionar, quando saímos do quarto.

— Não.

— Mas Olivia sabe onde é?

— Sim, ela escolheu.

— Você deixou que ela escolhesse o nosso destino.

E ele deu uma risada.

— Por que não? Ela é a mais interessada. – Deu de ombros e apoiando uma mão na minha lombar, me guiou escada abaixo.

Olivia já estava devidamente arrumada, com um vestido que ela não trouxera, assim como o par de sapatos, e a garota brincava com o trio peludo, e pude notar que o único que não quis ser considerado um torcedor canino dos Bruins foi Loki.

— Pronta, sobrinha? – Alex se dirigiu à Liv.

— Sim. E setä, o senhor não falou nada para a täti, né?

— Apesar de que ela tem tentado me interrogar, não, Liv, não disse nada.

Eu só pude encarar os dois. Uma dupla de traidores.

Novamente fomos no meu carro, e eu nem discuti sobre o fato de que Alex estava dirigindo, não iria dar em nada mesmo.

E por todo o caminho, Liv foi discorrendo sobre a sua tarde, os locais onde ela foi com Dona Amelia, o que ela viu e cada uma das lembrancinhas que ela comprou – e ganhou.

— Eu queria que a Dona Amelia fosse para Londres em dezembro. Quero agradecer o que ela fez por mim, fazendo o mesmo com ela lá. – Terminou falando, depois que discorreu sobre o Teatro Chinês, o Teatro Dolby e a Calçada da Fama.— E eu me esqueci de dizer, eu vi as estrelas do Sr. Pierce e da Dona Amelia na Calçada. Tirei até foto. – Me estendeu o celular para me mostrar.

Eu te juro, nem sabia que meus sogros tinham estrela na Calçada da Fama.

Eu não fazia ideia para onde estávamos indo, só sei que estávamos demorando para chegar. E quando finalmente Alex estacionou o carro, vi que estávamos em um restaurante, chamado The Odyssey[2].

E eu fiquei intrigada do motivo de tanto mistério só para não me falar que íamos jantar fora. Entramos no lobby e Alex deu o nome da reserva, a hostess nos levou até a nossa mesa. E foi só aí que eu entendi o motivo dos dois não quererem me falar nosso destino.

Pois eu jamais imaginaria que um restaurante pudesse ter essa vista. Atravessamos dois ambientes internos e fomos guiados para um pátio, todo iluminado com luzinhas suspensas, com uma fogueira no centro e uma vista maravilhosa.

— E então? – Alex me perguntou assim que a hostess nos deixou.

— Que lugar é esse?

— Estamos em Granada Hills. Em San Fernando Valley. – Ele me falou e foi apontando para os locais. Aqui tem vista para mais lugares, porém são espaços reservados para festa.

— É simplesmente lindo. – Murmurei já me sentando, para não me passar pela doida que nunca fora ali.

Liv também observava o local, com um sorriso no rosto.

— Gostou, täti? – Ela me perguntou.

— Por acaso quer que eu diga que você tem bom gosto?

— Não faria mal, mas é só curiosidade, o outro restaurante também tinha uma vista bonita, mas era do centro da cidade, e como a senhora pouco ou nada saiu de Los Angeles...

— Sim, você acertou, Liv. Eu adorei.

— Quem acertou foi o tio, ele deu a palavra final. – Ela deu de ombros no exato momento em que o garçom que nos atenderia chegou.

Nosso jantar foi com a típica comida americana, mesmo que tivesse alguém entre nós que já devesse estar enjoado de tanto comê-la.

E, a única definição que eu poderia dar para essa noite era “mágica”, não tinha outra definição, não quando tudo ali era maravilhoso. Desde a vista até a companhia.

Quando saímos, já bem tarde, Liv cismou de tirar fotos, algo que ela já tinha feito dentro do restaurante.

— E não me olhe assim, täti, na Europa tem restaurantes com vista para os mais diversos lugares, mas não tem essa vista! – Se defendeu. – E aqui deve ser tão lindo durante o dia!

Eu só pude concordar, se à noite já era de tirar o fôlego, durante o dia, deveria ser maravilhoso.

— Um dia a gente volta aqui. – Alex falou.

Setä, do jeito que estão me falando que um dia a gente volta, eu vou ter que me mudar para Los Angeles.

— E o seu pai vai me matar só por essa ideia passar pela sua cabeça. – Comentei.

— Ele que se acostume. Já falei com a Dona Amelia que nas férias de verão eu venho pra cá! – Ela disse convicta.

— E vai deixar de acompanhar o circo da F1 durante o verão e deixar de ver o seu avô? – Perguntei.

Liv arregalou os olhos e estacou do lado do carro.

— Não tinha pensado nisso! Como eu vou escolher??

— Você tem tempo, e sempre tem como balancear as coisas.

— Mundo injusto. – Ela murmurou quando fechei a porta.

Dei uma olhada para Alex que ria da “escolha de Sofia” de Liv.

Na volta, eu fiquei ainda mais encantada com a paisagem e, claro, Alex teve que ir falando em qual praia ele já tinha surfado, qual valia à pena ir como banhista e qual deveríamos evitar por conta do excesso de banhistas.

— Creio que a turista que você está tentando impressionar não está tão interessada assim. – Comentei e apontei para Olivia que tinha literalmente apagado no banco de trás.

Alex deu uma risada.

— Foi um dia agitado, até para ela. Minha mãe a arrastou por todo o centro de Los Angeles.

— É... deu para notar.

— Mas, mudando de assunto. O que aconteceu no escritório hoje que te fez chegar com uma cara estranha? – Alex quis saber.

— Cara estranha?

— Sim, você estava até um tanto devagar para entender toda a confusão que Dona Amelia e Olivia tinham feito. O que seu avô aprontou dessa vez?

— Por incrível que pareça, nada. Isso é estranho, eu até admito, porém creio que ele está assombrando outros escritórios agora. O problema que encontrei é ainda pior do que meu avô ameaçando o meu cargo e não tem nada a ver comigo.

— Algo que que possa te ajudar, ou pelo menos tentar te dar uma ideia de como você pode resolvê-lo?

— Infelizmente não, Alex. Descobri que o antigo Diretor estava desviando fundos da empresa para benefício próprio. Ainda não tenho as provas concretas.

Alex ficou calado.

— E toda essa bagunça vai me fazer ter uma reunião extra com meu avô e Cavendish. Algo que eu estava tentando evitar a todo custo. Porém o destino não está colaborando.

— Já tem data para essa reunião?

— Semana que vem, se o financeiro me der todas as documentações que preciso.

— E você já sabe como isso aconteceu?

— Ele disse que pagava um salário equiparado para cada função. Só que imigrantes ganhavam bem menos. Descobri, porque agora tenho que explicar um aumento de última hora no orçamento. Tenho que explicar o porquê de escritório precisar de alguns milhares de dólares para o RH sendo que tudo estava, teoricamente, certo.

— E isso vai te prejudicar?

— Olha, até onde acho que conheço meu avô, não. Contudo... depois das minhas descobertas, não sei qual será a reação dele com relação a esse aumento na folha de pagamento.

— Mais uma dor de cabeça para você.

— Sim. Mais uma. E mais um motivo para me olharem torto em Londres, em dezembro.

Alex só pegou a minha mão e deu um beijo em cima do anel de noivado.

— Você só se esqueceu de um detalhe. Em Londres você vai ter sua família no apoio. Não acho que seu avô vai tentar algo contra você, sabendo que todos estão lá.

— Que suas palavras sejam verdade, Alex. Na próxima semana eu vou ter uma prévia do que me aguarda. Espero que meu avô só tenha um desvio de caráter quando se trata da própria neta e não da empresa. – Falei.

 

[1] Que maravilha! As cores da Suécia!

[2] Para quem for curioso e quiser ver o restaurante. Sim, ele existe. http://www.theodysseyrestaurant.com/


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do momento água com açúcar de hoje.
Muito obrigada a você que leu e está acompanhando.
Até sábado com o próximo capítulo.
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Presos Por Um Olhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.