Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 53
Jantar em Família


Notas iniciais do capítulo

E aqui estou eu para mais um capítulo! Esse começa exatamente onde o último acablou e não é a última parte desse final de semana! Só para variar, eu me empolguei escrevendo...
No mais, uma ótima leitura!!



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Olivia, ainda me enrolando, serviu um pedaço de pizza para mim, tentando me fazer esquecer o assunto ao me ocupar com comida.

— Eu ainda estou esperando... – Comentei diante do silêncio de minha sobrinha.

— Então... – Ela começou e parou.

— Não vou falar de novo!

— Credo, täti! Falou igual a äiti agora!

— E o que essas palavras estranhas significam? – Will perguntou, ele e Alex brigavam pelo último pedaço de pizza que estava na mesa.

Täti significa tia, setä! E äiti, mãe.

— Mas não tem nenhuma semelhança com o inglês, ou com qualquer língua que eu já tinha ouvido falar! – Pepper comentou.

— E de que você chamou o William? – Minha sogra quis saber. E Olivia, espertamente, ia me enrolando a resposta.

Setä? – Ela riu. – Significa tio!

Will arregalou os olhos.

— Agora é realmente verdade, já fui chamado de tio em finlandês! Nunca imaginei que isso fosse acontecer!!

— Não faça isso, Liv! – Alex pediu de boca cheia, ele tinha, enfim, ganhado a guerra pelo último pedaço.

Will, vendo que o irmão mais velho não tinha gostado da forma como Liv o tinha tratado, resolveu perturbar Alex.

— Você não é único tio que essa pizzaiola tem.

— Nunca fui. Kat tem um irmão gêmeo.

O único tio americano. – Will se corrigiu e eu previ que esses dois ainda iriam brigar muito pelo status de “tio americano favorito” de Olivia. E depois pelo de Elena também...

Dona Amelia e Pepper, a essa altura, riam da falação sem necessidade de Will e Alex.

— Liv, será que você pode fazer o favor de não chamar o Will de tio? – Alex pediu.

E Will não perdeu tempo:

— Ora... ora...ou você, Alex, é um tio ciumento, ou, por acaso, já tem um sobrinho oficial meu chegando por aí? Já sabe que dia chega nesse mundo?

Alex não deu confiança para o comentário de Will, porém o último não desistiu, e olhou para mim.

— Depois desse anel, de tudo o que já passaram, tem um pãozinho no forno, Kat? – Ele jogou a batata quente no meu colo.

 Eu arregalei os meus olhos.

— NÃO!  - Minha voz saiu quase esgoelada de surpresa. – Não tem não! – Tornei a repetir quase que desesperada, pois minha sogra tinha aquele sorriso esperançoso de quem, finalmente, teria um neto para mimar. E, um tanto forte demais, chutei Alex para que ele falasse alguma coisa.

— É uma pena... – Will comentou rindo, pois, ao olhar para cara de Alex, ele notou que meu noivo estava um tanto estático. – Um sobrinho que tenha puxado só o DNA da Kat seria muito bem-vindo... eu ia estragar o moleque pra caramba.

Liv, que tinha se levantado para olhar as últimas pizzas que estavam no forno, parou o que estava fazendo para escutar a conversa e só me cutucou para dizer:

— Se só de a senhora estar namorando o setä já tá dando essa confusão toda lá em Londres... se eu ganhar um primo ou uma prima... creio que o Ragnarök se instala na família!

Dona Amelia que sabia de tudo deu um sorriso e eu tive que tentar calar a boca de Liv.

— Mas, sabe, eu bem que ia gostar de ser prima... ser a filha e a neta do meio cansa.

— Então é verdade que costumam ignorar o filho do meio? – Pepper quis saber.

E eu dei graças a Deus por ela ter feito essa pergunta.

— Não é que me ignoram... nunca fui ignorada, mas tudo sobra para mim! É impressionante!

— Já levou muita culpa por conta da caçula? – Will quis saber.

— Por conta da Lena não, pois ela ainda é pequena, mas por conta do Tuomas? Quase sempre.

— E você nunca descontou? Ah, Liv... eu tenho que te ensinar como passar o irmão mais velho para trás! Tenho muitas técnicas que deram certo ao longo dos anos. – Will garantiu. – E só por isso eu já sei que serei seu tio americano favorito.

Não disse que essa briga de irmãos ia longe?

Deram certo? Nunca vi nenhum dos seus planos darem certo, Will. Ne.nhum. – Alex falou encarando o irmão.

— Mas teve alguns que eu não apanhei sozinho!

— Isso não é passar o irmão mais velho para trás, é arranjar alguém para se ferrar junto com você! – Alex explicou. – Irmão mais novo nunca ganha uma briga, não estou certo, Kat?

Olhei para Alex. Como ele pode ter esquecido?

— Não sei na sua família, mas na minha, a filha mais nova SEMPRE ganhou uma briga. – Falei.

— Você é a caçula de quatro... – Alex murmurou.

— Creio que você está em menor número aqui, Alexander. Então melhor parar de falar besteira.

— Quem começou com as besteiras foi você, Will! – E os irmãos começaram a se bicar novamente.

— Eu só quis saber se eu ia ser tio! Só isso. E ganhei um não como resposta. – Will voltou ao tópico inicial. – Tratem de me dar sobrinhos, o mais rápido possível.

— Isso, não demorem muito, quanto mais rápido melhor! – Pepper fez coro.

Eu não falei nada, mas pude sentir meu rosto pegando fogo. E o tal assunto ‘bebês’ tinha sido comentado na frente de meus sogros. Que beleza! E ainda na frente da minha sobrinha. Isso ia longe.

Pepper continuou falando sobre bebês, parece que um casal amigo deles estava esperando, de surpresa, um bebê, e a conversa começou a girar em torno de tudo o que se tem que fazer para um recém-nascido.

Alex me deu uma encarada e eu dei de ombros, até que ele falou:

— Se você quer tanto um bebê, Will, providencie um. Não vou me importar ser chamado de tio e a Kat já está mais do que acostumada com a tarefa.

E aqui foi o momento em que a mesa virou, pois Pepper ficou vermelha, Will começou a tossir e os dois se encararam, completamente sem jeito.

— Nem pensar. Você é o mais velho! – Foi a resposta de Will. – Mas será que podemos falar de outra coisa? A pizza está acabando! – Ele desconversou.

E essa foi a minha deixa para colocar Liv para falar, pois me levantei e fui ajudá-la com as pizzas.

— E então... quem te ensinou? – Perguntei ao colocar uma pizza no forno

— Quem mais sabe fazer pizza, täti?

— Mas você não foi à Itália!

— Fui... tem três semanas... mamãe tinha que comprar algo lá, e eu fui junto, encontramos com a Pietra em Milão.

— Uma chance em um milhão. – Comentei.

— E fomos parar no Ristorante da Nonna. E lá, entre uma conversa e outra, a Nonna me colocou para ajudar. Estou colocando em prática o que ela me ensinou.

— A Nonna já te passou a receita da massa da pizza dela? Levei anos para que ela me confiasse a receita do spaguetti!

Liv riu.

— Ela falou que não tinha mais razão para esconder, porque a senhora sabe e seria questão de tempo até que eu aprendesse com a senhora.

— Eu não ia passar a receita dela para você...

— Ah! E ela falou que quer conhecer Il Tatuato. Ela estava falando do setä, né?

— Sim, dele.

— Achei que o apelido dele era surfista, mas a tia Pietra já inventou um monte.

— A Pietra tem sérios problemas... – Falei para encerrar o assunto, pois eu sabia que alguém poderia estar ouvindo.

— Ah! Isso ela tem! E eu vou deixá-la maluquinha em Austin. – Olivia me garantiu sorrindo.

— A vida é sua, afinal de contas. – Falei. – Depois não diga que não avisei. – Comentei ao tirar a pizza do forno.

— Ela não vai fazer nada.

— Quem não vai fazer nada? – Alex quis saber.

— Pietra. – Respondi.

— E por que ela faria alguma coisa? – Ele continuou a falar.

— Quem é Pietra? – Dona Amelia perguntou.

— Uma das minhas amigas, a senhora vai conhecê-la na próxima semana. – Respondi. – E não vou falar mais nada... vou deixar para que a senhora tire as suas próprias conclusões sobre ela.

Liv ria do meu lado.

— Presumo que tem muita história para o trás dessa sua amiga.

— Pietra é, simplesmente, a pessoa mais dramática e exagerada que já passou por esse planeta. Não tem uma pessoa que ganhe dela. – Olivia disse. – E é por isso que eu vou chamá-la de tia no meio do lobby do hotel em Austin. Ela vai simplesmente ter uma síncope.

Balancei negativamente a minha cabeça enquanto ia distribuindo a pizza, a conversa começou a fluir sobre a semana que vem e depois a família do meu noivo começou a fazer planos para o Dia de Ação de Graças. Planos que incluíam a mim, sem que eu pedisse.

Depois que colocamos a última pizza na mesa, uma doce de chocolate com morango, foi que Alex resolveu dar a boa notícia que ele havia me contado no meio da semana. E ele começou da maneira mais inusitada que se existe.

— E eu já contei a novidade? – Perguntou, tentando roubar o meu pedaço de pizza, já que eu tinha pegado o último.

— Sobre? – Meu sogro perguntou olhando para o filho.

— Eu vou ter que ficar fora por dois meses no próximo ano.

— Que notícia boa! Eu volto para LA e você some daqui! – Will brincou. – Vão para onde? – Apontou para nós dois.

— Eu não vou a lugar nenhum. – Garanti.

E os olhos de todos pousaram em Alex.

— Vou filmar no Leste Europeu e em Londres por dois meses. – Ele disse como se não tivesse importância nenhuma, mas por baixo da mesa, ele agarrou minha perna, claramente nervoso, esperando a reação de todos.

Tomei cuidado de observar as reações de cada um ao redor da mesa. Meu sogro abriu um discreto sorriso, minha sogra estava disfarçando os olhos marejados de alegria e quando me viu olhando para ela, me abriu o maior dos sorrisos e eu sabia o que aquela notícia significava para ela. Pepper bateu palmas, depois deu um pulo da cadeira e veio abraçar Alex. Wil, por cima da mesa, deu um tapão na cabeça dele.

— Cara... já não era sem tempo!! – Disse sorrindo. – Vão te deixar fazer as cenas de ação, ou a seguradora já vetou?

Alex respondeu só com um sorriso ainda maior e um frio desceu pela minha espinha e se instalou no meu estômago. – Ninguém falou nada contra, então sim, eu vou fazer.

Will deu uma gargalhada alta. E eu já me peguei rezando. Alex do outro lado do mundo, fazendo sei lá o que... e uma reprise das lesões nem tão bem cicatrizadas dele passaram pela minha cabeça. Olivia só prestava atenção, parada ao meu lado, ela não sabia da história, e não era hora, nem lugar, de fazer resumo.

— Já tem a data do início das gravações, filho? – Meu sogro perguntou.

— Sim. Dia 02 de janeiro. Janeiro aqui em Los Angeles e depois Europa.

— Você vai para a terra da Kat, enquanto ela fica aqui... – Will brincou. – Kat, está mais do que na hora de você começar a surfar, porque assim que ele te ligar, contando como a Europa está, você despeja na cabeça dele, como estava a praia.

— Ela não faria isso. – Alex afirmou.

— Mas você vai encher a paciência dela, aposto. – O mais novo desafiou o mais velho.

— Não vou não.

— Ah... vai. $1.000,00 que vai. – Will estendeu a mão.

— Vai ser o dinheiro mais fácil que já ganhei. – Alex disse apertando a mão do irmão.

Olhei para os dois sem acreditar na aposta que estavam fazendo. Eram dois bobos mesmo!

— Uhn... setä, já sabe onde vai ficar em Londres? – Liv perguntou.

— Ainda não, Liv.

— Então, vai ficar lá em casa! – Ela disse com tal certeza, que eu sabia que Alex não recusaria. Assim, só olhei para ele e levantei uma sobrancelha.

— Eu te avisei, Surfista! – Comentei ao me levantar da mesa e fiz na melhor hora possível, pois começaram a perguntar do roteiro, direção e todos esses pormenores que uma pessoa, que apenas assiste aos filmes, jamais se dá conta.

A conversa da família fluía e eu me vi mais perdida do que cego em tiroteio, Liv também, a julgar que ela veio me ajudar a arrumar a bagunça que estava na bancada e depois me ajudou a tirar a mesa e a lavar as vasilhas.

— Não estou entendendo nada. – Ela comentou com uma expressão assustada.

— Nem eu. Preciso de um dicionário todas as vezes que eles entram nos detalhes dos filmes. – Respondi rindo.

— Nem parece que dá tanto trabalho assim, né? Quando a gente senta para assistir no cinema, parece que é tão fácil e rápido de se fazer um filme. Olha o trabalhão e o tempão que é!

— Não. E eu só me dei conta disso, há três semanas quando conversei com Will.

— Por que não com o setä? – Ela quis saber.

— Ele tinha parado com os filmes. – Comecei em finlandês para que ninguém entendesse. - Deu um tempo na carreira.

— Muito tempo? – Ela continuou em finlandês.

— Na atuação já tem três anos que ele não aparece em nada. Mas voltou a fazer propagandas.

— A do relógio! – Ela disse de uma vez, se lembrando do que nós tínhamos conversado.

— E essa levou a outra, que levou até a do Porsche que foi lançada nessa semana. E foi nesse evento que ele conseguiu a reunião...

— Rápido assim?

— Não diria que foi rápido. Mas pelos filmes que eu andei vendo dele, seu tio é um excelente ator.

— Então... porque o hiatus?

— Problemas por conta da ex... com uma grande ajuda da sua tia querida.

— Já disse que não tenho nada a ver com “Aquilo”. E achei que a nova denominação dela seria “Aquilo”!

— Eu sei que não tem...

— Então, até para o tio, “Aquilo” conseguiu trazer problemas? – Liv murmurou. - Ele já sabe? Do parentesco?

— “Aquilo” é a melhor amiga da ex. E sim, ele sabe, eu contei para ele.

— E ele ficou de boa?

— Teve que pensar um pouco, mas me garantiu que tudo estava bem.

— Nossa... o tio realmente gosta de você, tia! De verdade! – Ela disse.

— Eu sei. – Afirmei e depois disso nos concentramos na cozinha, algo que deixou Dona Amelia muito sem jeito, afinal, nas palavras dela, éramos visitas.

— Eu realmente não gostei disso! Não gostei nada disso! – Ela falava enquanto nos seguia até a sala de estar, onde o papo sobre o novo trabalho de Alex ainda não tinha terminado.

— Dona Amelia, eu já disse para senhora, não me importo de trabalhar! – Garanti.

— Mas você trabalhou no almoço, trabalhou agora! Merecia descansar. E a Liv é mais do que convidada!

— Está tudo bem, Dona Amelia. – Tornei a repetir, contudo ela não ficou satisfeita com a minha resposta e ao se sentar ao lado do marido, ficou encarando a mim e à Olivia, que tinha se sentado do meu lado, e olhava descontente para o celular.

— Que foi? – Cutuquei-a com o cotovelo.

Äiti ja isoäiti[1].

 - Lá vem. O que elas querem? – Perguntei olhando a tela do celular. E as duas pediam que Olivia tivesse uma hora para dormir e que não ficasse perturbando Alex ou a família dele.

— Acho que isso já era, né? – Minha sobrinha me perguntou.

— É. Creio que sim.

E para nosso espanto, minha mãe estava online e, ao ver que a neta também estava, mandou uma mensagem na hora.

Não era para a mocinha estar dormindo a essa hora? São mais de meia-noite em Los Angeles.

— Agora eu tô encrencada, täti! – Ela me entregou o telefone. – É a sua mãe, e senhora a conhece há mais tempo do que eu! E ela nem vai saber quem foi que respondeu mesmo! Me livra desse sermão!

— Aconteceu alguma coisa? – Meu sogro perguntou diante do olhar da minha sobrinha.

— Só minha mãe que parece que tem um radar para quando alguém não está seguindo as suas recomendações à risca. – Respondi a ele. E diante do olhar curioso de todos tive que emendar. – Ela só está mandando a Liv seguir os conselhos que ela deu. Como a hora de ir para cama.

Todo mundo conferiu a hora e eu parti para responder a mensagem como se fosse Olivia.

Já estou na cama! E porque tive um dia agitado e não estou conseguindo dormir! Estou esperando o sono chegar.

Katerina Elizabeth Nieminen, pode parar de tentar encobrir o fato de que a sua sobrinha está acordada até agora. Sabe que seu irmão detesta que ela fique além do horário. Trate de mandá-la para cama agora e faça com que ela siga os horários corretos de sono, senão será muito mais difícil para que ela se readapte quando voltar para Londres.

— E ela acreditou? – Liv me perguntou ansiosa.

— Não. Sabia que era eu. – Foi o que respondi. – E quem acabou tomando sermão fui eu.

Liv fez aquela careta.

— Não vai respondê-la?

— Não... depois de um puxão de orelha desses, o melhor a se fazer é ficar calada. E você, saia desse aplicativo, antes que a sua mãe descubra que você ainda está acordada! Não precisamos de mais ninguém falando na nossa cabeça.

Liv desligou o celular e me entregou, para evitar a tentação e depois ficou prestando atenção na nossa conversa, até que começou a cochilar, apoiada no meu ombro.

— Acho melhor alguém ir para a cama... – Alex comentou com um sorriso ao vê-la.

— Acorde nem que seja para tomar banho, Liv. Por favor. – Pedi.

Ela, muito sem graça, acordou, se despediu de todos e foi para o quarto escondendo um enorme bocejo.

— Acho melhor ir com ela. Boa noite! – Me despedi de cada um e segui Liv até o quarto, morrendo de medo de que algo pudesse acontecer com a pequena sonâmbula.

Quando Liv saiu do banho, mal falou comigo, caindo de cara no travesseiro. Acabei por ajeitá-la na cama e dar um beijo na sua testa. Programei o alarme do celular para às 07:00, afinal, ela tinha prometido que iria montar logo cedo.

Hyvää yötä, pikkuinen! — Falei ao apagar a luz e, antes de fechar a porta, vi que tanto Stark, quanto Thor, tinham pulado para cima da cama e se deitado ao lado dela, Loki permanecia fiel ao meu lado.

— Você sabe onde dorme, Ruivo! Boa noite! – Dei um beijo no meio de sua cabeça e o meu husky voltou trotando para a sala, para se enroscar em um dos sofás.

Assim que me virei na direção do quarto, encontrei com Alex parado no meio do corredor, escorado na parede.

— É sempre assim? Você sempre a coloca na cama? – Me perguntou ao me abraçar pela cintura e me guiar para o quarto.

— Depende da quantidade de sono. Mas hoje ela estava praticamente desligada.

— Você tem um instinto materno muito forte, Kat.

— Lá vem você com essa história de filhos de novo. Já não basta a falação?

Ele riu.

— Não quero filhos agora, mas não posso deixar de perceber o seu lado mãe. E antes que você negue, você tem um. E eu estou presenciando isso. Você trata Olivia como se fosse a sua filha. Seja para dar carinho, ou para dar bronca. E eu acho isso bonito. E agora eu entendo o seu dilema quando você me disse que sente falta da sua família. É por isso. A sua ligação com Liv é extremamente forte. Imagino que deva ser assim também com Elena e com a sua mãe.

Parei no meio do quarto e olhei para ele. Procurando algum sinal de que ele fosse me pedir para tentarmos ter o nosso bebê, não tinha nada ali.

 - É exatamente igual, Alex. Te falei que fui praticamente a mãe nº 2 da Liv quando ela era menor e fiz quase a mesma coisa com Elena. Só não amamentei porque não as tive. Fora isso, fiz tudo.

— Até uma canção de ninar.

— Sim, até uma canção de ninar!

— Temos aí uma coisa que eu espero ver...

— Eu ninando um bebê?

— Isso também, mas espero ver você compondo. Sentada na frente do piano e dedilhando até encontrar o acorde e a nota perfeitos.

— Se eu tiver tempo e inspiração, quem sabe. – Dei um beijo na bochecha dele. – Agora a única inspiração que tenho é a do sono. Preciso de um banho para poder cair na cama. – Me separei dele e fui tomar o meu tão necessário banho.

Ele foi logo depois de mim, e enquanto ele tomava banho, eu comecei a pensar em uma coisinha.

Nós estávamos noivos. A família dele inteira sabia, mesmo que nós não tivéssemos anunciado nada. A turma inteira ficou sabendo hoje e ainda deu a “benção” com aquele banho de cerveja. Vic, Mel, Pietra e Nonna Agnelli sabiam, e muito provavelmente Kim também. Sem contar com Liv.

No fundo, as únicas pessoas que não sabiam do pedido e do noivado eram meus pais e Ian e Tanya.

Ou seja, a minha família.

Que bela filha eu sou, hein?

Estava tão concentrada pensando sobre isso e brincando com o anel que Alex me dera que não notei que o próprio já havia tomado banho e estava parado ao lado da cama, me observando atentamente.

— Uma moeda por seus pensamentos! – Ele sussurrou no meu ouvido e eu dei um pulo.

— Ah... é... me desculpe, tem muito tempo que você quer falar comigo? – Perguntei toda sem graça.

Alex deu a volta na cama e se sentou no lugar dele, ainda estava com a toalha na mão e a passava no cabelo.

— Com certeza, estou te chamando há quinze minutos!

Fiz uma careta.

— Brincadeira, Kat. Não te chamei, mas confesso que a sua feição de concentrada me deixou curioso. Em que tanto pensa?

Para tentar me ver livre do seu olhar, me ajoelhei na cama e decidi por secar o cabelo dele.

— Creio que antes de deixar esse cabelo crescer, você vai ter que dar uma acertada nele, está todo cheio de ponta.

— Você não estava pensando sobre o meu cabelo.

Respirei fundo e entreguei-lhe a toalha e desci da cama atrás do pente.

— Não, não era. Era sobre um assunto um tanto complicado.

— Quer dividir?

— Preciso, só não sei como falar isso. – Respondi me ajoelhando atrás dele na cama e começando a pentear os seus cabelos.

E eu vi os ombros de Alex ficarem tensos na hora e antes que eu pudesse explicar a minha ideia, ele me soltou uma pérola.

— Você está grávida, não está?

Deixei o pente cair na cama e tive que fazê-lo se virar na minha direção.

— NÃO!! Meu Deus! Alexander! Acha que se eu estivesse grávida, eu teria andado a cavalo hoje?

— Talvez você só se deu conta agora. Até porque você estava toda concentrada, parecia que contava algo... – Ele se explicou todo sem graça, com as bochechas e orelhas adquirindo o tom mais vermelho que eu já vira desde que o conhecera.

— Eu não estou grávida. E não vou engravidar tão cedo. – Afirmei. – E o assunto não é sobre filhos, mas sobre o nosso noivado.

Alex relaxou na hora, mas não voltou à cor normal.

— E o que tem o nosso noivado?

Voltei a pegar o pente e a passar nos cabelos dele.

— Seus pais sabem. Seu irmão e Pepper sabem. Seus amigos sabem.

— Sim. – Ele concordou comigo.

— Mesmo sem um anúncio formal. – Recomecei.

— Nós combinamos que era algo só nosso. – Ele se virou para mim.

— Que não é mais só nosso. Virou o assunto do seu lado da família. A minha não sabe.

— Liv sabe.

— E eu acho que Kim também, porque Vic sabe. Porém, essa não é questão.

— Seus pais não sabem. – Ele chegou no ponto.

— Isso. Exatamente isso. E...

— Quer contar na semana que vem? – Ele me perguntou e eu vi algo como preocupação passar nos olhos dele.

— Não. Não vou fazer isso com você. Te apresentar à minha família e já te colocar na situação de pedir a benção aos meus pais.

— Quando?

— Em dezembro. – Pedi. – Sei que vai ser uma loucura, eu vou estar ocupada durante toda a semana, e ainda quero te levar na Itália no final de semana, mas, seria pedir muito?

Alex ficou calado por um tempo e depois soltou.

— E quando anunciaríamos oficialmente para os meus pais?

— Quando você quiser, não me importo se for antes ou depois. Só preciso que eles não comentem nada na semana que vem. Não quero ter que me explicar para o meu pai. Porque de todos, ele vai ficar sentido por não ter sido avisado. Aliás, ele nem sabe que estamos morando juntos, e gostaria que não comentasse isso também.

— Por que tantos segredos?

— Não quero que meu pai entre em um modo protetor comigo por conta de você. Eu conversei com ele, depois da videochamada onde vocês foram apresentados, e deu para notar que ele não superou o que aconteceu comigo no início do ano. E como ele se culpa por não ter tido aquela conversa com meu ex... creio que se chegarmos falando que estamos noivos e morando na mesma casa, vai fazer com que ele não goste de você e implique com toda a situação.

— Eu entendo o seu pai. Agiria da mesma forma se algo assim acontecesse com a minha filha. E só acho que você está exagerando a reação dele. – Alex me disse.

— Não quero estragar o próximo final de semana. Seus pais me receberam tão bem na família que... se o meu pai fizer qualquer coisa, tenho medo do que possa vir a acontecer.

E aqui Alex riu.

— Não creio que a opinião dos meus pais sobre você mudaria caso seu pai cismasse de me dar um puxão de orelha por estar noivo da filha dele. Creio que até explicaria quem é você. Mas, se for para te deixar feliz e tranquila, tem a minha palavra de que ele não vai descobrir nada.

— Obrigada. – Disse. Estava aliviada.

Alex aproveitando que eu estava bem próxima a ele, me puxou para o seu colo.

— E suas amigas?

— Basta uma mensagem, Alex. Elas não vão falar nada, nem Kim, ele me deve muito. Com eles não me preocupo.

— Mas se preocupa com seu pai. E a sua mãe?

— Ela sabe que estamos morando juntos, e não contou para ele.

— Então é só o meu sogro quem preocupa.

— E o meu chefe.

— Tinha me esquecido que ele me odeia. – Alex deu de ombros. – E me perdoe a sinceridade, a recíproca é verdadeira.

— Não faz diferença para mim. A opinião dele sobre nosso relacionamento não é relevante. – Comentei e me ajeitei no colo dele, apoiando minha cabeça em seu ombro e com a mão direita brincava com os cabelos de sua nuca. Ele logo tirou a minha mão dali e começou a olhar meu antebraço, dando beijos em cima da marca vermelha das boladas.

Ficamos assim por um tempo, um tempo bem logo, já que comecei a cochilar nessa posição.

— Você vai querer festa? Ou um jantar?

— Não precisa disso. É besteira. – Murmurei.

— Mas poderíamos aproveitar uma data em que todos estivessem juntos. – Eu notei que ele começava a se empolgar.

— Natal?

— Estava pensando no Dia de Ação de Graças.

— Por mim tudo bem. Poucos dias depois vamos para Londres mesmo.

Eu não vi a expressão no rosto do meu quase oficialmente noivo, contudo pude sentir suas emoções, ele estava exultante. A felicidade emanava do seu corpo em ondas.

E acabei me colocando a pensar. Ficaríamos oficialmente noivos com dois meses de namoro.

Em quantos meses estaríamos nos casando?

 

[1] Mamãe e vovó.


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Notas finais do capítulo

E nosso casal favorito tem uma data para tornar o noivado oficial... ouvi alguém gritando aleluia?
Pois bem, era isso hoje. Quarta-feira tem mais.
Muito obrigada a você que leu e está acompanhando a história, e não se esqueçam comentários e até mesmo críticas são bem-vindos.
Até o próximo capítulo.
xoxo



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